05/10/2025
LINK AUXILIAR:
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Habacuc 1,2-3; 2,2-4
Salmo Responsorial 94(95)-R- Não fecheis o coração; ouvi vosso Deus!
2ª Leitura: 2 Timóteo 1,6-8.13-14
Evangelho Lucas 17,5-10
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 5os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” 6O Senhor respondeu: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria. 7Se algum de vós tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: ‘Vem depressa para a mesa’? 8Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: ‘Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois disso, tu poderás comer e beber’? 9Será que vai agradecer ao empregado, porque fez o que lhe havia mandado? 10Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’”. – Palavra da salvação.
Na Palavra de Deus que hoje nos é proposta, cruzam-se vários temas (a fé, a salvação, a radicalidade do “caminho do Reino”, etc.); mas sobressai a reflexão sobre a atitude correta que o homem deve assumir face a Deus. As leituras convidam-nos a reconhecer, com humildade, a nossa pequenez e finitude, a comprometer-nos com o “Reino” sem cálculos nem exigências, a acolher com gratidão os dons de Deus e a entregar-nos confiantes nas suas mãos.
Na primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o para intervir no mundo e para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado. Deus, em resposta, confirma a sua intenção de atuar no mundo, no sentido de destruir a morte e a opressão; mas dá a entender que só o fará quando for o momento oportuno, de acordo com o seu projeto; ao homem, resta confiar e esperar pacientemente o “tempo de Deus”.
A segunda leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu compromisso com Jesus Cristo e com o “Reino”. De forma especial, o autor exorta os animadores cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor as comunidades que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do Evangelho.
O Evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, a esse projeto de vida que, em Jesus, Deus veio oferecer ao homem. A essa adesão chama-se “fé”; e dela depende a instauração do “Reino” no mundo. Os discípulos, comprometidos com a construção do “Reino” devem, no entanto, ter consciência de que não agem por si próprios; eles são, apenas, instrumentos através dos quais Deus realiza a salvação. Resta-lhes cumprir o seu papel com humildade e gratuidade, como “servos que apenas fizeram o que deviam fazer”.
O Evangelho de hoje nos oferece um relato significativo sobre a fé e uma breve parábola sobre o nosso papel de servidores de Deus. Os apóstolos foram escolhidos pessoalmente por Jesus e receberam a missão de serem testemunhas privilegiadas dos ensinamentos, dos milagres, da morte e ressurreição de Jesus. A Igreja desde sempre reconheceu o privilégio dos doze apóstolos.
Mesmo que tenham sido escolhidos e enviados por Jesus, mesmo que sejam reconhecidos como colunas da Igreja, os apóstolos não deixam de ser homens frágeis, sempre tentados pela falta de fé e pela dúvida. Por isso, é significativo e muito instrutivo para nós, ouvir o pedido que eles fazem a Jesus: Aumenta a nossa fé!
Todos missionário sabe por experiência pessoal que os frutos da ação divina são produzidos exatamente em circunstâncias que pareciam completamente hostis a qualquer resultado positivo. O evangelho de hoje nos desafia a crer em Deus para lá dos limites da lógica humana e do sentido do possível; ensina-nos também a reconhecer humildemente que nos falta muita fé na nossa missão evangelizadora. Não é possível ter uma fé capaz de deslocar as montanhas se nos falta a fé em Jesus.
A parábola de Jesus, nos mostra que o necessário não é uma fé grande, mas uma fé autêntica, mesmo que seja minúscula como um grão de mostarda. A fé autêntica não é a fé capaz de fazer milagres ou de fazer curas extraordinárias. Jesus mesmo operou muitos milagres e curas e isso não aumentou a fé das pessoas. Pelo contrário, em muitas ocasiões, as pessoas se apegaram ao aspecto espetacular sem passar do milagre para a fé em Cristo.
O essencial não é ter uma fé espetacular, mas uma fé genuína, mesmo que pequena como um grão de mostarda. É exatamente isso que os apóstolos pedem a Jesus: Aumenta a nossa fé! Aumenta a nossa fé em ti! Ajuda a minha fé a ter comunhão contigo!
Jesus conta a parábola dos escravos que trabalham de sol a sol, que passam do trabalho no campo para o trabalho doméstico sem descanso e sem que sejam recompensados por isso.
Jesus conta essa parábola não para justificar a escravidão e a exploração do trabalho servil. Ele recorre para uma realidade social do seu tempo para mostrar a semelhança da condição dos escravos com o comportamento que é próprio dos discípulos missionários. Mesmo que tenhamos gastado todas as nossas energias no trabalho missionário não devemos pretender recompensa nem a gratidão de Deus. Jesus nos revela que a atitude do discípulo missionário não é a de quem espera recompensa, mas a de quem se reconhece em dívida com o que Deus já realizou em nosso favor. Todo nosso esforço e trabalho nada mais é do que a reação agradecida de quem se considera devedor de Deus.
“Quando tiverdes feito tudo o que vos ordenarem, dizei: 'somos simples servos,
só fizemos o que devíamos fazer'" (Lc 17,10)
Continuamos o percurso contemplativo, seguindo e aprendendo com Jesus. No evangelho deste domingo temos a impressão de que Lucas recolhe afirmações do Mestre da Galileia que, aparentemente, estão desconexas; no entanto, há um fio condutor muito sutil. Nos relatos anteriores, Ele nos pedia, de diferentes maneiras, para que não colocássemos a confiança nas riquezas, no poder, no luxo; e hoje nos diz claramente: “não coloques tua confiança em tuas ‘boas obras’”. Confia somente em Deus.
Os dois temas que o evangelho deste domingo nos propõe estão intimamente conectados; ou seja, devemos confiar somente em Deus e não nas nossas obras. Aqueles que passam a vida acumulando méritos não confiam em Deus, mas em si mesmos. A salvação por “pontos conquistados” é totalmente contrária ao evangelho. Esta era a atitude dos fariseus que Jesus criticou.
Também hoje é comum a atitude daqueles que não se identificam com Jesus e se limitam a cumprir alguns ritos, observar algumas normas e penitências, realizar algumas “obras interesseiras”.
Suas vidas não deixam transparecer a “fé em Jesus”; quando falta esta adesão pessoal viva, interiorizada, cuidada e confirmada continuamente no próprio coração e nas relações com os outros, a fé corre o risco de atrofiar-se, reduzindo-se à aceitação doutrinal, à prática de obrigações religiosas e obediência a uma disciplina. A vivência da fé cristã consiste primordialmente na identificação com Aquele que nos atrai e nos chama: “Vem e segue-me!”
No relato deste domingo, os apóstolos, depois de um tempo de convivência com Jesus, se dão conta de que lhes falta algo para poder compreender as exigências d’Ele. Por isso, suplicam: “aumenta nossa fé”.
Como de outras vezes e como bom “pedagogo”, Jesus não responde diretamente ao pedido dos apóstolos.
Quer dar a entender que a fé não é questão de quantidade, mas de autenticidade. Além disso, a fé não pode ser aumentada a partir de fora; ela precisa crescer a partir de dentro, como o grão de mostarda.
A fé é um caminho, é uma “travessia” em direção a largos horizontes; e um desejo eternamente insatisfeito; é uma confiança continuamente renovada, um compromisso sem final.
A fé não se resume a um ato nem uma série de atos, nem uma adesão a uma série de verdades teóricas que não podemos compreender, mas uma atitude pessoal fundamental e total que imprime uma direção definitiva à existência. Confiar naquilo que realmente somos nos dá uma liberdade de movimento para desatar todas as nossas possibilidades humanas.
Na Bíblia, a fé é equivalente à confiança em uma pessoa, acompanhada da fidelidade. Nesse sentido, a fé é uma vivência em Deus; por isso não tem nada a ver com a quantidade.
Jesus denuncia a fé dos seus discípulos, que parece frágil, de pouco fôlego, incapaz de manifestar aquela força que muda a vida, o modo de pensar, de sentir e de agir. A fé supõe o descentramento de si mesmo e o reconhecimento de Deus como centro da própria vida, numa atitude de confiança incondicional; ela abre para o ser humano o horizonte infinito de Deus. Crer significa deixar Deus ser totalmente Deus, ou seja, reconhecê-lo como a única razão e sentido da vida.
É esta experiência de fé que desata as ricas possibilidades latentes em nosso interior. Com a imagem da amoreira que é transplantada, Jesus nos está dizendo que o dinamismo de Deus está já atuante em cada um de nós e nos possibilita viver profundas mudanças (sair de um lugar estreito, limitado... e lançar-nos a outro lugar amplo, desafiante...). A fé é experiência expansiva da própria vida, movida pela graça de Deus. Aquele que tem confiança em Deus, poderá desatar toda essa energia de vida.
Essa vida é o que de verdade importa. Por isso, crer em Deus é também confiar em cada ser humano e em suas possibilidades para alcançar sua plenitude humana.
Que alimentemos, portanto, dentro de nosso coração, esta fé viva, forte e eficaz. Fé que se visibiliza no serviço por pura gratuidade; ou, segundo S. Paulo, a fé que se realiza “pela prática do amor” (Gal. 5,6).
E Jesus ilustra isso com a pequena parábola do “simples servo”. É uma parábola dirigida àqueles que confiam em suas obras e exigem uma recompensa de Deus. Daí o perigo da soberba religiosa: comparar-se com os outros, colocando-se acima deles e fazendo-se o centro.
No Reino de Deus, somos todos servidores; nele não se trabalha por recompensa. Já é um privilégio podermos colaborar na obra o Senhor. A parábola revela que o trabalho a serviço do Senhor já é uma graça e a recompensa não pode ser exigida; ela é dom.
Não podemos fazer desse serviço uma carreira, com promoções, honrarias e prêmios. No mundo em que vivemos, a mínima prestação de serviço exige uma gratificação específica. Tudo tem um preço. Nossa mentalidade exclui todo espírito de serviço gratuito.
As “obras boas” não são um crédito que podemos apresentar a Deus; são, antes, a manifestação de que temos acolhido o amor de Deus e o manifestamos aos outros. Confiar em Deus é também incompatível com a confiança nos próprios méritos.
Há aqui o princípio ético que deve reger a conduta do cristão, diante de Deus e diante dos outros. É a atitude da inteira disponibilidade, a intensidade do compromisso, sem queixas, sem comparações e nem exigências. Uma ética e uma espiritualidade assim revelam um profundo e inexplicável humanismo.
Sabemos que Jesus desencadeou um movimento profético em favor da vida, mobilizando seguidores(as) a quem confiou a missão de anunciar e promover o projeto do Reino de Deus. Por isso, o mais importante para reavivar a fé cristã é ativar a decisão de viver como seguidores(as) seus(suas).
Nesta perspectiva, o critério primeiro e a chave decisiva para entender e viver a fé cristã é seguir Jesus Cristo. Quem o segue vai descobrindo o mistério que se revela n’Ele, situa-se na perspectiva correta para entender Sua mensagem e vai aprendendo a trabalhar a serviço do Reino de Deus. O seguimento constitui o núcleo, o eixo e a força que permite a uma comunidade cristã expandir sua fé em Jesus Cristo.
Por isso, mais que ter fé em Jesus, o decisivo é “viver a fé de Jesus”; e a fé de Jesus está intimamente vinculada à justiça do Reino, ou seja, comprometida com a vida.
Para Jesus, a fé não está vinculada a um catálogo de crenças, a uma doutrina, a uma religião, e sim a um modo de viver e agir, profundamente sintonizado com o modo de ser e agir do Pai.
Deixando-nos afetar e seduzir pela identificação com Jesus, vamos nos revestindo das grandes atitudes e compromissos que Ele viveu na sua missão, sobretudo na relação com os mais pobres e excluídos, alimentando neles a esperança de um mundo novo, o Reinado do Pai. É isso que, como seguidores(as), temos de interiorizar e viver sempre.
Para meditar na oração
Fazer memória de tantas pessoas que, mesmo no anonimato de suas vidas, foram referências na vivência de fé, integrando uma profunda adesão ao Deus da Vida e o compromisso em favor da vida.
- Sua vivência de fé faz diferença na realidade em que você se encontra? Ela inspira, move, provoca... a sair das suas “normoses religiosas” (normalidade doentia centrada no legalismo, no moralismo, no ritualismo...)
Jesus tinha-lhes repetido em diversas ocasiões: “Que pequena é a vossa fé!”. Os discípulos não protestam. Sabem que Ele tem razão. Levam bastante tempo junto Dele. Eles O veem entregue totalmente ao Projeto de Deus; só pensa em fazer o bem; só vive para fazer a vida de todos mais digna e mais humana. Poderão segui-Lo até ao fim?
Segundo Lucas, num momento determinado, os discípulos dizem a Jesus: “Aumenta-nos a fé”. Sentem que a sua fé é pequena e débil. Necessitam confiar mais em Deus e acreditar mais em Jesus. Não o entendem muito bem, mas não discutem. Fazem justamente o mais importante: pedir-Lhe ajuda para que faça crescer a sua fé.
A crise religiosa dos nossos dias não respeita nem sequer os praticantes. Nós falamos de crentes e não crentes, como se fossem dois grupos bem definidos: uns têm fé, outros não. Na realidade, não é assim. Quase sempre, no coração humano, existe, ao mesmo tempo e alternadamente, um crente e um não crente. Por isso, também nós que nos chamamos “cristãos” temos de nos perguntar: Somos realmente crentes? Quem é Deus para nós? Amamo-Lo? É Ele quem dirige a nossa vida?
A fé pode debilitar-se em nós sem que nunca nos tenha assaltado uma dúvida. Se não a cuidamos, pode diluir-se pouco a pouco no nosso interior para ficar reduzida simplesmente a um hábito que não nos atrevemos a abandonar, pelo sim pelo não. Distraídos por mil coisas, já não conseguimos comunicar-nos com Deus. Vivemos praticamente sem Ele.
Que podemos fazer? Na realidade, não se necessitam grandes coisas. É inútil que nos coloquemos objetivos extraordinários, pois seguramente não os vamos cumprir. O primeiro é rezar como aquele desconhecido que um dia se aproximou de Jesus e lhe disse: “Creio, Senhor, mas vem em ajuda da minha incredulidade”. É bom repeti-lo com o coração simples. Deus entende-nos. Ele despertará a nossa fé.
Não temos de falar com Deus como se estivesse fora de nós. Está dentro. O melhor é fechar os olhos e ficar em silêncio para sentir e acolher a Sua Presença. Tampouco temos de nos entreter em pensar Nele, como se estivesse só na nossa cabeça. Está no íntimo do nosso ser. Temos de procurá-lo no nosso coração.
O importante é insistir até ter uma primeira experiência, mesmo que seja pobre, mesmo que só dure uns instantes. Se um dia percebemos que não estamos sós na vida, se captamos que somos amados por Deus sem merecê-lo, tudo mudará. Não importa que tenhamos vivido esquecidos Dele. Acreditar em Deus é, antes de tudo, confiar no amor que Ele nos tem.
Lucas reúne nos primeiros dez versículos deste capítulo diversos dizeres de Jesus sobre algumas atitudes fundamentais para a vida de quem quer seguí-Lo pelo caminho do discipulado. Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes: vv. 5-7 e vv. 8-10.
A primeira parte trata da questão da fé inabalável, que deve ser característica do discípulo. Inicia-se o diálogo com os apóstolos expressando diante de Jesus a sua insegurança quanto à sua fé: “Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” (v. 5). Tal pedido tem outros ecos nos evangelhos. Faz-nos lembrar do pai do moço epiléptico em Marcos: “Eu tenho fé, mas ajude a minha falta de fé!” (Mc 9, 24).
É a experiência de todo(a) discípulo(a) – acreditamos em Jesus, queremos seguir a sua pessoa e o seu projeto, mas a vida se encarrega de nos demonstrar como é fraca a nossa fé – quantas caídas, traições, incoerências, recaídas! O único recurso é pedir este dom gratuito de Deus, que ninguém pode exigir por seus próprios méritos, que é a fé inabalável. Do fundo no nosso ser gritamos com os Doze: “Aumenta a nossa fé!”
Com a hipérbole (exagero) típica do oriental, Jesus enfatiza tanto a necessidade da fé quanto a sua força, através das imagens do grão de mostarda (semente bem pequena), e do sicômoro – árvore mais ou menos grande que tem um sistema extensivo de raízes: “Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a este sicômoro: “Arranque-se daí, e plante-se no mar. E ela obedeceria a vocês.” (v. 6)
A segunda parte do trecho fala sobre a atitude correta de quem tem um ofício ou ministério dentro da comunidade cristã. Em outros trechos – como 12, 35-37 – Lucas enfatiza a gratuidade de Deus diante da escolha dos seus discípulos. Aqui temos o outro lado – a responsabilidade de quem foi chamado sem mérito algum da sua parte. Ser chamado para qualquer ministério, ordenado ou não, é para que sigamos o exemplo do Mestre, que não veio para ser servido mas para servir, e não para nos vangloriarmos como se fôssemos mais do que os outros membros da comunidade.
O ensinamento não é que os discípulos não valem nada, nem que o seu trabalho não tem valor. O ponto central é que o fato de terem desenvolvido bem as suas tarefas e missão não lhes dá o direito de exigir a graça de Deus por causa dos seus méritos. Tal graça é, e sempre será, um dom gratuitamente oferecido.
Hoje nós estamos na mesma situação dos apóstolos – fomos chamados à fé sem mérito algum da nossa parte. Agradecendo a Deus por este dom, assumamos a nossa parte – a de cumprir bem a missão recebida, sem nos gabarmos disso, pois se nós conseguimos fazer bem as coisas, também é porque podíamos contar com a graça de Deus (cf. 2 Cor 12, 1-10). Sem falsa humildade, mas também sem vaidade, devemos rezar: “Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer” (v. 19)
Jesus continua sua viagem para Jerusalém e no caminho ensina ao grupo de seguidores o que significa ser seu discípulo e discípula. Há vários domingos que o evangelho apresenta Jesus ensinando no caminho. E isto é significativo porque se apresenta um ensinamento que não são normas que devem ser escutadas e aprendidas, ou determinada doutrina para saber, senão que Jesus comunica uma experiência que deve ser adquirida pela vivência.
O evangelho de hoje começa com o pedido dos discípulos: “Aumenta a nossa fé!” Possivelmente os discípulos escutam Jesus e sentem a necessidade de aumentar sua fé porque eles não conseguem assimilar aquilo que recebem. Não é um problema de memória nem de concentração. Eles sentem que estão diante de uma realidade que se lhes apresenta que não é fácil de assimilar e viver seguindo a proposta de Jesus.
Jesus poderia ter sido mais tolerante e responder-lhes: “não se preocupem”, “vossa fé irá crescendo”, “vocês estão comigo desde o início desta caminhada” ou até outras respostas que fossem aparentemente mais compreensivas ou complacentes. Mas, pelo contrário, Jesus disse-lhes: “Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a esta amoreira: ‘Arranque-se daí, e plante-se no mar’. E ela obedeceria a vocês”.
Com o exemplo de uma semente de mostarda, Jesus destaca a fé não pela sua imagem ou por causa de uma grandeza visível porque no seu tamanho é pequena e simples, senão assinala a eficácia e as possibilidades subjacentes à semente de mostarda. Ela abriga uma força que permanece escondida de nossos olhos.
Para Jesus o importante é ter uma fé firme e que seja atuante. Praticar a fé e fortalecê-la. Desta forma no evangelho apresenta-se a fé como a abertura da pessoa ao agir de Deus, que pode fazer possível o que humanamente é impossível. Lembremos as palavras de Isabel a Maria: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45). Jesus continua espargindo a fecundidade de sua promessa naqueles que acreditam nela!
O caminho da fé é o caminho do seguimento a Jesus, que é um caminho difícil, e somente na fé que Jesus nos concede é possível percorrê-lo.
A seguir o evangelho apresenta a realidade da gratuidade da fé. Realizar aquilo que devemos fazer não merece um especial reconhecimento. Jesus apresenta uma comparação um pouco difícil de entender, mas o que tenta destacar é que aquilo que acontece é um dom de Deus, como a fé!
Jesus convida-nos a não aguardar grandes acontecimentos ou transformações, mas a viver nossa vida cotidiana com simplicidade e amor. Não procurar o reconhecimento das pessoas que nos rodeiam para “sentar-nos à mesa” como se aquilo que tivesse acontecido fosse fruto da nossa aptidão ou competência, mas realizar com agrado nossa humilde tarefa.
Qual é a nossa tarefa hoje? Somos convidados a viver com fé nosso agir cotidiano, o que acontece no dia a dia, aquilo que é aparentemente normal, que não se destaca pela sua grandiosidade. Jesus convida-nos a permanecer na nossa realidade como simples servidores e não procurar grandes coisas. Há uma tendência a realizar alguma coisa e vangloriar-se, contando a todo o mundo aquilo que aconteceu e por isso o texto nos convida a ser “servos”, não perder a referência ao Senhor que é quem atua e pelo seu Espírito intervém na nossa vida e no nosso agir. Desde a realidade de servos é possível surpreender-se e admirar-se por este agir de Deus que faz grandes coisas na nossa simplicidade confiada totalmente nele.
É um convite a uma vida humilde e serviçal, conscientes de que se bem colocarmos o todo de nós mesmos/as na missão realizada, tudo depende de Deus. Jesus é nosso exemplo para viver como servos. Ele assumiu a condição de servo transgredindo os costumes da época. Escutemos assim o chamado do Apóstolo Paulo na carta aos Filipenses: “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo: ‘Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens (Flp 2, 6-8)”.
Jesus sendo o Mestre, o Senhor, cinge a cintura com uma toalha e serve a mesa dos seus discípulos/as, oferecendo sua vida e Vida em abundância. Deixarmos que este convite entre na nossa vida para reconhecer-nos como servos é seguir os passos de Jesus, gastando nossa vida no amor e no cuidado aos outros/as, ao mundo.
O Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis de quem se celebrou a festa nos ajude a viver como ele e louvar a grandiosidade do Amor do Senhor que realiza grandes obras nos pequenos.
Oração
Cântico das Criaturas
Altíssimo e onipotente Bom Senhor
Teus são os louvores, a glória, a honra e toda a benção
A Ti somente, Altíssimo, eles convém
E nenhum homem é digno de te imitar
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as Tuas criaturas
Especialmente o senhor irmão Sol
O qual faz o dia e por ele alumia
E ele é belo, radiante, com grande esplendor de Ti
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Lua
Pelas estrelas que no céu Formaste-as claras preciosas e belas
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento
Pelo ar, pela nuvem, pelo sereno e todo tempo
Pelo qual dá às tuas criaturas o sustento
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água
A qual nos é muito útil, úmida, preciosa e casta
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo
Pelo qual iluminas a noite, ele é belo robusto e forte
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã a mãe terra
A qual nos sustenta, governa e produz diversos frutos,
Flores coloridas e ervas
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã a morte corporal
Da qual nenhum vivente pode escapar
Bendito aquele que se encontra na Tua santíssima vontade
Ao qual a morte não fará mal
Louvai e bendizei o meu Senhor
Agradeça e sirva com grande humildade
Louvai e bendizei o meu Senhor
Agradeça e sirva com grande humildade
Louvai e bendizei o meu Senhor
Agradeça e sirva com grande humildade
Louvai e bendizei o meu Senhor
Agradeça e sirva com grande humildade
Louvai e bendizei o meu Senhor
Agradeça e sirva com grande humildade
Para muitas igrejas, a Palavra proposta para a liturgia do próximo final de semana é Lucas 17,5-10, onde Jesus procura mostrar que "os cristãos são servos de Deus, e que o serviço a Deus não deve ser concebido como fonte de méritos".
Estamos ainda durante a "grande viagem a Jerusalém" (9,51-19,27) com os desafios, exigências e obstáculos no seguimento de Jesus. A viagem reflete o caminho das comunidades cristãs com suas crises e busca de solução aos desafios propostos pelo evangelho.
Lucas reúne, nos primeiros dez versículos deste capítulo, diversos dizeres de Jesus sobre algumas atitudes fundamentais para a vida de quem quer segui-Lo pelo caminho do discipulado. Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes: vv. 5-6 e vv. 7-10.
A força da fé
Em Lucas 17,5-6, os apóstolos pedem ao Senhor: "aumenta-nos a fé!". Jesus responde que não se trata de quantidade, de ter "mais" ou "menos" fé, mas de qualidade. Ela deve ser genuína como a semente que traz em si todas as potencialidades da árvore. Uma fé qualificada com esta potencialidade é capaz de arrancar da terra uma árvore de profundas raízes e plantá-la no mar. É claro que se trata de uma metáfora, mas mostra claramente a força da fé. É uma fé assim que será capaz de reacender a chama e o entusiasmo da comunidade.
Servir desinteressadamente
Nos versículos 7-10, Lucas nos apresenta uma parábola que reflete a prática pastoral de Paulo: "anunciar o evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta. Ai de mim se eu não anunciar o evangelho! Se eu o anunciasse de própria iniciativa, teria direito a um salário; no entanto, já que o faço por obrigação, desempenho um cargo que me foi confiado. Qual é, então, o meu salário? É que, pregando o evangelho, eu o prego gratuitamente sem usar dos direitos que a pregação do evangelho me confere. Embora eu seja livre em relação a todos, tornei-me servo de todos, a fim de ganhar o maior número possível" (1Cor 9,16-19).
A parábola pode chocar um pouco, pois parece justificar a escravidão. Não, Jesus não está justificando a escravidão. Essa era a realidade de seu tempo. Havia muitas pessoas escravas. E Jesus tinha consciência dessa vida de opressão que era imposta a escravos. No entanto, o sistema escravocrata não fazia parte do projeto do reinado de Deus, onde ninguém está acima de ninguém, pois "todos são irmãos" (Mateus 23,8). Em seu programa não há lugar para escravos: "Já não vos chamo escravos, pois o escravo não sabe o que o seu senhor faz. Eu vos chamei amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi de meu Pai" (João 15,15). Este evangelho é herança das comunidades fundadas por Paulo, que entendeu muito bem a proposta de Jesus. Por isso, Paulo pediu com ternura e encarecidamente a Filemon que libertasse o escravo Onésimo (Filemon 16).
Ao contar esta parábola, Jesus quer mostrar, usando um fato da vida daquele tempo, que os cristãos são servos de Deus, e que o serviço a Deus não deve ser concebido como fonte de méritos. A parábola, portanto, deduz que o discípulo não evangeliza por iniciativa própria, mas cumpre um mandato. Não tem consequentemente o que exigir em troca. Jesus, que confia ao discípulo seu projeto, não se sente obrigado a nada quando este cumpre sua obrigação. Esperar elogios ou alguma recompensa não é se tornar solidário, e sim, ambicioso. Melhor é se libertar da ambição de ser recompensado e descobrir a alegria de servir.
A primeira parte do nosso texto é, portanto, constituída por um “dito” sobre a fé (vers. 5-6). Depois das exigências que Jesus apresentou, quanto ao caminho que os discípulos devem percorrer para alcançar o “Reino”, a resposta lógica destes só pode ser: “aumenta-nos a fé”. O que é que a fé tem a ver com a exigência do “Reino”?
No Novo Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé não é, primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstractas sobre Deus; mas é a adesão a Jesus, à sua proposta, ao seu projecto – ou seja, ao projecto do “Reino”. No entanto, os discípulos têm consciência de que essa adesão não é um caminho cómodo e fácil, pois supõe um compromisso radical, a vitória sobre a própria fragilidade, a coragem de abandonar o comodismo e o egoísmo para seguir um caminho de exigência… Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-Lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo “Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta; significa pedir que lhes dê a decisão para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes veio apresentar.
Jesus aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o resultado da “fé”. A imagem utilizada por Jesus (a ordem dada à “amoreira” para se arrancar da terra e ir plantar-se a ela própria no mar) mostra que, com a “fé” tudo é possível: quando se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e determinação, isso implica uma transformação completa da pessoa do discípulo e, em consequência, uma transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com radicalidade é ter na mão a chave para mudar a história, mesmo que essa transformação pareça impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e determinação é capaz de autênticos “milagres”… E isto não é conversa fiada: quantas vezes a tenacidade e a coragem dos discípulos de Jesus transformam a morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em liberdade!
Na segunda parte do nosso texto (vers. 7-10), Lucas descreve a atitude que o homem deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Torah para alcançar a salvação: se o homem cumprisse as regras, Deus não teria outro remédio senão salvá-lo… A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um contabilista, empenhado em fazer contas para ver se o homem tinha ou não direito à salvação…
Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo – desse discípulo que adere a Jesus e ao “Reino”, que faz as “obras do Reino” e que constrói o “Reino” – frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia.
O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer-Lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos.
DOMINGO XXVII DURANTE EL AÑO
– CICLO "C"
1ra. Lectura (Hab 1,2-3; 2,2-4):
Ante todo, notemos que el libro de Habacuc, dentro del género profético, aporta la novedad de una profecía convertida en diálogo entre el profeta y Dios. Así, la primera sección del mismo (1,2-2,4, de la cual la liturgia nos hace leer sólo los versículos iniciales y finales) está estructurada como un diálogo entre el profeta que pregunta y Dios que le responde.
En 1,2-3 tenemos el primer lamento del profeta donde se queja a Dios porque ante la violencia y la injusticia reinante parece ser un espectador desinteresado y no interviene. Hay un triple reproche: ¡no escuchas, no salvas, no juzgas!
En 2,2-4 tenemos la respuesta de Dios ante la segunda queja o lamento del profeta (1,12-17). Aquí hay primero una introducción del profeta que prepara la solemne recepción del mensaje de Dios, el cual debe ser puesto por escrito para verificar su cumplimiento y cuyo núcleo es: el que permanece fiel a Dios se salvará del castigo reservado a los malvados.
En síntesis, el profeta debe superar una serie de obstáculos en su camino de fe. Primero se cuestiona por qué Dios no interviene contra las injusticias eliminando el mal. La respuesta de Dios es que El interviene cuándo y cómo quiere. Esto suscita un nuevo interrogante: ¿es justo que el castigo abarque a buenos y malos sin distinción? La respuesta de Dios es tan importante que se debe escribir para poder verificarla después: “el inocente, por fiarse, vivirá” (2,2-4). La frase de 2,3-4 en la versión de la LXX habla de fe en vez de confianza y, por ello, la toma San Pablo dándole un sentido más profundo para fundamentar la justificación por la fe en contraposición a las obras de la ley (cf. Rm 1,17; Gal 3,11).
En fin, ante la situación de injusticia no se encuentra una solución teórica, pero se la supera con una actitud de fe en Dios quien castigará toda forma de opresión. Así, el Señor es la única fuente de fortaleza y de confianza, a pesar de las circunstancias históricas. Tal vez su mejor mensaje no se encuentre en el contenido sino en su actitud vital de diálogo con Dios.
Evangelio (Lc 17,3b-10):
En 17, 1a se nos informa que Jesús vuelve a hablar ahora a sus discípulos. Lo que sigue (17,1b-10) son una serie de enseñanzas sin aparente conexión entre las mismas: los escándalos, el perdón, la fe y el espíritu de servicio. Pero hay una coherencia entre los mismos pues "en ellos se trata de la vida comunitaria, con las responsabilidades personales y los deberes ministeriales que implica"[1].
El texto litúrgico comienza con el tema del perdón ejemplificado con dos casos (3b-4). En el primero se trata de alguien que peca y debe ser reprendido; y si se arrepiente (verbo metanoéō), debe ser perdonado. En el segundo caso hay una triple diferencia con respecto al primero: peca siete veces en un día, contra ti y no hay reprensión. Se trata, por tanto, de una reiterada ofensa recibida personalmente a la que sigue un arrepentimiento (verbo metanoéō) o pedido de disculpas personal, también reiterado. Ante esto hay que perdonar las siete veces diarias, o sea, siempre; pues se trata de una forma hebrea de expresarse.
Sigue luego una súplica de los apóstoles al Señor: "Auméntanos la fe". Esta petición surgiría de la toma de conciencia de los discípulos ante la magnitud del perdón que exige el Señor. Hay que entenderla como un pedido de ayuda, pues hace falta mucha fe para perdonar siempre. Lo que piden es un aumento o renovación de la confianza (fe) en la Palabra del Señor como para poder aceptar esta exigencia del perdón.
Jesús responde en 17,6 con una comparación a través de la cuál quiere enseñar que basta una fe pequeña para obrar maravillas, como que un árbol se arranque y se plante en el mar a pedido del creyente. "Se entiende que Jesús no capacita a sus discípulos para que realicen a la letra esta clase de cosas, que sólo servirían para entretenimiento en un teatro o un circo. Con esta figura el Señor quiere decir que la fe permite hacer cosas sorprendentes. En este caso, el que tiene fe podrá perdonar siempre"[2].
Por tanto, con esta respuesta Jesús les quiere decir que, más que un añadido o suplemento de fe, lo que necesitan es una fe viva, convencida y convincente. Se trata de la calidad de la fe teologal más que de la cantidad.
Jesús continúa con otro tema. En 17,7-9 les evoca la figura de un señor dueño de un campo y su servidor. Éste último al volver a la casa después de trabajar en el campo, todavía tiene que preparar la cena a su señor. Y haciendo esto está cumpliendo con su deber, con el trabajo acordado y mandado (verbo διατάσσω - diatassō); y el amo no tiene que manifestarle una especial gratitud por ello. Luego aplica esta comparación a la vida de los apóstoles: cumpliendo su ministerio, su servicio apostólico, están cumpliendo con su deber. Para F. Bovon gran parte del vocabulario utilizado aquí tiene claras resonancias con la vida eclesial, por tanto "Lucas espera de los responsables de la Iglesia que cumplan su tarea con celo y fidelidad, sin esperar felicitaciones o recompensa especial alguna. Dios tiene necesidad de hombres y de mujeres, pero juzga inútiles a los que se creen particularmente indispensables"[3]. Es decir, el Señor les pide que no se consideren importantes o imprescindibles en el Reino, sino servidores del único Señor que "realiza todo en todos" (1Cor 12,6).
ALGUNAS REFLEXIONES:
La lectura litúrgica de los textos de este domingo nos invita a priorizar el tema de la fe. En efecto, de la fe se habla explícitamente en la primera lectura del profeta Habacuc, señalándonos así que sobre este mismo tema tenemos que centrarnos en el evangelio de hoy.
Comencemos por la primera lectura que nos plantea crudamente los interrogantes. Ante la presencia del mal en forma de violencia e injusticia y la "aparente" inacción de Dios, el profeta siente tambalear su fe: ¿dónde está Dios? Y si está; ¿por qué no interviene eliminando el mal y haciendo justicia? Es una cuestión de ayer, hoy y siempre.
Lo positivo de la actitud del profeta es que no se evade ni se queda encerrado en su amargura; sino que abre su corazón alterado y confundido a Dios en la oración. Y Dios le responde. El hecho mismo de que Dios responda es ya una gran consolación pues nos confirma que está presente y "comprende" nuestra aflicción. ¿Y cuál es su respuesta? Una invitación a perseverar en la fe, a esperar confiando en Dios. Es decir que en esta fe-confianza-abandono en Dios está la razón para seguir viviendo, para seguir esperando. Muy posiblemente no sepamos dar la razón de por qué tanto mal en el mundo. Pero la mirada de fe nos impulsa a reconocer la presencia de Dios que sigue obrando en nuestra historia y nuestro mundo. Y por eso esperamos.
Tenemos aquí una presentación de la fe en su más pura concepción bíblica: apoyarse en Dios como en la única roca segura que puede sostener una vida, que puede darle sentido por encima de todas las contrariedades que percibimos en el mundo.
Al respecto decía el joven J. Ratzinger: "La fe es un sujetarse a Dios, en quien tiene el hombre un firme apoyo para toda su vida. La fe se describe, pues, como un agarrarse firmemente, como un permanecer en pie confiadamente sobre el suelo de la Palabra de Dios […] Creer cristianamente significa confiarse a la inteligencia que me lleva a mí y al mundo, considerarla como el fundamento firme sobre el que puedo permanecer sin miedo alguno […] La fe es, pues, encontrar un tú que me sostiene y que en la imposibilidad de realizar un movimiento humano da la promesa de un amor indestructible que no sólo solicita la eternidad, sino que la otorga. La fe cristiana vive de esto: de que no existe la pura inteligencia, sino la inteligencia que me conoce y me ama, de que puedo confiarme a ella con la seguridad de un niño que en el tú de su madre ve resueltos todos sus problemas. Por eso la fe, la confianza y el amor son, a fin de cuentas, una misma cosa…"[4].
La búsqueda en la noche del profeta nos recuerda un luminoso párrafo de Lumen Fidei, el nº 57: "La luz de la fe no disipa todas nuestras tinieblas, sino que, como una lámpara, guía nuestros pasos en la noche, y esto basta para caminar. Al hombre que sufre, Dios no le da un razonamiento que explique todo, sino que le responde con una presencia que le acompaña, con una historia de bien que se une a toda historia de sufrimiento para abrir en ella un resquicio de luz. En Cristo, Dios mismo ha querido compartir con nosotros este camino y ofrecernos su mirada para darnos luz. Cristo es aquel que, habiendo soportado el dolor, «inició y completa nuestra fe» (Hb 12,2)".
Pasando al evangelio tenemos también que rescatar (e imitar) la actitud de los discípulos: concientes de su fragilidad natural ante las exigencias de Jesús, le piden al Señor un aumento de fe. Ellos, al igual que Habacuc, recurren también a la oración para superar su sentimiento de impotencia ante las exigencias evangélicas que ponían en crisis su fe.
Notemos que en el evangelio de Lucas la concepción de la fe tiene un matiz propio. La fe (pistis en griego) es ante todo la confianza en que Jesús puede obrar más allá de las posibilidades humanas. Es una confianza activa, que mueve a obrar, a pedir y a esperar de parte del Señor (cf. Lc 5,20; 7,9.50; 8,47; 17,19; 18,42). Y lo que esta fe o confianza alcanza de parte de Jesús es la salvación, el perdón, que sólo Dios puede dar (la expresión: "Tú fe te ha salvado" la dice Jesús 4 veces en Lucas). Lo contrario de la fe es el miedo que bloquea, que genera desesperación (Lc 8,25).
Por tanto, los apóstoles piden un aumento de fe, esto es, poder confiar más en la Palabra de Dios que en su propia visión de la realidad y que en sus propias capacidades. Son conscientes que esta fe es un don de Dios y que deben pedirlo en la oración. Si relacionamos este pedido con las exigencias del perdón que Jesús les terminaba de presentar, la reacción de los apóstoles es bien sensata. Para perdonar siempre se requiere la fe, no basta la razón. Los razonamientos nos pueden motivar el perdón alguna vez, pero no siempre. La fe nos introduce en el modo de ver y de vivir de Dios, quien perdona siempre a los que se arrepienten. Sólo viviendo en la fe podremos estar dispuestos a perdonar siempre superando las resistencias de nuestra afectividad y las objeciones de nuestros razonamientos.
La respuesta de Jesús es que un poco de esta fe, pequeña como un grano de mostaza, puede obtener de Dios lo imposible para los hombres. Y si recordamos el sentido de la fe en Lucas podremos decir que una fe viva puede obtenernos la salvación de Dios, algo imposible de obtener para el hombre por sí mismo.
Al respecto decía el Papa Francisco en su homilía del 2 de octubre de 2016: “«Auméntanos la fe» (Lc 17,6). Es una hermosa súplica, una oración que también nosotros podríamos dirigir a Dios cada día. Pero la respuesta divina es sorprendente, y también en este caso da la vuelta a la petición: «Si tuvierais fe...». Es él quien nos pide a nosotros que tengamos fe. Porque la fe, que es un don de Dios y hay que pedirla siempre, también requiere que nosotros la cultivemos. No es una fuerza mágica que baja del cielo, no es una «dote» que se recibe de una vez para siempre, ni tampoco un superpoder que sirve para resolver los problemas de la vida. Porque una fe concebida para satisfacer nuestras necesidades sería una fe egoísta, totalmente centrada en nosotros mismos. No hay que confundir la fe con el estar bien o sentirse bien, con el ser consolados para que tengamos un poco de paz en el corazón. La fe es un hilo de oro que nos une al Señor, la alegría pura de estar con él, de estar unidos a él; es un don que vale la vida entera, pero que fructifica si nosotros ponemos nuestra parte”.
La enseñanza de Jesús que sigue sobre el servicio podemos relacionarla con lo anterior como sugiere L. H. Rivas[5]: "Si nos sentimos enriquecidos por la fe y nos damos cuenta de que gracias a ella podemos realizar cosas que de otra manera eran irrealizables, es lógico que experimentemos la tentación de creernos más de lo que somos. No hay nada peor que la arrogancia de quien se cree virtuoso. Todos tenemos ejemplos de lo desagradable que resulta aquella persona que hace ostentación de su religiosidad. Por eso Jesús continúa hablando por medio de comparaciones, y después de haber dicho lo que puede hacer el hombre gracias a la fe, nos explica que todo eso se debe vivir con un espíritu de profunda humildad".
Como dice el P. Molinié: "No somos importantes, somos amados".
Podemos todavía dar un paso más pues la fe nos revela nuestra condición de criaturas, de siervos, de servidores. No estamos en condiciones de exigirle nada a Dios. Esta es nuestra verdad, esta es la humildad. Sin embargo, el Señor nos dará gratuitamente lo que le pidamos. Basta tener fe: ¡Felices los servidores a quienes el señor encuentra velando a su llegada! Les aseguro que él mismo recogerá su túnica, los hará sentar a la mesa y se pondrá a servirlo" (Lc 12,37).
Si, como sugiere el vocabulario, este servicio se refiere al ministerio de los apóstoles, a su tarea evangelizadora, Jesús está proponiendo una madurez en su ejercicio. En efecto, podemos decir del apostolado lo que F. Nemeck y M. Coombs[6] dicen de la oración: que en los comienzos se vive como un deber, una obligación; luego casi como un placer, con entusiasmo y consolación; y por fin, luego de un período de purificaciones y aridez, en la madurez, como una necesidad interior, vital. Así vivió San Pablo su misión evangelizadora: "Predicar el Evangelio no es para mí ningún motivo de gloria; es más bien un deber que me incumbe. ¡Ay de mí si no predico el Evangelio! Si lo hiciera por propia iniciativa, ciertamente tendría derecho a una recompensa. Mas si lo hago forzado, es una misión que se me ha confiado" (1Cor 9,16-17). Vale decir que Pablo ha llegado a la madurez de reconocer que todo lo ha recibido de Dios por Jesús y, por ello, ninguna motivación externa lo mueve a predicar esa buena noticia que le ha cambiado su vida. Su vida se ha identificado con su misión. Vive de fe.
Y a esta madurez estamos llamados todos los cristianos, tal como enseñaba el beato Card. H. Newman y nos lo recordaba el Papa Benedicto XVI en la homilía de la misa de su beatificación: "Newman nos ayuda a entender en qué consiste esto para nuestra vida cotidiana: nos dice que nuestro divino Maestro nos ha asignado una tarea específica a cada uno de nosotros, un “servicio concreto”, confiado de manera única a cada persona concreta: «Tengo mi misión», escribe, «soy un eslabón en una cadena, un vínculo de unión entre personas. No me ha creado para la nada. Haré el bien, haré su trabajo; seré un ángel de paz, un predicador de la verdad en el lugar que me es propio... si lo hago, me mantendré en sus mandamientos y le serviré a Él en mis quehaceres» (Meditación y Devoción, 301-2)”.
Al respecto decía el Papa Francisco en su homilía del 2 de octubre de 2016: “Por tanto, no estamos llamados a servir sólo para tener una recompensa, sino para imitar a Dios, que se hizo siervo por amor nuestro. Y no estamos llamados a servir de vez en cuando, sino a vivir sirviendo. El servicio es un estilo de vida, más aún, resume en sí todo el estilo de vida cristiana: servir a Dios en la adoración y la oración; estar abiertos y disponibles; amar concretamente al prójimo; trabajar con entusiasmo por el bien común”.
En síntesis, el evangelio va más allá de la primera lectura donde la fe es un esperar confiando en que Dios actuará. Jesús dice que la fe nos mueve a obrar, incluso acciones que nos superan humanamente, porque el Señor obrará en nosotros y por medio de nosotros. Por eso la obra del hombre es un servicio, un ministerio, una misión o tarea encomendada; y nosotros somos solo humildes servidores en la viña del Señor.
Se trata, en el fondo, de no buscarse a sí mismo en los servicios que se prestan a Dios; y para llegar a esto hay que pedir un aumento de fe; y también de caridad.
En fin, en este mes misionero extraordinario, pidamos al Señor para todos los bautizados un aumento de fe para para ser testigos de la misma ante el mundo; y la humildad necesaria para vivir con responsabilidad la misión que el Señor nos ha encomendado.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Tu Deber
Cuando haya hecho lo que me mandes
Y venga cansado de la faena
En tu Mesa encuentre servido Banquete
Digno del Rey de reyes.
Inmerecida paga para un siervo
Con tan poca destreza:
Apenas dejarse llevar por su amo
Para arrojar unas semillas en la tierra.
Ni mirar lo sembrado ni velar por la cosecha
Solo a esperar ser llamado
Para ofrecer lo que no es suyo
Lo que le fue donado por herencia.
“¡Sin pretensiones!”, nos enseñas.
Un siervo o un rey, no hay diferencia.
En el peregrinar humano somos todos obreros
Y Tú el dueño de nuestra pobreza.
En el corazón llevemos tu Deber,
La Fuerza de tu Espíritu
La Luz de tu Palabra
Y la FE. Amén
[1] F. Bovon, El evangelio según san Lucas III (Sígueme; Salamanca 2004) 169.
[2] L. H. Rivas, La obra de Lucas. I. El Evangelio (Ágape; Buenos Aires 2012) 164.
[3] El evangelio según san Lucas III (Sígueme; Salamanca 2004) 180.
[4] J. Ratzinger, Introducción al cristianismo (Sígueme; Salamanca 1982) 48.52.57-58.
[5] Jesús habla a su pueblo. Ciclo C (CEA; Buenos Aires 2000) 192.
[6] Cf. Nuestra trayectoria espiritual (EDE; Madrid 1988) 56-57.