27/07/2025
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Gênesis 18,20-32
Salmo Responsorial 137 (138) Naquele dia em que gritei, vós me escutastes, ó Senhor!
2ª Leitura: Colossenses 2,12-14
Evangelho Lucas 11,1-13
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – 1Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. 2Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. 3Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos 4e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”. 5E Jesus acrescentou: “Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, 6porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’, 7e se o outro responder lá de dentro: ‘Não me incomodes! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães’, 8eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário. 9Portanto, eu vos digo, pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. 10Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá. 11Será que algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? 12Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” – Palavra da salvação.
O judeu piedoso sabia rezar os salmos de memória e muitas outras orações de ação de graças ligadas às diversas circunstâncias da vida e das tarefas cotidianas. O discípulo que pediu a Jesus que ensinasse a rezar não queria conhecer mais uma outra oração para se feita, mas deseja rezar como Jesus.
Esse pedido nasce do choque existencial do discípulo que vê como Jesus reza. O discípulo está fascinado com o modo de Jesus rezar. O seu desejo não é de receber uma nova oração para a sua lista já bastante grande de orações.
O seu desejo consiste em ser introduzido na intimidade que Jesus tem com o Pai. O seu desejo era o de se tornar um orante como Jesus.
A oração do Pai-nosso, mais do que uma fórmula de oração, é a expressão mais verdadeira da alma de Jesus; exprime de maneira sublime e simples a sua identidade pessoal; manifesta seu modo de vida e o sustento de suas decisões e escolhas; exterioriza maravilhosamente a consciência profunda que Jesus tem de si mesmo em relação a Deus.
Rezar o Pai-nosso é, portanto, ser inserido nessa relação entre Pai e Filho.
“Senhor, ensina-nos a orar...” (Lc 11,1)
17º DomTComum - Lc 11,1-13 – Ano C
Na convivência com os “discípulos seus” Jesus foi transparente e presença marcante. Chamou-os para “ficar com Ele”, aprender d’Ele a serem testemunhas de seu Amor incondicional ao Pai e aos irmãos.
Entre os inúmeros desejos e aspirações que Jesus suscitou, uma foi a grande aventura de aprender a orar. Jesus orava. Orava sozinho, orava com a multidão, e orava com os discípulos.
Às vezes no templo, outras vezes nas caminhadas da Galileia a Jerusalém; sempre orava a realidade iluminada pelo Projeto do Pai: mergulho íntimo e comprometedor. São Lucas nos revela que Jesus estava rezando num lugar solitário, afastado. O Pai-Nosso é oração de intimidade que só pode brotar do coração de Jesus num diálogo muito pessoal, filial, com o Pai.
Não é difícil reviver a cena do Evangelho: Jesus orando e os discípulos contemplando o Mestre em oração.
Esta prática do Mestre exercia sobre os discípulos um fascínio e um desejo de entrar por este caminho, totalmente novo. Na espontaneidade de aprendiz, um deles expressa o desejo do grupo e pede: “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos”.
Os discípulos não perturbam a oração de Jesus, nem se aproximam d’Ele. Só quando Ele termina de orar é que alguém toma coragem para dirigir-lhe a palavra e fazer-lhe um pedido.
Eles, acostumados a viver com Jesus, sentiam que não sabiam orar, que não conseguiam concentrar-se no amor infinito de Deus, entrar no diálogo silencioso com o Pai, de Quem Jesus tanto lhes falava. É este desejo de conhecer o Pai que anima os discípulos a pedirem para aprender a orar.
O Pai-Nosso é a oração que Jesus deixou como herança aos seus seguidores. É a única oração que lhes ensinou para alimentar sua identidade de seguidores seus e colaboradores no projeto do Reino de Deus.
O Pai-Nosso nos desvela, como nenhum outro texto evangélico, os sentimentos que Jesus guardava em seu coração. É a melhor síntese do Evangelho, a oração que melhor vai nos identificando com Jesus.
Desde muito cedo, o Pai-Nosso se converteu não só na oração mais querida pelos cristãos, mas na oração litúrgica que identificava a comunidade eclesial reunida no nome de Jesus. Por isso, ensinavam os catecúmenos a recitá-la antes de receberem o batismo.
Esta oração, pronunciada a sós ou em comunidade, meditada e interiorizada continuamente no coração, pode também hoje reavivar nossa fé e nosso compromisso em favor do Reino de Deus. Com o Pai-Nosso estamos diante do segredo de Jesus comunicado aos discípulos e a nós, seus seguidores.
Jesus ensinou a orar, orando. Ele fez junto com os discípulos uma trajetória de oração; não só apontou o caminho, mas fez o caminho com eles. Conhecer sua oração é entrar no próprio movimento de seu desejo e, de certa maneira, participar de sua vida íntima e de seu espírito.
Jesus ensinava com a vida uma nova maneira de comunicar-se com o Pai. E mergulhar na intimidade do desejo de Jesus é conhecer também o que este mesmo desejo d’Ele pode revelar a nosso respeito, conduzindo-nos ao mais profundo de nossa humanidade.
E o desejo que Ele expressa no Pai-Nosso nos revela que somos habitados por um “desejo infinito” que só o Infinito pode preencher. De fato, é preciso integrar em nós todas as dimensões de nossa condição humana (corporal, psicológica, espiritual). O desejo se enraíza em nosso corpo, atravessa nossa memória, afeta nosso psiquismo e se abre à Transcendência.
O Pai-Nosso expressa bem estas dimensões do desejo porque manifesta o desejo do alimento, o desejo de liberdade, o desejo de ser capaz de perdoar, o desejo de ser libertado do sofrimento, o desejo de não se deixar levar pelas provações, o desejo de que reine em nós um outro espírito, que não reine sobre nós o peso de um “passado ferido”... Todos estes desejos se expressam e se enraízam na humanidade de Jesus.
A originalidade de Jesus, expressa na oração do Pai-nosso, tem dois aspectos principais. Em primeiro lugar, esta oração se dirige ao “Abbá”. Sabemos que Deus, para Jesus, é “Abbá”; sua oração não é dirigida friamente ao Todo Poderoso, ao Juiz universal, ao Senhor..., mas ao “Abbá”, carregado de afeto e calor humano. Também para nós: quando oramos, não somos escravos, temerosos, indignos..., mas filhos e filhas. Isto supõe uma inversão radical na imagem de Deus e de como devemos nos relacionar com Ele. Nossa relação com Deus Pai-Mãe, deve ser aquela de um(a) filho(a) com seu pai/mãe. Tal relação deixa transparecer a certeza e a segurança de sermos escutados e atendidos.
A segunda novidade do Pai Nosso está centrada no “nosso”. Jesus dá a cada um a possibilidade de dizer “nosso”, de entrar em relação com Aquele que “é” e que nos chama à existência.
Nós nos dirigimos ao Abbá de todos, sem exclusão. O Pai-Nosso é uma oração que nos situa no horizonte da filiação divina e da fraternidade humana. É a oração dos filhos/as, dos irmãos/ãs. Aqui está o sentido pessoa e comunitário do Pai-Nosso.
Por isso, a oração de Jesus é muito mais que uma grande oração de petição. É a síntese das relações de um ser humano com Deus, consigo mesmo, com os outros e com a própria criação.
Porque, quando dizemos “Nosso Pai”, nós nos tornamos o lugar onde o universo toma consciência de si mesmo e, também, nos tornamos o lugar onde o universo reza. A expressão “nosso” estende-se a toda a Criação, a tudo que vive e respira. “Nosso” é uma expressão de recolhimento que reúne o mundo, que integra os diferentes níveis da realidade.
É a expressão que coloca o “eu” no centro do “nós”, lembrando-nos que, na presença da Origem, somos todos cor da argila, somos todos terrosos, mas habitados pelo “Sopro” do Pai.
Segundo São Paulo, nós mesmos não temos a coragem de chamar a Deus de “Pai bondoso”. É o Espírito Santo quem põe nos nossos lábios a invocação que só Jesus tinha usado em sua oração. Ou, mais exatamente, é o Espírito Santo que reza em nós com as mesmas palavras de Jesus (Gal. 4,6).
O Pai-Nosso é a prece de Deus em nós. Dizer o Pai-Nosso é uma maneira de harmonizar nosso desejo, ainda disperso e superficial, com o desejo de Deus em nós. Assim, tal oração nasce espontânea no coração de quem busca o Senhor, mas também é uma arte de diálogo com o Absoluto, que se aprende lentamente: “A oração é a arte de amar” (S. Teresa de Jesus). A vida transforma-se numa atitude de oração, onde tudo nos une ao Senhor e tudo vem dela como força e vida.
Para meditar na oração:
O Pai-Nosso é uma caixa de segredos. É preciso abri-la.
- Calmamente, repasse e saboreie cada “palavra” dessa oração de Jesus; deixe que cada uma delas ilumine sua mente, abra sua inteligência, aqueça seu coração e se expresse como “moção” inspiradora e vivificadora.
- Abra sua interioridade para que esta oração vá lapidando todo o seu ser, como um escultor que fere o mármore em busca da sua obra-prima.
Tudo já foi dito sobre a Oração do Senhor. É a oração por excelência. O maior presente que Jesus nos deixou. A invocação mais sublime a Deus. E, no entanto, repetida inúmeras vezes pelos cristãos, pode se tornar uma oração rotineira, palavras repetidas mecanicamente, sem elevar o coração a Deus.
Por isso, é bom pararmos de vez em quando para refletir sobre esta oração, que abrange toda a vida de Jesus. Logo perceberemos que só podemos rezá-la se vivermos em seu Espírito.
"Pai-Nosso." É o primeiro grito que brota do coração humano quando este vive não no temor de Deus, mas em plena confiança em seu amor criador. Um grito, no plural, ao Pai de todos. Uma invocação que nos enraíza na fraternidade universal e nos torna responsáveis perante todos os outros.
"Santificado seja o Teu Nome." Esta primeira petição não é apenas mais uma. É a alma de toda a oração de Jesus, a sua aspiração suprema. Que o "nome" de Deus, isto é, o seu mistério insondável, o seu amor e o seu poder salvador, se manifestem em toda a sua glória e poder. E isto não é dito passivamente, mas a partir do compromisso de colaborar com as nossas próprias vidas nesta aspiração de Jesus.
"Venha o teu reino." Que a violência e o ódio destrutivo não reinem no mundo. Que Deus e a sua justiça reinem. Que o Primeiro Mundo não reine sobre o Terceiro, os europeus sobre os africanos, os poderosos sobre os fracos. Que os homens não dominem as mulheres, nem os ricos sobre os pobres. Que a verdade tome conta do mundo. Que se abram caminhos para a paz, o perdão e a verdadeira libertação.
"Seja feita a Tua vontade." Que ela não encontre tantos obstáculos e resistências dentro de nós. Que toda a humanidade obedeça ao chamado de Deus, que, das profundezas da vida, convida os seres humanos à sua verdadeira salvação. Que a minha vida hoje seja uma busca por essa vontade de Deus.
"O pão nosso de cada dia nos dai." Pão e tudo o que precisamos para viver com dignidade, não apenas para nós mesmos, mas para todos os homens e mulheres da Terra. E isso não é dito por ganância egoísta ou consumismo irresponsável, mas pelo desejo de compartilhar mais da nossa riqueza com os necessitados.
"Perdoa-nos." O mundo precisa do perdão de Deus. Os seres humanos só podem viver pedindo perdão e perdoando. Aqueles que renunciam à vingança a partir de uma atitude de abertura ao perdão são como Deus, o Pai bom e perdoador.
"Não nos deixeis cair em tentação." Não se trata das pequenas tentações da vida cotidiana, mas da grande tentação de abandonar Deus, esquecer o Evangelho de Jesus e seguir um caminho errado. Este clamor por ajuda continua a ressoar em nossas vidas. Deus está conosco diante de todo o mal.
No seu caminho a Jerusalém, o evangelista coloca esta atitude fundamental da vida de Jesus: “Um dia, Jesus estava rezando em certo lugar”. No seu evangelho, Lucas apresenta em várias oportunidades Jesus orando, especialmente nos momentos decisivos da sua vida. Possivelmente sua forma de rezar chamava a atenção das pessoas que estavam ao seu lado.
Tentemos reconstruir uma cena de Jesus em oração. Como imaginamos sua compostura e seu modo de agir durante a oração? Quais seriam as palavras usadas por ele para dirigir-se a Deus? Sem dúvida sua maneira de relacionar-se com Deus e de nomeá-lo era diferente daquilo que estavam acostumados a praticar ou visualizar seus discípulos, despertando sua inquietude. Eles ficam intrigados pelo seu estilo, pela sua confiança em Deus. No evangelho Jesus reza em diferentes lugares, apresentando todo lugar como um possível espaço de encontro com Deus. Isso desperta o interesse dos discípulos e por isso pedem-lhe que lhes ensine como rezar.
A oração faz parte da vida quotidiana de Jesus e não é um acontecimento extraordinário, mas sim um comportamento que acompanha os momentos fundamentais de sua vida e seu agir. Em várias oportunidades, Lucas narra diferentes momentos da vida de oração de Jesus. Nos primeiros capítulos, narra que “quando a fama de Jesus se espalhava cada vez mais e numerosas multidões se reuniam para ouvi-lo e serem curadas de suas doenças, Jesus se retirava para lugares desertos, a fim de rezar” (Lc 5, 5-6). Em outro capítulo, antes de escolher os Doze discípulos, diz que Jesus “foi para a montanha a fim de rezar e passou toda a noite em oração a Deus” (Lc 6,13). Às vezes Jesus vai sozinho rezar e em outras ocasiões está acompanhado. O evangelho menciona quando ele se dirige para a montanha para rezar acompanhado de Pedro, Santiago e João. Nesse contexto descreve-se o que acontece enquanto rezava: “seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante” (Lc 9,29). Jesus deixa-nos uma clara referência da importância de perseverar na oração. Ele o faz através de uma parábola, mostrando a necessidade de rezar sempre, sem nunca desistir (Lc 8,1). Ou, quando entra no Templo convertido em um antro de ladrões, Jesus, citando as Escrituras, diz: “Minha casa será casa de oração” (Lc 19, 46). No difícil momento prévio a sua condenação, estando no monte das Oliveiras, procura passar esse momento final da sua vida colocando sua confiança totalmente em Deus, seu Pai.
Assim como os discípulos, neste domingo cada um e cada uma de nós somos convidados a sentir a necessidade de aprender a rezar. Para isso é preciso reconhecer que não sabemos como rezar, como relacionar-nos livremente com Deus. Podemos perguntar-nos: como é nossa oração? Converte-se muitas vezes numa relação automática, que não traz novidade à nossa vida? Colocamos diante de Deus nossas alegrias, preocupações ou as dores que carregamos no diário viver ou tudo isso fica de lado e não faz parte do nosso diálogo com Deus? Há verdadeira intimidade com Deus ou uma parte fundamental de nossa vida fica em segredo, oculta por trás dos muros do costume ou do imediato dos acontecimentos?
Junto com os discípulos, peçamos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a orar”.
Escutemos lentamente cada uma das palavras que Jesus nos revela: “Quando vocês rezarem, digam: Pai, santificado seja o teu nome”. Convida-nos a nos dirigir a Deus como nosso Pai! Como diz o Papa Francisco, “Pai Nosso” é uma oração ousada, porque "nenhum de nós, nenhum teólogo famoso ousaria orar a Deus desta forma". Jesus não quer deixar de lado nossa humanidade, não quer nos anestesiar, “não quer que deixemos de fazer perguntas para aturar tudo sem questionar: ao invés disso, quer que todo sofrimento, toda inquietação, suba ao céu e se torne um diálogo”. Jesus não ensina fórmulas de "bajulação", pelo contrário, ele nos convida a orar ao Senhor quebrando as barreiras do temor e reverência. Ele não ensina a se dirigir a Deus o chamando de "Todo-poderoso", "Altíssimo", "Você, que está tão longe de nós, e eu que sou apenas uma pessoa pobre", mas simplesmente com a palavra "Pai", com toda a simplicidade, como as crianças abordam seu pai: e esta palavra "pai" expressa confiança, a confiança filial", continua o Papa. , com toda a simplicidade, como as crianças abordam seu pai: e esta palavra "pai" expressa confiança, a confiança filial", continua o Papa. (Texto completo: “Pai Nosso": uma oração “ousada” porque "nenhum de nós, nenhum teólogo famoso ousaria orar a Deus desta forma", diz o Papa)
Jesus revela-nos que Deus é Pai, um Pai amoroso que está ao nosso lado, que é alcançável, como disse o cardeal Giuseppe Betori: “não apenas no futuro, mas desde o presente momento, significa poder preencher a nossa existência com uma presença amorosa, da qual nosso coração manifesta uma ardente necessidade” (Texto completo: A paternidade de Deus é feita de ternura)
Desde essa intimidade e confiança no Pai que Jesus nos convida a viver, ele nos ensina a pedir: Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de amanhã, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos aqueles que nos devem; e não nos deixes cair em tentação.
É preciso pedir, porque dessa forma manifestamos nossa total confiança em Deus que é Pai e nós somos seus filhos e filhas queridos. Nunca um pai vai deixará de ouvir o pedido dos que ama, pelo contrário, sempre os escutará e responde da melhor forma possível. Assim é Deus com cada um de nós. Como expressa Francisco, “a oração do pedido é algo muito nobre. Deus é o Pai, que tem uma imensa compaixão por nós, e quer que seus filhos falem com ele sem medo, diretamente”.
Neste domingo, peçamos ao Senhor ter um coração simples para reconhecer a presença de Deus que sempre está próximo de nós. Ele está ao nosso lado em todo lugar e em todo momento. Não há lugares especiais para dirigir-nos a Deus, é Ele que nos acompanha no nosso diário viver como um Pai cuida e ama de cada um e cada uma de seus filhos e filhas amados. Assim, confiemos-Lhe nossas necessidades, as carências que há na nossa vida e as necessidades que vemos ao nosso redor.
Junto a Jesus, sejamos voz dos que ainda não conhecem este amor misericordioso do Pai!
Oração
Jesus
Jesus de Nazaré
palavra sem fim
em teu nome pequeno,
carícia infinita
em tua mão de operário,
perdão do Pai
em ruas sem liturgia,
todo poderoso Senhor
em sandálias sem terras,
cume da história
crescendo dia a dia,
irmão sem fronteiras
em uma reduzida geografia.
Não és uma maiúscula
que não cabe na boca
dos mais pequenos,
mas sim pão feito migalhas
entre os dedos do Pai
para todos os simples.
Tu continuas sendo
a água da vida,
uma fonte inesgotável
na mochila rasgada
do que busca seu futuro,
um lago azul
na cavidade insone
do travesseiro,
e um mar tão imenso
que somente cabe
dentro de um coração
sem portas nem janelas.
Em ti tudo está dito,
ainda que somente sorvo a sorvo
vamos libando teu mistério.
Em ti estamos todos,
ainda que somente nome a nome
vamos sendo corpo teu.
Em ti tudo ressuscitou
ainda que somente morte a morte
vamos acolhendo teu futuro
e em cada um de nós
continuas hoje crescendo
até que todo nome,
raça, argila, credo,
culmine tua estatura.
Benajamin González Buelta
O evangelho proposto para este final de semana é a respeito do conteúdo da oração e sobre como orar com perseverança e confiança.
De um lado, as orientações de Jesus a respeito da oração estão imediatamente após a catequese sobre o mandamento do amor (Lucas 10,25-28) colocado em prática através da solidariedade (Lucas 10,29-37), do serviço e do seguimento (Lucas 10,38-42). A comunhão com o Espírito de Deus cultivada na oração é a fonte do amor, da misericórdia, da diaconia e do discipulado.
De outro lado, as orientações de Jesus a respeito da oração encontram-se imediatamente antes da expulsão de um demônio de uma pessoa muda (Lucas 11,14). Seu poder de cura está intimamente vinculado à sua oração (Lucas 11,1) e à fé das pessoas (Lucas 7,50; 17,19; 18,42).
Podemos dividir a catequese sobre a oração em três partes.
1. A oração de Jesus e dos/as discípulos/as (Lucas 11,1-4)
Jesus é uma pessoa de profunda oração. Ele rezava muito, seja em momentos decisivos de sua vida, seja no cotidiano. Estava sempre em busca de comunhão com o Pai. Nessa intimidade filial, estava o segredo de sua missão.
Em Mateus, temos sete pedidos no Pai-nosso (Mateus 6,9-13). Em Lucas, são cinco. Lucas deve estar mais próximo da oração que Jesus sempre rezava. A comunidade de Mateus acrescentou o desejo de que a vontade de Deus fosse realidade assim na terra como já é no céu. É que os judeus cristãos não podiam deixar a Lei de Deus fora do Pai-nosso. E a forma como o fizeram foi através do terceiro pedido. Mas como deixar o pedido pelo Pão-nosso no coração da oração de Jesus? Então, para manterem ímpar o número dos pedidos, repetiram o último em forma afirmativa: "Mas livra-nos do maligno" (Mateus 6,13). Desse modo, o Pão-nosso continuava no centro da oração de Jesus e de seus discípulos.
Diferentemente de Mateus, onde Jesus toma a iniciativa de ensinar o Pai-nosso (Mateus 6,7-9), em Lucas, depois de acompanhar Jesus em oração, um seguidor lhe pede que também ensine o seu segredo aos discípulos. "Senhor, ensina-nos a orar". Então, Jesus lhes revela o seu jeito de se relacionar com o Pai. E partilhou a sua experiência. Esta oração é a síntese de seu projeto.
Nos dois primeiros pedidos, Jesus nos propõe acolher o Pai com o seu projeto, expresso por seu nome e pela justiça do reino. Nos três pedidos seguintes, Jesus nos pede que, da mesma forma como ele, também nós respondamos ao Pai, vivendo novas relações entre nós.
Pai
Abbá quer dizer paizinho, papai querido, tal como as crianças se dirigem a seus pais. É uma relação de confiança, de entrega e de intimidade. É um pai que gera vida, que acolhe e perdoa, que cria para a liberdade. Chamando a Deus de paizinho, reconhecemos também a nossa filiação divina, pois Jesus disse que o seu Pai também é nosso Pai (João 20,17).
1.1. Santificado seja o teu nome
Para o povo da Bíblia, o nome representa a própria pessoa. Santificar, portanto, o nome de Deus é o desejo de se comprometer com ele, de tornar realidade o seu nome, Abbá. Ser filho e filha desse paizinho nos leva a ter com ele uma relação de confiança e de liberdade. Leva-nos a revelar a sua glória, que se manifesta na vida do povo, especialmente dos mais fracos. Leva-nos também a viver plenamente como pessoas libertas e engajadas na luta pelo direito de todas as pessoas de serem verdadeiramente livres de todas as formas de escravidão, de todos os ídolos mundanos que nos tornam seus escravos.
Seu nome também é Javé. "Assim serei lembrado de geração em geração" (cf. Êxodo 3,14-15). Santificar o seu nome é atualizar sua presença libertadora na luta pela dignidade do povo excluído pelo sistema opressor do Egito. Quais sãos os sistemas que hoje nos escravizam, grandes ou pequenos?
1.2. Venha o teu Reino
Desejar o Reino é abrir-se para acolher o projeto de justiça e de amor vivido por Jesus, a fim de concretizá-lo aos poucos em nosso dia a dia. Viver segundo o Reino é deixar-se conduzir por seu Espírito, ao ponto de ter vida em abundância e de podermos dizer com o apóstolo Paulo que "já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gálatas 2,20).
1.3. O pão nosso cotidiano nos dá dia a dia
Este é o pedido central do Pai-nosso. Ao colocar o pedido pelo pão no coração de sua oração, Jesus nos mostra que o pão repartido, isto é, a economia não acumulada é o centro do projeto de Deus. Definitivamente, a economia está no centro do plano de Deus, uma economia solidária, partilhada, não acumulada.
O significado do pão é mais amplo e se refere também a todas as necessidades fundamentais para vivermos com a dignidade de filhas e filhos de Deus, tais como as seis necessidades lembradas por Jesus em Mateus 25,35-36: comida, água, casa, roupa, saúde e liberdade. E mais. É também o pão repartido na Santa Ceia.
1.4. E perdoa os nossos pecados, assim como também nós perdoamos a todo o que nos deve
O perdão de Deus é incondicional. Jesus revelou o amor do Pai, doando sua vida livremente, porém, na fidelidade ao projeto do Reino. Da mesma forma, este pedido do Pai-nosso nos convida a exercermos a misericórdia com perdão pleno, garantindo, dessa forma, vida digna a todas as pessoas, não permitindo que as dívidas sejam causa de sofrimento e humilhação. Somente pessoas reconciliadas podem viver relações harmoniosas e de justiça.
A misericórdia de Deus é sem limites. Ele está sempre pronto para perdoar, até mesmo em situações limite, como o caso em que Jesus perdoa a seus algozes: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lucas 23,34). No entanto, só é capaz de acolher o seu perdão quem for capaz de também perdoar. Somente a atitude de humildade nos abre para acolher o perdão infinito do Pai. O Pai do filho perdido já estava oferecendo seu perdão desde a hora em que ele decidiu seguir outro caminho. Porém, o filho somente experimentou a misericórdia do Pai no momento em que caiu em si e se abriu ao perdão gratuitamente oferecido pelo Pai (Lucas 15,11-32).
1.5. E não nos conduzas para a tentação
Jesus deixou bem claro quais são as principais tentações do maligno e que impedem vivermos conforme as relações do Reino. No relato das tentações, Jesus nos revela as principais seduções que nos afastam do caminho de Deus: a ganância da riqueza, a ambição do poder, a glória do prestígio e soluções mágicas para resolver a fome (Lucas 4,1-13). Para fazer frente a essas tentações, Jesus nos propõe o caminho da partilha da riqueza, do poder colocado a serviço e da simplicidade no viver.
2. Orar com insistência, com perseverança (Lucas 11,5-10)
Com a parábola do amigo importuno, Jesus revela mais características da oração, isto é, a insistência e a perseverança, de um lado, e, de outro, a certeza de sermos escutados, diante da solidariedade e da gratuidade de Deus. Por isso, "peçam e receberão; procurem e encontrarão; batam, e a porta será aberta para vocês. Porque todo o que pede, recebe; todo o que procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá".
Jesus nos desafia a orarmos com perseverança, pois a oração não pretende mudar Deus, uma vez que ele sabe o que precisamos. A oração pretende mudar a nós. Se custamos a receber e a encontrar, se a porta custa a se abrir, será que não somos nós que custamos a mudar nossas mentes e nossos corações?
3. Pedir o Espírito Santo com confiança (Lucas 11,11-13)
Se as pessoas atendem aos seus amigos e familiares, se os pais não negam pão e peixe a seus filhos, muito mais o Pai do céu atenderá as necessidades de suas filhas e de seus filhos. O jeito de Deus ser Pai supera o jeito humano. Ele é Pai como na narrativa do filho perdido. Cria seus filhos para a liberdade. Quando erram, espera-os de braços abertos para acolhê-los no amor e com eles fazer festa.
Por fim, Jesus recomenda que peçamos o essencial ao Pai, isto é, o seu Espírito. É que ele é a força de Deus que animou a profecia no Antigo Israel (Isaías 61,1). Ele é o dinamismo que enviou Jesus de Nazaré anunciar uma boa-nova aos pobres (Lucas 4,18-19). É ele também a nossa força para testemunharmos, até os confins da terra, o projeto do Reino que Jesus viveu e anunciou (Atos 1,8).
E o Espírito de Jesus está aí da mesma forma como o sol a brilhar. E como a luz solar entra em uma casa? Ora, abrindo portas e janelas. Portanto, deixar que a luz do Espírito ilumine nossos passos está em nossas mãos. Sua força a conduzir nossas vidas será tanto maior quanto mais nos abrimos através da oração filial na busca de comunhão com nosso papai querido.
Por isso,
Pai,
Santificado seja o teu nome;
Venha o teu Reino;
O pão nosso cotidiano nos dá dia a dia;
E perdoa os nossos pecados, assim como também nós perdoamos a todo o que nos deve;
E não nos conduzas para a tentação.
O nosso texto de hoje nos traz o ensinamento da Oração do Senhor, na versão Lucana. O Novo Testamento nos traz duas versões desta oração – a única oração que o Senhor nos ensinou: Lucas 11,2-4 e Mateus 6,9-13. Normalmente os cristãos rezam na forma mateana, com sete petições e sem doxologia (oração de louvor).
A versão lucana só tem cinco petições. A forma usada na Missa acrescenta a doxologia “porque Vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre”, baseada no texto trazido pela Didaché – um documento cristão do início do segundo século. Alguns estudiosos explicam as duas formas a partir do fato de Lucas e Mateus estarem se dirigindo a comunidades diferentes, com tradições diferentes. Mateus se dirigia a pessoas que tinham o costume de rezar, mas que corriam o risco de orar duma maneira muita formal e rotineira (judeu-cristãos), enquanto Lucas estava escrevendo para pessoas recém-convertidas (gentio-cristãos) e que precisavam aprender, talvez pela primeira vez, a rezar continuamente.
Embora não haja unanimidade entre exegetas sobre qual é a forma mais original, parece que o consenso tende em favor da versão Lucana. A versão mateana apresenta a forma mais litúrgica do seu uso (p.ex. “Pai Nosso” em lugar do simples “Pai”), mas na verdade não há diferença essencial entre as duas versões. Baseando-nos no trabalho dum exegeta alemão, Joaquim Jeremias, propomos a seguinte versão como a mais aproximada às palavras aramaicas de Jesus (devemos sempre lembrar que Jesus falava em aramaico, os evangelhos foram escritos em grego, e nós os lemos em português!):
“Querido Pai, santificado seja o Teu nome; venha o Teu Reino; o pão nosso de amanhã nos dá hoje; perdoa-nos as nossas dívidas, como queremos perdoar os nossos devedores, e não nos deixes sucumbir à Tentação.”
Seguindo este autor, tratamos a oração como uma “oração escatológica”, ou seja, a oração da comunidade cristã que experimenta o Reino como uma realidade já presente, mas que espera e pede a sua consumação final.
Uma chave para a compreensão lucana da Oração do Senhor, nós encontramos no primeiro versículo do texto: “Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um dos discípulos pediu: 'Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou os discípulos dele'” (Lc 11,1). Essa frase nos faz lembrar que muitos grupos religiosos do tempo de Jesus tinham uma oração que identificasse os seus discípulos, como por exemplo, os Essênios, os Fariseus e os Batistas. Então o discípulo de Jesus pede uma oração que pudesse identificar o seu programa de vida, como discípulos de Jesus. Assim podemos ver a Oração do Senhor como algo mais do que uma oração – podemos vê-la como um “manifesto” da proposta de vivência da nossa fé. Vejamos mais de perto o texto:
1. “Querido Pai” (ABBÁ)
É possível que muita gente tenha dificuldade em rezar o “Pai Nosso” por causa da sua experiência com o seu próprio pai. Se nós tivemos um pai carinhoso, com quem desde criança nós nos sentíamos bem, então teremos facilidade de rezar a Deus como “Pai”. Mas se o nosso pai era pessoa dura, ameaçadora, sem expressão de carinho, então podemos ter mais dificuldade em poder nos relacionar com Deus como “Pai Nosso”. Outras pessoas – especialmente feministas – talvez achem que o título “Pai” para Deus traz conotações demasiadamente masculinizantes, quando não machistas. Por isso, é importante aprofundar o sentido bíblico do termo, e o que significava na boca de Jesus.
Quando o Antigo Testamento descreve Deus como Pai, implica muito daquilo que a nossa cultura atribui à mãe. O Antigo Testamento se refere a Deus como Pai quinze vezes e enfatiza a ternura, a misericórdia, o carinho e o amor de Deus para o seu povo. Isso fica especialmente claro nos Profetas. Vejamos alguns textos: “Serei um pai para Israel, e Efraim será o meu primogênito” (Jr 31,9); “Será que Efraim não é o meu filho predileto? Será que não é um filho querido? Quanto mais o repreendo, mais me lembro dele. Por isso minhas entranhas se comovem, e eu cedo à compaixão – oráculo de Javé” (Jr 31,20); “Eu tinha pensado contar você entre os meus filhos, dar-lhe uma terra invejável [ …] esperando que você me chamasse de “Meu Pai”, e não se afastasse de mim” (Jr 3,19); “Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho […] fui eu que ensinei Efraim a andar, segurando-o pela mão […] Eu os atraí com laços de bondade, com cordas de amor. Fazia com eles como quem levanta até seu rosto uma criança; para dar-lhes de comer, eu me abaixava até eles” (Os 11,1ss).
Nestes textos podemos sentir muitas das características que a nossa cultura ocidental atribui à mãe – portanto o termo “Pai” no Antigo Testamento não traz qualquer conotação machista.
Embora o Antigo Testamento fale de Deus como “Pai” quinze vezes, jamais alguém invoca Deus como “meu Pai”, ou “nosso Pai”. O respeito do judeu diante da transcendência de Deus não permitia. Mas nos Evangelhos nós achamos o termo “Pai” para Deus na boca de Jesus 170 vezes. Isso era coisa tão inédita que podemos ter certeza que se trata duma palavra autêntica de Jesus e não somente proveniente da Igreja primitiva. Marcos a usa quatro vezes, Lucas 15 vezes, Mateus 42 vezes e João 109 vezes! Na comunidade do Discípulo Amado, pelo fim do primeiro século, “Pai” é o termo para Deus.
A expressão que Jesus mesmo usava era “Abbá”, um termo aramaico sem sinônimo em português. Fazia parte da linguagem da intimidade do lar, um termo carinhoso usado tanto por crianças como por adultos, para o seu pai. Então ultrapasse o sentido da palavra nossa “papai”. Devemos dar muito peso a este ensinamento de Jesus, pois embora não exista na literatura rabínica um exemplo sequer do uso do termo “Abbá” para Deus, Jesus sempre se dirigia a Deus deste jeito, exceto em Mc 15,34 quando na cruz, citando um salmo, ele chama deus de “Eloí” (meu Deus). Jesus então conversava com Deus com a segurança, intimidade e carinho com quem se conversa na ternura do seio família, e autorizou os seus discípulos a usar o mesmo termo. Isso indica o novo relacionamento com Deus que Jesus nos trouxe. É algo além do normal poder reivindicar tal relacionamento com Deus. São Paulo mantinha o termo aramaico, mesmo escrevendo em grego em Gálatas 4,6 e Romanos 8,15, quando ele diz: “A prova de que vocês são filhos é o fato de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho que clama: Abbá Pai!” (Gal 4,6); “[…] receberam um Espírito de filhos adotivos, por meio do qual clamamos: Abbá, Pai!” (Rm 8,15).
O “endereço” da oração determina não somente o nosso relacionamento com Deus, mas com os nossos irmãos e irmãs. Pois, se Deus é o “Abbá” de todos nós, então somos todos iguais, e rezar esta oração exige que nós não nos compactuemos com qualquer coisa que nos discrimine – racismo, machismo, clericalismo, exploração etc.
Todas as petições seguintes da oração dependem deste endereço. Pois não estamos nos dirigindo a um Espírito perfeitíssimo, criador do céu e da terra, onipresente, onipotente e onisciente! Estamos nos dirigindo ao nosso “Querido Pai”, e é este novo relacionamento, um dom incrível do próprio Deus, que faz possível as petições. Por isso, na liturgia, a Igreja pede que se faça uma introdução à oração, como “Orientados pela Palavra de Jesus, ousamos rezar”, para que nós tomemos consciência da enormidade do dom de filiação que recebemos por Jesus.
2. “Santificado seja o Teu nome”
Na forma atual, esta petição pode expressar tanto um louvor, (“Santificado seja o teu nome”) como petição (“Que o Teu Nome se torne santificado”). No contexto, devemos entendê-la como pedido. Podemos entender melhor a frase se voltamos de novo para um profeta do Antigo Testamento, Ezequiel: “Vou santificar o meu nome grandioso, que foi profanado entre as nações, porque vocês o profanaram entre elas. Então as nações ficarão sabendo que eu sou Javé, quando eu mostrar a minha santidade em vocês diante deles” (Ez 36,23).
Então, com este pedido rezamos que o mundo chegue a conhecer o nome (isto é, a realidade íntima) de Deus (que Ele é o nosso “querido pai”) através da nossa vivência. Torna-se uma oração missionária, com três elementos:
– primeiro, que nós cheguemos a conhecer cada vez mais quem é Deus;
– segundo, que o mundo chegue a este conhecimento através do nosso testemunho
– terceiro, que a plenitude da revelação da realidade de Deus venha logo; este é o aspecto escatológico.
3. “Venha o Teu Reino”
O tema central da pregação de Jesus era a iminência do Reino de Deus. Se o “nome” de Deus se refere à sua natureza íntima, o “Reino” se refere à sua atividade. Pedimos aqui a consumação final do Reino. É a oração da comunidade que reconhece a presença do Reino, mas sente que ainda não é estabelecido definitivamente entre nós. Temos outros trechos do Novo Testamento que expressam este desejo com a palavra aramaica “Maranathá”, (Vem, Senhor Jesus!), por exemplo, 1 Cor 16,22 e Ap. 22,20.
A versão mateana que nós costumamos rezar acrescenta “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. Isso é outra maneira de expressar a mesma ideia, pois quando a vontade de Deus é feita na terra como já se faz no céu, então o Reino estará plenamente realizado entre nós.
4. “O pão nosso de amanhã nos dá hoje”
Os primeiros dois pedidos almejam a chegada do Reino na sua plenitude, mas as duas petições seguintes põe a ênfase sobre o “agora”, o “hoje”!
A primeira dificuldade que enfrentamos é com a tradução, pois aqui se usa uma palavra grega “epiousios” que não é usada em outro lugar no Novo Testamento. Há quatro sentidos básicos possíveis para este termo:
– necessário para a nossa existência;
– para hoje;
– para o dia que virá;
– para o futuro.
As várias traduções usadas nas nossas bíblias (e seria bom verificar) refletem a dificuldade em ter certeza sobre o que significa o termo no contexto desta oração. Muitos exegetas concluem, como São Jerônimo, que a palavra quer dizer “dá-nos hoje o nosso pão de amanhã”.
Aqui, “amanhã” significaria o “grande amanhã” da Parusia, da consumação final do Reino de Deus. Assim estamos pedindo que nós possamos experimentar hoje o que pertence à plenitude do Reino.
Isso tem implicações muito concretas para a nossa vivência. Pois jamais será possível experimentar a plenitude do Reino enquanto falta o pão material na mesa dos nossos irmãos e irmãs. Quem faz este pedido se compromete com a luta por uma sociedade mais justa, mais fraterna, onde todos possam ter uma vida digna.
Quando Jesus e os seus discípulos faziam a refeição, era muito mais do que simplesmente tirar a fome. Significava o banquete messiânico, desejado pelos profetas, onde todos teriam vida plena. Quem reza esta petição, se compromete com a concretização duma sociedade onde “todos tenham a vida e a vida em abundância” (cf. Jo 10,10), coisa impossível sem o pão material nas mesas.
Não é possível participar do banquete eucarístico, sem este compromisso concreto com a construção dum mundo sem empobrecidos, onde todos terão “o pão nosso de cada dia”.
5. “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós queremos perdoar os nossos devedores”.
Um dos grandes dons da era escatológica é o perdão. Já vimos em outros trechos como Jesus manifestava este dom gratuito do Pai. Aqui pedimos que nós possamos experimentar este grande dom, aqui e agora. No entanto, o trecho levanta a questão da relação entre o perdão de Deus e o nosso perdão.
A maneira que nós rezamos o “Pai Nosso” – “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” – pode dar a impressão que estamos pedindo que Deus nos perdoe na medida em que perdoemos os outros! Se Deus vai nos perdoar conforme os critérios humanos, estamos em maus lençóis!! Aqui é necessário que olhemos melhor o que significa “assim como”.
Quase todos os estudiosos estão de acordo que esta frase não deve ser entendida como uma comparação entre o perdão de Deus e o nosso. Diversas parábolas sugerem que o perdão de Deus precede o perdão humano (cf. Mt 18,23-25; Lc 7,41-47). O nosso perdão é consequência e resposta ao perdão de Deus. Sendo perdoados, não temos desculpa para não perdoar! Mas qual é então o papel do perdão humano? (cf. Mt 6,14s). É que o perdão de Deus só se torna real para mim quando eu o assumo na minha vida ao ponto de perdoar quem me ofendeu. O nosso perdão mútuo então é a prova de até onde temos assumido o perdão de Deus. Devemos então lembrar três pontos:
– O perdão de Deus sempre precede o perdão humano;
– O perdão humano é reação ao perdão divino;
– O perdão divino só se torna eficaz para nós quando nós temos vontade de perdoar o outro.
Joaquim Jeremias explica a frase assim:
“Nós estamos prontos a repassar a outros o perdão que nós recebemos. Dá-nos, querido Pai, o dom da era da salvação, o teu perdão, para que, na força do perdão recebido, possamos perdoar os que têm nos ofendido”. (J. Jeremias, A Oração do Senhor).
E o grande exemplo desta realidade continua sendo a mulher “pecadora” de Lc 7, 36-50), cujo grande amor foi consequência do grande perdão recebido de Deus.
6. “E não nos deixes sucumbir à tentação”
Este é o único pedido formulado em termos negativos. Aqui não somente pedimos para não cair nas pequenas ou grandes tentações que nós enfrentamos no dia-a-dia, mas que não caiamos na Grande Tentação, de não acreditar na realidade da presença do Reino, de perder a fé na ação transformadora de Deus, de não acreditar mais na concretização da vontade de Deus. Este “sucumbir” não vem normalmente “de vez” – é um processo lento, que pode acontecer sem que nós demos conta. É o perder do elán, da vibração com a causa do Reino, que reduz a religião a uma mera “cumprir tabela”, sem alegria, sem esperança, – em fim, uma frustração. Este pedido ecoa uma mensagem e advertência clara dos evangelhos – a necessidade de vigilância! Estamos na luta escatológica entre o bem e o mal, onde até Jesus foi tentado. Aqui reconhecemos a nossa fraqueza, a nossa tendência para o desânimo, e pedimos a força de Deus para que não sucumbamos à Grande Tentação.
Assim a Oração do Senhor resume o projeto de vida dos seus seguidores e discípulos. É uma oração que traz consequências bem concretas para o nosso relacionamento com os irmãos e com a sociedade. É uma oração que desinstala e desacomoda. Pois nós estamos nos comprometendo com a construção diária do Reino, através do seguimento de Jesus.
A segunda parte do trecho de hoje insiste na necessidade de perseverança na oração. Faz contraste (e não comparação!) entre Deus e o amigo humano. Pois se o “amigo” só atende ao pedido para não ser amolado, Deus é bem diferente. Ele dará o mais importante – o Espírito Santo, com todos os seus dons, àqueles que o pedirem! Peçamos as coisas pequenas – mas importantes – necessárias para a nossa vivência diária, mas saibamos também pedir os grandes dons do Reino, o perdão, o pão da vida, a misericórdia sem limites, que Deus jamais negará!
(Traduzido pelo Google sem nossa correção. Se desejar, confira com o original logo após o texto em português)
XVII DOMINGO DO ANO – CICLO “C”
1ª Leitura (Jo 18,20-21,23-32):
No início da história, Deus ecoa uma denúncia contra a cidade de Sodoma pela gravidade de seu pecado, mas ainda não há sentença ou punição; a investigação está em andamento. Deus, como um juiz justo, não julga meramente por ouvir dizer, mas desce para testemunhar pessoalmente a gravidade desse pecado. Sodoma serve aqui como um exemplo para Israel da comunidade humana sobre a qual o olhar de Deus se volta em julgamento.
Como em todo processo judicial, a primeira questão é determinar se Sodoma é culpada ou inocente. A acusação ou queixa levantada em 20-21 é assumida como verdadeira e será confirmada pela narrativa seguinte (19:1-29). A segunda questão é mais delicada, e Abraão a coloca diretamente a Deus como Juiz: "Destruirás, pois, o justo com o ímpio?" (v. 23). Essa pergunta expressa uma importante reflexão teológica sobre o peso ou valor que uma minoria inocente pode ter diante da justiça divina. O significado da pergunta de Abraão seria: o que é mais decisivo no julgamento de Deus, a maldade da maioria ou a inocência de alguns? Ou poderia uma pequena minoria inocente ser tão importante para Deus a ponto de suspender a punição que ameaça toda a comunidade? Podemos considerar essa reflexão teológica como uma tentativa de superar a concepção corporativa do pecado e entrar no reino da responsabilidade pessoal. Ela vai além da justiça distributiva individual, pois não se trata simplesmente de separar os justos dos injustos, mas de perdoar a todos, levando em conta os méritos de alguns poucos justos. Há um passo em direção à solidariedade vicária, que pressupõe uma nova concepção de justiça divina, pois busca salvar a todos apoiando-se em alguns poucos justos.
Abraão apresenta essa questão a Deus por meio de um diálogo repleto de respeito e de um sentimento de indignidade por parte do patriarca. Como diz o Padre Cantalamessa 1 : "O aspecto mais marcante é que Deus e o homem se encontram frente a frente como duas pessoas: falam e discutem familiarmente. Um homem vivo, um homem verdadeiro, encontra o Deus vivo e verdadeiro." Ao longo do diálogo, observamos um crescimento na misericórdia de Deus, juntamente com a diminuição do número de justos que Abraão, em sua audácia, apresenta diante de Deus como motivo para suspender o castigo. É evidente que, em Deus, a vontade de salvar prevalece sobre a vontade de destruir .
No contexto do ciclo de Abraão, este diálogo com Deus representa um crescimento notável na relação do patriarca com Deus. É precisamente a sua amizade e confiança em Deus que lhe permite agora empreender uma oração de intercessão que o leva aos limites da ousadia e da audácia . 2 Mas notemos também que "Deus se faz companheiro do homem e caminha com ele; Deus abre o seu coração aos seus amigos. Deus ouve as súplicas dos seus servos. Deus não se envolve em monólogos, mas em diálogos. Deus está disposto a mudar de ideia em favor daquele que ora. " 3
Evangelho (Lc 11,1-13):
Este texto do Evangelho segundo São Lucas encontra um claro paralelo no Evangelho segundo São Mateus, no Sermão da Montanha (cf. Mt 6,7-15), onde encontramos a versão da Oração do Senhor que nós, cristãos, habitualmente rezamos. Esse paralelo nos permite descobrir que, na versão de São Lucas, falta o terceiro pedido de louvor, rompendo assim a apresentação simétrica de Mateus. Além disso, a invocação inicial é reduzida a apenas " Pai ", e o pedido final é formulado de forma mais sucinta.
Em relação ao tema da oração, a comparação nos permite perceber que enquanto em Mateus Jesus ensina apenas como os cristãos devem orar, pois seu público, majoritariamente judeu, já estava acostumado a orar; Lucas insiste muito na necessidade de orar e gosta até de apresentar a oração de Jesus como exemplo.
Por sua vez, a versão de Lucas se insere no contexto literário da jornada de Jesus da Galileia a Jerusalém (cf. 9,51-19,27), que simboliza a jornada do discipulado, com as repetidas instruções de Jesus aos seus discípulos ao longo de toda a narrativa. Entre elas, duas são dedicadas à oração. Lucas 18,1-14 ensina que a oração cristã deve ser perseverante e humilde, enquanto a catequese inicial sobre a oração encontra-se em Lucas 11,1-13 (nosso texto de hoje), que inclui a Oração do Senhor no início. Portanto, o fato de a Oração do Senhor ocupar um lugar central na catequese fundamental de Jesus sobre a oração demonstra a importância de seu conteúdo doutrinário. Além disso, sua inclusão em uma catequese básica sobre a oração revela seu caráter exemplar para os cristãos.
O texto começa apresentando Jesus como um modelo de oração, dizendo-nos que "ele estava orando". Este não é um exemplo isolado, pois os Evangelhos frequentemente apresentam Jesus orando, retirando-se para a solidão para orar (cf. Lc 5,16); e às vezes até passando a noite inteira em oração, como quando teve que tomar a importante decisão de escolher os doze apóstolos (cf. Lc 6,12-13). A oração de Jesus é um lugar privilegiado para a revelação de sua identidade, como em seu batismo (cf. 3,21) e na transfiguração (cf. 9,28-29). No final de sua vida, Jesus rezou antes de enfrentar a Paixão no Getsêmani (cf. Lc 22,41-42) e morreu orando ao Pai (cf. Lc 23,46).
É justamente essa atitude orante de Jesus que desperta em seus discípulos o desejo de aprender a orar, e por isso um deles lhe pede: "Senhor, ensina-nos a orar" (Lucas 11:1). Jesus responde a esse desejo dos discípulos ensinando-lhes a Oração do Senhor .
O contexto da Oração do Senhor, tanto em Mt como em Lc, deixa claro que esta oração é um privilégio dos discípulos porque eles aceitaram o Reino de Deus anunciado por Jesus e, portanto, para eles Deus é fundamentalmente ' o Pai ' 4 .
Jesus quer que oremos a Deus, chamando-o de Pai, como Ele mesmo fez em sua oração (cf. Mc 14,36; Mt 11,25-27; Lc 23,34.46). A oração é um relacionamento pessoal com Deus e, portanto, particularmente na oração, Deus se revela pessoalmente como Pai e o orante como filho . As fórmulas da Oração do Senhor oferecem, em poucas palavras, um programa completo de oração filial, pois "na Oração do Senhor, Jesus capacita seus discípulos a repetir 'Abba' com Ele. Ele os faz compartilhar sua posição de Filho, autorizando-os, como seus discípulos, a falar com seu Pai celestial com tanta confiança quanto uma criança fala com seu Pai terreno " . 5
Notamos então que o contraste entre vós e nós-nosso indica que as duas primeiras petições se referem diretamente ao Pai como orações de anseio por algo que lhe pertence: a santidade do seu nome e a vinda do seu reino . Nesse sentido, são orações de louvor . As outras três se relacionam com as necessidades dos filhos: o pão de cada dia; o perdão das ofensas; e o pedido para não sucumbir à tentação. São orações de petição .
Dessa estrutura literária, pode-se deduzir que as orações de louvor ao Pai são priorizadas , pois são encontradas primeiro. Seguem-se as orações de petição. Pode-se dizer que as crianças pedem ao Pai os dons necessários para continuar a louvá-lo em reconhecimento aos dons recebidos. "Para Jesus, orar é sempre pedir. E se a minha oração se tornar louvor ou ação de graças, será porque recebi o que esperava encontrar." 6 Conclui-se disso que a Oração do Senhor, embora composta de petições, é fundamentalmente uma oração de louvor . 7
A primeira súplica é o desejo de que o nome de Deus seja santificado. Primeiramente, observemos que o "nome" equivale à pessoa, o que significa que o Pai deve ser santificado por Si mesmo, visto que está na voz passiva. Esta petição expressa o desejo do cristão de que o Pai manifeste Sua santidade realizando Sua obra salvadora entre os homens. Além disso,
É um apelo de desejo por parte dos filhos “para que o Pai os confirme no dom da filiação divina e intensifique a sua participação na sua vida, para que sejam mais intensamente o que são, seus filhos, e o invoquem com cada vez maior propriedade, invocando-o: Pai!” 8 . Por sua vez, os discípulos santificarão o nome do Pai vivendo como filhos, cumprindo a sua vontade (cf. Mt 5, 21-7, 27).
A segunda súplica é a vinda do Reino de Deus, que é entendida como o desejo de que o Reino de Deus, inaugurado com o ministério de Jesus, alcance sua plenitude ou consumação escatológica.
A primeira petição diz respeito a tudo o que é necessário para a vida, simbolizado pelo nosso "pão de cada dia". Como bem observa A. Rodríguez Carmona 9 , este é o pão material que inclui todas as necessidades da vida humana, que nós, como filhos, pedimos ao Pai Providente.
A segunda petição diz respeito a uma necessidade tão vital quanto o pão: o perdão. Ela pede ao Pai o perdão das ofensas e expressa a intenção de perdoar os ofensores.
A terceira petição pede que não sejamos induzidos à tentação ou à provação (πειρασμός), sob pena de perdermos a condição de filhos, negando o Pai e deixando de crer em seu amor providente e perdão misericordioso. Pede que permaneçamos no discipulado, que não caiamos em tentação, especialmente na grande tentação de perder a fé e renunciar ao discipulado. Implica a consciência da fraqueza . 10
Após o conteúdo fundamental da oração do discípulo, a Oração do Senhor, Jesus completa o treinamento na oração com dois exemplos de como orar, ou mais precisamente, como pedir a Deus.
O primeiro exemplo é o de um amigo inoportuno, fora de lugar, diríamos, mas muito persistente, e graças a essa insistência, ele acaba conseguindo o que pede. Portanto, esta deve ser a nossa oração, como o pedido de um amigo "irritante". O próprio Jesus extrai deste exemplo uma longa exortação: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois quem pede, recebe; quem busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-lhes-á" (Lucas 11:9-10). Sabemos que os judeus evitavam nomear Deus diretamente e, portanto, recorriam a formas passivas ou elípticas. De acordo com isso, fica claro que o sujeito dos verbos colocados em segundo lugar é o próprio Deus, significando que o Pai lhes dará o que pedirem, os fará encontrar o que buscam e lhes abrirá a porta quando baterem.
O segundo exemplo se baseia na relação entre um filho que pede algo a um pai que jamais lhe responderá dando-lhe algo ruim. Para desenvolver sua argumentação, Jesus utiliza um procedimento rabínico chamado qal wa-homer em hebraico , que consiste em aplicar o princípio da superioridade, ou seja, comparar duas realidades da mesma ordem, mas desiguais, o que se predica do inferior é verdadeiro em maior grau do superior (a retórica fala de argumentação a fortiori ou a minore ad maius ). Distingue-se pelo uso da expressão quanto mais! Se os pais humanos fazem isso, quanto mais Deus Pai dará o Espírito Santo àqueles que lhe pedirem. Este exemplo é uma exortação à oração confiante que, ao mesmo tempo, orienta o conteúdo dos pedidos para o bem supremo que devemos sempre pedir a Deus Pai: o Espírito Santo .
ALGUMAS REFLEXÕES:
No domingo passado, o Evangelho nos ofereceu como mensagem principal a centralidade da escuta da Palavra na vida do discípulo , do cristão. Ou seja, o discípulo deve primeiro aprender a escutar o Pai que nos fala em Jesus. E depois deve aprender a falar com Deus, chamando-O de Pai e pedindo-Lhe com confiança e insistência. Este último é o grande ensinamento deste domingo. Trata-se, portanto, de aprender a rezar, ou melhor, de deixar que o Senhor nos ensine a rezar . E a oração consiste fundamentalmente em dialogar com Deus, o que implica este duplo movimento de escuta e de falar. Assim, preservando sempre a primazia da escuta, não devemos esquecer de falar, de dizer a Deus o que pensamos e desejamos. Como disse o Santo Cura d'Ars: "O homem é um mendigo que precisa pedir tudo a Deus".
O primeiro pedido dos discípulos a Jesus foi que os ensinasse a rezar . Para aprender a rezar, então, devemos começar pedindo o dom da oração . Por isso, no final do texto, Jesus diz aos seus discípulos que eles devem pedir o Espírito Santo porque Ele é o Mestre Interior, que se une ao nosso espírito e nos faz rezar ao Pai (cf. Gl 4,6; Rm 8,5). Para São Paulo, os cristãos são filhos de Deus como fruto da redenção operada pelo Filho, que lhes concede uma participação em seu espírito filial . Essa condição de filhos, como em Jesus, se manifesta e se exerce em nós especialmente na oração.
Essa atitude filial é fundamental para a oração cristã. É o seu clima afetivo. Ao clima filial devemos acrescentar a atmosfera de comunidade, de família, pois Jesus nos ensina a orar a Deus por "nós", não somente por nós mesmos. As orações não são individuais, mas comunitárias. Na Oração do Senhor, há o "Tu" de Deus e o "nós" dos nossos irmãos e irmãs; mas não encontramos o "eu" individualista.
Diante disso, temos na Oração do Senhor um ensinamento sobre o conteúdo fundamental da oração cristã. Já Tertuliano, o mais antigo exegeta da Oração do Senhor, dizia que ela é como "uma síntese de todo o Evangelho" (" breviarium totius Evangelii "), e São Cipriano, por sua vez, disse: "Quantos e quão grandes são os mistérios contidos na Oração do Senhor! Eles estão reunidos em poucas palavras, mas sua eficácia espiritual é de grande riqueza. Absolutamente nada falta nela que deva constituir nossa oração e nossa súplica; não há nada que não esteja incluído neste verdadeiro compêndio da doutrina celestial."
Juntamente com a centralidade e a exemplaridade da Oração do Senhor, os textos de hoje destacam a importância e a necessidade da oração de petição , que não é uma forma menor de oração. Como bem salienta o Papa Francisco: “A oração de petição é autêntica, é espontânea, é um ato de fé em Deus que é Pai, que é bom, que é onipotente. É um ato de fé em mim, que sou pequeno, pecador e necessitado. E por isso, a oração por algo é muito nobre. Deus é o Pai que tem imensa compaixão por nós e quer que os seus filhos lhe falem sem medo, chamando-o diretamente de ‘Pai’” (12 de dezembro de 2018).
A esse respeito, um mestre espiritual afirma: "Petição, louvor e ação de graças são as formas fundamentais da oração bíblica, que não se opõem, mas se complementam. A petição prepara e antecipa a ação de graças, e já é em si mesma um louvor, pois confessa que Deus é bom e a fonte de todo bem. E a ação de graças brota do coração crente, que pede a Deus e recebe todo o bem como um presente de Deus. Não desprezemos, portanto, a oração de súplica, como se fosse uma oração inferior, pois, afinal, a Oração do Senhor, a oração que Jesus nos ensinou, é composta de sete petições. Mas peçamos bem. " 11
Vale também notar no Evangelho de hoje que Jesus escolhe dois exemplos ou parábolas com fortes conotações emocionais para nos ensinar a rezar : a relação de amizade e a relação pai-filho . Desta forma, o Pai é identificado com um amigo fiel e um pai bondoso . Isso destaca a imagem ou o rosto de Deus que Jesus nos revela neste Evangelho: Deus é antes de tudo um Pai, um pai mais bondoso do que o mais bondoso dos pais humanos (quanto mais!). E Deus é um amigo fiel que sabe ceder ao pedido insistente de quem o pede. A fé nestes "rostos de Deus" é fundamental para despertar a confiança persistente na oração. O Papa Francisco disse em 9 de janeiro de 2019: “A oração sempre transforma a realidade, sempre. Se as coisas não mudam ao nosso redor, pelo menos nós mudamos, mudamos nossos corações. Jesus prometeu o dom do Espírito Santo a todo homem e mulher que orar. Podemos ter certeza de que Deus responderá. A única incerteza é o tempo, mas não temos dúvidas de que Ele responderá. Podemos ter que insistir a vida toda, mas Ele responderá.”
Em suma, rezemos ao Senhor como crianças persistentes. Peçamos a Ele que nos ensine a rezar ao Pai. Peçamos a Ele que reze ao Pai em nós. Peçamos a Ele que nos faça participar da Sua oração ao Pai. Mas, acima de tudo, peçamos ao Espírito Santo, que é aquele que nos dará tudo isso e muito mais...
Neste domingo, celebramos o V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos com o lema: “Bem-aventurado aquele cuja esperança não se perde (cf. Sir 14,2)”. Em sua mensagem para este ano, o Papa Leão XIV afirma: “O fato de o número de idosos estar aumentando torna-se para nós um sinal dos tempos que somos chamados a discernir, a ler corretamente a história em que vivemos. A vida da Igreja e do mundo, de fato, só pode ser compreendida na sucessão das gerações, e abraçar um idoso nos ajuda a compreender que a história não se esgota no presente, nem se consuma entre encontros fugazes e relações fragmentárias, mas que abre o caminho para o futuro […] Considerando os idosos nesta perspectiva jubilar, também nós somos
Somos chamados a viver com eles uma libertação, sobretudo da solidão e do abandono. Este ano é o momento oportuno para isso; a fidelidade de Deus às suas promessas ensina-nos que há uma bem-aventurança na velhice, uma alegria autenticamente evangélica, que nos pede para derrubar os muros da indiferença que muitas vezes aprisionam os idosos. As nossas sociedades, em todas as suas latitudes, habituam-se com demasiada frequência a permitir que uma parte tão importante e rica da sua estrutura seja marginalizada e esquecida.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Confiante
Com insistência me apresento diante de você
Eu sei que você pode fazer tudo, e é assim que é.
Confiante, ouso rezar pelos meus
No limite, às vezes paro minhas orações
Ah, eu quando me encontro no escuro!
Você me conduz à Luz,
Onde está a Oração do Senhor?
E ali eu descanso e nele deixo tudo
Em suas mãos está meu futuro, meu passado
E no presente nos encontramos
Num abraço caloroso e sincero
Eu confio em você e espero tudo
E assim caminhamos juntos
Filhos e irmãos em súplicas e orações
Insista hoje você por mim e eu
Amanhã eu farei isso por você
Quando você dorme eu cuido de você
Para interceder diante de Quem é
Na terra e no céu. E se eu descansar…
Fique acordado e reze
O Senhor pediu em sua noite: Hora Bendita!
Num diálogo de sangue, ele obedeceu sem demora
À Vontade do Pai e no Espírito
A Deus seja a honra e a glória. Amém.
1 Orar em Espírito e Verdade. A Oração Segundo a Bíblia (Bonum; Buenos Aires 2011) 16.
2 A tradição bíblica reflete esta intimidade, considerando-o “ o amigo de Deus ” (Is 41,8; 2 Cr 20,7; Dn 3,35+).
3 Comissão Episcopal para o Grande Jubileu, Vim trazer o fogo à Terra! Diretrizes para as Homilias do Décimo Quarto ao Vigésimo Domingo do Ano (CEA; Buenos Aires 1998) 56.
4 Essa peculiaridade estava presente na prática da Igreja primitiva, onde a Oração do Senhor era solenemente confiada ao batizado pouco antes do batismo, para que ele pudesse recitá-la posteriormente. Além disso, a partir do século III, ela esteve sujeita por um período à disciplina do mistério. Santo Ambrósio disse a esse respeito: "Cuidado para não revelar incautos o segredo da profissão de fé ou da Oração do Senhor" ( Cain et Abel I, 9).
37; citado por U. Luz, O Evangelho Segundo São Mateus , vol I, 472.
5 J. Jeremiah, Palavras de Jesus (Madri 1970) 143.
6 Comissão Episcopal para o Grande Jubileu, vim trazer fogo à terra! , 67.
7 Cf. São Sabugal, ABBA'. Oração do Senhor , 171-172. Este autor evoca a expressão de Santo Agostinho que resume tudo isso com maestria: “Dá-me o que me pedes e pede-me o que queres”, Confissões X 29,40; 31,45. 8 São Sabugal, ABBA'. Oração do Senhor , 448.
9 Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 219.
10 A. Rodríguez Carmona, Evangelho segundo São Lucas (BAC; Madrid 2014) 220.
11 J. Rivera – JM Iraburu, Síntese da espiritualidade católica (Pamplona 1988) 397.
DOMINGO XVII DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Gn 18,20-21.23-32):
Al comienzo del relato Dios se hace eco de una denuncia contra la ciudad de Sodoma por la gravedad de su pecado, pero todavía no hay sentencia ni castigo, sino que la investigación está en curso. Dios, como justo juez, no juzga tan sólo de oídas, sino que baja para ver personalmente la gravedad de este pecado. Sodoma es aquí para Israel el ejemplo de la comunidad humana sobre la que se vuelve la mirada de Dios para juzgarla.
Como en todo proceso judicial la primera cuestión es determinar si Sodoma es culpable o inocente. La denuncia o querella planteada en 20-21 se supone cierta, y será confirmada por la narración siguiente (19,1-29). La segunda cuestión es más delicada y Abraham se la plantea directamente a Dios en cuanto Juez: "¿Así que vas a exterminar al justo con el culpable?" (v. 23). En este planteo se expresa una reflexión teológica importante acerca del peso o valor que pueda tener ante la justicia divina una minoría inocente. El sentido de la pregunta de Abraham sería: ¿qué es lo más determinante en el juicio de Dios, la maldad de la mayoría o la inocencia de unos pocos?; o bien: ¿no podrá una pequeña minoría inocente ser tan importante para Dios como para suspender el castigo que amenaza a toda la comunidad? Podemos considerar esta reflexión teológica como un intento de superar la concepción corporativa del pecado para ingresar en el terreno de la responsabilidad personal. Incluso va más allá de la justicia distributiva individual pues no se trata sólo de separar a los justos de los injustos, sino de perdonar a todos teniendo en cuenta los méritos de unos pocos justos. Hay un paso hacia la solidaridad vicaria que supone una nueva concepción de la justicia divina, pues busca salvar a todos apoyándose en unos pocos justos.
Esta cuestión Abraham se la plantea a Dios a través de un diálogo cargado de respeto y de sentimiento de indignidad por parte del patriarca. Como dice el P. Cantalamessa1: “el rasgo que más llama la atención es que Dios y el hombre están frente a frente como dos personas: hablan y discuten familiarmente. Un hombre vivo, un hombre verdadero encuentra al Dios vivo y verdadero”. A lo largo del diálogo se observa un crecimiento de la misericordia de Dios a la par del decreciente número de justos que Abraham, en su atrevimiento, pone ante Dios como razón para suspender el castigo. Queda claro que en Dios prevalece la voluntad de salvar sobre la de destruir.
En el contexto del ciclo de Abraham este diálogo con Dios supone un crecimiento notable en la relación del patriarca con Dios. Justamente la amistad y confianza con Dios le permite al patriarca asumir ahora una oración de intercesión que lo lleva a los límites del atrevimiento y la audacia2. Pero notemos también que "Dios se hace compañero del hombre y peregrina con él; Dios le abre el corazón a sus amigos. Dios escucha las súplicas de sus servidores. Dios no monologa sino que dialoga. Dios está dispuesto a cambiar sus decisiones a favor de la propuesta del que ora"3.
Evangelio (Lc 11,1-13):
Este texto del evangelio según San Lucas tiene un claro paralelo en el evangelio según San Mateo, en el sermón del monte (cf. Mt 6,7-15), donde encontramos la versión del padrenuestro que rezamos habitualmente los cristianos. Este paralelo nos permite descubrir que en la versión de san Lucas falta la tercera petición de alabanza por lo cual se rompe la presentación simétrica de Mateo. Además, la invocación inicial se reduce al sólo “Padre” y la última petición tiene una formulación más breve.
En cuanto al tema de la oración, la comparación nos permite notar que mientras en Mateo Jesús enseña sólo cómo debían rezar los cristianos pues su auditorio, mayoritariamente proveniente del judaísmo, ya tenía el hábito de rezar; Lucas insiste mucho en la necesidad de rezar e incluso le gusta presentar a Jesús orando para dar ejemplo.
Por su parte, la versión de Lucas se enmarca en el contexto literario del viaje de Jesús desde Galilea a Jerusalén (cf. 9,51-19,27) que simboliza el camino del aprendizaje discipular con reiteradas instrucciones de Jesús a sus discípulos a lo largo del mismo. Pues bien, entre todas ellas hay dos dedicadas a la oración. En Lc 18,1-14 se enseña que la oración del cristiano debe ser perseverante y humilde mientras que la catequesis inicial sobre la oración la encontramos en Lc 11,1-13 (nuestro texto de hoy) que incluye al inicio el Padrenuestro. Por tanto, el hecho de ocupar el Padrenuestro un puesto central en la catequesis fundamental de Jesús sobre la oración nos habla de la importancia de su contenido doctrinal. Además, su inserción dentro de una catequesis básica sobre la oración nos revela su carácter modélico para los cristianos.
El texto comienza presentado a Jesús como modelo de orante por cuanto nos dice que “estaba orando”. Y no se trata de un caso aislado pues los evangelios nos presentan con frecuencia a Jesús orando, retirándose a la soledad para rezar (cf. Lc 5,16); e incluso a veces pasando la noche entera en oración como cuando tiene que tomar la importante decisión de elegir a los doce apóstoles (cf. Lc 6,12-13). La oración de Jesús es lugar privilegiado para la revelación de su identidad, como en el bautismo (cf. 3,21) y en la transfiguración (cf. 9,28-29). Al final de su vida Jesús ora ante de afrontar la pasión en Getsemaní (cf. Lc 22,41.42) y muere orando al Padre (cf. Lc 23,46).
Es justamente esta actitud orante de Jesús la que despierta en sus discípulos el deseo de aprender a orar y, por eso, uno de ellos le pide: "Señor, enséñanos a orar" (Lc 11,1). A este deseo de los discípulos responde Jesús enseñándoles el Padrenuestro.
El contexto del padrenuestro, tanto en Mt como en Lc, deja en claro que esta oración es un privilegio de los discípulos pues ellos han aceptado el Reinado de Dios anunciado por Jesús y entonces para ellos Dios es fundamentalmente ‘el Padre’4.
Jesús quiere que recemos a Dios llamándolo Padre, como él mismo lo hiciera en su oración (cf. Mc 14,36; Mt 11,25-27; Lc 23,34.46). La oración es relación personal con Dios, por eso particularmente en la oración Dios se manifiesta personalmente como Padre y el orante como hijo. Las fórmulas del Padrenuestro ofrecen, en pocas palabras, un programa completo de oración filial pues "en el Padrenuestro Jesús da poderes a sus discípulos para que repitan ‘Abba’ con Él. Les hace participar de su posición de Hijo, autorizándoles, como a discípulos suyos que son, para que hablen con su Padre celestial con tanta confianza como el niño pequeño con el suyo de la tierra”5.
Luego notamos que la contraposición entre tú y nos-nuestro indica que las dos primeras peticiones se refieren directamente al Padre como súplicas de anhelo por algo que le es propio: la santidad de su nombre y la venida de su reino. En este sentido son súplicas de alabanza. Las otras tres se relacionan con las necesidades de los hijos: el pan cotidiano; el perdón de las ofensas y el pedido de no sucumbir en la tentación. Son súplicas de petición.
De esta estructura literaria se deduce que las súplicas de alabanza al Padre son prioritarias pues se encuentran en primer lugar. Le siguen las súplicas de petición. Podría decirse que los hijos piden al Padre los dones necesarios para seguir alabándole en reconocimiento por los dones recibidos. "Orar, para Jesús, es pedir siempre. Y si mi oración se convierte en alabanza o acción de gracias será porque recibí aquello que esperaba encontrar"6. Puede concluirse de esto que el Padrenuestro, aunque compuesto de peticiones, es fundamentalmente una oración de alabanza7.
La primera súplica es el deseo de que el nombre de Dios sea santificado. En primer lugar notemos que el “nombre” es equivalente a la persona, o sea que el Padre tiene que ser santificado por Él mismo, pues está en voz pasiva. Esta petición expresa el deseo del cristiano de que el Padre manifieste su santidad realizando su obra salvífica entre los hombres. Más aún,
es una súplica de deseo por parte de los hijos para “que el Padre los consolide en el don de la filiación divina y en ellos intensifique la participación en su vida, para ser más intensamente lo que son, sus hijos, e invocarle con siempre mayor propiedad como le invocan: Padre!” 8. A su vez los discípulos santificarán el nombre del Padre viviendo como hijos, cumpliendo su voluntad (cf. Mt 5,21-7,27).
La segunda súplica es la venida del Reino de Dios, que se entiende como el deseo de que el Reinado de Dios, inaugurado con el ministerio de Jesús, llegue a su plenitud o consumación escatológica.
La primera petición se refiere a todo lo necesario para vivir simbolizado en el “pan nuestro de cada día”. Como bien nota A. Rodríguez Carmona9, se trata del pan material que incluye todas las necesidades de la vida humana y que se piden como hijos al Padre Providente.
La segunda petición se refiere a una necesidad tan vital como el pan como es el perdón. Se pide perdón al Padre de las ofensas y se expresa el propósito de perdonar, a su vez, a los ofensores.
La tercera petición pide no ser conducido a la tentación o prueba (πειρασμός) por el riesgo que implica de perder la condición de hijos renegando del Padre, dejando de creer en su amor providente y en su perdón misericordioso. Se “pide permanecer en el discipulado, no caer en la tentación, especialmente la gran tentación de perder la fe y renunciar al discipulado. Implica conciencia de debilidad”10.
Después del contenido fundamental de la oración del discípulo que es el Padrenuestro; Jesús completa la formación en la oración con dos ejemplos acerca del modo de orar o, más precisamente, de pedir a Dios.
El primer lugar pone el ejemplo de un amigo inoportuno, desubicado diríamos nosotros, pero muy persistente y que gracias a esta insistencia termina por conseguir lo que pide. Por tanto, así debe ser nuestra oración, como la petición de un amigo "cargoso". Jesús mismo extrae una prolija exhortación del ejemplo: "pidan y se les dará, busquen y encontrarán, llamen y se les abrirá. Porque el que pide, recibe; el que busca, encuentra; y al que llama, se le abrirá" (Lc 11,9-10). Sabemos que los judíos evitaban nombrar a Dios directamente y por ello recurrían a formas pasivas o elípticas. Según esto es claro que el sujeto de los verbos ubicados en segundo lugar es Dios mismo, o sea que el Padre les dará lo que pidan, les hará encontrar lo que buscan y les abrirá cuando llamen.
El segundo ejemplo se basa en la relación entre un hijo que pide algo a un padre que nunca le responderá dándole algo malo. Para el desarrollo de su argumentación Jesús se vale de un procedimiento rabínico llamado en hebreo qal wa-homer que consiste en aplicar el principio de superioridad, es decir, comparando dos realidades del mismo orden, pero desiguales, lo que se predica de la inferior es verdadero en mayor grado de la superior (la retórica habla de argumento a fortiori o a minore ad maius) y se distingue por el uso de la expresión ¡cuanto más! Si los padres humanos hacen esto, cuanto más el Padre Dios dará el Espíritu Santo a los que se lo pidan. Este ejemplo es una exhortación a la oración confiada que al mismo tiempo orienta el contenido de las peticiones al sumo bien que debemos pedirle siempre a Dios Padre: el Espíritu Santo.
ALGUNAS REFLEXIONES:
El domingo pasado el evangelio nos ofrecía como mensaje principal la centralidad de la escucha de la Palabra en la vida del discípulo, del cristiano. Es decir, el discípulo debe aprender en primer lugar a ponerse a la escucha del Padre que nos habla en Jesús. Y luego debe aprender a hablarle a Dios llamándolo Padre y pidiéndole con confianza y con insistencia. Esto último es la gran enseñanza de este domingo. Se trata, por tanto, de aprender a orar, o mejor, de dejar que el Señor nos enseñe a orar. Y la oración consiste fundamentalmente en dialogar con Dios, lo cual implica este doble movimiento de escuchar y de hablar. Así, salvando siempre la primacía del escuchar, no debemos olvidar el hablar, el decirle a Dios lo que pensamos y deseamos. Como decía el Sto. Cura de Ars: "el hombre es un mendigo que necesita pedirlo todo a Dios".
Justamente la primera petición de los discípulos a Jesús fue que les enseñe a orar. Para aprender a orar entonces hay que comenzar pidiendo el don de la oración. Por esto al final del texto Jesús les dice a sus discípulos que hay que pedir el Espíritu Santo porque Él es el Maestro Interior, quien se une a nuestro espíritu y nos hace orar al Padre (cf. Gal 4,6; Rom 8,5). Para San Pablo los cristianos son hijos de Dios como fruto de la redención obrada por el Hijo, quien les otorga una participación en su espíritu filial. Esta condición de hijos, al igual que en Jesús, se pone de manifiesto y se ejercita en nosotros especialmente en la oración.
Esta actitud filial es fundamental para la oración cristiana. Es el clima afectivo de la misma. Al clima filial debemos sumarle el clima comunitario, de familia, ya que Jesús nos enseña a pedirle a Dios para “nosotros”, no para uno mismo solamente. Las peticiones no son individuales sino comunitarias. En el Padrenuestro está el “Tú” de Dios y el “nosotros” de los hermanos; pero no encontramos el yo individualista.
Supuesto esto, tenemos en el Padre Nuestro una enseñanza sobre el contenido fundamental de la oración cristiana. Ya Tertuliano, el exegeta más antiguo del Padrenuestro, decía que era como "una síntesis de todo el evangelio" (“breviarium totius Evangelii”) y S. Cipriano, por su parte, decía: "¡Cuántos y cuán grandes son los misterios que se encierran en la oración del Señor! Están reunidos en unas pocas palabras, pero su eficacia espiritual es de una gran riqueza. No falta en ella absolutamente nada de lo que debe constituir nuestra oración y nuestra súplica; nada hay que no esté comprendido en este verdadero compendio de la doctrina celestial".
Junto a la centralidad y carácter modélico del Padrenuestro, los textos de hoy ponen de relieve la importancia y la necesidad de la oración de petición, que no es una forma menor de oración. Como bien señala el Papa Francisco: “La oración de petición es auténtica, es espontánea, es un acto de fe en Dios que es el Padre, que es bueno, que es omnipotente. Es un acto de fe en mí, que soy pequeño, pecador, necesitado. Y por eso, la oración para pedir algo es muy noble. Dios es el Padre que tiene una inmensa compasión de nosotros y quiere que sus hijos le hablen sin miedo, directamente llamándolo «Padre»” (12 de diciembre de 2018).
Al respecto dice un maestro espiritual: "Petición, alabanza y acción de gracias son las formas fundamentales de la oración bíblica, que no se contraponen, sino que se complementan. La petición prepara y anticipa la acción de gracias, y en sí misma es ya una alabanza, pues confiesa que Dios es bueno y fuente de todo bien. Y la acción de gracias brota del corazón creyente, que pide a Dios y que recibe todo bien como don de Dios. No menospreciemos, pues, la oración de súplica, como si fuera un género inferior de oración, que, después de todo, el Padrenuestro, la oración que nos enseñó Jesús, se compone de siete peticiones. Pero eso sí, pidamos bien"11.
También es de notar en el evangelio de hoy que Jesús elige para enseñarnos el modo de orar dos ejemplos o parábolas de fuerte connotación afectiva: la relación de amistad y la paterno-filial. De este modo el Padre viene identificado con un amigo fiel y con un padre bondadoso. Es para resaltar la imagen o rostro de Dios que Jesús nos revela en este evangelio: Dios es ante todo Padre, un padre más bondadoso que el más bondadoso de los padres humanos (¡cuánto más!). Y Dios es un amigo fiel que sabe ceder ante la insistente petición del que le pide. La fe en estos "rostros de Dios" es fundamental para despertar la confianza insistente en la oración. Al respecto decía el Papa Francisco el 9 de enero de 2019: “La oración siempre transforma la realidad, siempre. Si las cosas no cambian a nuestro alrededor, al menos nosotros cambiamos, cambiamos nuestro corazón. Jesús prometió el don del Espíritu Santo a cada hombre y a cada mujer que reza. Podemos estar seguros de que Dios responderá. La única incertidumbre se debe a los tiempos, pero no dudamos de que Él responderá. Tal vez tengamos que insistir toda la vida, pero Él responderá”.
En fin, pidamos al Señor como niños insistentes. Pidamos que nos enseñe a rezarle al Padre. Pidamos que ore en nosotros al Padre. Pidamos que nos haga participar de su oración al Padre. Pero ante todo, pidamos el Espíritu Santo que es el que nos dará todo esto y mucho más…
Este domingo celebramos la V Jornada Mundial de los Abuelos y de los Ancianos con el lema: “Feliz el que no ve desvanecerse su esperanza (cf. Si 14,2)”. En el mensaje para este año dice el Papa León XIV: “El hecho de que el número de personas en edad avanzada esté en aumento se convierte entonces para nosotros en un signo de los tiempos que estamos llamados a discernir, para leer correctamente la historia que vivimos. La vida de la Iglesia y del mundo, en efecto, sólo se comprende en la sucesión de las generaciones, y abrazar a un anciano nos ayuda a comprender que la historia no se agota en el presente, ni se consuma entre encuentros fugaces y relaciones fragmentarias, sino que se abre paso hacia el futuro […] Considerando a las personas ancianas desde esta perspectiva jubilar, también nosotros estamos
llamados a vivir con ellas una liberación, sobre todo de la soledad y del abandono. Este año es el momento propicio para realizarla; la fidelidad de Dios a sus promesas nos enseña que hay una bienaventuranza en la ancianidad, una alegría auténticamente evangélica, que nos pide derribar los muros de la indiferencia, que con frecuencia aprisionan a los ancianos. Nuestras sociedades, en todas sus latitudes, se están acostumbrando con demasiada frecuencia a dejar que una parte tan importante y rica de su tejido sea marginada y olvidada”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Confiado
Con insistencia me presento ante ti
Sé que todo lo puedes, y es así
Confiado, a rogar por los míos me atrevo
Al límite, a veces detengo mis ruegos
¡Ah de mí cuando a oscuras me encuentro!
Tú me conduces a la Luz,
Donde está el Padre nuestro
Y allí descanso y en Él todo lo dejo
En sus manos está mi futuro, mi pasado
Y en el presente nos encontramos
En un abrazo cálido y sincero
Confío en ti y todo lo espero
Y así vamos andando juntos
Hijos y hermanos en súplicas y ruegos
Insiste hoy tú por mí y yo
Mañana lo haré por ti
Cuando duermes yo velo
Para interceder ante Quien está
En la tierra y en el cielo. Y si descanso…
Mantente tú despierto y ora
Lo pidió el Señor en su noche: Bendita Hora!
En diálogo de sangre, obedeció sin demora
A la Voluntad del Padre y en el Espíritu
A Dios sea el Honor y la Gloria. Amén.
1 Orar en Espíritu y en Verdad. La oración según la Biblia (Bonum; Buenos Aires 2011) 16.
2 La tradición bíblica recoge esta intimidad al considerarlo "el amigo de Dios" (Is 41,8; 2Cr 20,7; Dn 3,35+).
3 Comisión Episcopal para el gran Jubileo, ¡Fuego he venido a traer a la tierra! Orientaciones para las homilías desde el domingo XIV hasta el domingo XX durante el año (CEA; Buenos Aires 1998) 56.
4 Esta peculiaridad estaba presente en la praxis de la Iglesia antigua donde el padrenuestro se le confiaba solemnemente al bautizando sólo poco antes del bautismo para que lo pueda recitar después del mismo. Además, desde el s. III estuvo sometido durante un período a la disciplina del arcano. Al respecto decía S. Ambrosio: “Guardaos de descubrir por imprudencia el secreto de la profesión de fe o del Padrenuestro”, en Cain et Abel I, 9,
37; citado por U. Luz, El evangelio según San Mateo, vol I, 472.
5J. Jeremías, Palabras de Jesús (Madrid 1970) 143.
6 Comisión Episcopal para el gran Jubileo, ¡Fuego he venido a traer a la tierra!, 67.
7 Cf. S. Sabugal, ABBA’. La oración del Señor, 171-172. Este autor recuerda la expresión de S. Agustín que resumiría bellamente todo esto: “Dame lo que me pides y pídeme lo que quieras”, Confesiones X 29,40; 31,45. 8 S. Sabugal, ABBA’. La oración del Señor, 448.
9 Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 219.
10 A. Rodríguez Carmona, Evangelio según san Lucas (BAC; Madrid 2014) 220.
11 J. Rivera – J. M. Iraburu, Síntesis de espiritualidad católica (Pamplona 1988) 397.