19/10/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Êxodo 17,8-13
Salmo Responsorial120(121) - R- Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e fez a terra.
2ª Leitura: 2 Timóteo 3,14-4,2
Evangelho Lucas 18,1-8
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 1Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre e nunca desistir, dizendo: 2“Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus e não respeitava homem algum. 3Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’ 4Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: ‘Eu não temo a Deus e não respeito homem algum. 5Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!’” 6E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. 7E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” – Palavra da salvação.
Lc 18,1-8
O benefício por excelência da oração não são as graças, mas o Autor de toda graça, ou seja, o próprio Deus. Com efeito, a oração é um clamor que nasce da nossa radical pobreza. Experimentamos que não somos autossuficiente e que não temos como invocar direitos a Deus. Para orar de verdade, devemos nos dar conta de nossa extrema pobreza.
Para receber Deus na oração, porém, é preciso fazer o que Jesus ensina: “orar sempre sem desanimar”. O que significa isso?
Rezar sempre e nunca desistir significa primeiramente rezar com confiança na bondade de Deus. A oração confiante é fonte energias para começarmos a fazer aquilo que pedimos. Por exemplo: orar pela paz nos leva a começar a semear a paz entre as pessoas; orar para que cessem os sofrimentos, nos leva a ajudar quem sofre; rezar pelos famintos, nos faz partilhar os próprios bens com os carentes. Se pedirmos coisas boas ao Bom Deus, a oração nos tornará mais bondosos com os outros.
Rezar sempre e nunca desanimar significa nos dirigir ao Pai com liberdade filial. O que significa isso? Cada um de nós já fez a experiência de dois tipos de conversa: a experiência de uma conversa em que nos sentimos à vontade. A pessoa com quem conversamos nos é familiar e acreditamos na sua sinceridade. Nós nos olhamos nos olhos e nos entendemos logo, às vezes, até sem palavras. Não temos necessidade de pesar as palavras porque sabemos que seremos bem compreendidos e, se erramos, seremos corrigidos com amor. Não precisamos dissimular nossos sentimentos nem nossas intenções.
Outro tipo de conversa é quando não somos livres. Não nos sentimos livres ou porque estamos mentindo ao outro, ou suspeitamos que o outro nos engane. Não confiamos no outro e, dessa forma, continuar a conversa se torna um tormento. Não vemos a hora de encerrar a conversa porque não desejamos continuar dissimulando nossas intenções, nossos sentimentos ou porque não sentimos que o outro seja confiável.
A oração livre é parecida com o primeiro tipo de conversa.
Rezar sempre sem desanimar significa também falar da abundância do coração (Mt 12,34). Oração é uma ação mais do coração do que da memória, mais do desejo do que de repetição de palavras. Mesmo que eu reze utilizando fórmulas decoradas, a oração sempre é feita mais com o coração e não tanto com os lábios. Deus não cabe nas palavras humanas. Elas devem tocar o mistério de Deus, mas não o devem aprisionar. Fazer da oração uma ação mecânica ou mágica de repetição de fórmulas acaba por contradizer o que as próprias fórmulas têm por finalidade: nos abrir ao mistério da presença e da ação de Deus.
Orar sempre e nunca desanimar significa fazer silêncio: não o silêncio vazio, mas o silêncio habitado pela alegria de estar em companhia de Deus, dos anjos e dos santos; silêncio onde há júbilo do coração por estar na presença de Deus.
Orar sempre e nunca desanimar significa dialogar com Deus, ou melhor, fazer dueto com Ele. O diálogo acontece quando duas pessoas falam alternadamente; dueto é quando duas pessoas cantam em uníssono. A oração é diálogo, mas é principalmente dueto. Isso acontece quando nós nos unimos à oração que o Espírito Santo faz em nós. De fato, o Espírito foi derramado em nossos corações, e Ele reza em nós com gemidos inefáveis; Ele reza em nós clamando Abbá! São Bento cunhou um princípio prático nesse sentido: mens nostra concordet verba nostra. A nossa oração deve concordar com a Palavra! Em nossa oração devemos nos esforçar em nos sintonizar à oração do Espírito Santo e à oração da Igreja!
Rezar sempre, e nunca desistir significa carregar dentro de nós mesmos o santuário no qual está presente Deus e no qual podemos entrar sempre para rezar. Assim rezamos também quando estamos ocupados com nossas tarefas cotidianas, seja trabalhando ou estudando, cuidando das pessoas ou caminhando pela rua. Em todos os lugares e momentos trazemos a lembrança de Deus e temperamos tudo com o sal do amor de Deus. Tudo o que fazemos traz a recordação e a luz da presença de Deus.
Você já teve uma pessoa muito amada na qual você pensava a todo momento, mesmo que não estivesse junto dela? Assim é rezar sempre sem nunca desanimar. Temos Deus presente a todo momento e em todos os lugares, não importa a nossa ocupação, não importa se acordados ou dormindo. A lembrança de Deus aflora a cada pessoa que encontro, a cada compromisso que devo realizar, a cada tristeza que enfrento. O nosso coração sempre voa para Deus e se incendeia no íntimo mesmo quando estamos deitados dormindo.
Rezar sempre, e nunca desistir significa começar a rezar antes de rezar. Tendo momentos fixos de oração, começo a rezar antes desses momentos. Começo a invocar Deus, a rezar pelo desejo, a recolher meu espírito antes do momento fixado da oração. Começo a criar em mim o espírito de reverência que devo ter diante de Deus e, depois, quando chega o momento fixado de oração, me separo das ocupações e preocupações para fixar o olhar do coração e a atenção da mente unicamente em Deus.
Orar sempre e nunca desanimar significa, por fim, pedir: Senhor, ensina-me a rezar! Ficamos distraídos por mil coisas; raramente a nossa oração desce profundamente em Deus e em nós; muitas vezes sentimos que nosso coração é como terra árida e sem água. Reconhecemos humildemente que não conseguimos orar sempre sem nunca desanimar, por isso pedimos essa graça ao Senhor.
Rezemos no íntimo de nós mesmos!
Senhor, ensina-nos a rezar sempre sem nunca desanimar! Tu sabes ensinar não só com palavras, mas nos dás o teu Espírito que reza em nós sempre sem desanimar. Tu podes nos dar neste momento o que não conseguimos conquistar sozinhos! Tu podes nos dar agora com o Espírito Santo!
Viúva indignada: a força da voz dos marginalizados
“Faze-me justiça contra o meu adversário!” (Lc 18,3)
A parábola da viúva e do juiz sem escrúpulos é, como tantas outras, um relato aberto, provocativo e que pode despertar nos ouvintes diferentes ressonâncias. Segundo Lucas, trata-se de um chamado a orar sem desistir, mas é também um convite a confiar no Deus que fará justiça àqueles que lhe clamam dia e noite.
Que ressonâncias pode ter hoje em nós este relato dramático de uma viúva e que nos recorda tantas vítimas abandonadas injustamente à sua sorte?
O evangelista Lucas, ao narrar esta breve parábola, nos indica a intenção de Jesus ao falar para os seus discípulos sobre “a necessidade de orar sempre, e nunca desistir”. Este tema é muito frequente em Lucas e, em várias ocasiões, repete a mesma ideia. Como é natural, a parábola foi lida quase sempre como um convite a cuidar da perseverança de nossa oração na relação com Deus.
No entanto, se observarmos o conteúdo do relato e a conclusão do mesmo Jesus, vemos que a chave da parábola é a sede de justiça. Até quatro vezes se repete a expressão “fazer justiça”. Mais que modelo de oração, a viúva do relato é exemplo admirável de luta pela justiça em meio a uma sociedade corrupta que abusa dos mais fracos.
Mais que modelo de oração, a viúva do relato é exemplo admirável de luta pela justiça em meio a uma sociedade corrupta que abusa dos mais fraco – Adroaldo Palaoro
O primeiro personagem da parábola é um juiz que “não temia a Deus, e não respeitava homem algum”. É a encarnação exata da corrupção que os profetas denunciaram repetidamente: os poderosos não temem a justiça de Deus e não respeitam a dignidade nem os direitos dos pobres. Não são casos isolados. Os profetas sempre desmascararam o sistema judicial em Israel e a estrutura machista daquela sociedade patriarcal.
Ao dizer-nos que este juiz não se importava nem com Deus nem com os homens, está dando destaque à índole dele: uma pessoa terrível, sem princípios, à margem de toda lei e à margem de todos.
O segundo personagem é uma viúva indefesa em meio a uma sociedade injusta. Por uma parte, vive sofrendo os atropelos de um “adversário” mais poderoso que ela. Por outra, é vítima de um juiz que não se importa em absoluto com a pessoa da pobre viúva e nem com o seu sofrimento. Assim vivem milhões de mulheres em todos os tempos e em todos os lugares.
As viúvas eram, nos tempos de Jesus, juntamente com os órfãos e estrangeiros, a expressão da máxima pobreza e vulnerabilidade, pois viviam sozinhas e desamparadas, não tenham ninguém para protegê-las e ampará-las, e muitos, sem escrúpulos, costumavam abusá-las. Marginalizadas, não tinham maridos e nem filhos para defendê-las; não contavam com apoios governamentais ou da religião. Só tinham adversários que as exploravam. Já os antigos profetas tinham chamado a atenção sobre este drama humano.
À pobre mulher do evangelho deste domingo só lhe restava a voz para clamar por justiça a um juiz sem religião e sem sentimento humano; finalmente ele cede e lhe concede justiça, não por compromisso ético, mas para que a viúva o deixasse em paz.
O que a mulher lhe suplica não é um capricho pessoal. Só reclama justiça. Este é seu protesto, repetido com firmeza diante do juiz: “faze-me justiça!” Sua petição é a de todos os oprimidos injustamente. Um grito que está na linha daquilo que Jesus dizia aos seus discípulos: “Buscai o Reino de Deus e sua justiça!”
Na parábola, Jesus nos surpreende a todos pelo fato de um juiz injusto fazer justiça à pobre viúva. Evidentemente este juiz não é imagem de Deus. Não temos de “ganhar” o coração de Deus através da força da insistência. Essa imagem está muito longe do “Abbá” que Jesus nos revela como Boa Notícia.
No entanto, Jesus marca a distância entre o que diz e faz o juiz injusto e o modo de atuar de Deus Pai.
Deus é justiça e está sempre pronto a fazê-la valer. Na visão bíblica, Deus é justo porque Ele é bom; na essência, a justiça é a bondade de Deus para com todos os seus filhos e filhas. Aqui estamos bem longe da justiça jurídica, própria dos tribunais humanos.
Diante da tentação que nos leva a pensar que Deus é um juiz que não atende a todos, Jesus nos convida a mudar nossa visão e descobrir a verdadeira essência de Deus, a descobrir que, muitas vezes, a justiça que Deus quer realizar fica travada pelo nosso comportamento injusto, pois, muitas vezes, nos tornamos um obstáculo à justiça de Deus.
Suplicar sem desfalecer e com fé é abrir-nos à justiça de Deus para descobrir nossa responsabilidade e a parte que nos toca viver naquilo que estamos pedindo. A súplica é mobilizadora e desperta nossos melhores recursos para buscar aquilo que tanto desejamos.
Jesus nos convida a mudar nossa visão e descobrir a verdadeira essência de Deus, a descobrir que a justiça que Deus quer realizar fica travada pelo nosso comportamento injusto, pois nos tornamos um obstáculo à justiça de Deus – Adroaldo Palaoro
Não basta insistir, pedindo a Deus que conceda a paz e a justiça em nosso mundo; somos nós, ali onde estamos e com todas as nossas possibilidades, construtores de paz e de justiça; paz e justiça que o Espírito do Senhor infunde em nossos corações. Construir o Reino é trabalhar no fluxo da justiça de Deus. A graça de Deus vem ao encontro de nossos desejos e os tornam oblativos, operativos...
Na conclusão da parábola, Jesus não fala da oração. Antes de mais nada, pede confiança na justiça de Deus. “Não fará Deus justiça a seus eleitos que lhe gritam dia e noite?” Estes eleitos não são os membros de uma determinada religião, mas os pobres de todos os povos que clamam pedindo justiça. Deles é o Reino de Deus.
Finalmente, Jesus lança uma pergunta que é um grande desafio para todos nós, seus seguidores e seguidoras: “Mas o Filho do Homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” Ele não está pensando na fé como adesão doutrinal, mas na fé que se sensibiliza diante da atuação da viúva, modelo de indignação, resistência ativa e coragem para reclamar justiça aos corruptos de plantão.
Por que nossa comunicação com Deus não nos faz escutar o clamor daqueles que sofrem injustamente e nos gritam de mil formas: “faze-nos justiça?” Se, ao orar, nos encontramos de verdade com Deus, como não somos capazes de escutar com mais força as exigências de justiça que chegam até seu coração de Pai?
Nesse sentido, a nossa oração de seguidores de Jesus só é “eficaz” quando nos faz viver com fé e confiança no Pai e em atitude solidária com os irmãos. A oração é “eficaz” porque aumenta nossa fé e nos faz mais humanos; abre nossos ouvidos do coração para escutar a Deus com mais sinceridade, vai purificando nossos critérios e nossa conduta daquilo que nos impede ser mais fraternos. Ela sustenta nosso viver cotidiano, reanima nossa esperança, fortalece nossa fragilidade, alivia nosso cansaço.
Por que nossa comunicação com Deus não nos faz escutar o clamor daqueles que sofrem injustamente e nos gritam de mil formas: “faze-nos justiça?” – Adroaldo Palaoro
Aquele que aprende a dialogar com Deus e a invocá-Lo “sem nunca desistir”, vai descobrindo onde está a verdadeira eficácia da oração e para que “serve” rezar. Simplesmente para viver com mais sentido, inspiração e compromisso. Oração sem presença solidária é vazia.
Jesus sempre deixa transparecer a imagem de um Deus desprovido de dogmatismos, um Deus desprovido também de controle e arbitrariedade. O Deus de Jesus não é um juiz com um catálogo de leis que tem necessidade de mandar, controlar, verificar... Bastam-lhe a misericórdia, a compaixão...
A misericórdia de Deus constitui a resposta à indigência e ao clamor do ser humano. Ela oferece a possibilidade de pôr de lado o julgamento e a condenação. O passado de erros e fracassos é substituído pelo presente de aceitação e perdão.
Onde não há misericórdia, não há nem sequer esperança para o ser humano.
Existem “viúvas” que clamam dentro de nós. Enquanto o Reino de Deus estiver no nosso meio, o “juiz interior” não terá nenhuma chance, estaremos sãos e salvos, livres dos seus juízos, de suas expectativas e exigências, de suas acusações e sentenças. Nesse espaço ninguém poderá nos ferir, nenhum inimigo terá acesso, seja ele interior ou exterior.
Para meditar na oração:
A parábola deste domingo nos interpela a todos: continuaremos alimentando nossas devoções privadas, nossas mortificações estéreis, nossas penitências vazias, esquecendo aqueles que vivem sofrendo injustiças? Continuaremos orando a Deus para pô-lo a serviço de nossos interesses, sem que nos importemos com as injustiças que há no mundo?
- “Tomar consciência” dos momentos em que o seu “juiz interior” emitiu seus “pareceres de morte”, seja na relação consigo mesmo ou com os outros.
Jesus está conversando com seus discípulos e conta-lhes outra parábola com o objetivo de sustentar sua fé, sua confiança em Deus: “para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir”.
A parábola começa dizendo: "Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: 'Faze-me justiça contra meu adversário!"
O juiz é descrito com duas carências fundamentais: “não temia a Deus, e não respeitava homem algum”. É uma pessoa que ocupa o cargo de juiz e não tem as atitudes básicas para isso: a relação com Deus e um vínculo com os outros que implique compromisso, empatia. É uma descrição muito clara e, ao mesmo tempo, bastante forte, pois é um juiz egoísta, surdo ao clamor do próximo e sem “temor de Deus”. Assim é descrito o malvado nos salmos. A mulher é viúva, faz parte do grupo de pessoas mais vulneráveis e fracas.
A mulher busca justiça contra alguém que tinha com ela uma disputa, embora não se saiba exatamente qual era o problema. Ela não desistia de seus direitos e insistia tanto que acabou obrigando o juiz a ouvi-la. O juiz não a ouviu por compaixão, mas porque ela estava incomodando-o demais com sua insistência. Ele pensou: Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me. Apesar de reconhecer que não tinha medo de Deus nem sentia pena das pessoas, ele decidiu agir assim só para acabar com a insistência dela. Ele se sentiu "atacado" pelos gritos da mulher e escolheu fazer justiça, não por misericórdia ou por querer ajudar, mas apenas para que ela deixasse de incomodá-lo, como se o pedido dela fosse uma ofensa ou uma ameaça.
E o Senhor acrescentou: "Escutai o que diz este juiz injusto. E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele?
Jesus não foca sua atenção na viúva, mas sim no juiz injusto. Se uma pessoa mesquinha e tão cínica que nem teme a Deus nem aos homens consegue ouvir uma mulher que insiste com tanta determinação, imagine o que Deus fará por seus escolhidos. Muitas vezes, pensamos que, ao pedir algo a Deus, Ele tem que responder exatamente do jeito que solicitamos, como se fosse uma obrigação dele fazer isso logo de cara. Quando isso não acontece, logo concluímos que Ele não ouve nem responde, e ficamos pensando: “Peço e nada acontece”.
Geralmente, esses pedidos envolvem dores, sofrimentos de alguém querido ou dificuldades inesperadas na nossa vida. Essa situação que nos tira do ritmo normal do dia a dia, que nos desestabiliza e nos faz perder o equilíbrio, nos convida e ajuda a voltar o olhar para Deus. Mas não é para que Ele intervenha e tudo volte a ser como antes, e sim para nos fazer refletir e confiar mais nele.
Lembremos que o Evangelho de Lucas foi escrito para uma comunidade que atravessava momentos de grande dificuldade, era perseguida e vários membros das comunidades haviam sofrido o martírio nas mãos dos romanos. É um contexto de grande angústia e perseguição e era muito forte a tentação de abandonar a fé, questionar por que Deus “não intervém” como eles pediam...
Deus não promete eliminar o sofrimento que estão vivendo, mas convida-os a rezar confiando em um Deus que é Pai, que os ama e os escuta, mas que não responde da maneira como lhe pedem – Ana Casarotti
As primeiras comunidades sofriam muitas injustiças e o texto procura encorajar esses grupos a manterem-se na fé, a não desanimarem no caminho. Deus não promete eliminar o sofrimento que estão vivendo, mas convida-os a rezar confiando em um Deus que é Pai, que os ama e os escuta, mas que não responde da maneira como lhe pedem. Através desta parábola, Jesus tenta prevenir qualquer tipo de desânimo. Muitos ainda esperavam uma pronta vinda do Senhor e isso não estava acontecendo, por isso é lógico que não se entendesse o que estava acontecendo.
Jesus tenta nos mostrar que é importante orar sempre, sem desanimar, e reforça o quanto é essencial manter o vínculo e a relação constante com Deus. Ele nos incentiva a confiar-lhe, a fazer pedidos e a pedir ajuda, especialmente nos momentos difíceis. Essa mensagem transmite uma confiança profunda em Deus e em Sua justiça, e é por isso que continuamos a pedir dia após dia. Deus conhece bem a realidade que enfrentamos e, mesmo na dor e nas dificuldades, Ele nos convida a nos relacionar com Ele por meio de orações confiantes. Não podemos separar nossa relação com Deus do sofrimento injusto que muitas pessoas vivem, como no caso da viúva, por exemplo. Não devemos ficar indiferentes como o juiz que não ouve. Seguir Jesus exige de nós um compromisso total, e isso significa que todos somos chamados a buscar justiça e agir para promovê-la, ao mesmo tempo que fazemos nossas súplicas a Deus para que ela seja feita. É importante lembrar que Deus ouve nossas orações, mas nem sempre responde exatamente como queremos.
O Papa Francisco nos dizia: “É preciso rezar sempre com liberdade”. “Pedimos ao Senhor o Reino, e tudo vem com ele. O Espírito Santo vem, sim, em socorro de nossa fraqueza, mas ele ainda faz algo muito importante: ele atesta que somos filhos de Deus e coloca em nossos lábios o grito: 'Pai!' (Rm 8,15; Gl 4,6). Nós não podemos dizer “Pai, Abba” sem a força do Espírito Santo. A oração cristã não é o homem falando de um lado do telefone com Deus do outro lado, não, é Deus que reza em nós! Rezamos a Deus por meio de Deus. “Rezem como filhos de Deus, não como escravos”.
Lucas narra uma breve parábola indicando-nos que Jesus a contou para explicar aos seus discípulos “como tinham de orar sempre sem desanimar”. Este tema é muito querido para o evangelista que, em várias ocasiões, repete a mesma ideia. Como é natural, a parábola foi lida, quase sempre, como um convite para cuidar da perseverança da nossa oração a Deus.
No entanto, se observamos o conteúdo do relato e a conclusão do próprio Jesus, vemos que a chave da parábola é a sede de justiça. Até quatro vezes se repete a expressão “fazer justiça”. Mais do que um modelo de oração, a viúva do relato é exemplo admirável de luta pela justiça no meio de uma sociedade corrupta que abusa dos mais fracos.
O primeiro personagem da parábola é um juiz que “nem teme a Deus nem se importa com os homens”. É a encarnação exata da corrupção que denunciam repetidamente os profetas: os poderosos não temem a justiça de Deus e não respeitam a dignidade nem os direitos dos pobres. Eles não são casos isolados. Os profetas denunciam a corrupção do sistema judicial em Israel e a estrutura machista daquela sociedade patriarcal.
O segundo personagem é uma viúva indefesa no meio de uma sociedade injusta. Por um lado, vive sofrendo os abusos de um “adversário” mais poderoso que ela. Por outro lado, é vítima de um juiz que não se importa em absoluto com a sua pessoa nem o seu sofrimento. Assim vivem milhões de mulheres de todos os tempos na maioria das terras.
Na conclusão da parábola, Jesus não fala de oração. Primeiro de tudo, pede confiança na justiça de Deus: “Deus não fará justiça aos seus eleitos que Lhe clamam dia e noite?”. Esses eleitos não são os "membros da Igreja", mas os pobres de todos os povos que clamam pedindo justiça. Deles é o reino de Deus.
Então, Jesus faz uma pergunta que é um desafio para os seus discípulos: “Quando vier o Filho do Homem, encontrará esta fé na terra?”. Não está a pensar na fé como adesão doutrinal, mas na fé que alenta a atuação da viúva, modelo de indignação, resistência ativa e coragem para reclamar justiça aos corruptos.
É esta fé e a oração de cristãos satisfeitos das sociedades de bem-estar? Seguramente, tem razão J. B. Metz quando denuncia que na espiritualidade cristã há demasiados cânticos e poucos gritos de indignação, demasiada complacência e pouca nostalgia de um mundo mais humano, demasiado conforto e pouca fome de justiça.
Tradução de Moisés Sbardelotto.
No Evangelho segundo Lucas, Jesus já havia feito um ensinamento sobre a oração por meio da entrega aos discípulos do Pai-Nosso (cf. Lc 11,1-4) e de uma parábola, comentada posteriormente, sobre a necessidade de insistir na oração, pedindo e batendo à porta de Deus, que sempre concede o Espírito Santo, isto é, a melhor coisa entre as coisas boas, a mais necessária aos fiéis (cf. Lc 11,5-13).
No capítulo 18, há uma retomada desse ensinamento, através da parábola paralela à do amigo inoportuno: a parábola do juiz injusto e da viúva insistente.
É necessário rezar sempre, diz Jesus. Mas o que significa rezar sempre? E, ainda, devemos nos perguntar: como é possível? Evitar essas perguntas significa, para o fiel, remover uma verdade elementar: a oração é uma ação difícil, cansativa, e, por isso, é muito comum, até mesmo entre os fiéis maduros e convictos, ser vencidos pela dificuldade de rezar, pelo desânimo, pela constatação de que não ter sido atendido de acordo com os desejos, pelas vicissitudes da vida.
Hoje, além disso, a pergunta não é apenas: “como rezar?”, mas também: “por que rezar?”. Vivemos em uma cultura na qual ciência e técnica nos fazem acreditar que nós, humanos, somos capazes de tudo, que devemos sempre buscar uma eficácia imediata, que a autonomia que nos foi dada por Deus para viver no mundo nos exime de nos voltarmos para ele.
E também se deve reconhecer que, às vezes, em muitos fiéis, a oração parece apenas o fruto de uma indomável angústia, um falatório com Deus, uma verbalização de sentimentos gerados pelas nossas profundezas, devoção e piedade em busca de garantia e de méritos para nós mesmos. Há uma oração difusa que é feia e falsa: não a oração cristã, aquela segundo a vontade de Deus, aquela que agrada a Deus.
Então, além das dificuldades naturais que frequentemente denunciamos – falta de tempo, velocidade da vida cotidiana, distrações, aridez espiritual –, o que podemos aprender com o Evangelho sobre a oração?
Acima de tudo, deve-se reiterar sempre que a oração cristã se acende e nasce da escuta da voz do Senhor que nos fala. Assim como “a fé nasce da escuta” (Rm 10,17), a oração também, ela que nada mais é do que a eloquência da fé (cf. Tg 5,15). Para rezar de modo cristão, e não como os pagãos (cf. Mt 6,7), isto é, os outros caminhos religiosos humanos, é necessário escutar, é preciso deixar que os ouvidos sejam abertos pelo Senhor que fala e acolher a sua Palavra: “Fala, Senhor, que o teu servo escuta” (1Sm 3,9). Não existe oração mais alta e essencial do que a escuta do Senhor, da sua vontade, do seu amor que nunca deve ser merecido.
Uma vez realizada a escuta, a oração pode se tornar um pensar diante de Deus e com Deus, uma invocação do seu amor, uma manifestação de louvor, adoração, confissão em relação a ele. A oração muda em cada um de nós de acordo com a idade, o caminho espiritual percorrido, as situações em que vivemos.
Existem tantas maneiras de rezar quanto os sujeitos orantes. E ai dos que pretendem julgar a oração de outro: o sacerdote Eli julgava a oração de Ana na morada de Deus como o murmúrio de uma bêbada, enquanto aquela era uma oração agradável a Deus e por ele ouvida (cf. 1Sm 1,9-18)!
Portanto, verdadeiramente, a oração pessoal é “secretum meum mihi”, e a oração litúrgica deve inspirá-la, ordená-la, iluminá-la e torná-la cada vez mais evangélica, como Jesus Cristo a estabeleceu.
Quando isso ocorre, a oração deve ser apenas insistente, perseverante, não falhar, porque, quer viva do pensar diante de Deus ou com Jesus Cristo, quer se manifeste como louvor ou ação de graças, quer assuma a forma da intercessão pelos humanos, é sempre diálogo, comunicação com Deus, abertura e acolhida da sua presença, tempo e espaço em que o Espírito de Deus, que é vida, inspira, consola e sustenta.
Eis porque se deve rezar sempre! Não se trata de repetir constantemente fórmulas ou ritos (seria impossível fazer isso continuamente), mas de pensar e fazer tudo na presença de Deus, escutando a sua voz e confessando a fé nele. Por isso, o apóstolo Paulo, nas suas cartas, várias vezes e com diversas expressões, repete o mandamento: “Rezem ininterruptamente” (1Ts 5,17); “sejam perseverantes na oração” (Rm 12,12); “em todas as ocasiões, rezem com todo tipo de orações e súplicas no Espírito” (Ef 6,18); “perseverem na oração e vigiem nela, dando graças” (Col 4,2).
Isso significa permanecer sempre em comunhão com o Senhor, sentindo a sua presença, invocando-o no próprio coração e ao nosso lado, oferecendo-lhe o corpo, isto é, a vida humana concreta, como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (cf. Rm 12,1).
E eis, então, a parábola. Há uma viúva (categoria que, junto com o órfão e o pobre, expressa, segundo a Bíblia, a condição de quem é indefeso, oprimido) que pede a um juiz que lhe faça justiça, que a liberte da sua injusta opressão.
Mas esse juiz, diz Jesus, “não teme a Deus e não respeita homem algum”. É, portanto, um mau juiz, que nunca exerceria a justiça em favor daquela mulher. Porém, em um certo momento, vencido pela sua insistência e para não ser mais atormentado por ela, decide atendê-la. Ele faz isso na sua lógica egoísta, para não ser mais perturbado.
Ao término dessa breve parábola, Jesus faz-se exegeta dela e, com autoridade, faz uma pergunta aos seus ouvintes: “Se isso acontece na terra por parte de um juiz que não se importa nem com a justiça humana nem com a Lei de Deus, Deus que é juiz justo não escutará, talvez, as súplicas e os gritos dos chamados por ele para serem seu povo, sua comunidade e assembleia em aliança com ele? Tardará, talvez, a intervir?”.
Com essas palavras, Jesus confirma a fé dos fiéis nele e tenta aplacar a sua ânsia e as suas dúvidas sobre o exercício da justiça por parte de Deus. A comunidade de Lucas, de fato, mas também hoje as nossas comunidades, custam a crer que Deus é o defensor dos pobres e dos oprimidos.
A injustiça continua reinando, e, apesar das orações e dos gritos, nada parece mudar. Mas Jesus, com sua força profética, assegura: “Deus lhes fará justiça bem depressa!”. Haverá o juízo de Deus, ele virá sobre todos nós como a sua intervenção repentina e chegará às pressas, na pressa escatológica, mesmo que para nós, humanos, pareça tardar.
“Aos teus olhos, ó Deus, mil anos são como ontem”, canta o Salmo (90,4), e é verdade que para nós, humanos, não é como para Deus, mas aguardamos aquele dia que, embora pareça demorar, virá às pressas, sem tardar (cf. Hc 2,3; Hb 10,37; 2Pd 3,9).
Portanto, a perseverança em rezar tem os seus efeitos, não é inútil, e devemos sempre lembrar que Deus é um juiz justo que exerce o juízo de um modo que, por enquanto, não conhecemos. Somos míopes e cegos quando tentamos ver a ação de Deus no mundo e, sobretudo, a ação de Deus nos outros...
Mas, para Jesus, a oração é o outro lado da moeda da fé, porque, como já se disse, ela nasce da fé e é a eloquência da fé. Por isso, segue-se uma última pergunta, não retórica, que indica a inquietação de Jesus sobre a aventura da fé no mundo: “Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”. Pergunta que também nos inquieta, nós que, às vezes, temos a impressão de ser os últimos cristãos sobre a terra e tememos que a nossa fé falhe. Nada está garantido, nada está assegurado, e, infelizmente, há cristãos convencidos de que a Igreja permanecerá sempre presente na história. Mas quem assegura isso, se nem mesmo a fé está assegurada?
Deus certamente não abandona a sua Igreja, mas esta pode se tornar uma não Igreja, a ponto de diminuir, desaparecer e se dissolver no mundanismo, talvez religioso, sem ser mais a comunidade de Jesus Cristo, o Senhor. O chamado de Deus é sempre fiel, mas os cristãos podem se tornar incrédulos, a Igreja pode renegar o Senhor.
Quando lemos o nosso hoje, podemos, talvez, deixar de denunciar a morte da fé como confiança, adesão, fé na humanidade e no futuro, antes mesmo do que no Deus vivo? E, se falta a confiança nos outros que vemos, como poderemos cultivar uma confiança no Outro, no Deus que não vemos (cf. 1Jo 4,20)?
A falta de fé é a razão profunda de muitas patologias dos fiéis, e a tentação de abandonar a fé é cotidiana e está presente nos nossos corações. Portanto, só nos resta renovar a fé, com a esperança na vinda de Jesus, Filho do homem, justo Juiz, e com o amor fraterno vivido a partir do amor de Jesus, amor fiel até o fim (cf. Jo 13,1), por todos os humanos.
(Veja o original em espanhol logo após esta tradução feita pelo tradutor Google)
XXIX DOMINGO DO ANO – CICLO "C"
1ª Leitura (Ex 17,8-13):
Exegeticamente, há muitos detalhes neste texto que estão abertos à discussão, mas, em sua análise geral, tanto a tradição judaica quanto a cristã descobriram um ensinamento claro sobre o poder da oração . E a leitura litúrgica do texto segue a mesma linha.
No campo de batalha, os israelitas, liderados por Josué, travam uma batalha contra os amalequitas, mas o resultado depende do levantar das mãos de Moisés. Este gesto é um sinal da elevação da alma e do coração a Deus, um sinal de oração e súplica . Quando os braços de Moisés estão erguidos, Israel vence; ou melhor, segundo o texto hebraico, Israel se fortalece. Quando o cansaço leva Moisés a abaixar os braços, Amaleque se fortalece e derrota Israel. Moisés é então "sustentado" para que continue com as mãos erguidas até o pôr do sol, alcançando assim a vitória final para Israel.
O contexto lança mais luz sobre este texto, pois acompanha a murmuração do povo em Massá e Meribá, quando clamam a Moisés por água em meio à sede ardente do deserto. Moisés, por sua vez, clama a Javé, que lhe ordena que faça jorrar água da Rocha para saciar a sede do povo. Javé responde dando-lhes água, mas a falta de confiança do povo em Sua presença ativa entre eles é registrada: "Aquele lugar foi chamado Massá" (que significa "Provocação") e Meribá (que significa "Disputa"), por causa da acusação dos israelitas e porque eles provocaram o Senhor, dizendo: 'O Senhor está realmente entre nós, ou não?'" (Êx 17:7).
O texto de hoje segue imediatamente essa pergunta e é, de certa forma, uma resposta a ela. Deus luta em nome de seu povo contra os amalequitas, fortalece-os pela intercessão de Moisés e concede-lhes a vitória por meio da corajosa obediência de Josué. Moisés e Josué agem, colaboram e contribuem. Um com sua oração, o outro com sua ação. Mas, em última análise, a vitória depende de Deus.
Evangelho (Lc 18, 1-8):
O propósito ou mensagem da parábola é claro, visto que o evangelista nos revela desde o início: "Então, Jesus lhes ensinou por meio de uma parábola que deveriam orar sempre e nunca desanimar". Quanto à tentação de desânimo, podemos supor que ela era forte na segunda ou terceira geração de cristãos, a quem o evangelista Lucas se dirige (cf. Lc 1,1-4). De fato, o convite para não desanimar ou desfalecer, usando o verbo egkakein (egkakein), encontra-se em Gl 6,9; 2 Co 4,1.16; Ef 3,13; 2 Ts 3,13. Também frequente nos escritos desse período é a exortação a "orar sem cessar" (cf. 1 Ts 5,17; Rm 12,12; Fp 4,6; Cl 4,2; Ef 6,18; 1 Tm 2,1-2). Por isso, o evangelista procura responder à possível tentação de desânimo entre as primeiras comunidades contando esta parábola de Jesus sobre a oração incessante.
Os personagens da parábola são bem caracterizados. Primeiro, temos um juiz que detém todo o poder, mas carece até mesmo da mais básica consciência moral. O texto diz que ele "não tem temor a Deus nem respeito pelos homens"; isto é, ele ignora os dois principais mandamentos: o amor a Deus e o amor ao próximo. Ou, como diz B. Malina 1 : "Falta-lhe vergonha; falta-lhe a sensibilidade para pensar em como suas ações serão percebidas pela comunidade ou em seu impacto (cf. Jeremias 8:12). Uma tradição preservada na Mishná nos diz que Hillel disse: "Um rude não pode temer o pecado..." (M. 'Abot 2:5 ) .
Então temos uma viúva morando na mesma cidade. Para a Bíblia, a viúva, junto com o órfão, é um símbolo de pessoas que estão sozinhas e desprotegidas, porque sem marido ou pai, elas não têm ninguém para defendê-las e protegê-las. E por isso mesmo, Deus cuida preferencialmente delas e as ordena a fazer o mesmo (Cf. Ex 22:21; Dt 10:18; Jr 22:3). Além disso, as mulheres não tinham direito à herança, então se o marido morresse, seus bens permaneciam nas mãos de sua família, e ela tinha que retornar à casa de seu pai. E se ela não tivesse parentes, ela era deixada à ajuda de seus conhecidos ou às esmolas do povo . E neste caso particular da viúva descrita na parábola podemos acrescentar que: “Como as mulheres normalmente não compareciam em tribunais públicos, devemos deduzir que esta viúva não tinha nenhum membro masculino da família que pudesse comparecer em seu lugar. Ela está sozinha” 3 .
No Evangelho de Lucas, é dada especial atenção às viúvas como objetos de cuidado e também como modelos de religiosidade e generosidade (cf. Lc 2,37; 4,25; 7,12-13).
Voltando à parábola, notamos que a viúva toma a iniciativa de pedir justiça ao juiz de forma repetida ou iterativa (isso se deduz do pretérito imperfeito do verbo). O pedido de "fazer-me justiça" inclui tanto a punição do culpado quanto a reparação pelo dano causado.
Por muito tempo, o juiz "recusou-se" ( ouk éthelen ) a fazer-lhe justiça. Sem razão ou causa, ele a ignorou completamente. Mas então refletiu, "disse a si mesmo" (εἶπεν ἐν ἑαυτῷ) que era melhor atender à reivindicação da viúva para que ela não continuasse a "incomodá-lo". No texto, trata-se de algo mais forte do que um mero aborrecimento ou inconveniência, já que o verbo usado " hypopiazein ", retirado da terminologia do boxe, significa "ferir na maçã do rosto" (abaixo dos olhos, no rosto). Cf. 1 Coríntios 9:27: hipópiazo mou to sorna ("Eu bato no meu corpo"). Mas o verbo também tem um significado figurado: "enegrece alguém", isto é, "exasperá-lo", ou também: "deixá-lo exausto, esgotado, exausto" 4 . A verdade é que fica claro que sua motivação é puramente egoísta, mas no final ele faz justiça . E assim a parábola termina, presumivelmente com um final feliz, quando a viúva recebe o que insistentemente exigiu do juiz.
Ao interpretar a parábola, é importante ter em mente que, além das questões jurídicas da época e da motivação do juiz, o cerne da história é que, apesar da insistência da viúva, esse juiz injusto acaba lhe concedendo justiça .
O comentário de Jesus no final especifica claramente o escopo deste exemplo ou parábola: se um juiz injusto (ὁ κριτὴς τῆς ἀδικίας) acaba fazendo justiça apesar da insistência da viúva, quanto mais Deus, que é bom e supremamente justo, fará justiça aos seus escolhidos que clamam a ele dia e noite? Aqui, Jesus aplica um princípio bem conhecido na interpretação rabínica, baseado na comparação e superação do exemplo dado: quanto mais!
A tradução do versículo 7 é difícil. A tradução do lecionário e da Bíblia do Povo de Deus baseia-se no contexto do Evangelho de Lucas e em sua resposta à demora da Parusia: "E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite, embora os faça esperar ?"
A Bíblia de Jerusalém , por sua vez, traduz a segunda parte da frase da mesma forma que a primeira, ou seja, como uma pergunta: "Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Ele os fará esperar ?"
Segundo F. Bovon, 5 a primeira tradução, a do lecionário, é melhor se levarmos em conta o contexto de todo o Evangelho de Lucas e o versículo seguinte (8a). De fato, o material tradicional usado por Lucas especificava: a retribuição virá "imediatamente" (ἐν τάχει 18:8a). Lucas corrige isso: não, o Senhor certamente virá para julgar "imediatamente", mas por enquanto ele "atrasa ". O evangelista dá ao v. 8a o significado, não de iminente, mas de "num instante", "num momento", como algo deslumbrante e rápido (cf. Lc 17:24; 21:28-32). O lecionário traduz esse sentido com a expressão "num piscar de olhos". Dessa forma, Lucas corrige a expectativa ansiosa daqueles que aguardam uma intervenção iminente de Deus para fazer justiça. Deus tarda, mas a oração existe, e deve ser incessante para que a fé não desfaleça, pois Deus é fiel e sua intervenção final é certa . Esta é a mensagem para a comunidade cristã, para os eleitos, que são comparados a uma viúva por viverem desprotegidos diante dos poderosos. Essa espera orante pressupõe fé: "Mas, quando o Filho do Homem vier, encontrará fé na terra?" (18:8b).
Portanto, para São Lucas, como para São Paulo, o desejo da intervenção final de Deus na história (escatologia) é uma motivação para a oração diária e perseverante.
ALGUMAS REFLEXÕES:
Os temas da fé e da oração de súplica dominam as leituras deste domingo e estão intimamente ligados à ideia de que são sobretudo aqueles que rezam, pedem e suplicam que creem. Ao mesmo tempo, a oração de súplica é uma expressão da nossa fé, pois "a fé consiste em crer que Deus é fiel e que continuará a responder às nossas súplicas". 6 Aqueles que perseveram na oração perseveram na fé. Aqueles que abandonam a oração, mais cedo ou mais tarde, sentirão a sua fé enfraquecer.
O que foi dito até aqui pode nos dar uma compreensão do mandamento de Jesus de orarmos uns pelos outros sempre e sem cessar . A viúva da parábola persiste apesar da falta de resposta. Nossa súplica deve ser perseverante, apesar da demora na resposta, apesar do silêncio de Deus.
A esse respeito, o Papa Francisco disse no Angelus de 16 de outubro de 2022: “Muitas vezes nos concentramos em muitas coisas urgentes, mas não necessárias; ocupamo-nos e preocupamo-nos com muitas realidades secundárias; e talvez, sem nos darmos conta, negligenciemos o que mais importa e deixemos que o nosso amor a Deus esfrie, esfrie pouco a pouco. Hoje, Jesus nos oferece o remédio para aquecer uma fé morna. E qual é o remédio? A oração. A oração é o remédio da fé, o restaurador da alma. Mas deve ser uma oração constante […] Mas alguém poderia objetar: “Mas o que posso fazer? Não moro num convento, não tenho tempo para rezar!” Talvez uma sábia prática espiritual, um tanto esquecida hoje em dia, que nossos mais velhos, especialmente as avós, conhecem bem, possa nos ajudar nessa dificuldade real: as chamadas jaculatórias . O nome está um pouco fora de uso, mas a substância é boa. O que são? Orações muito curtas, fáceis de memorizar, que podemos repetir com frequência ao longo do dia, durante diversas atividades, para permanecer “em sintonia” com o Senhor. Vamos dar um exemplo. Assim que acordamos, podemos dizer: “Senhor, eu te agradeço e te ofereço este dia”; esta é uma oração curta; depois, antes de uma atividade, podemos repetir: “Vem, Espírito Santo”; e entre uma coisa e outra, rezar assim: “Jesus, eu confio em ti, Jesus, eu te amo”. Orações curtas, mas que nos mantêm em contato com o Senhor. Quantas vezes enviamos "mensagens" às pessoas que amamos! Façamos isso também com o Senhor, para que nossos corações permaneçam conectados a Ele. Não nos esqueçamos de ler as suas respostas. O Senhor sempre responde. Onde as encontramos? No Evangelho, que devemos ter sempre à mão e abrir algumas vezes ao dia para receber uma Palavra de vida que nos é dirigida.
J. Lafrance, um padre francês que entende de oração porque reza, disse em seu último livro que o versículo de Lucas 18:7 que lemos hoje ("Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite?") é a frase de Jesus que melhor expressa o segredo de sua vida. Tanto que ele expressou seu desejo de que esta frase fosse escrita no verso da lembrança de sua morte . 7 Sua morte ocorreu em 14 de março de 1991, após uma longa e cansativa luta contra a doença. J. Lafrance comenta este versículo desta forma, onde verdadeiramente reconhece o seu rosto, como alguém que pelo menos desejou clamar a Deus dia e noite: "Clamamos a Deus dia e noite em duração e tempo; ele responde no instante, que equivale à eternidade. Aí reside a provação e o combate da oração. É por isso que Deus quer que rezemos sem cessar e sem nunca desfalecer... Se devemos rezar sempre sem nos cansar, não é tanto para obter o que já recebemos, mas para manter a chama acesa, assim como o azeite alimenta a lâmpada... A fé é o único combate da vida: continuar a crer que o Pai nos ouve e nos atende quando nenhum resultado se vê. E é então que se recorre à fé da Igreja. Penso nesta bela oração da Eucaristia, pouco antes de pedir a paz. Não olhes para os nossos pecados, mas para a fé da tua Igreja; e, segundo a tua palavra, dá-nos a paz ." Quando a oração parece difícil e impossível, recorremos à oração da Igreja, pois sabemos que a Igreja é o repositório desta oração poderosa e incessante. Penso na oração dos monges, dos eremitas e de todos aqueles homens de oração ignorados que se dedicam a arrancar de Deus a salvação dos seus irmãos e irmãs . 8
Neste Ano Jubilar, devemos também considerar a estreita relação entre oração e esperança . A este respeito, o Papa Bento XVI apresentou a oração na Spe Salvi, n. 32, como um dos lugares onde aprendemos e praticamos a esperança: “Um primeiro e essencial lugar para aprender a esperança é a oração. Quando ninguém me ouve, Deus ainda me ouve. Quando não posso mais falar com ninguém ou invocar ninguém, posso sempre falar com Deus. Se não houver mais ninguém para me ajudar — quando uma necessidade ou uma expectativa excede a capacidade humana de esperar — Ele pode me ajudar. Se me encontro relegado a uma solidão extrema...; quem reza nunca está totalmente sozinho.”
E então, com Santo Agostinho, ele responde à pergunta por que Deus “demora” em nos dar o que pedimos: “Agostinho ilustrou lindamente a íntima relação entre oração e esperança em uma homilia sobre a Primeira Carta de São João. Ele define a oração como um exercício de desejo. O homem foi criado para uma grande realidade, para o próprio Deus, para ser preenchido por Ele. Mas seu coração é pequeno demais para a grande realidade que lhe é dada. Ele deve ser ampliado. ‘Deus, ao retardar [seu dom], amplia o desejo; com o desejo, ele amplia a alma e, ampliando-a, a torna capaz [de seu dom].” […] Rezar não significa retirar-se da história e recolher-se no canto privado da própria felicidade. A maneira correta de rezar é um processo de purificação interior que nos torna capazes de Deus e, precisamente por isso, também capazes dos outros. Na oração, o homem deve aprender o que pode verdadeiramente pedir a Deus, o que é digno de Deus. Ele deve aprender que não pode orar contra o outro. Ele deve aprender que não pode pedir as coisas superficiais e banais que deseja naquele momento, a pequena e equivocada esperança que o distancia de Deus. Ele deve purificar seus desejos e suas esperanças. Ele deve se libertar das mentiras ocultas com as quais se engana: Deus as examina, e o confronto com Deus força o homem a reconhecê-las também.
No contexto da jornada de Jesus com seus discípulos a Jerusalém, a jornada do discipulado, aprendemos muito sobre o nosso "ser" como cristãos. De fato, na oração de gratidão e súplica, descobrimos nossa identidade mais profunda, o que realmente somos. Agradecer a Deus do fundo do nosso coração é reconhecer que Lhe devemos tudo o que somos. Ou, mais ainda, reconhecer que somos, que existimos, porque Ele é, existe, nos ama e nos faz ser e existir.
A súplica revela nossa identidade de pobres evangélicos, como a viúva, como seres necessitados, não autossuficientes, e, portanto, precisamos pedir a Ele, suplicar a Ele do fundo do nosso ser. Assim, a ação de graças e a súplica brotam de uma alma que encontrou seu centro, sua profundidade, sua verdade. É, portanto, uma forma fundamental de oração que nunca deve nos faltar. De fato, quem verdadeiramente suplica reza com autenticidade porque se reconhece necessitado, dependente, em suma, pobre. É por isso que Jesus tanto louva no Evangelho a fé dos pobres que se voltam a Ele para suplicar, para pedir algo. E é por isso que Jesus declarou que a fé havia salvado o leproso samaritano que implorava por cura e retornava a Jesus para agradecer-lhe o dom. Peçamos e supliquemos ao Senhor com a certeza de que Ele sempre nos ouve e que fará por nós o que for melhor para nossas vidas, inclusive para a vida eterna. Podemos conectar este tema com a mensagem do último domingo, e assim temos as atitudes fundamentais que o crente autêntico deve ter diante de Deus: súplica, pedido de compaixão, agradecimento, louvor . Esta é a nossa tarefa, o que podemos e devemos fazer. O resultado deve ser deixado a Deus, que sempre trabalha de acordo com o seu plano amoroso e misterioso.
Por outro lado, as leituras de hoje nos convidam a nos perguntar de onde esperamos que venham os frutos da nossa atividade pastoral: unicamente da nossa engenhosidade, das nossas obras; ou sobretudo da ação de Deus implorada na oração. Quanta súplica precede nossas iniciativas pastorais? Isso nos dará a resposta à pergunta anterior, visto que é doutrina comprovada que a ação pastoral é sustentada pela oração dos contemplativos. Como bem diz H. U. von Balthasar 9 : "Devemos todos orar e ajudar os outros a perseverar na oração, e não depositar sua confiança na atividade externa, se quisermos que a Igreja não seja derrotada nas duras batalhas do nosso tempo."
Na mesma linha, temos a mensagem do Santo Padre Francisco para o Dia Mundial das Missões de 2025, cujo tema é: "Missionários da esperança entre os povos". Aqui, ele nos fala sobre a relação entre oração, esperança e missão: "Os missionários da esperança são homens e mulheres de oração, porque 'quem espera é quem reza', como disse o venerável Cardeal Van Thuan, que manteve viva a esperança durante sua longa tribulação na prisão, graças à força que recebeu da oração perseverante e da Eucaristia. Não esqueçamos que a oração é a primeira ação missionária e, ao mesmo tempo, 'a primeira força da esperança'."
Renovemos, portanto, a missão da esperança, começando pela oração, especialmente a oração com a Palavra de Deus e, em particular, com os Salmos, que são uma grande sinfonia de oração composta pelo Espírito Santo. Os Salmos nos ensinam a esperar na adversidade, a discernir os sinais da esperança e a ter o desejo "missionário" constante de que Deus seja louvado por todos os povos (cf. Sl 41,12; 67,4). Rezando, mantemos acesa a chama da esperança que Deus acendeu em nós, para que se torne uma grande fogueira, iluminando e aquecendo todos os que nos rodeiam, também com ações e gestos concretos inspirados por essa mesma oração.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Ah! A espera
Quem te esperará, Senhor, nestes tempos?
Cada minuto é ouro em pó nas mãos do homem
Os passos aceleram, os diálogos aceleram
E não há espaço para espaços
Contemple a passagem do tempo sem caminhar
Basta observar os processos
É morrer, desaparecer nas sombras
Sob a ameaça de perder tudo
Agarrado a um relógio inexorável
Que devora a vida e não faz mais perguntas
Ele se eleva acima do ruído e responde
Sem deixar rastros ou nomes
Exige tornar-se, parar até sofrer
Mergulhe fundo no momento
Na dor, nunca mais oportuno
Para abrir-se ao Amor, à sua Voz
Juiz de juízes implacáveis
Memórias frágeis, aspectos impecáveis
Tu na cruz, vestido de feridas e sangue
Você nos dará o presente, para saber como esperar por você
Você preservará nossa fé naquele que soube amar você.
E até o fim, será uma aventura viver
Desafiando a fome e a sede da estrada
Bem, foi para isso que você veio.
Para acalmar e satisfazer o peregrino
Ele já se alegra com a sua esperança
E contra todas as probabilidades, ele cai e se levanta
Porque ele sabe em Quem depositou sua confiança.
Amém.
1 Os Evangelhos Sinóticos e a cultura mediterrânica do primeiro século (Verbo Divino; Estella 1996) 291.
2 Cf. LH Rivas, A obra de Lucas I. O Evangelho (Ágape; Buenos Aires 2012) 169.
3 B. Malina, Os Evangelhos Sinóticos e a Cultura Mediterrânica do Primeiro Século (Verbo Divino; Estella 1996) 291. 4 J. Fitzmyer, O Evangelho Segundo Lucas, Vol. III (Cristiandad; Madrid 1987) 847-848.
5 Evangelho segundo São Lucas III (Segue-me; Salamanca 2004) 244-249.
6 Hoje estarás comigo no Paraíso. Orientações para as homilias do 28º ao 34º Domingo do Ano. Ciclo C ; CEA, 1998, 35.
7 Cf. J. Lafrance, Dia e Noite (San Pablo; Madrid 1993) 51-54.
8 J. Lafrance, Dia e Noite (San Pablo; Madri 1993) 55-56.
9 Luz da Palavra. Comentários às Leituras Dominicais (Encuentro; Madrid 1998) 291.
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DOMINGO XXIX DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Ex 17,8-13):
A nivel exegético hay muchos detalles de este texto que se prestan a discusión, pero en su consideración global tanto la tradición judía como cristiana han descubierto aquí una clara enseñanza sobre el poder de la oración. Y en la misma línea corre la lectura litúrgica del mismo.
En el campo de batalla los israelitas conducidos por Josué libran el combate contra los amalecitas, pero el resultado de la misma depende de la elevación de las manos de Moisés. Este gesto es el signo de la elevación del alma y del corazón a Dios, signo de la oración y la súplica. Cuando los brazos de Moisés están en alto, Israel vence; o mejor, siguiendo el texto hebreo, Israel se hace fuerte. Cuando el cansancio lleva a Moisés a bajar sus brazos, Amalec se vuelve fuerte y vence a Israel. Entonces Moisés es "sostenido" para que continúe con sus manos alzadas hasta la caída del sol, consiguiendo así la victoria final para Israel.
El contexto nos da más luz sobre este texto pues sigue a la murmuración del pueblo en Masá y Meribá, cuando claman a Moisés por agua en medio de la sed abrasadora del desierto. Moisés, a su vez, clama a Yavé, quien le manda hacer brotar agua de la Roca para apagar la sed del pueblo. Yavé respondió dándoles agua, pero queda registrada la falta de confianza del pueblo en Su presencia activa en medio de ellos: "Aquel lugar recibió el nombre de Masá -que significa "Provocación"- y de Meribá -que significa "Querella"- a causa de la acusación de los israelitas, y porque ellos provocaron al Señor, diciendo: "¿El Señor está realmente entre nosotros, o no?" (Ex 17,7).
El texto de hoy sigue inmediatamente a esta pregunta y es, de algún modo, una respuesta a la misma. Dios lucha a favor de su pueblo contra los amalecitas, los hace fuertes gracias a la intercesión de Moisés y les concede la victoria con la valiente obediencia de Josué. Moisés y Josué actúan, colaboran, aportan. Uno con su oración, otro con su acción. Pero en definitiva la victoria depende de Dios.
Evangelio (Lc 18, 1-8):
La finalidad o mensaje de la parábola es clara por cuanto el evangelista nos lo revela desde el comienzo: "Después les enseñó con una parábola que era necesario orar siempre sin desanimarse". Sobre la tentación del desánimo podemos suponer que era fuerte en la segunda o tercera generación cristiana a la que se dirige el evangelista Lucas (cf. Lc 1,1-4). De hecho, la invitación a no desanimarse o desfallecer utilizando el verbo egkakein (egkakein) la encontramos en Gal 6,9; 2Cor 4,1.16; Ef 3,13; 2Tes 3,13.- También es frecuente en los escritos de esta época la exhortación a "orar sin cesar" (cf. 1Tes 5,17; Rom 12,12; Flp 4,6; Col 4,2; Ef 6,18; 1Tim 2,1-2). Por tanto el evangelista buscar responder a la posible tentación de desánimos de las primeras comunidades narrando esta parábola de Jesús sobre la oración incesante.
Los personajes de la parábola están bien caracterizados. En primer lugar, tenemos un juez que tiene todo el poder pero que carece de la más elemental conciencia moral. Dice el texto que "no teme a Dios ni tiene respeto por los hombres"; o sea que ignora los dos mandamientos principales: el amor a Dios y al prójimo. O también, como dice B. Malina 1: “carece de vergüenza; no tiene sensibilidad para pensar cómo percibirá sus acciones la comunidad o el alcance que puedan tener (cf. Jr. 8,12). Una tradición conservada en la Misná nos cuenta que Hillel dijo: «Un patán no puede temer al pecado...» (m.'Abot 2,5)”.
Luego tenemos a una viuda que vive en la misma ciudad. Para la Biblia la viuda, junto con el huérfano, son un símbolo de las personas que se encuentran solas, desprotegidas, pues al no tener marido o padre no tienen quien las defienda y proteja. Y por esto mismo Dios se ocupa preferencialmente de ellos y manda hacer lo mismo (Cf. Ex 22,21; Dt 10,18; Jer 22,3). Además, la mujer no tenía derecho a la herencia, por tanto, si el marido fallecía, sus bienes quedaban en poder de la familia del esposo y ella debía regresar a su casa paterna. Y si no tenía familiares, quedaba merced de la ayuda de sus conocidos o de la limosna de la gente2. Y en este caso particular de la viuda descrita en la parábola podemos sumarle que: “Como las mujeres no hacían acto de presencia normalmente en los tribunales públicos, hemos de deducir que esta viuda no tenía en su familia ningún miembro masculino que pudiese presentarse en su lugar. Está sola”3.
En el evangelio de Lucas particularmente se presta atención a las viudas como objeto de atención y también como modelos de religiosidad y generosidad (cf. Lc 2,37; 4,25; 7,12-13).
Volviendo a la parábola notemos que la viuda toma la iniciativa de pedir justicia al juez de modo reiterado o iterativo (esto se deduce del verbo en imperfecto). El pedido de "hazme justicia" incluye tanto el castigo del culpable como la reparación del daño ocasionado.
El juez durante mucho tiempo "no quiso" (ouk éthelen) hacerle justicia. Sin motivos ni causa se desentendió totalmente de ella. Pero luego reflexionó, se "dijo a sí mismo" (εἶπεν ἐν ἑαυτῷ) que era mejor atender al reclamo de la viuda para que no siga “molestándolo”. En el texto se trata de algo más fuerte que una mera molestia o incomodidad pues el verbo utilizado “hypopiazein, tomado de la terminología del boxeo, significa «herir en el pómulo» (debajo de los ojos, en la cara). Cf. 1 Cor 9,27: hypópiazo mou to sorna («golpeo mi cuerpo»). Pero el verbo tiene también sentido figurado: «poner negro a alguien», es decir, «exasperarle», o también: «dejar exhausto, agotado, extenuado»”4. Lo cierto es que se deja en claro que su motivación es puramente egoísta, pero al final hace justicia. Y así termina la parábola presuponiendo un final feliz para la narración porque la viuda recibe lo que con insistencia pedía al juez.
A la hora de interpretar la parábola importa tener en cuenta que, más allá de las cuestiones jurídicas de la época y de la motivación del juez, el nudo del relato está en que, ante tanta insistencia de la viuda, este juez injusto termina por hacerle justicia.
El comentario de Jesús al final precisa claramente el alcance de este ejemplo o parábola: si un juez injusto (ὁ κριτὴς τῆς ἀδικίας) termina por hacer justicia ante tanta insistencia de la viuda, cuanto más Dios, que es bueno y sumamente justo, hará justicia a sus elegidos que claman a Él día y noche. Aquí Jesús aplica un principio conocido en la interpretación rabínica que se fundamenta en la comparación y superación del ejemplo puesto: ¡cuánto más!
La traducción del v. 7 es difícil. La del leccionario y de la Biblia del Pueblo de Dios se apoya en el contexto del evangelio de Lucas y su respuesta ante la demora de la parusía: "Y Dios, ¿no hará justicia a sus elegidos, que claman a él día y noche, aunque los haga esperar?".
La Biblia de Jerusalén, por su parte, traduce el segundo miembro de la oración en la misma línea del primero, o sea como una interrogación: "pues, ¿no hará Dios justicia a sus elegidos, que están clamando a él día y noche? ¿Les hará esperar?"
Según F. Bovon5es mejor la primera traducción, la del leccionario, si tenemos en cuenta el contexto de todo el evangelio de Lucas y el versículo siguiente (8a). En efecto, el material de tradición que utiliza Lucas precisaba: la retribución vendrá "en seguida" (ἐν τάχει 18,8a). Lucas rectifica: no, el Señor vendrá, ciertamente, para juzgar "en seguida", pero de momento "tarda". El evangelista le otorga al v. 8a el sentido, no de inminente, sino de "en un instante", "en un momento", como algo fulgurante y rápido (cf. Lc 17,24; 21,28-32). El leccionario traduce en este sentido con la expresión "en un abrir y cerrar de ojos". De este modo Lucas corrige la ansiosa expectativa de los que aguardan una inminente intervención de Dios para hacer justicia. Dios se tarda, pero existe la oración y ésta debe ser incesante para que no desfallezca la fe pues Dios es fiel y su intervención final es segura. Este es el mensaje para la comunidad cristiana, para los elegidos, que son comparados con una viuda por cuanto viven desprotegidos ante los poderosos. Esta espera orante supone fe, "Pero cuando venga el Hijo del hombre, ¿encontrará fe sobre la tierra?" (18,8b).
Por tanto, para San Lucas, al igual que para San Pablo, el deseo de la intervención final de Dios en la historia (la escatología) es una motivación para la oración cotidiana y perseverante.
ALGUNAS REFLEXIONES:
Los temas de la fe y la oración de súplica son los dominantes en las lecturas de este domingo y están estrechamente unidos al punto de que reza, pide, suplica, ante todo, el que cree. A su vez la oración de súplica es expresión de nuestra fe ya que “la fe consiste en creer que Dios es fiel y que seguirá respondiendo a nuestros pedidos”6. Quien persevera en la oración, persevera en la fe. Quien abandona la oración, antes o después, sentirá un debilitamiento de su fe.
Lo dicho hasta aquí puede darnos razón del mandato de Jesús para que oremos siempre y sin desfallecer, unos por otros. La viuda de la parábola insiste a pesar de la falta de respuesta. Nuestra súplica debe ser perseverante a pesar de la demora en la respuesta, a pesar del silencio de Dios.
Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 16 de octubre de 2022: “Nosotros, a menudo, nos concentramos sobre muchas cosas urgentes, pero no necesarias, nos ocupamos y nos preocupamos de muchas realidades secundarias; y quizá, sin darnos cuenta, descuidamos lo que más cuenta y dejamos que nuestro amor por Dios se vaya enfriando, se enfríe poco a poco. Hoy Jesús nos ofrece el remedio para calentar una fe tibia. ¿Y cuál es el remedio? La oración. La oración es la medicina de la fe, el reconstituyente del alma. Pero es necesario que sea una oración constante […] Pero alguno podría objetar: “¿Pero yo cómo hago? ¡No vivo en un convento, no tengo tiempo para rezar!” Nos puede ayudar, quizá, en esta dificultad, que es real, una sabia práctica espiritual, que hoy está un poco olvidada, que nuestros mayores conocen bien, especialmente las abuelas: la de las llamadas jaculatorias. El nombre está algo en desuso, pero la sustancia es buena. ¿De qué se trata? De oraciones muy breves, fáciles de memorizar, que podemos repetir a menudo durante el día, durante las diversas actividades, para estar “en sintonía” con el Señor. Pongamos algún ejemplo. Nada más levantarnos podemos decir: “Señor, te doy las gracias y te ofrezco este día”; esta es una pequeña oración; después, antes de una actividad, podemos repetir: “Ven, Espíritu Santo”; y entre una cosa y la otra rezar así: “Jesús, confío en ti, Jesús, te amo”. Pequeñas oraciones pero que nos mantienen en contacto con el Señor. ¡Cuántas veces mandamos “mensajes” a las personas a las que queremos! Hagámoslo también con el Señor, para que el corazón permanezca conectado a Él. Y no nos olvidemos de leer sus respuestas. El Señor responde, siempre. ¿Dónde las encontramos? En el Evangelio, que hay que tenerlo siempre a mano y abrir cada día algunas veces, para recibir una Palabra de vida dirigida a nosotros”.
J. Lafrance, sacerdote francés, que sabe de oración porque reza decía en su último libro que el versículo de Lc 18,7 que leímos hoy ("¿no hará justicia Dios a sus elegidos, que claman a él día y noche?") es la frase de Jesús que mejor expresa el secreto de su vida. Hasta un punto tal que manifiesta su deseo de que esta frase se escriba en el reverso del recordatorio de su muerte7. Muerte que le llegó el 14 de marzo de 1991 después de una fatigosa y prolongada lucha contra una enfermedad. J. Lafrance comenta así este versículo donde reconoce verdaderamente su rostro, como quien al menos ha deseado clamar a Dios día y noche: "Nosotros clamamos a Dios día y noche en la duración y en el tiempo; él responde en el instante, que es equivalentemente la eternidad. Ahí está la prueba y el combate de la oración. Por eso Dios quiere que oremos sin cesar y sin desfallecer nunca… Si hay que orar siempre sin cansarse, no es tanto para obtener lo que ya hemos recibido como para mantener la llama, igual que el aceite alimenta la lámpara… La fe es el único combate de la vida: seguir creyendo que el Padre nos escucha y nos atiende cuando no se ve ningún resultado. Y entonces es cuando se recurre a la fe de la Iglesia. Pienso en esta hermosa plegaria de la eucaristía justamente antes de pedir la paz. No mires nuestros pecados, sino la fe de tu Iglesia; y, conforme a tu palabra concédenos la paz. Cuando la oración resulta ardua e imposible, se acoge uno a la oración de la Iglesia, pues sabemos que la Iglesia es la depositaria de esta oración poderosa e incesante. Pienso en la oración de los monjes, los ermitaños y de todos esos hombres de oración ignorados que se dedican a arrancarle a Dios la salvación de sus hermanos"8.
En este año jubilar tenemos que ver también la estrecha relación que existe entre la oración y la esperanza. Al respecto el Papa Benedicto XVI presentaba en Spe Salvi n. 32 a la oración como uno de los lugares de aprendizaje y del ejercicio de la esperanza: “Un lugar primero y esencial de aprendizaje de la esperanza es la oración. Cuando ya nadie me escucha, Dios todavía me escucha. Cuando ya no puedo hablar con ninguno, ni invocar a nadie, siempre puedo hablar con Dios. Si ya no hay nadie que pueda ayudarme –cuando se trata de una necesidad o de una expectativa que supera la capacidad humana de esperar–, Él puede ayudarme. Si me veo relegado a la extrema soledad...; el que reza nunca está totalmente solo”.
Y luego, con San Agustín, nos responde al por qué de la “demora” de Dios en darnos lo que pedimos: “Agustín ilustró de forma muy bella la relación íntima entre oración y esperanza en una homilía sobre la Primera Carta de San Juan. Él define la oración como un ejercicio del deseo. El hombre ha sido creado para una gran realidad, para Dios mismo, para ser colmado por Él. Pero su corazón es demasiado pequeño para la gran realidad que se le entrega. Tiene que ser ensanchado. «Dios, retardando [su don], ensancha el deseo; con el deseo, ensancha el alma y, ensanchándola, la hace capaz [de su don]». […] Rezar no significa salir de la historia y retirarse en el rincón privado de la propia felicidad. El modo apropiado de orar es un proceso de purificación interior que nos hace capaces para Dios y, precisamente por eso, capaces también para los demás. En la oración, el hombre ha de aprender qué es lo que verdaderamente puede pedirle a Dios, lo que es digno de Dios. Ha de aprender que no puede rezar contra el otro. Ha de aprender que no puede pedir cosas superficiales y banales que desea en ese momento, la pequeña esperanza equivocada que lo aleja de Dios. Ha de purificar sus deseos y sus esperanzas. Debe liberarse de las mentiras ocultas con que se engaña a sí mismo: Dios las escruta, y la confrontación con Dios obliga al hombre a reconocerlas también”.
En el marco del camino de Jesús con sus discípulos a Jerusalén, camino discipular, aprendemos mucho de nuestro “ser” cristianos. En efecto, la oración de gratitud y en la súplica nos encontramos con nuestra identidad más profunda, con lo que realmente somos. Agradecer a Dios desde lo profundo del corazón es reconocer que le debemos todo lo que somos. O más aún, reconocer que somos, existimos, porque Él es, existe, nos ama y nos hace ser y existir.
La súplica nos revela nuestra identidad de pobres evangélicos, como la viuda, de seres necesitados, no autosuficientes y, por ello, necesitamos pedirle, suplicarle desde lo más hondo de nuestro ser. Así, la acción de gracias y la súplica brotan de un alma que ha encontrado su centro, su profundidad, su verdad. Se trata, entonces, de una forma fundamental de oración que nunca nos debe faltar. En efecto, el que suplica de verdad ora con autenticidad porque se reconoce necesitado, dependiente, en fin, pobre. Por eso Jesús alaba tanto en el evangelio la fe de los pobres que recurren a él para suplicarle, para pedirle algo. Y por eso Jesús declaró que la fe había salvado al leproso samaritano que suplicó la curación y volvió a Jesús para agradecerle el don. Pidamos y supliquemos al Señor con la certeza que Él nos escucha siempre y que hará a favor nuestro lo que sea mejor para nuestra vida, incluyendo la eterna. Podemos unir este tema con el mensaje del domingo pasado y tenemos así las actitudes fundamentales que el creyente auténtico debe tener antes Dios: suplicar, pedir compasión, agradecer, alabar. Esto es lo nuestro, lo que podemos y debemos hacer. El resultado hay que dejárselo a Dios, que obra siempre según su amoroso y misterioso designio.
Por otra parte, las lecturas de hoy nos invitan a preguntarnos de dónde esperamos que vengan los frutos de nuestra actividad pastoral: sólo de nuestro ingenio, de nuestras obras; o sobre todo de la acción de Dios implorada en la oración. ¿Cuánto de súplica precede a nuestras iniciativas pastorales? Esto nos dará la respuesta a la pregunta anterior pues es doctrina probada que la acción pastoral se sostiene con la oración de los contemplativos. Como bien dice H. U. von Balthasar9: "Todos debemos orar y ayudar a los demás a perseverar en la oración, y a no poner la confianza en la actividad externa, si es que queremos que la Iglesia no sea derrocada en los duros combates de nuestro tiempo".
En la misma línea tenemos el mensaje del Santo Padre Francisco para la Jornada mundial misionera 2025 cuyo lema es: “Misioneros de esperanza entre los pueblos”. Pues bien, aquí nos habla la relación entre oración, esperanza y misión: “Los misioneros de esperanza son hombres y mujeres de oración, porque “la persona que espera es una persona que reza”, como decía el venerable cardenal Van Thuan, que mantuvo viva la esperanza en la larga tribulación de la cárcel gracias a la fuerza que recibía de la oración perseverante y de la Eucaristía. No olvidemos que rezar es la primera acción misionera y, al mismo tiempo, «la primera fuerza de la esperanza».
Por eso, renovemos la misión de la esperanza empezando por la oración, sobre todo la que se hace con la Palabra de Dios y particularmente con los Salmos, que son una gran sinfonía de oración cuyo compositor es el Espíritu Santo. Los Salmos nos educan para esperar en las adversidades, para discernir los signos de esperanza y tener el constante deseo “misionero” de que Dios sea alabado por todos los pueblos (cf. Sal 41,12; 67,4). Rezando mantenemos encendida la llama de la esperanza que Dios encendió en nosotros, para que se convierta en una gran hoguera, que ilumine y dé calor a todos los que están alrededor, también con acciones y gestos concretos inspirados por esa misma oración”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Oh! La espera
Quién te esperará Señor en estos tiempos
Cada minuto es oro en polvo en manos del hombre
Se agitan los pasos, se aceleran los diálogos
Y no caben los espacios
Contemplar el transcurrir del tiempo sin andar
Solo observar los procesos
Es morir, desaparecer entre las sombras
Bajo la amenaza de perderlo todo
Aferrados a un reloj inexorable
Que devora la vida y ya no hace preguntas
Se yergue sobre el ruido y responde
Sin dejar huellas, ni nombres
Exige el devenir, detenerse hasta sufrir
Bucear en lo profundo del momento
En el dolor, nunca más oportuno
Para abrirse al Amor, a tu Voz
Juez de jueces implacables
Memorias frágiles, aspectos intachables
Tú en una Cruz, vestido de heridas y sangre
Nos darás el Don, para saber esperarte
La fe nos la conservarás Tú, en quien supo amarte
Y hasta el fin, será una aventura vivir
Desafiando el hambre y la sed del camino
Pues para eso has venido.
Para calmar y colmar al peregrino
El ya goza en tu esperanza
Y contra viento y marea, cae y se levanta
Porque sabe en Quien ha puesto su confianza.
Amén.
1 Los Evangelios Sinópticos y la cultura mediterránea del siglo I (Verbo Divino; Estella 1996) 291.
2 Cf. L. H. Rivas, La obra de Lucas I. El Evangelio (Agape; Buenos Aires 2012) 169.
3 B. Malina, Los Evangelios Sinópticos y la cultura mediterránea del siglo I (Verbo Divino; Estella 1996) 291. 4J, Fitzmyer, El Evangelio según Lucas, T. III (Cristiandad; Madrid 1987) 847-848.
5 El evangelio según San Lucas III (Sígueme; Salamanca 2004) 244-249.
6 Hoy estarás conmigo en el paraíso. Orientaciones para las homilías desde el domingo XXVIII hasta el domingo XXXIV “Durante el año”. Ciclo C; CEA, 1998, 35.
7 Cf. J. Lafrance, Día y noche (San Pablo; Madrid 1993) 51-54.
8J. Lafrance, Día y noche (San Pablo; Madrid 1993) 55-56.
9 Luz de la Palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 291.