17/11/2024
LINK AUXILIAR:
1ª Leitura: Daniel 12,1-3
Salmo Responsorial 15(16)R- Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!
2ª Leitura: Hebreus 10,11-14.18
Evangelho de Marcos 13,24-32
"24.“Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor; 25.cairão os astros do céu e as forças que estão no céu serão abaladas. 26.Então, verão o Filho do Homem voltar sobre as nuvens com grande poder e glória. 27.Ele enviará os anjos, e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até a extremidade do céu. 28.Compreendei por uma comparação tirada da figueira. Quando os seus ramos vão ficando tenros e brotam as folhas, sabeis que está perto o verão. 29.Assim também quando virdes acontecerem essas coisas, sabei que o Filho do Homem está próximo, às portas. 30.Em verdade vos digo: não passará esta geração sem que tudo isso aconteça. 31.Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. 32.A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai."
Mc 13,24-32
A linguagem usada por Jesus pode nos assustar. Sua intenção, porém, é colocar em nós a semente de uma esperança que supera todas as desesperanças.
Todos os anos nos deparamos com esta página obscura do Evangelho: “o sol escurecerá e a lua perderá o seu clarão, as estrelas cairão do céu e as potências celestes serão abaladas”. Se nós parássemos de ler por aqui a explicação seria até fácil: Jesus está falando do fim do mundo e do fim da história, da sua segunda vinda, agora em toda a sua glória, como juiz dos vivos e dos mortos. trata-se de um acontecimento distante, bem longe de nosso tempo e que ninguém sabe quando acontecerá: “quanto àquele dia ou hora, ninguém tem conhecimento, nem os anjos do céu, nem mesmo o Filho, somente o Pai”.
Mas se continuarmos lendo o Evangelho, a palavra de Jesus nos põe bruscamente muito perto do fim do mundo: “Em verdade vos digo: esta geração não passará até que tudo isso aconteça”.
Há grupos religiosos que fazem da espera do fim o centro da própria mensagem. É um meio poderoso para alimentar a fantasia de pessoas inclinadas ao fanatismo. Alguns deles andam de casa em casa, incutindo medo com o anúncio do fim do mundo para breve. Há alguns pregadores, profetas das desgraças, que até fizeram previsões e fixaram datas.
Nós devemos reconhecer com humildade: ninguém, nem a Igreja soube ainda explicar com clareza este discurso de Jesus sobre o fim. Será que Jesus tinha a intenção de que não fossem compreendidos? Absolutamente não! Jesus falou para que entendamos, mas nós perdemos, em algum momento, a chave para abrir o significado inserido na sua linguagem simbólica e apocalíptica. Nossa antena para captar o sentido da mensagem enviada por Jesus está um pouco defeituosa e por isso nem sempre conseguimos entender bem o que Jesus disse.
O primeiro problema de nossa antena defeituosa é que ela capta muita estática: em vez de captar o fato que vai acontecer, ela recebe o ruído do tempo que irá acontecer. Nossa atenção deve se concentrar no fato futuro e não no tempo em que o fato se dará.
O segundo defeito de nossa antena é que ela recebe muita interferência e por isso confundimos o fim “de um” mundo com o fim “do” mundo. A humanidade já passou pelo fim de um mundo. Na verdade, passou por vários fins intramundanos. Penso que também nós passamos pelo fim “de um” mundo. Os pensadores e os formadores de opinião falam sempre desse fim com palavras mais elaboradas: mudança de paradigma, nova civilização, revolução tecnológica, etc. Todos esses fins, porém, não foram o fim do mundo! Por isso, precisamos evitar as interferências de nossa antena defeituosa: Jesus não fala de um fim intramundano, mas “do” fim definitivo.
Conscientes de nossa antena defeituosa, precisamos aponta-la para o que Jesus quis nos ensinar. Procuremos formular isso. Assim como o Senhor veio uma primeira vez, revestido de fragilidade, Ele virá uma segunda vez, revestido de poder e glória. Essa sempre foi a pregação da Igreja, desde os Apóstolos até hoje.
Deus decretou não somente dar-nos um mundo melhor, mas um “novo céu e uma nova terra”. Para que venha o novo céu e a nova terra é preciso que passe a terra e o céu atuais. Esse é o sentido da descrição inicial do evangelho de hoje. O “sol escurecerá”, já não dará luz nem calor ao mundo. A “lua perderá o seu clarão”, ela se apagará para sempre. “As estrelas cairão do céu”, uma depois da outra elas desaparecerão do céu. O mundo que parecia tão estável, tão durável, tão imenso irá desmoronar: essas potências do céu “serão abaladas”.
No meio de toda essa escuridão aparecerá o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. O novo céu e a nova terra são o próprio Jesus! Com a sua vinda, não haverá outras potências ou impérios. Ninguém, nem nada irá fazer sombra a Ele, que tudo iluminará. Ele reunirá dos quatro cantos da terra os seus eleitos!
É nesse momento que se revelará a realidade! Veremos o valor último do amor. Será feita justiça a todas a vítimas inocentes. Veremos finalmente que viver e trabalhar por um mundo mais humano, mais conforme a vontade de Deus, valeu a pena. O céu e a terra passarão, mas as palavras de Jesus não passarão!
Em uma palavra: o Reino de Deus está próximo! Para ver o Reino não precisamos de telescópio, pois ele está próximo. Podemos vê-lo a olho nu, presente em Cristo Ressuscitado e presente, de modo subordinado e mediado, na Igreja.
Nós podemos ver o Reino! Mais ainda podemos entrar nele e a ele pertencer. Os pobres, as crianças, os famintos, os puros de coração, os perseguidos por causa da justiça, os mansos, os construtores da paz já estão na posse dele. É como dizer: o fim já começou; o futuro já se fez presente graças à morte e ressurreição de Jesus. O Reino não é realidade distante e futura. Está disponível aqui e agora!
Ao mesmo tempo, porém, o Reino está por vir. Deve vir na sua forma definitiva. Será inaugurado com a Juízo universal que marcará a passagem desta terra e deste céu para o “novo céu e a nova terra” onde habitará a justiça, quando serão enxugadas todas as lágrimas e seremos revestidos com trajes de festa em vez da mortalha do luto.
Eis a grande lição do Evangelho de hoje: Jesus já veio uma primeira vez e inaugurou o Reino: nele nós podemos entrar e sermos desde já filhos do Reino com uma vida nova segundo o Evangelho. Uma segunda vinda de Jesus é, portanto, uma promessa, não uma ameaça. Somente é ameaça para os que não querem que a situação atual de injustiça mude e acabe. Incute medo somente para os que estão apegados a este mundo, porque se aproveita de sua injustiça. Os que gemem e choram neste vale de lágrimas, ao contrário, clamam com desejo: Maranatá! Vem, Senhor Jesus!
Santo Agostinho comentou: Se temêssemos pela vinda do Senhor, que tipo de amor seria o nosso? (En. In Ps. 95,14).
33º Dom TComum – Mc 13, 24-32 – Ano B – 17-11-24
“Quando os ramos da figueira ficam tenros e as folhas brotam, sabeis que a primavera está próxima”
A natureza se renova continuamente através dos brotos; muitas vezes nos fixamos na velha árvore e temos a sensação de que ela está morta. Mas, de repente, das profundezas das raízes, uma nova seiva vai emergindo, fazendo aparecer novos brotos que apontam para os frutos vindouros.
O que a vida cristã precisa claramente, neste momento de desânimo e de abatimento, não é resignação diante do contexto no qual vivemos, mas de vida e vitalidade. Precisamos alimentar a esperança para empreender novos caminhos com entusiasmo renovado e sem temor.
O seguimento de Jesus, mais que prudência, conformidade ou conservadorismo que pretende preservar as coisas do passado em lugar de sua sabedoria, requer audácia, precisa de membros adultos que resistam ao envelhecimento da vida, e jovens que resistam ao envelhecimento da alma.
Muitas vezes, onde deveria reinar a ousadia, reina a resignação e a passividade, onde deveria reinar a criatividade, reina a repetição doentia, onde deveria reinar a “narrativa” da vida de Jesus, reina a doutrina pesada e o legalismo estéril. A tentação consiste em fazer da sobrevivência a nossa máxima aspiração, em vez de vivermos a vida plenamente, com toda profundidade e o entusiasmo que nossa vocação cristã exige.
A capacidade de arriscar situa a vida cristã deste tempo perante o desafio de confiar ao máximo em Deus. A capacidade de arriscar é a virtude que fará a ponte entre a vida cristã atual e a que está para vir.
Pertencer a uma antiga instituição não é desculpa para não ter ideias jovens e não fazer coisas novas.
Ao contrário, é precisamente a idade da instituição que exige isso. É a virtude de viver plenamente até a morte que se exige da vida cristã atual, se quisermos que os brotos voltem a surgir.
É a virtude do risco que precisamos alimentar de novo: risco nos mais velhos que acreditam que os grandes riscos de sua vida já tinham passado; e risco nos novos membros que pensam que uma vida fundada no seguimento de Jesus e no serviço é uma vida sem nenhum risco.
A revitalização do seguimento de Jesus não consiste em redefinir suas formas, sua doutrina, seus dogmas, seus ritos... senão em reavivar seu significado, seu direito a continuar tendo sentido diante das novas inquietudes e das realidades atuais.
O mundo que está mudando ao nosso redor provoca mudanças em nós também. O importante é que cheguemos a “ser” o que devemos ser num mundo que nos arrasta com ele.
“Eu não teria gostado de viver sem haver inquietado alguém alguma vez” (Catherine de H. Doherty)
A questão é se a vida cristã provoca e inquieta o suficiente em nosso atual momento. A verdadeira questão é esta: na velha árvore do cristianismo, ainda surgem brotos para suscitar a energia necessária a fim de tornar mais autêntico o nosso compromisso com o Reino?
Estamos num tempo de mudança, mas também emocionante e santo, para a vida cristã.
Há uma poderosa seiva presente por debaixo das raízes. O único que temos a fazer é não impedir o seu deslocamento em direção aos ramos, para que novos brotos de vida possam aparecer. A impressão que temos é que a vida cristã parece ter muito mais “galhos secos e sem vida” do que folhagem e frutos novos.
Por isso, de tempos em tempos precisamos passar por “abalos sísmicos”, tanto no nível interno de nossas vidas quanto na instituição eclesial, para derrubar o que está seco e caduco e deixar emergir o broto vital, que alimenta nossa esperança e abre um horizonte de sentido.
O “sol” do ego inflado precisa se esvaziar no escurecimento; a “lua” da vaidade precisa deixar de brilhar para si mesma; as “estrelas” do auto-brilho precisam cair... É do meio do “cosmos”, interno e institucional, renascido e reordenado, que poderá emergir o “Filho do Homem”.
Sabemos que o ciclone tem uma violência enorme e gira velozmente, mas seu centro é calmo, imóvel.
É preciso retornar ao centro do ciclone onde está o “Filho do Homem”, onde está o coração, onde está o Cordeiro. Esta vida nova está no centro da situação que vivemos, no centro desse mundo que é o nosso.
É a partir do interior que algo pode mudar.
O evangelho deste domingo tem profundas ressonâncias apocalípticas, ou seja, uma revelação, um des-velamento, um des-nudamento dos múltiplos véus que revestem o palco, lúdico e trágico, da encenação do drama humano, com suas contradições, incertezas, promessas e esperanças.
Devido às imagens que este gênero literário utiliza, com frequência atribui-se ao termo “apocalipse” um significado de “catástrofe” ou “destruição”. A realidade, no entanto, é diferente. Etimologicamente “apo-kalypsis” significa “destapar o que está escondido”, “tirar o véu”, “des-velar”, ou seja, “re-velação”.
Assim pois, etimologicamente, “apocalipse” equivale a “verdade” (“aletheia” = sem véu). E, como consequência, o escrito apocalíptico pretende “retirar o véu” que nos impede reconhecer as coisas como são, ou seja, revelar-nos o que se encontra por debaixo da superfície, em um nível mais profundo. É como se o autor do evangelho quisesse nos dizer: “as coisas não são o que parecem ser”.
Em cada momento histórico o texto do Apocalipse é lido e interpretado em função dos acontecimentos. Este gênero literário é uma luz que nos ajuda a “ler” a realidade (interior e exterior), desvelando tudo o que acontece nela e assim poder assumir uma atitude mais coerente com a proposta do Evangelho.
Nesse sentido, podemos “ler” o texto do evangelho como se escutasse um sonho revelador.
O Apocalipse, portanto, é um empenho da comunidade cristã em dar sentido a tudo o que está acontecendo, reencontrando sua dignidade no coração das situações mais difíceis.
A revelação que ocorre no interior de cada um e na realidade que nos envolve é o des-velar (tirar o véu) de uma Presença. No centro de nossa solidão e de nosso exílio não estamos sozinhos, mas temos a visão de Alguém, que vem ao nosso encontro.
A partir de um imaginário “catastrofista”, o evangelho aponta à esperança, exige atenção e responsabilidade com os sinais menores e cotidianos para indicar que o presente tem futuro, porque Deus não abandona a criação e a humanidade mais ferida; Ele está enraizado no mais profundo dela como uma potência surpreendente que pede nossa responsabilidade e ousadia.
Na verdade, os discursos escatológicos e os anúncios apocalípticos, apesar de sua aparência, são sempre um chamado à esperança. Esperança que não é uma projeção para um futuro incerto e que serve para fugir do presente ou para poder “suportá-lo”.
A autêntica esperança, no entanto, não só não nos afasta do presente, senão nos enraíza nele. Porque, realmente, só há uma esperança: aquela que corresponde ao desejo de viver intensamente o “Agora”. Essa é a única coisa que aspiramos: reconhecer-nos e viver na Plenitude do que é, no presente pleno, na presença que somos. Presente que se abre ao novo futuro. E para este “novo tempo” nos dirigimos quando nos permitimos viver no coração do presente, quando nos deixamos encontrar por ele. Presente carregado de uma Presença providente.
Para meditar na oração:
Como muitos mestres e mestras, cujas vidas são testemunhas da esperança, nos perguntamos:
- É possível “esperançar” quando sinto que a realidade é um “beco sem saída”?
- Como “esperançar” em meio a tanta violência, destruição, preconceito, indiferença?
- Qual tem sido meu suporte e ajuda nesses momentos da vida e como posso oferecê-lo aos
outros?
- Que ou quem me ajudou a despertar a esperança nos momentos mais obscuros?
A grande pergunta que fica é esta: o que vai acontecer depois da destruição de Jerusalém? Será que o mundo vai acabar? Será que a história vai continuar? Jesus responde com imagens tiradas da profecia de Daniel (Dn 7,1-14). Daniel diz que, depois das desgraças causadas pelos reinos deste mundo, virá o Reino de Deus. Os reinos deste mundo, todos eles, têm figura de animal: leão, urso, pantera e besta-fera (Dn 7,3-7). São reinos animalescos, desumanizam a vida, até hoje! O Reino de Deus, porém, aparece com o aspecto de Filho do Homem, isto é, com aspecto de gente (Dn 7,13). É um reino humano. Construir este reino que humaniza é a tarefa do povo das comunidades. É a nova história que devemos realizar e que deve reunir gente dos quatro cantos do mundo.
Marcos 13, 28-32: No fim, Jesus dá três conselhos:
Primeiro, com a parábola da figueira. É como se dissesse: "Aprendam das árvores como ler os sinais dos tempos para descobrir onde Deus está atuando e chagando!" (Mc 13,28-31). Em seguida, fala bem claramente sobre o dia e a hora do fim do mundo: "Quanto a esse dia e essa hora, ninguém sabe nada, nem os anjos, nem o Filho, mas somente o Pai!" (Mc 13,32). Finalmente, uma última advertência de vigilância. "O que digo a vocês, digo a todos: fiquem bem vigilantes!" (Mc 13,33-37).
Alargando
A vinda do Messias e o fim do mundo
Hoje, muita gente vive preocupada com o fim do mundo. Alguns, lendo o Apocalipse de João, chegam a predizer a data exata do fim. Durante muitos séculos se dizia: "De 1000 passou, mas de 2000 não passará!" Por isso, na medida em que o ano 2000 chegava mais perto, muitos ficavam preocupados. Teve até gente que, angustiada com a chegada do fim do mundo, chegou a cometer suicídio. Mas o ano 2000 passou e nada aconteceu. O fim não chegou! A mesma problemática havia nas comunidades cristãs dos primeiros séculos.
Elas viviam na expectativa da vinda iminente de Jesus. Jesus viria realizar o Juízo Final para encerrar a história injusta do mundo cá de baixo e inaugurar a nova fase da história, a fase definitiva do Novo Céu e da Nova Terra. Achavam que isto aconteceria dentro de uma ou duas gerações. Muita gente ainda estaria viva quando Jesus fosse aparecer glorioso do céu (1Ts 4,16-17; Mc 9,1). Havia até pessoas que já nem trabalhavam mais, porque achavam que a vinda fosse coisa de poucos dias ou semanas. Assim pensavam. Mas até hoje a vinda de Jesus ainda não aconteceu! Como entender esta demora? Nas ruas das cidades, a gente vê pintado nas paredes "Jesus voltará!" Vem ou não vem? E como será a vinda?
Muitas vezes, a afirmação "Jesus voltará!" é usada para meter medo nas pessoas e obrigá-las a frequentar uma determinada igreja! No Novo Testamento, porém, a volta de Jesus sempre é motivo de alegria e de paz! O medo é para os que oprimem e exploram o povo. Para os explorados e oprimidos, a vinda de Jesus é uma Boa Notícia!
Quando vai acontecer essa vinda? Entre os judeus, as opiniões eram variadas. Os saduceus e os herodianos diziam: "Os tempos messiânicos já chegaram!" Achavam que o bem-estar deles durante o governo de Herodes fosse expressão do Reino de Deus. Por isso, não queriam mudança e combatiam a pregação de Jesus que convocava o povo a mudar e a converter-se. Os fariseus diziam: "O Messias ainda deve chegar! Vai depender do nosso esforço na observância da lei!" Os essênios diziam: "O Reino prometido só chegará quando tivermos purificado o país de todas as impurezas."
Entre os cristãos havia a mesma variedade de opiniões. Alguns da comunidade de Tessalônica na Grécia, apoiando-se na pregação de Paulo, diziam: "Jesus vai voltar logo!" (1Ts 4,13-18; 2Ts 2,2). Paulo responde que não é tão simples como eles imaginavam. E aos que já não trabalhavam avisa: "Quem não quiser trabalhar não tem direito de comer!" Provavelmente, eram uns preguiçosos que, na hora do almoço, iam mendigar a comida na casa do vizinho. Outros cristãos eram de opinião que Jesus só voltaria depois que o evangelho fosse anunciado no mundo inteiro (At 1,6-11). E achavam que, quanto maior o esforço de evangelizar, mais rápido viria o fim do mundo. Outros, cansados de esperar, diziam: "Ele não vai voltar nunca!" (1Pd 3,4). Outros, baseando-se em palavras do próprio Jesus, diziam acertadamente: "Ele já está o meio de nós!" (Mt 25,40).
Hoje acontece o mesmo. Tem gente que diz: "Do jeito que está, está bem, tanto na Igreja como na sociedade!" Eles não querem mudança. Outros esperam pela volta imediata de Jesus. Outros acham que Jesus só voltará através do nosso trabalho e anúncio. Para nós, Jesus já está no nosso meio (Mt 28,20). Ele já está do nosso lado na luta pela justiça, pela paz, pela vida. Mas a plenitude ainda não chegou. Por isso, aguardamos com firme esperança a libertação plena da humanidade e da natureza (Rm 8,22-25).
Texto extraído do livro CAMINHANDO COM JESUS - Círculos Bíblicos do Evangelho de Marcos (2ª parte) - Coleção A Palavra na Vida 184/185. Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes.
O melhor conhecimento da linguagem apocalíptica, construído de imagens e recursos simbólicos para falar do fim do mundo, permite-nos hoje escutar a mensagem de esperança de Jesus sem cair na tentação de semear angustia e terror nas consciências.
Um dia, a história apaixonante do ser humano sobre a terra chegará ao seu final. Esta é a convicção firme de Jesus. Esta é também a previsão da ciência atual. O mundo não é eterno. Esta vida terminará. Que vai ser das nossas lutas e trabalhos, dos nossos esforços e aspirações?
Jesus fala com sobriedade. Não quer alimentar nenhuma curiosidade mórbida. Corta pela raiz qualquer tentativa de especular com cálculos, datas ou prazos. «Ninguém sabe o dia ou a hora…, só o Pai». Nada de psicoses ante o final. O mundo está em boas mãos. Não caminhamos para o caos. Podemos confiar em Deus, nosso Criador e Pai.
A partir desta confiança total, Jesus expõem a Sua esperança: a criação atual terminará, mas será para deixar passagem a uma nova criação, que terá por centro a Cristo ressuscitado. É possível acreditar em algo tão grandioso? Podemos falar assim antes ter ocorrido algo?
Jesus recorre a imagens que todos podem entender. Um dia o sol e a lua que hoje iluminam a terra e tornam possível a vida irão apagar-se. O mundo ficará às escuras. Irá apagar-se também a história da humanidade? Terminarão assim as nossas esperanças?
Segundo a versão de Marcos, no meio dessa noite poderá ser visto o «Filho do homem», ou seja, a Cristo ressuscitado, que virá «com grande poder e glória». A Sua luz salvadora iluminará tudo. Ele será o centro de um mundo novo, o princípio de uma humanidade renovada para sempre.
Jesus sabe que não é fácil acreditar nas Suas palavras. Como pode provar que as coisas acontecerão assim? Com uma simplicidade surpreendente convida a viver esta vida como uma primavera. Todos conhecem a experiência: a vida que parecia morta durante o inverno começa a despertar; nas ramas da figueira brotam de novo pequenas folhas. Todos sabem que o verão está próximo.
Esta vida que agora conhecemos é como a primavera. Todavia não é possível colher. Não podemos obter realizações definitivas. Mas há pequenos sinais de que a vida está em gestação. Os nossos esforços por um mundo melhor não se perderão. Ninguém sabe o dia, mas Jesus virá. Com a sua vinda irá revelar-se o mistério último da realidade, que os crentes chamamos Deus. A nossa história apaixonante chegará à sua plenitude.
“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”
Este texto nos apresenta diversas dificuldades de interpretação, pois está saturado com conceitos apocalípticos, referências veladas a possíveis eventos históricos, e referências tiradas de escritos do tempo do Antigo Testamento, muitas das quais desconhecidas para nós. Porém a sua mensagem central fica clara – o triunfo final do Filho do Homem, mandando por Deus para estabelecer o seu Reino. A linguagem vetero-testamentária de sinais cósmicos, a figura do Filho do Homem e a reunião dos eleitos de Deus são unidas em um contexto novo, em que a vinda escatológica de Jesus como Filho do Homem se torna o evento central. A sua vinda gloriosa no fim dos tempos servirá como prova da vitória de Deus – e a expectativa desta chegada serve como base da vigilância paciente que é recomendada aos discípulos ao longo de todo o Discurso Escatológico de Marcos.
Os sinais cósmicos que antecederão o fim fazem referência a textos do Antigo Testamento: Is 13, 10, Ez 32,7; Am 8,9; Jl 2,10.31; 3,1.5; Is 34,4; Ag 2,6.21; Mas nenhum texto do Antigo Testamento se refere à vinda do Filho do Homem – esta é uma novidade do Evangelho. A lista desses sinais é uma maneira de dizer que toda a citação assinalará a sua vinda final. A descrição da chegada do Filho do Homem, rodeado das nuvens, é tirada do livro de Daniel 7,13, mas aqui se refere claramente a Jesus e não à figura angélica “em forma humana” do livro apocalíptico de Daniel. A ação de Jesus em reunir os eleitos é o oposto de Zc 2,10. Este reunir-se dos eleitos do seu povo por parte de Deus se encontra em Dt 30,4; Is 11,11.16; 27,12. Ez 39,7 etc. – mas nunca é o Filho do Homem que faz esse trabalho no Antigo Testamento.
A segunda parte do texto consiste em uma parábola (vv. 28-29), um ditado sobre a hora do fim (v 30), sobre a autoridade de Jesus (v. 31) e de novo sobre a hora (v 32). Nem sempre fica claro a que se refere – o que se fala sobre essas coisas acontecerem “nessa geração” tem como contrabalanço o v. 32 que diz que somente Deus sabe a hora exata. A parábola sobre os sinais claros da chegada do fim (vv. 28-29) tem em contraposição a parábola da vigilância constante (vv. 33-37). Mas continua clara a mensagem básica – a vitória final do projeto de Deus, concretizada através de Jesus, o Filho do Homem. Mas a certeza dessa vitória não dispensa a atitude de vigilância constante por parte dos discípulos, para que não se desviem do caminho.
Pode parecer confuso o nosso texto – e para nós hoje, de certa forma, o é. Mas, se inserido no contexto do Discurso Escatológico (referente aos tempos finais) do Evangelho, nos traz uma mensagem de esperança e uma advertência. A esperança nasce do fato de que a vitória de Deus é garantida – um elemento fundamental em todo apocalipticismo. A advertência está na necessidade de vigilância constante, para que não percamos a hora do Filho. Em um mundo de desesperança e falta de ânimo por parte de muitos, o texto convida a nós, os discípulos, a uma atitude positiva que nos leve a um engajamento maior em prol da construção do Reino entre nós. Mas também nos desafia para que estejamos sempre vigilantes para não sermos cooptados pela sociedade vigente, opressora e consumista, que muitas vezes se baseia em princípios contrários aos do Reino de Deus. As palavras de Jesus têm um valor permanente, para que possamos julgar as diversas propostas de vida que o mundo nos apresenta. “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.
Os textos da liturgia deste domingo são um convite à esperança, após ter havido momentos e situações de dificuldade, de escuridão e de desassossego. É um chamado a não se deixar abater pela morte ou por inquietações. Pelo contrário, é um apelo a abrir-se mais confiadamente ao Filho do Homem que virá cheio de poder e glória e vai mudar a noite do mundo numa aurora de vida que não terá fim.
O capítulo 13 do evangelho de Marcos foi denominado como “discurso escatológico”. A cena situa-se em Jerusalém, onde estão Jesus e seus seguidores. Ele continua ensinando e oferece-lhes o ensino que ficou conhecido como discurso escatológico.
Lembre-se de que o Evangelho de Marcos foi o primeiro evangelho escrito e é fundamental não somente para conhecer mais quem é Jesus, mas também porque motiva e gera confiança nele como Filho de Deus que vem para trazer a verdadeira vida e liberdade. Uma justiça largamente esperada. No momento que o texto é redigido, as comunidades sofriam perseguições, muitos discípulos e discípulas foram martirizados. Era preciso fortalecer a fé e a esperança das comunidades cristãs e convidá-las a colocar seu olhar para além do imediato. A pergunta que subjaz é: o que vai acontecer depois da morte? Tudo acaba?
No trecho do evangelho que lemos hoje, percebe-se uma linguagem profético-apocalíptica, com imagens e referências simbólicas e até enigmáticas. Jesus utiliza essa linguagem para falar do período que vai desde a morte de Jesus até o final da história humana. A palavra apocalipse significa revelação. É o desvelamento de uma realidade que está oculta, como um segredo escondido. No Antigo Testamento, usa-se para falar do fim de uma realidade geralmente de opressão e do início de uma nova situação que vai acontecer.
A pergunta que está subjacente é: quando acontecerá isso, quais são os sinais que aparecerão para saber que acontecerá? Jesus responde não somente para a comunidade de Marcos, mas para todos os cristãos de todos os tempos.
Junto com o grupo dos que estão perto de Jesus, nos colocamos também cada um e cada uma de nós para escutar suas palavras. Num primeiro momento descreve aquilo que vai morrer, desaparecer, cair, não existir mais... Mas não é esse o fim! Pelo contrário, é o começo de uma nova realidade que será visível e que virá sobre “as nuvens com grande poder e glória”. É a vinda do Filho do Homem que “enviará os anjos dos quatro cantos da terra e reunirá as pessoas que Deus escolheu”.
Nas palavras de Jesus, percebemos que Deus intervém na história de uma forma definitiva! Não sinala o fim, como algo que acaba, senão marca o começo de uma nova realidade. É uma mensagem destinada às comunidades de todos os tempos e no seu discurso Jesus oferece as indicações necessárias para viver seguindo seu caminho.
Como reconhecer a vinda do Filho do Homem que virá instaurar o novo céu e a nova terra?
Jesus usa a imagem da figueira para explicar sua mensagem: “Aprendam, portanto, a parábola da figueira: quando seus ramos ficam verdes, e as folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está perto”.
Num primeiro momento é preciso estar numa atitude de aprendiz, é a atitude da pessoa que não conhece, mas sabe que deve ser instruída e formada. Somente assim as palavras de Jesus têm sentido não somente para a comunidade do primeiro século do cristianismo, mas também para cada uma das nossas comunidades. Jesus convida-nos a ter uma atitude atenta, vigilante para descobrir assim sua presença no meio de nós.
Jesus convida-nos à vigilância, a ter coragem para não nos deixar desanimar pelas diferentes dificuldades que podem acontecer. É necessário ficar atentos, estar ligados para redescobrir nos acontecimentos do dia a dia os apelos de Deus presente no meio de nós.
Quais são hoje os sinais que nos rodeiam e que escondem o convite e o chamado a descobrir a vinda do Filho do Homem? Acreditamos que ele está atuando neste mundo, neste momento histórico? Acreditar que o Senhor está presente na história é um apelo a caminhar sem baixar os braços, com a confiança posta no Senhor, que leva adiante seu projeto. Ninguém sabe o dia nem a hora, mas ele está presente e é preciso distinguir e discernir os sinais da sua presença no mundo, na Igreja, nos acontecimentos do dia a dia.
Continuamente os jornais nos informam sobre mortes, assassinatos, catástrofes, quase como um convite a viver na desesperança! Mas neste domingo somos chamados/as a ter um olhar atento, vigilante, e não desanimar, mas pelo contrário, descobrir os ramos verdes e as folhas que começam a brotar, e acrescentar nossa esperança para contribuir com nossa vida na construção do Reino, que brota como as folhas da figueira quando se aproxima o verão.
Quais são os sinais de vida que hoje estão presentes na nossa Igreja apesar das dores e dificuldades em razão das infidelidades, das atrocidades dentro da mesma instituição?
Anne Marie Pelettier, referindo-se à Carta do Papa Francisco ao povo de Deus , pede que repensemos radicalmente nossa visão da instituição. “Precisamos imaginar uma Igreja com várias vozes que evidentemente incluirá as vozes das mulheres. Elas têm um relacionamento diferente com o poder do que os homens, o que poderia inspirar de forma útil a igreja institucional”. (Texto completo: Repensando a Igreja com múltiplas vozes. Artigo de Anne-Marie Pelletier)
É verdade que a obstinação do papa Francisco desde a sua eleição em invocar e comunicar “a alegria do Evangelho” pode parecer totalmente irreal no presente. Mas é isso que nos permite mergulhar fundo o suficiente no Evangelho, exatamente para enfrentar a situação atual.
Peçamos ao Espírito luz e sabedoria para descobrir sua presença no meio de nós e que as dificuldades não apaguem a vida que brota silenciosamente em tantas pessoas.
Guiados/as pela sua Palavra que saibamos reconhecer sua vida que sempre está presente, latejando até nos lugares mais inóspitos!
Muito maior que a morte é a vida.
Um poeta sem orgulho é um homem de dores,
muito mais é de alegrias.
A seu cripto modo anuncia,
às vezes, quase inaudível
em delicado código:
‘Cuidado, entre as gretas do muro
está nascendo a erva...’
Que a fonte da vida é Deus
há infinitas maneiras de entender.
Adélia Prado
(Traduzido pelo Tradutor Google automaticamente sem correção nossa, podendo, pois, haver alguma palavra com tradução incompleta)
1
DOMINGO XXXIII DO ANO – CICLO “B”
Primeira Leitura (Dn 12,1-3)
Este texto faz parte da última visão do livro de Daniel (terrível ou supremo, cc. 10-12), que descreve as lutas contínuas entre Ptolomeus e Selêucidas com a vitória final dos 'escritos no livro'. Assim, a versão hebraica do livro termina abrindo uma porta para a última esperança (ressurreição e retribuição: 12,2-3) dos bons que perseveram até o fim (12,10-13). O tempo histórico abre-se ao eterno e ao definitivo para os sábios e os justos, que são aqueles que percorreram o caminho da santidade e ajudaram outros a percorrê-lo.1.
A função deste “apocalipse histórico” é fazer compreender o significado dos acontecimentos e assim poder resistir.2. Ou seja, as visões indicam que começou a grande tribulação, que será seguida pela libertação total, através do julgamento e da ressurreição dos mortos. Esta verdade deve servir de consolação aos perseguidos e encorajar a sua resistência passiva, confiando em Deus.
Evangelho (Mc 13,24-32):
O texto de hoje faz parte do capítulo 13 de São Marcos, que é conhecido como “o discurso escatológico de Jesus” porque relaciona a destruição do templo de Jerusalém com o fim dos tempos e a vinda do filho do homem. É composto por três partes:
1) v. 24-27: descreve a vinda do filho do homem.
2) v. 28-31: a parábola da figueira.
3) v. 32-37 (lemos apenas o v. 32): a impossibilidade de saber a data do fim dos tempos.
A primeira parte do texto começa com uma referência à grande tribulação descrita nos versículos anteriores (cf. Marcos 13,14-23). Bem, depois disso seguirão alguns distúrbios cósmicos que afetarão o sol, a lua e as estrelas. Estas imagens de perturbações cósmicas são típicas de textos apocalípticos bíblicos e extra-bíblicos. Como fonte de inspiração bíblica temos: Is 13:10-11: "Pois as estrelas do céu e suas constelações não irradiarão mais sua luz; o sol escurecerá ao nascer e a lua deixará de brilhar. Castigarei o mundo por sua maldade e os ímpios por sua iniquidade. Colocarei acabarei com o orgulho dos arrogantes e humilharei a arrogância dos violentos."
Excursão sobre o gênero apocalíptico:
Talvez valha a pena esclarecer que todas essas imagens e figuras são típicas de um gênero literário, o apocalíptico, que as utiliza para dizer ou expressar o que acontecerá no fim dos tempos. Agora, para além destas imagens ou figuras literárias, há um tema subjacente que é o escatologia, isto é, o que se refere ao fim, ao último. Para os estudiosos da Bíblia, a escatologia é entendida como uma referência a um intervenção futura e definitiva de Deus em favor do seu povo. A mensagem escatológica é dominante nos livros proféticos, por exemplo, através do anúncio do “dia de Yahweh”. A preocupação com o fim do mundo, isto é, com as questões escatológicas, surge mais vividamente em tempos de aflição, marginalização ou perseguição dos fiéis. Esta mesma coisa aconteceu em Israel. A este respeito partilhamos a opinião de G. Aranda para quem a terrível experiência da destruição de Jerusalém e o consequente exílio está na raz do pensamento apocalíptico, que mais tarde foi reforçado pela opressão militar e cultural do helenismo e da dominação romana.3.
Assim, em meio às tribulações, guerras e calamidades, surge fortemente no crente a pergunta: Quando Deus cumprirá suas promessas? E dado o contraste entre a situação atual e a mensagem de salvação, a esperança dos piedosos dirige-se para uma futura transformação universal. A espera por este acontecimento é objeto da literatura apocalíptica que floresce principalmente entre o século XIX. II AC e o S. II DC e que prevê que este mundo Chegará ao fim em meio a terríveis convulsões. Os apocalípticos estão obcecados com este momento e recorrem a todo tipo de cálculos para saber quando será o fim. Assim o julgamento de deus, que será o triunfo sobre os poderes do mal e o surgimento do novo mundo, tem data marcada; e por isso no apocalíptico os números têm um grande papel.
Continuando com Mc 13:26-27, temos que o ponto culminante do fim anunciado pelas imagens cósmicas é o aparecimento do “filho do homem”, que é o próprio Jesus que vem rodeado de glória e poder para salvar os eleitos. Com efeito, estas manifestações cósmicas são o prelúdio para a chegada do julgamento de Deus, que fará justiça e punirá os pecadores. Assim, no meio desta convulsão cósmica – que, segundo J. Gnilka4"Sua linguagem está situada a meio caminho entre o metafórico e o realista." – aparecerá quando filho do homem com muito poder e glória.
Quanto à figura do “filho do homem”, se nos referirmos à origem aramaica da expressão, seu significado estrito seria “o humano” ou “o homem”. Mas em Marcos há uma referência clara à expressão ““filho do homem” de Dn 7,13-14: "Continuei contemplando nas visões da noite: E eis que nas nuvens do céu veio como Filho de homem. Ele caminhou em direção ao Ancião e foi levado à sua presença. A ele foi dado império, honra e reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno, que nunca passará, e seu reino nunca será destruído."
Segundo os estudiosos, no livro de Daniel o título “filho do homem” teria um significado individual e coletivo ao mesmo tempo porque representaria Israel que foi humilhado pelos dominadores helênicos mas que será exaltado por Deus e constituído em uma nação. reino eterno.
Na literatura intertestamentária, especialmente em 1 Enoque e 4 Esdras, é interpretado num sentido individual e messiânico. Aqui encontraríamos a fonte de seu uso por Jesus, mas dando-lhe um significado próprio e exclusivo. De fato "Jesus prefere este título ao de Messias, porque é menos político, porque tem um carácter individual-corporativo e porque alude ao carácter humano da sua obra, por um lado, e, por outro, ao carácter de um enviado escatológico vindicado por Deus."5.
Portanto, aqui em Marcos, tendo como pano de fundo Dn 713-14, o "filho do homem" representa o Messias como juiz escatológico6. O que se acrescenta aqui é o caráter universal do julgamento, na medida em que enviará os anjos aos quatro ventos (os quatro pontos cardeais) para recolher os escolhido. Já foi feita referência a eles neste capítulo de Marcos (cf. 13,20.22) como aqueles que foram “escolhidos” por Deus e que permaneceram fiéis mesmo nos grandes momentos de confusão que ocorrerão antes do fim.
O discurso de Jesus é seguido por uma breve parábola (segunda parte) e um posterior comentário (terceira parte) que respondem assim à pergunta dos discípulos que deu origem ao seu ensino: "Diga-nos quando isso acontecerá e qual será o sinal de que todas essas coisas estão para se cumprir." (Mc 13,4). Isto é, Jesus está respondendo à questão de “quando” será o fim e “como saber” que ele está próximo. Com a parábola da figueira Jesus responde à questão de “como” saber que o fim está próximo, porque assim como novos rebentos e folhas anunciam a chegada do verão, também haverá sinais que anunciam a chegada do fim, de julgamento definitivo ("Quando você vir todas essas coisas acontecendo, saiba que o fim está próximo, às portas", 13,29), e que foram explicados por Jesus na primeira parte deste discurso.
A expressão “nas portas” referir-se-ia às portas da cidade e referir-se-ia à visita de um enviado real ou de um general que vem visitar a cidade e que está prestes a entrar.7.
A parábola é agora seguida por uma resposta aberta sobre “quando” isso acontecerá. Aqui o evangelista traz três afirmações de Jesus sobre o assunto onde não é fácil perceber sua concatenação lógica. Em primeiro lugar, diz: "Essa geração não passará sem que tudo isso aconteça". Então, usando o mesmo verbo paréjomai (passar), diz: "O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão". Para terminar, afirmando: "Quanto àquele dia e hora, ninguém os conhece, nem os anjos do céu, nem o Filho, ninguém senão o Pai.".
A mensagem de Jesus para a sua geração é que as coisas que ele acabou de predizer irão acontecer, especificamente a perseguição aos cristãos e a destruição do templo. O fato de tudo isso acontecer indica que já foi inserido o tempo final, no qual Tom estoniano, mas ainda não no julgamento final ou parousia8. O ensinamento deste anúncio da proximidade do fim dos tempos, em comum com muitos outros textos do Novo Testamento, é revelar-nos a natureza transitória ou passageira deste mundo, que não é o definitivo para os escolhidos. É por isso que você está convidado a se apegar o que não acontece nem nunca acontecerá, as palavras de Jesus, que nos asseguram que haverá um fim e um julgamento com promessa de salvação para os cristãos que agora sofrem perseguição ou rejeição por parte do mundo.
Quanto à data precisa do fim, da parousia, só o Pai sabe. Por esta razão Não devemos nos perder em vãs especulações, mas sim perseverar na fé e estar preparados ou vigilantes. (sobre o qual Jesus falará a seguir, cf. 13,33-37).
Resumindo: "Marcos reforça sua interpretação sobre o atraso do escaton ao afirmar agora a impossibilidade de determinar exatamente quando ele ocorrerá. Nos v. 28-37 Marcos coloca uma conclusão parênica ao discurso. Na sua posição editorial atual no capítulo a parábola da figueira e sua explicação no v. 30 referem-se aos sinais e ao final. O evangelista diz à sua comunidade que o fim será precedido de sinais (vv. 5-23) e da vinda em glória do Filho do homem (vv. 24-27). Só mais tarde (cf. lagoa kai no v.26) os anjos serão enviados para recolher os eclético marcando assim o fim da história - “o céu e a terra passarão” - e o início do Reino de Deus. O v. 32-37, também parábola e seu esclarecimento, comunicam a ideia de que embora seja possível antecipar a proximidade do escaton por sinais (cf. ginoskete nos v. 28-29) é impossível determinar com total precisão o dia e a hora de sua realização final"9.
Além de todas as dúvidas que o texto possa gerar, a síntese de J. Gnilka é clara10: "Para a comunidade de Marcos, uma coisa é verdadeiramente importante: fortalecer a confiança na consciência crente de que Deus continua a ser o Senhor da história e que ordena as coisas também na sua fase final. A rejeição implícita do cálculo de datas pode, com razão, ser descrita como anti-apocalíptica.".
ALGUNS PENSAMENTOS:
A. Eles machucam11 inicia a sua análise das leituras deste domingo com um comentário pouco animador, mas não menos verdadeiro: “Não há dúvida de que uma passagem evangélica como esta confunde os ouvintes de hoje. Na verdade, está tão distante da nossa maneira de escrever e penso, e as suas imagens são ao mesmo tempo tão alucinatórias e tão ingénuas, que é difícil para nós não ouvir esta proclamação como um poema ou uma visão antecipada de um cataclismo mundial típico de um génio teatral.". Uma impressão semelhante tem H. U. von Balthasar12: "O evangelho do fim do mundo é estranhamente complexo e heterogêneo. Este não é um relatório sobre acontecimentos futuros, mas sim um texto que se refere a vários aspectos que não conseguimos conciliar.".
Por sua vez, consideramos muito correta a recomendação de O. Vena.13: "Ao nos depararmos com as passagens apocalípticas do Novo Testamento devemos ter uma atitude de respeito, visto que se trata de material produzido por pessoas oprimidas, cuja única esperança era Deus. Aqueles que partilham esta condição, os oprimidos e marginalizados do mundo, compreendem melhor estas mensagens. Para eles, o anúncio da vinda do Filho do Homem para mudar a condição social em que se encontram presos é um evangelho, é uma boa notícia.".
Ora, a presença do tema do fim, das questões escatológicas, nas leituras deste domingo deve-se ao facto de estarmos praticamente a chegar ao fim do ano litúrgico. Estas “perguntas” reaparecerão, em vários contextos, no próximo domingo (Cristo Rei) e no primeiro domingo do Advento.
Agora, além do momento litúrgico, São questões que abordam a essência da fé cristã e, também, da condição humana.14. Porque além das imagens, o que está descrito é a luta entre o bem e o mal. E o que se afirma é que, apesar da forte presença do mal que parece dominar toda a terra, o triunfo é de Deus, dos bons, dos justos. E então poderemos descobrir a grande relevância do tema das leituras deste domingo.
Por sua vez, A mensagem escatológica do evangelho é, acima de tudo, uma mensagem de esperança. Deus não ignora a história, a nossa história e a nossa vida, mas espera, permitindo o mal, até ao momento da sua intervenção definitiva. E é por isso que a escatologia cristã é acima de tudo uma mensagem de consolo, que convida o justo a perseverar como tal, não para ser enganado ou trair, mas para permanecer fiel até o fim para alcançar a salvação. Porque esperamos com fé a vinda de Nosso Senhor e esta Esperança faz parte da essência da fé cristã. Na verdade, a nossa profissão de fé em Cristo termina com esta afirmação: “de lá ele deve vir para julgar os vivos e os mortos" (Símbolo dos Apóstolos) e "Ele voltará com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim." (Credo Niceno-Constantinopla).
É importante terminar sublinhando a Esperança contida nestas palavras de Jesus, porque «eNeste discurso há uma frase que se destaca pela clareza sintética: «O céu e a terra passarão, mas minhas palavras não passarão» (Marcos 13:31). A expressão «céu e terra» É frequente na Bíblia indicar todo o universo, todo o cosmos. Jesus declara que tudo isso está destinado a «mercado». Não só a terra, mas também o céu, que aqui é entendido precisamente no sentido cósmico, não como sinônimo de Deus. A Sagrada Escritura não conhece ambiguidade: tudo o que foi criado é marcado pela finitude, mesmo os elementos divinizados das mitologias antigas: não há confusão entre o criado e o Criador, mas uma clara diferença. Com esta clara distinção, Jesus afirma que as suas palavras «não vai passar», isto é, eles estão na parte de Deus e, portanto, são eternos"15.
Resumindo: este evangelho nos convida a meditar O que acontece, sobre o que não acontece; e também sobre o que acontece conosco e acontecerá conosco.
Se olharmos com sabedoria para a realidade das nossas vidas veremos que tudo ao nosso redor, tudo criado, mais cedo ou mais tarde acontece, Está destinado a acontecer. Nada criado é eterno. E nem nós que também passaremos. Portanto, podemos muito bem nos perguntar:
Mas há algo que não acontece, isso é eterno? Sim, as palavras de Jesus são palavras de vida eterna, nunca passarão. Eles contêm a promessa de vida eterna que aqueles que os criaram receberão. Sim "Garanto-lhe que quem crê tem a vida eterna"(Jo 6:47), porque"a fé é uma hábito, isto é, uma disposição mental constante, graças à qual a vida eterna começa em nós" (A esperança está salva nº 7).
Então, o homem é apresentado a estas duas dimensões da vida: primeiro tudo o que é visível, terreno, O que acontece. Mas também, à luz da fé, o invisível, o divino, o que não acontece. De acordo com isso, o que acontece conosco e acontecerá conosco Depende da nossa decisão pessoal. Se optarmos por nos apegarmos absolutamente ao “que se vê e ao que acontece”, ao que é material, passaremos com este mundo. Por outro lado, se nos apegarmos pela fé “àquilo que não se vê e que não
passa”, para Jesus e sua Palavra, acontecerá conosco que não passaremos porque estaremos ancorados no eterno.É uma opção pela qual o que não se vê, o que de forma alguma se enquadra no nosso campo visual, não é considerado como irreal, mas como o que é autenticamente real, como o que sustenta e torna possível toda a realidade restante […] A Fé é sujeitar-se a Deus, em quem o homem tem firme apoio durante toda a sua vida. A fé é descrita, então, como um apego firme, como uma posição confiante no terreno da Palavra de Deus."16.
Em suma, ao longo desta vida, a fé convida-nos a espere pelo que nunca vai acontecer. E isso nos ajudará muito a dar um passo firme e confiante neste nosso mundo, importante mas não absoluto. E também nos ajudará a não perder nenhuma oportunidade de fazer o bem, de somar pontos à vida até chegar a hora. mercado, como e com Jesus, deste mundo para o Pai.
Como disse o Papa Francisco: “Com a ajuda deste Evangelho podemos ler a história considerando dois aspectos: a dor de hoje e a esperança do amanhã. Por um lado, evocam-se as dolorosas contradições nas quais a realidade humana permanece imersa em qualquer momento; Por outro lado, percebe-se o futuro de salvação que o espera, ou seja, o encontro com o Senhor que vem para nos libertar de todo o mal […] Neste momento, perguntemo-nos, o que nos é pedido a nós, cristãos, em diante desta realidade? Somos solicitados a Alimentemos a esperança de amanhã aliviando a dor de hoje.. Eles estão unidos: se você não avançar aliviando a dor de hoje, dificilmente terá esperança no amanhã. A esperança que nasce do Evangelho, de facto, não consiste em esperar passivamente que as coisas melhorem no futuro, isto não é possível, mas em realizar hoje de forma concreta a promessa de salvação de Deus. Hoje, todos os dias”, (Homilia de 14 de novembro de 2021).
Neste domingo celebramos o VIII Dia Mundial dos Pobres cujo lema é: “A oração dos pobres sobe a Deus (cf. Eclesiástico 21,5)”. A este respeito, o Papa Francisco diz na sua Mensagem para isso: “Neste ano dedicado à oração, precisamos fazer nossa a oração dos pobres e rezar com eles. É um desafio que devemos abraçar e uma ação pastoral que precisa ser alimentada. Na verdade, “a pior discriminação sofrida pelos pobres é a falta de cuidado espiritual. A grande maioria dos pobres tem uma abertura especial à fé; Eles precisam de Deus e não podemos deixar de lhes oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta de um caminho de crescimento e amadurecimento na fé. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se principalmente numa atenção religiosa privilegiada e prioritária” (ibid., 200). Tudo isto requer um coração humilde, que tenha a coragem de se tornar um mendigo. Um coração disposto a reconhecer-se pobre e necessitado. Na verdade, existe uma correspondência entre pobreza, humildade e confiança. Os verdadeiros pobres são os humildes, como afirmou o santo bispo Agostinho: «Os pobres não têm nada de que se orgulhar; Os ricos têm algo contra o que lutar. Ouça-me então: seja verdadeiramente pobre, seja piedoso, seja humilde” (Sermão 14,3.4). O humilde não tem do que se orgulhar e nada reivindica, sabe que não pode contar consigo mesmo, mas acredita firmemente que pode apelar ao amor misericordioso de Deus, diante de quem se coloca como o filho pródigo que volta para casa arrependido para receber o abraço do Senhor pai (cf. Lc 15,11-24). O pobre, não tendo nada em que confiar, recebe força de Deus e deposita nele toda a sua confiança. Na verdade, a humildade gera confiança de que Deus nunca nos abandonará ou nos deixará sem resposta.”(nº 5). Finalmente: "Somos chamados em todas as circunstâncias a ser amigos dos pobres, seguindo os passos de Jesus, que foi o primeiro a mostrar solidariedade com os últimos.”(nº 10).
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Mal sabemos, que diferença isso faz?!
O Pai sabe o quanto revelar,
Como crianças, só temos que esperar
Ele preparou para os eleitos
O momento certo, os acontecimentos, o lugar…
Que diferença faz se vivermos em Sua Misericórdia?
Na sua ternura podemos nos abrigar
E o Filho acompanha a nossa caminhada
Ele disse que o último dia chegará
Basta com os sinais da figueira
Inverno, outono, verão ou primavera
O Pai sabe o quanto revelar.
Como crianças pequenas, só temos que confiar
O Filho prometeu voltar com Poder e Glória
Esta geração verá isso
Às vezes desejamos o seu retorno Senhor, com todas as nossas forças
O sol está escurecendo e não há lua nem estrelas
É o momento da dor que dilacera,
Então: a tua Palavra se torna verdadeira Esperança
E escondido dos olhos te conhecemos vivo aí, e no Pão
É a Liturgia do tempo que ainda não terminou
Para o qual fomos ordenados a assistir
Até a sua última chegada, Amém.
[1] “La función de las visiones aparece clara en este contexto: consolar, confortar y alimentar la esperanza de los oprimidos por la persecución. Es una literatura de resistencia pasiva”, J. Asurmendi, “Daniel y la Apocalíptica”, en J. M. Sánchez Caro (ed.), Historia, Narrativa, Apocalíptica (Verbo Divino; Estella 2000) 492.
[2] Cf. G. Aranda, “El destierro de Babilonia y las raíces de la apocalíptica”; Estudios Bíblicos 56 (1998) 335-355.
[3] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 234.
[4] R. Aguirre Monasterio – A. Rodríguez Carmona, Evangelios sinópticos y Hechos de los Apóstoles (Verbo Divino; Estella 1994) 159.
[5] Cfr. O. Vena, "La expectativa escatológica en el evangelio de Marcos. Análisis literario y estructural de Marcos 13", Revista Bíblica 54 (1994/2) 85-101.
[6] Cf. O. Vena, Evangelio de Marcos (SBU; Miami, 2008) 299.
[7] "Al decir "no pasará esta generación hasta que todo esto suceda" Marcos no está afirmando necesariamente la inminente llegada del ésjaton. Es lógico pensar que al igual que sus contemporáneos judíos y cristianos él creía estar viviendo en tiempos escatológicos. Pero según él el fin solo sucedería luego de una serie de señales que le precederían", O. Vena, "La expectativa escatológica en el evangelio de Marcos. Análisis literario y estructural de Marcos 13", Revista Bíblica 54 (1994/2) 85-101.
[8] O. Vena, "La expectativa escatológica en el evangelio de Marcos. Análisis literario y estructural de Marcos 13", Revista Bíblica 54 (1994/2) 85-101.
[9] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 242.
[10] Celebrar a Jesucristo VII (Sal Terrae; Santander 1982) 103.
[11] La luz de la palabra. Comentario a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 205.
[12] Evangelio de Marcos (SBU; Miami, 2008) 301.
[13] No por nada cierta corriente teológica propone que la escatología se considere como el último capítulo de una antropología teológica.
[14] J. Ratzinger, Introducción al cristianismo (Sígueme; Salamanca 1982) 32.48-49.