30/11/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Isaías 2,1-5
Salmo Responsorial 121(122)R- Que alegria quando me disseram: “Vamos à casa do Senhor”!
2ª Leitura: Romanos 13,11-14a
Evangelho de Mateus 24,37-44
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: 37“A vinda do Filho do homem será como no tempo de Noé. 38Pois, nos dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. 39E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do homem. 40Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. 41Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada. 42Portanto, ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor. 43Compreendei bem isto: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. 44Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do homem virá”. – Palavra da salvação.
Mt 24,37-44
Muitos perguntam: Quando Jesus retornará? Quando virá o Reino? Quando será o fim do mundo? O evangelho que ouvimos não responde a essas perguntas. Ele nos alerta sobre a necessidade de estarmos preparados.
Assim será a segunda vinda do Senhor, surpreendendo todos, sem dar tempo para se preparar. Não é que Deus não queira que estejamos preparados. É exatamente o contrário! Ele ameaça vir sem aviso e sem dar tempos para a preparação exatamente para que isso não aconteça. Fomos avisados, por isso, cabe a nós a vigilância.
Muitos querem ficar calculando os tempos e pretendem identificar em sinais ostensivos da vinda do Reino. Mas esses cálculos e previsões são somente fruto de uma curiosidade inútil e prejudicial. Ficar prevendo o tempo da chegada do Reino é inútil porque o Reino já está presente. Assim o futuro definitivo de Deus já se realizou na Páscoa de Jesus. Deus veio no seu Filho e é preciso que nós o reconheçamos. Assim o que realmente importa é seguir Jesus no seu caminho de morte e ressurreição.
É preciso recordar duas coisas importantes.
1. Deus está sempre perto de nós.
2. Os cristãos identificam a proximidade de Deus na morte e ressurreição de Jesus.
Com isso em mente, devemos entender o evangelho de hoje. Se Deus já está perto de nós e de modo definitivo em Jesus Cristo, é preciso prestar atenção nele para viver como ele. Caso contrário, seremos surpreendidos como os contemporâneos de Noé. Os afazeres da vida são sintetizados nos verbos: comer, beber, casar e dar-se em casamento.
Os principais afazeres da nossa vida consistem principalmente em ganhar o sustento da vida, na atividade econômica, em plantar e colher (comer e beber), no cuidado da família (casar-se e se dar em casamento). Essas atividades podem absorver a nossa vida de tal forma que nos faz perder o sentido de tudo isso. Não é mal cuidar do próprio sustento, da família, da economia e da cidadania. O problema é a distração, ou seja, se deixar tomar por essas atividades sem saber o motivo e o fim de tudo isso.
Ocupar-se das coisas deste mundo não deve nos impedir de cuidar das coisas do outro mundo. Ser responsável pela vida terrena não nos deve distrair de ser ainda mais responsáveis pela vida eterna.
O juízo de Deus não para nas aparências. Esse é o sentido da afirmação de Jesus: Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho; uma será levada e a outra será deixada.
Duas mulheres e dois homens trabalham juntos, se cansam na mesma labuta, partilham as mesmas horas de trabalho. Parece que o destino deles será o mesmo, mas o julgamento de Deus vai até a profundidade da vontade e das intenções mais secretas, discrimina em base às verdadeiras razões do coração. Por isso um é tomado e outro deixado. O julgamento de Deus atinge o profundo da consciência, avalia a verdade das escolhas e por isso um é tomado e o outro deixado.
Deus não se ocupa das aparências, e, por isso, nós também não devemos nos contentar em parecer bons cristãos. Ficar só nas aparências não nos salvará, mesmo que possamos enganar as pessoas. Uma bela fachada pode iludir os outros, que só podem ver a exterioridade, mas não pode enganar Deus, que vê o coração. É inútil e insensato querer enganar Deus.
1° Domingo do Advento - Mateus 24,37-44 - Ano A – 30-11-25
“Vigiai porque não sabeis em que dia virá o Senhor” (Mt 24,42)
Mais uma vez nos deparamos com ritos de passagem: fim de ano litúrgico, a expectativa ardente alimentada pelo Advento, a memória natalina, a ansiedade diante dos desafios do novo ano que virá...
Advento: tempo celebrativo marcado pela gratidão, para acolher as experiências vividas e aprender com elas; tempo de inspiração e criatividade diante da certeza do novo; e, sobretudo, tempo para recompor a esperança, tantas vezes reprimida ao longo do ano.
O Advento nos situa no clima das grandes esperanças da humanidade; neste dezembro mágico nosso coração caminha mais rápido, rompe o tempo, já está lá na frente, pronto para acolher a surpresa.
Tudo aponta para o Eterno que nos escapa e nos encontra. Aqui a imaginação trabalha e cria momentos felizes. Com essa esperança, podemos dar sabor à nossa vida, muitas vezes modesta e simples.
A esperança tem raízes na eternidade, mas ela se alimenta de pequenas coisas. Nos despojados gestos ela floresce e aponta para um sentido novo. É preciso um coração contemplativo para captar o “mistério” que nos envolve.
O Advento nos situa no clima das grandes esperanças da humanidade. (…) Tudo aponta para o Eterno que nos escapa e nos encontra. (...) É preciso um coração contemplativo para captar o “mistério” que nos envolve – Adroaldo Palaoro
Em meio às sombras, perplexidades, contradições, provocações e inquietudes, que constituem o atual momento histórico, queremos dar vez a um brado de esperança e expressar a fé no futuro da nossa vida.
Mesmo diante dos profundos dilemas sociais, achamos possível ser e viver de outro modo, inventamos e reinventamos opções, criamos novas saídas... e, sem cessar, sonhamos com o “mais” e o “melhor”.
Ainda que soframos ventos contrários e as nuvens se adensem no horizonte, sabemos e confessamos com o profeta Jeremias: “Há uma esperança para o teu futuro” (31,17).
Nesse sentido é que compreendemos a esperança como geradora do futuro; ela se revela como espera criativa e nos prepara para acolher as surpresas da vida.
Quem ama e espera (esperançar) o futuro não pode “conformar-se” com a realidade tal como é hoje. A esperança não tranquiliza, mas inquieta, gera protesto, nos desperta da apatia e da indiferença... nos desinstala. Aquele que vive com esperança se sente impulsionado a fazer o que espera.
O futuro que espera se converte em projeto de ação e compromisso, alimenta a solidariedade, desperta a ternura, a acolhida compassiva...
E este compromisso é precisamente o que gera esperança no mundo.
“Estamos abastecidos de futuro” (Pedro Arrupe, sj). É preciso desatá-lo.
Nossa concepção de futuro se atrofiou: vivemos “tempos sem futuro”. Não podemos prever o futuro com segurança. Hoje, o futuro se apresenta a nós muito mais aberto que em qualquer outra época de nossa humanidade. Os conhecimentos, os meios de comunicação, a tecnologia... não nos asseguram uma certeza do que virá. Aventurar no futuro torna-se cada dia mais complexo e difuso, pois predomina a incerteza que nós mesmos geramos.
Vivemos uma geração que teme o futuro; por isso vivemos um “presente esticado” porque o futuro nos apavora. Já que preferimos não imaginar o futuro, alargamos o presente.
Precisamente porque faltam valores e um sentido para a existência é que se irrompe o medo do futuro, a acomodação, o refúgio no efêmero e no imediato, sem raízes e sem esperança. O medo do futuro nos ajuda a entender a mediocridade e o vazio do presente.
Não esqueçamos que o Advento é toda uma possibilidade de vida que temos à frente. Por isso o grande grito deste primeiro domingo é “Vigiai!” porque “não sabeis quando virá o vosso Senhor”.
O medo do futuro nos ajuda a entender a mediocridade e o vazio do presente – Adroaldo Palaoro
Ninguém vigia o passado que já passou e já não existe mais. Vigiamos o que está por vir, o que está vindo. A vigilância olha sempre o futuro. Um futuro que depende de Deus e depende de nós. Porque uma coisa é a ação de Deus em cada um de nós neste tempo do Advento e outra coisa é o que nós fazemos para que algo novo aconteça.
Nós mesmos somos um “advento”, porque nosso futuro humano depende do que esperamos.
Haverá aqueles que já não esperam nada. Haverá outros que esperam algo novo, mas duvidam. E haverá aqueles que esperam o novo e dedicam suas vidas a criá-lo já agora.
Porque em cada momento definimos nossas vidas; em cada momento algo surpreendente pode acontecer em nossa vida; em cada momento nossa vida pode apagar-se ou pode rejuvenescer-se.
No evangelho deste domingo, as duas pequenas parábolas insistem na atitude da vigilância.
A primeira delas nos adverte com uma intencionalidade clara: o maior inimigo da vigilância é a dispersão, revestida de rotina e apego ao costumeiro (“comer, beber, casar-se”). Viver vigilantes para olhar mais além de nossos pequenos interesses e preocupações.
Na segunda, a insistência se situa na importância de “estar vigilante”, porque o que está em jogo é nada menos que a segurança da “casa”, ou seja, a consistência da própria pessoa.
Não é raro que, ao sentir um mal-estar ou medo frente ao nosso mundo interior, optemos pela “distração” ou “dispersão”. Por outro lado, vivemos dispersos e ansiosos porque crescemos com a ideia de que nos falta “algo” que, supostamente, se encontra “fora” de nós, com o qual conseguiríamos, finalmente, desfrutar da felicidade desejada.
A dispersão é o estado habitual de quem se encontra identificado com seus pensamentos, sentimentos, emoções ou reações, ignorando sua verdadeira identidade.
Vivemos num contexto marcado pela “dispersão”, seduzidos por estímulos ambientais, envolvidos por apelos vindos de fora, cativado pela mídia, pelas inovações rápidas, magnetizado por ofertas alucinantes...
E então, nós nos esvaziamos, nos diluímos, perdemos a interioridade e... nos desumanizamos.
A pessoa “dispersa”, por não ter um horizonte de sentido que a atraia, fixa-se no cenário externo, agarra-se ao mundo circundante, apega-se às coisas, na ilusão de alcançar uma segurança almejada. Ela foge de si mesma, tem medo de encontrar-se. Por isso, acompanha o ritmo dos outros, repete a linguagem dos outros, adota os critérios dos outros, e acaba sendo influenciada e dominada por pressões e hábitos externos.
A dispersão é o estado habitual de quem se encontra identificado com seus pensamentos, sentimentos, emoções ou reações, ignorando sua verdadeira identidade – Adroaldo Palaoro
A “dispersão” corrói a interioridade da pessoa e dissolve aquilo que é mais nobre em seu interior. Longe de uma humanidade dinâmica, operante, ousada... o que a pessoa deixa transparecer é uma humanidade neutra, apática, estagnada; é humanidade lenta, afogada na “normose”, estacionada na repetição dos gestos e dos passos. Ela gira em torno de si mesma e não consegue fazer um salto libertador. Isso tudo leva a pessoa a debilitar-se, provocando a redução da vitalidade humana em vez de favorecer o crescimento pessoal.
Advento é tempo propício – “kairós” – para ajudar a superar nossa “dispersão” e poder recuperar a densidade humana interna. Para isso, precisamos entrar em “estado de vigilância”, repensar a interioridade perdida, reconquistar a autodeterminação.
Estar atentos e vigilantes é uma condição humana e cristã para viver intensamente; viver distraídos e dispersos é perder as oportunidades de muitos encontros, é deixar que o outro passe ao nosso lado sem nos darmos conta, é deixar que Deus passe sem que o percebamos, é deixar passar o momento em que Ele nos chama e perdemos a oportunidade de dar uma resposta vivificadora.
Viver é estar atentos à vida, a nós mesmos, aos demais. Viver é estar atentos às ocasiões únicas, às oportunidades que não voltam; viver é estar com os olhos abertos para contemplar, é estar com os ouvidos atentos para escutar.
É nessa direção que o “tempo do Advento”, centrado n’Aquele que vem, mobiliza e reordena todas as dimensões da vida e propõe um caminho de humanização. Ele desafia cada um a assumir o potencial humano criativo que está latente em seu interior.
Estar atentos e vigilantes é uma condição humana e cristã para viver intensamente; viver distraídos e dispersos é perder as oportunidades de muitos encontros, é deixar que o outro passe ao nosso lado sem nos darmos conta, é deixar que Deus passe sem que o percebamos, é deixar passar o momento em que Ele nos chama e perdemos a oportunidade de dar uma resposta vivificadora – Adroaldo Palaoro
Para meditar na oração:
- Em que dimensões da vida você sente a força desagregadora da “dispersão”?
- “Vida atenta” é vida com largos horizontes: neste Advento, o que você está “lendo” no seu horizonte pessoal, social, profissional, familiar, religioso...?
Neste domingo, nomeado primeiro domingo de Advento, inicia-se um novo ano litúrgico. O Advento é um tempo para fortalecer a esperança. É um período de preparação para redescobrir a presença do Senhor no mundo e a Vida que germina no silêncio e principalmente nos espaços pobres e marginalizados da sociedade. Neste novo ano litúrgico a Igreja nos propõe a leitura e meditação do evangelho de Mateus.
Lembre-se de que o evangelho de Mateus foi escrito para uma comunidade de cristãos, na sua maioria, de origem judaica. Mateus, chamado também o evangelho eclesial, busca formar os neobatizados nos diferentes aspectos da vida comunitária e eclesial. Pela origem judaica dos cristãos da comunidade, muitas vezes aparecem referências ao Antigo Testamento porque é uma forma pedagógica de que os judeus conversos possam compreender e aderir melhor à proposta de Jesus.
Uma palavra que ressoa neste tempo de advento é vigiai! Tempo de espera e de vigília para acolher a presença de Deus que nasce no meio nosso. O eixo central deste tempo é a espera na vinda do Senhor! Diante desta proposta somos chamados a perguntar-nos: o que é esta vinda do Senhor? Que significa? Como é preciso preparar-se para acolher pessoal e comunitariamente esta presença do Senhor que vem e responder aos seus desafios?
O Advento faz referência a um futuro próximo e por isso nos compromete num momento especial para rever nossa vida e assim preparar-nos para a Presença do Senhor, um tempo de transformação e de mudança interior. Disse Paulo aos romanos na segunda leitura deste domingo: “A noite vai avançada, e o dia está próximo. Deixemos, portanto, as obras das trevas e vistamos as armas da luz” (Rm 13,12).
Há um chamado a conversão, a deixar a vida das trevas e começar a vida na luz. As trevas simbolizam realidades e situações negativas que geram injustiça, indiferença, opressão, cobardia, indiferença. A luz, pelo contrário expressa a liberdade de quem não tem nada que ocultar e vive assim na liberdade dos filhos/as de Deus.
Na nossa sociedade ha muitas situações que somente produzem trevas e envolvem assim a vida de muitas pessoas. Neste tempo de Advento somos chamados a conversão, a transformação profunda: deixar aquilo que nos leva as trevas, a viver no escondido, escravos da nossa própria escuridão. O Senhor vem iluminar nossa escuridão para transforma-la pela sua presença em Luz que nos liberte e gere claridad ao nosso redor, e impregne de luminosidade na nossa própria vida.
Continuamente chegam até nós tristes notícias de violência, de guerras, de lutas sociais, políticas, econômicas, culturais, acompanhadas de mortes, sofrimentos, pessoas que devem deixar suas terras porque estão sendo assassinadas e perseguidas. Como disse o papa Francisco: “Gritam as pessoas em fuga apinhadas em navios, em busca de esperança, sem saber que portos poderão recebê-las na Europa, uma Europa que, no entanto, abre os portos para embarcações que vão carregar armamentos sofisticados e caros, capazes de produzir devastações que não poupam nem as crianças”.
O evangelho de Mateus situa-nos entre a primeira e a última vinda do Senhor. Estamos num tempo de caminho, somos caminhantes que dirigem seu olhar no definitivo, mas comprometidos no presente do nosso mundo. A narrativa de Mateus que se lê hoje procura acordar a comunidade cristã e convidá-la a abrir os olhos para descobrir o agir de Deus no cotidiano da vida: “trabalhando no campo”, “moendo no moinho”.
O que é necessário para viver nesse espírito de vigilância e não nos perdermos de “ver”, “escutar” e encontrar-nos com o Senhor diariamente? É de grande ajuda para cultivar este espírito de vigilância viver com um coração agradecido (Col 3,15).
Para meditar neste tempo de Advento que se inicia, deixemos ressoar o pedido do Papa Francisco: “ouvir o grito de tantos que nos últimos anos tiveram sua esperança roubada [...] Aqueles que não têm comida, aqueles que não têm assistência médica, que não têm escola, os órfãos, os feridos e viúvas elevam suas vozes para o alto. Se os corações dos homens são insensíveis, não o é o coração de Deus, ferido pelo ódio e pela violência que pode se desencadear entre as suas criaturas, sempre capaz de se comover e cuidar deles com a ternura e a força de um pai que protege e que orienta. Mas - acrescentou o Papa - às vezes penso também na ira de Deus que se abaterá contra os responsáveis dos países que falam de paz e vendem armas para fazer essas guerras. Essa hipocrisia é um pecado". Texto completo: Papa Francisco: “A ira de Deus se abaterá contra aqueles que falam de paz e vendem armas para fazer essas guerras"
Na primeira leitura que lemos neste domingo o Profeta Isaias expressa a convergência de todos os povos da terra que avançam e sobem a montanha ao encontro do Senhor. No seu cântico o profeta expressa a irresistível atração da Palavra de Deus: eles desejam conhecer o Senor e são atraídos pela sua palavra libertadora e geradora de vida.
Deixemos que as palavras deste belo cântico do Profeta ecoem no nosso interior e no espírito das nossas comunidades e grupos familiares para crescer numa esperança ativa e operante!
Oração
Que as palavras deste texto do Profeta Isaias ecoem no nosso interior e no espírito das nossas comunidades e grupos familiares para crescer numa esperança ativa e operante!
Caminhemos à luz do Senhor
Visão de Isaías, filho de Amós,
acerca de Judá e de Jerusalém:
Sucederá, nos dias que hão de vir,
que o monte do templo do Senhor
se há de erguer no cimo das montanhas
e se elevará no alto das colinas.
Ali afluirão todas as nações
e muitos povos ocorrerão, dizendo:
«Vinde, subamos ao monte do Senhor,
ao templo do Deus de Jacob.
Ele nos ensinará os seus caminhos
e nós andaremos pelas suas veredas.
De Sião há de vir a lei
e de Jerusalém a palavra do Senhor».
Ele será juiz no meio das nações
e árbitro de povos sem número.
Converterão as espadas em relhas de arado
e as lanças em foices.
Não levantará a espada nação contra nação,
nem mais se hão de preparar para a guerra.
Vinde, ó casa de Jacob,
caminhemos à luz do Senhor.
Isaías 2,1-5
Nem sempre é fácil dar um nome a este mal-estar profundo e persistente que podemos sentir em alguns momentos da vida. Assim me foi confessado em mais de uma ocasião por pessoas que, por outro lado, procuravam “algo diferente”, uma luz nova, talvez uma experiência capaz de dar nova cor ao seu viver diário.
Podemos chamá-lo de “vazio interior”, insatisfação, incapacidade de encontrar algo sólido que leve ao desejo de viver intensamente. Talvez seja melhor chamá-lo de “tédio”, cansaço de viver sempre o mesmo, sensação de não acertar com o segredo da vida: estamos enganando-nos em algo essencial e não sabemos exatamente em quê.
Às vezes a crise adquire um tom religioso. Podemos falar de “perda de fé”? Não sabemos já em que acreditar, nada consegue iluminar-nos por dentro, abandonamos a religião ingênua de outros tempos, mas não a substituímos por nada melhor. Pode então crescer em nós uma sensação estranha: ficamos sem qualquer chave para orientar a nossa vida. Que podemos fazer?
A primeira coisa é não ceder à tristeza nem à crispação: tudo nos está chamando para viver. Dentro desse mal-estar tão persistente, há algo muito saudável: o nosso desejo de viver algo mais positivo e menos falso, algo mais digno e menos artificial. O que necessitamos é reorientar a nossa vida. Não se trata de corrigir um aspecto concreto da nossa pessoa. Isso virá talvez depois. Agora, o importante é ir ao essencial, encontrar uma fonte de vida e salvação.
Por que não paramos para ouvir essa chamada urgente de Jesus para despertar? Não necessitamos escutar as Suas palavras? “Mantenham-se acordados”, “percebam o momento que estão vivendo”, “é hora de despertar”. Todos temos que nos perguntar o que estamos negligenciando na nossa vida, o que precisamos mudar e a que precisamos dedicar mais atenção e mais tempo.
As palavras de Jesus são dirigidas a todos e cada um: “Vigiai”. Temos de reagir. Se o fizermos, viveremos um desses raros momentos em que nos sentimos “despertos” desde o mais profundo do nosso ser.
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da
Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana-ESTEF
Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra –
Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló.
Referências bíblicas
Evangelho: Mt 24,37-44
Primeira Leitura: Is 2,1-5
Segunda Leitura: Rm 13,11-14
Salmo: Sl 121,1-2. 4-9
No Evangelho, Mateus 24,37-44 é uma unidade dentro do chamado “discurso escatológico” (Mt 24–25). Este grande discurso fala da vinda do “Filho do Homem” com a finalidade de oferecer uma perspectiva sobre o compromisso de vida do cristão na história humana.
Em seu evangelho, Mateus agrupa os discursos de Jesus em cinco grandes blocos, organizados assim:
1º discurso: Mt 5-7: Sermão da Montanha: Como entrar no Reino dos céus;
2º discurso: Mt 10: Discurso missionário: Jesus dá autoridade aos Doze;
3º discurso: Mt 13: Discurso em parábolas: O que é o Reino dos céus;
4º discurso: Mt 18: Discurso comunitário: A comunidade fraterna;
5º discurso: Mt 23-25: Discurso escatológico: Como entrar no Reino dos céus.
É a forma que Mateus usa para fazer uma conexão com os cinco livros do Pentateuco (Torah). Desse modo, ele apresenta Jesus como um “novo Moisés”. Não é à toa que o primeiro discurso é no alto de um monte: Jesus, o novo Moisés, no alto da montanha, o novo Sinai, revela a nova Lei do novo povo de Deus.
A perícope de Mt 24,37-44 é composta por três sequências: a primeira faz a memória do dilúvio (vv. 37-39); a segunda fala de dois homens e duas mulheres no trabalho cotidiano (vv. 40-42); a terceira usa como comparação a chegada de um ladrão (vv. 43-44). Todas essas sequências têm em comum a incerteza da “parusia” (vinda, chegada, visita) do Senhor e, portanto, a necessidade da “vigilância”.
As três sequências falam de situações da vida cotidiana: alimentar-se, beber, casar-se, trabalho no campo, trabalho na casa, moer, cuidar para evitar um assalto. A vinda do Filho do Homem não é um megaevento, para o qual alguém interrompe todas as suas atividades e fica sem fazer nada à sua espera, pois ninguém sabe o dia e nem a hora (cf. Mt 24,36). O que torna a vivência comum do dia a dia é uma atitude de abertura e acolhimento do Filho do Homem, não é no que se faz, mas como se faz: a prática cotidiana deve estar orientada pelo propósito de Deus.
Para se referir ao dilúvio (vv. 37-39), o evangelista não qualifica as ações dos contemporâneos de Noé como imorais ou prova de incredulidade. Ao contrário, ele usa o verbo “compreender”: eles “nada compreenderam” e foram destruídos. Este mesmo verbo será retomado no v. 43, como chamado de atenção – “compreendei” – para que os ouvintes tenham uma postura diferente dos contemporâneos de Noé e estejam preparados para quando o Senhor voltar, um evento que ocorrerá em momento desconhecido. Por outro lado, o texto chama atenção para o perigo da ignorância e do despreparo: são essas as atitudes que levam a comunidade à destruição.
A sequência dos vv. 40-42 usa imagens mais próximas à vivência da comunidade: homens e mulheres nos seus devidos fazeres (os membros da comunidade?). Mas a vinda do Filho do Homem não terá o mesmo efeito sobre todos: alguns serão tomados, outros deixados.
O evangelista não explica qual é a situação que simboliza a salvação (ser deixado? Ser levado?). No episódio do dilúvio (Gn 6,9–8,22), os que foram levados para a arca se salvaram; os demais ficaram e morreram no dilúvio.
Em outros textos de Mateus, ser deixado traz como consequência a destruição, pois equivale a ser abandonado à própria sorte (Mt 23,38; 24,2; 25,30). Na continuação do discurso escatológico, nas parábolas das dez virgens (25,1-13), dos talentos (25,14-30) e do juízo final (25,31-46), os que são “levados” entram para festa ou para junto do pai (Mt 25,10.21.23.35).
O trecho do evangelho deste Primeiro Domingo do Advento é uma advertência para que a igreja/comunidade esteja sempre consciente do serviço, na vigilância e na fidelidade ao projeto do reino de Deus. Vigiar é uma atitude de vida plena na justiça do reino.
(Se desejar conferir, acesse o texto original em espanhol, logo após o texto em português, traduzido pelo Google)
Originalmente, o termo "Advento" (do latim adventus ) significava a primeira visita oficial de uma figura importante ao assumir o poder ou tomar posse. No contexto do culto, referia-se ao retorno anual da divindade ao seu templo para visitar os fiéis. Assim, notamos que, em seu significado original, a palavra Advento se refere a uma chegada, uma vinda, uma presença .
Aplicando isso ao contexto cristão, podemos dizer que o princípio organizador de todo este tempo litúrgico do Advento é a vinda do Senhor, sua chegada, sua Presença . Assim: “com a palavra adventus , a intenção era essencialmente dizer: Deus está aqui, ele não se retirou do mundo, não nos deixou sozinhos. Embora não possamos vê-lo e tocá-lo como fazemos com as realidades tangíveis, ele está aqui e vem nos visitar de muitas maneiras. O significado da expressão 'advento' inclui, portanto, também o de visitatio , que significa simples e propriamente 'visita'; neste caso, é uma visita de Deus: Ele entra na minha vida e quer falar comigo. ” ¹
Aceitar isso, por sua vez, implica considerar as ações dos protagonistas. Primeiro, Deus , que vem ao nosso mundo, até nós. Depois, a humanidade, convidada a se preparar para receber essa visita de Jesus, que vem até nós e que concretamente nos move a sair ao seu encontro neste Natal. Em suma, e em plena consonância com a liturgia do Advento, nossa atitude como crentes é de “vigilante expectativa do Senhor”.
Ora, Aquele que há de vir é, na realidade, o mesmo que já veio . É a dupla vinda do Senhor refletida nos prefácios do Advento. A primeira na humildade da carne; a segunda e definitiva vinda em glória. Não se trata de um jogo de palavras, mas da própria essência da liturgia e do mistério cristão. A este respeito, um especialista em liturgia afirma: “Toda celebração litúrgica carrega consigo três dimensões: o passado, no presente, para o futuro. O Advento oferece-nos uma oportunidade quase tangível de perceber a sobreposição, uma sobre a outra, destas três dimensões. É o tempo ideal para entrar plenamente na teologia viva da liturgia.” ² Mais especificamente, com Matthias Augé³ , podemos dizer: “O Advento é o tempo que, partindo do fato já ocorrido da primeira vinda, nos orienta não só para a vinda final e definitiva, mas também para a vinda sacramental na liturgia, onde a primeira se torna presente e a segunda é antecipada.”
Esta dupla vinda corresponde às duas dimensões da expectativa : o Natal e a Parusia. A liturgia do Advento deve apresentá-las juntas, pois é impossível apresentar uma sem a outra. Contudo, na sucessão dos quatro domingos, há uma mudança gradual de ênfase da segunda e última vinda no fim dos tempos (mais pronunciada no primeiro domingo e menos no segundo) para a primeira vinda na Encarnação e no Natal (terceiro e quarto domingos). Portanto, o Advento nos convida a aguardar a Sua vinda final no fim dos tempos e a nos prepararmos para celebrar a Sua primeira vinda no Seu nascimento em Belém, com a alegria de saber que Ele está sempre presente em nossos corações.
É importante não esquecer essas ênfases para respeitar o ritmo próprio deste tempo litúrgico e sua intenção pedagógica, ou melhor, mistagógica. Começa com a expectativa do eterno e definitivo , com o fim, que é a última coisa em execução e a primeira em intenção. A partir daí, somos convidados a reorientar nossas vidas de acordo com nossa situação neste tempo intermediário , o "já, mas ainda não" que implica uma compreensão da natureza provisória do nosso mundo e da nossa condição de peregrinos (esta seria a "nuance" própria da conversão no Advento). Em seguida, nos conduz ao fundamento da nossa esperança, a vinda de Jesus na plenitude dos tempos, a Encarnação , cuja manifestação é o Natal que estamos prestes a celebrar.
Portanto, o ADVENTO nos convida a aguardar a Sua vinda final no fim dos tempos e a nos prepararmos para celebrar a Sua primeira vinda, no Seu nascimento em Belém, com a alegria de saber que Ele entra permanentemente em nossos corações.
A Liturgia da Palavra nos domingos do Advento acompanha esse processo porque “o Evangelho do primeiro domingo é escatológico. No segundo e terceiro, faz-se referência ao Precursor. No quarto, são proclamados os eventos que prepararam a vinda do Senhor ” . 4
As leituras do Antigo Testamento são profecias sobre o Messias e o tempo messiânico, todas extraídas do livro de Isaías.
As leituras do Apóstolo contêm exortações e admoestações que nos convidam a viver o tempo presente com austeridade enquanto aguardamos pacientemente a vinda do Senhor. As leituras do primeiro, segundo e quarto domingos são da Carta aos Romanos, enquanto a leitura do terceiro domingo é da Carta de Tiago.
As leituras do Evangelho têm uma característica única: referem-se à vinda do Senhor no fim dos tempos (1º domingo); a João Batista (2º e 3º domingos); e aos eventos que prepararam o nascimento do Senhor (4º domingo).
Com o nascimento de Jesus, Emanuel, Deus cumpre a sua promessa.
Venham nos conhecer e caminhar pela vida conosco."
Neste ciclo “A”, leremos o Evangelho segundo São Mateus, para quem Jesus Cristo é “filho de Davi, filho de Abraão” e, portanto, está plenamente inserido na tradição do povo judeu e cumpre as esperanças messiânico-davídicas anunciadas pelos profetas.
Primeiro domingo : Mateus 24:37-44. “Estejam vigilantes e preparados.” Acordem.
Segundo domingo : Mateus 3:1-12. “Preparem o caminho do Senhor.” Arrependimento
Terceiro domingo : Mateus 11:2-11. “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” Surpreenda-se. Quarto domingo : Mateus 1:18-24. Jesus nascerá de Maria, desposada com José, filho de Davi. Receba.
Em Jesus convergem todas as esperanças do Antigo Testamento, que neste Ano A nos são apresentadas através da profecia de Isaías, da qual se extraem as primeiras leituras dos quatro domingos. Os textos deste profeta nos abrem para a esperança de um futuro de paz e nos encorajam a caminhar “na luz do Senhor” (Primeiro Domingo); e esta paz se realizará num estado de harmonia e unidade que só Deus pode conceder à humanidade (Segundo Domingo). Em seguida, o profeta nos anunciará a alegria do Senhor que vem e nos salvará (Terceiro Domingo); e nos dirá qual será o sinal de que Deus cumprirá suas promessas: “A virgem dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel , que significa ‘Deus conosco’” (Quarto Domingo). Ou seja, o futuro esperado e desejado tomará forma com o anúncio do nascimento de um descendente de Davi, mas cujas características transcendem as de uma mera criança, porque esta criança é Emanuel , Deus conosco, que nascerá de uma virgem.
Contudo, o cumprimento dessa promessa é verdadeiramente surpreendente , pois não é um homem abençoado por Deus, mas o próprio Deus que se faz homem em Jesus Cristo. De fato, o profundo significado teológico da concepção virginal relatada por Mateus é que Deus age além das capacidades humanas por meio do seu Espírito Santo.
Portanto, a profecia de Isaías nos ajudará a despertar nossa esperança ; a ansiar pela vinda do Senhor neste Natal.
O evangelista Mateus nos mostra que Deus, ao cumprir sua promessa, supera em muito nossas expectativas. Deus as cumpre de tal maneira que ficamos maravilhados e admirados com a natureza incrível do seu amor pela humanidade. O Natal é o encontro maravilhoso de Deus com a humanidade porque cremos que Emanuel é verdadeiramente "Deus conosco". E essa manifestação do amor de Deus, que vem ao nosso encontro, é precisamente o alimento e o sustento da nossa esperança enquanto caminhamos por este mundo até o Advento final.
DESPERTA O DESEJO DE ENCONTRAR O SENHOR QUE ESTÁ POR VIR
Primeira Leitura (Is 2,1-5):
Esta é a visão do profeta sobre os "tempos do fim" e o futuro de Jerusalém, conforme declarado em Isaías 2:1, que aparece como um novo título para o livro de Isaías. Em Isaías 2:2-5, encontramos quatro temas teológicos que predizem um futuro melhor e alimentam a esperança em Jerusalém, considerada o "monte da Casa do Senhor" porque o Templo, a Morada de Deus, está localizado ali. Tudo isso é predito para os "tempos do fim", quando o Senhor virá habitar ali permanentemente.
1. O monte do Senhor será exaltado acima de todos os outros montes ou colinas. 2. A peregrinação das nações, juntamente com Israel, a este monte sagrado. 3. A palavra do Senhor, ou Lei, que será ouvida ali e que ensinará os caminhos a serem trilhados pelos povos.
4. O Senhor virá como juiz e árbitro para estabelecer a paz entre as nações.
O que se destaca neste texto é a sua abertura universalista : todas as nações se reunirão no Templo de Jerusalém. Recordamos que, na época de Jesus e Paulo, havia uma inscrição na entrada do Templo proibindo a entrada de pagãos (não judeus) sob pena de morte. Nos últimos tempos, o Templo, a presença de Deus, a salvação, está aberto a todas as nações que, adorando o único Deus, viverão em paz. A paz como dom messiânico para os últimos tempos é um tema recorrente em Isaías. No próximo domingo, veremos como essa paz se manifesta através do nascimento de uma criança, descendente de Davi. Essa promessa divina de paz e unidade já nos prepara para o Natal.
Em resumo, esta leitura nos convida a compartilhar da esperança de Israel para o futuro, mas com o horizonte mais amplo da Jerusalém celestial (cf. Ap 21-22).
Segunda Lectura (Rom 13,11-14ª):
São Paulo convida os cristãos de Roma a tomarem consciência ou a compreenderem a natureza do tempo presente (τὸν καιρόν). Como nos lembra R. Penna , 5 “ kairos denota a dimensão subjetiva do tempo, o oportuno, a circunstância apropriada, o momento favorável, a boa ocasião”. Mais tarde, o próprio tempo presente é descrito como tarde da noite, de modo que o amanhecer é iminente.
É hora de despertar, de levantar: o texto grego está na voz passiva, significando “ser levantado ou despertado” (ἐγείρω; egeirō ) do sono. A motivação ou razão para despertar do sono é detalhada abaixo: a salvação está próxima . Isso significa, no contexto da carta, que já recebemos a justificação pela fé na morte e ressurreição de Cristo, mas temos a salvação plena na esperança; ela ainda deve chegar até nós — é um “já, mas ainda não”. Portanto, a realidade presente é descrita com as imagens da noite e do dia, da luz e das trevas, que são comuns em São Paulo (cf. 1 Ts 5,4-7) e simbolizam a vida moral do crente. As obras características da noite são a desordem: excessos na comida e na bebida; luxúria e devassidão; brigas e inveja. As obras do dia, da luz, são a conduta digna do nome de cristão, à qual o Apóstolo nos convida.
No contexto do Advento, que o chamado do Apóstolo para despertarmos e vivermos vigilantes como filhos da luz e do dia ressoe fortemente em nossos corações.
Evangelho (Mt 24,37-44):
Para começar, o Evangelho de hoje nos coloca diante do que acontecerá no fim dos tempos com a vinda (parousia) do Filho do Homem . A tradução latina da palavra parousia – vinda – é adventus , daí a palavra Advento .
A “vinda do Filho do Homem” refere-se a uma expectativa difundida na época de Jesus, expressa em alguns textos bíblicos (cf. Daniel 12) e em outros textos extrabíblicos de natureza apocalíptica. Especificamente, “esperava-se a vinda de uma pessoa do céu para trazer juízo em nome de Deus. Esse juízo resultaria na condenação de todos os ímpios e na salvação e recompensa de todos os que fossem fiéis à Lei de Deus”.⁶ Portanto , com sua referência à vinda do Filho do Homem, Jesus evoca a ideia do juízo final e do consequente fim do mundo.
E a inevitável pergunta diante dessa realidade, como vimos há alguns domingos, é: quando isso acontecerá? Infelizmente, não lemos o versículo de Mateus 24:36 (“Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão unicamente o Pai”), que, segundo U. Luz 7 , é o verdadeiro início desta seção. Este versículo estabelece claramente nossa completa ignorância sobre o momento do último dia, porque Deus escolheu não revelá-lo, o que, de certa forma, lança o fundamento para a atitude vigilante que Jesus nos pedirá posteriormente para adotar (cf. 24:42).
Quanto ao que acontecerá nos últimos tempos, isso é descrito por meio de uma comparação com o dilúvio, narrativa encontrada em Gênesis 6-8. Esse relato é apresentado como uma representação do julgamento de Deus sobre a humanidade pecadora . Sua ação é como a das águas que destroem tudo e, ao mesmo tempo, permitem que a arca flutue, salvando-a. Noé e sua arca indicam que existe uma possibilidade de salvação para a humanidade. Portanto, as sanções de Deus no julgamento são tanto purificação quanto salvação, pois a destruição é necessária para evidenciar o mal, mas, ao mesmo tempo, é necessária para mostrar que Deus é mais forte que o mal.
Jesus, por sua vez, ao comparar a sua vinda como Filho do Homem no fim dos tempos ao dilúvio, enfatiza a natureza inesperada deste evento para a maioria das pessoas. Todos viviam vidas normais (“comiam, bebiam e casavam-se” 24:38), sem suspeitar que o julgamento de Deus estava próximo. Deve-se notar que não há condenação moral da conduta dos contemporâneos de Noé; apenas se aponta a sua falta de conhecimento sobre o fim dos tempos (“eles não sabiam ou não estavam cientes”: οὐκ ἔγνωσαν).
O aspecto judicial da vinda do Filho do Homem está presente na distinção entre os casais: de dois homens, um será escolhido e o outro deixado; e o mesmo para duas mulheres. Aqui também, não se apresenta nenhuma justificativa moral para escolher uma e rejeitar a outra dentro do mesmo grupo familiar. Talvez a intenção do texto seja evitar que alguém se sinta excluído dessa situação, visto que ela pode acontecer com qualquer um, e, portanto, a advertência de Jesus é para todos.
Como sempre, a exortação de Jesus diante da possibilidade do fim é para estarmos preparados, vigilantes, despertos ( γρηγορέω ).
Finalmente (24,43-44), Jesus acrescenta algo que aparece várias vezes no Novo Testamento: a comparação do último dia com a chegada de um ladrão, pois nos surpreenderá se não o esperarmos: "virá numa hora em que menos esperardes". Portanto, a vigilância que Jesus propõe diante da chegada do fim, a Parusia, é comparada à de um dono de casa que enfrenta a possível chegada de um ladrão para roubá-lo. A atitude que Jesus aconselha aqui é a mesma de vigilância, mas com uma nuance mais ativa: vigiar, estar preparado (ἕτοιμοι). Trata-se de estar pronto, como as virgens prudentes estavam à chegada do noivo, e por isso entraram na festa (cf. Mt 25,10).
Algumas reflexões:
Como diz A. Nocent: “A orientação deste primeiro domingo do Advento é puramente escatológica. É uma oportunidade para revermos o lugar que o ‘último dia’ e o encontro de todo o Povo de Deus com o seu Senhor ocupam nas nossas vidas concretas.” 8 Ou ainda, como salienta HU von Balthasar 9 : “devemos compreender a mensagem central do Advento e a urgente exortação que contém: Deus está a caminho de nós.”
Isso possui sua própria lógica ou sabedoria teológica. A vida cristã se move entre duas realidades dinâmicas: o Senhor que vem a nós ( Advento ) e nós que saímos ( Êxodo ) para encontrar o Senhor. A vida cristã é uma “jornada”, como é chamada nos Atos dos Apóstolos em diversas ocasiões (cf. At 18,25; 19,9.23; 24,4.14.22). Portanto, se vou partir em uma jornada, preciso saber para onde vou, qual é o objetivo. E é precisamente isso que o primeiro domingo do Advento nos apresenta: caminhamos em direção ao Senhor que vem no fim dos tempos para nos levar ao seu encontro. A respeito disso, o Papa Francisco disse em 1º de dezembro de 2013: “Esta jornada nunca termina. Assim como em cada uma de nossas vidas há sempre a necessidade de recomeçar, de se levantar mais uma vez, de redescobrir o sentido do propósito de nossa existência, da mesma forma, para a grande família humana, é sempre necessário renovar o horizonte comum para o qual caminhamos. O horizonte da esperança! Este é o horizonte para fazer uma boa jornada. O tempo do Advento, que iniciamos hoje, nos devolve o horizonte da esperança, uma esperança que não decepciona porque se fundamenta na Palavra de Deus. Uma esperança que não decepciona, simplesmente porque o Senhor nunca decepciona. Ele é fiel! Ele não decepciona! Reflitamos e sintamos esta beleza!” “Lembrem-se sempre disto: a vida é uma jornada. É uma jornada. Uma jornada para encontrar Jesus. No fim, e sempre. Uma jornada onde não encontramos Jesus não é uma jornada cristã. É característico dos cristãos sempre encontrar Jesus, olhar para Ele, deixar-se olhar por Jesus, porque Jesus olha para nós com amor, Ele nos ama muito, Ele se importa profundamente conosco e Ele está sempre nos observando. Encontrar Jesus é também deixar-se olhar por Ele.”
Tanto a primeira leitura quanto o Evangelho se referem à vinda de Deus no fim dos tempos como juiz . O texto de Isaías a apresenta como algo esperançoso , descrevendo a exaltação de Jerusalém como centro do mundo e local de peregrinação para todas as nações. O Evangelho a apresenta mais como algo ameaçador , dada a sua natureza imprevista e inesperada, e por causa da ação judicial de Deus, caracterizada pela separação, por levar um e deixar o outro.
É importante manter um equilíbrio saudável entre esses dois aspectos, como Bento XVI bem observou: “Na configuração dos edifícios sagrados cristãos, que buscavam tornar visível a amplitude histórica e cósmica da fé em Cristo, tornou-se comum representar no lado oriental o Senhor retornando como rei — uma imagem de esperança — enquanto no lado ocidental havia o Juízo Final como imagem da responsabilidade por nossas vidas, uma representação que contemplava e acompanhava os fiéis precisamente em seu retorno ao cotidiano. No desenvolvimento da iconografia, porém, uma ênfase cada vez maior foi colocada no aspecto ameaçador e sombrio do Juízo, que obviamente fascinava os artistas mais do que o esplendor da esperança, que frequentemente era obscurecido pela ameaça” (Bento XVI, Spe Salvi n. 42).
A cada Advento, a Igreja coloca os cristãos numa situação vital de esperança: eles devem aguardar, ligados a todo o Antigo Testamento, a chegada do dia final. A expectativa de Israel, tal como apresentada pelo profeta Isaías, é fundamentalmente a esperança de um encontro definitivo com Deus, onde todas as nações viverão em paz. Nesse sentido, o povo de Israel e o povo cristão encontram um terreno comum na sua esperança. Por isso, a primeira leitura convida-nos a ansiar por esta vinda, a aguardá-la com entusiasmo.
O Evangelho e a segunda leitura, por sua vez, alertam-nos para o perigo que ameaça a nossa vida cristã se perdermos de vista o seu propósito transcendente . Este é um perigo muito subtil, uma vez que muitas vezes não envolve fazer algo claramente errado, mas sim deixarmo-nos envolver e cegar pelas muitas atividades da vida quotidiana. O Papa Bento XVI nos alerta para este grande perigo : 10 “Todos nós experimentamos, em nosso dia a dia, ter pouco tempo para o Senhor e pouco tempo para nós mesmos. Acabamos absorvidos pelo ‘fazer’. Não é verdade que a atividade muitas vezes nos possui, que a sociedade, com seus muitos interesses, monopoliza nossa atenção? Não é verdade que dedicamos muito tempo ao entretenimento e a diversas formas de lazer? Às vezes, as coisas nos ‘aprisionam’. O Advento, este poderoso tempo litúrgico que estamos iniciando, nos convida a fazer uma pausa em silêncio para perceber uma presença. É um convite a compreender que cada acontecimento do dia é um gesto que Deus dirige a nós, um sinal de sua atenção para cada um de nós. Quantas vezes Deus nos faz perceber algo de seu amor! Manter, por assim dizer, um ‘diário interior’ desse amor seria uma tarefa bela e saudável para nossas vidas! O Advento nos convida e nos encoraja a contemplar o Senhor presente. Não deveria a certeza de sua presença nos ajudar a ver o mundo com os olhos de Deus?” Não nos ajudaria considerar toda a nossa existência como uma "visita", como uma forma pela qual Ele pode vir até nós e estar perto de nós, em todas as situações?
O tom ameaçador do Evangelho é uma ferramenta pedagógica para nos encorajar a estarmos sempre vigilantes e preparados para o dia final, dada a sua natureza surpreendente e inesperada . O Cardeal C.M. Martini disse a este respeito : “A iniciativa de Deus de visitar o seu povo e estabelecer a sua morada entre nós exige do discípulo um coração preparado para vigiar”. Podemos dizer que o Senhor quer “despertar” a nossa consciência cristã no início do Advento, uma vez que a rotina diária inevitavelmente nos faz perder de vista o horizonte do que é definitivo. Este é o significado da vigilância, pois “vigiar implica uma relação com o Cristo vivo, que voltará como juiz universal e convocará toda a humanidade perante o seu tribunal ” .
A respeito dessa atitude de vigilância, o Papa Francisco disse em sua mensagem do Angelus de 27 de novembro de 2022: “Irmãos e irmãs, neste tempo do Advento, vamos sacudir nossa letargia e despertar do nosso sono! Perguntemo-nos: Estou consciente do que estou vivenciando? Estou alerta? Estou desperto? Estou tentando reconhecer a presença de Deus nas situações do dia a dia, ou estou distraído e um pouco sobrecarregado pelas coisas? Se não estivermos conscientes de sua vinda hoje, não estaremos preparados quando ele vier no fim dos tempos. Portanto, irmãos e irmãs, permaneçamos vigilantes! Esperando a vinda do Senhor, esperando que o Senhor se aproxime de nós, porque ele está aí, mas esperando: atentos. E que a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mulher da Espera, que soube perceber a presença de Deus na vida humilde e oculta de Nazaré e o acolheu em seu ventre, nos ajude nesta caminhada a sermos atentos, a esperar o Senhor que está entre nós e passa por nós.”
Portanto, a realidade do fim do mundo apresentada nas leituras de hoje nos ajuda a descobrir e aceitar os limites do nosso mundo e das nossas vidas; das nossas atividades e ocupações. Não se trata de desvalorizar tudo o que fazemos; trata-se de não absolutizar o cotidiano, o presente. É isso que pedimos na oração pós-comunhão deste domingo: “Tu nos ensinas a amar e a nos apegar aos bens eternos, enquanto caminhamos em meio às realidades transitórias desta vida.”
Despertar essa esperança transcendente e teológica é muito difícil, e é por isso que constitui o grande desafio do início do Advento . A dificuldade reside no fato de o homem pós-moderno viver no imediato e se contentar com ele. Seu horizonte muitas vezes não se estende além do consumo, e isso se torna cada vez mais evidente na forma como o Natal é vivido e celebrado, independentemente da classe social.
Como respondemos a este desafio? Devemos despertar o anseio pelo transcendente, pelo eterno que habita no coração humano. E nestes tempos, creio que a ânsia pela paz é um claro sintoma desse anseio. Pode parecer trivial, mas com o cansaço do fim do ano, o desejo de férias, de repouso, de tranquilidade e paz, torna-se mais intenso. Esse desejo de paz pode ser a porta de entrada para a proclamação da Paz de Cristo. Uma paz com o sabor da eternidade, mas que já pode ser experimentada nesta vida. Como Rabi Cantalamessa tão apropriadamente coloca : "Não é verdade que a eternidade aqui na terra seja apenas uma promessa e uma esperança. Ela é também uma presença e uma experiência!"
Em conclusão, creio que poderíamos adotar como lema para esta primeira semana do Advento a atenção redobrada a Deus e à Sua obra em nós, cujo objetivo é despertar o desejo de um encontro com o Senhor . Esta é precisamente a vigilância cristã de que fala o Evangelho de hoje: despertai!
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Protege-nos, Senhor.
Envia-nos o teu Espírito Santo, Ele nos preparará para aquele Dia.
Nossos corações baterão apenas por Grande Alegria
Chega de distâncias ou despedidas.
Sua chegada será misteriosa:
Um encontro final num abraço eterno
Uma promessa de esperança encoberta por sombras.
O clamor dos profetas séculos atrás, Escrituras Sagradas
Eles relataram o momento de seu martírio.
E também a da Glória
Hoje, irmãos, vamos em silêncio, caminhando devagar.
Carregando a cruz e olhando para o céu.
Quando?... Quando? ... Não sabemos
Você está tão perto de nós e estamos procurando por você.
Na dor, no vazio do Amor,
E nós somos tão cegos!
Ninguém além de Ti, Senhor, para velar por nós.
O único dono, lâmpada acesa.
Presença Viva, Eucaristia
Envia-nos o teu Espírito Santo,
Ele nos preparará para aquele dia.
E nossos corações baterão somente de grande alegria. Amém.
1 Bento XVI, Homilia de 30 de novembro de 2009.
2 A. Nocent, O Ano Litúrgico. Celebrando Jesus Cristo. I. Introdução e Advento , Santander 1987, 63. 3 Citado por Pe. Alejandro Bóttoli, Palestra sobre o ciclo natalino (versão digital). 4 J. Castellano, O Ano Litúrgico. Memória de Cristo e Mistagogia da Igreja (CPL; Barcelona 1996) 71
5 Carta aos Romanos , Verbo Divino, Estella, 2013, pp. 985-986.
6 L. Rivas, Jesus fala ao seu povo 2. Ciclo A Advento – Natal – Quaresma – Páscoa (CEA; Buenos Aires 2001) 17. 7 U. Luz, O Evangelho segundo São Mateus III (Sígueme; Salamanca 2003) 577.
8 A. Nocent, O Ano Litúrgico. Celebrando Jesus Cristo. I. Introdução e Advento , Santander 1987, 104. 9 A luz da palavra. Comentários sobre as leituras dominicais (Encuentro; Madrid 1998) 13. 10 Homilia nas primeiras vésperas do primeiro domingo do Advento de 2009.
11 Estou batendo à porta (PPC; Madrid 1993) 78.
12 U. Luz, O Evangelho segundo São Mateus III (Siga-me; Salamanca 2003) 588.
13 R. Cantalamessa, Jesucristo el Santo de Dios , Madrid 1991, 100.
En su origen el término "adviento" (del latín adventus) significaba la primera visita oficial de un personaje importante con motivo de su llegada al poder o de la toma de posesión del cargo. En el ámbito del culto hacía referencia a la venida anual de la divinidad a su templo para visitar a sus fieles. Notemos entonces que en su significado original la palabra adviento se refiere a una llegada, una venida, una presencia.
Llevado esto al ámbito cristiano podemos decir que el eje organizador de todo este tiempo litúrgico del adviento es la venida del Señor, su llegada, su Presencia. Así: "con la palabra adventus se pretendía sustancialmente decir: Dios está aquí, no se ha retirado del mundo, no nos ha dejado solos. Aunque no lo podemos ver y tocar como sucede con las realidades sensibles, Él está aquí y viene a visitarnos de múltiples maneras. El significado de la expresión “adviento” comprende por tanto también el de visitatio, que quiere decir simple y propiamente "visita"; en este caso se trata de una visita de Dios: Él entra en mi vida y quiere dirigirse a mí"1.
Aceptar esto implica, a su vez, considerar las acciones de los protagonistas. En primer lugar, de Dios, que viene a nuestro mundo, a nosotros. Luego los hombres, invitados a prepararse para recibir esta visita de Jesús que viene a nosotros y que nos moviliza concretamente a salir a su encuentro en esta Navidad. En pocas palabras y muy a tono con la liturgia de adviento, nuestra actitud como creyentes es de “vigilante espera del Señor”.
Ahora bien, El que viene es, en realidad, el mismo que ya vino. Es la doble venida del Señor que reflejan los prefacios del Adviento. La primera en la humildad de la carne; la segunda y definitiva en la gloria. No se trata de un juego de palabras sino de la misma esencia de la liturgia y del misterio cristiano. Al respecto dice un especialista en liturgia: "Toda celebración litúrgica lleva consigo tres dimensiones: el pasado, en un presente, para un futuro. El adviento nos da ocasión casi material de percibir la superposición, una en otra, de estas tres dimensiones. Es el tiempo ideal para entrar plenamente en la teología viva de la liturgia"2. Más concretamente, con Matías Augé3, podemos decir: “Adviento es el tiempo que, partiendo del hecho ya ocurrido de la 1ª venida, orienta no solo a la venida última y definitiva sino también a la venida sacramental en la liturgia, donde se actualiza la primera y se anticipa la segunda”.
A esta doble venida corresponden las dos dimensiones de la espera: de la Navidad y de la Parusía, que la liturgia del Adviento tiene que proponerlas juntas pues es imposible presentar una sin la otra. Pero en la sucesión de los cuatro domingos se va dando un progresivo paso de la acentuación puesta en la Segunda y definitiva venida al fin de los tiempos (más clara en 1er. Domingo y menos en el 2do.) a la Primera venida en la Encarnación y Navidad (3er. y 4to. Domingos). Por tanto, el ADVIENTO nos invita a esperar su venida definitiva al fin de los tiempos y a prepararnos para celebrar su primera venida al nacer en Belén con el gozo de saber que Él viene permanente a nuestros corazones.
Importa no olvidar estas acentuaciones para respetar el ritmo propio de este tiempo litúrgico y su intención pedagógica o, mejor dicho, mistagógica. Nos hace comenzar con la espera de lo eterno y definitivo, con el fin, que es lo último en la ejecución y lo primero en la intención. Desde aquí se nos invita a reorientar nuestra vida en función de nuestra situación de tiempo intermedio, del "ya pero todavía no" que supone una comprensión del carácter provisional de nuestro mundo y de nuestra condición de peregrinos (este sería el 'matiz' propio de la conversión en Adviento). Luego nos va llevando hacia el fundamento de nuestra esperanza, la venida de Jesús en la plenitud de los tiempos, la Encarnación, cuya manifestación es la Natividad vamos a celebrar.
Por tanto, el ADVIENTO nos invita a esperar su venida definitiva al fin de los tiempos y a prepararnos para celebrar su primera venida al nacer en Belén con el gozo de saber que Él viene permanente a nuestros corazones.
La liturgia de la Palabra de los domingos de adviento acompaña este proceso por cuanto "el evangelio del primer domingo es escatológico. En el segundo y el tercero hacen referencia al Precursor. En el cuarto se proclaman los acontecimientos que han preparado la venida del Señor"4.
Las lecturas del Antiguo Testamento son profecías sobre el Mesías y el tiempo mesiánico, todas tomadas del libro de Isaías.
Las lecturas del Apóstol contienen exhortaciones y amonestaciones que invitan a vivir con austeridad el tiempo presente mientras esperamos con paciencia la venida del Señor. En los domingos primero, segundo y cuarto está tomada de la carta a los Romanos, mientras que el tercero de la carta de Santiago.
Las lecturas del Evangelio tienen una característica propia: se refieren a la venida del Señor al final de los tiempos (I domingo); a Juan Bautista (II y III domingo); y a los acontecimientos que prepararon de cerca el nacimiento del Señor (IV domingo).
"Con el nacimiento de Jesús, el Enmanuel, Dios cumple su promesa
de venir a nuestro encuentro y caminar la vida con nosotros".
En este ciclo “A” leeremos el evangelio según San Mateo para quien Jesucristo es “hijo de David, hijo de Abraham” y, por tanto, está inserto plenamente en la tradición del pueblo judío y cumple las esperanzas mesiánico-davídicas que anunciaron los profetas.
Domingo 1º: Mt 24,37-44. “Estén prevenidos y preparados”. Despertarse
Domingo 2º: Mt 3,1-12. “Preparen el camino del Señor”. Convertirse
Domingo 3º: Mt 11,2-11. “Eres tú el que ha de venir o debemos esperar a otro”. Sorprenderse Domingo 4º: Mt 1,18-24. Jesús nacerá de María, comprometida con José, hijo de David. Recibir
En Jesús confluyen todas las esperanzas del Antiguo Testamento que en este ciclo A nos vienen presentadas de la mano de la profecía de Isaías, de donde se toman las primeras lecturas de los cuatro domingos. Los textos de este profeta nos abren a la esperanza de un futuro de paz y nos animan a caminar “a la luz del Señor” (primer domingo); y esta paz se concretará en una situación de armonía y de unidad que sólo Dios puede regalar a los hombres (segundo domingo). Luego el profeta nos anunciará la alegría del Señor que viene y nos salvará (tercer domingo); y nos dirá cuál es la señal de que Dios cumplirá sus promesas: “la virgen dará a luz un hijo y le pondrán por nombre Enmanuel, es decir, Dios-con-nosotros” (cuarto domingo). Es decir, el futuro esperado y deseado irá tomando cuerpo con el anuncio del nacimiento de un descendiente de David, pero cuyos rasgos trascienden los de un simple niño, porque ese niño es el Enmanuel, Dios con nosotros, que nacerá de una virgen.
Ahora bien, el cumplimiento de esta promesa sorprende enormemente, pues no se trata un hombre bendecido por Dios sino de Dios mismo quien se hace hombre en Jesucristo. Justamente el sentido teológico profundo de la concepción virginal que nos narra Mateo es que Dios actúa más allá de las posibilidades humanas por medio de su Espíritu Santo.
Por tanto, la profecía de Isaías nos ayudará a despertar nuestra esperanza; a desear la venida del Señor en esta Navidad.
El Evangelista Mateo nos mostrará que Dios al cumplir su promesa supera ampliamente nuestras expectativas. Dios las cumple de modo tal que nos desconcierta y sorprende por lo increíble de su amor por los hombres. La Navidad es el maravilloso encuentro de Dios con los hombres porque creemos que el Enmanuel es verdaderamente "Dios con nosotros". Y esta manifestación del amor de Dios que viene a nuestro encuentro es justamente el alimento y sostén de nuestra esperanza en el caminar por este mundo hasta el Adviento final.
DESPERTAR EL DESEO DEL ENCUENTRO CON EL SEÑOR QUE VIENE
Primera Lectura (Is 2,1-5):
Se trata de una visión que tiene el profeta acerca del “fin de los tiempos (días)” y sobre el futuro de Jerusalén, tal como lo afirma 2,1 que aparece como un nuevo título del libro de Isaías. En 2,2-5 tenemos cuatro motivos teológicos que auguran un futuro mejor y alientan la esperanza para Jerusalén, considerada la "montaña de la Casa del Señor" por cuanto en ella está el Templo, la Morada de Dios. Todo esto está anunciado para el “fin de los tiempos”, cuando el Señor venga definitivamente a residir allí:
1. La montaña del Señor será exaltada por encima de todas las demás montañas o colinas. 2. La peregrinación de las naciones, junto con Israel, hacia esta montaña santa. 3. La palabra del Señor o Ley que se escuchará allí y que enseñará los senderos para que caminen los pueblos.
4. El Señor vendrá como juez y árbitro en orden a establecer la paz entre las naciones.
Es de resaltar en este texto su apertura universalista: todas las naciones se congregarán en el Templo de Jerusalén. Recordemos que en tiempos de Jesús y de Pablo existía en la entrada del templo una inscripción que prohibía la entrada a los paganos (los no judíos) bajo amenaza de muerte. En el tiempo final, el templo, la presencia de Dios, la salvación, se abre a todas las naciones que al adorar al único Dios vivirán en paz. La paz como don mesiánico para los últimos tiempos es un tema recurrente en Isaías. En el próximo domingo veremos cómo esta paz llega a través del nacimiento de un niño, de un descendiente de David. Esta promesa Divina de paz y unidad nos va preparando ya para la Navidad.
En fin, esta lectura nos invita a sumarnos a la esperanza de Israel sobre el futuro, pero con el horizonte más amplio de la Jerusalén celestial (cf. Ap 21-22).
Segunda Lectura (Rom 13,11-14ª):
San Pablo invita a los cristianos de Roma a tomar conciencia o comprender la índole del tiempo presente (τὸν καιρόν). Cómo nos recuerda R. Penna5, “el kairós denota la dimensión subjetiva del tiempo, el oportuno, la circunstancia apropiada, el momento favorable, la buena ocasión”. Más adelante, el mismo tiempo presente viene descrito como una noche avanzada, por lo que el amanecer está pronto.
Es hora de despertar, de levantarse: el texto griego está en voz pasiva, sería “ser levantados o despertados” (ἐγείρω; egeirō) del sueño. La motivación o razón para despertarse del sueño se detalla a continuación: la salvación está cerca. Esto significa, en el contexto de la carta, que hemos ya recibido la justificación por la fe en la muerte y resurrección de Cristo, pero la salvación plena la tenemos en esperanza, debe aún venir a nosotros, es un “ya pero todavía no”. Por eso la realidad actual se describe con las imágenes de la noche y del día; de la luz y las tinieblas, que son comunes en San Pablo (cf. 1Tes 5,4-7) y simbolizan la vida moral del creyente. Las obras propias de la noche son los desórdenes: excesos en comida y bebida; lujuria y libertinaje; peleas y envidias. Las obras del día, de la luz, son la conducta digna del nombre de cristiano, a la que nos invita el Apóstol.
En el contexto del adviento, que resuene fuerte en nuestros corazones el llamado del Apóstol a despertarse y vivir vigilantes como hijos de la luz y del día.
Evangelio (Mt 24,37-44):
De entrada, el evangelio de hoy nos ubica ante lo que sucederá al final de los tiempos con la venida (παρουσία) del hijo del hombre. Justamente de la traducción latina de la palabra parousía – venida – es adventus, de aquí el adviento.
La “venida del hijo del hombre” hace referencia a una expectativa difundida en tiempos de Jesús por algún texto bíblico (cf. Dn 12) y otros textos extra bíblicos de corte apocalíptico. Concretamente “se esperaba la venida de una persona que llegaría desde el cielo para hacer un juicio en nombre de Dios. Este juicio daría como resultado la condena de todos los malvados y la salvación y el premio de todos los que eran fieles a la Ley de Dios”6. Por tanto, con su referencia a la venida del hijo del hombre, Jesús evoca la idea del juicio final y el consiguiente fin del mundo.
Y la pregunta obligada ante esta realidad, tal como vimos hace un par de domingos atrás, es: ¿cuándo sucederá esto? Lamentablemente no hemos leído el versículo de Mt 24,36 (“En cuanto a ese día y esa hora, nadie los conoce, ni los ángeles del cielo, ni el Hijo, sino sólo el Padre”) que al decir de U. Luz7es el verdadero inicio de esta sección. Este versículo deja sentada con claridad nuestra ignorancia completa sobre el momento del día final porque Dios no ha querido revelarlo, lo que en cierto modo pone la base para la actitud de vigilancia que pedirá Jesús a continuación (cf. 24,42).
En cuanto a lo que sucederá en el tiempo final, se describe comparándolo con el diluvio, narración que encontramos en Génesis 6-8. Este relato se presenta como tipo del juicio de Dios sobre la humanidad pecadora. Su acción es como la de las aguas que destruyen todo y, a la vez, hacen flotar el arca salvándola. Noé y su arca indican que existe para la humanidad una posibilidad de salvarse. Por tanto, las sanciones de Dios al juzgar son a la vez purificación y salvación porque la destrucción es necesaria para señalar el mal, pero al mismo tiempo es necesario mostrar que Dios es más fuerte que el mal.
Jesús, por su parte, al comparar su venida como hijo del hombre al final de los tiempos con el diluvio, pone de relieve su carácter sorpresivo para la mayoría de las personas. Todas llevaban una vida normal (“la gente comía, bebía y se casaba” 24,38), sin sospechar que el juicio de Dios estaba próximo. Señalemos que no hay una condena moral sobre la conducta de los contemporáneos de Noé; sólo se señala su falta de conocimiento del tiempo final (“no supieron o no conocieron”: οὐκ ἔγνωσαν).
El aspecto judicial de la venida del hijo del hombre está presente en la distinción entre las parejas: de dos hombres uno será llevado, otro dejado; y lo mismo de las dos mujeres. Tampoco aquí se da una justificación moral de la elección de uno y del rechazo de otro, dentro del mismo grupo familiar. Tal vez la intención del texto sea evitar que alguno se sienta excluido de esta situación pues puede sucederle a cualquiera, por lo cual la advertencia de Jesús es para todos.
Como siempre, la exhortación de Jesús ante la posibilidad del fin es estar prevenidos, vigilantes, despiertos (γρηγορέω).
Al final (24,43-44) Jesús añade algo que aparece varias veces en el Nuevo Testamento y que es la comparación del día final con la llegada de un ladrón por cuanto nos sorprenderá si no lo esperamos: "vendrá a la hora menos pensada". Por tanto, la vigilancia que Jesús propone ante la venida del fin, de la parusía, se compara con la de un dueño de casa ante la posible venida de un ladrón para robarle. La actitud que aconseja aquí Jesús es la misma de vigilancia, pero con un matiz más bien activo: velar, estar preparados (ἕτοιμοι). Se trata de estar listos, como lo estaban las Vírgenes prudentes a la llegada del esposo y por eso entraron en la fiesta (cf. Mt 25,10).
Algunas reflexiones:
Como dice A. Nocent: "La orientación de este primer domingo de Adviento es netamente escatológica. Es una ocasión para que nosotros revisemos qué lugar ocupa en nuestra vida concreta el "último día" y el encuentro de todo el Pueblo de Dios con su Señor"8. O también, como señala H. U. von Balthasar9: “deberíamos comprender el mensaje central del adviento y la apremiante exhortación que contiene: Dios está en camino hacia nosotros”.
Esto tiene su lógica o sabiduría teológica. La vida del cristiano se mueve entre dos realidades dinámicas: el Señor que viene a nosotros (adviento) y nosotros que salimos (éxodo) al encuentro del Señor. La vida cristiana es “camino”, así se la denomina en los Hechos de los Apóstoles en varias ocasiones (cf. He 18,25; 19,9.23; 24,4.14.22). Entonces, si voy a ponerme en camino, tengo que saber hacia dónde dirigirme, cuál es el fin. Y esto es justamente lo que nos presenta el primer domingo de adviento: caminamos hacia el Señor que viene al final de los tiempos para llevarnos a su encuentro. Al respecto dijo el Papa Francisco el 1° de diciembre de 2013: “Este camino no se acaba nunca. Así como en la vida de cada uno de nosotros siempre hay necesidad de comenzar de nuevo, de volver a levantarse, de volver a encontrar el sentido de la meta de la propia existencia, de la misma manera para la gran familia humana es necesario renovar siempre el horizonte común hacia el cual estamos encaminados. ¡El horizonte de la esperanza! Es ese el horizonte para hacer un buen camino. El tiempo de Adviento, que hoy de nuevo comenzamos, nos devuelve el horizonte de la esperanza, una esperanza que no decepciona porque está fundada en la Palabra de Dios. Una esperanza que no decepciona, sencillamente porque el Señor no decepciona jamás. ¡Él es fiel!, ¡Él no decepciona! ¡Pensemos y sintamos esta belleza!”. “Recordad siempre esto: la vida es un camino. Es un camino. Un camino para encontrar a Jesús. Al final, y siempre. Un camino donde no encontramos a Jesús, no es un camino cristiano. Es propio del cristiano encontrar siempre a Jesús, mirarle, dejarse mirar por Jesús, porque Jesús nos mira con amor, nos ama mucho, nos quiere mucho y nos mira siempre. Encontrar a Jesús es también dejarte mirar por Él”.
Tanto la primera lectura como el evangelio hacen referencia a la venida de Dios al fin de los tiempos como juez. El texto de Isaías lo presenta como algo esperanzador pues describe la exaltación de Jerusalén como centro del mundo y lugar de peregrinación de todas las naciones. El evangelio nos lo presenta más bien como algo amenazador, dado su carácter imprevisto e inesperado; y por la acción judicial de Dios en clave de separación, de tomar uno y dejar otro.
Importa mantener un sano equilibrio entre estos dos aspectos, como bien notaba Benedicto XVI: "En la configuración de los edificios sagrados cristianos, que quería hacer visible la amplitud histórica y cósmica de la fe en Cristo, se hizo habitual representar en el lado oriental al Señor que vuelve como rey –imagen de la esperanza–, mientras en el lado occidental estaba el Juicio final como imagen de la responsabilidad respecto a nuestra vida, una representación que miraba y acompañaba a los fieles justamente en su retorno a lo cotidiano. En el desarrollo de la iconografía, sin embargo, se ha dado después cada vez más relieve al aspecto amenazador y lúgubre del Juicio, que obviamente fascinaba a los artistas más que el esplendor de la esperanza, el cual quedaba con frecuencia excesivamente oculto bajo la amenaza", (Benedicto XVI, Spe Salvi nº 42).
Cada adviento la Iglesia pone al cristiano en situación vital de esperanza: debe esperar, vinculado a todo el Antiguo Testamento, la llegada del día final. La espera de Israel que nos propone el profeta Isaías es en el fondo la Esperanza en un encuentro definitivo con Dios donde todas las naciones vivirán en paz. En este sentido el pueblo de Israel y el pueblo cristiano se encuentran en su Esperanza. Por tanto, la primera lectura nos invita a desear esta venida, a esperarla con entusiasmo.
El evangelio y la segunda lectura, por su parte, nos advierten del peligro que acecha nuestra vida cristiana si perdemos de vista el fin trascendente de la misma. Se trata de un peligro muy sutil, ya que muchas veces no se trata de hacer algo claramente malo, sino de dejarse atrapar y enceguecer por las múltiples actividades de la vida cotidiana. De este gran peligro nos advierte el Papa Benedicto XVI10: "Todos tenemos experiencia, en la existencia cotidiana, de tener poco tiempo para el Señor y poco tiempo también para nosotros. Se acaba por estar absorbidos por el “hacer”. ¿Acaso no es cierto que a menudo sea la actividad quien nos posee, la sociedad con sus múltiples intereses la que monopoliza nuestra atención? ¿Acaso no es cierto que dediquemos mucho tiempo a la diversión y a ocios de diverso tipo? A veces las cosas nos “atrapan”. El Adviento, este tiempo litúrgico fuerte que estamos empezando, nos invita a detenernos en silencio para captar una presencia. Es una invitación a comprender que cada acontecimiento de la jornada es un gesto que Dios nos dirige, signo de la atención que tiene por cada uno de nosotros. ¡Cuántas veces Dios nos hace percibir algo de su amor! ¡Tener, por así decir, un “diario interior” de este amor sería una tarea bonita y saludable para nuestra vida! El Adviento nos invita y nos estimula a contemplar al Señor presente. La certeza de su presencia ¿no debería ayudarnos a ver el mundo con ojos diversos? ¿No debería ayudarnos a considerar toda nuestra existencia como "visita", como un modo en que Él puede venir a nosotros y sernos cercano, en cada situación?"
El tono amenazador del evangelio es un recurso pedagógico para invitarnos a estar siempre vigilantes y preparados para el día final, dado su carácter sorpresivo e inesperado. Al respecto decía el Cardenal C. M. Martini11: “la iniciativa de Dios de visitar a su pueblo y de establecer su morada entre nosotros exige al discípulo un corazón preparado para vigilar”. Podemos decir que el Señor quiere "despertar" nuestra conciencia cristiana al comienzo del adviento ya que inevitablemente el diario trajinar nos hace perder de vista el horizonte de lo definitivo. Este es el sentido de la vigilancia, pues "vigilar implica una relación con el Cristo viviente, que volverá como juez universal y emplazará a todos los humanos ante su tribunal"12.
Sobre esta actitud de vigilancia decía el Papa Francisco en el ángelus de 27 de noviembre de 2022: “Hermanos y hermanas, en este tiempo de Adviento, ¡sacudamos el letargo y despertemos del sueño! Preguntémonos: ¿soy consciente de lo que vivo, estoy alerta, estoy despierto? ¿Estoy tratando de reconocer la presencia de Dios en las situaciones cotidianas, o estoy distraído y un poco abrumado por las cosas? Si no somos conscientes de su venida hoy, tampoco estaremos preparados cuando venga al final de los tiempos. Por lo tanto, hermanos y hermanas, ¡permanezcamos vigilantes! Esperando que el Señor venga, esperando que el Señor se acerque a nosotros, porque está ahí, pero esperando: atentos. Y la Virgen Santa, Mujer de la espera, que supo captar el paso de Dios en la vida humilde y oculta de Nazaret y lo acogió en su seno, nos ayude en este camino a estar atentos para esperar al Señor que está entre nosotros y pasa”.
Por tanto, la realidad del fin del mundo que nos presentan las lecturas de hoy nos ayuda a descubrir y asumir los límites de nuestro mundo y de nuestra vida; de nuestras actividades y ocupaciones. No se trata de desvalorizar todo lo que hacemos; se trata de no absolutizar lo cotidiano, lo presente. Es lo que pedimos en la oración postcomunión de este domingo: “tu nos enseñas a amar y adherirnos a los bienes eternos, mientras peregrinamos en medio de las realidades transitorias de esta vida”.
Despertar esta esperanza trascendente, teologal, es muy difícil y, por ello, es el gran desafío al comenzar el adviento. La dificultad está en que el hombre posmoderno vive en lo inmediato y se conforma con ello. Su horizonte muchas veces no va más allá del consumo, y esto se nota cada vez más en la forma de vivir y celebrar la Navidad, sin distinción de clases sociales.
¿Cómo responder a este desafío? Hay que despertar la nostalgia de lo trascendente, de lo eterno que anida en el corazón de hombre. Y en estos tiempos creo que el anhelo de paz es un síntoma claro de esta nostalgia. Puede parecer banal, pero con el cansancio de fin de año se hace más vivo el deseo de las vacaciones, de descansar, de estar tranquilos y en paz. Este deseo de paz podría ser la puerta de entrada para el anuncio de la Paz de Cristo. Una paz con sabor a eternidad, pero que puede ya gustarse en esta vida. Como bien dice R. Cantalamessa13: "No es verdad en absoluto que la eternidad aquí abajo sea sólo una promesa y una esperanza. ¡Es también una presencia y una experiencia!".
En conclusión, creo que podríamos sacar como consigna para esta primera semana del Adviento el estar más atentos a Dios y a su obra en nosotros cuyo objetivo es despertar el deseo del encuentro con el Señor. Esta es justamente la vigilancia cristiana de que nos habla el evangelio de hoy: ¡a despertar se ha dicho!
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Vela Tú en nosotros, Señor
Envíanos tu Espíritu Santo, Él nos preparará para aquel Día
Nuestro corazón latirá solo por la Gran Alegría
No más distancias ni despedidas.
Será tu llegada misteriosa:
Encuentro definitivo en un abrazo eterno
Anuncio de esperanza alfombrado por las sombras
Clamor de los profetas hace siglos, Sagrados Escritos
Relataron el momento del martirio
Y también el de la Gloria
Hoy, hermanos, vayamos haciendo silencio, andando lentos,
Cargando la cruz y mirando al cielo
¿Cuándo?... ¿Cuándo? … No sabemos
Estás tan cerca nuestro y te vamos buscando
En el dolor, en el vacío de Amor,
Y andamos tan ciegos!
Nadie más que Tú Señor, para velar en nosotros
El único Dueño, lámpara encendida.
Presencia viva, Eucaristía
Envíanos tu Espíritu Santo,
Él nos preparará para aquel Día
Y nuestro corazón latirá solo por la Gran Alegría. Amén
1 Benedicto XVI, Homilía del 30 de noviembre de 2009.
2 A. Nocent, El Año Litúrgico. Celebrar a Jesucristo. I. Introducción y Adviento, Santander 1987, 63. 3 Citado por Pbro. Lic. Alejandro Bóttoli, Charla sobre el ciclo de Navidad (versión digital). 4J. Castellano, El año litúrgico. Memorial de Cristo y mistagogía de la Iglesia (CPL; Barcelona 1996) 71
5 Carta a los Romanos, Verbo Divino, Estella, 2013, págs. 985-986.
6 L. Rivas, Jesús habla a su pueblo 2. Ciclo A Adviento – Navidad – Cuaresma – Pascua (CEA; Buenos Aires 2001) 17. 7 U. Luz, El Evangelio según San Mateo III (Sígueme; Salamanca 2003) 577.
8 A. Nocent, El Año Litúrgico. Celebrar a Jesucristo. I. Introducción y Adviento, Santander 1987, 104. 9 La luz de la palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 13. 10 Homilía en las primeras vísperas del primer domingo de Adviento de 2009.
11 Estoy llamando a la puerta (PPC; Madrid 1993) 78.
12 U. Luz, El Evangelio según San Mateo III (Sígueme; Salamanca 2003) 588.
13 R. Cantalamessa, Jesucristo el Santo de Dios, Madrid 1991, 100.