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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Primeira Leitura: Provérbios 8, 22-31
Salmo Responsorial 8 R- Ó Senhor, nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!
Segunda Leitura: Romanos 5,1-5
Evangelho: João 16,12-15
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 12“Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. 13Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará. 14Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. 15Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso disse que o que ele receberá e vos anunciará é meu”. – Palavra da salvação.
Jo 16,12-15
Normalmente a liturgia nos remete a um evento histórico da salvação. Ela nos coloca, por exemplo, diante do evento da encarnação, do nascimento, do sofrimento, da morte e ressurreição de Jesus. E não podia ser diferente: é Deus que vem ao nosso encontro para nos salvar e isso implica vir para a nossa história e nosso tempo.
Hoje a liturgia não nos remete a um acontecimento histórico, mas ao próprio mistério de Deus. Trata-se do mistério cristão por excelência, o mistério do qual nasceu toda a história da salvação e tem origem todos os eventos salvadores. É o mistério pelo qual o cristianismo se distingue em seu vértice de todas as outras tradições religiosas. O mistério de Deus: um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
A Trindade é um mistério para nós. Este “para nós” deve ser entendido no sentido de que somos os destinatários da revelação do Mistério mais íntimo de Deus: Deus quis em sua bondade e condescendência revelar realmente a si mesmo.
O mistério da Trindade revelado “para nós” é o mistério da condescendência de Deus: “De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito... Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele”. A revelação da Trindade coincide com a ação da infinita bondade do Pai em nos enviar o Filho e o Espírito Santo para a nossa salvação.
O filósofo Platão exprimiu como o mundo antigo via a relação de Deus com o ser humano: “nenhum deus pode se misturar com o homem”. A revelação da Trindade representa uma revolução e um evento totalmente inesperado: Deus quis “misturar” a sua vida com a nossa, e Ele o faz nos enviando o Filho e o Espírito Santo.
A vida dos cristãos está agora indissoluvelmente ligada ao Pai, o Filho e ao Espírito Santo. Todos nós estamos ligados a pessoas que nos são familiares: os pais, os filhos, os irmãos e o cônjuge. Nossa existência está tão ligada a estas pessoas que nos sentimos parte deles e eles como parte de nós. Quando falta algum deles ou alguém desses nós é tirado, temos a sensação de perder uma parte de nós mesmos. Parece que não somos mais os mesmos se algum desses familiares se ausentar.
Nenhuma pessoa, porém, por mais familiar que nos seja, está tão radicada em nós do que o Pai, o Filho e o Espírito Santo. As três pessoas divinas lançaram suas raízes profundamente em nossa existência no dia de nosso batismo. Eles estabeleceram em nós a sua morada e nos são mais íntimos a nós do que nós mesmos; estão mais presentes em nós do que nós em nós mesmos (Santo Agostinho).
Crer no Pai, no Filho e no Espírito Santo não é aceitar uma ideia de Deus. É aceitar e viver conscientemente a felicidade dessa relação radical, dessa presença no coração, dessa intimidade e presença da Trindade em nós. O dogma da Trindade não é uma teoria! É a presença da realidade de Deus em nós. Santa Isabel da Trindade testemunhou: “Eu encontrei o céu na terra, porque o céu é a Trindade e a Trindade está dentro de mim”. A vida cristã sem essa fé, sem essa habitação interior, sem essa divina presença, é uma vida cansativa, sobretudo porque vive fora do ambiente do amor.
Essa é a “Trindade da fé”: presença, inabitação, intimidade, interioridade.
Devemos cair na conta da “Trindade da esperança”. A Trindade nos espera: está em nós para que estejamos nela por toda a eternidade; habita em nós como num templo para que possamos habitar nela como nossa morada definitiva. Atravessamos o vale de lágrimas acompanhados pela divina presença da Trindade para chegar à vida eterna “quando será enxugada toda lágrima”. Caminhamos na obscuridade da fé, às apalpadelas, guiados pela Trindade que nós veremos “face a face”. No nosso caminho o coração se aquece quando o divino peregrino nos explica as Escrituras, até que os nossos olhos se abram e a Luz, que é Deus, iluminar toda a história e todo universo.
Caminhamos em direção do Pai, do Filho e do Espírito, atraídos pela força gravitacional do amor. Na verdade, tudo é atraído para a Trindade: a humanidade, a história e o cosmos.
“A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”.
Festa da Santísssima Trindade – Jo 16,12-15 – Ano C
“Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade” (Jo 16,13)
Todos nós já experimentamos, muitas vezes, a impossibilidade de comunicar algo muito profundo que sentimos ou vivemos; temos consciência de que não conseguimos nos fazer entender, porque não encontramos as palavras apropriadas para expressar nossos sentimentos mais nobres, nossos desejos mais oblativos, nossas inspirações mais elevadas. As palavras sempre são pobres e limitadas, pois não conseguem abarcar e expressar nossa realidade mais profunda
As palavras são, de fato, o comunicador menos eficaz. São mais sujeitas a erros de interpretação e compreensão. E por que isso ocorre? Devido ao que as palavras são; elas são meramente expressões orais: ruídos que representam sentimentos, pensamentos e experiências; as palavras são símbolos, não são a verdade, a coisa real. As palavras podem nos ajudar a “entender” algo, mas é a experiência que nos permite “saber”, no sentido de saborear.
Algo semelhante ocorre com o Evangelho deste domingo, festa da Santíssima Trindade. O que Jesus tinha a dizer para seus discípulos, o que gostaria de lhes comunicar, excedia a capacidade de compreensão deles. Foi preciso que eles vivessem um processo no qual o Espírito, lentamente, os conduziu à verdade plena, completa. O verbo que João usa – conduzirá à plena verdade – evoca o colocar-se em movimento, dirigir-se para... Não se trata de compreender algo racionalmente, mas de situar-se de outro modo diante do Mistério de Deus, numa atitude de abertura e acolhida.
Ao longo dos séculos, os teólogos realizaram um grande esforço por aproximar-se do mistério de Deus, formulando com diferentes construções conceituais as relações que vinculam e diferenciam as três Pessoas divinas no seio da Trindade. Esforço louvável, sem dúvida, nascido do amor e do desejo de Deus.
No entanto, eles abandonaram o estilo de Jesus, pensaram que com a razão poderiam ter acesso à intimidade de Deus; esqueceram a centralidade da experiência d’Ele e elaboraram alguns conceitos que passaram longe do mistério inesgotável da Comunidade Divina.
De fato, de Deus só conhecemos o que Ele mesmo revelou de si mesmo. Por isso, o ponto de partida deve ser sempre Jesus, porque o eixo fundamental de quem o segue é crer n’Ele como visibilidade de Deus, sem pôr em dúvida sua humanidade. Deus se dá a conhecer a nós em Jesus e se comunica conosco através de Jesus; portanto, crer n’Ele é crer que, não só seus ditos, mas toda sua vida é “Palavra de Deus”. Ele é a presença visível da comunhão Trinitária. Jesus não fala muito de Deus; simplesmente nos oferece sua experiência de Filho.
E Jesus é bem claro: O Pai vive n’Ele e Ele no Pai; e a Trindade vive também em nós. Somos moradas da Santíssima Trindade. Pertencemos ao mistério de Deus. E Deus pertence ao mistério de cada ser humano.
A Trindade habita em nós e nós habitamos nela. Não estamos vazios; podemos estar sozinhos, mas não vazios. Pode acontecer que não estejamos em nossa casa, mas continuamos habitados; pode ser que não tenhamos com quem falar, mas sempre tem os Três com quem dialogar todo dia. Pode ser que ninguém nos conheça, mas sempre há em nós uma Presença que nos conhece profundamente.
Esta experiência de “habitar” na Trindade e deixar que a Trindade nos “habite” pode transformar a raiz de nossa existência. Quanta nobreza! Esse intercambio mútuo, esta comunhão estreita, difícil de expressar com palavras, constitui a verdadeira relação do(a) discípulo(a) de Jesus com a Trindade. Aqui está a essência da nossa verdadeira identidade: somos sustentados(as) pela força e pela providência trinitária.
É preciso também ter presente que o dogma da Santíssima Trindade se revela muito distante para a linguagem de hoje e a razão não nos ajuda a viver este Mistério. No entanto, se formos além da sua formulação dogmática, poderemos descobrir a raiz evangélica que nela se esconde, ou seja, é em Jesus que descobrimos que Deus é para nós “Abbá, Verbo e Ruah” (Pai, Palavra e Vento).
Contemplando a Jesus vemos, pois, que Deus é o Pai Providente que sempre nos ampara, a Palavra que nos guia pela vida e o Vento que nos ajuda a caminhar. Deus se comunica conosco (Palavra), atua em nós (Espírito) e é nosso Pai (Abbá). E isto significa que Deus não é um ser “misterioso” e insondável, mas um Semeador que espalha a semente da Palavra continuamente e nos consola em nossa peregrinação pela vida.
De fato, quando escutamos Jesus falar de Deus, ou quando Deus nos fala de si mesmo através de Jesus, ficamos assombrados, porque não menciona nenhuma das qualidades maravilhosas que sempre lhe atribuímos, mas nos fala de Abbá, o Pai que sai, a cada entardecer, a esperar pela volta do seu filho perdido.
Jesus chama Deus de “Abbá” e o experimenta como um mistério de bondade; revela como uma Presença bondosa que abençoa a vida e atrai seus filhos e filhas a lutar contra tudo o que causa dano ao ser humano. Para Jesus, esse mistério último da realidade que chamamos “Deus” é uma Presença próxima e amistosa que está abrindo caminho no mundo para construir, conosco e junto a nós, uma vida mais humana.
Quando vemos Jesus dedicar sua vida a ensinar e a aliviar o sofrimento humano sem descanso, ou o vemos rodeado de multidões que lhe seguem fascinados, ou escutamos seus critérios poderosos de vida, ou o vemos capaz de levar sua fidelidade à missão até as últimas consequências... cremos que n’Ele “sopra” um vento irresistível, o “Vento de Deus”; é o mesmo Espírito (a Ruah de Deus) que impulsiona a humanidade e que atua em cada um de nós.
Jesus atua sempre impulsionado pelo “Espírito” de Deus; este é o amor do Pai que o envia a anunciar aos pobres a Boa Notícia de seu projeto salvador. É o alento de Deus que o move a curar a vida. É sua força salvadora que se manifesta em toda sua trajetória profética.
Este Espírito não se apagará no mundo quando Jesus se ausentar. Ele mesmo promete enviá-lo a seus discípulos. A força do Espírito os fará testemunhas de Jesus, Filho de Deus, e colaboradores do projeto salvador do Pai. Assim, como cristãos, vivemos na prática o mistério da Trindade.
Por fim, Jesus se experimenta a si mesmo como “Filho Amado” de Deus, nascido para impulsionar na terra o projeto humanizador do Pai e para levá-lo à sua plenitude definitiva, inclusive acima da morte. Por isso, busca em todo momento o que o Pai deseja. Sua fidelidade a Ele o conduz a buscar sempre o bem de seus filhos e filhas. Sua paixão por Deus se traduz em compaixão por todos aqueles que sofrem.
Em sintonia com o Pai, a existência inteira de Jesus consiste em curar a vida e aliviar o sofrimento, defender as vítimas e reclamar para elas justiça, semear gestos de bondade e oferecer a todos a misericórdia e o perdão gratuito de Deus: a salvação que vem do Pai.
Assim, somos um “mistério trinitário”; somos o mistério do Pai que nos gera; somos o mistério do Filho que nos revela a nós mesmos; somos o mistério do Espírito Santo que nos faz amadurecer em primavera de graça. Cada uma das Pessoas tem sua maneira original de agir em nós; cada uma tem sua própria obra em nós; cada uma tem seu próprio momento em nossas vidas. E nós somos fruto das três Pessoas.
Para meditar na oração:
- Como traduzir hoje, através da arte, a imagem clássica da Trindade representando um ancião, sentado junto a outro varão mais jovem, uma pombinha no centro e uma multidão de anjinhos ao redor?
- Como traduzimos e vivemos a experiência de Jesus que nos convida a chamar “Abbá” Àquele que nos deu a vida e nos envia a comunicá-la aos outros? Como encarnamos suas palavras, seus gestos, suas prioridades para nos identificar cada vez mais com Ele?
- Como nos conectamos continuamente com o Paráclito que nos foi dado? Com que outras imagens e símbolos o expressaríamos hoje?
Confessar a Trindade de Deus é crer que Deus é um mistério de comunhão e amor. Não um ser fechado e impenetrável, imóvel e indiferente.
O Pai ama desde sempre e para sempre, sem ser forçado ou motivado de fora. Ele é o "Amante eterno".
O mistério de Deus consiste, portanto, em dar e também em receber amor. Em Deus, deixar-se amar não é menos que amar. Receber amor também é divino!
A reflexão é elaborada pelo teólogo espanhol José Antonio Pagola, comentando o evangelho da Solenidade da Santíssima Trindade, ciclo C do Ano Litúrgico, que corresponde ao texto bíblico de João 16,12-15, publicada por Religión Digital, 09-06-2025.
Eis o texto.
É necessário crer na Trindade? É possível? É útil? Não é uma construção intelectual desnecessária? Nossa fé muda de alguma forma se não cremos no Deus Trino? Há dois séculos, o famoso filósofo Immanuel Kant escreveu estas palavras: "Do ponto de vista prático, a doutrina da Trindade é perfeitamente inútil".
Nada poderia estar mais longe da verdade. A fé na Trindade muda não apenas nossa visão de Deus, mas também nossa maneira de compreender a vida. Confessar a Trindade de Deus é crer que Deus é um mistério de comunhão e amor. Não um ser fechado e impenetrável, imóvel e indiferente. Sua misteriosa intimidade é apenas amor e comunicação. Consequentemente, na profundidade última da realidade, que dá sentido e existência a tudo, não há nada além do Amor. Tudo o que existe provém do Amor.
O Pai é o Amor original, a fonte de todo amor. Ele inicia o amor. "Só Ele começa a amar sem razão; aliás, é Ele quem sempre começou a amar" (Eberhard Jüngel). O Pai ama desde sempre e para sempre, sem ser forçado ou motivado de fora. Ele é o Amante eterno. Ele ama e sempre continuará a amar. Ele jamais retirará de nós seu amor e fidelidade. Somente d'Ele provém o amor fraternal. Consequentemente: criados à sua imagem, somos feitos para amar. Somente amando alcançamos a existência.
O ser do Filho consiste em receber o amor do Pai. Ele é o "eternamente Amado", antes da criação do mundo. O Filho é o Amor que acolhe, a eterna resposta ao amor do Pai. O mistério de Deus consiste, portanto, em dar e também em receber amor. Em Deus, deixar-se amar não é menos que amar. Receber amor também é divino! Consequência: criados à imagem deste Deus, somos feitos não apenas para amar, mas para ser amados.
O Espírito Santo é a comunhão do Pai e do Filho. Ele é o Amor eterno entre o Pai amoroso e o Filho amado, aquele que revela que o amor divino não é a posse ciumenta do Pai nem a monopolização egoísta do Filho. O verdadeiro amor é sempre abertura, dom, comunicação transbordante. Portanto, o Amor de Deus não permanece em si mesmo, mas comunica e se estende às suas criaturas.
"O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos 5,5). Consequentemente, criados à imagem deste Deus, somos feitos para amar uns aos outros, sem monopolizar e sem nos fecharmos em amores fictícios e egoístas.
Neste domingo celebramos a festa da Trindade, uma festa que pode ser difícil de compreender em termos intelectuais, mas que é igualmente profunda e simples se nos deixarmos impregnar pelo seu mistério: é a festa do coração de Deus, a festa do Amor! Um Amor que cria, que dá vida, que é fonte e manancial de vida plena. Deus-Amor que entrega o que tem de mais precioso, seu Filho, para nos orientar no caminho, para nos ajudar a viver livres, sem escravidões, a percorrer esse caminho de vida que nos torna autênticos e gera relações de liberdade. No domingo passado, refletimos sobre a presença do Espírito que Jesus nos deixa para nos acompanhar, onde a chama do círio pascal, que ficou acesa durante cinquenta dias, não se apaga, mas permanece acesa em nossas vidas, nessa intimidade de amor que nos acompanhará e nos guiará sempre.
É uma festa cheia de vida à qual só têm acesso aqueles que vibram com o coração, aqueles que são crianças e se deixam surpreender pelo amor, pelo que não tem explicação, pelo que é e acontece diariamente. Aqueles que se maravilham porque uma árvore continua crescendo, pela vida que nasce e, ao mesmo tempo, sofrem porque, devido ao egoísmo humano, sofrem com aqueles que sofrem! A sensibilidade do coração é a porta de entrada para esta grande festa do amor.
Neste domingo, Jesus fala aos discípulos que estão tristes, porque sabem de sua partida iminente, que não entendem muito bem tudo o que está acontecendo. Jesus os convida a confiar, a ter paciência e a esperar. "Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora".
Em primeiro lugar, ele nos convida a ter paciência, a saber esperar. Vivemos em uma cultura onde o imediato está na ordem do dia, onde a aceleração marca a vida e onde, talvez sem saber ou conscientemente, entregamos o tempo, a vida a situações, momentos, espaços que desfilam diante de nossas telas com experiências variadas, opiniões, comentários, vidas que se entrelaçam, iniciativas valiosas, situações variadas que ocupam nosso tempo.
Fazemos nossa a reflexão de Byung-Chul Han em sua obra A sociedade do cansaço (2017), onde ele descreve a realidade do nosso tempo: a ansiedade por resultados: “O excesso de estímulos, opções, tarefas e informações resulta em uma sobrecarga psíquica, e a pressão para sermos bem-sucedidos em todas as esferas da vida, incluindo a profissional, pessoal e até mesmo nas redes sociais, cria uma forma de cansaço crônico. Esse "excesso de positividade" é o motor ansiedade contemporânea, pois impõe a ideia de que sempre há algo mais a ser alcançado, algo mais a ser feito. Nessa lógica, o repouso e a contemplação se tornam quase impossíveis, pois o sujeito é constantemente pressionado a agir, a produzir e a obter resultados (cf. A ansiedade por resultados em 'A sociedade do cansaço', de Byung-Chul Han. Artigo de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves).
Neste ano em que celebramos o Jubileu da Esperança, Jesus também nos convida a esperar: “tenho ainda muitas coisas a dizer-vos”. Ele sabe que sua mensagem é uma experiência de vida, que leva tempo, que não pode ser compreendida imediatamente e, por isso, convida a esperar e confiar no Espírito que lhes ensinará tudo o que tem para lhes dizer. É preciso reconhecer que nem tudo se compreende facilmente, que em Seu caminho é preciso fazer experiência de relacionamento, de partilha, de diálogo íntimo com Ele e entre nós.
Jesus apresenta o Espírito em um movimento constante, fazendo referência ao que Ele disse e fez: “vos conduzirá à plena verdade”; “não falará por si mesmo”; “dirá tudo o que tiver ouvido”; “as coisas futuras vos anunciará”. São palavras de consolo para aqueles que, como os discípulos, não sabemos o que fazer diante de tantas situações de violência, onde a dignidade humana é constantemente maltratada, onde a vida humana parece não ter valor. Hoje, Jesus também nos convida a esperar, a confiar em seu Espírito e a nos deixarmos guiar por Ele segundo seus tempos, que não são os nossos. O Espírito nos conduz, nos faz presentes as palavras de Jesus, dirá o que tem a nos dizer no momento adequado, continua alimentando a esperança e a confiança Nele.
E neste movimento de amor, celebramos o mistério da Trindade, que não é simplesmente uma profissão de fé, mas uma pequena comunidade de amor onde somos convidados a habitar sempre, pessoal e comunitariamente. É um abraço estendido a cada pessoa e a toda a sociedade para que nos abriguemos nele!
Mais uma vez, Jesus nos convida a ser como crianças para acolher este mistério de amor que ultrapassa nossos raciocínios e discussões intelectuais, para desfrutar dessa presença amorosa de Deus que é amor.
“O Espírito não falará em seu próprio nome”
No próximo domingo celebramos o mistério insondável de Deus, a Santíssima Trindade. Durante os primeiros séculos da sua existência, a Igreja tinha dificuldade para expressar em palavras o inexprimível – a natureza do Deus em que acreditamos. Chegou à expressão belíssima do Credo Niceno-Constantinopolitano, infelizmente tão pouco usado nas celebrações de hoje, onde celebra o Pai “criador de todas as coisas”, do Filho, “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado”, e o Espírito que “dá a vida e procede do Pai e do Filho”. Mas mesmo essas expressões tão profundas não conseguem explicar a Trindade, pois se Deus fosse compreensível à mente humana, não seria Deus.
O Quarto Evangelho traz-nos formulações muito bonitas referentes à Trindade, especialmente no último Discurso de Jesus. Nesses capítulos (13-17), ele é representado como o Paráclito, uma palavra grega que significa, em nossa linguagem, o Advogado de Defesa. Em diversos textos, João expressa a função do Espírito dentro da comunidade pós-ressurrecional. No capítulo 16, de onde se tira o texto de hoje, existe um trecho trinitário: os vv. 13-15 se referem ao Espírito, os vv. 16-22 a Jesus e os vv. 23-27 ao Pai.
No texto de hoje, a função de ensino do Espírito é enfatizada. Como no Cap. 14, um texto paralelo, esse ensinamento não trará nada de novo. Jesus já recebeu tudo do Pai e o Paráclito recebe tudo de Jesus. Mas o ensinamento dele vai fazer com que os discípulos compreendam melhor o que significava o ensinamento que receberam de Jesus. Vai fazer com que eles “recordem” as suas palavras e, assim, consigam colocá-las em prática. O termo “verdade”, que se usa neste texto, tem o mesmo sentido que tem em outras passagens do Quarto Evangelho. Verdade é a fé em Jesus como revelação de Deus e que fala as palavras de Deus (cf. Jo 3,20.33; 8,40.47).
Dentro das limitações da linguagem humana, tentamos expressar o mistério da Trindade como “três pessoas numa única natureza”. Mais importante do que encontrar fórmulas abstratas para expressar o que no fundo é inexprimível, é descobrir o que a experiência com o rosto plural da Trindade pode nos ensinar para a nossa vida cristã. Talvez o livro de Gênesispossa nos ajudar. Lá se diz que Deus “criou as pessoas à sua imagem; à imagem de Deus ele as criou; e as criou macho e fêmea” (cf. Gn 1,26-27). Se todas as pessoas são criadas à imagem e semelhança de Deus, então ele é um Deus que é relação e tem rosto plural, feminino e masculino. Portanto, é uma Divindade comunitária, familiar, na diversidade.
Assim também acontece conosco. Somente podemos ser pessoas realizadas na medida em que vivemos comunitariamente.
Quem vive só para si é destinado à frustração e à infelicidade, pois está negando a sua própria natureza. O egoísmo é a negação de quem somos, pois nos fecha sobre nós mesmos. No entanto, somos pessoas criadas à imagem de um Deus que é o contrário do individualismo, pois é Trindade. No mundo pós-moderno, onde o individualismo social, econômico e religioso é tido como critério fundamental da vida, a experiência com a Trindade nos desafia para que vivamos a nossa vocação comunitária, criando uma sociedade de partilha, solidariedade e justiça, no respeito ao diferente, às outras pessoas, pois fomos criados na imagem e semelhança deste Deus que e amor e comunhão. A festa de hoje não é de um mistério matemático – como pode ter um em três? – mas do mistério do amor de Deus, que nos criou para que vivêssemos comunitariamente na sua imagem e semelhança.
"A verdade vos libertará, libertará!" (cf. João 8,32). Palavras de um canto de alguns anos atrás. Palavras que cantávamos com paixão. Palavras que vieram à lembrança ao Com o canto, vieram umas interrogações:
•· O que Jesus ainda havia de dizer que não podiam suportar?
•· O que o Espírito da Verdade haveria de revelar?
•· Em que caminhos haveria de guiar os discípulos e as discípulas amadas?
Senti-me convidada e retomar o caminho desde o início do Evangelho desta comunidade.
De noite, Nicodemos, perplexo, havia perguntado a Jesus: Como um homem pode nascer de novo? Da água e do Espírito, que como vento sopra onde quer, ouves o ruído e não sabes de onde vem nem aonde vai... (cf. João 3,4-11). Parece que Nicodemos não compreendeu!
Junto ao poço, a Samaritana desafiou Jesus: Onde adorar? Esta é a hora de adorar em Espírito e em Verdade... (cf. João 4,19-24). A Samaritana compreendeu, pois havia experimentado a hora em sua vida.
Espírito, Verdade, Hora são anéis da mesma corrente, a corrente do discipulado. A hora de Jesus é a hora em está para deixar quem o segue pelo caminho. É sua presença que revela o Deus libertador, o Deus presente na Vida, na História. Esta hora tornara-se insuportável ao "mundo" e aos donos da "religião" que ele havia denunciado e que já o tinham condenado à morte (João 11,49-52).
A hora é agora em que Jesus, o Mestre, está para subir a uma morte violenta. Porém, eles e elas ainda não penetraram a realidade profunda do homem Jesus de Nazaré, aquele que revela o Pai. Hora que se torna hora da consolação e da promessa da presença fiel e permanente do Espírito da Verdade. Espírito da Verdade que fala através da metáfora: "Quando a mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora chegou; quando, porém, dá a luz à criança ela já não se lembra dos sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um ser humano" (João 16,20-22).
O caminho do discipulado é o caminho de conhecer a hora, como a mulher conhece em seu corpo o mistério da "hora". A hora para a qual ela se preparou a vida inteira. A horada espera, a hora da gravidez, a hora de dar à luz. A hora da dor e da alegria. A hora de ter nos braços a criança para acalentá-la, alimentá-la, amá-la. Hora de reter e de deixar ir. Hora de a comunidade adulta ser testemunha daquilo que experimentou, caminhando com seu Mestre, Belo Pastor (João 10,11).
O Espírito da Verdade, a Divina Ruah que conduziu o homem Jesus de Nazaré, será presença constante e fiel que fará brilhar sua experiência com Jesus de nova luz, que o levará a compreender e viver em plenitude a sua "hora".
A hora para Jesus:
•· Ele antecipa a hora por causa da necessidade da comunidade (João 2,4).
ler esta memória das comunidades dos discípulos e das discípulas amadas.
•· Anuncia a nova hora ao se encontrar com o diferente (João 4,21).
•· Identifica sua hora com a hora da mulher (João 16,21).
•· Vive sua hora como o grão de trigo que gera vida (João 12,23-26).
A hora de Jesus é a hora da cruz. A hora em que do seu coração vai jorrar sangue e água. A hora do brotar das águas para dar à luz o novo homem e a nova mulher, para dar à luz a nova comunidade.
A hora de Jesus se torna a hora da comunidade: "dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa... tudo está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito" (João 19,27.30).
A hora da comunidade, lá onde mulher e homem vivem o discipulado de iguais na diaconia:
•· No serviço da hora que transforma a água em vinho tornando a festa mais festa.
•· No serviço dos sinais que restauram a vida.
•· No serviço da universalidade do crer e do amar que bebe no poço da água viva.
•· No serviço da intrepidez, da ousadia que faz suas as palavras da confissão: Tu és o Cristo.
•· No serviço do bálsamo derramado, boa notícia de mulher até hoje.
•· No serviço da solidariedade aos pés da cruz que se torna amor de oblação que oferece e acolhe.
•· No serviço que busca, e no jardim encontra, reconhece, anuncia o homem e a mulher renascidas.
O Espírito da Verdade manifestará a sua glória que é a glória da hora. A hora do amor ágape que recorda - acorda - testemunha o seu mistério que é seu ministério:
Ministério da antecipação
Ministério da parceria
Ministério da dignidade
Ministério da diaconia
Ministério da profecia
Ministério do anúncio
Ministério da vida.
(Traduzido automaticamente pelo Tradutor Google, sem a nossa correção. Para conferir com o original, veja-o logo após a tradução portuguesa)
SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE CICLO "C" Evangelho: Jo 16,12-15
Em seu longo discurso de despedida (João 13-17), Jesus fez muitas revelações aos seus discípulos, mas agora lhes diz que tem muitas outras coisas a lhes comunicar, mas que eles não conseguem entendê-las naquele momento. Os discípulos ainda não estão prontos para entender o que acontecerá com Jesus: sua paixão, morte e ressurreição. Como F. Moloney1 corretamente comenta: “O Paráclito dará continuidade à atividade reveladora de Jesus no tempo interveniente. O Paráclito falará (v. 13: lalesei [2x]) e declarará toda a verdade (v. 13, 14, 15: anangelei). A presença de Jesus com seus discípulos aproxima-se do fim. Há uma tensão entre o desejo de Jesus de comunicar-lhes muitas coisas (v. 12a) e a incapacidade presente dos discípulos (vocês não podem suportar tudo isso agora [arti]) de lidar com todas as implicações da revelação de Deus que ocorre em Jesus (v. 12b). Não se trata da existência de mais conteúdo da revelação que o Paráclito teve que comunicar. O problema reside na fragilidade em que os discípulos se encontram “agora”.
Em seguida, anuncia-lhes que virá o “Espírito da Verdade”, que os conduzirá à plenitude da verdade. A expressão “Espírito da Verdade” aparece três vezes no Evangelho de João, sempre no contexto do discurso de despedida (cf. Jo 14,17; 15,26; e 16,13). O Espírito da Verdade é identificado com o Paráclito. O Paráclito é “aquele que foi chamado para estar ao lado do homem” e cumpre a função de ensinar e recordar (cf. Jo 14,26).
Nestes versículos que lemos (cf. Jo 16,12-15) descreve-se a quinta promessa relativa à missão do Espírito da Verdade como mestre interior e guia dos discípulos para a verdade plena.
Como justamente observa G. Zevini, “o texto, de excepcional valor teológico, desenvolve-se em três partes paralelas, cada uma das quais conclui com a mesma fórmula do original grego: “Ele vo-lo fará conhecer” (v. 13, 14, 15) e com uma progressão temática doutrinal sobre as três pessoas divinas: o Espírito, Cristo, o Pai”2.
A missão do Espírito da Verdade em relação aos discípulos é descrita como referente ao passado e ao futuro. Ao passado, porque os lembrará do que Jesus revelou sobre o mistério de Deus, para que possam compreendê-lo mais profundamente. Ao futuro, porque os conduzirá à verdade plena e completa, ao ponto em que poderão conhecer o mistério de Deus e do mundo como Jesus ressuscitado e glorificado o conhece. E também em relação à sua ação futura, podemos ver aqui a assistência do Espírito Santo à Igreja para que permaneça fiel à verdade e a atualize em tempos e realidades futuras. Dessa forma, o Espírito Santo revelará a glória do Filho, o glorificará e sua comunhão com o Pai.
O texto deixa claro que o ensinamento do Paráclito não é seu, mas se refere ao Pai como fonte de toda a verdade e de toda a glória, que ele compartilha com o Filho, com Cristo, e que o Espírito da Verdade comunicará aos discípulos (16:14-15). Ou seja, "Jesus Cristo é a Palavra do Pai, e o Espírito será o guia que fará esta Palavra conhecida... O Paráclito recebe do Pai tudo o que pertence a Jesus Cristo para fazê-lo conhecido à comunidade. Jesus revela apenas o Pai, de modo que, quando o Paráclito faz Jesus Cristo conhecido, está fazendo o Pai conhecido." 3 Dessa forma, ele revela a comunhão íntima das três pessoas divinas, com suas missões próprias.
Em suma, o Espírito da Verdade é o companheiro dos discípulos em sua jornada pela história. O Espírito da Verdade se desdobra na história por muitos caminhos, em favor daqueles que se abrem no amor à fé no Pai, gerador da vida e da filiação.
Algumas reflexões:
Hoje vivemos em uma cultura onde, em geral, não se aceita que possamos conhecer a verdade. E diante de tantas opiniões, falsidades e enganos, acabamos desistindo da busca pela verdade. No entanto, é fundamental em nossas vidas conhecer a verdade sobre Deus, sobre nós mesmos, sobre o significado da história e do mundo.
No Evangelho, Jesus nos encoraja a continuar ou retomar essa busca pela Verdade, pois ele promete nos dar o Espírito da Verdade, o Espírito Santo, que nos guiará até que a encontremos e a desfrutemos.
Ao falar de "conhecer a Verdade", tenhamos em mente que, no Evangelho de João, trata-se de um conhecimento que brota do Amor e é orientado para o Amor. Brota do Amor "porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5,5). E é orientado para o Amor, que é a plenitude do conhecimento de Deus. De fato, como H. U. von Balthasar4 corretamente aponta, "o conhecimento cristão (e, portanto, a teologia) não visa um conhecimento maior das coisas divinas, que supere o conhecimento religioso do mundo, nem ao homem que, como ser pessoal e social, e por meio da revelação e da salvação, retorna a si mesmo, mas visa unicamente à glorificação do amor divino".
A Santíssima Trindade é um mistério de Amor, de Deus que é Amor, comunhão das Três Pessoas Divinas: Pai, Filho e Espírito Santo; Amor comunicado aos homens por Jesus Cristo. É a plenitude da Verdade que se identifica com a plenitude do Amor, como descrito por Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein): “A vida de Deus é amor, amor transbordante, ilimitado e gratuito; amor que se curva misericordiosamente a cada necessidade; amor que cura os doentes e ressuscita os mortos; amor que protege, defende, nutre, ensina e forma; amor que chora com os que choram e se alegra com os que se alegram; pronto a servir a todos para que se tornem aquilo que o Pai deseja.”5
Por isso, em vez de buscarmos compreender intelectualmente o Mistério da Santíssima Trindade, devemos celebrá-lo e alegrar-nos no Amor. Esta festa é, antes de tudo, um convite ao louvor: “Diante da revelação do mistério da vida íntima de Deus, o que podemos fazer senão adorar? A festa da Santíssima Trindade é como um convite a aproximar-nos das portas do Reino para contemplar Deus nas suas relações intratrinitárias, o amor que as pessoas comunicam eternamente umas às outras, o mistério da vida gloriosa do Pai, do Filho e do Espírito, o mistério da comunhão intratrinitária; o Pai que gera o Filho e o Espírito que procede do Pai e do Filho.” […] O louvor diante da Trindade brota dos nossos lábios à medida que nos descobrimos como pequenos homens, mas chamados a partilhar dessa mesma glória.”6
Como tudo na vida, o caminho para a plenitude da Verdade e do Amor é longo e, às vezes, árduo e difícil. Não há atalhos ou soluções mágicas neste caminho; é um processo. Mas hoje, Jesus nos encoraja a continuar porque, com o Espírito Santo, temos a certeza de conhecer "as três grandes verdades que todos precisamos ouvir sempre, repetidamente", pois são as verdades que nos permitem construir sobre elas uma vida plena e alegre. Como diz o Papa Francisco em “Cristo Vive”, n.º 131: “Nestas três verdades — Deus te ama, Cristo é teu Salvador, Ele vive — Deus Pai aparece, e Jesus aparece. Onde estão o Pai e Jesus Cristo, ali está também o Espírito Santo. É Ele quem está por trás, quem prepara e abre os corações para receber este anúncio, quem mantém viva esta experiência de salvação, quem te ajudará a crescer nesta alegria se o deixares agir. O Espírito Santo enche o coração de Cristo ressuscitado e daí jorra na tua vida como uma fonte. E quando O recebes, o Espírito Santo te faz entrar cada vez mais profundamente no coração de Cristo, para que sejas cada vez mais preenchido pelo seu amor, pela sua luz e pela sua força.”
O Espírito Santo, o Espírito da verdade, nos ajudará a atravessar a porta da fé e a entrar em um mundo novo e maravilhoso, o universo da fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Cristo, o Filho de Deus, é a porta que nos conduz ao Pai, a quem descobrimos e confessamos como o Criador do céu e da terra. E Cristo também nos conduz ao Espírito Santo, a quem também confessamos como Deus, Senhor e Doador da vida. Assim surge o novo "nome" que os cristãos deram a Deus: Santíssima Trindade. Este é o nome mais próprio para o Deus dos cristãos, embora como tal nunca apareça na Bíblia. Sua origem remonta aos cristãos dos séculos II e III, que sentiram a necessidade de criá-lo para expressar sinteticamente o que há de novo e original em Deus na fé cristã: cremos em Deus Pai, Filho e Espírito Santo. E cremos porque as Pessoas Divinas, como Deus único e único, realizam a história da salvação.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
ELEVAÇÃO À TRINDADE
Ó meu Deus, Trindade que adoro! Ajuda-me a esquecer-me completamente de mim mesmo, para que eu possa fixar-me em Ti, imóvel e tranquilo, como se a minha alma já estivesse na eternidade. Que nada perturbe a minha paz, nem me faça afastar-me de Ti, ó meu Imutável! Mas que cada minuto me faça penetrar mais profundamente nas profundezas do Teu Mistério. Acalma a minha alma, faz dela o Teu céu, a Tua morada amada e o lugar do Teu repouso. Que eu nunca Te deixe ali sozinho, mas que eu esteja ali inteiramente, completamente desperto na minha fé, em total adoração, completamente entregue à Tua ação criadora.
Ó meu amado Cristo, crucificado por amor, eu queria ser esposa do teu Coração; queria cobrir-te de glória; queria amar-te... até morrer de amor! Mas sinto a minha impotência e peço-te que me revistas de ti, que identifiques a minha alma com todos os movimentos da tua alma, que me imerjas em ti, que me invadas, que tomes o meu lugar, para que a minha vida não seja mais do que um resplendor da tua vida. Vem a mim como Adorador, como Reparador e como Salvador.
Ó Verbo eterno, Verbo do meu Deus! Quero passar a minha vida a ouvir-te, quero tornar-me dócil aos teus ensinamentos para aprender tudo de ti. E então, através de todas as noites, de todo o vazio, de todo o desamparo, quero sempre olhar para ti e permanecer sob a tua grande luz. Ó Estrela amada, fascina-me para que eu nunca escape do teu esplendor.
Ó Fogo Consumidor, Espírito de Amor! 'Vem a mim', para que em minha alma haja uma encarnação do Verbo. Que eu seja para Ele uma humanidade complementar na qual Ele renova todo o Seu mistério. E Tu, ó Pai Eterno, inclina-te sobre a tua pequena criatura, 'cobre-a com a tua sombra' e não vejas nela nada além do teu 'Filho amado, em quem deste todo o teu prazer'.
Ó meu Três, meu Todo, minha Bem-Aventurança, Solidão Infinita, Imensidão onde me perco! Entrego-me a Ti como vítima. Mergulha em mim para que eu me afunde em Ti, enquanto espero contemplar em Tua luz o abismo de Tua grandeza.
Santa Isabel da Trindade,
Carmelo de Dijon
21 de novembro de 1904
1 El evangelio de Juan (Verbo Divino; Estella 2005) 427.
2 Evangelio según san Juan, Sígueme, Salamanca, 1995, pág. 397.
3 L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 430-431.
4 Solo el amor es digno de fe (Sígueme; Salamanca 1990) 10.
5“El Ethos de las profesiones femeninas” en Obras Completas. Vol, IV: Escritos antropológicos y pedagógicos, Burgos-Madrid-Vitoria 2004, p. 171; citado en P. van Breemen, Habitar en el Misterio, Santander 2008, 54-44. 6 CEA, Entremos en el cielo con Cristo Jesús. Orientaciones para las homilías desde la Santísima Trinidad hasta el Domingo XIII “Durante el año”, Buenos Aires 1998, 14.
SOLEMNIDAD DE LA SANTÍSIMA TRINIDAD CICLO "C" Evangelio: Jn 16,12-15
En su largo discurso de despedida (Jn 13-17) Jesús hizo muchas revelaciones a sus discípulos, pero ahora les dice que tendría muchas más cosas que comunicarles pero que ellos no las pueden comprender en este momento. Los discípulos no están todavía preparados para comprender lo que va a suceder con Jesús, su pasión, muerte y resurrección. Como bien comenta F. Moloney1: “El Paráclito continuará la actividad reveladora de Jesús en el tiempo intermedio. El Paráclito hablará (v. 13: lalesei [2x]) y declarará toda la verdad (w. 13.14.15: anangelei). La presencia de Jesús con sus discípulos se aproxima a su fin. Hay una tensión entre el deseo de Jesús de comunicarles muchas cosas (v. 12a) y la incapacidad presente de los discípulos (no podéis soportar todo ello ahora [arti]) para hacer frente a todas las implicaciones de la revelación de Dios que tiene lugar en Jesús (v. 12b). No se trata de que aún existieran más contenidos de la revelación que el Paráclito hubiera de comunicar. El problema reside en la fragilidad en que los discípulos se encuentran «ahora».”
Entonces les anuncia que vendrá el “Espíritu de la Verdad” que será quien los lleve a la plenitud de la verdad. La expresión “Espíritu de la Verdad” aparece tres veces en el evangelio de Juan y siempre en el contexto del discurso de despedida (cf. Jn 14, 17; 15, 26 y 16, 13). El Espíritu de la Verdad se identifica con el Paráclito. El Paráclito es “el que ha sido llamado para estar junto a” y cumple la función de enseñar y recordar (cfr. Jn 14, 26).
En estos versículos que hemos leído (cf. Jn 16,12-15) se describe la quinta promesa sobre la misión del Espíritu de la Verdad como maestro interior y como guía para los discípulos hacia la verdad completa.
Como bien nota G. Zevini, “el texto, de excepcional valor teológico, se desarrolla en tres partes paralelas que concluyen cada una de ellas con la misma fórmula en el griego original: «Os lo manifestará» (v.13, 14,15) y con una progresión temática doctrinal sobre las tres personas divinas: el Espíritu, Cristo, el Padre”2.
La misión del Espíritu de Verdad en relación a los discípulos se describe como referida al pasado y al futuro. Al pasado, por cuanto les traerá a la memoria lo revelado por las palabras de Jesús acerca del misterio de Dios para que tengan una comprensión más profunda de las mismas. Al futuro porque los conducirá a la verdad plena, completa; al punto que podrán conocer el misterio de Dios y del mundo tal como lo conoce Jesús resucitado y glorificado. Y también en cuanto a su acción futura podemos ver aquí la asistencia del Espíritu Santo a la Iglesia para mantenerse fiel a la verdad y actualizarla en los tiempos y realidades futuros. De este modo el Espíritu Santo revelará la gloria del Hijo, lo glorificará, y su comunión con el Padre.
El texto deja en claro que la enseñanza del Paráclito no es propia sino que remite al Padre como la fuente de toda verdad y de toda gloria, que comparte con el Hijo, con Cristo, y que el Espíritu de la Verdad comunicará a los discípulos (16,14-15). Es decir, “Jesucristo es la Palabra del Padre, y el Espíritu será el guía que hará conocer esta Palabra… El Paráclito recibe del Padre todo lo que le pertenece a Jesucristo para hacerlo conocer a la comunidad. Jesús no revela sino al Padre, de modo que cuando el Paráclito hace conocer a Jesucristo, está haciendo conocer al Padre”3. De este modo revela la íntima comunión de las tres divinas personas, con sus misiones propias.
En fin, el Espíritu de la Verdad es el compañero de camino de los discípulos en su marcha por la historia. El Espíritu de la Verdad se despliega en la historia por múltiples caminos en favor de aquellos que se abren en el amor a la fe en el Padre, generador de vida y de filiación.
Algunas reflexiones:
Hoy vivimos en una cultura donde, en general, no se acepta que podamos llegar a conocer la verdad. Y ante tantas opiniones, falsedades y engaños, terminamos por renunciar a la búsqueda de la verdad. Sin embargo, es fundamental en la propia vida llegar a conocer la verdad sobre Dios, sobre nosotros mismos, sobre el sentido de la historia y del mundo.
Jesús en el evangelio nos alienta a continuar o reemprender esta búsqueda de la Verdad ya que nos promete darnos el Espíritu de la Verdad, el Espíritu Santo, que nos guiará hasta encontrarla y disfrutarla.
Al hablar de “conocer la Verdad”, tengamos en cuenta que en el evangelio de Juan se trata de un conocimiento que brota del Amor y se orienta al Amor. Brota del Amor "porque el amor de Dios ha sido derramado en nuestros corazones por el Espíritu Santo, que nos ha sido dado" (Rom 5,5). Y está orientado al Amor que es la plenitud del conocimiento de Dios. En efecto, como bien señala H. U. von Balthasar4"el conocimiento cristiano (y, por tanto, la teología) no apunta al mayor conocimiento de las cosas divinas, superando los conocimientos religiosos del mundo, ni al hombre que, como ser personal y social y a través de la revelación y la salvación, vuelve sobre sí mismo, sino que apunta únicamente a la glorificación del amor divino".
La Santísima Trinidad es un misterio de Amor, de Dios que es Amor, comunión de las Tres Divinas Personas: Padre, Hijo y Espíritu Santo; Amor comunicado a los hombres por medio de Jesucristo. Es la plenitud de la Verdad que se identifica con la plenitud del Amor tal como lo describía Santa Teresa Benedicta de la Cruz (Edith Stein): “La vida de Dios es amor, amor desbordante, sin límites y que se da libremente; amor que se inclina misericordioso hacia toda necesidad; amor que sana al enfermo y resucita lo que está muerto; amor que protege, defiende, alimenta, enseña y forma; amor que llora con los que lloran y se alegra con los que están alegres; dispuesto a servir a todos para que lleguen a ser lo que el Padre quiere”5.
Por esto, más que buscar entender intelectualmente el Misterio de la Santísima Trinidad, hay que celebrarlo y gozar del Amor. Esta fiesta es ante todo una invitación a la alabanza: “Ante la revelación del misterio de la vida íntima de Dios ¿qué hacer sino adorar? La fiesta de la Santísima Trinidad es como una invitación a acercarse a las puertas del Reino para contemplar a Dios en sus relaciones intratrinitarias, al amor que las personas se comunican eternamente, al misterio de la vida gloriosa del Padre, el Hijo y el Espíritu, al misterio de comunión intratrinitaria; el Padre que engendra al Hijo y el Espíritu que procede del Padre y del Hijo” […] La alabanza frente a la Trinidad brota de nuestros labios al descubrirnos hombres pequeños pero llamados a participar de esa misma gloria”6.
Como todas las cosas en la vida, el camino hacia la plenitud de la Verdad y del Amor es largo y, a veces, arduo y difícil. No hay atajos ni saltos mágicos en este camino y se trata de un proceso; pero hoy Jesús nos alienta a seguir porque con el Espíritu Santo se nos asegura llegar a conocer “las tres grandes verdades que todos necesitamos escuchar siempre, una y otra vez”, pues son las verdades que nos permiten construir sobre ellas una vida plena y alegre. Como dice el Papa Francisco en “Cristo vive” n° 131: “En estas tres verdades –Dios te ama, Cristo es tu salvador, Él vive– aparece el Padre Dios y aparece Jesús. Donde están el Padre y Jesucristo, también está el Espíritu Santo. Es Él quien está detrás, es Él quien prepara y abre los corazones para que reciban ese anuncio, es Él quien mantiene viva esa experiencia de salvación, es Él quien te ayudará a crecer en esa alegría si lo dejas actuar. El Espíritu Santo llena el corazón de Cristo resucitado y desde allí se derrama en tu vida como un manantial. Y cuando lo recibes, el Espíritu Santo te hace entrar cada vez más en el corazón de Cristo para que te llenes siempre más de su amor, de su luz y de su fuerza”.
El Espíritu Santo, espíritu de la verdad, nos ayudará a atravesar la puerta de la fe para que ingresemos en un mundo nuevo, maravilloso, el universo de la fe en Dios Padre, Hijo y Espíritu Santo. Cristo, el Hijo de Dios, es la puerta que nos lleva al Padre, a quien escubrimos y confesamos como el Creador del cielo y de la tierra. Y también Cristo nos lleva al Espíritu Santo, a quien confesamos también como Dios, Señor y Dador de vida. Surge así el nuevo "nombre" que los cristianos dieron a Dios: la Santísima Trinidad. Este es el nombre más propio del Dios de los cristianos, aunque como tal no aparece nunca en la Biblia. Su origen se remonta a los cristianos de los siglos segundo y tercero quienes se vieron en la necesidad de crearlo para poder expresar sintéticamente lo que la fe cristiana tiene de nuevo y original con respecto a Dios: creemos en Dios Padre, Hijo y Espíritu Santo. Y creemos porque las Personas Divinas, como un solo y único Dios, obran la historia de la Salvación.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
ELEVACIÓN A LA TRINIDAD
“¡Oh Dios mío, Trinidad a quien adoro! Ayúdame a olvidarme totalmente de mí, para establecerme en Ti, inmóvil y tranquila, como si mi alma estuviera ya en la eternidad. Que nada pueda turbar mi paz, ni hacerme salir de Ti, ¡oh, mi Inmutable!, sino que cada minuto me haga adentrarme más en la profundidad de tu Misterio. Pacifica mi alma, haz en ella tu cielo, tu morada amada y el lugar de tu descanso. Que no te deje allí jamás solo, sino que esté allí toda entera, completamente despierta en mi fe, en total adoración, completamente entregada a tu acción creadora.
¡Oh mi Cristo amado, crucificado por amor, quisiera ser una esposa para tu Corazón; quisiera cubrirte de gloria; quisiera amarte... hasta morir de amor! Pero siento mi impotencia, y te pido que me ‘revistas de ti mismo’, que identifiques mi alma con todos los movimientos de tu alma, que me sumerjas en Ti, que me invadas, que ocupes Tú mi lugar, para que mi vida no sea más que una irradiación de tu Vida. Ven a mí como Adorador, como Reparador y como Salvador.
¡Oh Verbo eterno, Palabra de mi Dios! Quiero pasar mi vida escuchándote, quiero hacerme dócil a tus enseñanzas para aprenderlo todo de Ti. Y luego, a través de todas las noches, de todos los vacíos, de todas las impotencias, quiero miraros siempre y permanecer bajo tu gran luz. ¡Oh, Astro querido!, fascíname para que no pueda ya salir de tu irradiación.
¡Oh, Fuego consumidor, Espíritu de Amor! ‘Ven a mí’ para que se haga en mi alma como una encarnación del Verbo. Que yo sea para Él una humanidad complementaria en la que renueve todo su misterio. Y Tú, ¡oh Padre Eterno!, inclínate hacia tu pequeña criatura, ‘cúbrela con tu sombra’, y no veas en ella más que a tu ‘Hijo amado, en quien has puesto todas tus complacencias’.
¡Oh mis Tres, mi Todo, mi Bienaventuranza, Soledad infinita, Inmensidad donde me pierdo! Me entrego a Ti como víctima. Abísmate en mí para que yo me abisme en Ti, mientras espero ir a contemplar en tu luz el abismo de tus grandezas”.
Santa Isabel de la Trinidad,
Carmelo de Dijon
21 de noviembre de 1904
1 El evangelio de Juan (Verbo Divino; Estella 2005) 427.
2 Evangelio según san Juan, Sígueme, Salamanca, 1995, pág. 397.
3 L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 430-431.
4 Solo el amor es digno de fe (Sígueme; Salamanca 1990) 10.
5“El Ethos de las profesiones femeninas” en Obras Completas. Vol, IV: Escritos antropológicos y pedagógicos, Burgos-Madrid-Vitoria 2004, p. 171; citado en P. van Breemen, Habitar en el Misterio, Santander 2008, 54-44. 6 CEA, Entremos en el cielo con Cristo Jesús. Orientaciones para las homilías desde la Santísima Trinidad hasta el Domingo XIII “Durante el año”, Buenos Aires 1998, 14.