24/11/2024
1ª Leitura: Daniel 7,13-14
Salmo Responsorial 92(93)R- Deus é rei e se vestiu de majestade, glória ao Senhor!
2ª Leitura: Apocalipse 1,5-8
Evangelho de João 18,33b-37
"33.Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: “És tu o rei dos judeus?” 34.Jesus respondeu: “Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?” 35.Disse Pilatos: “Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?”. 36.Respondeu Jesus: “O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo”. 37.Perguntou-lhe então Pilatos: “És, portanto, rei?” Respondeu Jesus: “Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz”."
O Evangelho de hoje nos fornece um surpreendente diálogo entre Pilatos e Jesus. Em meio ao processo movido contra Jesus para incriminá-lo, o evangelista João nos apresenta a narrativa do diálogo entre o representante do Império Romano e Jesus, um réu que foi trazido a ele para ser condenado.
Pilatos está intrigado com Jesus. Ele deseja conhecer quem é afinal esse tal de Jesus do qual ouviu falar tantas coisas. Agora Pilatos não está somente diante das opiniões sobre Jesus; está diante dele. Por isso ele pergunta: Tu és o rei dos judeus?
Jesus responde a essa pergunta com duas afirmações fundamentais.
“O meu reino não é deste mundo”. Jesus não é um rei como Pilatos imagina e está acostumado a ver. Jesus não pretende ocupar o trono de Israel nem disputar o poder imperial de Tibério. Jesus não pertence a esse sistema no qual se move o Império de Roma. Não se apoia na força das armas e dos exércitos. Jesus não entende a realeza como Pilatos, como um poder que se impõe sobre as pessoas.
A segunda afirmação de Jesus não é menos importante: “eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade”. Jesus não tem necessidade de exércitos porque a sua realeza se fundamenta na verdade. Jesus exerce seu poder real sendo testemunha da verdade.
Parece que isso é pouco eficaz. O que vimos nas últimas campanhas políticas parece evidenciar que hoje em dia a conquista do poder depende mais das aparências do que dos argumentos. Mesmo que as eleições tenham ocorrido em clima de normalidade e de segurança, temos que reconhecer entristecidos que as campanhas não foram um bom exemplo de “testemunho da verdade”. É preocupante quando vemos que a estratégia de notícias falsas esteja cada vez mais sendo usada não só nas campanhas políticas, mas também em muitas outras campanhas: pela liberação do aborto, contra o Papa, contra a CNBB...
Jesus é o Rei, porque ele testemunha a verdade aqui neste mundo! Prestemos atenção à afirmação: para isso eu nasci e vim a este mundo: para dar testemunho da verdade. O poder de Cristo se exerce neste mundo ao testemunhar a verdade. O seu poder não engana, nem manipula das consciências. Não se utiliza de estratégias de notícias falsas para semear o descrédito e o fanatismo. O seu poder se funda na verdade e no seu reconhecimento por parte de “quem é da verdade”.
34º DomTComum – Jo 18,33-37 – Ano B – 24-11-24 - Solenidade de JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO
“Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37)
Com a festa de “Cristo Rei” encerramos mais um ano litúrgico. O Evangelho indicado para esta festa nos introduz numa cena muito constrangedora da vida de Jesus. O contexto no qual ela se desenvolve é o processo de julgamento político ao qual Ele foi submetido, denunciado pelas autoridades judaicas. Como podemos observar, não estamos diante de um diálogo distendido entre dois iguais; é um procurador romano frente a um acusado que deve responder e dar razão daquilo que o levou a esta situação.
Condição mais inapropriada para Jesus se declarar “rei”.
Frente a isto, o evangelho de hoje revela-se surpreendente e até escandaloso, porque nos apresenta esse título numa situação de humilhação e impotência extrema: na Paixão, com insultos, escárnios e zombarias dos chefes judeus, de Pilatos, dos soldados romanos...
Jesus, rei atípico. Qualquer conotação que o título tenha com o poder, deturpa a mensagem evangélica. Uma coroa de ouro na cabeça e um cetro de brilhantes nas mãos é uma ofensa ao mesmo Jesus.
Jesus não se apoia na força das armas, nem se move no interior do sistema que se sustenta na injustiça e na mentira. Sua realeza tem um fundamento completamente diferente; ela provém do amor de Deus ao mundo. Ele reina entregando sua vida. Os reis deste mundo vivem às custas de seus súditos.
Jesus reina perdoando, amando, a partir de uma situação de humilhação e impotência. João nos diz onde e como Jesus ganha este título de rei: na entrega de sua vida até a morte. Um rei crucificado é uma contradição. Seu senhorio é de amor incondicional, de compromisso com os pobres, de liberdade e justiça, de verdade, de solidariedade e de misericórdia.
Jesus é rei desta forma e não da forma triunfalista como querem muitos cristãos “fundamentalistas”.
Um rei que toca leprosos, que prefere a companhia dos excluídos e não dos poderosos das nações.
Um rei que lava os pés dos seus, um rei despojado de poder, de riqueza e que não pode se defender.
Jesus crucificado é um estranho rei: seu trono é a cruz, sua coroa é de espinhos. Não tem manto, está desnudo. Não tem exército, nem armas. Até os seus o abandonaram. Mísero rei!
Jesus não quis fazer-se rei militar, pois a violência pertence ao nível dos poderes de um mundo onde a verdade se encontra pervertida pela mentira dos poderosos. Jesus quis ser Rei, mas de maneira que todos pudessem ser reis, “testemunhas da verdade”. Assim respondeu a Pilatos dizendo-lhe que “seu reino não era deste mundo”. Pilatos só conhecia um tipo de reino, aquele que se fundamentava na espada do império, que se apoiava e se defendia com as armas, de maneira que a verdade como tal tornou-se secundária.
Meu Reino está em “ser testemunho da verdade”. Como Pilatos vai entender isso se está acostumado a fazer da verdade o que a ele lhe interessa e lhe convém?
Esta é a proposta: ser Rei sem tomar o poder, sem exercê-lo com a força das armas, nem por algum tipo de justiça legal, nem por dinheiro... Esta é a tarefa da nova humanidade, a promessa de um Reino do conhecimento verdadeiro, da igualdade, da fraternidade e não violência... para que todos sejam “reis”, no sentido radical da palavra.
Portanto, a festa de “Cristo Rei” revela-se como uma boa oportunidade para o encontro com a nossa verdade: n’Ele, todos somos “reis”, ou seja, quando nos identificamos com Ele, também somos reis. Reis servidores devemos ser todos.
Comprometemo-nos com o “Reinado de Deus” porque, como reis, estamos todos a serviço de todos.
“Sou rei..., e vim ao mundo para dar testemunho da verdade”. É neste mundo que Jesus quer exercer sua realeza, mas de uma forma surpreendente: veio ser “testemunha da verdade”, introduzindo o amor e a justiça de Deus na história humana.
Esta verdade que Jesus deixa transparecer não é uma doutrina teórica. É um chamado que pode transformar a vida das pessoas. Ele já tinha afirmado antes: “Se permanecerdes na minha palavra... conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,31-32). Ser fiéis ao Evangelho de Jesus é uma experiência única pois nos leva a conhecer uma verdade libertadora, capaz de tornar nossa vida mais humana.
Diante de Pilatos, mais uma vez aparece a palavra “verdade” (“aletheia”), que Jesus considera como a razão de seu ser e de sua missão. A verdade da qual Ele fala não é um argumento carregado de afirmações fechadas para ter razão. Não se trata de possuir a verdade ou estar na verdade, de ter direitos sobre os outros, de se impor sobre alguém. Longe disso.
Jesus fala da “verdade” no sentido de uma atitude diante da vida, de uma opção de vida: viver na verdade é buscar a verdadeira essência que somos, nossa possibilidade de plenitude, nossas raízes mais profundas; é conectar-nos com esse Reino que traz à luz a bondade humana como imagem da bondade divina.
Só tomamos consciência de nossa realeza quando acessamos à nossa verdade mais profunda. Enquanto isso não ocorra, viveremos como mendigos, buscando nos apropriar e nos identificar com tudo aquilo que possa nos conferir certa sensação de identidade. No entanto, ao compreender o que somos, tudo se ilumina: o suposto “mendigo” se descobre “rei”.
Verdade é a realidade existente; ela salienta a dignidade de cada pessoa, reivindica liberdade e igualdade, sustenta o significado essencial do ser humano, preserva os valores consistentes.
A verdade descobre o que está encoberto, desvela o que está velado, desoculta o que está escondido, deslumbra o que está ensombrado, desmascara o que está camuflado, desemudece o que está calado, descativa o que está algemado.
A verdade retira o mundo (interno e externo) da escuridão. Quando a verdade habita a consciência, o ser humano ilumina-se. Onde há verdade há humanidade transparente. Há rosto fascinante.
Ser “testemunha da verdade” requer “viver na verdade”, não em algumas crenças. E viver na verdade inclui o reconhecimento e a aceitação da própria verdade e da verdade presente no outro. Não pode estar na verdade quem não se aceita com toda sua verdade, com suas luzes e suas sombras; não pode estar na verdade quem vive identificado com seu ego ou com sua imagem idealizada.
Pelo contrário, quando alguém se aceita assim, começa a viver na humildade e isso é já “caminhar na verdade”. Afirmando de um modo mais claro: só conhece a verdade quem é verdadeiro, transparente, sem máscara ou disfarces. Quando se é verdade, conhece-se a verdade.
É significativo que os antigos gregos entendessem a verdade como “alétheia” (“sem véu”): quando “tiramos o véu” é quando emerge a Verdade do que somos, a nossa essência.
Importa “desvelar” a verdade, ir à morada da verdade, encontrar a verdade.
Isso é o que Jesus viveu. Porque chegou a experimentar a verdade profunda de si mesmo, pode dizer: “Eu sou a verdade”. Essa não era uma afirmação egóica, tampouco se referia a nenhuma crença ou ideia em particular. Era a proclamação-constatação humilde e jubilosa de quem desvelou e viu o “segredo” último de sua vida.
É aqui que se revela como Rei.
Texto bíblico: Jo 18,33-37
Na oração: Revele-se diante de Deus e deixe transparecer a verdade de sua vida.
- A verdade que somos nunca pode ser algo que temos e possamos transmitir ou impor aos outros, mas a Presença que a todos sustenta e a todos abraça. Só a presença d’Aquele que é a Verdade ativa a verdade escondida em nosso interior.
- Sua vida está centrada no desvelamento de sua verdade, de sua essência? Ou ela se deixa determinar pela cultura da aparência, da vaidade, da mentira...?
Jesus, nosso rei, rei diferente dos reis deste mundo: não rei dominador, mas rei servidor, que se faz o menor de todos.
“Sim, eu sou rei. Mas o meu reino não é deste mundo” (Jo19,36.37).
“Sim, eu sou rei!” (Jo 18,37). Foi o que Jesus respondeu a Pilatos e esclareceu: “mas não como os reis deste mundo” (Jo 18,36). Jesus é rei, não rei dominador, mas rei servidor, que se faz o menor de todos: “O maior entre vocês seja como o mais novo; e quem governa, seja como aquele que serve” (Lc 22,26; Mt 23,11).
Jesus, o rei, iniciou sua pregação com estas palavras: “Esgotou-se o prazo. O Reino de Deus chegou! Mudem de vida! Acreditem nesta boa notícia!” (Mc 1,15). Anunciou a chegada do Reino. Através da sua maneira de viver e de ensinar, ele revelava o Reino presente na vida: “O Reino de Deus está no meio de vocês” (Lc 17,21).
Por meio das parábolas tirava o véu e apontava o sinais do Reino de Deus nas coisas mais comuns da vida: sal, semente, luz, caminho, festa trabalho, estrelas, sol lua, chuva. Jesus deixou o Reino entrar dentro dele mesmo. Deixou Deus reinar e tomar conta de tudo. “Eu só faço aquilo que o Pai me mostra que é para fazer” (cf. Jo 5,36; 8,28). Jesus era uma amostra do Reino.
Esta maneira tão simples de anunciar o Reino de Deus incomodou os grandes. Por isso, Jesus foi perseguido e condenado. O rei foi desautorizado pelos seus súditos como alguém que não vem de Deus (Jo 9,16), como um samaritano (Jo 8,48), que engana o povo (jo 11,12), como amigo dos pecadores (Lc 7,34), como louco (Mc 3,21; 8,48), como pecador (Jo 9,24), como possesso pelo demônio (Jo 7,20; 10,20), comilão e beberrão (Mt 11,19), que viola o sábado (Jo 5,18; 9,16).
Jesus recebeu o castigo dos criminosos e bandidos. E na cruz colocaram como título INRI: Jesus Nazarenos Rei dos Judeus. E assim morreu: ridicularizado pelos sacerdotes, pelo povo e pelo próprio ladrão ao lado dele. Cristo, nosso Rei. Graças a Deus!
Autor: Frei Carlos Mesters, O.Carm.
*Do Livro: Gente como nós – Os Santos e as santas da Bíblia para cada dia do ano.
É raro que uma pessoa possa viver a vida inteira sem nunca considerar o significado último da existência. Por mais frívolo que seja o fluxo dos seus dias, mais cedo ou mais tarde ocorrem “momentos de ruptura” que podem levantar na pessoa questões fundamentais sobre o problema da vida.
São as horas de intensa felicidade que nos obrigam a nos perguntar por que a vida nem sempre é alegria e realização. Momentos de infortúnio que despertam em nós pensamentos sombrios: por que vale a pena viver tanto sofrimento? Momentos de maior lucidez que nos levam às questões fundamentais: quem sou eu? O que é a vida? O que me espera?
Mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, todo mundo acaba um dia pensando no sentido da vida. Tudo pode permanecer aí ou a questão de Deus também pode surgir silenciosa, mas inevitavelmente. As reações podem então ser muito diversas.
Há quem tenha abandonado há muito tempo, se não a Deus, então um mundo de coisas que tinham relação com Deus: a Igreja, missa dominical, os dogmas. Aos poucos eles foram abandonando algo que não lhes interessa mais. Com todo este mundo religioso abandonado, o que fazer agora quando confrontado com a questão de Deus?
Outros até abandonaram a ideia de Deus. Eles não precisam disso. Parece inútil e supérfluo para eles. Deus não lhes traria nada de positivo. Pelo contrário, têm a impressão de que isso complicaria a sua existência. Eles aceitam a vida como ela é e continuam seu caminho sem se preocupar muito com o fim.
Outros vivem rodeados de incerteza. Eles não têm certeza de nada: o que significa acreditar em Deus? Como alguém pode se relacionar com ele? Quem sabe alguma coisa sobre essas coisas? Entretanto, Deus não se impõe. Não força de fora com provas ou evidências. Não é revelado de dentro com luzes ou revelações. É só silêncio, oportunidade, convite respeitoso...
A primeira coisa diante de Deus é ser honesto. Não saia por aí evitando a presença dele com abordagens insinceras. Quem se esforça para buscar a Deus com honestidade e verdade não está longe dele. Não devemos esquecer algumas palavras de Jesus que podem iluminar quem vive na incerteza religiosa: “Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”.
Este domingo é a Solenidade de Jesus Cristo Rei, o ponto culminante do ano litúrgico. Essa festa foi instituída em 1925 após a Primeira Guerra Mundial, que deixou milhões de mortos, uma profunda crise econômica e uma realidade social severa e cheia de fortes tensões. O primeiro objetivo foi marcado pela necessidade de devolver a Deus o seu reinado, apontando de certa forma que a sua ausência na vida da sociedade havia sido a causa do desastre socioeconômico que estava sendo vivenciado. No início, essa solenidade era colocada no domingo anterior ao primeiro de novembro, a festa de Todos os Santos, e décadas depois foi transferida para o último domingo do ano litúrgico, como forma de reconhecer tudo o que foi vivido, fazendo uma memória grata da pessoa de Jesus e de suas palavras, e tornar presente a mensagem de Jesus e sua vida em nosso meio.
O capítulo 18 do Evangelho de João nos conta como Jesus foi preso no jardim do outro lado do Vale do Cédron, para onde tinha ido com os discípulos. Ele prossegue narrando que foi ali que funcionários dos chefes dos sacerdotes foram procurá-lo, juntamente com um destacamento, liderado por Judas, que conhecia o lugar, pois Jesus geralmente ia lá com seus discípulos.
Quando o encontraram, amarraram-no e o levaram primeiro a Anás e depois a Caifás, que era o sumo sacerdote. Como eles não tinham poder para condená-lo à morte, levaram-no a Pilatos. No início, Pilatos questiona os judeus para descobrir o motivo da acusação contra Jesus. Eles precisam da autoridade de Pilatos para condenar Jesus à morte! E aqui começa o diálogo de Pilato com Jesus, que é o texto sobre o qual estamos meditando neste domingo.
Pilatos faz quatro perguntas a Jesus, acusado pelas autoridades judaicas de ser um malfeitor por ir contra a Lei e fazer-se semelhante a Deus. As perguntas que Pilatos faz a Jesus, embora enquadradas em seu papel de procurador, estão fortemente carregadas de interesse em saber mais sobre Jesus. Em primeiro lugar, Pilatos o chama e pergunta: “Tu és o rei dos judeus?” Jesus não responde diretamente, mas com grande liberdade lhe faz outra pergunta que envolve suas convicções: “Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?”
A partir desse momento, é como se o interrogatório mudasse de rumo: é Jesus quem questiona Pilatos, a quem ele está tentando deixar em aberto a preocupação com sua identidade. Com essa pergunta, Jesus também nos chama a questionar nossas aparentes certezas que, como Pilatos, podem nos dar um certo poder ou autoridade para questionar os outros. Repetimos o que pensamos porque todo mundo diz que é assim, ou é algo que realmente pensamos? Como alimentamos nossa maneira de pensar, de viver, nossas certezas internas? De que fonte estamos bebendo? Pilatos é confrontado com sua ignorância diante de um homem condenado que é “diferente”, o que o leva a questionar a identidade de Jesus, seu reinado, também a verdade e, finalmente, a banalidade de sua autoridade como procurador romano. Desde o primeiro momento em que Pilatos ouve a pergunta que Jesus lhe faz, inicia-se uma sucessão de diálogos e atitudes de Pilatos com ele, com as autoridades judaicas, com a polícia do templo, com os judeus, onde acaba por entregá-lo para ser crucificado, reconhecendo que é rei na inscrição que coloca na cruz.
“O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?” Essa é a segunda pergunta que Pilatos faz a Jesus e a resposta de Jesus o deixa ainda mais perplexo. Pilatos não é judeu e tem pouco interesse nos problemas judaicos, mas Jesus desperta nele uma intriga que o leva a continuar perguntando a Jesus: “Que fizeste?” Qual é a razão dessa situação? O que aconteceu para que isso acontecesse? Qual é a causa de você ter acabado assim? Pilatos coloca em palavras um questionamento que, de diferentes maneiras, é feito àqueles que são condenados pela sociedade e são apresentados como malfeitores para que sejam eliminados e não gerem mais problemas. “Foi o seu povo que o traiu”.
Jesus não responde à pergunta de Pilatos, mas retorna à sua primeira pergunta. “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. Por meio de seu interrogatório, Pilatos leva Jesus a revelar sua identidade e onde está seu reinado. Jesus é rei, mas não é a partir das considerações de um reinado de poder, relacionado ao poder do dia, mas Ele reina de uma forma não visível, onde não há coroações ou glorificações em termos de triunfo ou poder humano.
“Pilatos disse a Jesus: ‘Então tu és rei?’ Jesus respondeu: ‘Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isso: para dar testemunho da verdade’”. Jesus confirma o reconhecimento de Pilatos, mas introduz algo novo: eu vim para dar testemunho da verdade. “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. Nessa revelação de Jesus, como testemunha da verdade, sua realeza é fundamentada. Ele havia dito: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, e em outra ocasião afirmou: “a verdade vos libertará”. É uma liberdade que vem do fato de sermos autênticos em nossas próprias convicções, como ele pede a Pilatos no início. Jesus nos convida a participar de seu reinado, onde emerge o mais genuíno de cada pessoa e de cada comunidade, não é algo imposto, é o caminho que se escolhe e que se percorre passando por problemas e dando a luta por seu reinado, como a justiça social, a luta pelos direitos de cada pessoa e de comunidades inteiras. Este domingo nos convida a escolhê-lo mais uma vez como o Senhor de nossas vidas e a deixar que sua pegada marque o curso de nossa existência.
Dirigindo-se aos jovens, o Papa Francisco disse-lhes: o seu reino é um só: de amor, de quem dá a própria vida pela salvação dos outros. E sublinhou: “a liberdade de Jesus é fascinante. (…) Deixemos vibrar dentro de nós esta liberdade, que ela nos sacuda e desperte em nós a coragem da verdade”. E perguntou aos jovens: “Diante da verdade de Jesus, diante da verdade que Jesus é, quais são essas minhas falsidades que não se sustentam, aquelas minhas dobras que Ele não gosta? Precisamos estar diante de Jesus para reconhecer a nossa própria verdade”.
Fazemos nosso o convite do Papa: “Precisamos adorá-lo para sermos internamente livres, para iluminar nossa vida e não nos deixarmos enganar pelas modas do momento, pelos fogos de artifício do consumismo que deslumbram e paralisam”. E continua dizendo: “na liberdade de Jesus também encontramos a coragem de ir contra a corrente, não contra alguém, como fazem os vitimizadores e conspiradores, que sempre carregam a culpa sobre os outros; não, contra a corrente doentia do nosso eu egoísta, fechado e rígido, para ir nas pegadas de Jesus”, mas para ir “contra o mal com a única força mansa e humilde do bem. Sem atalhos, sem falsidade”. Francisco: “Caros jovens, sejam a consciência crítica da sociedade”
A Igreja Católica, hoje, no último domingo do Ano Litúrgico, celebra a festa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. A festa foi estabelecida na época dos governos totalitários nazistas, fascistas e comunistas, nos anos antes da Segunda Guerra, para enfatizar que o único poder absoluto é de Deus. Nos dias de hoje, em que milhões padecem as consequências de um novo tipo de totalitarismo disfarçado, o do poder econômico inescrupuloso, torna-se atual a inspiração original da festa – que Deus é o único Absoluto.
Em um mundo que não ateu, mas idolátrico, pois presta culto ao lucro, a festa de hoje nos desafia para que revejamos as nossas atitudes e ações concretas – para descobrir o que é para nós, na verdade, o valor absoluto das nossas vidas.
O texto é tirado da paixão segundo João – o diálogo entre Jesus e Pilatos sobre a verdadeira identidade de Jesus. Com a ironia que lhe é típica, João faz com que Pilatos – o representante do poder absoluto da época, o Império Romano - apresente Jesus como Rei, o que ele é na verdade, mas não de modo que Pilatos pudesse entender. O Reino de Jesus é o oposto do Reino do Império Romano – não é opressor, nem injusto, nem idolátrico, mas o Reino da justiça, fraternidade, solidariedade e partilha, o Reino do Deus da Vida.
É exatamente por pregar e semear este Reino que Jesus deve morrer – aliás, não morrer, mas ser morto, o que é diferente. Pilatos demonstra isso quando ele deixa claro quem entregou Jesus, pedindo a sua morte. Não foi o povo, mas os sumos sacerdotes que o entregaram (v. 35). É importante entender o que isso significa, pois se Jesus foi morto, houve algum motivo e houve alguém que o matasse.
Os sumos sacerdotes eram, no tempo de Jesus, todos nomeados pelos romanos, dentro do partido dos saduceus, o partido da elite jerosalemita, donos de terras e do comércio, e chefes do Templo. O Templo funcionava como “Banco Central”, centro de arrecadação de impostos e lugar de câmbio monetário, uma vez que não se aceitava nele a moeda corrente. Jesus, portanto, foi assassinado pelo poder político, econômico e religioso, todos coniventes com o poder imperialista, representado por Pilatos. Pois o Reino de Deus se opõe frontalmente a qualquer reino opressor, como era o de Roma.
A realidade vivida por Jesus continua hoje.
O seguimento de Jesus, na construção de um Reino de justiça e paz, do shalôm de Deus, necessariamente vai entrar em conflito com os reinos que dependem da exploração e da injustiça. Normalmente, esses poderes primeiramente tentarão cooptar a igreja, para que, em lugar de ser voz profética diante das injustiças, torne-se porta-voz dos valores desses reinos. E não faltarão incentivos monetários e outros, para que as igrejas caiam nesta cilada. Por isso, como nos advertiram os textos nos últimos domingos, é necessário que fiquemos sempre vigilantes para verificarmos se a nossa vida prática está mais de acordo com o Reino de Deus ou com o reino de Pilatos.
Para João, Jesus provoca a grande crise da história. Diante da verdade, que é Ele, todos têm que se posicionar. Ele, como todo profeta, não causa a divisão, mas desmascara a divisão que existe dentro da sociedade, a divisão entre o bem e o mal, entre um projeto da morte e um projeto da vida, uma divisão que permeia todos os elementos da sociedade. Diante dele, não há lugar para meio-termo - todos têm que optar. Por isso, a festa de hoje, longe de ser algo triunfalista, nos desafia para que façamos um exame de consciência – tanto individual como eclesial e comunitário - para verificar se o nosso Rei é realmente Jesus, ou se, mesmo de uma maneira disfarçada, continua sendo Pilatos!
Fonte: CEBI Nacional
O poder do Cristo se exerce suprimindo do universo a própria raiz da violência. É preciso, aqui, entender a violência, em sentido bastante amplo, como a tentativa de fazer substituir por nossa vontade a liberdade dos outros. Mas como será possível reinar sem se impor?
1. O poder.
A expressão “Cristo Rei” é, na verdade, um pleonasmo. Mas significa que o Cristo de Israel assume um poder universal sobre a humanidade e sobre a natureza à qual a humanidade está vinculada. Não há nada de mais inquietante do que a possibilidade humana de uns pesarem sobre a liberdade dos outros; de uns dirigirem os outros. Com que direito? A que título? A humanidade, desde sempre, tem inventado sistemas para designar quais devam ser os detentores da autoridade: se por herança, por eleição… Pois parece ser indispensável haver uma autoridade, para poder se conter os riscos da violência nascidos da selvagem competição. Cada um de nós aspira, de fato, a deter algum poder, porque, além de outras vantagens, isto nos dá segurança com respeito à nossa importância, ao nosso valor, e nos põe no centro das atenções. Existe, sim, uma busca pelo poder. Como dizia um político: “uma vez experimentado o poder, não se pode mais passar sem ele”. O poder é uma droga que faz o homem esquecer a sua fragilidade. A busca pelo poder vicia, porque o que justifica o poder é, antes de tudo, “a desigualdade”; ou seja, a superioridade. E uma superioridade que deve ser real: a de quem sabe mais, é mais inteligente, tem maior espírito de decisão… Coisas todas que podem justificar o exercício um poder sobre os outros, ao menos provisoriamente, e, melhor, sendo aceito este poder. Todos nós exercemos poderes, em virtude de nossas competências ou responsabilidades: poderes que exercemos dentro dos nossos domínios e à medida de nossa condição (em casa, na família, na profissão, etc.). Qual seria então o poder do Cristo?
2. Qual poder?
Jesus disse a Pilatos que a sua realeza não é deste mundo. Significa que não lhe foi conferida pelos homens. Não a recebeu nem de sua nação nem dos chefes dos sacerdotes. Significa também que não a exerce como os outros soberanos normais. Ele não tem guardas nem exércitos e não faz “sentir o seu poder”. A sua realeza não é, enfim, da mesma natureza que as outras: não visa a conter nem reprimir a violência possível nas relações humanas, projeto este que supõe o exercício de uma violência superior, o exercício da sujeição. O poder do Cristo se exerce suprimindo do universo a própria raiz da violência. É preciso, aqui, entender a violência, em sentido bastante amplo, como a tentativa de fazer substituir por nossa vontade a liberdade dos outros. Mas como será possível reinar sem se impor? É o que Jesus responde a Pilatos: “Vim para dar testemunho da verdade“. E o que é a verdade? Num certo sentido, é o próprio Deus, mas podemos tentar ser mais precisos: para o homem, a verdade é o que o faz existir realmente, o que o põe em direção à sua criação. A mentira, pelo contrário, é o que o engana, levando-o a uma via sem saída e a enredar-se em impasses. Existe, pois, uma conivência entre o homem e o testemunho do Cristo: a verdade se impõe (poder) porque ela é a própria vida do homem. Como diz Paulo (2Cor 13,8): “Não temos poder algum (…) exceto pela verdade”. Verdade que ultrapassa quem a anuncia. O que justifica o poder do Cristo é que Ele convoca o homem à sua plena realização.
3. Qual tomada do poder?
Cristo toma o poder – em parte, mas é fundamental – através de uma demonstração: submetendo-se à violência (submissão que é o contrário do poder). Ele mostra publicamente que o poder verdadeiro não é poder-dominação, manifestando assim a vaidade e a perversidade das condutas que visam a dispor-se dos outros. Este aniquilamento do Cristo foi apresentado por João como um “elevar-se”: o Cristo crucificado foi levantado da terra e, naquele momento, os olhares todos se voltam para ele. Ele atrai todos os homens, porque a verdade atrai tudo o que em nós existe de verdadeiro. Por que a palavra “demonstração”? Porque Jesus põe a nu, diante dos nossos olhos, o pecado do homem, a sua mentira, e a verdade do amor. Ele não nos impõe a verdade, pois isto seria voltar às atitudes de violência que são o contrário da verdade; sem sentido, portanto. Ele nos mostra a verdade: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37) e se torna seu discípulo. Esta é a Realeza do Cristo, não semelhante a nenhuma outra, uma vez que se apresenta sob a figura do contrário da realeza. O senhor é aquele que se faz o servidor e só pode ser senhor quem se faz servidor. Fonte: CEBI – Centro de Estudos Bíblicos – www.cebi.org.br
Para Jesus, a morte se mostrava iminente. Talvez lhe restasse apenas uma saída: fazer o jogo do poder, oferecido por Pilatos. Isso significaria abandonar o projeto que tinha assumido e proposto a seu grupo de seguidoras e seguidores. A conversa é tensa e Jesus pouco fala. O mundo de Pilatos não é o seu.
É assim que a comunidade joanina nos descreve o confronto entre dois projetos: o “mundo” e o “Reino”. Ao ser indagado, Jesus assume a sua realeza. Mas esclarece: “Meu Reino não é como os reinos deste mundo” (João 18,36).
Na história da interpretação dos textos joaninos, com certeza essa é uma das frases que mais serviu para manipular a proposta de Jesus. Muitos a interpretaram como a afirmação de que a missão de Jesus foi “salvar almas para depois da morte” e não salvar vidas. Seu Reino foi jogado apenas para o céu (o pós-morte), como se Jesus não tivesse dito em sua oração: “venha o teu reino, seja realizada na terra a tua vontade, como é realizada nos céus” (Mateus 6,10).
Meu Reino não é como os reinos deste mundo
Nos escritos joaninos, o termo mundo significa tudo o que se opõe ao projeto de Deus. Uma tradução mais adequada da resposta de Jesus a Pilatos poderia ser: Meu reino não é como (de acordo com, conforme) este mundo. Ora, as comunidades joaninas sabiam muito bem como era o mundo de Pilatos, representante do Império Romano na Judeia. O mundo do Império impunha seu poder pela força das armas e pelas negociatas e artimanhas, entre relações desleais, corruptas e corruptoras. A proposta de Jesus é outra, seu Reino não compactua com este mundo.
O Reino de Jesus se apoia no poder serviço (João 13), que não busca prestígios, mas que doa sua vida até a morte na cruz para que a vida aconteça em plenitude (João 10,10).
Jesus é rei, mas de outro projeto político
Muitas vezes, a frase em questão também é utilizada para justificar a postura de gente que afirma que “política e religião não se misturam”. No intuito de justificar seu comportamento religioso teoricamente apolítico, pessoas e grupos também “espiritualizam” a leitura do movimento de Jesus: enquanto “rei espiritual” dos judeus, o Mestre almejava anunciar uma mensagem de paz totalmente espiritual e religiosa. Infelizmente, não raras vezes, muitos dos que defendem essa postura, se líderes religiosos, vivem atrelamentos vergonhosos com políticos e empresários. E, se políticos ou empresários, quase sempre pedem as bênçãos de um líder religioso para suas ações e seus empreendimentos financeiros. Justificar o sistema com elementos e símbolos religiosos não seria, portanto, juntar religião e política. Questionar o sistema por meio da fé, isto seria.
A proposta de Jesus é uma proposta religiosa, de vivência de uma espiritualidade radical, que não se contenta com a superficialidade, mas vai até raízes mais profundas. Por essa razão, uma proposta altamente política. Ele mesmo, no capítulo 17, roga ao Pai pelos seus: “Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Mas não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (João 17,14b-15).
Quem é da verdade, escuta minha voz
A concepção hebraica de verdade difere da mentalidade greco-romana. Enquanto para Aristóteles “a verdade é a adequação do pensamento à realidade”, para um hebreu autêntico, verdadeira é a pessoa fiel ao projeto de seu Deus e de sua comunidade. Verdade é sinônimo de fidelidade.
Em sua conversa com Pilatos, Jesus não tem receio de afirmar: “Vim ao mundo para dar testemunho da verdade” (João 18,37). Testemunhar a verdade é doar a vida até as últimas consequências. É fidelidade ao projeto amoroso do Pai.
“E quem é da verdade, escuta a minha voz”. Quem decide viver a verdade, o amor fiel, adere ao projeto de vida que vem do Pai, tal como a ovelha, ao ouvir a voz do seu pastor, segue-o pelo caminho (João 10).
Para a comunidade joanina, romper com os reinos deste mundo é assumir uma forma de espiritualidade que estimule relações alternativas, de justiça e de ternura, de partilha e de paz. A paz, fruto da justiça e não a paz imposta pelas armas dos impérios deste mundo (João 14,27).
Ildo Bohn Gass e Edmilson Schinelo são Assessores do CEBI.
Fonte: site do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) – www.cebi.org.br
O autor do livro de Daniel é um judeu fiel à cultura e aos valores religiosos dos seus antepassados, interessado em defender a sua religião, querendo mostrar aos seus concidadãos que a fidelidade aos valores tradicionais seria recompensada por Jahwéh com a vitória sobre os inimigos. Daniel seria um judeu exilado na Babilónia, que soube manter a sua fé num ambiente adverso de perseguição, que pede aos seus concidadãos que não se deixem vencer pela perseguição e que se mantenham fiéis à religião e aos valores dos seus pais. Quem escreveu o Livro garante que Deus está do lado do seu Povo e que recompensará a sua fidelidade à Lei e aos mandamentos.
No trecho de hoje o autor nos apresenta uma leitura profética da história, querendo transmitir esperança baseada na fé e fidelidade aos valores tradicionais.
Na “visão” (Dan 7,1-28), o autor do Livro apresenta “quatro grandes animais” – um leão, um urso, uma pantera, e um animal com dez chifres. Esses “quatro animais” representam os impérios humanos da época.
Por fim o autor coloca, numa outra cena, “um ancião” com os cabelos e as vestes brancos “como a neve; sentado num trono feito de chamas e servido “por milhares e dezenas de milhares”, que decretou a morte dos “quatro animais” (Dan 7,9-12). É precisamente aqui que começa a cena descrita pelo texto da nossa primeira leitura: a entronização do “Filho do Homem” (Dan 7,13-14).
Na “visão” esse “filho de homem” aparece “sobre as nuvens do céu” (v 13) e tem uma origem transcendente. Ele vem de Deus e pertence ao mundo de Deus.
O “filho de homem” recebe de Deus um reino com as dimensões do universo (“todos os povos e nações O serviram” – v 14) e um poder que não é limitado pelo tempo, nem pela finitude que caracteriza os reinos humanos - “o seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído” v 14.
Com o anúncio do aparecimento “sobre as nuvens” desse “filho de homem”, o autor do Livro de Daniel anuncia a chegada de um tempo em que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a voracidade, a ferocidade, a violência que oprimem os homens. E Deus vai devolver à história a sua dimensão de “humanidade”, possibilitando que os homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade.
Na maneira de pensar dos judeus esse “filho de homem” que que vai instaurar o “reino de Deus” sobre a terra será o Messias (o “ungido”) de Deus. A sua intervenção vai pôr fim à perseguição dos justos e possibilitar a vitória dos santos sobre as forças da opressão e da morte.
Jesus vai aplicar esta imagem do “filho de homem que vem sobre as nuvens” à sua própria pessoa. Ao ser interrogado pelo sumo-sacerdote Caifás, Jesus assumirá claramente que é “o Messias, o Filho de Deus bendito”, o “Filho do Homem sentado à direita do Poder”, que virá “sobre as nuvens do céu” (Mc 14,61-62). Para os cristãos, Cristo é esse “filho de homem” anunciado em Dan 7, que vai libertar os crentes das garras do poder opressor e instaurar o reino definitivo da felicidade e da paz.
(Traduzido automaticamente pelo Tradutor Google sem nossa correção. Pode haver uma ou outra palavra com sentido incompleto).
DOMINGO XXXIV DO ANO – CICLO “B”
SOLENIDADE DE CRISTO REI
Primeira leitura (Dn 7,13-14):
Este texto faz parte da segunda seção do livro de Daniel (Dan 7-12), que responde ao gênero de visões típicas dos apocalipses e onde o rei pagão encarna o mal absoluto em oposição à soberania de Deus. Neste capítulo 7 é anunciado que o reinado dos opressores chegará ao fim e que o reinado de Deus, o reino messiânico, simbolizado por “o filho do homem”. Esta misteriosa figura de Dn 7,13-14 tem aqui um significado coletivo e individual ao mesmo tempo; e no Novo Testamento será aplicado à vinda gloriosa de Jesus (cf. Mt 24,30 par). Este novo reino será eterno (cf. 7:14) e sugere-se que a salvação virá diretamente de Deus e não através dos homens.
Segunda leitura (Ap 1,5-8):
Este texto insere-se no prólogo do Apocalipse e, num contexto trinitário e num clima litúrgico, começa por apresentar Jesus como a “Testemunha Fiel”, ou seja, Aquele que nunca falha. Então ele o nomeia como “Primogênito dos mortos”, assim como Colossenses 1:18. Jesus é quem vai à frente de quem morre, abrindo o caminho para a ressurreição. Ele então apresenta Jesus como “o Príncipe dos reis da terra”, porque seu poder não é igual ao de nenhum outro rei. Siga a auto-apresentação de Deus que afirma ser “o Alfa e o Ômega”. Alfa é a primeira letra do alfabeto grego; Ômega é o último. Quando Deus se apresenta como Alfa e Ômega está afirmando que é o começo e o fim de tudo.
Evangelho (Jo 18,33-37):
O texto de hoje, dentro da história mais ampla da paixão, insere-se no julgamento de Jesus perante Pilatos, que se realiza no Pretório ou Palácio do Procurador (cf. Jo 18,28-19,16). Esta seção é composta por sete cenas que se distinguem pelos movimentos de Pilatos no lugar e pelas mudanças nos interlocutores. Na verdade, fora do pretório estão os judeus que levaram Jesus para ser julgado pelo procurador romano Pôncio Pilatos. Por ser um lugar pagão e ser na véspera da festa da Páscoa, os judeus não entram no pretório para não se contaminarem e assim poderem participar na festa (cf. Jo 18,28); então Pilatos deve sair para falar com eles lá fora. Em vez disso, Jesus está dentro do pretório e ali dialoga com Pilatos e é insultado pelos soldados. De acordo com vários estudiosos1, O tema que domina toda esta seção é a realeza de Cristo.
Em particular, o texto que lemos neste domingo constitui a segunda cena da secção do julgamento romano e tem lugar no interior do pretório; e O diálogo de Jesus com Pilatos é precisamente sobre a realeza de Cristo.
Notemos que na primeira cena da secção (cf. 18,28-32) Jesus foi levado pelos judeus ao pretório diante de Pilatos, a quem é dito que o trouxeram porque pensam que ele é culpado de morte e eles, de acordo com a lei romana, não podem matá-lo. Diante deste pedido, Pilatos entra no pretório e questiona Jesus: “Você é o rei dos judeus?" (18,33).
O título “rei dos judeus” tem significado e alcance diferentes dependendo de quem o utiliza. Para Pilatos Tem fundamentalmente uma conteúdo político e, portanto, perigoso porque é considerado rival do imperador romano. Para os judeus O título de rei é aplicado ao Messias esperado, descendente do Rei David, cuja missão será restaurar o Reino de Israel com uma sentido religioso e político intrinsecamente ligado. Isto é, o título “rei dos judeus” tem para eles um significado terreno e histórico, mas ao mesmo tempo profundamente religioso.
Em vez disso, como veremos a seguir, para jesus Tem um significado diferente desses dois anteriores. É por isso que ele responde a Pilatos perguntando-lhe se ele aceita para si que é rei dos judeus ou fala do que outros lhe disseram. Ou seja, Jesus quer saber se Pilatos o considera rei no sentido exclusivamente político típico da concepção romana, ou no sentido de um messianismo religioso-nacionalista típico dos judeus. Por sua vez, a resposta de Pilatos foge à questão e vai diretamente aos fatos: "Sou judeu? Seus compatriotas e os sumos sacerdotes colocaram você em minhas mãos. O que você fez?"" (Jo 18,35).
A resposta de Jesus continua a explicar o significado da sua realeza: “Meu Reino não é deste mundo…não é daqui". A prova disso é que o seu povo não recorreu à violência, ao combate, para evitar que fosse entregue nas mãos dos judeus. O texto grego deve ser entendido como "meu Reino não vem de este mundo" (Eu tou kósmou toútou deste mundo Jo 18,36) significando assim que A realeza de Cristo não é fundada ou inspirada pelos poderes deste mundo, não é mundana.. Embora o Reino de Deus seja a soberania de Deus “neste mundo”, é realizado “maneira diferente” aos poderes terrenos.
X. León Dufour comenta sobre isso: “Em sua resposta, Jesus afirma seu basileísmo. O termo grego aqui não significa “reino” ou “reinado” (como na expressão “reino de Deus”: Jo 3, 3.5), mas “realeza”, que o Filho exerce desde a sua vinda ao mundo. O significado fica claro em 18:37, onde é uma qualificação da pessoa e do papel do próprio Jesus. A língua é tipicamente joanina: a origem (indicada pela preposição ek) determina a natureza de um ser. A realeza do Filho vem de além do mundo, mas é exercida aqui embaixo. Afeta todos os homens, como demonstra o segundo depoimento”2.
O que Jesus diz aqui sobre o Reino, que “não deste mundo”, ele já havia dito isso antes sobre si mesmo e os cristãos ao longo do evangelho. Por exemplo:
Jo 8,23: “Vocês são de baixo, eu sou de cima. Vocês são deste mundo, eu não sou deste mundo”. Jo 15,19: “Se vocês fossem do mundo, o mundo te amaria como se fosse seu. Mas como eles não são do mundo, mas eu os escolhi e os tirei dele, o mundo os odeia”.
Jo 17,14.16: “Eu lhes disse a tua palavra, e o mundo os odiou porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo… Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. ”
Voltando à resposta de Jesus, fica claro que A realeza de Jesus nada tem a ver com poder político e, portanto, os romanos não podem temer nada dele.. E a sua realeza não tem a ver com a concepção de um messianismo terreno como sustentavam alguns judeus.. Aparentemente Pilatos não consegue compreender esta diferença de significado e insiste na realeza de Jesus: “Então você é rei?". A resposta de Jesus, literalmente segundo o grego, é: "Você diz que eu sou rei" (você diz que eu sou um rei Jo 18,37). Portanto, não é uma confirmação da pergunta, nem uma negação. Como sugere o seguinte, Jesus concorda em ser reconhecido como rei, mas não no sentido que Pilatos dá à realeza. Recordemos que depois da multiplicação dos pães queriam fazê-lo rei. Jesus fugiu para o monte (cf. Jo 6,15).
A segunda parte da resposta de Jesus é de grande densidade teológica: “Para isso nasci e para isso vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade, ouça a minha voz".
Em primeiro lugar, vemos com surpresa que Jesus liga sua realeza à verdade. Mas é muito importante notar que o verdadeiro, como o realeza, tem um significado no Evangelho de João próprio que nem sequer concorda com a concepção comum (verdade como realidade) nem com a definição dos filósofos (o ser das coisas). Para o evangelho de João, na linha da literatura apocalíptica e sapiencial, a verdade é a revelação do plano divino de salvação. Como diz um grande estudioso deste tema, I. de la Potterie3: "A verdade não é o ser das coisas, mas a manifestação, a descoberta do plano de Deus.". Portanto, “dar testemunho da verdade” (testemunhar a verdade Jo 18,37) é a missão de Jesus como Verbo vindo de Deus ao mundo (cf. Jo 1). E segundo o mesmo I. de la Potterie, quando no prólogo do Evangelho de João se diz duas vezes que o Verbo encarnado é "cheio de graça e verdade"(1,14.17) deve ser traduzido como"cheio da graça da verdade"porque"Só há um dom que a Palavra traz aos homens: a graça da verdade. Esta verdade é a revelação definitiva de Deus aos homens através do seu Filho e no seu Filho. O homem Jesus é a revelação total e revela o que é em seu próprio ser: Filho do Pai. O dom da verdade é o Filho unigênito que, como homem, revelou o Pai [...] Para João, esta é a verdade: a revelação do mistério da salvação em Jesus, Filho do Pai, a possibilidade de nos tornarmos filhos de Deus […] A missão de Jesus consiste em levar a plenitude da revelação, dando-se a conhecer como Filho de Deus"4.
Na mesma linha X. Leon Dufour diz que: “A realeza de Jesus não consiste, portanto, no seu domínio escatológico sobre as nações deste mundo, tal como apresentado no livro do Apocalipse, mas no facto de, pela sua palavra e pela sua presença, o Filho propor aos homens o dom da comunhão divina. Portanto, neste texto, a “verdade” não pode ser dissociada daquele que veio ao mundo para manifestá-la. A “verdade” não é uma teoria, mas um apelo que atinge as profundezas do homem.”5.
O que significa então a seguinte expressão: “Todo aquele que é da verdade, ouça a minha voz"? No evangelho de João “ser da verdade” implica aceitar esta verdade, isto é, a revelação do Pai e a nossa filiação divina em Cristo, acreditar nela e deixar que ela nos ilumine e pela ação do Espírito Santo transforme-nos em filhos. Quem vive isto ouvirá a sua voz, assim como as ovelhas do rebanho de Cristo, o bom pastor, ouvem a sua voz (cf. 10, 4). Cristo e seguindo-o são aqueles que formam a nova comunidade reunida à sua volta. Aqueles que acolhem a revelação do Filho, a verdade, ouvem a sua voz e se reúnem ao seu redor e assim o Reino de Deus se torna presente e Jesus exerce assim a sua realeza.. Mas deixe que I. De la Potterie nos explique.6: "Em João, o conhecimento da verdade é confundido com a fé […] A nova comunidade em torno de Cristo é uma relação existencial em ambos os sentidos: Ele chama o seu povo e o seu povo escuta-o e ele reúne-o à sua volta. Esta é a soberania, a realeza de Cristo na teologia joanina. Esta realeza se baseia na verdade que ele revela aos homens. A única maneira de entrar neste reino é abrir-se a esta verdade, deixar-se moldar por ela. Cristo exerce a sua soberania sobre o seu povo, na medida em que este se deixa recriar como filho de Deus.".
ALGUNS PENSAMENTOS:
O final do ano litúrgico convida-nos obviamente a meditar sobre o fim da história e o julgamento final; Mas sobretudo, nesta solenidade somos convidados a dirigir o nosso olhar de fé para Cristo Rei e a confessar o seu triunfo final e definitivo. Dado que a liturgia deste ciclo nos ofereceu o evangelho de João para iluminar a solenidade de Cristo Rei, seria oportuno seguir a sua apresentação da realeza de Cristo.
Como vimos, o tema da realeza de Jesus é central em toda a secção do julgamento perante Pilatos e particularmente no texto deste domingo. Para o Cardeal C. M. Martini, a questão temática fundamental que o texto quer responder pode ser expressa desta forma:
“Qual é a verdadeira realeza de Cristo, se, quando quiseram fazê-lo rei, ele fugiu, enquanto aqui os fatos e as situações o proclamam insistentemente rei?"7.
A resposta do quarto evangelho é que Cristo reina em sua Paixão, é rei sobretudo na cruz porque ali manifesta aos homens a sua entrega gratuita por amor ao Pai. Na cruz ele testemunha a verdade do amor do Pai. O próprio Cardeal CM Martini8 Ele nos explica e aplica muito bem: "O que significa Reino de Deus ou Reino do Pai? Significa que Deus está no centro de toda a realidade e que toda a realidade está perfeitamente ordenada sob o domínio divino. Este é o Reino de Deus que Jesus veio estabelecer. De acordo com o doutrina exposta por João, esse domínio é dado a Jesus precisamente no momento em que cumpre o serviço supremo da caridade e da verdade. A palavra de Jesus sobre a atração também se cumpre. Jesus não reina dominando, isto é, estendendo sua influência de pessoa a pessoa através de um poder do alto, mas reina atraindo. Fazer brilhar dentro de si o amor de Deus pela humanidade indefesa. Jesus é capaz de atrair para si todo aquele que sabe ler este sinal, isto é, que através da mediação da cruz sabe ler na sua própria pobreza e desamparo – situação muito semelhante à do Filho – a certeza de sendo amado por Deus".
Em outras palavras: Jesus é Rei e Senhor, mas não no caminho dos senhores e reis deste mundo porque o seu reino não é deste mundo. Como comenta o Papa Francisco: “Jesus é assim. Veio sem duplicidade, para proclamar com a sua vida que o seu Reino é diferente dos do mundo, que Deus não reina para aumentar o seu poder e esmagar os outros, que não reina com exércitos e com a força. O seu Reino é de amor, “eu sou rei”, mas deste reino de amor, “eu sou rei” de quem dá a própria vida pela salvação dos outros.”(homilia de 21 de novembro de 2021).
Ou seja, a sua soberania não é fundada nem exercida como nos poderes deste mundo. E também não pretende ser um reino exclusivamente político-temporal. Tudo isso é tentação. Como bem reconhece I. De la Potterie: "Esta tentação do poder temporal perdurou ao longo da história da Igreja. Isto certamente não está de acordo com o Evangelho, mas não significa que todas as instituições devam desaparecer e que a Igreja deva permanecer exclusivamente carismática. Não, mas deve ser, em todo o caso, uma Igreja pobre e com espírito de serviço!"9.
Resumindo: Jesus, o seu reinado e a vida que ele comunica aos discípulos é de ordem transcendente, não pode ser reduzido a algo exclusivamente terreno, humano ou mundano.. Seguindo a proposta do evangelho segundo São João também podemos dizer que Jesus é rei na medida em que dá testemunho da verdade, isto é, do desígnio amoroso do Pai que quer todos os homens como seus filhos e irmãos entre si..
Em outros termos, O Reino de Cristo torna-se presente na medida em que os homens acreditam/aceitam/recebem a paternidade de Deus revelada pelo Filho Jesus e se deixam transformar em filhos de Deus e irmãos dos homens..
É, portanto, um Rei e um Reino que devem ser recebidos porque vêm de Deus, no qual devemos acreditar/aceitar para que se torne presente. Mas é também um Reino que deve ser ampliado porque, embora não seja deste mundo pela sua origem e pela sua força, está destinado ao mundo porque o mundo é chamado a acolher a soberania do amor do Pai revelado em Cristo.. Vale a pena dizer que a vocação do mundo é o Reino de Deus. Este reino de “verdade e vida, santidade e graça, justiça, amor e paz” é o projeto de Deus para os homens e só se tornará realidade na medida em que os homens aceitarem a soberania de Cristo. É por isso Os cristãos não podem ignorar o mundo nem tentar realizar o Reino fora dele..
O Papa Francisco disse sobre isso no Angelus de 21 de novembro de 2021: “A liberdade de Jesus vem da verdade. É a sua verdade que nos liberta (cf. Jn 8,32). Mas a verdade de Jesus não é uma ideia, algo abstrato: a verdade de Jesus é uma realidade, é Ele mesmo quem faz a verdade dentro de nós, nos liberta das ficções, das falsidades que temos dentro de nós, da dupla linguagem. Estando com Jesus, nos tornamos verdadeiros. A vida de um cristão não é uma performance onde se pode usar a máscara mais conveniente. Porque quando Jesus reina no coração, ele o liberta da hipocrisia, o liberta da escapatória, das dobras. A melhor prova de que Cristo é o nosso rei é o desapego daquilo que contamina a vida, tornando-a ambígua, opaca, triste. Quando a vida é ambígua, um pouco aqui, um pouco ali, é triste, é muito triste. É verdade que devemos lidar sempre com limites e defeitos: somos todos pecadores. Mas quando alguém vive sob o senhorio de Jesus, não se torna corrupto, não se torna falso, com inclinação para encobrir a verdade. Você não leva uma vida dupla. Lembre-se bem: pecadores, sim, todos somos, corruptos, nunca! Que a Virgem nos ajude a procurar todos os dias a verdade de Jesus, Rei do Universo, que nos liberta da escravidão terrena e nos ensina a governar os nossos vícios.”.
Concluindo: a experiência nos mostra que todos dependemos de alguém porque não somos absolutos nem totalmente autônomos. Alguém em quem confiamos, a quem seguimos e tomamos como exemplo e guia. A Bíblia expressa isso dizendo que todos nós temos um “senhor” para servir. É por isso que Jesus disse que não podemos servir a dois senhores.res, a Deus e ao dinheiro. Mas todos nós servimos um “senhor” da nossa vida, que pode ser também o nosso próprio eu, o que é perigoso porque nos leva a um egocentrismo doentio. A festa de Cristo Rei que hoje celebramos apresenta-nos Jesus como o verdadeiro e autêntico Senhor das nossas vidas e somos convidados a segui-lo. E o Reino de Deus deve estender-se com a mesma motivação, as mesmas atitudes, o mesmo propósito e o mesmo conteúdo com que Jesus o tornou presente. E isso nada mais é do que caridade na verdade.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Verdadeiro Rei
Verdadeiro Rei,
Triunfo de Deus Pai
Toda a humanidade se rende aos seus pés
E é movido por sua grandeza e seu poder
Quem poderia levantar o coração para te dar o seu amor!
Eu não sou da sua raça, Senhor
Tantas vezes estou fora da sua vida
Eu sou seu juiz, seu carrasco, sua testemunha e sua crosta
Deixa eu comer eu quero como você:
Servidor desfiado!
E naquele Trono Único,
Pregado em Deus, preso a uma madeira até hoje
Você derrama seu sangue em um altar e seu corpo você nos dá
Nenhuma reclamação, e você se rende silenciosamente como um escravo
A obediência é o seu salário!
Não deixe meu ouvido ficar surdo
À voz do Rei dos mendigos
Sem medo vejo seu rosto como o de tantos feridos
E desci com vergonha para lavar seus pés
Como um pai com seus filhos!
Glória ao criador do universo
Espaço feito de Amor, esperança e paraíso
Você reina lá vitorioso e nos prepara novamente
O lugar para habitar no eterno
Onde o Espírito nos encoraja. Amém.
[1] Nos referimos en particular a I. de La Potterie, La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 55-89; a quien seguiremos de cerca en el análisis de nuestro texto. De semejante opinión es C. M. Martini, El Evangelio de Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 114-135. Por su parte L. H. Rivas, El Evangelio de Juan. Introducción. Teología. Comentario (San Benito; Buenos Aires 2006) 469-485, sostiene que al tema de Cristo Rey se le suma el de Hijo de Dios.
[2] X. León Dufour, Lectura del Evangelio de Juan, Jn 18-21, Vol. IV (Sígueme, Salamanca 1998) 72.73.
[3] La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 67-68. Notemos que este autor es posiblemente quien más ha estudiado el tema de la verdad en el evangelio de San Juan habiendo escrito dos grandes volúmenes sobre este tema que son de consulta obligatoria.
[4] La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 67.
[5] Lectura del Evangelio de Juan, Jn 18-21, Vol. IV (Sígueme, Salamanca 1998) 75.
[6] La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 68.71.
[7] El Evangelio de Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 128.
[8] El Evangelio de Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 132.
[9] La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 65.