27/04/2025
1ª Leitura: Atos 5,12-16
Salmo Responsorial 117 (118) - R- Dai graças ao Senhor porque ele é bom! Eterna é a sua misericórdia!
2ª Leitura: Apocalipse 1,9-11a.12-13.17-19
Evangelho: João 20,19-31
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse: 'A paz esteja convosco'. 20Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. 21Novamente, Jesus disse: 'A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio'. 22E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: 'Recebei o Espírito Santo. 23A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos'.24Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25Os outros discípulos contaram-lhe depois: 'Vimos o Senhor!'. Mas Tomé disse-lhes: 'Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei'. 26Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: 'A paz esteja convosco'. 27Depois disse a Tomé: 'Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel'. 28Tomé respondeu: 'Meu Senhor e meu Deus!' 29Jesus lhe disse: 'Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!' 30Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. 31Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome. Palavra da Salvação.
Jo 20,19-31
Tomé estava ausente quando Jesus apareceu ressuscitado aos discípulos. Logo que viram Tomé chegar, eles comunicaram a Tomé o que tinha acontecido. “Vimos o Senhor!” Os discípulos, porém, recebem a ducha fria da incredulidade de Tomé. Como acreditar nesse absurdo? Jesus cheio de vida? Eles todos tinham visto Jesus morto na cruz e sepultado. O que eles viram devia ter sido uma outra pessoa parecida.
Os discípulos retrucam que era o próprio Jesus. Tinham visto as marcas dos pregos e o lado aberto de Jesus. Não era um outro parecido, era o próprio Jesus! Diante desse testemunho, Tomé exige ver ele mesmo as marcas da paixão e da crucifixão. Em relação à ressurreição de Jesus, Tomé só aceita acreditar na própria experiência.
Oito dias depois, Jesus se apresenta de novo aos discípulos. Ele se dirige diretamente a Tomé. Não critica sua posição de incredulidade. Para Jesus, as dúvidas de Tomé não têm nada de ilegítimo ou de escandaloso. Sua resistência em crer revela sua honestidade. Jesus o entende e vem a seu encontro para lhe mostrar as feridas.
As feridas mais do que provas para verificar a verdade da ressurreição são os sinais do amor de Jesus que amou até o fim. Por isso, Jesus convida Tomé a tocar suas feridas.
Não sabemos se Tomé tenha tocado as feridas de Jesus. Ele, porém, não necessita mais de provas, pois agora experimenta a presença do mestre que o ama. Tomé que tinha feito o caminho mais longo para chegar à fé no ressuscitado, foi também aquele que atingiu a maior profundidade na fé: Meu Senhor e meu Deus! Ninguém fez uma confissão como esta.
Não devemos nos assustar se encontramos dificuldades em nossa própria fé. Essas dificuldades podem nos resgatar de uma fé superficial que se contenta em repetir fórmulas, sem crescer em confiança e amor. As dificuldades podem nos levar a um amadurecimento na fé.
2ºDomPascoa-Domingo da Ressurreição – Jo 20, 19-31 - Ano C
“Põe o teu dedo e olha as minhas mãos; estende a tua mão e coloca-a no meu lado” (Jo 20,27)
O que os textos pascais querem expressar com a palavra “ressurreição” é a chave de toda a mensagem cristã. Mas é algo muito mais profundo que a reanimação de um cadáver. Sem essa Vida que vai mais além da vida, nada do que dizem os evangelhos teria sentido. Os relatos das aparições do Ressuscitado é a maneira de transmitir a vivência pascal dos discípulos, depois da experiência da paixão e morte de Jesus. O que os evangelistas querem comunicar aos demais é a experiência pascal de que Ele continua vivo e, além disso, está comunicando a eles essa mesma Vida. Esta é a mensagem de Páscoa.
O relato pascal deste domingo é a chave para entender o sentido de todas as aparições pascais, que não pretendem nos dizer o que aconteceu em Jesus, mas nos transmitir a vivência interior dos discípulos.
A experiência pascal demonstra que somente na comunidade se descobre a presença de Jesus vivo. A comunidade é a garantia da fidelidade a Jesus. É a comunidade que recebe do Ressuscitado o principal mandato de anunciar a Boa Notícia, de ser sinal do perdão, de comunicar a paz... Ele é para a comunidade a fonte de vida, referência e fator de unidade. A comunidade cristã está centrada em Jesus e somente nele.
“No primeiro dia da semana”: o Ressuscitado dá início à nova Criação, no primeiro dia de uma nova semana; é o tempo de outra criação, desta vez definitiva. A criação do mundo havia durado seis dias e, no sétimo, Deus descansou. O “dia oitavo” é o dia primeiro da criação definitiva. A nova criação do ser humano, que Jesus realizou durante sua vida, culmina na cruz, no dia sexto, e chega à sua plenitude na Páscoa. Em Jesus ressuscitado, a Criação inteira chega à sua plenitude. O Ressuscitado é o Cristo Cósmico. S. Paulo vai dizer que “Cristo é tudo em todas as coisas” (Col. 3,11) e “tudo subsiste nele” (Col. 1,16). Ele recapitula tudo. Por isso a Epístola aos Efésios afirma: “importa unir sob uma só cabeça todas as coisas em Cristo” (1,10).
Jesus se manifesta, se põe no meio dos discípulos e os saúda. Não são eles que buscaram a experiência do encontro; tudo foi iniciativa do Ressuscitado.
Os sinais de seu amor (as mãos e o lado) evidenciam que é o mesmo que morreu na cruz. Não há lugar para o medo da morte. A verdadeira vida ninguém poderá tirar de Jesus, nem tirar deles. A permanência dos sinais indica a permanência de seu amor. A comunidade tem a experiência de que Jesus comunica vida.
João é o único que desdobra o relato da aparição aos apóstolos. Com isso personaliza em Tomé o tema da dúvida, que é capital em todos os relatos de aparições.
Tomé tinha seguido Jesus, mas, como os outros, não o havia compreendido totalmente. Não podia conceber uma Vida definitiva que permanece despois da morte. Separado da comunidade, não tem a experiência de Jesus vivo; está em perigo de perder-se. Uma vez mais se destaca a importância da experiência partilhada em comunidade.
Temos aqui outro ensinamento-chave: os testemunhos nunca são suficientes, não podem suprir a experiência pessoal da nova Vida; sem ela Tomé é incapaz de dar o passo.
No oitavo dia, reintegrado à comunidade, Tomé pode, então, experimentar o Amo.
A resposta de Tomé é tão extrema como sua incredulidade. Negou-se a crer se não tocasse as mãos e o lado transpassado de Jesus. Agora renuncia à certeza física e vai muito mais além daquilo que vê. Ao dizer – “Meu Senhor meu Deus!” – reconhece a grandeza do amor de Jesus e o aceita dando-lhe sua adesão. Ao dizer “meu”, expressa sua proximidade. Jesus cumpriu o projeto, amando como Deus ama.
A mensagem para nós hoje é clara: sem uma experiência pessoal, vivida no seio da comunidade, é muito difícil acessar à nova Vida que Jesus anunciou antes de morrer e agora está comunicando. Trata-se da passagem do Jesus conhecido ao Cristo experimentado. Sem essa mudança não há possibilidade de entrar na dinâmica da ressurreição. O fato de Jesus continuar vivo não significa nada se nós não vivemos sua mesma Vida.
A Páscoa é presença gloriosa do Crucificado. O Senhor ressuscitado é o mesmo Jesus que fez de sua vida uma contínua entrega em favor das vidas feridas e excluídas. Como sinal de identidade, como expressão de permanência de sua paixão salvadora, o Ressuscitado mostra aos seus discípulos as mãos feridas e o lado transpassado, um gesto que depois vai receber novo conteúdo frente à resistência de Tomé.
Crer e viver a Páscoa é descobrir o rosto do Crucificado nos crucificados, é descobrir a Jesus crucificado como Senhor glorioso. No fundo deste mistério está a mais profunda experiência de solidariedade: Jesus ressuscitado está naqueles que sofrem neste mundo.
Parece que nas primeiras comunidades cristãs crer na ressurreição não foi grande dificuldade. O problema estava em unir as chagas com a glória, o ressuscitado com o executado na paixão. Dá a impressão de que havia uma certa tendência a não falar das chagas, a não recordar aquele fatídico dia em que Jesus morreu na cruz. Não é de estranhar porque, de fato, a cruz era um trauma pessoal e social, uma marca perpétua, uma exclusão para sempre. Por isso, era melhor não falar disso.
Mas os evangelistas se empenham em dizer que o Crucificado e o Ressuscitado são o mesmo, que é preciso unir chagas e ressurreição. Mais ainda: acabam dizendo que uma das melhores maneiras de crer no ressuscitado é tocar suas chagas, tocar toda chaga para saná-la. Por isso, a insistência de Jesus para com Tomé: “põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos; estende a tua mão e coloca-a no meu lado”.
Tomé é a expressão do ser humano a quem lhe custa crer na ressurreição do Jesus Histórico, do Jesus das chagas nas mãos e no lado, do Jesus da carne, do Jesus do povo crucificado. Provavelmente ele acreditava em Jesus, mas em um Jesus “espiritual” (puramente interior), sem necessidade do compromisso comunitário e social, sem chagas nas mãos e no lado. Provavelmente acreditava em um Cristo glorioso, desligado da história de Jesus, das mãos que tocaram os pobres e doentes, do coração que amou os excluídos da sociedade.
Pois bem, contra isso, a comunidade lhe diz que é preciso “tocar em Jesus”, que o ressuscitado é o mesmo Jesus da história, o das chagas nas mãos e no lado. O Senhor ressuscitado continua sendo aquele que traz em suas mãos e no seu lado as feridas de sua entrega, os sinais de seu amor crucificado em favor da humanidade. Este Jesus pascal continua estando presente nas chagas dos homens e mulheres de mãos machucadas, na ferida do costado dos homens e mulheres que sofrem. Não há experiência pascal sem um retorno à corporalidade do Jesus ressuscitado, que continua sendo o mesmo Jesus da História que morreu por causa do Reino de Deus.
O que importa de verdade não é o aspecto externo da ferida, a forma como Jesus apresenta seu lado aberto e suas mãos chagadas. Nova é a experiência da corporalidade transformada: o corpo de morte se tornou princípio de Páscoa.
O mesmo corpo do amor concreto e da entrega, o corpo ferido com lanças e cravos, se converte assim em um sinal de ressurreição, sinal que continua presente na realidade da humanidade.
Para meditar na oração:
Crer na ressurreição não é ter algumas ideias religiosas, acatar alguns dogmas, confessar uma fé. É, sobretudo, um modo de amar o frágil, curar as chagas daquele que está ferido, amparar o desorientado. “Tocar” as chagas dos sofredores é uma das melhores formas de crer no Ressuscitado e de viver como ressuscitado.
Anunciemos o Jesus glorioso, porque é Páscoa; mas não esqueçamos do Jesus do madeiro, dos pobres, dos injustamente tratados pelos mecanismos sociais, políticos e econômicos. Uma ressurreição na qual não são levados em conta os mais frágeis, não é a de Jesus.
- Que chagas somos chamados hoje a tocar para curá-las?
Olhar de perto as coisas da nossa vida
Vamos meditar sobre a aparição de Jesus aos discípulos e a missão que eles receberam. Eles estavam reunidos com as portas fechadas porque tinham medo dos judeus. De repente, Jesus se coloca no meio deles e diz: “A paz esteja com vocês!” Depois de mostrar as mãos e o lado, ele disse novamente:
“A paz esteja com vocês! Como o Pai me enviou, eu envio vocês!”
Em seguida, lhes dá o Espírito para que possam perdoar e reconciliar. A paz! Reconciliar e construir a paz! Esta é a missão que recebem. Hoje, o que mais faz falta é a paz. Nós até falamos que para ter paz temos que armar a guerra. Paz é refazer os pedaços da vida, reconstruir as relações quebradas entre as pessoas, e não importar ecada vez mais armas destrutivas. Relações quebradas por causa da injustiça, da ambição, da busca de poder e eliminação do outro. Jesus insiste na paz. Repete várias vezes! As pessoas que lutam pela paz são declaradas felizes e são chamados filhos e filhas de Deus (Mt 5,9).
Situando
Na conclusão do capítulo 20 (Jo 20,30-31), o autor diz que Jesus fez “muitos outros sinais que não estão neste livro. Estes, porém, foram escritos (a saber os sete sinais relatados nos capítulos 2 a 11) para que vocês possam crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, acreditando, ter a vida no nome dele” (Jo 20,31).
Comentando
João 20,19-20: A experiência da ressurreição
Jesus se faz presente na comunidade. As portas fechadas não podem impedir que ele esteja no meio dos que nele acreditam. Até hoje é assim. Quando estamos reunidos, mesmo com todas as portas fechadas, Jesus está no meio de nós. E até hoje, a primeira palavra de Jesus é e será sempre: “A paz esteja com vocês!” Ele mostrou os sinais da paixão nas mãos e no lado. O ressuscitado é o crucificado!
O Jesus que está conosco na comunidade não é um Jesus glorioso que não tem mais nada em comum com a vida da gente. Mas é o mesmo Jesus que viveu na terra e traz as marcas da sua paixão. As marcas da paixão estão hoje no sofrimento do povo, na fome, nas marcas de tortura, de injustiça, povos e países destruídos. Jesus ressuscita e se faz presente no meio de nós, nas pessoas que reagem, lutam pela vida e não se deixam abater.
João 20,21: O envio: “Como o Pai me enviou, eu envio vocês”
É deste Jesus, ao mesmo tempo crucificado e ressuscitado, que recebemos a missão, a mesma que ele recebeu do Pai. E ele repete: “A paz esteja com vocês!” Esta dupla repetição acentua a importância da paz. Construir a paz faz parte da missão. Paz significa o fim da guerra, mas mais ainda. Significa construir uma convivência humana harmoniosa, em que as pessoas possam ser elas mesmas, tendo todas o necessário para viver, convivendo juntos e felizes. Esta foi a missão de Jesus, e é também a nossa missão. Numa palavra, é criar comunidade a exemplo da comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
João 20,22: Jesus comunica o dom do Espírito
Jesus soprou e disse: “Recebei o Espírito Santo”. É só mesmo com a ajuda do Espírito de Jesus que seremos capazes de realizar a missão que ele nos dá. Para as comunidades do Discípulo Amado, Páscoa (ressurreição) e Pentecostes (efusão do Espírito) são a mesma coisa. Tudo acontece no mesmo momento.
João 20,23: Jesus comunica o poder de perdoar os pecados
O ponto central da missão de paz está na reconciliação, na tentativa de superar as barreiras que nos separam: “Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão perdoados e aqueles a quem retiverdes serão retidos!” Este poder de reconciliar e de perdoar é dado à comunidade (Jo 20,23; Mt 18,18). Aqui, percebe-se a enorme responsabilidade da comunidade. O texto deixa claro que uma comunidade sem perdão, sem reconciliação já não é comunidade cristã.
João 20,24-25: A dúvida de Tomé
Tomé, um dos doze, não estava presente. E ele não crê no testemunho dos outros. Tomé é exigente: quer colocar o dedo nas feridas da mão e do pé de Jesus. Quer ver para poder crer. Não é que ele queria ver milagre para poder crer. Não.
Tomé queria ver os sinais das mãos e no lado. Ele não crê num Jesus glorioso, desligado do Jesus humano que sofreu na cruz. Sinal de que havia pessoas que não aceitavam a encarnação (2Jo 7; 1Jo 4,2-3; 2,22). A dúvida de Tomé também deixa transparecer como era difícil crer na ressurreição.
João 20,26-29: Felizes os que não viram e creram
O texto começa dizendo: “Uma semana depois”. Tomé foi capaz de sustentar sua opinião durante uma semana inteira. Cabeçudo mesmo! Graças a Deus, para nós! Novamente, durante a reunião da comunidade, eles têm uma experiência profunda da presença de Jesus ressuscitado no meio deles. E novamente recebem a missão de paz: “A paz esteja com vocês!” O que chama a atenção é a bondade de Jesus. Ele não critica nem fala mal da incredulidade de Tomé, mas aceita o desafio e diz: “Tomé, venha cá colocar seu dedo nas feridas!”.
Jesus confirma a convicção de Tomé, que era a profissão de fé das comunidades do Discípulo Amado, a saber: o ressuscitado glorioso é o crucificado torturado! É neste Cristo que Tomé acredita, e nós também! Como ele digamos: “Meu Senhor e meu Deus!” Esta entrega de Tomé é a atitude ideal da fé. E Jesus completa com a mensagem final: “Você acreditou porque viu! Felizes os que não viram e no entanto creram!”.
Com esta frase, Jesus declara felizes a todos nós que estamos nesta condição: sem termos visto acreditamos que o Jesus que está no nosso meio é o mesmo que morreu crucificado!
João 20,30-31: Objetivo do evangelho: levar a crer para ter vida
Assim termina o Evangelho, lembrando que a preocupação maior de João é a Vida. É o que Jesus diz: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Alargando
Shalom: a construção da paz
O primeiro encontro entre Jesus ressuscitado e seus discípulos é marcado pela saudação feita por ele: “A paz esteja com vocês!” No primeiro encontro, por duas vezes, Jesus deseja a paz a seus amigos (vv. 19.21). E, mais uma vez, oito dias depois (v. 26). Esta saudação é muito comum entre os judeus e na Bíblia. Ela aparece quando surge um mensageiro da parte de Deus (Jz 6,23; Tb 12,17).
Logo em seguida, Jesus os envia em missão, soprando sobre eles o Espírito. Paz, Missão e Espírito. Os três estão juntos. Afinal, construir a paz é a missão dos discípulos e das discípulas de Jesus (Mt 10,13; Lc 10,5). O Reino de Deus, pregado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz (Lc 1,79; 2,14). O Evangelho de João mostra que a paz, para ser verdadeira, deve ser a paz trazida por Jesus (Jo 14,27). Uma paz diferente da paz construída pelo império romano.
Paz na Bíblia (em hebraico é shalom) é uma palavra muito rica, significando uma série de atitudes e desejos do ser humano. Paz significa integridade da pessoa diante de Deus e dos outros. Significa também uma vida plena, feliz, abundante (Jo 10,10). A paz é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um “Deus da paz” (Jz 6,24; Rm 15,33). Por isso mesmo, a proposta da paz trazida por Jesus também é sinal de “espada” (Mt 10,34), ou seja, as perseguições para as comunidades.
O próprio Jesus faz este alerta sobre as tribulações promovidas pelo império tentando matar a paz de Deus (Jo 16,33). É preciso confiar, lutar, trabalhar, perseverar no Espírito para que um dia a paz de Deus triunfe. Neste dia, “amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam” (Sl 85,11). “O fruto da justiça será a paz” (Is 32,17). Então, como ensina Paulo, o “Reino será justiça, paz e alegria como fruto do Espírito Santo” (Rm 14,17) e “Deus será tudo em todos” (1Cor 15,28).
Nesse 2o Domingo da Páscoa, o evangelho lido hoje nas Igrejas (João 20, 19- 31) revela que todas as vezes que nos reunimos no nome de Jesus refazemos e atualizamos aquele encontro dos discípulos com o Ressuscitado. Hoje vivemos ainda em salas fechadas e temos motivos de ter medo. O mundo atual parece mais inóspito e menos humano do que aquele no qual nasci há mais de 70 anos.
O Brasil dá ao mundo a imagem da arbitrariedade e da violência institucionalizada que, nessa semana, vimos no julgamento do presidente Lula pelo STJ. Mesmo pessoas que se posicionam à direita afirmam claramente que essa prisão é ilegal, portanto injusta. Como de muita gente pobre e marginalizada que não tem como se defender.
Este segundo domingo da Páscoa tinha antigamente o nome de "Domingo in albis", por causa de um costume do tempo em que a Igreja batizava mais adultos do que crianças. Durante a semana pascal, em todos os atos da comunidade, as pessoas batizadas na noite da Páscoa vestiam as roupas brancas com que tinham se batizado. Nesse domingo depunham essas vestes. E assumiam a condição de cristãos, inseridos na comunidade.
Lembro esse costume antigo porque esse costume antigo que me parece ligado ao que o evangelho conta com Tomé. Ele vivia como "vestido de branco". Queria crer no Jesus glorificado, mas sabia que para o Ressuscitado ser mesmo o Cristo, tinha de ter chagas. O ressuscitado sem chagas não seria o Cristo verdadeiro. Os outros tinham medo, por isso ficavam em uma sala com portas fechadas.... Mas, ficavam juntos. Ele, não. A fé dele ainda era individualista, era eu e Deus... E não sabia como ligar cruz e ressurreição. (Só se eu tocar nas chagas, vou crer que é real).
O evangelho conta que Jesus se deixa ver e tocar pelos discípulos e discípulas... Ao se mostrar a eles, mesmo com portas fechadas, não mostra nenhuma luz especial. Não fala de vitória nenhuma, não voa, nada parece ter de especial... Só mostra as chagas. É quando a gente tem coragem de mostrar as feridas (interiores e sociais) que temos, só então parece que a vida pode se recompor ou melhor ressuscitar - se torna nova...
O que Jesus mostra em primeiro lugar a seu grupo de amigos e amigas são suas chagas. Jesus é o curador ferido. O que o Ressuscitado traz não é um corpo glorioso e etéreo, mas as chagas da cruz. Assume suas chagas e deixa que sejam vistas. É quando assumimos nossas chagas que podemos receber o perdão do Ressuscitado e nos tornamos anunciadores/as do perdão divino para os outros. E assim essas chagas, do Ressuscitado e as nossas, se tornam como que luminosas. E ao reconhecer Jesus vivo nas pessoas feridas e que resistem, os discípulos se enchem de uma imensa alegria, como a alegria que Jesus havia prometido na ceia quando disse: "Hei de ver vocês outra vez e vocês se encherão de uma alegria tal que ninguém poderá tirar de vocês essa alegria" (Jo 16, 20).
Hoje é o oitavo dia, o dia novo, o primeiro de uma nova história. Como Tomé, assim também nós, eu e vocês, não estávamos no primeiro dia, mas a ressurreição de Jesus se renova para nós hoje. Como Tomé, nós não vimos com nossos olhos, mas podemos tocar nas chagas do Ressuscitado nas pessoas feridas pelas injustiças da vida com as quais nos solidarizamos e com as quais estamos em comunhão.
Tanto na época em que o evangelho foi escrito, como hoje, muitas pessoas creem em um Cristo aéreo, celestial e pouco humano. Há cristãos e mesmo padres que querem Quaresma sem Campanha da Fraternidade. Celebrar a ressurreição sem ter de tocar nas chagas da humanidade de hoje. Como Tomé naquela época, também nós deixamos claro que só cremos em um Jesus histórico, real, com corpo e com chagas. Tocar as chagas de Jesus é aceitar sujar as mãos e ser capaz de reconhecer a presença do Espírito nas vítimas da justiça e da sociedade. É se solidarizar à luta dos trabalhadores que, nessa semana, celebrarão o 1º de maio como dia mundial de luta da classe trabalhadora. Aí sim, o testemunho do Ressuscitado ferido mas vivo, Paz e Alegria, força nas dores e nas lutas.
Jesus ressuscitado ressuscita os discípulos e discípulas e faz eles e elas passarem do medo à liberdade, à paz e à alegria... ao perdão. Ele nos convida, hoje, para essa ação de misericórdia: reconstruir as nossas vidas através do perdão a nós mesmos e do perdão aos outros.
Nessa semana, encontrei uma pessoa que sofria porque não conseguia perdoar a si mesma, deixar o que passou para trás e olhar para frente com amor e alegria interior. Só Jesus ressuscitado pode realizar essa reconstrução de nossa vida... É verdade que, pela nossa ação de misericórdia (solidariedade afetuosa ou seja vivida com o coração - como dizia Santo Agostinho: misericórdia vem do latim: miser cor dare: dar o coração a quem precisa). Não se trata de uma atitude de comiseração ou de pena. É de comunhão que nos impulsiona para frente e é vivida a partir de uma visão de vida nova e inserida. Assumir as feridas uns dos outros e caminhar juntos. Aí vamos ressuscitando.... no dia a dia....
Invoquemos o Espírito Santo - sopremos uns sobre os outros e outras, como Jesus fez sobre os discípulos - ao soprar, refez o gesto que Deus fez com a primeira humanidade terrena ou terráquea (Adão) e assim nos dá não mais apenas essa vida orgânica que integra a dimensão vegetal e animal (e precisa integrar), mas também a vida nova do Espírito dele ressuscitado que recebemos para viver...
O livro dos Atos dos Apóstolos apresenta o “caminho” que a Igreja de Jesus percorreu, desde Jerusalém até Roma, o coração do império.
O texto de hoje é um dos três resumos que nós encontramos no início do livro, cada um apresentando aspectos diferentes do testemunho dado pela Igreja de Jerusalém. O primeiro resumo - 2,42-47 – fala do impacto que o estilo de vida dos cristãos provocou no povo da cidade; o segundo - 4,32-37 - é dedicado ao tema da partilha dos bens; o terceiro - At 5,12-16, a primeira leitura de hoje - apresenta o testemunho da Igreja através da atividade miraculosa dos apóstolos.
A descrição da ação dos apóstolos e da reação do povo é muito parecida com os relatos de curas de Jesus. Lucas, que escreveu o livro, quer enfatizar uma continuidade entre a missão de Jesus e a missão da comunidade cristã. A mesma atividade de Jesus em favor dos pobres e dos oprimidos é continuada agora por sua Igreja.
Os apóstolos são as testemunhas de Jesus ressuscitado e do seu projeto libertador; os gestos realizados servem para dar testemunho da ressurreição, isto é, dessa vida nova que em Cristo começou e que, através dos seguidores de Cristo ressuscitado, deve chegar a todos os homens.
Leonardo Boff, num artigo sobre a Pascoa, afirma que a Páscoa é a irrupção do inesperado. Diz ele que Pascoa é passagem. Passagem da decepção para a irrupção do inesperado. Decepção foi a morte de Jesus na cruz, e o inesperado, sua ressurreição.
Jesus foi alguém que passou pelo mundo fazendo o bem. Ele introduziu práticas sempre ligadas à vida dos mais fracos: curava cegos, purificava hansenianos, fazia andar coxos, devolvia a saúde a muitos doentes, matava a fome de multidões e até ressuscitava mortos. O resultado foi seu fim trágico: uma trama armada entre religiosos e políticos o levaram à morte na cruz.
De início, os apóstolos e discípulos, com o fim trágico da Cruz, ficaram profundamente frustrados, e começaram a voltar para suas casas. Decepcionados, pois esperavam que trouxesse a libertação de Israel.
Boff ainda nos lembra que a ressurreição estava fora do horizonte de seguidores de Jesus. Havia um grupo em Israel que acreditava na ressurreição, mas no final dos tempos, a ressurreição entendida como uma volta à vida como sempre foi e é. Tipo de reanimação de um cadáver como foi o caso de Lázaro.
Mas com Jesus aconteceu o inesperado: a Ressurreição. Ressurreição representa uma revolução dentro da evolução. Ela significa o inesperado da irrupção do ser humano novo, como diz São Paulo, do “novíssimo Adão”.
Fé nesse inesperado foi a marca registrada da vida dos primeiros Cristãos. Sem a ressurreição não existiriam as comunidades. Perderiam seu evento fundador e fundante.
“Por causa dos milagres que os apóstolos faziam, as pessoas punham os doentes nas ruas, em camas e esteiras. Faziam isso para que, quando Pedro passasse, pelo menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Multidões vinham das cidades vizinhas de Jerusalém trazendo os seus doentes e os que eram dominados por espíritos maus, e todos eram curados”. O inesperado explodiu na vida das comunidades
Nestes tempos sombrios, marcados pela guerra e a morte em massa, o aumento da violência e o desrespeito pela vida, fé na ressurreição e um futuro de esperança, vivida pelas Comunidades Cristãs é mais importante ainda. Nosso fim não é a autodestruição dentro de uma tragédia, mas a plena realização de nossas potencialidades pela ressurreição, a irrupção do homem e da mulher novos.
Feliz Páscoa a todos os que conseguem crer, e também a quem não o consegue.
(Traduzido pelo tradutor Google sem nossa correção. Confira com o original espanhol que se encontra logo após a tradução)
SEGUNDO DOMINGO DO CICLO DE PÁSCOA “C”
Breve introdução ao quinquagésimo da Páscoa: É bom, no início do tempo pascal, ter uma visão global das leituras dominicais. Para isso recorremos ao documento “Ordem das leituras da Missa” nº 100:
"Até o terceiro domingo da Páscoa, as leituras evangélicas narram as aparições de Cristo ressuscitado. As leituras do Bom Pastor são atribuídas ao quarto domingo da Páscoa. No quinto, sexto e sétimo domingos da Páscoa, são lidas passagens selecionadas do discurso e da oração do Senhor após a Última Ceia. A primeira leitura é retirada dos Atos dos Apóstolos, no ciclo trienal, de maneira paralela e progressiva; desta forma, a cada ano, são oferecidas algumas manifestações de vida, testemunho e progresso do Para a leitura apostólica, no ano A lê-se a primeira carta de Pedro, no ano B a primeira carta de João, no ano C o Apocalipse, estes textos estão muito em sintonia com o espírito de fé alegre e de esperança firme, típico deste tempo; Seria necessário especificar que na Argentina o sétimo domingo coincide com a Ascensão do Senhor; e que o oitavo domingo é o de Pentecostes, solenidades com as quais o mistério pascal atinge a sua plenitude.
Quanto ao espírito deste tempo pascal, insiste-se no seu carácter unitário e festivo. De fato "O tempo pascal deve ser vivido unido até à noite do dia de Pentecostes. Nesse dia, e não no dia da Ascensão, apaga-se o círio pascal, que foi o sinal externo da celebração da Vida Nova do Senhor."1. O tom festivo e alegre também deve refletir-se nas pregações, pois pode ser verdade que "É sempre mais fácil pregar para que as pessoas se “convertam” do que pregar para que experimentem a alegria da salvação"2. Portanto, trata-se de insistir na Presença de Jesus Ressuscitado na vida da Igreja e na nossa própria vida; para descobrirmos e desfrutarmos.
Primeira leitura (Hb 5,12-16):
Em três resumos, o livro de Atos (2,42-47; 4,32-35; 5,12-16) descreve as características essenciais da Igreja Mãe de Jerusalém no seu tempo de formação. Precisamente por serem “sumários” têm a função de generalizar e tipificar os constituintes essenciais da vida da comunidade: o ensinamento dos Apóstolos, a vida em comum (koinonia), a fração do pão e a oração.
Mas o resumo que lemos hoje também enfatiza dois aspectos: a atividade taumatúrgica (milagrosa) dos apóstolos, em particular de São Pedro; e o crescimento da comunidade em número e no respeito ou admiração do povo. Com efeito, no início e no final da perícope, notam-se os sinais e prodígios de Pedro, especialmente a cura dos enfermos, a tal ponto que não só de Jerusalém, mas também das cidades vizinhas, lhe trazem doentes ou possuídos para que os possa curar. A intenção de Lucas é apresentar a missão dos Apóstolos como continuação da missão de Jesus, a quem também eram levados os doentes de todas as partes para os curar (cf. Lc 6, 17-18).
No meio nota-se o espantoso crescimento da comunidade: “O número dos que criam no Senhor aumentava cada vez mais, uma multidão de homens e mulheres".
Em síntese, Jesus concedeu aos seus Apóstolos o seu poder de dar vida, de realizar curas corporais e espirituais. É a força de Jesus ressuscitado presente na sua Igreja e que exerce uma força de atração que leva ao aumento da comunidade dos crentes.
Segunda leitura (Ap 1,9-13.17-19):
Desta visão inaugural do Apocalipse restam apenas dois temas pertinentes para este segundo domingo de Páscoa. Em primeiro lugar, a referência ao «dia do Senhor» (kuriakh/| h`me,ra|) como tempo de visão. Como aponta U. Vanni3, especialista em Apocalipse, com esta expressão se refere especificamente para o dia da reunião da assembléia cristã, domingo, que certamente tem como pano de fundo o dia da ressurreição de Jesus.
Em segundo lugar, a autoapresentação feita pelo orador: trata-se de Cristo no seu mistério pascal, morto e ressuscitado, vivendo eternamente e com o poder de salvar da morte porque tem as chaves da morte e do Hades (o lugar dos mortos). O Cristo que se manifesta ao vidente não é o Jesus familiar da vida pública, mas o Filho do Homem glorificado no fim dos tempos a quem são atribuídos traços divinos, é sacerdote e rei (como apresentado vestido com túnica talar e cinto de ouro), juiz de olhar penetrante, eterno e estável. A igreja está em suas mãos (as sete estrelas) e sua palavra é como uma espada para julgá-la.
O vidente sabe que a missão de juiz de Jesus se realiza na história e, ali mesmo, é o lugar onde se realiza o seu senhorio.
Portanto, a atualização da mensagem é que Jesus Ressuscitado, vivo e com poder de dar vida, está presente no domingo no encontro dos cristãos. E esta presença é fundamentalmente ativa: atua, julga e dirige a vida da Igreja.
Evangelho (Jo 20,19-31):
Encontramos nesta história duas aparições do Senhor Ressuscitado: uma no mesmo dia da ressurreição com a presença dos apóstolos e a ausência de Tomé, um dos Onze; e a segunda, oito dias depois, com a presença de todo o grupo, agora incluindo Tomás.
Essas aparições acontecem "o primeiro dia da semana", que é o nosso domingo, dia do Senhor, e que desde os tempos apostólicos é então o dia da reunião dos cristãos. Ocorre a primeira aparição"ao pôr do sol desse mesmo dia, o primeiro da semana" (20,19), e desta forma se relaciona com a história anterior da aparição às mulheres que ocorreu naquele mesmo dia, mas pela manhã. O local onde estavam reunidos não é especificado, mas nota-se que as portas foram fechadas por medo dos judeus. O medo e o confinamento são sinais da falta de fé da primeira comunidade, ainda atingida pelos acontecimentos vividos nos últimos dias.
Na sua primeira aparição, Jesus Ressuscitado saúda os discípulos dizendo: “Paz para você!" Mais do que um presságio ou desejo, trata-se do doação eficaz de paz, de uma presença real de paz como dom escatológico, como Jesus havia indicado no seu discurso de despedida: “Deixo-te a paz, dou-te a minha paz, mas não como o mundo dá” (Jo 14,27).Esta paz, segundo o pano de fundo do Antigo Testamento (Shalom), inclui todos os bens necessários à vida presente e a plenitude dos bens na vida futura. Mas o que era uma promessa no Antigo Testamento torna-se realidade através da morte e ressurreição de Cristo. Precisamente no AT a presença de Deus entre o seu povo é considerada o bem supremo da paz (cf. Lv 26,12; Ez 37,26). Assim, para o evangelista João, a presença de Jesus ressuscitado entre o seu povo é a fonte e a realidade da paz que está presente. E esta paz não está ligada à sua presença corporal, mas à sua realidade de ser ressuscitado, vitorioso sobre a morte, e é por isso que ele lhes dá, junto com a sua paz, o Espírito Santo e o poder de perdoar pecados (20,22-23).4
F. Moloney5afirma que como na expressão hymin eirên (“a paz esteja convosco”) está faltando o verbo, deveria ser traduzido como “a paz esteja convosco” no sentido em que Jesus declara que a paz já está presente entre os discípulos. E isto acontece precisamente porque Jesus ressuscitado está presente entre eles.
Em suma, agora Jesus ressuscitado, com a plenitude de vida que recebeu do Pai, pode dar ao seu povo a paz que vem do Pai e que lhe permite viver em comunhão com Deus e com os irmãos.
Então, Jesus mostra-lhes as suas feridas para lhes provar que Ele é o Crucificado que ressuscitou; que é ele mesmo, mas em um estado diferente.
Em seguida, dê-lhes paz novamente e diga as palavras de envio enquanto faz o gesto de soprar sobre eles. O tema de missão, com formulações diversas, aparece como uma constante nas histórias da aparição de Jesus nos evangelhos. Na formulação joanina destaca-se que se trata de uma única e mesma missão, que tem origem no Pai que envia o seu Filho Jesus, que agora faz com que os seus discípulos participem dela. Também é comum nos evangelhos unir a missão ao dom do Espírito Santo; mas em San Juan a doação é feita pessoalmente através do gesto de soprar sobre eles6. A respeito deste gesto, alguns estudiosos vêem aqui uma referência ao gesto primordial de Deus na criação do homem (cf. Gn 2,7).7. Assim, o sopro de Jesus é o sinal da nova criação: Jesus glorificado comunica o Espírito que faz renascer o homem (cf. Jo 3, 3-8), permitindo-lhe partilhar a comunhão divina. Além disso, segundo X. León Dufour 8, aqui está o cumprimento do que foi anunciado por João Batista que Jesus "tive que batizar no Espírito Santo" (Jo 1,32-33); e também da aliança definitiva anunciada pelos profetas e caracterizada pela efusão do Espírito (cf. Jer 31,33; Ez 36,26f).
Com este dom do Espírito Santo aos Apóstolos é-lhes também comunicado o poder de perdoar ou reter os pecados e, desta forma, são agora transmissores de vida nova. Além disso, este seria o objetivo da missão: o perdão dos pecados, a misericórdia. A este respeito, comenta I. de la Potterie9: “O trabalho que os discípulos terão de realizar será uma continuação do seu próprio. Pois bem, Ele é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (1,29), o Filho de Deus que com o seu sangue “nos purifica de todo pecado” (1Jo 1,7). Agora compreende-se ainda melhor a alusão explícita à cruz na nossa perícope: a palavra de Jesus sobre o poder de perdoar os pecados acompanha o gesto com que Ele mostrou as chagas da sua paixão. É como se quisesse fazer compreender aos discípulos que o seu ministério de perdão será a actualização do sacrifício de Cristo e do seu significado soteriológico, uma vez que Jesus, o bom Pastor, «dá a sua vida pelas ovelhas» (cf. 10, 15).”.
Ele clímax da narrativa Encontra-se na segunda cena onde Tomé, o discípulo ausente da primeira vez, é convidado a acreditar no testemunho da comunidade que viu o Ressuscitado. No entanto, Tomás recusa-se a acreditar se não consegue ver.
Os outros apóstolos viram o Senhor e creram; Thomas também quer ver o Senhor. Tomé quer verificar a afirmação dos seus companheiros, verificando com os seus próprios olhos que Aquele que lhes apareceu é verdadeiramente o Crucificado. Aplica rigorosamente as categorias do pensamento judaico sobre a ressurreição dos mortos. Ele quer uma continuidade estrita entre os dois mundos, para poder verificar concretamente que Aquele que aparece é o mesmo ser de antes. Há algum tempo, Filipe queria ver o Pai (cf. Jo 14, 8), e agora Tomé quer ver, no sentido básico do termo, o Filho glorificado.
Então Jesus Ressuscitado aparece-lhe com os mesmos sinais da sua crucificação e repreende Tomé pela sua descrença. A resposta de Tomé é ótima porque ele pronuncia a mais alta profissão de fé no Evangelho de João (e no Novo Testamento), pois aplica a Jesus os nomes que o Antigo Testamento reservava para Deus: Yahweh-Senhor e Elohim. Na verdade, Tomé chama Jesus de "Meu Senhor e meu Deus"(meu senhor e meu deus) que é a manifestação da fé cristã suprema de todo o evangelho10. Além disso, o possessivo “meu” indica seu apego pessoal de fé e amor a Jesus.
As últimas palavras de Jesus (20,29) são uma bem-aventurança onde ele declara bem-aventurados os que crêem sem ter visto (μὴ ἰδόντες καὶ πιστεύσαντες). Estas palavras seriam dirigidas aos discípulos da segunda geração cristã que não tinham sido testemunhas oculares da ressurreição de Jesus e tinham apenas a palavra pregada. Eles são declarados bem-aventurados se, pelo poder do Espírito Santo, chegam a acreditar que Jesus está vivo, mesmo que não tenham tido uma aparência sensata como a dos Apóstolos.11. Esta é uma definição do crente cristão de todos os tempos, começando com a ressurreição de Jesus. Como diz G. Zevini com razão12: “Crente é aquele que, superando dúvidas e pretensões de ver, aceita o testemunho autorizado de quem viu. No tempo de Jesus a visão e a fé combinavam-se, mas agora, no tempo da Igreja, os discípulos não devem ter pretensões de ver: basta-lhes o testemunho apostólico. Foi transformado sinal que conduz à fé: aquele sinal já não é objeto de visão direta, mas de testemunho. Isto não significa que qualquer experiência pessoal do Cristo ressuscitado esteja atualmente fechada aos crentes. Muito pelo contrário. Agora é oferecida aos crentes a experiência de alegria, paz, perdão dos pecados e a presença do Espírito Santo. Mas a “história” de Jesus tem que ser aceita através do testemunho”.
Algumas reflexões:
A Quaresma impulsionou-nos ao exercício, por vezes árduo e difícil, de olhar para nós mesmos para reconhecer pecados ou desordens e iniciar um caminho de conversão. O tempo pascal convida-nos, antes, a exercer um olhar de fé sobre a nossa realidade para descobrir nela a presença viva do Ressuscitado. É por isso que o grande tema desta vez é fé, isto é, acreditar em sua Presença invisível. E fique feliz em acreditar sem ver. Sem dúvida, a fé é um dom de Deus para nós. Mas é também o dom que Jesus nos pede; É o “dom da razão” (DV n. 5) que devemos oferecer, dar ao Senhor e pelo qual “Precisamos da graça de Deus que previne e ajuda, e da ajuda interna do Espírito Santo, que move o coração e o converte a Deus, abre os olhos da mente e dá a todos a suavidade para aceitar e acreditar na verdade”." (DV n. 5). Devemos pedir ao Senhor o dom da Fé. Ora, não se trata de acreditar no ar ou no vácuo; antes, somos chamados a fazer uma experiência, na fé, da Presença de Jesus Ressuscitado em nossas vidas, análoga àquela que os Apóstolos tiveram.
Esta Presença de Jesus escapa aos sentidos porque não podemos vê-lo nem tocá-lo como Tomé; mas se podemos sentir os efeitos da sua Presença, da sua passagem pela nossa vida. O evangelho de hoje fala-nos sobretudo do paz que o Senhor dá ao seu povo. Ao lado do paz nós temos o felicidade, que também se refere ao evangelho de hoje. Intimamente ligado a estas experiências está o tema da perdão dos pecados confiado à Igreja (misericórdia). E finalmente, a raiz ou causa de tudo isso: o dom do Espírito Santo.
Além da fé, a outra condição indispensável para esta experiência de Jesus Ressuscitado, que é inserção ou pertencimento comunitário. Também nisto o exemplo de Tomé é claro. Somente quando ingressou na comunidade apostólica, a Igreja nascente, Tomé pôde encontrar o Senhor. O Senhor está presente na comunidade dos crentes e ali poderemos “vê-lo” com os olhos da fé.
Ora, para que a Igreja torne visível aos homens a Presença de Jesus Ressuscitado, deve viver as notas características que a primeira leitura nos descreveu e assim exercer uma verdadeira atração sobre os homens. A este respeito, o Papa Bento XVI disse no seu discurso inaugural em Aparecida (e citado por Francisco na EG 14): “O evangelista destaca, mesmo de forma plástica, que esta entrega se realiza no Espírito Santo: “Ele soprou sobre eles dizendo: 'Recebei o Espírito Santo...'” (Jo 20,22). A missão de Cristo foi cumprida em amor. Ele acendeu o fogo da caridade de Deus no mundo (cf. Lc 12,49). É o amor que dá vida: por isso a Igreja é convidada a difundir a caridade de Cristo no mundo, para que os homens e as pessoas «possam ter vida e tê-la em abundância» (Jo 10,10)... A Igreja sente-se discípula e missionária daquele Amor: missionária apenas como discípula, isto é, capaz de se deixar sempre atrair, com renovado êxtase, por Deus que nos amou e nos ama primeiro (1Jo 4,10). A Igreja não faz proselitismo. Ela cresce muito mais por “atração”: assim como Cristo “atrai tudo para si” com a força do seu amor, que culminou no sacrifício da Cruz, assim a Igreja cumpre a sua missão na medida em que, associada a Cristo, realiza a sua obra, conformando-se em espírito e concretamente à caridade do seu Senhor.”
Temos também a questão misericórdia de deus, típico deste segundo domingo de Páscoa que agora também é chamado de domingo “da misericórdia divina”. No encontro com o Senhor Ressuscitado, o Apóstolo Tomé faz uma experiência da Misericórdia de Deus. O Papa Francisco disse isso em sua homilia de 24 de abril de 2022.: "Tomé quer ver e tocar. E o Senhor não se escandaliza com a sua incredulidade, mas vai ao seu encontro: "Traz aqui o teu dedo e olha para as minhas mãos" (v. 27). Estas não são palavras de desafio, mas de misericórdia. Jesus compreende a dificuldade de Tomé, não o trata com severidade, e o apóstolo se comove internamente com tanta bondade. E assim, de incrédulo, torna-se crente, e faz esta simples e bela confissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28) É uma bela invocação, que podemos fazer nossa e repetir ao longo do dia, especialmente quando experimentamos dúvidas e trevas, como Tomé.
Porque em Tomé está a história de cada crente, de cada um de nós. Há momentos difíceis, em que parece que a vida desmente a fé, quando estamos em crise e precisamos tocar e ver. Mas, como Tomé, é precisamente nesses momentos que redescobrimos o coração do Senhor, a sua misericórdia. Jesus, nestas situações, não vem até nós de forma triunfante e com provas contundentes, não realiza milagres bombásticos, mas oferece calorosos sinais de misericórdia. Ele nos consola com o mesmo estilo do Evangelho de hoje: oferecendo-nos as suas chagas. Não esqueçamos isto, diante do pecado, do pecado mais escandaloso, nosso ou dos outros, há sempre a presença do Senhor que oferece as suas feridas”.
A finalidade da liturgia ao unir a devoção a Jesus Misericordioso com o segundo Domingo da Páscoa é mostrar-nos como a misericórdia divina é comunicada por Cristo morto e ressuscitado, fonte do Espírito que perdoa os pecados e restaura a alegria da salvação.13.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Naquele mesmo dia =
O primeiro dia, ressuscitado
Você se tornou uma esperança viva entre os seus
Homens e mulheres escolhidos
Testemunhas do inexplicável
Eles não estavam mais dormindo
O acontecimento deixou surpreso
Para todos os discípulos
E você veio de repente
Para dar-lhes alegria, sem pedir permissão
Talvez fosse uma tarde de primavera
Quando tudo fazia sentido
Lá na sua terra, sua Jerusalém
Perdido naquele universo
Era tão grande que foi necessário
Faça-os entender várias vezes
E hoje também a fé não basta
Venha nos surpreender como ontem
Thomas não era culpado
Ele era um de nós, chegou tarde
E a alegria se perdeu,
Estar entre as pessoas para te homenagear
Venha meu irmão, vamos procurá-lo
Ele veio nos falar de uma Pátria maior
De um lugar não imaginado
Para sempre com o Pai. Amém
1J. Aldazábal, "La cincuentena pascual, tiempo fuerte, centro de todo el año" en La Cincuentena Pascual (CPL; Barcelona 1984) 7.
2J. Gomis/J. LLigadas, "Pastoral de la celebración", en La Cincuentena Pascual (CPL; Barcelona 1984) 12.
3 L' Apocalisse. Ermeneutica. Esegesi. Teologia (EDB; Bologna 1991) 90-91.
4 Cf. X. LEÓN-DUFOUR, "Paz" en X. LEÓN-DUFOUR, Vocabulario de Teología Bíblica, Barcelona, 1978; 659.
5 Cf. F. MOLONEY, El evangelio de Juan, Estella, Verbo Divino 2005; 516.
6 Cf. G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 490.
7 Cf. L. H. Rivas, El evangelio de Juan. Introducción. Teología. Comentario (Buenos Aires 2005) 530. 8 Cf. Lectura del evangelio de Juan. Jn 18-21. Vol. IV, Salamanca, Sígueme 1998; 193.
9 Genesi della fede pasquale secondo Giovanni 20, 206; citado en G. Zevini, Evangelio según san Juan, 491.
10 Cf. L. H. Rivas, El evangelio de Juan, 535.
11 Cf. L. H. Rivas, El evangelio de Juan, 536.
12 Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 495.
13 Cf. Congregación para el Culto Divino y la Disciplina de los Sacramentos, Directorio sobre piedad popular y liturgia. Principios y orientaciones (CEA; Buenos Aires 2002) nº 154.
SEGUNDO DOMINGO DE PASCUA CICLO "C"
Breve introducción a la cincuentena pascual: Es bueno, al comenzar el tiempo pascual, tener una visión global de las lecturas propias de los domingos. Para ello recurrimos al documento "Ordenación de las lecturas de la Misa" nº 100:
"Hasta el domingo tercero de Pascua, las lecturas del Evangelio relatan las apariciones de Cristo resucitado. Las lecturas del buen Pastor están asignadas al cuarto domingo de Pascua. Los domingos quinto, sexto y séptimo de Pascua se leen pasajes escogidos del discurso y de la oración de Señor después de la última cena. La primera lectura se toma de los Hechos de los Apóstoles, en el ciclo de los tres años, de modo paralelo y progresivo; de este modo cada año se ofrecen algunas manifestaciones de la vida, testimonio y progreso de la Iglesia primitiva. Para la lectura apostólica, el año A se lee la primera carta de Pedro, el año B la primera carta de Juan, el año C el Apocalipsis; estos textos están muy de acuerdo con el espíritu de una fe alegre y una firme esperanza, propio de este tiempo". Faltaría precisar que en Argentina el séptimo domingo coincide con la Ascensión del Señor; y que el octavo domingo es Pentecostés, solemnidades con las cuales llega a su plenitud el misterio pascual.
En cuanto al espíritu de este tiempo pascual, se insiste en su carácter unitario y festivo. En efecto "el tiempo pascual debe vivirse como una unidad hasta la tarde del día de Pentecostés. Aquel día, y no el día de la Ascensión, se apaga el cirio pascual, que ha sido el signo exterior de la celebración de la Nueva Vida del Señor"1. El tono festivo y gozoso debe reflejarse también en las predicaciones pues puede ser cierto que "siempre resulta más fácil predicar para que la gente «se convierta» que predicar para que viva el gozo de la salvación"2. Por tanto, se trata de insistir en la Presencia de Jesús Resucitado en la vida de la Iglesia y en nuestra propia vida; para que la descubramos y gocemos.
Primera lectura (He 5,12-16):
En tres sumarios el libro de los Hechos (2,42-47; 4,32-35; 5,12-16) nos describe los rasgos esenciales de la Iglesia Madre de Jerusalén en su momento de formación. Justamente por ser “sumarios” tienen la función de generalizar y tipificar los constitutivos esenciales de la vida de la comunidad: la enseñanza de los Apóstoles, la vida en común (koinonia), la fracción del pan y la oración.
Pero el sumario que leemos hoy pone, además, el acento en dos aspectos: la actividad taumatúrgica (milagrosa) de los apóstoles, en particular de San Pedro; y el crecimiento de la comunidad en número y en respeto o admiración de la gente. En efecto, al principio y al final de la perícopa se señalan los signos y prodigios de Pedro, en particular curaciones de enfermos, al punto que no sólo de Jerusalén sino de ciudades vecinas les traen enfermos o poseídos para que los cure. La intención de Lucas es presentar la misión de los Apóstoles como continuación de la misión de Jesús, a quien también les traían los enfermos de todas partes para que los curase (cf. Lc 6,17-18).
En el medio se señala el asombroso crecimiento de la comunidad: "Aumentaba cada vez más el número de los que creían en el Señor, una multitud de hombres y mujeres".
En síntesis, Jesús ha concedido a sus Apóstoles su poder de dar vida, de obrar curaciones corporales y espirituales. Es la fuerza de Jesús resucitado presente en su Iglesia y que ejerce una fuerza de atracción que lleva al aumento de la comunidad de creyentes.
Segunda lectura (Ap 1,9-13.17-19):
De esta visión inaugural del Apocalipsis nos quedamos sólo con dos temas pertinentes para este segundo domingo de pascua. En primer lugar, la referencia al "día del Señor"
1J. Aldazábal, "La cincuentena pascual, tiempo fuerte, centro de todo el año" en La Cincuentena Pascual (CPL; Barcelona 1984) 7.
2J. Gomis/J. LLigadas, "Pastoral de la celebración", en La Cincuentena Pascual (CPL; Barcelona 1984) 12.
2
(kuriakh/| h`me,ra|) como tiempo de la visión. Como señala U. Vanni3, experto en el Apocalipsis, con esta expresión se está refiriendo concretamente al día de reunión de la asamblea cristiana, el domingo, que tiene como trasfondo ciertamente el día de la resurrección de Jesús.
En segundo lugar, la auto-presentación que hace quien habla: se trata de Cristo en su misterio Pascual, muerto y resucitado, viviente eterno y con poder de salvar de la muerte pues tiene las llaves de la muerte y del hades (el lugar de los muertos). El Cristo que se manifiesta al vidente no es el Jesús familiar de la vida pública, sino el Hijo del hombre Glorificado al final de los tiempos a quien se le atribuyen rasgos divinos, es sacerdote y rey (según lo presenta vestido con túnica talar y ceñidor de oro), juez de mirada penetrante, eterno y estable. La iglesia está en sus manos (las siete estrellas) y su palabra es como una espada para juzgarla.
El vidente sabe que la misión de Jesús como juez se realiza en la historia y, allí mismo, es el lugar donde se realiza su señorío.
Por tanto, la actualización del mensaje es que Jesús Resucitado, viviente y con poder de dar vida, se hace presente el día domingo en la reunión de los cristianos. Y esta presencia es fundamentalmente activa: obra, juzga y dirige la vida de la Iglesia.
Evangelio (Jn 20,19-31):
Encontramos en este relato dos apariciones del Resucitado: una el mismo día de la resurrección con la presencia de los apóstoles y la ausencia de Tomás, uno de los Once; y la segunda, ocho días más tarde, con la presencia del grupo completo, incluido ahora Tomás.
Estas apariciones tienen lugar "el primer día de la semana", que es nuestro domingo, día del Señor, y que desde la época apostólica es entonces el día de la reunión de los cristianos. La primera aparición tiene lugar "al atardecer de ese mismo día, el primero de la semana" (20,19), y de este modo se relaciona con el relato precedente de la aparición a las mujeres que tuvo lugar ese mismo día, pero de mañana. No se precisa el lugar dónde se encontraban reunidos, pero sí se señala que las puertas estaban cerradas por temor a los judíos. El miedo y el encierro son signos de la falta de fe de la primera comunidad, todavía golpeada por los acontecimientos vividos en los últimos días.
En su primera aparición Jesús Resucitado saluda a los discípulos diciéndoles: “¡Paz a ustedes!”. Más que de un augurio o deseo, se trata aquí de la donación efectiva de la paz, de una presencia real de la paz como don escatológico tal como lo había indicado Jesús en su discurso de despedida: “Les dejo la paz, les doy mi paz, pero no como la da el mundo” (Jn 14,27). Esta paz, según el trasfondo del Antiguo Testamento (Shalom), incluye todos los bienes necesarios para la vida presente y la plenitud de bienes en la vida futura. Pero lo que en el Antiguo Testamento era promesa, por la muerte y resurrección de Cristo se vuelve realidad. Justamente en el AT se considera que la presencia de Dios en medio de su pueblo es el bien supremo de la paz (cf. Lev 26,12; Ez 37,26). Entonces para el evangelista Juan la presencia de Jesús resucitado en medio de los suyos es la fuente y la realidad de la paz que se hace presente. Y esta paz no está ligada a su presencia corporal sino a su realidad de resucitado, victorioso de la muerte, y por eso les da, junto con su paz, el Espíritu Santo y el poder de perdonar los pecados (20,22-23).4
F. Moloney5sostiene que como en la expresión eirênê hymin (“paz a ustedes”) falta el verbo, la misma debe traducirse como "paz con ustedes" en sentido de que Jesús declara que la paz ya está presente entre los discípulos. Y esto se debe justamente a que Jesús resucitado está presente en medio de ellos.
3 L' Apocalisse. Ermeneutica. Esegesi. Teologia (EDB; Bologna 1991) 90-91.
4 Cf. X. LEÓN-DUFOUR, "Paz" en X. LEÓN-DUFOUR, Vocabulario de Teología Bíblica, Barcelona, 1978; 659. 5 Cf. F. MOLONEY, El evangelio de Juan, Estella, Verbo Divino 2005; 516.
3
En fin, ahora Jesús resucitado, con la plenitud de vida que ha recibido del Padre, puede dar a los suyos la paz que proviene del Padre y que permite vivir en comunión con Dios y con los hermanos
Luego, Jesús les muestra sus heridas para probarles que es el Crucificado que ha Resucitado; que es él mismo, pero en un estado diferente.
A continuación, vuelve a darles la paz y pronuncia las palabras de envío mientras realiza el gesto de soplar sobre ellos. El tema de la misión, con distintas formulaciones, aparece como una constante en los relatos de aparición de Jesús en los evangelios. En la formulación joánica se resalta que se trata de una única y misma misión, que se origina en el Padre que envía a su Hijo Jesús, quien ahora hace partícipes de la misma a sus discípulos. También es común en los evangelios unir la misión con el don del Espíritu Santo; pero en san Juan la donación se hace de modo personal mediante el gesto de soplar sobre ellos6. Sobre este gesto, algunos estudiosos ven aquí una referencia al gesto primordial de Dios en la creación del hombre (cf. Gen 2,7)7. Entonces el soplo de Jesús es el signo de la nueva creación: Jesús glorificado comunica el Espíritu que hace renacer al hombre (cf. Jn 3, 3-8), dándole a compartir la comunión divina. Además, según X. León Dufour 8, aquí está el cumplimiento de lo anunciado por Juan Bautista de que Jesús "tenía que bautizar en el Espíritu Santo" (Jn 1,32-33); y también de la alianza definitiva anunciada por los profetas y caracterizada por la efusión del Espíritu (cfr. Jer 31,33; Ez 36,26s).
Con esta donación del Espíritu Santo a los Apóstoles se les comunica también el poder perdonar o retener los pecados y, de este modo, son ellos ahora transmisores de la vida nueva. Además, éste sería el objeto de la misión: el perdón de los pecados, la misericordia. Al respecto comenta I. de la Potterie9: “La obra que tendrán que cumplir los discípulos será una continuación de la suya. Pues bien, él es ‘el cordero de Dios que quita el pecado del mundo’ (1,29), el Hijo de Dios que con su sangre ‘nos purifica de todo pecado’ (1Jn 1,7). Ahora se comprende todavía mejor la alusión explícita a la cruz en nuestra perícopa: la palabra de Jesús sobre el poder de perdonar los pecados acompaña al gesto con que mostraba las llagas de su pasión. Es como si quisiera hacer comprender a los discípulos que su ministerio de perdón será la actualización del sacrificio de Cristo y de su significación soteriológica, ya que Jesús, el buen Pastor, ‘da su vida por las ovejas’ (cf. 10,15)”.
El punto culminante de la narración se encuentra en la segunda escena donde Tomás, el discípulo ausente la primera vez, es invitado a creer en el testimonio de la comunidad que ha visto al Señor Resucitado. Sin embargo, Tomás se resiste a creer si no puede ver.
Los demás apóstoles han visto al Señor y han creído; Tomás desea también ver al Señor. Tomás quiere verificar la afirmación de sus compañeros comprobando con sus propios ojos que El que se les apareció es en verdad el Crucificado. Aplica rigurosamente las categorías del pensamiento judío sobre la resurrección de los muertos. Quiere una estricta continuidad entre los dos mundos, a fin de poder verificar concretamente que El que se aparece es el mismo ser de antes. Tiempo atrás ya Felipe quería ver al Padre (cf. Jn 14,8), y ahora Tomás quiere ver, en el sentido básico del término, al Hijo glorificado.
Entonces se le aparece Jesús Resucitado con los mismos signos de su crucifixión y le reprocha a Tomás su incredulidad. La respuesta de Tomás es grandiosa por cuanto pronuncia la profesión de fe más elevada del Evangelio de Juan (y del Nuevo Testamento) pues le aplica a Jesús los nombres que el Antiguo Testamento reservaba para Dios: Yahvé-Señor y Elohim. En efecto, Tomás llama a Jesús "Señor mío y Dios mío" (ὁ κύριός μου καὶ ὁ θεός μου) que es la manifestación de fe cristológica suprema de todo el evangelio10. Además, el posesivo "mío" indica su adhesión personal de fe y de amor a Jesús.
6 Cf. G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 490.
7 Cf. L. H. Rivas, El evangelio de Juan. Introducción. Teología. Comentario (Buenos Aires 2005) 530. 8 Cf. Lectura del evangelio de Juan. Jn 18-21. Vol. IV, Salamanca, Sígueme 1998; 193. 9 Genesi della fede pasquale secondo Giovanni 20, 206; citado en G. Zevini, Evangelio según san Juan, 491. 10 Cf. L. H. Rivas, El evangelio de Juan, 535.
4
Las últimas palabras de Jesús (20,29) son una bienaventuranza donde declara dichosos a los que creen sin haber visto (μὴ ἰδόντες καὶ πιστεύσαντες). Estas palabras estarían dirigidas a los discípulos de la segunda generación cristiana que no habían sido testigos oculares de la resurrección de Jesús y contaban sólo con la palabra predicada. A ellos se los declara dichosos si, por la fuerza del Espíritu Santo, llegan a creer que Jesús está vivo, aunque no hayan tenido una aparición sensible como los Apóstoles11. Se trata de una definición del creyente cristiano de todos los tiempos, a partir de la resurrección de Jesús. Como bien dice G. Zevini12: “Es creyente aquel que, superando las dudas y las pretensiones de ver, acepta el testimonio autorizado de los que han visto. En el tiempo de Jesús se combinaban la visión y la fe, pero ahora, en el tiempo de la Iglesia, los discípulos no deben tener pretensiones de ver: les basta el testimonio apostólico. Se ha transformado el signo que conduce a la fe: ese signo no es ya objeto de visión directa, sino de testimonio. Lo cual no significa que actualmente esté cerrada para los creyentes toda experiencia personal de Cristo resucitado. Todo lo contrario. A los creyentes se les ofrece ahora la experiencia de la alegría, de la paz, del perdón de los pecados, de la presencia del Espíritu Santo. Pero la «historia» de Jesús tiene que ser aceptada a través del testimonio”.
Algunas reflexiones:
La cuaresma nos impulsó al ejercicio, arduo y difícil a veces, de mirarnos a nosotros mismos para reconocer los pecados o desórdenes y emprender un camino de conversión. El tiempo pascual, más bien, nos invita a ejercitar una mirada de fe sobre nuestra realidad para descubrir allí la presencia viva del Resucitado. Por eso el gran tema de este tiempo es la fe, esto es, creer en su Presencia invisible. Y llegar a ser feliz de creer sin ver. Sin duda que la fe es un don o regalo de Dios para nosotros. Pero también es el don o regalo que Jesús nos pide a nosotros; es el "obsequio de la razón" (DV nº 5) que le debemos ofrecer, regalar al Señor y para lo cual “necesitamos la gracia de Dios que previene y ayuda, y los auxilios internos del Espíritu Santo, el cual mueve el corazón y lo convierte a Dios, abre los ojos de la mente y da "a todos la suavidad en el aceptar y creer la verdad" (DV nº 5). Hay que pedir al Señor el don de la Fe. Ahora bien, no se trata de creer en el aire o en el vacío; sino que estamos llamados a tener una experiencia, en la fe, de la Presencia de Jesús Resucitado en nuestra vida, análoga a la que tuvieron los Apóstoles.
Esta Presencia de Jesús escapa a los sentidos pues no lo podemos ver ni tocar como hizo Tomás; pero sí podemos sentir los efectos de su Presencia, de su paso por nuestra vida. El evangelio de hoy nos habla ante todo de la paz que el Señor regala a los suyos. Junto a la paz tenemos la alegría, que también refiere el evangelio de hoy. Íntimamente unido a estas experiencias está el tema del perdón de los pecados confiado a la Iglesia (la misericordia). Y por fin, la raíz o causa de todo esto: el don del Espíritu Santo.
Además de la fe, la otra condición indispensable para esta experiencia de Jesús Resucitado que es la inserción o pertenencia comunitaria. También en esto el ejemplo de Tomás es claro. Sólo cuando se incorporó a la comunidad apostólica, la Iglesia naciente, Tomás pudo encontrarse con el Señor. El Señor se hace presente en la comunidad de los creyentes y allí podremos "verlo" con los ojos de la fe.
Ahora bien, para que la Iglesia haga visible a los hombres la Presencia de Jesús Resucitado tiene que vivir las notas características que nos describía la primera lectura y de este modo ejercer una verdadera atracción sobre los hombres. Al respecto decía el Papa Benedicto XVI en su discurso inaugural en Aparecida (y citado por Francisco en EG 14): “El evangelista pone de relieve, incluso de forma plástica, que esta consignación acontece en el Espíritu Santo: «Sopló sobre ellos diciendo: ‘Recibid el Espíritu Santo...’» (Jn 20,22). La misión de Cristo se realizó en el amor. Encendió en el mundo el fuego de la caridad de Dios (cf. Lc 12,49). Es el amor que da la vida: por eso la Iglesia
11 Cf. L. H. Rivas, El evangelio de Juan, 536.
12 Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 495.
5
es invitada a difundir en el mundo la caridad de Cristo, para que los hombres y los pueblos «tengan la vida y la tengan en abundancia» (Jn 10,10)… La Iglesia se siente discípula y misionera de ese Amor: misionera solamente en tanto discípula, es decir, capaz de siempre dejarse atraer, con renovado arrobamiento, por Dios que nos amó y nos ama primero (1Jn 4,10). La Iglesia no hace proselitismo. Crece mucho más por «atracción»: como Cristo «atrae todo a sí» con la fuerza de su amor, que culminó en el sacrificio de la Cruz, así la Iglesia cumple su misión en la medida en la que, asociada a Cristo, cumple su obra conformándose en espíritu y concretamente con la caridad de su Señor.”
Tenemos también el tema de la misericordia de Dios, propio de este segundo domingo de Pascua que es llamado ahora también domingo "de la divina misericordia". En su encuentro con el Señor Resucitado el Apóstol Tomás tiene una experiencia de la Misericordia de Dios. Al respecto decía el Papa Francisco en su homilía del 24 de abril de 2022: “Tomás quiere ver y tocar. Y el Señor no se escandaliza de su incredulidad, sino que va a su encuentro: «Trae aquí tu dedo y mira mis manos» (v. 27). No son palabras desafiantes, sino de misericordia. Jesús comprende la dificultad de Tomás, no lo trata con dureza y el apóstol se conmueve interiormente ante tanta bondad. Y es así que de incrédulo se vuelve creyente, y hace esta confesión de fe tan sencilla y hermosa: «¡Señor mío y Dios mío!» (v. 28). Es una linda invocación, que podemos hacer nuestra y repetirla durante el día, sobre todo cuando experimentamos dudas y oscuridad, como Tomás.
Porque en Tomás está la historia de todo creyente, de cada uno de nosotros. Hay momentos difíciles, en los que parece que la vida desmiente a la fe, en los que estamos en crisis y necesitamos tocar y ver. Pero, como Tomás, es precisamente en esos momentos cuando redescubrimos el corazón del Señor, su misericordia. Jesús, en estas situaciones, no viene hacia nosotros de modo triunfante y con pruebas abrumadoras, no hace milagros rimbombantes, sino que ofrece cálidos signos de misericordia. Nos consuela con el mismo estilo del Evangelio de hoy: ofreciéndonos sus llagas. No olvidemos esto, ante el pecado, el más escandaloso pecado nuestro o de los demás, está siempre la presencia del Señor que ofrece sus llagas”.
La finalidad de la liturgia al unir la devoción a Jesús Misericordioso con el segundo domingo de Pascua es mostrarnos cómo la misericordia divina es comunicada por Cristo muerto y resucitado, fuente del Espíritu que perdona los pecados y devuelve la alegría de la salvación13.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Ese mismo día
El Primer Día, Resucitado
Te hiciste Esperanza viva entre los tuyos
Hombres y mujeres elegidos
Testigos de lo inexplicable
Ya no estaban dormidos
El acontecimiento dejó atónito
A todos los discípulos
Y viniste de improviso
A darles alegría, sin pedir permiso
Tal vez fue una tarde de primavera
Cuando todo cobró sentido
Allá en tu tierra, tu Jerusalén
Perdido en el universo aquel
Fue tan grande que hizo falta
Hacerles, varias veces comprender
Y hoy también la fe no alcanza
Ven a sorprendernos como ayer
13 Cf. Congregación para el Culto Divino y la Disciplina de los Sacramentos, Directorio sobre piedad popular y liturgia. Principios y orientaciones (CEA; Buenos Aires 2002) nº 154.
6
Tomás no fue culpable
Era uno más de nosotros, llegó tarde
Y se perdió la alegría,
De estar entre la gente para honrarte
Ven hermano mío, vamos a buscarle
El vino para hablarnos de una Patria más grande
De un lugar no imaginado
Para siempre junto al Padre. Amén