19/10/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Êxodo 17,8-13
Salmo Responsorial120(121) - R- Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e fez a terra.
2ª Leitura: 2 Timóteo 3,14-4,2
Evangelho Lucas 18,1-8
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 1Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre e nunca desistir, dizendo: 2“Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus e não respeitava homem algum. 3Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’ 4Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: ‘Eu não temo a Deus e não respeito homem algum. 5Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!’” 6E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. 7E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” – Palavra da salvação.
Lc 18,1-8
O benefício por excelência da oração não são as graças, mas o Autor de toda graça, ou seja, o próprio Deus. Com efeito, a oração é um clamor que nasce da nossa radical pobreza. Experimentamos que não somos autossuficiente e que não temos como invocar direitos a Deus. Para orar de verdade, devemos nos dar conta de nossa extrema pobreza.
Para receber Deus na oração, porém, é preciso fazer o que Jesus ensina: “orar sempre sem desanimar”. O que significa isso?
Rezar sempre e nunca desistir significa primeiramente rezar com confiança na bondade de Deus. A oração confiante é fonte energias para começarmos a fazer aquilo que pedimos. Por exemplo: orar pela paz nos leva a começar a semear a paz entre as pessoas; orar para que cessem os sofrimentos, nos leva a ajudar quem sofre; rezar pelos famintos, nos faz partilhar os próprios bens com os carentes. Se pedirmos coisas boas ao Bom Deus, a oração nos tornará mais bondosos com os outros.
Rezar sempre e nunca desanimar significa nos dirigir ao Pai com liberdade filial. O que significa isso? Cada um de nós já fez a experiência de dois tipos de conversa: a experiência de uma conversa em que nos sentimos à vontade. A pessoa com quem conversamos nos é familiar e acreditamos na sua sinceridade. Nós nos olhamos nos olhos e nos entendemos logo, às vezes, até sem palavras. Não temos necessidade de pesar as palavras porque sabemos que seremos bem compreendidos e, se erramos, seremos corrigidos com amor. Não precisamos dissimular nossos sentimentos nem nossas intenções.
Outro tipo de conversa é quando não somos livres. Não nos sentimos livres ou porque estamos mentindo ao outro, ou suspeitamos que o outro nos engane. Não confiamos no outro e, dessa forma, continuar a conversa se torna um tormento. Não vemos a hora de encerrar a conversa porque não desejamos continuar dissimulando nossas intenções, nossos sentimentos ou porque não sentimos que o outro seja confiável.
A oração livre é parecida com o primeiro tipo de conversa.
Rezar sempre sem desanimar significa também falar da abundância do coração (Mt 12,34). Oração é uma ação mais do coração do que da memória, mais do desejo do que de repetição de palavras. Mesmo que eu reze utilizando fórmulas decoradas, a oração sempre é feita mais com o coração e não tanto com os lábios. Deus não cabe nas palavras humanas. Elas devem tocar o mistério de Deus, mas não o devem aprisionar. Fazer da oração uma ação mecânica ou mágica de repetição de fórmulas acaba por contradizer o que as próprias fórmulas têm por finalidade: nos abrir ao mistério da presença e da ação de Deus.
Orar sempre e nunca desanimar significa fazer silêncio: não o silêncio vazio, mas o silêncio habitado pela alegria de estar em companhia de Deus, dos anjos e dos santos; silêncio onde há júbilo do coração por estar na presença de Deus.
Orar sempre e nunca desanimar significa dialogar com Deus, ou melhor, fazer dueto com Ele. O diálogo acontece quando duas pessoas falam alternadamente; dueto é quando duas pessoas cantam em uníssono. A oração é diálogo, mas é principalmente dueto. Isso acontece quando nós nos unimos à oração que o Espírito Santo faz em nós. De fato, o Espírito foi derramado em nossos corações, e Ele reza em nós com gemidos inefáveis; Ele reza em nós clamando Abbá! São Bento cunhou um princípio prático nesse sentido: mens nostra concordet verba nostra. A nossa oração deve concordar com a Palavra! Em nossa oração devemos nos esforçar em nos sintonizar à oração do Espírito Santo e à oração da Igreja!
Rezar sempre, e nunca desistir significa carregar dentro de nós mesmos o santuário no qual está presente Deus e no qual podemos entrar sempre para rezar. Assim rezamos também quando estamos ocupados com nossas tarefas cotidianas, seja trabalhando ou estudando, cuidando das pessoas ou caminhando pela rua. Em todos os lugares e momentos trazemos a lembrança de Deus e temperamos tudo com o sal do amor de Deus. Tudo o que fazemos traz a recordação e a luz da presença de Deus.
Você já teve uma pessoa muito amada na qual você pensava a todo momento, mesmo que não estivesse junto dela? Assim é rezar sempre sem nunca desanimar. Temos Deus presente a todo momento e em todos os lugares, não importa a nossa ocupação, não importa se acordados ou dormindo. A lembrança de Deus aflora a cada pessoa que encontro, a cada compromisso que devo realizar, a cada tristeza que enfrento. O nosso coração sempre voa para Deus e se incendeia no íntimo mesmo quando estamos deitados dormindo.
Rezar sempre, e nunca desistir significa começar a rezar antes de rezar. Tendo momentos fixos de oração, começo a rezar antes desses momentos. Começo a invocar Deus, a rezar pelo desejo, a recolher meu espírito antes do momento fixado da oração. Começo a criar em mim o espírito de reverência que devo ter diante de Deus e, depois, quando chega o momento fixado de oração, me separo das ocupações e preocupações para fixar o olhar do coração e a atenção da mente unicamente em Deus.
Orar sempre e nunca desanimar significa, por fim, pedir: Senhor, ensina-me a rezar! Ficamos distraídos por mil coisas; raramente a nossa oração desce profundamente em Deus e em nós; muitas vezes sentimos que nosso coração é como terra árida e sem água. Reconhecemos humildemente que não conseguimos orar sempre sem nunca desanimar, por isso pedimos essa graça ao Senhor.
Rezemos no íntimo de nós mesmos!
Senhor, ensina-nos a rezar sempre sem nunca desanimar! Tu sabes ensinar não só com palavras, mas nos dás o teu Espírito que reza em nós sempre sem desanimar. Tu podes nos dar neste momento o que não conseguimos conquistar sozinhos! Tu podes nos dar agora com o Espírito Santo!
“E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por Ele?” (Lc 18,7)
Na oração, mergulhamos em Deus e liberamos em nós profundidades que desconhecemos.
Se a nossa oração for um autêntico face-a-face com Deus, ela deverá fazer emergir à nossa consciência as profundidades desconhecidas do nosso ser. Descobriremos recursos, potencialidades de conhecimento e de amor ainda inexploradas, que nascerão para a vida sob a ação do olhar de Deus. Ele é a verdadeira fonte do nosso ser, mais próxima de nós do que nós de nós mesmos.
Quando mergulhamos nas profundidades do oceano interior ficamos fascinados pelo esplendor daquilo que contemplamos. Esse mundo de silêncio e riquezas torna-se inesquecível para nós.
O evangelho deste domingo nos ajuda a buscar inspiração para a chamada “oração de petição”. Não pedimos humilhados, temerosos, como o servo diante de seu senhor. Não se trata de “informar” a Deus, mas “educar nossos olhos” para descobrir sua presença amorosa e providente; não convencer a Ele, mas convencer-nos, animar-nos e converter-nos para entrarmos no fluxo do Amor divino.
Então, todos os sentimentos e desejos, situados em sua justa relação, podem brotar no nosso coração orante: agradecer, adorar, deixar-nos inundar pela confiança e perdão...
O ser humano é um indigente que pede, descobrindo Deus em seu interior, pedindo com Ele e n’Ele.
“Clamar” nos desperta para entrar em sintonia com a presença divina que nunca nos abandona.
Toda a vida é isto: pedir, buscar, clamar... Evidentemente, aquele que pede, busca e clama está se colocando em movimento, está caminhando, está saindo de si... A oração é mobilizadora, nos arranca da passividade e nos faz entrar em sintonia com o querer e o desejo de Deus: que vivamos intensamente. Tudo é de Deus em nossa vida, mas tudo é nosso. Nós vamos nos tornando mais gente (mais humanos) na medida em que somos oração.
Nessa direção se situa a parábola da viúva deste domingo, a quem a lei e o direito não lhe davam segurança; só lhe restava seu rosto indignado e seu grito suplicante para exigir justiça, sendo assim capaz de impactar e mudar o coração de um juiz iníquo.
Nas parábolas de Jesus aparecem muitas mulheres: a que perdeu a moeda (Lc l15,8-10), a viúva que depositou dois trocados no cofre do templo e era tudo o que tinha (Mc 12,41-44), a pobre viúva, corajosa, que enfrentou um juiz (Lc 18,1-8).
Elas nunca são apresentadas como discriminadas, mas com toda sua dignidade, à altura dos homens.
Na tradição bíblica, a viúva é, junto com o órfão e o estrangeiro, o símbolo por excelência da pessoa indefesa que vive desamparada, a mais pobre dos pobres. A “viúva” é uma mulher sozinha, sem a proteção de um esposo e sem apoio social algum. Só tem adversários que abusam dela.
Na parábola deste domingo, a viúva é apresentada como modelo de atitude diante de Deus pela sua persistência, pela sua coragem frente a um juiz surdo à voz de Deus e indiferente ao sofrimento dos oprimidos. Ela não desiste, continua lutando por si mesma e por seu direito à vida, indo ao juiz dia após dia.
A pobre viúva, longe de resignar-se, clama por justiça; ela não tem outra coisa a não ser sua voz para gritar e reivindicar seus direitos. Toda sua vida se transforma num grito de protesto: “faze-me justiça!”. Seu pedido é o de todos os oprimidos injustamente.
Um grito que vai ao encontro daquilo que Jesus dizia aos seus seguidores: “Buscai o Reino de Deus e sua justiça”.
Podemos também interpretar a parábola do juiz e da viúva como uma imagem do nosso interior: lugar da nossa intuição que nos diz que possuímos um brilho divino, que somos seres originais, filhos e filhos de Deus. Nosso interior representa os sonhos que carregamos durante nossa vida, os recursos que ainda não foram mobilizados, as possibilidades que não foram ativadas... Nele se faz visível algum traço do rosto do Deus vivo, afinal, nosso eu profundo é sua morada sagrada.
Mas, nosso interior carrega também um tribunal com um juiz frio e insensível, que, numa postura arrogante, nos julga de forma excessivamente dura, e, às vezes, nos rejeita e nos condena constantemente; ele emite juízos taxativos, cortantes, condenatórios, alimentando em nós sentimentos de culpa e impotência.
Ele tem o catálogo de leis nas mãos e é implacável mesmo diante dos mínimos deslizes, distribuindo prêmios (poucos) e castigos (abundância).
Em cada um de nós o instinto de julgar está enraizado profundamente; podemos até dizer que todos nascemos portadores de uma cátedra de juiz. Muitos cultivam ardorosamente esta vocação de juiz e encontram abundantes ocasiões para praticar juízos, sobre si mesmos e sobre os outros, submetendo-se a um horário esgotador. Daí a proliferação de “tribunais ambulantes e permanentes”.
No Evangelho, nos encontramos com algumas expressões categóricas que nos convidam a abandonar este ofício bastante perigoso. Muitos, com seu amadurecimento, ficam persuadidos de que existem coisas mais importantes a fazer do que dedicar-se a serem juízes.
Embora se trate de uma grave enfermidade, esta “síndrome de juiz” é curável. Existem muitas terapias que podem arrancar a cadeira do juiz e desalojá-lo de seu ofício.
Na parábola da viúva e do juiz injusto Jesus nos mostra como podemos conviver com o juiz interior. Como a viúva, nós nos vemos ameaçados por um inimigo – pode ser um inimigo interior ou exterior ou um padrão de comportamento que não nos permite viver com serenidade e paz.
Nesse contexto, o juiz representaria nosso juiz interior, que nos despreza continuamente e nos julga desprezíveis por termos ideais tão altos ou exigências tão ambiciosas para nós mesmos.
Nessa interpretação, a oração também passa a ser o lugar onde nosso interior encontra justiça, onde o juiz interior é desapoderado. Na oração nos tornamos cientes da nossa dignidade como seres humanos, que fomos criados por Deus e que Ele nos julga capazes de realizarmos nossos desejos. Por meio dela, entramos em contato com a imagem única e singular que o Pai tem de nós; toda autodepreciação e autocondenação se dissolvem durante esse momento.
Se orarmos com essa parábola em mente, a nossa oração adquire uma força diferente.
Nesse sentido, a oração é o espaço onde a dimensão feminina é despertada através do seu clamor, da sua insistência e perseverança.
O ser humano carrega dentro de si amor e agressão, razão e emoção, gentileza e dureza, juiz e viúva, animus e anima – dimensão masculina e dimensão feminina da alma.
Muitas vezes vivemos apenas um polo e recalcamos o outro. Enquanto este permanecer nas sombras terá um efeito destrutivo. A arte da humanização consiste na reconciliação da viúva com o juiz interior. Muitos ficam chocados quando, apesar de todo esforço para serem pessoas amáveis e gentis, descobrem em si lados insensíveis, antipáticos, julgadores, ofensivos...
Jesus nos apresenta a oração como caminho para esvaziar o ofício do nosso juiz interior. No espaço da oração experimentamos nosso direito à vida; ali encontramos paz, ajuda e cura. Ao mesmo tempo, a oração nos leva ao espaço interior do silêncio, onde o juiz é desarmado de sua arrogância.
Com o juiz silenciado, acabam-se os ressentimentos, as violências interiores, os sacrifícios, os juízos, os sentimentos de culpa... Morre o “juiz” das proibições, das ameaças, dos castigos e da perpétua vigilância sobre nossos atos e intenções. Com isso, nossa vida torna-se mais leve, os medos se vão e a harmonia toma assento em nosso coração.
Para meditar na oração:
A oração concebida como clamor nos salva do intimismo narcisista e do individualismo. Ela nos resitua como criaturas finitas, mas também à imagem e semelhança de Deus e desejosas de comunhão e de justiça; ela nos faz sentir-nos corpo com toda a humanidade e a criação que geme dores de parto; ela já é o vislumbramento de outro mundo possível.
Lucas narra uma breve parábola indicando-nos que Jesus a contou para explicar aos seus discípulos “como tinham de orar sempre sem desanimar”. Este tema é muito querido para o evangelista que, em várias ocasiões, repete a mesma ideia. Como é natural, a parábola foi lida, quase sempre, como um convite para cuidar da perseverança da nossa oração a Deus.
No entanto, se observamos o conteúdo do relato e a conclusão do próprio Jesus, vemos que a chave da parábola é a sede de justiça. Até quatro vezes se repete a expressão “fazer justiça”. Mais do que um modelo de oração, a viúva do relato é exemplo admirável de luta pela justiça no meio de uma sociedade corrupta que abusa dos mais fracos.
O primeiro personagem da parábola é um juiz que “nem teme a Deus nem se importa com os homens”. É a encarnação exata da corrupção que denunciam repetidamente os profetas: os poderosos não temem a justiça de Deus e não respeitam a dignidade nem os direitos dos pobres. Eles não são casos isolados. Os profetas denunciam a corrupção do sistema judicial em Israel e a estrutura machista daquela sociedade patriarcal.
O segundo personagem é uma viúva indefesa no meio de uma sociedade injusta. Por um lado, vive sofrendo os abusos de um “adversário” mais poderoso que ela. Por outro lado, é vítima de um juiz que não se importa em absoluto com a sua pessoa nem o seu sofrimento. Assim vivem milhões de mulheres de todos os tempos na maioria das terras.
Na conclusão da parábola, Jesus não fala de oração. Primeiro de tudo, pede confiança na justiça de Deus: “Deus não fará justiça aos seus eleitos que Lhe clamam dia e noite?”. Esses eleitos não são os "membros da Igreja", mas os pobres de todos os povos que clamam pedindo justiça. Deles é o reino de Deus.
Então, Jesus faz uma pergunta que é um desafio para os seus discípulos: “Quando vier o Filho do Homem, encontrará esta fé na terra?”. Não está a pensar na fé como adesão doutrinal, mas na fé que alenta a atuação da viúva, modelo de indignação, resistência ativa e coragem para reclamar justiça aos corruptos.
É esta fé e a oração de cristãos satisfeitos das sociedades de bem-estar? Seguramente, tem razão J. B. Metz quando denuncia que na espiritualidade cristã há demasiados cânticos e poucos gritos de indignação, demasiada complacência e pouca nostalgia de um mundo mais humano, demasiado conforto e pouca fome de justiça.
Nesta etapa de sua viagem a Jerusalém, Jesus continua a instruir o grupo de pessoas que o seguem sobre a importância da perseverança na oração. O texto do evangelho convida-nos a ter uma íntima relação de confiança com Deus, que se manifesta num profundo diálogo com ele nas diferentes situações do nosso quotidiano. Deus escuta o clamor do seu povo e especialmente das pessoas abandonadas e desconsideradas pela nossa sociedade.
Jesus conta para o grupo de seguidores uma parábola que narra a presença de um juiz “que não temia a Deus e não respeitava homem algum”. Desde esta descrição pode-se imaginar a vida e o atuar deste juiz: opressor e uma pessoa que só se importa consigo mesmo e seus interesses, sem nenhuma consideração nem com Deus nem com os homens. A seguir narra-se a realidade de uma viúva que “ia à procura do juiz” clamando por justiça “contra seu adversário”. A viúva é a personificação dos desprotegidos da sociedade, os que vivem em situações de pobreza e marginalidade. Com clamores insistentes e possivelmente desesperados, ela vai até o juiz à procura de justiça.
Na parábola Jesus remarca a insistência da viúva para comunicar sua mensagem. Num primeiro momento nos detemos a pensar nesta mulher, que infelizmente não era um caso especial nem na sua época nem na nossa! Mas Deus não é insensível ao clamor do seu Povo, nem permanece indiferente ao seu sofrimento.
Neste momento da sua viagem a Jerusalém, Jesus procura ensinar ao grupo de seguidores a importância de orar sempre sem desfalecer e a confiança em Deus que sempre responde ao pedido do seu Povo ainda que não seja visível no momento desejado. Lembre-se de que o evangelho de Lucas dirige-se aos cristãos que sofrem perseguições por causa da hostilidade dos judeus e romanos, e o desânimo estava neles. E Deus não faz nada para salvá-los? Ele vai deixar que seu Povo seja dizimado sem fazer nada? Como pôde permitir que isso acontecesse? Perguntas que hoje também habitam no coração e na vida de tantas pessoas diante do sofrimento de tantos inocentes, dos povos marginalizados.
Na parábola Jesus mostra que o juiz que “não teme a Deus, e não respeita homem algum” somente pelo cansaço e aborrecimento que a viúva está lhe procurando vai “fazer-lhe justiça”. O juiz não muda seu coração, sua atitude é somente para que ela não continue a incomodá-lo. Ele continua sendo insensível! Mas apesar disso ele escuta o clamor da viúva.
E Jesus disse: “Escutem o que está dizendo esse juiz injusto. E Deus não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar?”.
Jesus narra uma explicação da parábola passando do juiz “que não teme a Deus nem respeita os homens” a Deus que ainda com mais razão escuta o clamor e a súplica insistente do seu Povo. Se um juiz insensível acaba por fazer justiça, muito mais Deus que continuamente está preocupado por seus filhos e filhas queridos, especialmente os mais necessitados. Deus não é surdo aos nossos pedidos confiantes (cfr. Lc 11,11-13).
Quantas pessoas no Brasil e no mundo inteiro sofrem violência, marginalização e tantas formas de desproteção e violência! A viúva sabe da injustiça que está sofrendo e por isso vai à procura do juiz dia e noite. Há pessoas, especialmente mulheres e crianças, que são vítimas silenciosas de distintos tipos de violência. Neste domingo somos convidados a agudizar nossos ouvidos para escutar o grito silencioso e o clamor urgente que brota de sociedades inteiras, de milhares de pessoas que diariamente abandonam suas casas e países à procura de comida e uma vida digna.
Como disse o Papa Francisco, “os 'últimos' que clamam ao Senhor todos os dias, pedindo para serem libertados dos males que os afligem. São os últimos enganados e abandonados para morrer no deserto; são os últimos torturados, abusados e violados em campos de detenção; são os últimos que desafiam as ondas de um mar impiedoso; são os últimos deixados nos campos de um acolhimento demasiado longo para ser chamado de temporário. Eles são apenas alguns dos últimos que Jesus nos pede para amar e levantar. Infelizmente, as periferias existenciais de nossas cidades são densamente povoadas de pessoas descartadas, marginalizadas, oprimidas, discriminadas, abusadas, exploradas, abandonadas, pobres e sofredoras.
Como cristãos somos chamados por Jesus a manifestar o agir de Deus que escuta o clamor do seu povo e atua em consequência. Somos chamados a consolar suas aflições e oferecer-lhes misericórdia; para saciar sua fome e sede de justiça; fazê-los sentir a paternidade atenciosa de Deus. (Papa Francisco, da homilia de 8 de julho de 2019, durante a Santa Missa para os migrantes).
Deus nos chama a não desistir, mesmo que seja difícil, na certeza de que Ele está presente nessa luta, alentando, dando força e fazendo o bem e a justiça acontecer. Por isso Jesus conclui claramente: “Eu lhes declaro que Deus fará justiça para eles, e bem depressa”.
“Ser cristão é exatamente o oposto de ser inerte. Existem duas maneiras de servir o inimigo de Deus e não se sabe qual das duas é a mais prejudicial. Uma consiste em ser ativo no mal, a outra consiste em ser inerte no bem". Texto completo em: “O que nos falta é uma santa raiva”
Oração
Senhor, em comunhão com todas as mulheres do mundo inteiro, pedimos-te que nos dê força para converter em realidade o que pedimos nesta oração.
Oração da causa da mulher
Deus da Vida e do Amor,
Pai-Mãe da família humana,
que quisestes que vosso Filho
nascesse de uma mulher
e que fizesse das mulheres companheiras da sua caminhada
e testemunhas primeiras da sua ressurreição:
Ensinai à humanidade inteira
a superar toda discriminação,
a conviver em igualdade de direitos
e em harmonia de complementação,
mulheres e homens,
sendo filhas e filhos vossos,
sendo irmãs e irmãos de uma família só.
Por vosso Filho, Jesus Cristo,
Filho de Maria de Nazaré,
nosso irmão, o Libertador.
Amém, Axé, Awere, Aleluia!.
Dom Pedro Casaldáliga
Tradução de Moisés Sbardelotto.
No Evangelho segundo Lucas, Jesus já havia feito um ensinamento sobre a oração por meio da entrega aos discípulos do Pai-Nosso (cf. Lc 11,1-4) e de uma parábola, comentada posteriormente, sobre a necessidade de insistir na oração, pedindo e batendo à porta de Deus, que sempre concede o Espírito Santo, isto é, a melhor coisa entre as coisas boas, a mais necessária aos fiéis (cf. Lc 11,5-13).
No capítulo 18, há uma retomada desse ensinamento, através da parábola paralela à do amigo inoportuno: a parábola do juiz injusto e da viúva insistente.
É necessário rezar sempre, diz Jesus. Mas o que significa rezar sempre? E, ainda, devemos nos perguntar: como é possível? Evitar essas perguntas significa, para o fiel, remover uma verdade elementar: a oração é uma ação difícil, cansativa, e, por isso, é muito comum, até mesmo entre os fiéis maduros e convictos, ser vencidos pela dificuldade de rezar, pelo desânimo, pela constatação de que não ter sido atendido de acordo com os desejos, pelas vicissitudes da vida.
Hoje, além disso, a pergunta não é apenas: “como rezar?”, mas também: “por que rezar?”. Vivemos em uma cultura na qual ciência e técnica nos fazem acreditar que nós, humanos, somos capazes de tudo, que devemos sempre buscar uma eficácia imediata, que a autonomia que nos foi dada por Deus para viver no mundo nos exime de nos voltarmos para ele.
E também se deve reconhecer que, às vezes, em muitos fiéis, a oração parece apenas o fruto de uma indomável angústia, um falatório com Deus, uma verbalização de sentimentos gerados pelas nossas profundezas, devoção e piedade em busca de garantia e de méritos para nós mesmos. Há uma oração difusa que é feia e falsa: não a oração cristã, aquela segundo a vontade de Deus, aquela que agrada a Deus.
Então, além das dificuldades naturais que frequentemente denunciamos – falta de tempo, velocidade da vida cotidiana, distrações, aridez espiritual –, o que podemos aprender com o Evangelho sobre a oração?
Acima de tudo, deve-se reiterar sempre que a oração cristã se acende e nasce da escuta da voz do Senhor que nos fala. Assim como “a fé nasce da escuta” (Rm 10,17), a oração também, ela que nada mais é do que a eloquência da fé (cf. Tg 5,15). Para rezar de modo cristão, e não como os pagãos (cf. Mt 6,7), isto é, os outros caminhos religiosos humanos, é necessário escutar, é preciso deixar que os ouvidos sejam abertos pelo Senhor que fala e acolher a sua Palavra: “Fala, Senhor, que o teu servo escuta” (1Sm 3,9). Não existe oração mais alta e essencial do que a escuta do Senhor, da sua vontade, do seu amor que nunca deve ser merecido.
Uma vez realizada a escuta, a oração pode se tornar um pensar diante de Deus e com Deus, uma invocação do seu amor, uma manifestação de louvor, adoração, confissão em relação a ele. A oração muda em cada um de nós de acordo com a idade, o caminho espiritual percorrido, as situações em que vivemos.
Existem tantas maneiras de rezar quanto os sujeitos orantes. E ai dos que pretendem julgar a oração de outro: o sacerdote Eli julgava a oração de Ana na morada de Deus como o murmúrio de uma bêbada, enquanto aquela era uma oração agradável a Deus e por ele ouvida (cf. 1Sm 1,9-18)!
Portanto, verdadeiramente, a oração pessoal é “secretum meum mihi”, e a oração litúrgica deve inspirá-la, ordená-la, iluminá-la e torná-la cada vez mais evangélica, como Jesus Cristo a estabeleceu.
Quando isso ocorre, a oração deve ser apenas insistente, perseverante, não falhar, porque, quer viva do pensar diante de Deus ou com Jesus Cristo, quer se manifeste como louvor ou ação de graças, quer assuma a forma da intercessão pelos humanos, é sempre diálogo, comunicação com Deus, abertura e acolhida da sua presença, tempo e espaço em que o Espírito de Deus, que é vida, inspira, consola e sustenta.
Eis porque se deve rezar sempre! Não se trata de repetir constantemente fórmulas ou ritos (seria impossível fazer isso continuamente), mas de pensar e fazer tudo na presença de Deus, escutando a sua voz e confessando a fé nele. Por isso, o apóstolo Paulo, nas suas cartas, várias vezes e com diversas expressões, repete o mandamento: “Rezem ininterruptamente” (1Ts 5,17); “sejam perseverantes na oração” (Rm 12,12); “em todas as ocasiões, rezem com todo tipo de orações e súplicas no Espírito” (Ef 6,18); “perseverem na oração e vigiem nela, dando graças” (Col 4,2).
Isso significa permanecer sempre em comunhão com o Senhor, sentindo a sua presença, invocando-o no próprio coração e ao nosso lado, oferecendo-lhe o corpo, isto é, a vida humana concreta, como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (cf. Rm 12,1).
E eis, então, a parábola. Há uma viúva (categoria que, junto com o órfão e o pobre, expressa, segundo a Bíblia, a condição de quem é indefeso, oprimido) que pede a um juiz que lhe faça justiça, que a liberte da sua injusta opressão.
Mas esse juiz, diz Jesus, “não teme a Deus e não respeita homem algum”. É, portanto, um mau juiz, que nunca exerceria a justiça em favor daquela mulher. Porém, em um certo momento, vencido pela sua insistência e para não ser mais atormentado por ela, decide atendê-la. Ele faz isso na sua lógica egoísta, para não ser mais perturbado.
Ao término dessa breve parábola, Jesus faz-se exegeta dela e, com autoridade, faz uma pergunta aos seus ouvintes: “Se isso acontece na terra por parte de um juiz que não se importa nem com a justiça humana nem com a Lei de Deus, Deus que é juiz justo não escutará, talvez, as súplicas e os gritos dos chamados por ele para serem seu povo, sua comunidade e assembleia em aliança com ele? Tardará, talvez, a intervir?”.
Com essas palavras, Jesus confirma a fé dos fiéis nele e tenta aplacar a sua ânsia e as suas dúvidas sobre o exercício da justiça por parte de Deus. A comunidade de Lucas, de fato, mas também hoje as nossas comunidades, custam a crer que Deus é o defensor dos pobres e dos oprimidos.
A injustiça continua reinando, e, apesar das orações e dos gritos, nada parece mudar. Mas Jesus, com sua força profética, assegura: “Deus lhes fará justiça bem depressa!”. Haverá o juízo de Deus, ele virá sobre todos nós como a sua intervenção repentina e chegará às pressas, na pressa escatológica, mesmo que para nós, humanos, pareça tardar.
“Aos teus olhos, ó Deus, mil anos são como ontem”, canta o Salmo (90,4), e é verdade que para nós, humanos, não é como para Deus, mas aguardamos aquele dia que, embora pareça demorar, virá às pressas, sem tardar (cf. Hc 2,3; Hb 10,37; 2Pd 3,9).
Portanto, a perseverança em rezar tem os seus efeitos, não é inútil, e devemos sempre lembrar que Deus é um juiz justo que exerce o juízo de um modo que, por enquanto, não conhecemos. Somos míopes e cegos quando tentamos ver a ação de Deus no mundo e, sobretudo, a ação de Deus nos outros...
Mas, para Jesus, a oração é o outro lado da moeda da fé, porque, como já se disse, ela nasce da fé e é a eloquência da fé. Por isso, segue-se uma última pergunta, não retórica, que indica a inquietação de Jesus sobre a aventura da fé no mundo: “Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”. Pergunta que também nos inquieta, nós que, às vezes, temos a impressão de ser os últimos cristãos sobre a terra e tememos que a nossa fé falhe. Nada está garantido, nada está assegurado, e, infelizmente, há cristãos convencidos de que a Igreja permanecerá sempre presente na história. Mas quem assegura isso, se nem mesmo a fé está assegurada?
Deus certamente não abandona a sua Igreja, mas esta pode se tornar uma não Igreja, a ponto de diminuir, desaparecer e se dissolver no mundanismo, talvez religioso, sem ser mais a comunidade de Jesus Cristo, o Senhor. O chamado de Deus é sempre fiel, mas os cristãos podem se tornar incrédulos, a Igreja pode renegar o Senhor.
Quando lemos o nosso hoje, podemos, talvez, deixar de denunciar a morte da fé como confiança, adesão, fé na humanidade e no futuro, antes mesmo do que no Deus vivo? E, se falta a confiança nos outros que vemos, como poderemos cultivar uma confiança no Outro, no Deus que não vemos (cf. 1Jo 4,20)?
A falta de fé é a razão profunda de muitas patologias dos fiéis, e a tentação de abandonar a fé é cotidiana e está presente nos nossos corações. Portanto, só nos resta renovar a fé, com a esperança na vinda de Jesus, Filho do homem, justo Juiz, e com o amor fraterno vivido a partir do amor de Jesus, amor fiel até o fim (cf. Jo 13,1), por todos os humanos.
DOMINGO XXIX DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Ex 17,8-13):
A nivel exegético hay muchos detalles de este texto que se prestan a discusión, pero en su consideración global tanto la tradición judía como cristiana han descubierto aquí una clara enseñanza sobre el poder de la oración. Y en la misma línea corre la lectura litúrgica del mismo.
En el campo de batalla los israelitas conducidos por Josué libran el combate contra los amalecitas, pero el resultado de la misma depende de la elevación de las manos de Moisés. Este gesto es el signo de la elevación del alma y del corazón a Dios, signo de la oración y la súplica. Cuando los brazos de Moisés están en alto, Israel vence; o mejor, siguiendo el texto hebreo, Israel se hace fuerte. Cuando el cansancio lleva a Moisés a bajar sus brazos, Amalec se vuelve fuerte y vence a Israel. Entonces Moisés es "sostenido" para que continúe con sus manos alzadas hasta la caída del sol, consiguiendo así la victoria final para Israel.
El contexto nos da más luz sobre este texto pues sigue a la murmuración del pueblo en Masá y Meribá, cuando claman a Moisés por agua en medio de la sed abrasadora del desierto. Moisés, a su vez, clama a Yavé, quien le manda hacer brotar agua de la Roca para apagar la sed del pueblo. Yavé respondió dándoles agua, pero queda registrada la falta de confianza del pueblo en Su presencia activa en medio de ellos: "Aquel lugar recibió el nombre de Masá -que significa "Provocación"- y de Meribá -que significa "Querella"- a causa de la acusación de los israelitas, y porque ellos provocaron al Señor, diciendo: "¿El Señor está realmente entre nosotros, o no?" (Ex 17,7).
El texto de hoy sigue inmediatamente a esta pregunta y es, de algún modo, una respuesta a la misma. Dios lucha a favor de su pueblo contra los amalecitas, los hace fuertes gracias a la intercesión de Moisés y les concede la victoria con la valiente obediencia de Josué. Moisés y Josué actúan, colaboran, aportan. Uno con su oración, otro con su acción. Pero en definitiva la victoria depende de Dios.
Evangelio (Lc 18, 1-8):
La finalidad o mensaje de la parábola es clara por cuanto el evangelista nos lo revela desde el comienzo: "Después les enseñó con una parábola que era necesario orar siempre sin desanimarse".
Sobre la tentación del desánimo podemos suponer que era fuerte en la segunda o tercera generación cristiana a la que se dirige el evangelista Lucas (cf. Lc 1,1-4). De hecho, la invitación a no desanimarse o desfallecer utilizando el verbo egkakein (egkakein) la encontramos en Gal 6,9; 2Cor 4,1.16; Ef 3,13; 2Tes 3,13.- También es frecuente en los escritos de esta época la exhortación a "orar sin cesar" (cf. 1Tes 5,17; Rom 12,12; Flp 4,6; Col 4,2; Ef 6,18; 1Tim 2,1-2).
Los personajes de la parábola están bien caracterizados. En primer lugar, tenemos un juez que tiene todo el poder pero que carece de la más elemental conciencia moral. Dice el texto que "no teme a Dios ni tiene respeto por los hombres"; o sea que ignora los dos mandamientos principales: el amor a Dios y al prójimo. O también, como dice B. Malina[1]: “carece de vergüenza; no tiene sensibilidad para pensar cómo percibirá sus acciones la comunidad o el alcance que puedan tener (cf. Jr. 8,12). Una tradición conservada en la Misná nos cuenta que Hillel dijo: «Un patán no puede temer al pecado...» (m.'Abot 2,5)”.
Luego tenemos a una viuda que vive en la misma ciudad. Para la Biblia la viuda, junto con el huérfano, son un símbolo de las personas que se encuentran solas, desprotegidas, pues al no tener marido o padre no tienen quien las defienda y proteja. Además, la mujer no tenía derecho a la herencia, por tanto, si el marido fallecía, sus bienes quedaban en poder de la familia del esposo y ella debía regresar a su casa paterna. Y si no tenía familiares, quedaba merced de la ayuda de sus conocidos o de la limosna de la gente[2]. Y en este caso particular de la viuda descrita en la parábola: “Como las mujeres no hacían acto de presencia normalmente en los tribunales públicos, hemos de deducir que esta viuda no tenía en su familia ningún miembro masculino que pudiese presentarse en su lugar. Está sola”[3]. Y por esto mismo Dios se ocupa preferencialmente de ellos y manda hacer lo mismo (Cf. Ex 22,21; Dt 10,18; Jer 22,3). En el evangelio de Lucas particularmente se presta atención a las viudas como objeto de atención y también como modelos de religiosidad y generosidad (cf. Lc 2,37; 4,25; 7,12-13).
Volviendo a la parábola notemos que la viuda toma la iniciativa de pedir justicia al juez de modo reiterado o iterativo (esto se deduce del verbo en imperfecto). El pedido de "hazme justicia" incluye tanto el castigo del culpable como la reparación del daño ocasionado.
El juez durante mucho tiempo "no quiso" (ouk éthelen) hacerle justicia. Sin motivos ni causa se desentendió totalmente de ella. Pero luego reflexionó, se "dijo a sí mismo" que era mejor atender al reclamo de la viuda para que no siga “molestándolo”. En el texto se trata de algo más fuerte que una mera molestia o incomodidad pues el verbo utilizado “hypopiazein, tomado de la terminología del boxeo, significa «herir en el pómulo» (debajo de los ojos, en la cara). Cf. 1 Cor 9,27: hypópiazo mou to sorna («golpeo mi cuerpo»). Pero el verbo tiene también sentido figurado: «poner negro a alguien», es decir, «exasperarle», o también: «dejar exhausto, agotado, extenuado»”[4]. Lo cierto es que se deja en claro que su motivación es puramente egoísta, pero al final hace justicia. Y así termina la parábola presuponiendo un final feliz para la narración donde la viuda recibe lo que con insistencia pedía al juez.
Retengamos que más allá de las cuestiones jurídicas de la época y de la motivación del juez, el nudo del relato está en que, ante tanta insistencia de la viuda, este juez injusto termina por hacerle justicia.
El comentario de Jesús al final precisa claramente el alcance de este ejemplo o parábola: si un juez injusto termina por hacer justicia ante tanta insistencia de la viuda, cuanto más Dios, que es bueno y sumamente justo, hará justicia a sus elegidos que claman a Él día y noche. Aquí Jesús aplica un principio conocido en la interpretación rabínica que se fundamenta en la comparación y superación del ejemplo puesto: ¡cuánto más!
La traducción del v. 7 es difícil. La del leccionario y de la Biblia del Pueblo de Dios se apoya en el contexto del evangelio de Lucas y su respuesta ante la demora de la parusía: "Y Dios, ¿no hará justicia a sus elegidos, que claman a él día y noche, aunque los haga esperar?".
La Biblia de Jerusalén, por su parte, traduce el segundo miembro de la oración en la misma línea del primero, o sea como una interrogación: "pues, ¿no hará Dios justicia a sus elegidos, que están clamando a él día y noche? ¿Les hará esperar?"
Según F. Bovon[5] es mejor la primera traducción, la del leccionario, si tenemos en cuenta el contexto de todo el evangelio de Lucas y el versículo siguiente (8a). En efecto, el material de tradición que utiliza Lucas precisaba: la retribución vendrá "en seguida" (8a). Lucas rectifica: no, el Señor vendrá, ciertamente, para juzgar "en seguida", pero de momento "tarda". El evangelista le otorga al v. 8a el sentido, no de inminente, sino de "en un instante", "en un momento", como algo fulgurante y rápido (cf. Lc 17,24; 21,28-32). El leccionario traduce en este sentido con la expresión "en un abrir y cerrar de ojos". De este modo Lucas corrige la ansiosa expectativa de los que aguardan una inminente intervención de Dios para hacer justicia. Dios se tarda, pero existe la oración y ésta debe ser incesante para que no desfallezca la fe pues Dios es fiel y su intervención final es segura. Este es el mensaje para la comunidad cristiana, para los elegidos, que son comparados con una viuda por cuanto viven desprotegidos ante los poderosos. Esta espera orante supone fe, "Pero cuando venga el Hijo del hombre, ¿encontrará fe sobre la tierra?" (18,8b).
Por tanto, para San Lucas, al igual que para San Pablo, el deseo de la intervención final de Dios en la historia (la escatología) es una motivación para la oración cotidiana y perseverante.
ALGUNAS REFLEXIONES:
Los temas de la fe y la oración de súplica, con su estrechísima relación, me parece que son los dominantes en las lecturas de este domingo.
La primera lectura, leída desde la tradición de los Padres de la Iglesia, nos enseña que lo determinante en todas las batallas de la vida es la acción de Dios. Sólo en Él y con Él podemos ser fuertes y salir victoriosos. Ahora bien, Dios subordina o condiciona su ayuda, de algún modo, a la súplica perseverante del creyente y a su valentía en la acción.
El cansancio que nos hace bajar los brazos forma parte de nuestra condición humana. Necesitamos de la comunión de los santos, de la ayuda de los hermanos creyentes, de la oración de toda la Iglesia, para sostener nuestra súplica.
Vale decir que el combate de la fe se juega, en última instancia, en la oración y en la comunión eclesial. Quien persevera en la oración, persevera en la fe. Quien abandona la oración, antes o después, sentirá un debilitamiento de su fe. Y lo mismo vale para la comunión eclesial: sin el acompañamiento de la Iglesia es difícil perseverar en la fe, más aún, no es posible creer tal como enseña el Papa Francisco en Lumen Fidei nº 39: "Es imposible creer cada uno por su cuenta. La fe no es únicamente una opción individual que se hace en la intimidad del creyente, no es una relación exclusiva entre el «yo» del fiel y el «Tú» divino, entre un sujeto autónomo y Dios. Por su misma naturaleza, se abre al «nosotros», se da siempre dentro de la comunión de la Iglesia".
Lo dicho hasta aquí puede darnos razón del mandato de Jesús para que oremos siempre y sin desfallecer, unos por otros. La viuda de la parábola insiste a pesar de la falta de respuesta. Nuestra súplica debe ser perseverante a pesar de la demora en la respuesta, a pesar del silencio de Dios.
Sabemos que la oración es un arte más que una ciencia teórica. Vale decir que se aprende a orar, orando, y no tanto leyendo libros sobre la oración. Y saben de oración los que rezan, aunque no sepan escribir sobre la misma. J. Lafrance, sacerdote francés, sabe de oración porque reza; y sabe también escribir bien sobre la oración. Justamente él dice en su último libro que el versículo de Lc 18,7 que leímos hoy ("¿no hará justicia Dios a sus elegidos, que claman a él día y noche?") es la frase de Jesús que mejor expresa el secreto de su vida. Hasta un punto tal que manifiesta su deseo de que esta frase se escriba en el reverso del recordatorio de su muerte[6]. Muerte que le llegó el 14 de marzo de 1991 después de una fatigosa y prolongada lucha contra una enfermedad. J. Lafrance comenta así este versículo donde reconoce verdaderamente su rostro, como quien al menos ha deseado clamar a Dios día y noche: "Nosotros clamamos a Dios día y noche en la duración y en el tiempo; él responde en el instante, que es equivalentemente la eternidad. Ahí está la prueba y el combate de la oración. Por eso Dios quiere que oremos sin cesar y sin desfallecer nunca… Si hay que orar siempre sin cansarse, no es tanto para obtener lo que ya hemos recibido como para mantener la llama, igual que el aceite alimenta la lámpara… La fe es el único combate de la vida: seguir creyendo que el Padre nos escucha y nos atiende cuando no se ve ningún resultado. Y entonces es cuando se recurre a la fe de la Iglesia. Pienso en esta hermosa plegaria de la eucaristía justamente antes de pedir la paz. No mires nuestros pecados, sino la fe de tu Iglesia; y, conforme a tu palabra concédenos la paz. Cuando la oración resulta ardua e imposible, se acoge uno a la oración de la Iglesia, pues sabemos que la Iglesia es la depositaria de esta oración poderosa e incesante. Pienso en la oración de los monjes, los ermitaños y de todos esos hombres de oración ignorados que se dedican a arrancarle a Dios la salvación de sus hermanos"[7].
Por su parte el Papa Francisco en su homilía del 16 de octubre de 2016 comenta este mismo versículo diciendo: “Este es el misterio de la oración: gritar, no cansarse y, si te cansas, pide ayuda para mantener las manos levantadas. Esta es la oración que Jesús nos ha revelado y nos ha dado a través del Espíritu Santo. Orar no es refugiarse en un mundo ideal, no es evadir a una falsa quietud. Por el contrario, orar y luchar, y dejar que también el Espíritu Santo ore en nosotros. Es el Espíritu Santo quien nos enseña a rezar, quien nos guía en la oración y nos hace orar como hijos”.
El mismo J. Lafrance, para explicar quién le enseñó a orar sin desfallecer cuenta la historia de un joven griego que se retiró al desierto sólo para realizar las palabras de Jesús: "Hay que orar siempre sin desfallecer". Se pasaba el día rezando serenamente, pero al llegar la noche lo invade el miedo y entonces recurre más fuertemente a la oración. Luego le asalta el hambre y la sed y comienza a rezar pidiendo el alimento de cada día, al tiempo que sale a buscarlo. También es asaltado con frecuencia por tentaciones de todo tipo, por lo que se sumerge más intensamente en la oración de Jesús. Al cabo de 14 años unos amigos van a verlo y comprueban que está siempre orando. Entonces le preguntan: ¿quién te ha enseñado la oración continua? Y el joven responde: "Sencillamente, los demonios". En palabras del mismo Lafrance: "Las pruebas, las angustias, los sufrimientos y los peligros es lo que engendra la perseverancia, la cual nos impulsa a la oración incesante"[8].
Por último, no olvidemos la estrecha relación entre la oración y la fe. Reza, pide, suplica, ante todo, el que cree. Por eso la oración de súplica es expresión de nuestra fe. Incluso más, tal como la entiende J. Lafrance, es la expresión más auténtica de nuestro ser criaturas, de nuestro ser hijos de Dios. En la oración de gratitud y en la súplica nos encontramos con nuestra identidad más profunda, con lo que realmente somos. Agradecer a Dios desde lo profundo del corazón es reconocer que le debemos todo lo que somos. O más aún, reconocer que somos, existimos, porque Él es, existe, nos ama y nos hace ser y existir. La súplica nos revela nuestra identidad de pobres evangélicos, como la viuda, de seres necesitados, no autosuficientes y, por ello, necesitamos pedirle, suplicarle desde lo más hondo de nuestro ser. Así, la acción de gracias y la súplica brotan de un alma que ha encontrado su centro, su profundidad, su verdad. Se trata, entonces, de una forma fundamental de oración que nunca nos debe faltar. En efecto, el que suplica de verdad ora con autenticidad porque se reconoce necesitado, dependiente, en fin, pobre. Por eso Jesús alaba tanto en el evangelio la fe de los pobres que recurren a él para suplicarle, para pedirle algo. Y por eso Jesús declaró que la fe había salvado al leproso samaritano que suplicó la curación y volvió a Jesús para agradecerle el don. Pidamos y supliquemos al Señor con la certeza que Él nos escucha siempre y que hará a favor nuestro lo que sea mejor para nuestra vida, incluyendo la eterna. Podemos unir este tema con el mensaje del domingo pasado y tenemos así las actitudes fundamentales que el creyente auténtico debe tener antes Dios: suplicar, pedir compasión, agradecer, alabar. Esto es lo nuestro, lo que podemos y debemos hacer. El resultado hay que dejárselo a Dios, que obra siempre según su amoroso y misterioso designio.
Por otra parte, las lecturas de hoy nos invitan a preguntarnos de dónde esperamos que vengan los frutos de nuestra actividad pastoral: sólo de nuestro ingenio, de nuestras obras; o sobre todo de la acción de Dios implorada en la oración. ¿Cuánto de súplica precede a nuestras iniciativas pastorales? Esto nos dará la respuesta a la pregunta anterior pues es doctrina probada que la acción pastoral se sostiene con la oración de los contemplativos. Como bien dice H. U. von Balthasar[9]: "Todos debemos orar y ayudar a los demás a perseverar en la oración, y a no poner la confianza en la actividad externa, si es que queremos que la Iglesia no sea derrocada en los duros combates de nuestro tiempo".
En este mes de octubre, mes misionero, vale recordar que la misión de la Iglesia se sostiene en la oración incesante de los creyentes como dijo el Papa Francisco en el ángelus del 20 de octubre de 2019: “Para vivir plenamente la misión hay una condición indispensable: la oración, una oración ferviente e incesante, según la enseñanza de Jesús que se proclama también en el Evangelio de hoy. La oración es el primer sustento del pueblo de Dios a los misioneros, pues ésta es rica en afecto y gratitud por su difícil tarea de anunciar y dar la luz y la gracia del Evangelio a los que aún no lo han recibido. Hoy es una buena ocasión para preguntarnos: ¿rezo por los misioneros? ¿Rezo por aquellos que van lejos para llevar la Palabra de Dios con su testimonio? Pensemos en ello”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Mantener la fe hasta el final
Señor,
Posa tu mirada sobre mí y dime
Tú puedes entrar en lo profundo
Encontrar mis deseos ocultos
Y transformarlos en ofrenda agradable
Mis injusticias están frente a ti…
Veo mis obras fruto del fastidio
Del trabajo obligado sin amor
Y de la falta de oración para el servicio
Torna mi ansiedad en paciencia tenaz
Para volver una y otra vez al Padre
Juez de la verdadera Justicia
Y solo en Él buscar seguridad
Y cuando tenga que esperar: ¡espérame!
Sé que este tiempo pasará
Me basta con saberte cerca
Presente en cuerpo, alma y divinidad.
En mis oscuridades, mis dudas
Tú me harás capaz, de extender las manos
Para recibirlo todo de Él
De su bondad, de su infinito poder
Abro y cierro mis ojos
Maestro mío, enséñame a mirar
Concédeme ganar esta batalla
Mantener la fe hasta el final. Amén
[1] Los Evangelios Sinópticos y la cultura mediterránea del siglo I (Verbo Divino; Estella 1996) 291.
[2] Cf. L. H. Rivas, La obra de Lucas I. El Evangelio (Agape; Buenos Aires 2012) 169.
[3] B. Malina, Los Evangelios Sinópticos y la cultura mediterránea del siglo I (Verbo Divino; Estella 1996) 291.
[4] J, Fitzmyer, El Evangelio según Lucas, T. III (Cristiandad; Madrid 1987) 847-848.
[5] El evangelio según San Lucas III (Sígueme; Salamanca 2004) 244-249.
[6] Cf. J. Lafrance, Día y noche (San Pablo; Madrid 1993) 51-54.
[7] J. Lafrance, Día y noche (San Pablo; Madrid 1993) 55-56.
[8] J. Lafrance, Día y noche (San Pablo; Madrid 1993) 16.
[9] Luz de la Palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 291.