13/04/2025
BÊNÇÃO DOS RAMOS
ANO C
Lucas 19,28-40
LEITURAS DA MISSA
1ª Leitura: Isaías 50, 4-7
Salmo Responsorial 21(22) R- Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
2ª Leitura: Filipenses 2,6-11
EVANGELHO
Lucas 22,14-23,56 (Paixão do Senhor)
(Por favor, veja o texto usando o link da Paulus mencionado acima)
Lc 19,28-40
Jesus entra na cidade de Jerusalém. O que seria uma simples caravana de galileus peregrinando a Jerusalém para a celebração da Páscoa, se transformou em uma entrada alegre e festiva.
Não é uma entrada triunfal, mas uma entrada reveladora. Ela revela quem é Jesus! Ele é o filho de Davi. Ele é o Bendito que vem em nome do Senhor! Ele é o rei Messias! Jesus é recebido com rei messiânico!
E Jesus aceita essa aclamação, mas salienta no seu modo de agir e se comportar que é um rei pacífico. Ele não se apresenta com um aparato militar, não é acompanhado de cortesãos, não se cerca de serviçais. Ele vem montado num jumentinho e se apresenta desarmado e humilde. Ele não vem para conquistar pelas armas, mas deseja conquistar os corações. Nesse sentido ele é rei, e é isso que a entrada em Jerusalém revela de Jesus.
Os ramos que levamos para a celebração de hoje possam exprimir que fomos conquistados por Jesus.
Hoje também nós entramos no mistério do Senhor crucificado, morto, sepultado e ressuscitado. Entrar no mistério do Senhor consiste em padecermos com Ele para com Ele ressuscitar. É passar da morte para a vida, do pecado para a graça, do homem velho para o homem novo em comunhão com Jesus Cristo.
Ouvimos o relato da Paixão e morte de Jesus não como simples recordação. Não se trata somente de um relato. Trata-se de entrar com Jesus nos eventos da sua paixão, morte e ressurreição. A liturgia de hoje nos põe diante da seguinte alternativa: “Hosana ao Filho de Davi” ou “Crucifica-o”. São dois evangelhos: no início da procissão de ramos o povo aclamou: “hosana ao Filho de Davi”; no relato da paixão vemos a multidão pedir: “Crucifica-o”.
Cabe a nós escolhermos com que atitude nós queremos entrar na história da Paixão de Cristo: com a atitude do povo que aclamou hosana, com o gesto do Cirineu que se coloca ao lado de Jesus para ajuda-lo a carregar a cruz, com o pranto da mulheres que choram por Jesus, com a fé do centurião que bate no peito, com o arrependimento do bom ladrão, com a fidelidade de Maria que permanece ao pé da cruz? Ou podemos entrar no mistério da Paixão do Senhor com o gesto da traição de Judas e de Pedro, com a omissão de Pilatos que lavou as mãos, com a curiosidade dos que olham tudo de longe, com o escárnio e a zombaria dos que torturam Jesus, com o insulto do malfeitor crucificado ao lado e que desafia Jesus a se salvar?
Como você deseja entrar no mistério da Paixão e Morte do Senhor?
A Paixão de Jesus não é um relato do passado. Jesus continua na prisão, continua atado à coluna, sendo torturado e ofendido, está ainda sofrendo processo injusto, sendo preterido ao criminoso; Jesus continua no sepulcro lacrado por uma pesada pedra, porque naqueles que continuam sofrendo, Jesus continua sofrendo. Enquanto durar o sofrimento da humanidade, principalmente dos mais pobres, enquanto subsistir a dor e o pecado no mundo, Jesus está ainda misteriosamente no sepulcro; não ressuscitou ainda totalmente. Mais uma vez somos colocados diante da pergunta: como você vai entrar no mistério da Paixão de Jesus que continua sofrendo e morrendo nos sofredores deste mundo?
Toda a nossa vida deve ser, em certo sentido, uma semana santa. Como vamos vivê-la?
Possamos viver a grande semana da santa da vida com Jesus, como Jesus, e como tantos outros bons Cirineus, como Maria, como o Centurião Romano, como o bom ladrão!
Domingo de Ramos - Lc 22, 14 – 23, 56 – Ano C
“Jesus caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém” (Lc 19,28)
Depois de uma longa caminhada quaresmal, chegamos à Semana Santa, onde celebramos os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, ou seja, os acontecimentos centrais de nossa fé cristã. O toque principal é dado pela Páscoa: “passagem” da morte à Vida.
Jesus, presença de vida nos povoados, vilas e campos da Galileia, quis também levar vida a uma cidade que carregava forças de morte em seu interior. Ele quis pôr o coração de Deus no coração da grande cidade; desejava re-criar, no coração da capital, o ícone da nova Jerusalém, a cidade cheia de humanidade e comunhão, o lugar da justiça e fraternidade...
“Estavam subindo a Jerusalém”. A paisagem familiar da Galileia foi ficando para trás e a fadiga da subida pesava agora sobre seus corpos cansados; sabiam o que lhes esperava, sobretudo pela inquietação que enchia seus corações de obscuros presságios. O Mestre, eterno Peregrino, alimentava a esperança de levar vida a uma cidade carregada de morte; por isso, caminhava com passos rápidos, seguido dos seus discípulos.
Jesus, entra nesta cidade aclamado pelo povo simples. Há muitas formas de entrar na vida, nas situações, nos problemas, nos povos..., por razões e interesses muito diferentes e, portanto, com atitudes diferentes. Muitas são “entradas” de poder, seja de ordem política, militar, desportivas, eclesiástica... Jesus entrou em Jerusalém de maneira provocativa e ousada. Sua “entrada em Jerusalém” pode também ser uma ocasião privilegiada para questionar nossa presença nos grandes centros urbanos.
Assim, o percurso quaresmal desemboca na cidade e nos convida a examinar nossa presença cristã nas cidades: como torná-las mais humanas, acolhedoras e possibilitadoras da vida.
A Campanha da Fraternidade deste ano pede de todos nós, seguidores(as) de Jesus, uma atitude ecológica, também nos grandes centros urbanos, através de uma “incidência política”; cada vez mais nossas cidades se revelam irrespiráveis, contaminadas, com diferentes expressões de muros que alimentam conflitos e divisões; é preciso criar “oásis de humanidade”, onde todos possam se sentir em casa.
Com sua entrada em Jerusalém, Jesus quis recuperar a cidade como lugar do encontro e da comunhão, como espaço da paz e da solidariedade..., desalojando aqueles que se fechavam a qualquer tentativa de mudança. Por isso, seu gesto provocativo e escandaloso de entrar na cidade montado num jumentinho, símbolo da simplicidade e do despojamento de qualquer pretensão de poder e força, causou violenta reação naqueles que se beneficiavam da estrutura política e religiosa da cidade.
Jesus quis continuar anunciando e realizando na cidade de Jerusalém aquilo que fizera na região excluída da Galileia; quis também humanizar esta cidade para que ela fosse sol de justiça e paz para todos os povos.
“Entrar Jerusalém” com Jesus é comprometer-nos com uma cidade mais humana e humanizadora; a cidade que sonhamos e que queremos: a Cidade Nova. E o(a) seguidor(a) de Jesus tem em quem se inspirar.
As pessoas e os povos de todos os tempos e lugares trazem, como que enraizados nas fendas mais profundas de seu interior, sonhos de rara beleza, uma esperança ousada, um sentimento de profunda comunhão com tudo e com todos (ecologia integral). São desejos de construção de uma nova Jerusalém, a cidade humanizada, ou seja, espaço de acolhida, de convivência, de proteção e cuidado da vida, de fraternidade... Era certamente nessa direção que Jesus apontava, ao se dirigir a Jerusalém como a cidade das esperanças e possibilidades.
Este é um dos grandes desafios nas nossas grandes cidades. Romper com o individualismo e as estruturas petrificadas que marcam as relações entre os homens e as mulheres, para criar um marco novo, humanizador e aberto a Deus Pai, através de pequenas comunidades. Comunidades daqueles que confessam o seu amor comum pelas mesmas coisas – as mesmas esperanças, os mesmos sonhos, a mesma utopia da “Cidade Nova” do Reino.
Esta Cidade Nova deve estar circundada por “Novos Céus e Nova Terra”, assentada no centro de uma Nova Criação; portanto, em equilíbrio e beleza ecológica visível, integrada neste horizonte mais amplo da Nova Criação, que é manifestação da chegada de toda a realidade à sua plenitude.
Todas as expressões de vida devem estar interligadas e interdependentes, constituindo uma Ecologia Integral, perpassada pelo mesmo Sopro do Espírito.
O mundo urbano é, certamente, área de missão da Igreja e dos cristãos. Sua principal preocupação é a defesa integral da vida e de seu sentido último, o mundo dos valores éticos que iluminam o homem e a mulher na sua ação no mundo.
No meio das cidades encontramos pessoas “especiais” que se comprometem alegremente com a humanização dos espaços, e se convertem assim em fator essencial de esperança para um futuro novo; são pessoas que “gastam” suas vidas, sua acolhida e seus cuidados em favor das vítimas da violência e da destruição.
A cidade é uma realidade humana que pode e deve ser iluminada pelo Evangelho, sustentada pela graça, animada pela esperança da vinda do Reino. É necessário aprender a ler a cidade com os olhos caridosos, pacientes, misericordiosos, amigos, fecundos, cordiais...
Para o(a) seguidor(a) de Jesus, a cidade é também o espaço para a busca e o encontro de Deus. Podemos falar de um “típico modo de proceder cristão” em sua referência ao espaço urbano.
É Deus que constrói a cidade perene, a cidade sem muralhas, a cidade da plenitude e da amizade, a cidade da fraternidade na qual todos se reconheçam como irmãos e irmãs sob um único Nome e sob um único Céu. Deus é o grande arquiteto; é Ele quem constrói, para a humanidade, a imensa cidade na qual todos se reconhecem fraternos, próximos, ternos...
É nessa direção que somos chamados a sermos colaboradores para “pôr o coração de Deus no coração da grande cidade”, e renová-la a partir de dentro.
A vivência do seguimento de Jesus Cristo implica, portanto, romper a bolha que asfixia a vida e derrubar os muros que cercam o coração, atrofiando a própria existência.
Somos chamados a uma pertença pessoal cada vez mais ampla, até sentir-nos parte da “Jerusalém” que sonhamos. Precisamos de fronteiras, sim, mas que sejam fronteiras abertas ao diálogo, flexíveis, fluidas, acolhedoras do diferente...
Nossa vocação é a de construir pontes e ser presença reconciliadora em situações de fronteira, colocando nossas energias, nossa formação, nossa vida a serviço... para criar, alimentar e sustentar os laços humanos, relações sociais, estruturas sociais, políticas e econômicas que tornem possível o diálogo, a solidariedade e o encontro entre todos os seres humanos e aponte para uma nova cidade, fraterna e justa.
Este pode ser nosso “Domingo de Ramos”: desejar, sonhar, alimentar esperanças, ver a Jesus nos pobres, nos excluídos, nos sofredores, e forrar seu caminho com nossos mantos, alegrar-nos com Ele, bendizê-lo e sermos benditos por Ele, enquanto, cuidando dos pobres e da Criação, neles cuidamos de nosso Rei.
Podemos, então, proclamar em alta voz: “Hosana”, “hosana nos céus e nas criaturas”, “hosana em todas as pessoas”, “hosana na Criação inteira”...
Para meditar na oração:
O gesto profético de Jesus de “entrar em Jerusalém” nos convida a contemplar nossas cidades e nos desafia ser presença evangélica, transformadora, portadora de vida nos nossos grandes centros urbanos.
A cidade é o lugar por excelência do discernimento, porque é o espaço de decisão onde se constrói o futuro comum. Lugar da política, da cultura, da educação, da saúde, da ecologia..., onde se forjam as mudanças, a capacidade de criar modos de existir, de romper com as estruturas que desumanizam e buscar o diferente, o novo, o desconhecido...
- Traga à “memória” o que é mais desumano na sua cidade: como você reage diante disso? passivo? suporta? denuncia? atua?...
- Procure descobrir “sinais do Reino de Deus” no meio do ritmo frenético de sua cidade.
- Traga à mente nomes de pessoas corajosas e criativas que contagiam e fazem crescer a esperança na sua cidade.
De que adianta carregar uma cruz no peito se não sabemos carregar a menor cruz de tantas pessoas que sofrem ao nosso lado?
O que significam os nossos beijos ao Crucificado se não despertam em nós o afeto, a acolhida e a proximidade com aqueles que vivem crucificados?
Para adorar o mistério de um 'Deus crucificado', não basta celebrar a Semana Santa; é preciso também aproximar-se do Crucificado, semana após semana.
O mundo está cheio de igrejas cristãs presididas pela imagem do Crucificado, e também está cheio de pessoas que sofrem, crucificadas pela desgraça, pela injustiça e pelo abandono: os doentes privados de cuidados, as mulheres abusadas, os idosos ignorados, as crianças violadas, os imigrantes sem documentos nem futuro. E pessoas, muitas pessoas afundaram na fome e na miséria pelo mundo todo.
É difícil imaginar um símbolo mais cheio de esperança do que a cruz plantada pelos cristãos em todos os lugares: uma "memória" pungente de um Deus crucificado e um lembrete permanente de sua identificação com todos os inocentes que sofrem injustamente em nosso mundo.
Essa cruz, erguida entre as nossas cruzes, nos lembra que Deus sofre conosco. Deus se compadece da fome das crianças de Calcutá, sofre com os assassinados e torturados no Iraque e chora com as mulheres maltratadas dia após dia em suas casas. Não sabemos como explicar a raiz última de tanto mal. E mesmo que soubéssemos, não nos faria muito bem. Sabemos apenas que Deus sofre conosco. Não estamos sozinhos.
Mas os símbolos mais sublimes podem ser pervertidos se não recuperarmos seu verdadeiro conteúdo repetidamente. O que significa a imagem do Crucificado, tão presente entre nós, se não vemos gravados em seu rosto o sofrimento, a solidão, a tortura e a desolação de tantos filhos e filhas de Deus?
De que adianta carregar uma cruz no peito se não sabemos carregar a menor cruz de tantas pessoas que sofrem ao nosso lado? O que significam os nossos beijos ao Crucificado se não despertam em nós o afeto, a acolhida e a proximidade com aqueles que vivem crucificados?
O Crucificado desmascara nossas mentiras e covardias como ninguém. Do silêncio da cruz, Ele é o juiz mais firme e gentil do aburguesamento da nossa fé, da nossa acomodação ao bem-estar e da nossa indiferença para com aqueles que sofrem. Para adorar o mistério de um “Deus crucificado” não basta celebrar a Semana Santa; é preciso também aproximar-se do crucificado, semana após semana.
Hoje começa a Semana Santa com a celebração do Domingo de Ramos. Em primeiro lugar, ela se refere à entrada de Jesus em Jerusalém: é um momento festivo, um momento de alegria para um povo simples que acolhe Jesus e celebra sua chegada. Em segundo lugar, ouvimos e meditamos no relato do Evangelho de Lucas sobre a paixão e a morte de Jesus. O texto deste domingo segue o relato da última ceia com os discípulos, a oração no Jardim das Oliveiras, a prisão de Jesus, as negações de Pedro e, em seguida, Lucas narra como Jesus foi levado ao Conselho pelos anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os sábios. A intenção deles é condená-lo porque ele se considera o Messias, o Filho de Deus.
A liturgia nos oferece a possibilidade de unir esses dois momentos importantes da vida de Jesus: sua entrada em Jerusalém e, ao mesmo tempo, a atitude dos habitantes de Jerusalém em relação à condenação e à morte de Jesus. Lucas relata uma longa jornada de Jesus em que seus discípulos o acompanham em todos os momentos: com profunda alegria em sua entrada em Jerusalém, quando estendem seus mantos para que ele passe e o aclamam como rei, depois em cada uma de suas atitudes no Templo, quando ele discute com os sumos sacerdotes e os sábios. Há também as pessoas a quem ele continua ensinando em parábolas e que, junto com os discípulos, testemunham as discussões contínuas com os sacerdotes. Jesus está sempre acompanhado e é deixado sozinho quando está orando no jardim e seus amigos dormem. A partir desse momento, os discípulos acompanham Jesus de longe, eles se “separam” dele, não estão entre aqueles que estavam com ele.
Neste domingo, recebemos e meditamos sobre o texto da Paixão de Jesus a partir dos sentimentos dos discípulos. Lucas não diz nada sobre eles nesse relato, nada é dito sobre eles, mas podemos imaginá-los caminhando pelas cenas que o evangelho nos traz. A última menção a um deles é quando Jesus olhou para Pedro, depois que o galo cantou pela terceira vez e “o Senhor se voltou e olhou para Pedro”. Podemos supor então que, de lugares diferentes, eles estavam acompanhando Jesus em sua missão. A atmosfera é tensa, a situação é preocupante, os soldados prendem Jesus à força, com golpes e zombarias, e o levam diante de Pilatos. Os discípulos, cheios de medo, ficam de fora, mas acompanham toda a jornada de Jesus e veem como ele é levado às diferentes autoridades, a Pilatos, a Herodes, depois novamente a Pilatos e, finalmente, a uma acusação sem nome: a multidão implorando por sua morte em troca da libertação de um assassino.
Como cada um deles se sentiria ao ver Jesus, seu mestre, que responde ao conselho das autoridades judaicas dizendo que ele é o Filho de Deus, depois a Pilatos confirmando que ele é o rei dos judeus, que se cala diante de Herodes, que ouve novamente Pilatos que vai puni-lo e nada mais, mas que acaba sendo vaiado por uma multidão - da qual eles também fazem parte, com seu silêncio - que pede sua crucificação!
Cada um deles, que se orgulhava de ter sido chamado e de estar com Jesus, testemunhando seus milagres e recebendo seus ensinamentos, agora é testemunha de novos “discípulos” que são encorajados a estar ao lado de Jesus nesse momento: “um certo Simão, de Cirene, que voltava do campo”, que é aquele que carrega a sua cruz, as mulheres que choram por ele e o acompanham em seu caminho para o Calvário e, finalmente, aquele que é condenado ao lado de Jesus, que discute com o outro homem crucificado dizendo: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal”. E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”.
Seu pedido será ouvido e ele será o primeiro a entrar no reino: Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.
Com esses novos seguidores, os discípulos aprendem como devem seguir Jesus: deixando de lado suas ocupações e carregando a cruz uns dos outros, como fez Simão de Cirene. Ele acompanhou Jesus, não tomou seu lugar, mas foi quem o ajudou naquele momento crucial. O outro novo discípulo é aquele que é condenado e crucificado ao seu lado, porque ele “merece” e reconhece sua dor e tem a capacidade de ver a injustiça que está sendo feita a Jesus.
Como eles olhariam para essas pessoas, que estavam com Jesus naquele momento? Simão de Cirene, um simples trabalhador, que estava voltando para casa e que é crucificado ao lado de Jesus, reconhece em sua pobreza e marginalidade a grandeza de Jesus, seu amor, sua capacidade de misericórdia e, sob esse amor, ele se abriga.
Juntamente com os discípulos, recebemos o convite de limpar nossos olhos para reconhecer o amor que habita naquele que, apesar das cruzes da vida e da marginalidade que tem de viver, tem um coração habitado por um amor que transcende sua dor. E isso lhe permite ver além: reconhecer em Jesus crucificado o verdadeiro rei e Messias. Sua cruz se torna a salvação de sua vida, ele tem a capacidade de ver a miséria humana que condena injustamente uma pessoa inocente e de pedir-lhe que o ensine a amar como ele.
Assim, entramos na Semana Santa com o coração de novos “discípulos” para acompanhar Jesus, reconhecendo nossa pequenez e fragilidade.
A liturgia do Domingo de Ramos une elementos de duas antigas celebrações. De acordo com o testemunho de Etérea, peregrina em Jerusalém, no século IV, nesse domingo, a comunidade cristã de Jerusalém encenava em uma procissão o que teria sido a entrada de Jesus na cidade, para celebrar a sua Páscoa. Em Roma, não havia esse costume e a Igreja celebrava o domingo da Paixão. Na Igreja latina, a atual liturgia junta a bênção e a procissão de Ramos (oriundas do costume da Igreja de Jerusalém) e a missa com os textos do domingo da paixão (herança de Roma). Deixo o comentário da paixão para a sexta-feira santa (comentarei o evangelho de João) e agora fico com o evangelho usado na liturgia para a bênção e procissão de Ramos (Lucas 19, 29- 40).
Conforme o quarto evangelho, durante sua vida de adulto, pelo menos três vezes, Jesus teria ido a Jerusalém para as festas importantes do ano. Nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), Jesus vai uma vez só e é para celebrar a sua Páscoa e dar a sua vida. Talvez por isso, os evangelhos tiveram de resumir em uma narrativa única fatos e momentos que podem ter ocorrido ao menos em dois momentos diferentes da história. O costume do povo levar ramos nas mãos e cantar textos do salmo 118 (Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor) faz parte dos costumes da festa das Tendas que se dá em setembro e não da Páscoa que se dá em abril. A festa das Tendas recorda a caminhada dos hebreus no deserto na esperança da libertação. É uma festa toda centrada na esperança messiânica, portanto, na perspectiva de que a libertação não tenha sido só do passado, mas haja uma libertação definitiva agora e sempre.
O evangelho de Lucas conta a entrada de Jesus em Jerusalém, (Lc 19) não apenas como a chegada de um peregrino qualquer que entrava na cidade pelo Monte das Oliveiras. Lucas dá à entrada de Jesus na cidade um tom simbólico e profético. Ele entra em Jerusalém como Messias e até com certos toques de rei. (Os discípulos dizem: Bendito o que vem como rei, em nome do Senhor).
Parece que a comunidade de Lucas é de um ambiente grego que não conhece mais os costumes judaicos da festa das Tendas. Por isso, quando conta a entrada de Jesus em Jerusalém, diferentemente de Marcos e Mateus, Lucas não alude mais aos ramos que aquela pequena multidão de peregrinos carregava nas mãos como era o costume da festa das Tendas. Esse evangelho se centra mais no fato de que o povo peregrino que entra na cidade com Jesus o aclama como Messias (Cristo) que vem realizar a esperança da libertação do povo. Os próprios gritos (Hosana significa Liberta-nos) dá à cena um conteúdo político que faz com que os sacerdotes e escribas fiquem com medo e peçam a Jesus para mandar o povo se calar; coisa que Jesus não faria nunca.
Atualmente, ninguém de nós quer sacralizar os movimentos e manifestações populares. As marchas, passeatas e manifestações em praça pública devem ser laicais, pluralistas e autônomas. No entanto, quando no domingo passado, em várias cidades do Brasil, os céus do centro de várias cidades brasileiras se enchiam de pipas com as palavras Lula Livre e as ruas se enchiam de bandeiras e faixas de partidos e movimentos sociais, é essa energia de resistência e de esperança que nós, que cremos, reconhecemos ser inspirada pelo Espírito Divino de Amor e corresponder ao projeto sagrado de transformar o mundo em um espaço de comunhão libertadora.
Hoje, para as paróquias e dioceses, fazer a procissão de Ramos é fácil. É um símbolo que deixou de ser perigoso. Hoje, ninguém vai fazer como aqueles escribas que, com medo da repressão política, pediram a Jesus: manda os discípulos se calarem. Mas, precisamos levar Jesus à Jerusalém que, hoje, é a nossa cidade, com comunidades pobres, ameaçadas em seus direitos de moradia, com projetos urbanísticos pensados para a classe rica e sempre à custa do deslocamento e da marginalização dos mais pobres.
Alguns grupos cristãos compreendem que “levar Jesus à nossa cidade” significa levar a doutrina religiosa ou fazer culto para as pessoas de fora. Não parece ser essa a vontade de Jesus. Ele não centrou a fé em si mesmo. Quis ser testemunha do reino de Deus. Concretamente, isso significa trazer para os que estão sofrendo a solidariedade efetiva que testemunha Deus está com vocês e para ajudá-los a vencer as lutas da vida.
Na realidade de hoje, levar Jesus a nossas cidades é testemunhar às pessoas de que é possível conviver como irmãos e irmãs, sem competição e sem medo uns dos outros. É organizar a vida na cidade, de forma que todos os seus moradores tenham consciência de cidadania e tenham seus direitos reconhecidos.
Nesse ano, a CNBB nos convida a atualizar nossa Quaresma com a Campanha da Fraternidade sobre a necessidade de implementar e aprofundar Políticas Públicas de qualidade. Integrar essa preocupação no coração da nossa fé é fazer dessa Páscoa um testemunho de solidariedade humana e que realmente colabore com a transformação do mundo.
A liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz revela-se o amor de Deus, esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
Com a chegada de Jesus a Jerusalém e os acontecimentos da semana santa, chegamos ao fim do “caminho” começado na Galileia. Tudo converge, no Evangelho de Lucas, para aqui, para Jerusalém: é aí que deve irromper a salvação de Deus. Em Jerusalém, Jesus vai realizar o último ato do programa enunciado em Nazaré: da sua entrega, do seu amor afirmado até à morte, vai nascer esse Reino de homens novos, livres, onde todos serão irmãos no amor; e, de Jerusalém, partirão as testemunhas de Jesus, a fim de que esse Reino se espalhe por toda a terra e seja acolhido no coração de todos os homens.
A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos. Para concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham o coração mais disponível para acolher o Reino; e avisou os “ricos”, os poderosos, os instalados, de que o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.
O projeto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostos a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-no, condenaram-no e pregaram-no na cruz.
A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do Reino: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam este mundo.
Podemos também dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.
Na cruz de Jesus, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta contra o pecado, isto é, contra todas as causas objetivas que geram medo, injustiça, sofrimento, exploração, morte. Assim, a cruz contém o dinamismo de um mundo novo – o dinamismo do Reino.
Para além da reflexão geral sobre o sentido da paixão e morte de Jesus, convém ainda notar alguns dados que são exclusivos da versão lucana da paixão:
No relato da instituição da Eucaristia, só Lucas põe Jesus a dizer: “fazei isto em memória de Mim” (cf. Lc 22,19). A expressão não quer só dizer que os discípulos devem celebrar o ritual da última ceia e repetir as palavras de Jesus sobre o pão e sobre o vinho; mas quer, sobretudo, dizer que os discípulos devem repetir a entrega de Jesus, a doação da vida por amor.
Só Lucas coloca no contexto da última ceia a discussão acerca de qual dos discípulos seria o “maior” e a resposta de Jesus (cf. Lc 22,24-27). Jesus avisa os seus que “o maior” é “aquele que serve”; e apresenta o seu próprio exemplo de uma vida feita serviço e dom. Estas palavras soam a “testamento” e convocam os discípulos para fazerem da sua vida um serviço aos irmãos, ao jeito de Jesus.
No jardim das Oliveiras, só Lucas faz referência ao aparecimento do anjo e ao “suor de sangue” (cf. Lc 22,42-44). Esta cena acentua a fragilidade humana de Jesus que, no entanto, não condiciona a sua submissão total ao projecto do Pai; e sublinha a presença de Deus, que não abandona nos momentos de prova aqueles que acolhem, na obediência, a sua vontade.
Também no relato da paixão aparece a ideia fundamental que perpassa pela obra de Lucas: Jesus é o Deus que veio ao nosso encontro, a fim de manifestar a todos os homens, em gestos concretos, a bondade e a misericórdia de Deus. Essa ideia está presente no gesto de curar o guarda ferido por Pedro no Jardim do Getsemani (cf. Lc 22,51); está também presente nas palavras de Jesus na cruz: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” – Lc 23,34 (é desconcertante o amor de um Filho de Deus que morre na cruz pedindo desculpa ao Pai para os seus assassinos); está, ainda, presente nas palavras que Jesus dirige ao criminoso que morre numa cruz, ao seu lado: “hoje mesmo estarás comigo no paraíso” – Lc 23,43 (é desconcertante a bondade de um Deus que faz de um assassino o primeiro santo canonizado da sua Igreja).
Todos os sinópticos falam da requisição de Simão de Cirene para levar a cruz de Jesus (cf. Mt 27,32; Mc 15,21); no entanto, só Lucas refere que Simão transporta a cruz “atrás de Jesus” (cf. Lc 23,26). Este dado serve a Lucas para apresentar o modelo do discípulo: é aquele que toma a cruz de Jesus e O segue no seu caminho de entrega e de dom da vida (“se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-Me” – Lc 9,23; cf. 14,27).
As cidades de Guatemala e La Antigua se vestem de cores alegres ao chegar o tempo da Quaresma. O povo dispõe bonitos tapetes sobre as ruas, feitos de serragem tingidas de cores, flores, frutas e verduras, com as quais formam franjas, imagens religiosas ou nacionais, flores e pássaros. O colorido, a beleza e a paciência destas confecções são impressionantes. Mas talvez o que seja mais impressionante é que se pode passar horas em sua elaboração para que em um abrir e fechar de olhos se desfaçam. Por cima deles passam as procissões que levam nos ombros imagens de Virgens, Sacrários e Cristos. Para trás fica uma mistura de cores umas em cima das outras, difusas, flores atropeladas e imagens confusas, irreconhecíveis. Como se a beleza de alguns minutos atrás se dissipasse para sempre, pelo menos até o próximo ano em que voltarão a fazer os tapetes para que passem as procissões.
A tradição dos tapetes vem daquele domingo em que Jesus entrou em Jerusalém. Alguma coisa da entrada de Jerusalém se relembra mas sempre fica faltando a libertação. O povo grita Hosana! como petição e exigência, como um desabafar de raiva e desespero. Liberta-nos, resgata-nos! Já! Isso nunca deixa de chamar minha atenção porque a frase de Hosana não se traduz e isto cria confusões. Costumamos dizer Hosana como se disséssemos Viva!, mas Viva! não é o que o povo dizia. Resgata-nos! era o clamor. Resgatar foi um dos grandes esquecimentos da religião cristã. E quando falo de resgatar, falo na verdade de resgatar da fome, da injustiça e da miséria.
A chamada Entrada Triunfal em Jerusalém narrada no Evangelho segundo São Marcos é bonita e tem uma narrativa encantadora. O Evangelho de Marcos é escrito entre sua austeridade narrativa e sucessos cheios de íntimos detalhes. A chegada em Jerusalém é uma perícope cuidadosamente descrita, a tal ponto que chega a ser viva e comovedora. A valorização do fato expressa a própria comunidade de Marcos, que a escreve. O que a comunidade marcana parece dizer é: “isto é o que se passou quando a Boa Nova chegou até Jerusalém”. Pergunto-me: Quem estava fora da cidade? Quem cortou os ramos para colocá-las no chão e gritar Liberta-nos!, Liberta-nos!? Os diferentes episódios do Evangelho nos fazem ver parte da realidade socioeconômica da Palestina. Quando se diz que havia multidões sem comer ou seguindo a Jesus é porque na verdade, havia multidões caminhando pela Palestina, sem casa, sem saúde, sem comida. Sem dúvida muitas delas estavam ali nos arredores, outra vez nos arredores, nas portas como Jesus e o jumentinho: todos fora da porta.
Falo do jumentinho porque há tanto detalhe nessa imagem: “Vão ao povoado que está adiante de vocês; logo que entrarem, encontrarão um jumentinho amarrado, fora da porta, no caminho” etc. Que imagem é essa? Me faz pensar, com temor e tremor, que a Boa Nova narrada pela comunidade de Marcos se abre de tal modo que inclui igualmente os que estão nas portas, sem poder passar ou sem poder sair. É como se a Boa Nova do Evangelho de Jesus abrisse as portas da Cidade Santa e colocasse para dentro, junto com Jesus, famintos, enfermos, sem-teto e até jumentinhos do caminho. E apenas estes souberam reconhecer em Jesus a libertação de sua situação. O primeiro tapete foi feito para que entrasse o que sempre fica de fora. O tapete foi pisoteado pela justiça e equidade: não mais presos na porta, não mais multidões sem casa e com fome. Ou entramos todos ou nunca estaremos completos.
Gabriela Miranda García - Gabriela é teóloga feminista. Mexicana, foi criada na tradição presbiteriana. Estudou Teologia no México e na Costa Rica. Atualmente trabalha no Departamento Ecuménico de Investigaciones (DEI), na Costa Rica. Escreve poesia e colunas de opinião em meios de comunicação populares.
(Traduzido pelo tradutor Google sem nossa correção. Confira com o original logo após a tradução)
DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR “C”
Primeira leitura (Is 50,4-7):
Este fragmento corresponde ao terceiro dos quatro poemas conhecidos como “cânticos do servo” por se referirem a um personagem a quem Deus chama de seu “servo” (eternidade). Este número é relevante porque a profecia de Isaías atribui a graça do resgate do cativeiro babilônico não apenas à misericórdia de Deus, mas também ao trabalho de um mediador, o servo sofredor., que é representado como vítima sacrificial dos crimes do povo e que obtém o perdão para Israel em virtude do seu sacrifício.
No fragmento do cântico que lemos hoje o servo é apresentado como um discípulo fiel do Senhor, vítima do mal dos homens. A sua língua pronuncia o que o Senhor lhe diz, o seu ensino procura consolar os abatidos (50,4). Aceita a sua missão sem resistência, conhece as dificuldades que ela acarreta, mas não desiste porque depositou toda a sua confiança no Senhor..
Muito tem sido escrito sobre a possível identificação deste servo com alguma figura histórica ou com o povo de Israel, mas ainda não se chegou a um acordo total. No entanto, do ponto de vista cristão, É evidente que se trata de uma prefiguração profética de Jesus e da sua missão redentora.. De facto, no Novo Testamento Jesus é identificado com o Servo Sofredor no seu baptismo (Mt 3,17; Mc 1,11; Jo 1,34); nos seus milagres (Mt 8,17); na sua decisão de ir a Jerusalém para morrer (Lc 9,51) e na sua humildade (Mt 12,16-21). Segundo Jo 12,37-43, Jesus assume em seu ministério público as palavras do servo sofredor de Is 53,1s. O tema do servo é atribuído também a Jesus nos Atos dos Apóstolos (Hb 3,13.26; 4,27.30; 8,32) e nos hinos da Igreja primitiva (Fl 2,7; 1Pe 2,21-25). Embora não o citem, as histórias da paixão são uma realização do terceiro cântico, sobretudo pela referência às cuspidas e às pancadas que o Senhor recebe (cf. Mc 14,65).
Segunda Lectura (Flp 2,6-11):
Este hino representa uma das expressões mais antigas e genuínas da fé cristã, rica em intuições cristológicas e com valiosas contribuições doutrinárias.
A expressão com que começa a primeira parte: 'existindo na condição de Deus’ (2,6a) já pressupõe uma percepção profunda das relações únicas e exclusivas de Jesus com Deus; e embora ainda não contenha explicitamente a ideia de preexistência, suscita reflexões nesse sentido. Então, ao descrever o processo quenótico o de esvaziar/abaixar de Jesus, revela uma compreensão unitária das escolhas fundamentais feitas por Ele ao longo da sua vida terrena. Esse auto-humilhação de Jesus consiste na rejeição de toda ambição e orgulho; e na adoção de uma atitude mansa e humilde (cf. Mt 11,29; Is 42,2-3; 53,7-9). O ponto culminante desta humilhação é tornar-se 'obediente até a morte'(8b); onde o 'até a morte’ tem um significado qualificador e não temporal, pois é uma obediência que não cede a nenhum sacrifício pessoal, mesmo o da própria vida.
Em resumo, podemos dizer que toda a experiência de Jesus é lida tendo como pano de fundo a experiência de Adão e, especialmente, do quarto cântico do servo de Yahweh (Is 52,13-53,12). Ao contrário de Adão, que fingiu ser semelhante a Deus e assim perdeu a sua dignidade, Jesus, sendo de condição divina, não afirmou o seu privilégio de igualdade com Deus, mas assumiu a condição de Servo Sofredor, dando a sua vida como expressão da sua total fidelidade ao Pai.
O movimento de exaltação que se segue tem o seu ápice na doação do nome feito por Deus a Jesus; e este nome do Senhor (Cu, rios) entende o senhorio universal que o AT reconheceu em Yahweh e, portanto, os atos de adoração e confissão oferecidos a Jesus por todas as criaturas, inclusive as celestiais, são justificados e até exigidos.
Evangelho: Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas1
São Lucas, em sua narrativa da paixão, revela em muitos lugares as preocupações do historiador e do escritor: tende a explicar melhor o desenrolar dos acontecimentos e a construir uma história bem ordenada. Ele, entretanto, não tenta a fria objetividade do narrador imparcial. A sua narrativa é, pelo contrário, a do discípulo que revive a história do mestre. A sua posição pessoal exprime-se na repetida afirmação da inocência de Jesus e na omissão de detalhes ofensivos ou cruéis.. Além do mais, A Paixão assume o aspecto de um convite feito ao discípulo: É necessário seguir Jesus no caminho da Cruz. A narrativa é, portanto, pessoal e parenético. Inspira e reforça o compromisso de cada um em seguir Jesus.
Além disso, Lucas Acima de tudo, destaca-se a misericórdia de Deus revelada na pessoa de Cristo. As palavras de Jesus na cruz são um exemplo claro: o perdão porque não sabem o que fazem, a promessa do paraíso ao bom ladrão, a confiança e o abandono ao Pai. Por outro lado, destaca as atitudes do povo diante da Paixão de Jesus: as lágrimas de Pedro, a compaixão das mulheres de Jerusalém, o remorso do povo que volta batendo no peito.
Lucas Adota uma ordem diferente dos demais evangelhos: primeiro conta a negação de Pedro e seu arrependimento, depois descreve os ultrajes infligidos a Jesus pelos guardas e, por fim, narra a sessão do julgamento e a entrega do prisioneiro a Pilatos. Esta composição se adapta bem à perspectiva pessoal e parenético de Lucas. Mesmo antes de o processo começar, A primeira questão que se coloca é a do comportamento do discípulo enquanto o professor é julgado.. Quando o professor é humilhado, não é agradável declarar-se seu discípulo. A narrativa da negação de Pedro revela a tentação que se insinua no coração de cada cristão.. E a história do seu arrependimento, provocado por um olhar do Senhor que se volta para Ele (22,61), revela o segredo de toda conversão.
Durante o julgamento perante Pilatos Seu tema principal é a inocência de Jesus. Imediatamente após a pergunta inicial, Pilatos declara não encontrar motivos para condenação do acusado (23,4).
Na cena do Calvário Lucas Também oferece uma composição diferente, pois mostra que A cruz transforma o mundo das almas, produzindo conversão e garantindo misericórdia..
• Jesus no Calvário nos dá um exemplo de como perdoar as ofensas, orando pelos seus algozes: “Pai, perdoe-os, eles não sabem o que fazem!"
• Ele nos dá um exemplo de confiança e abandono filial: “Pai, em suas mãos confio meu espírito!". • Ele nos exorta à penitência: “Não chorem por mim, chorem por vocês mesmos...".
• Converta o ladrão, sem necessidade de palavras ("hoje você estará comigo no paraíso”). • A mesma coisa acontece com o povo: muitos o veem crucificado e se viram batendo no peito.
Lucas mostra pouco interesse pelas evocações escatológicas; Pelo contrário, interessa-lhe as repercussões interiores dos acontecimentos que narra e as relações pessoais das almas com Cristo. O grito final de Jesus antes de morrer não é o "Meu Deus, meu Deus, por que você me abandonou" do Sl 22,2 que encontramos em Mc e Mt; mas o apelo à confiança do Sl 31,6: "Jesus, com um grito, exclamou: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito." (Lc 23,46). Desta forma indica que Jesus termina a sua luta (agonia) seguro da vitória de Deus. No evangelho de Lucas, Jesus começou seu ministério orando (3:21) e também o terminou em oração.. Isto mostra que Deus não está ausente, nem surdo nem mudo, mas está próximo e Jesus se abandona a Ele com confiança, sem nunca lhe implorar um resgate urgente. As palavras de Jesus confirmam a sua certeza numa verdade inabalável: Deus está ao seu lado e continua sendo o Pai amoroso2.
Meditação:
No Domingo de Ramos Celebramos a entrada de Jesus em Jerusalém onde sofrerá a sua paixão e morte na cruz. É, portanto, a porta da Semana Santa e A liturgia deste dia convida-nos a entrar com Jesus na mesma. Ao entrar em Jerusalém, Jesus é aclamado como um rei que vem em nome do Senhor. Mas ele faz sua entrada como "um rei humilde, montado num burro“como profetizou o profeta Zacarias (cf. Zc 9,9). E a outra aclamação dos discípulos “Paz no céu e glória nas alturas!“nos lembra o canto dos anjos no início do evangelho (cf. 2,14) e reforça a missão de levar a paz a Jesus, o Messias. Ele não é, portanto, um rei arrogante que ostenta o seu poder; rei manso, humilde, pacífico e pacificador. E desta forma ele entra em nossas vidas e quer que o deixemos entrar para receber o seu perdão e a paz do coração. E daqui os ramos de oliveira fazem sentido, lembrando a paz que Cristo nos traz e que só pode ocorrer quando Cristo reina em nossos corações, em nossa casa, em nossa sociedade.
Também é chamado de "Domingo da Paixão"porque lemos a Paixão do Senhor e, desta forma, nos colocamos no clima para toda esta semana antecipar eventos para descobrir seu significado profundo e inspirar a atitude espiritual correspondente. Trata-se, ao estilo inaciano, de saber o que devemos pedir ao Senhor ao meditar a paixão, e o que a liturgia nos fez pedir na oração colectiva do domingo passado: “Senhor e nosso Deus, pedimos que a tua graça nos conceda participar generosamente daquele amor que levou o teu Filho a entregar-se à morte pela salvação do mundo.”.
Agora, os liturgistas aconselham não separar muito os dois momentos desta celebração. Assim, para A. Nocent a ponte entre os dois momentos é no sentido da procissão: “Nesta procissão devemos ver muito mais que uma imitação e uma memória, a ascensão do povo de Deus, a nossa própria ascensão com Jesus rumo ao sacrifício. Além disso, embora a procissão nos lembre o triunfo de Cristo em Jerusalém, agora também nos leva ao sacrifício da cruz, presente no sacrifício da missa, que deve ser oferecida"3.
Agora vamos lá nossa meditação é baseada nas leituras da Palavra de hoje: O primeira leitura nos convida a ouvir, atitude típica do discípulo, mas inclui também a aceitação dos acontecimentos. O servo não só fala e escuta, mas também sofre sem fugir, confiando na ajuda do Senhor. É um claro convite, portanto, a envolver-nos na paixão de Jesus prefigurada nos sofrimentos do servo.
Também o segunda leitura Ele apresenta-nos o caminho de Jesus, a sua humilhação e a sua obediência até à morte, como modelo a imitar. Especificamente, convida-nos a envolver-se com nosso querer, pensar e sentir na paixão de Jesus. A extrema pobreza e o extremo amor de Jesus aqui manifestados devem ser a força motriz da nossa entrega ao Senhor na pobreza de espírito.
Nele história de paixão atenção deve ser dada principalmente aos dois elementos que o compõem: um evento - sofreu, morreu - e o motivação e interpretação deste fato - por nós, pelos nossos pecados.
⇒ Nos sofrimentos de Cristo como acontecimento devemos tentar captar a sua dimensão interior, como salienta o Padre Cantalamessa: “Há uma paixão da alma de Cristo que é a alma da paixão, isto é, aquela que lhe confere o seu valor único e transcendente”4. Em particular, a história de Lucas nos convida a esta dimensão interior porque, como vimos, o evangelista evita contar os detalhes cruéis e humilhantes da paixão motivada pela sua veneração e admiração por Jesus e nos convida a considerar que Jesus, inocente e sem pecado, assume no âmago a separação de Deus que o pecado provoca, submerge-se no abismo da falta de sentido, na escuridão total. Esta é a paixão da alma de Cristo.
⇒ Quanto à interpretação do acontecimento a partir da fé, podemos dizer que Jesus sofre e morre por nós: este “para” abrange ambos os significados: por causa dos nossos pecados e em nosso nome, em nosso lugar.
Assim, através da escuta e da meditação da Palavra, procuramos entrar no mistério da paixão do Senhor, da participe do seu amor para que isso nos leve à entrega em nossa vida presente. Como observa HU von Balthasar5: “Nas palavras de Jesus na cruz, Lucas irradia visivelmente algo da graça que Jesus adquire para nós com a sua paixão.". Portanto, O mistério da cruz deve ajudar-nos a descobrir o significado das nossas cruzes e dar-nos forças para perseverar. Mas, acima de tudo, o mistério da cruz deveria ensinar-nos o que significa amar verdadeiramente ou a verdade sobre o amor.. A este respeito, o Papa Francisco disse na sua homilia de 10 de abril de 2022: “No Calvário duas mentalidades se confrontam. As palavras de Jesus crucificado no Evangelho opõem-se, com efeito, às daqueles que o crucificam. Eles repetem um refrão: “Salve-se”. Os patrões dizem:Deixe-o se salvar Se este é o Messias de Deus, o escolhido! (Lc 23,35). Os soldados reafirmam: «Se você é o rei dos judeus, salve-se!» (v. 37). E por último, também um dos malfeitores, que ouviu, repete a ideia: «Você não é o Messias? ¡salve-se!» (v. 39). Salve-se, cuide de você, pense em você; não nos outros, mas apenas na própria saúde, no próprio sucesso, nos próprios interesses; em ter, em poder, em aparência. salve-se: é o refrão da humanidade que crucificou o Senhor. Vamos refletir sobre isso.
Mas a mentalidade do eu se opõe à de Deus; ele salve-se Ele está em desacordo com o Salvador que se oferece. No Evangelho de hoje, Jesus, tal como os seus adversários, fala três vezes sobre o Calvário (cf. vv. 34.43.46). Mas em nenhum caso ele reivindica algo para si; Além do mais, ele nem sequer se defende ou se justifica. Reze ao Pai e ofereça misericórdia ao bom ladrão. Uma expressão sua, em particular, faz a diferença no que diz respeito ao salve-se: “Pai, perdoa-lhes” (v. 34)”.
A meditação sobre a paixão do Senhor é também um forte convite a renovar a nossa fé no mistério do amor misericordioso de Deus manifestado na paixão de Cristo porque “acreditar na caridade aumenta a caridade" (Bento XVI). Ou seja, a contemplação ou olhar crente e envolvido na paixão do Senhor despertará em nós o amor a Deus e ao próximo.
As “lições” da paixão de Jesus segundo o Cardeal A. Vanhoye podem servir de conclusão.6: "A paixão de Jesus é um tesouro inesgotável de graças. Nele todos os detalhes têm um significado profundo e nos colocam, de forma impressionante, diante da manifestação do amor divino. A paixão de Jesus nos leva à humildade. Sabemos, de facto, que também fazemos parte da humanidade que se apaixonou pelo Filho de Deus. Agora, a paixão de Jesus também nos dá uma esperança firme. Sabemos que Jesus derrotou o mal e a morte, derrotou-os por nós, para nos comunicar a sua vitória. Depois da paixão de Jesus, e graças a ela, podemos caminhar de cabeça erguida, porque sabemos que Jesus nos ama até esse ponto e porque a sua paixão transforma toda a nossa vida de forma positiva, permitindo-nos – como aconteceu com ele – viver uma vida nova. Portanto, sejamos gratos ao Senhor e acolhamos essas graças preciosas, capazes de transformar o mundo inteiro.".
Resumindo: "Toda a liturgia dos Ramos oferece, portanto, uma visão teológica muito completa do mistério de Cristo, que não pode ser apenas um mistério de morte, mas um mistério de vida triunfante através da morte. E isto não é algo sem importância para a justa concepção da vida espiritual."7.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Naquela noite, depois do jantar
Senhor, diga-nos se estamos aí com você
Na última ceia, partilhando o pão e o vinho
Talvez entre aqueles que venderam seu nome
Ou eles escaparam com medo de serem perseguidos?
Estamos discutindo sobre aparências e poder
Enquanto a injustiça fermentava na casa do rei?
Como naquele Monte, rotineiramente caímos de joelhos e acreditamos que oramos
Quando a provação chega e a fé diminui
As lágrimas podem apagar a culpa da traição
Do preço pago pelo Filho de Deus?
Você nos verá entre os da multidão, agitados e violentos
Estimulado pelo vício e pelos ruídos do momento?
Ou você nos descobrirá bem vestidos e arrogantes
Olhando para o sujo e para o pobre, para o perdedor, com desprezo?
Seremos os espectadores do espetáculo sangrento
Lamentando a morte, finais sinistros?
Ah, você!
Gostaríamos que pelo menos você nos visse como o ladrão
Reconhecendo sua miséria e implorando seu perdão
Tenha piedade de nós, pedimos hoje
Damos graças a tanto Amor, Senhor. AMÉM
[1] Para comentar la pasión según san Lucas extractamos lo propio de este evangelista de un conocido artículo de A. Vanhoye, "Las diversas perspectivas de los cuatro relatos evangélicos de la Pasión", cuya versión digital se encuentra en clerus.org. Más algunos agregados personales.
[2] Cf. J.-N. Aletti, El arte de contar a Jesucristo (Sígueme, Salamanca 1992) 136-137.
[3] La vida en Cristo (PPC, Madrid 1998) 81-82.
[4] Luz de la Palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 240.
[5] Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Madrid 2009) 99.
[6] A. Nocent, Celebrar a Jesucristo III. Cuaresma, 195.
[7] A. Nocent, Celebrar a Jesucristo III. Cuaresma, 200.
DOMINGO DE RAMOS EN LA PASIÓN DEL SEÑOR “C”
Primera lectura (Is 50,4-7):
Este fragmento corresponde al tercero de los cuatro poemas que son conocidos como los "cánticos del siervo" por su referencia a un personaje a quien Dios llama como su “siervo” (ebed). Esta figura es relevante por cuanto la profecía de Isaías atribuye la gracia del rescate de la cautividad babilónica no sólo a la misericordia de Dios sino también a la obra de un mediador, el siervo sufriente, que es representado como una víctima expiatoria por los crímenes del pueblo y que obtiene el perdón para Israel en virtud de su sacrificio.
En el fragmento del cántico que leemos hoy el siervo es presentado como fiel discípulo del Señor, víctima de la maldad de los hombres. Su lengua pronuncia lo que el Señor le indica, su enseñanza procura consolar al abatido (50,4). Acepta su misión sin resistencia, conoce las dificultades que entraña, pero no se da por vencido pues tiene puesta toda su confianza en el Señor.
Mucho se ha escrito acerca de la posible identificación de este siervo con algún personaje histórico o con el pueblo de Israel, pero no se ha alcanzado todavía un acuerdo pleno. No obstante, desde una perspectiva cristiana, es evidente que se trata de una prefiguración profética de Jesús y de su misión redentora. De hecho, en el Nuevo Testamento Jesús es identificado con el Siervo sufriente en su bautismo (Mt 3,17; Mc 1,11; Jn 1,34); en sus milagros (Mt 8,17); en su decisión de ir a Jerusalén a morir (Lc 9,51) y en su humildad (Mt 12,16-21). Según Jn 12,37-43, Jesús asume en su ministerio público las palabras del siervo sufriente de Is 53,1s. El tema del siervo también se atribuye a Jesús en los Hechos de los Apóstoles (He 3,13.26; 4,27.30; 8,32) y en los himnos de la primitiva Iglesia (Flp 2,7; 1Pe 2,21-25). Si bien no lo citan, los relatos de la pasión son una realización del tercer cántico, en especial por la referencia a los salivazos y golpes que recibe el Señor (cf. Mc 14,65).
Segunda Lectura (Flp 2,6-11):
Este himno representa una de las más antiguas y genuinas expresiones de la fe cristiana, rica en intuiciones cristológicas y con valiosos aportes doctrinales.
La expresión con que inicia la primera parte: ‘existiendo en condición de Dios’ (2,6a) supone ya una percepción profunda de las relaciones únicas y exclusivas de Jesús con Dios; y aunque no contiene explícitamente todavía la idea de preexistencia, da pie para una reflexión en esta dirección. Luego, al describir el proceso kenótico o de vaciamiento/abajamiento de Jesús, revela una comprensión unitaria de las opciones fundamentales realizadas por Él a lo largo de su vida terrenal. Esta autohumillación de Jesús consiste en el rechazo de toda ambición y orgullo; y en la adopción de una actitud mansa y humilde (cf. Mt 11,29; Is 42,2-3; 53,7-9). El culmen de esta humillación es hacerse ‘obediente hasta la muerte’ (8b); donde el ‘hasta la muerte’ tiene un sentido calificativo más que temporal pues se trata de una obediencia que no cede ante ningún sacrificio personal, incluso el de la propia vida.
En breve, podemos decir que toda la vivencia de Jesús es leída sobre el trasfondo de la experiencia de Adán y, muy especialmente, del cuarto cántico del siervo de Yavé (Is 52,13-53,12). Al contrario de Adán, quien pretendió ser como Dios y así perdió su dignidad, Jesús, siendo de condición divina, no ha hecho valer su privilegio de igualdad con Dios, sino que ha asumido la condición propia del Siervo Sufriente, dando su vida como expresión de su fidelidad total al Padre.
El movimiento de exaltación que le sigue tiene su cumbre en la donación del nombre hecha por Dios a Jesús; y este nombre de Señor (Ku,rioj) comprende el señorío universal que el AT reconocía a Yavé y, por tanto, los actos de adoración y confesión que le brindan a Jesús todas las criaturas, incluidas las celestiales, son justificados y hasta exigidos.
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Evangelio: Pasión de Nuestro Señor Jesucristo según san Lucas1
San Lucas, en su narración de la pasión, pone de manifiesto en muchos lugares las preocupaciones del historiador y del escritor: tiende a explicar mejor el desarrollo de los acontecimientos y a construir un relato bien ordenado. No intenta, sin embargo, la fría objetividad del relator imparcial. Su narración es, por el contrario, la del discípulo que revive la historia del maestro. Su posición personal se expresa en la repetida afirmación de la inocencia de Jesús y en la omisión de los detalles ofensivos o crueles. Por otra parte, la Pasión toma el aspecto de una invitación hecha al discípulo: es necesario seguir a Jesús por el camino de la Cruz. La narración es, pues, personal y parenética. Suscita y refuerza el empeño de cada uno en el seguimiento de Jesús.
Además, Lucas destaca sobre todo la misericordia de Dios revelada en la persona de Cristo. Las palabras de Jesús en la cruz son un claro ejemplo: el perdón porque no saben lo que hacen, la promesa del paraíso al buen ladrón, la confianza y abandono al Padre. Por otra parte, resalta las actitudes de las personas ante la Pasión de Jesús: las lágrimas de Pedro, la compasión de las mujeres de Jerusalén, la compunción de la gente que vuelve golpeándose el pecho.
Lucas adopta un orden diverso a los demás evangelios: cuenta primero la negación de Pedro y su arrepentimiento, describe después los ultrajes infligidos a Jesús por los guardias y finalmente narra la sesión del proceso y la entrega del prisionero a Pilato. Esta composición se adapta bien a la perspectiva personal y parenética de Lucas. Aún antes de que comience el proceso, la primera cuestión que se expone es la del comportamiento del discípulo mientras se juzga al maestro. Cuando el maestro es humillado, no es agradable declararse su discípulo. La narración de la negación de Pedro descubre la tentación que se insinúa en el corazón de cada cristiano. Y el relato de su arrepentimiento, provocado por una mirada del Señor que se vuelve hacia Él (22,61), devela el secreto de toda conversión.
Durante el proceso ante Pilato su tema principal es la inocencia de Jesús. Inmediatamente después de la pregunta inicial, Pilato declara que no encuentra contra el imputado ningún motivo de condena (23,4).
En la escena del Calvario Lucas ofrece también una composición distinta pues muestra que la cruz transforma al mundo de las almas, produciendo la conversión y asegurándonos la misericordia.
• Jesús en el Calvario nos da ejemplo de cómo perdonar las ofensas, rogando por sus verdugos: ¡"Padre, perdónalos, no saben lo que hacen!"
• Nos da ejemplo de confianza y de abandono filial: "¡Padre, en tus manos encomiendo mi espíritu!". • Nos exhorta a la penitencia: "No lloren sobre mí, lloren sobre ustedes...".
• Convierte al ladrón, sin necesidad de palabras (“hoy estarás conmigo en el paraíso”). • Lo mismo ocurre con la gente: muchos lo contemplan crucificado y se vuelven golpeándose el pecho.
Lucas muestra poco interés por las evocaciones escatológicas; le interesan, en cambio, las repercusiones interiores de los sucesos que narra y las relaciones personales de las almas con Cristo. El grito final de Jesús antes de morir no es el "Dios mío, Dios mío por qué me has abandonado" del Sl 22,2 que encontramos en Mc y Mt; sino la súplica de confianza del Sl 31,6: "Jesús, con un grito, exclamó: "Padre, en tus manos encomiendo mi espíritu. Y diciendo esto, expiró" (Lc 23,46). De este modo indica que Jesús termina su lucha (agonía) seguro de la victoria de Dios. En el evangelio de Lucas Jesús comenzó su ministerio orando (3,21) y lo termina también en oración. Esto muestra que Dios no
1 Para comentar la pasión según san Lucas extractamos lo propio de este evangelista de un conocido artículo de A. Vanhoye, "Las diversas perspectivas de los cuatro relatos evangélicos de la Pasión", cuya versión digital se encuentra en clerus.org. Más algunos agregados personales.
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está ausente, ni es sordo ni mudo, sino que está cerca y Jesús se abandona a El con confianza, sin suplicarle en ningún momento un rescate urgente. Las palabras de Jesús confirman su certeza en una verdad inquebrantable: Dios está de su lado y sigue siendo el Padre amoroso2.
Meditación:
El domingo de ramos celebramos la entrada de Jesús en Jerusalén donde va a sufrir su pasión y su muerte en cruz. Es, por tanto, la puerta de la Semana Santa y la liturgia de este día nos invita a entrar con Jesús en la misma. En su ingreso a Jerusalén Jesús es aclamado como rey que viene en el nombre del Señor. Pero hace su ingreso como "un rey humilde, montado en un asna" como lo había profetizado el profeta Zacarías (cf. Zac 9,9). Y la otra aclamación de los discípulos “¡Paz en el cielo y gloria en las alturas!” nos recuerda el canto de los ángeles al inicio del evangelio (cf. 2,14) y refuerza la misión de traer la paz propia de Jesús Mesías. No es, por tanto, un rey prepotente que hace alarde de su poder; sino un rey manso, humilde, pacífico y pacificador. Y de este modo viene a nuestras vida y quiere que lo dejemos entrar el ellas para recibir su perdón y la paz de corazón. Y de aquí toman sentido los ramos de olivo que recuerdan la paz que nos trae Cristo y que sólo puede darse cuando Cristo reina en nuestros corazones, en nuestra casa, en nuestra sociedad.
Se lo llama también "domingo de Pasión" por cuanto leemos la Pasión del Señor y, de este modo, nos ponemos en clima para toda esta semana anticipando los hechos para descubrir su sentido profundo e inspirarnos la actitud espiritual correspondiente. Se trata, al estilo ignaciano, de saber lo que tenemos que pedir al Señor al meditar en la pasión, y que la liturgia nos lo hizo pedir en la oración colecta del domingo pasado: “Señor y Dios nuestro, te rogamos que tu gracia nos conceda participar generosamente de aquel amor que llevó a tu Hijo a entregarse a la muerte por la salvación del mundo”.
Ahora bien, los liturgistas aconsejan no separar demasiado los dos momentos de esta celebración. Así, para A. Nocent el puente entre los dos momentos está en el sentido de la procesión: "En esta procesión debemos ver mucho más que un remedo y un recuerdo, la subida del pueblo de Dios, nuestra propia subida con Jesús hacia el sacrificio. Además, mientras la procesión nos recuerda el triunfo de Cristo en Jerusalén, nos lleva también ahora hacia el sacrificio de la cruz, hecho presente en el sacrificio de la misa, que va a ofrecerse"3.
Ahora vamos nuestra meditación se basa en las lecturas de la Palabra de hoy: La primera lectura nos invita a la escucha, actitud propia del discípulo, pero incluye también la aceptación de los acontecimientos. El siervo no sólo habla y escucha, sino que también padece sin huir, confiando en la ayuda del Señor. Es una clara invitación, por tanto, a involucrarse con la pasión de Jesús prefigurada en los sufrimientos del siervo.
También la segunda lectura nos presenta el camino de Jesús, su abajamiento y su obediencia hasta la muerte, como modelo a imitar. En concreto nos invita a involucrarnos con nuestro querer, pensar y sentir en la pasión de Jesús. La extrema pobreza y el extremo amor de Jesús manifestado aquí deben ser el motor de nuestra entrega al Señor en pobreza de espíritu .
En el relato de la pasión hay que prestar atención principalmente a los dos elementos que la conforman: un acontecimiento - padeció, murió - y la motivación e interpretación de este hecho - por nosotros, por nuestros pecados.
⇒ En los padecimientos de Cristo como acontecimiento hay que tratar de captar su dimensión interior, como bien señala el P. Cantalamessa: "Hay una pasión del alma de Cristo que es el alma de la pasión, es decir, la que le confiere su valor único y trascendente"4. A esta dimensión interior nos invita en particular
2 Cf. J.-N. Aletti, El arte de contar a Jesucristo (Sígueme, Salamanca 1992) 136-137.
3 A. Nocent, Celebrar a Jesucristo III. Cuaresma, 195.
4 La vida en Cristo (PPC, Madrid 1998) 81-82.
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el relato de Lucas por cuanto, según vimos, el evangelista evita contar los detalles crueles y humillantes de la pasión motivado por su veneración y admiración por Jesús y nos invita a considerar que Jesús, inocente y sin pecado, asume hasta el fondo la separación de Dios que provoca el pecado, se sumerge en el abismo del sin-sentido, en la oscuridad total. Esta es la pasión del alma de Cristo.
⇒ En cuanto a la interpretación del acontecimiento desde la fe podemos decir que Jesús sufre y muere por nosotros: este “por” abarca los dos sentidos: por causa de nuestros pecados y en favor nuestro, en lugar nuestro.
Así, a través de la escucha y la meditación de la Palabra, tratamos de entrar en el misterio de la pasión del Señor, de participar de su amor para que nos mueva a la entrega en nuestra vida presente. Como bien nota H. U. von Balthasar5: “en las palabras de Jesús en la cruz, Lucas hace irradiar visiblemente algo de la gracia que Jesús adquiere para nosotros con su pasión”. Por tanto, el misterio de la cruz debe ayudarnos a descubrir el sentido de nuestras cruces y darnos fortaleza para perseverar. Pero, por sobre todo, el misterio de la cruz debe enseñarnos lo que es amar de verdad o la verdad sobre el amor. Al respecto decía el Papa Francisco en su homilía del 10 de abril de 2022: “En el Calvario se enfrentan dos mentalidades. Las palabras de Jesús crucificado en el Evangelio se contraponen, en efecto, a las de los que lo crucifican. Estos repiten un estribillo: “Sálvate a ti mismo”. Lo dicen los jefes: «¡Que se salve a sí mismo si este es el Mesías de Dios, el elegido!» (Lc 23,35). Lo reafirman los soldados: «¡Si tú eres el rey de los judíos, sálvate a ti mismo!» (v. 37). Y finalmente, también uno de los malhechores, que escuchó, repite la idea: «¿Acaso no eres el Mesías? ¡Sálvate a ti mismo!» (v. 39). Salvarse a sí mismo, cuidarse a sí mismo, pensar en sí mismo; no en los demás, sino solamente en la propia salud, en el propio éxito, en los propios intereses; en el tener, en el poder, en la apariencia. Sálvate a ti mismo: es el estribillo de la humanidad que ha crucificado al Señor. Reflexionemos sobre esto.
Pero a la mentalidad del yo se opone la de Dios; el sálvate a ti mismo está en desacuerdo con el Salvador que se ofrece a sí mismo. En el Evangelio de hoy también Jesús, como sus opositores, toma la palabra tres veces en el Calvario (cf. vv. 34.43.46). Pero en ningún caso reivindica algo para sí; es más, ni siquiera se defiende o se justifica a sí mismo. Reza al Padre y ofrece misericordia al buen ladrón. Una expresión suya, en particular, marca la diferencia respecto al sálvate a ti mismo: «Padre, perdónalos» (v. 34)”.
La meditación de la pasión del Señor es también una fuerte invitación a renovar nuestra fe en el misterio del amor misericordioso de Dios manifestado en la pasión de Cristo pues "creer en la caridad suscita caridad" (Benedicto XVI). Es decir, la contemplación o mirada creyente e involucrada ante la pasión del Señor despertará en nosotros el amor a Dios y al prójimo.
Pueden servirnos de conclusión las "lecciones" de la pasión de Jesús según el Cardenal A. Vanhoye6: "La pasión de Jesús es un tesoro inagotable de gracias. En ella todos los detalles tienen un significado profundo y nos ponen, de una manera impresionante, ante la manifestación del amor divino. La pasión de Jesús nos impulsa a la humildad. Sabemos, en efecto, que también nosotros formamos parte de la humanidad que se encarnizó con el Hijo de Dios. Ahora bien, la pasión de Jesús nos brinda también una esperanza firme. Sabemos que Jesús venció el mal y la muerte, los venció por nosotros, a fin de comunicarnos su victoria. Tras la pasión de Jesús, y gracias a ella, podemos caminar con la cabeza alta, porque sabemos que Jesús nos ama hasta ese punto, y porque su pasión transforma toda nuestra vida de una manera positiva, obteniéndonos – como aconteció con él – vivir una vida nueva. Por consiguiente, mostrémonos agradecidos al Señor y acojamos estas gracias preciosas, capaces de transformar todo el mundo".
En síntesis: "El conjunto de la liturgia de los Ramos da, pues, una visión teológica muy completa del misterio de Cristo, que no puede ser únicamente misterio de muerte sino misterio de vida triunfante a través de la muerte. Y esto no es algo sin importancia para la justa concepción de la vida espiritual"7.
5 Luz de la Palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 240. 6 Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Madrid 2009) 99.
7 A. Nocent, Celebrar a Jesucristo III. Cuaresma, 200.
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PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Aquella noche, después de cenar
Señor, dinos si estamos allí contigo
En la cena última, compartiendo el pan y el vino
Acaso entre aquellos que vendieron tu nombre
O escaparon por temor a ser perseguidos?
Estamos discutiendo de apariencias y poder
Mientras se gestaba la injusticia en la casa del rey?
Como en aquel Monte, caemos de rodillas por rutina y creemos orar
Cuando la prueba llega y la fe declina
Podrán las lágrimas borrar la culpa de la traición
Del precio pagado por el Hijo de Dios?
Nos verás entre aquellos de la turba, agitados y violentos
Estimulados por el vicio y los ruidos del momento?
O nos descubrirás bien vestidos y arrogantes
Mirando al sucio y al pobre, al perdedor, con desprecio?
Seremos los mirones del espectáculo cruento
Lamentando la muerte, los finales siniestros?
¡Oh si!
Quisiéramos al menos, nos veas como al ladrón
Reconociendo su miseria y rogando tu perdón
Ten compasión de nosotros te pedimos hoy
A tanto Amor damos Gracias, Señor. AMEN