30/03/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Josué 5,9a.10-12
Salmo33(34)-R- Provai e vede quão suave é o Senhor!
2ª Leitura: 2 Coríntios 5, 17-21
Evangelho de Lucas 15,1-3.11-32
Naquele tempo: 1Os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. 2Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus. 'Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles.' 3Então Jesus contou-lhes esta parábola: 11'Um homem tinha dois filhos. 12O filho mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte da herança que me cabe'. E o pai dividiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada. 14Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam. 17Então caiu em si e disse: 'Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: `Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados'. 20Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos. 21O filho, então, lhe disse: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho'. 22Mas o pai disse aos empregados: `Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. 23Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. 24Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado'. E começaram a festa. 25O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. 26Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. 27O criado respondeu: `É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde'. 28Mas ele ficou com raiva e não queria entrar. O pai, saindo, insistia com ele. 29Ele, porém, respondeu ao pai: `Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. 30Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado'. 31Então o pai lhe disse: `Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado'.' Palavra da Salvação.
A parábola do filho pródigo é a rainha de todas as parábolas.
Esta parábola deixa transparecer em seu desenvolvimento elementos impactantes: o abandono da casa, a dissipação libertina, a queda humilhante, as privações merecidas, a saudade de casa paterna, a espera impaciente e esperançosa do pai, o retorno à vida, o abraço sem recriminações, a festa.
Ao passar da ovelha e da moeda perdidas para o filho perdido e reencontrado, Jesus cumpre algo que ele disse: Ele revela o Pai (10,22). A paternidade humana é reflexo especular da paternidade de Deus e por isso o pai da parábola nos faz conhecer o Pai de Jesus.
O filho mais novo pede a parte de sua herança. Ela corresponde a um terço dos bens móveis (Dt 21,17). O motivo desse pedido do filho mais novo fica claro com o que ele faz imediatamente depois de receber sua parte: ele parte para longe do pai. Trata-se de rompimento com o pai. Ele parte para longe buscando a sua liberdade do pai.
A liberdade se revela como libertinagem, e a libertinagem o leva à miséria porque “bebedores e comilões se arruínam” (Pr 23,21); “quem se junta com prostitutas dissipa sua fortuna” (Pr 29,3). Assim a fome e a miséria do filho pródigo não são castigos extrínsecos, mas consequências bem conhecidas de uma conduta tão insensata quanto ingrata.
Submetido à escravidão a um patrão pagão, humilhado por um ofício infamante, forçado a permanecer com animais impuros, o filho pródigo cai na conta que os porcos gozam de uma sorte melhor do que a dele: os porcos têm a lavagem. Ele nem isso recebe!
É nesse momento que ele se lembra do pai! A necessidade o faz refletir; a fome o faz lembrar que os empregados do pai têm pão com fartura! Mais uma vez o filho pródigo mostra que só pensa em si mesmo, só sabe raciocinar em função de seus interesses pessoais.
Ouvimos os pensamentos do jovem, mas ele não permanece somente nessa constatação egoísta. Percebe que além de perder dinheiro, ele perdeu algo mais precioso: a dignidade de filho. Superando o interesse pessoal, o jovem descobre, além disso, a dimensão transcendente de sua falta contra o pai: pecou também contra Deus! Ele se impõe um castigo: o de perder todos os direitos de filho e ser tratado como um empregado.
O pai, porém, não leva o assunto por via legal, mas se deixa levar pelo afeto paternal: “minhas entranhas se comovem e cedo à compaixão” (Jr 31,20); “meu coração se contorce dentro de mim, minhas entranhas se comovem” (Os 11,8).
Vendo ao longe o filho que retorna, o pai sai correndo a seu encontro. O abraço sela a reconciliação e impede que o filho pronuncie a sua confissão. É recebido como filho. Traje e anel são os sinais externos da filiação recuperada. De fato, o filho estava morto e voltou a viver. Ele não só retornou para casa; ele se arrependeu e voltou melhor do que quando partiu. Trata-se de uma vida melhorada que merece ser festejada.
A parábola tem uma segunda parte porque nem todos se alegram com o final da parábola. Há quem não aceite nem compreenda a fraqueza do pai. O filho mais velho é como Jonas que não queria ser profeta de um Deus compassivo e clemente, paciente e misericordioso, capaz de deixar na mão o seu profeta em vez de destruir os ninivitas arrependidos.
O filho mais velho também regressa para casa. Está cansado, depois de um longo dia de trabalho no campo. Ele protesta contra o pai e o irmão: o outro gastou os bens com prostitutas, a ele nunca lhe ofereceu sequer um cabrito para festejar.
O filho mais velho precisa também de conversão. Estar sempre com o pai deveria ser sua alegria e felicidade e não uma condição para reivindicar! Nunca ganhou um cabrito do pai, porque tudo o que lhe pertence é também dele! O filho mais velho precisa se converter de empregado em filho!
Entrou o filho mais velho para festejar o retorno do irmão? Não sabemos. Só sabemos que paternidade gera fraternidade.
4º DomQuaresma-Lc15,1-3.11-32-ano C-30-03-25
“Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,2)
Com seu talento artístico, Lucas nos relata a Parábola do Pai Misericordioso, contada por Jesus, de tal forma que, ao longo da história, as pessoas sempre se sentiram tocadas e provocadas por ela.
A parábola é a expressão humana da misericórdia divina. A ênfase é menor no filho do que no Pai. Na verdade, Jesus “pinta” o rosto do seu Pai e nosso Pai. Todos os detalhes da figura do Pai-Mãe – seus gestos afetivos de acolhida – falam do amor de Deus pela humanidade, amor que existiu desde sempre e continua.
Jesus de Nazaré foi um homem, talvez o único, que viveu e comunicou uma experiência sadia de Deus, sem desfigurá-la com os medos, ambições e fantasmas que, normalmente, as diferentes religiões projetam sobre a divindade.
Esta é a melhor imagem de Deus: um pai comovido até suas entranhas, acolhendo os seus filhos perdidos e suplicando a todos que se acolham mutuamente com o mesmo carinho e afeto; um pai compassivo que busca conduzir a história da humanidade até a festa final onde se possam celebrar a vida e a libertação de tudo o que escraviza e degrada o ser humano.
Esta experiência da compaixão de Deus foi o ponto de partida de toda a atuação revolucionária de Jesus que o levou a introduzir na história da humanidade um novo princípio de atuação: a compaixão.
(Nota: as traduções bíblicas empregam indistintamente os termos “misericórdia” e “compaixão”. Melhor falar de compaixão, pois sugere maior proximidade: padecer com aquele que sofre. “Ter misericórdia” pode fazer pensar em uma relação que se estabelece com quem está mais abaixo).
É a compaixão o princípio que deve inspirar a conduta humana. Ela não é, para Jesus, uma virtude a mais, mas a única maneira de se assemelhar a Deus, o único modo de olhar o mundo como Deus o olha, a única maneira de sentir as pessoas como Deus as sente, a única forma de reagir diante do ser humano como Deus reage. Fomos criados à imagem e semelhança do Deus compassivo.
Sem o horizonte inspirador da compaixão divina o ser humano deixa aflorar o que é mais destruidor: ódio, intolerância, preconceito...
Na parábola, Jesus descreve duas atitudes que todos nós conhecemos: os dois filhos representam os dois polos que também encontramos em nós mesmos. Um dos polos é nosso desejo de escapar dos limites impostos por regras e leis: o filho mais jovem quer fugir das limitações familiares e simplesmente conhecer a vida com todos seus altos e baixos; e há o outro polo, aquele que se aborrece com a misericórdia do pai.
O filho mais jovem não quer viver sua vida conforme as expectativas dos outros, quer viver sua própria vida e desfrutá-la ao máximo. Esse anseio por vitalidade, por uma vida no aqui e agora, de não querer se preocupar com o futuro, é típico dos nossos tempos.
Mas, essa atitude leva o filho a perder-se a si mesmo. Ele vive desenfreadamente: perde toda estrutura e estabilidade, desperdiça sua riqueza, desgastando-se com coisas inúteis, que logo o esvaziam e passa a sentir-se cada vez pior. Ele, que sempre quis estar livre, agora precisa submeter-se à dependência de um estranho para sobreviver; no fim, encontra-se num chiqueiro entre os porcos, que, para os judeus, era a pior degradação que um ser humano poderia cair.
O “filho mais novo” parte para o exterior, “para uma terra longínqua”. Pensa resolver seus problemas partindo para longe de seu coração profundo, para longe de si mesmo. Deixa-se arrastar por um impulso desordenado, que o domina por inteiro. Perdeu toda a liberdade verdadeira.
Mas, parte também para longe de sua fonte: o Pai. Passa a decidir sua vida sem referência alguma ao lar, às relações filiais e fraternas; não pode mais se alimentar com o pão da sua casa, mas com a comida que os porcos comiam. É assim que vai viver a fome interior e exterior.
A conversão do filho mais novo só pode ser vivida na volta do exílio, no retorno ao centro. O caminho de volta é expresso em poucas palavras, de maneira extremamente densa, fulgurante: “e, caindo em si, disse...”. Ele faz o caminho em sentido inverso: volta ao seu coração, à sua fonte.
Ele próprio é quem descobre o seu caos, sua desordem. Através de um doloroso e, provavelmente, longo caminho, sai da ilusão sobre si mesmo e descobre sua verdade. Retoma contato com o seu coração pro-fundo. No silêncio, escuta, deixa-se ensinar e, então, cavando fundo em si, como se cava em um campo, descobre o tesouro, a fonte de sua existência, a presença do Pai. Embora não o conhecesse totalmente, encontra um Pai justo, que nunca o expulsará. Pela primeira vez, toma conhecimento de um amor seguro, estável, sólido que, ao mesmo tempo, é verdadeiro.
Nesse momento, iluminado a partir do interior, pode dizer: “Pequei”. E o faz de maneira honesta, sem reserva, sem se justificar. Não esconde mais a sua verdade interior. Agora, o seu olhar modificou-se: pode assumir aquilo que é, aquilo que viveu.
A misericórdia do pai é uma misericórdia paciente, que sabe esperar; e é, ao mesmo tempo, uma misericórdia inquieta, apressada, que corre ao encontro do filho para devolver-lhe a filiação perdida. Por isso ordena aos servos que sejam eliminados imediatamente todos os sinais da degradação e da escravidão do filho e todos os sinais dos sofrimentos e das humilhações que sofreu.
O pai veste o filho com todos os sinais de liberdade; a liberdade que fora buscada longe de casa, agora é encontrada no calor do seu próprio lar.
Por outro lado, “filho mais velho” exprime vivamente a sua revolta: “jamais transgredi um só dos teus mandamentos”. O problema fundamental dele é acreditar-se sem pecado. Crê-se justo e, consequentemente, possui um coração de justiceiro. Ele está cheio de si mesmo e se engana.
Jamais encontrou o amor, provavelmente porque foi incapaz de deixar-se questionar ou de se converter. Busca, antes de tudo, um legalismo e um perfeccionismo de ordem superficial e ilusória. Assim, fica de fora, sozinho e sem alegria, longe do relacionamento e da festa.
O Pai faz a festa para o filho perdido e reencontrado. Mas ama também aquele que ficou em casa, ao seu lado, e que deixou seu coração endurecer. Ele vai ao seu encontro, vai para pedir que participe da alegria do reencontro. Não o deixa na sua solidão e na sua rejeição. Não acusa seu pecado.
O Pai vai também procurar aqueles que tem um coração de pedra, egoístas e invejosos. O surpreendente não está só no fato do pai correr ao encontro do filho mais moço, e sim que tenha sido compreensivo com um homem tão duro, frio e rígido como o filho mais velho, e que continua a chamá-lo de “filho”.
O pai não repreende e nem acusa seu primogênito; ele o convida para a alegria – e esse convite se estende a nós, que também temos esse lado do irmão mais velho. A parábola não diz se o irmão mais velho aceitou o convite.
Deus não nos força a nada. Ele nos convida: se aceitarmos o desafio da parábola e a ouvirmos com o coração, ocorrerá uma ampliação do nosso espaço interior confinado, o nosso coração se abrirá. Então poderemos perdoar a nós mesmos e aos outros; o rosto divino da misericórdia se resplandecerá em nós. Seremos presenças misericordiosas.
Para meditar na oração:
Todos nós deixamos transparecer as marcas de cada um dos personagens da parábola.
- Considerar, diante de Deus, quando você vive atitudes do filho mais novo, do mais velho e do pai.
Jesus não queria que o povo da Galileia percebesse Deus como um rei, um senhor ou um juiz. Ele o viu como um pai incrivelmente bom. Na parábola do "bom pai", ele mostrou-lhes como imaginava Deus.
Deus é como um pai que não pensa na sua própria herança. Respeite as decisões dos seus filhos. Ele não se ofende quando um deles o dá como "morto" e pede sua parte da herança.
Ela o vê sair de casa com tristeza, mas nunca o esquece. Esse filho sempre poderá voltar para casa sem medo. Quando um dia o vê chegando faminto e humilhado, o pai fica "comovido", perde o controle e corre ao encontro do filho.
Ele esquece sua dignidade como "senhor" da família e o abraça e beija efusivamente como uma mãe. Ele interrompe sua confissão para poupá-lo de mais humilhação. Ele já sofreu o suficiente. Ele não precisa de nenhuma explicação para aceitá-lo como filho. Não lhe impõe nenhuma punição. Não requer ritual de purificação. Ele nem parece sentir necessidade de expressar seu perdão. Não é necessário. Ela nunca deixou de amá-lo. Ele sempre buscou o melhor para si.
Ele próprio se preocupa com a recuperação do filho. Ele lhe dá o anel da casa e o melhor vestido. Dê uma festa para a cidade inteira. Haverá um banquete, música e dança. O filho deve experimentar a boa celebração da vida com seu pai, não a falsa diversão que ele buscava entre as prostitutas pagãs.
Era assim que Jesus se sentia em relação a Deus, e é assim que ele repetiria hoje para aqueles que vivem longe dele e começam a se ver "perdidos" no meio da vida. Toda teologia, pregação ou catequese que esqueça esta parábola central de Jesus e nos impeça de experimentar Deus como um Pai respeitoso e bom, que acolhe os seus filhos e filhas perdidos, oferecendo-lhes o seu perdão gratuito e incondicional, não vem de Jesus nem transmite a sua Boa Nova de Deus.
Neste quarto domingo da Quaresma, a liturgia nos oferece um dos textos mais conhecidos do Evangelho. É uma parábola que Jesus conta aos cobradores de impostos e pecadores que se aproximam dele para ouvi-lo. Eles são atraídos pela sua mensagem e o texto enfatiza que há uma intenção explícita de ir até Jesus para receber suas palavras: “aproximavam-se de Jesus para o escutar”. E há outro grupo, os fariseus e os mestres da lei, que criticaram Jesus. "Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles".
A murmuração e a crítica desse grupo em relação ao modo de agir de Jesus aparecem em vários momentos do Evangelho e vão aumentando. Diferentemente do grupo anterior, os fariseus e os mestres da lei criticam Jesus por seu comportamento aberto, por sentar-se à mesa com os pecadores, com os cobradores de impostos, com o povo da cidade.
Lembre-se de que os cobradores de impostos eram mal vistos pelo povo em geral porque cobravam impostos em nome do império, nesse caso, de Roma. Os impérios antigos cobravam impostos nos países subjugados e, em geral, faziam isso de acordo com o sistema criado pelas cidades helenísticas: leiloavam o direito de cobrança entre grupos específicos - os publicanos - que, por sua vez, delegavam a cada lugar as pessoas que cobravam esses impostos. Em conclusão, o povo precisava pagar o dobro ou o triplo do “imposto” a Roma, porque na “trilha do dinheiro” todos eram pagos. Eles lucravam com seu próprio povo, com aqueles que viviam de seu trabalho diário, com o fazendeiro, com o comerciante, com cada trabalhador, porque cobravam uma certa quantia para si mesmos e para pagar seus “chefes”.
Pecadores, como a palavra os define, são pessoas que levam publicamente uma vida “indigna” ou praticam uma profissão que leva ao pecado, como cobradores de impostos e prostitutas. Aqueles que não cumprem a Lei são chamados de pecadores e, às vezes, os pagãos são mencionados como pecadores. A doença é vista como um castigo de Deus por alguma ação errada (pecado) e, por causa dos doentes, eles são excluídos da vida social e ficam marginalizados e à beira da estrada, como os cegos, os paralíticos e os leprosos.
No texto do evangelho sobre o qual estamos refletindo neste domingo, temos esses dois grupos que estão ouvindo Jesus com intenções quase opostas: para os pecadores e cobradores de impostos, suas palavras eram encorajadoras, traziam esperança para suas vidas e, possivelmente, eles os acolheram e tentaram fazê-los ganhar vida neles. Os fariseus e os mestres da Lei estão do outro lado: são palavras que os deixam desconfortáveis e, por isso, querem silenciá-lo.
Para ambos os grupos, Jesus narra essa parábola, precedida por duas parábolas anteriores que têm uma característica comum, que é a alegria do reencontro. O texto deste domingo conta a parábola de um pai que ama seus filhos incondicionalmente. Um deles sai para buscar o que considera ser sua herança e, nas palavras de seu irmão mais velho, desperdiça tudo o que recebeu vivendo como um libertino. Ele se muda da casa do pai e vai para um lugar distante onde, de acordo com a história, “esbanjou tudo numa vida desenfreada”.
Ele esbanja o dinheiro e, quando a fome chega, a única chance de sobrevivência que tem é se tornar um pastor de porcos. É um contraste gritante, pois ele é um jovem de boa família e vai fazer um trabalho humilhante para ele: pastorear porcos. Nesse momento, ele pensa na comida dos jornaleiros de seu pai: "têm pão com fartura". A fome o faz recobrar a razão e ele sugere voltar para meu pai e prepara o discurso que dirá a ele quando chegar: “Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados”.
O retorno desse filho é descrito de forma simples e clara: “ele partiu e voltou para seu pai”. Mas a atitude do pai é desenvolvida por meio de cinco verbos que descrevem sua misericórdia e nos permitem entrar profundamente em seu coração. É muito rica em seu conteúdo: quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos. É uma ótima descrição de todo esse movimento de amor e generosidade do pai para com o filho que, sem dúvida, estava esperando por ele. Não há diálogo ou troca de palavras, são atitudes que o pai tem, ele não o perdoa com palavras, mas com suas atitudes expressa sua alegria pelo seu retorno.
O filho mais velho permanece distante, não aceita esse “teu filho”. Não o chama de irmão porque ele também não apreciou o amor do Pai com quem esteve o dia todo. Ele não desfruta da gratuidade e da generosidade do Pai porque não há vínculo de fraternidade. O pai deseja que ele desfrute da alegria da festa, o que será possível se esse filho também se abrir para reconhecê-lo como seu irmão e, a partir daí, construir a fraternidade. Eles não são filhos isolados, mas são filhos do mesmo amor misericordioso de Deus que recebemos em nossa vida e que também recebemos na vida de cada irmão ou irmã ao nosso lado. Não somos indivíduos isolados em pequenos grupos e aqueles que não fazem parte de nosso grupo são deixados de fora. O amor de Deus abraça cada pessoa em qualquer condição em que ela se encontre. Para Deus, somos todos filhos, mas nos tornaremos cada vez mais filhos à medida que purificarmos nosso olhar e nossos sentimentos para permitir que a fraternidade se estenda a todos os que cruzarem nosso caminho.
A PARÁBOLA DO PAI COM SEUS DOIS FILHOS
TERNURA E MISERICÓRDIA DE DEUS (Lucas 15,11-32)
No texto de hoje, vamos refletir sobre uma parábola que Jesus contou para ajudar as pessoas a terem uma ideia de Deus como Pai cheio de ternura. No tempo de Jesus, a ideia que o povo fazia de Deus era de alguém muito distante, severo, como um juiz que ameaçava com castigo. Jesus revela uma nova imagem de Deus.
SITUANDO
O capítulo 15 do Evangelho de Lucas é um ponto central na longa caminhada de Jesus para Jerusalém. É como o alto da serra, de onde se vê o caminho percorrido e se enxerga o caminho que ainda falta. É o capítulo da ternura e da misericórdia acolhedora de Deus, que está no centro das preocupações de Lucas. As comunidades devem ser a revelação do rosto deste Deus para a humanidade.
Todo o capítulo 15 está pendurado na seguinte informação inicial de Lucas: “Todos os publicanos e pecadores se aproximavam para ouvir Jesus. Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam: Esse homem recebe os pecadores e come com eles!” (Lucas 15,1-2). Era isto que estava acontecendo na época de Lucas. Os pagãos se aproximavam das comunidades, querendo entrar e participar. Muitos irmãos judeus murmuravam, achando que acolhê-los era contra o ensinamento de Jesus. Em seguida, Lucas traz três parábolas ligadas entre si pelo assunto: a ovelha perdida (Lucas 15,4-7), a moeda perdida (Lucas 15,8-10), o filho perdido (Lucas 15,11-32).
A última parábola é o assunto deste texto. Geralmente é chamada “A parábola do Filho Pródigo”. Como veremos, é melhor chamá-la “A parábola do Pai com seus dois filhos”.
COMENTANDO
1. Lucas 15,11-13: A decisão do filho mais novo
Um homem tinha dois filhos. O mais novo pede a parte da herança que lhe toca. O pai divide tudo entre os dois. Tanto o mais velho como o mais novo recebem a sua parte. Receber herança não é mérito. É um dom gratuito. A herança dos dons de Deus está distribuída entre todos os seres humanos, tanto judeus como pagãos, tanto cristãos como não-cristãos. Todos têm algo da herança do Pai. Mas nem todos cuidam da mesma maneira. Assim, o filho mais novo parte para longe e gasta a sua herança numa vida dissipada, esquecendo-se do pai. No tempo de Lucas, o mais velho representava as comunidades vindas do judaísmo, e o mais novo, as comunidades vindas do paganismo. Hoje, o mais velho representa aqueles que sempre foram fiéis e praticantes e, por isso, pensam ter algum privilégio diante de Deus. O mais novo representa os que nunca se preocuparam com a religião e agora recebem toda a atenção.
2. Lucas 15,14-19: A desilusão e a vontade de voltar para a casa do Pai
A necessidade de ter o que comer faz com que o mais novo perca a sua liberdade e se torne escravo para cuidar dos porcos. Recebe tratamento pior que os porcos. Esta era a condição de vida de milhões de escravos no império romano no tempo de Lucas. A situação em que está faz o mais novo cair em si e lembrar-se da casa do pai. Ele faz uma revisão de vida e decide voltar para casa. Prepara até as palavras que vai dizer ao Pai: “Já não mereço ser teu filho! Trata-me como um dos teus empregados!” Empregado executa ordens, cumpre a lei da servidão. O filho mais novo quer ser cumpridor da lei, como o queriam os fariseus e escribas no tempo de Jesus (Lucas 15,1-2). Era isto que os missionários dos fariseus impunham aos pagãos que se convertiam ao Deus de Abraão (Mateus 23,15). No tempo de Lucas, cristãos vindos do judaísmo conseguiram que alguns cristãos convertidos do paganismo se submetessem ao jugo da lei (Gálatas 1,6-10).
3. Lucas 15,20-24: A alegria do Pai ao reencontrar o filho mais novo
A parábola diz que o filho mais novo ainda está longe da casa e o Pai já o vê, corre ao seu encontro e o cumula de beijos. A impressão que Jesus nos dá é que o Pai ficou o tempo todo na janela olhando a estrada para ver o filho apontar lá longe da esquina! Conforme o nosso modo humano de pensar e de sentir, a alegria do Pai parece exagerada! Nem deixa o filho terminar as palavras que tinha preparado. Nem escuta! O Pai não quer que o filho seja seu escravo. Quer que seja seu filho! Esta é a grande boa-nova que Jesus nos trouxe! Túnica nova, sandálias novas, anel no dedo, churrasco, festa! Nesta alegria imensa do reencontro, Jesus deixa transparecer como era grande a tristeza do Pai pela perda do filho. Deus estava muito triste e isto a gente só fica sabendo agora, vendo o tamanho da alegria do Pai quando reencontra o filho! E é uma alegria partilhada com todo o mundo na festa que ele manda preparar.
4. Lucas 15,25-28: A reação do filho mais velho
O filho mais velho volta do serviço do campo e encontra a casa em festa. Não entra. Quer saber de que se trata. Quando sabe do motivo da festa, fica com muita raiva e não quer entrar. Fechado em si mesmo, ele pensa ter o seu dinheiro. Não gosta da festa e não entende a alegria do Pai. Sinal de que não tinha intimidade com o Pai, apesar de viver na mesma casa. Pois, se tivesse, teria notado a imensa tristeza do pai pela perda do filho mais novo e teria entendido a alegria dele pela volta do filho. Quem fica muito preocupado em observar a lei de Deus corre o perigo de esquecer o próprio Deus! O filho mais novo, mesmo longe de casa, parecia conhecer o pai melhor que o filho mais velho, que morava com ele na mesma casa! Pois o mais novo teve a coragem de voltar para a casa do pai, enquanto o mais velho não quer mais entrar na casa do pai! Ele não se dá conta de que o pai, sem ele, vai perder a alegria. Pois também ele, o mais velho, é filho do mesmo jeito que o novo
5. Lucas 14,28-30: A atitude do pai e a resposta do filho mais velho
O pai sai de casa e suplica ao filho mais velho que entre. Mas este responde: “Pai, tantos anos que eu sirvo o senhor. Jamais transgredi um só dos teus mandamentos, e o senhor nunca me deu um cabrito para festejar com meus amigos. E vem esse seu filho, que devorou seus bens com prostitutas e o senhor manda matar até o novilho gordo”. O mais velho também quer festa e alegria, mas só com os amigos. Não com o irmão, nem com o pai. Ele nem sequer chama o mais novo de irmão, mas “esse seu filho”, como se não fosse mais irmão dele. E é ele, o mais velho, que fala em prostitutas. É a malícia dele que interpretou assim a vida do irmão mais novo! Quantas vezes nós interpretamos mal a vida e a religião dos outros! A atitude do pai é outra. Ele acolheu o filho mais novo, mas não que perder o filho mais velho. Os dois fazem parte da família. Um não pode excluir o outro.
6. Lucas 15,31-32: A resposta final do Pai
Da mesma maneira como pai não deu atenção aos argumentos do filho mais novo, assim também não dá atenção aos argumentos do mais velho e diz: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu! Mas este teu irmão estava morto e tornou a viver. Estava perdido e foi reencontrado!” Será que o mais velho tinha realmente consciência de estar sempre com o pai e de encontrar nesta presença a causa da sua alegria? A expressão do pai “Tudo que é meu é teu!” inclui também o filho mais novo que voltou! O mais velho não tem o direito de fazer distinção. Se ele quer ser mesmo filho do pai, terá que aceitá-lo do jeito que ele é e não do jeito que ele gostaria que o pai fosse! A parábola não diz qual foi a resposta final do irmão mais velho. Isto fica por conta do próprio irmão mais velho que somos nós!
ALARGANDO
Quem experimenta a gratuita e surpreendente entrada do amor de Deus em sua vida torna-se alegria e quer comunicar esta alegria aos outros. A ação salvadora de Deus é fonte de alegria: “Alegrem-se comigo!” (Lucas 15,6.9). É desta experiência da gratuidade de Deus que nasce o sentido da festa e da alegria (Lucas 15,32). No fim da parábola, o pai manda ser alegre e fazer festa. A alegria fica ameaçada por causa do filho mais velho que se recusa a entrar. Ele pensa ter direito a uma alegria só com os seus amigos e não quer a alegria com todos da mesma família humana. Ele representa os que se consideram justos e observantes e acham que não precisam de conversão.
* Texto extraído do livro “O avesso é o lado certo”, de Carlos Mesters e Mercedes Lopes.
Fonte: CEBI Publicações
O Evangelho de Lucas prima pela sua ênfase sobre a misericórdia de Deus. Se fosse para classificar em uma só palavra o rosto de Deus em Lucas, poderíamos sem hesitação assinalar “misericórdia”. Talvez nenhum capítulo saliente esta convicção tanto como o capítulo 15. A parábola aqui relatada está entre as mais conhecidas da Bíblia - geralmente chamada “O Filho Pródigo”. Devemos ter um pouco de cuidado com esse título - pois já sugere que a figura central da parábola é o Filho Pródigo - não necessariamente a interpretação mais adequada!
Para sermos fiéis ao evangelho, devemos interpretá-lo dentro do seu esquema teológico e literário. Para isso temos que dar muita atenção aos primeiros três versículos. Pois nos dão o motivo pelo qual Jesus contou as três parábolas do capítulo, uma chave valiosa de interpretação. São como um gancho sobre qual se pendura o resto do capítulo: “Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar. Mas, os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo: “Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!” (vv. 1-2). E depois vem a chave de interpretação: “Então Jesus contou lhes esta parábola” ( v. 3).
Ou seja, Jesus contou as parábolas deste capítulo porque os chefes religiosos o criticavam por associar-se com gente de má fama! Então a chave de interpretação é a atitude dos fariseus e doutores, contestada pelo ensinamento de Jesus. É bom lembrar que os fariseus e doutores da Lei não eram pessoas má – eram pessoas dedicadas a Deus e à religião. Só que a visão deles era distorcida – para eles, Deus é totalmente Santo, e por isso, rejeita pecadores. Para Jesus, Deus é totalmente Santo, mas por isso corre atrás dos pecadores e os acolhe. O problema de fundo é a visão de Deus, e Jesus dirige as três parábolas do capítulo 15 aos chefes religiosos, para contestar e corrigir a visão de Deus deles.
Podemos ler este texto a partir do filho perdido, ou do Pai, ou do irmão mais velho. O título tradicional implica uma leitura a partir do “pródigo” (Pródigo significa “esbanjador”). Assim, ressaltaria o processo de conversão - sentir a situação perdida, decidir por pedir reconciliação, ser aceito pelo Pai, reativar os relacionamentos perdidos e estragados. Sem dúvida, uma leitura válida do texto como tal - mas diante dos primeiros dois versículos do capítulo, talvez não a interpretação primária que Lucas quisesse dar.
Outra possibilidade é de ler a história a partir do pai. Sem dúvida, também válido. Assim, o pai representa o próprio Deus, que em primeiro lugar, respeita a liberdade de decisão do filho, não impedindo que ele seja “sujeito” da sua vida; depois não espera a volta do “pródigo”, mas corre ao seu encontro, numa atitude não “digna” de um fidalgo oriental idoso, pois o pai está preocupado mais com a reconciliação do que com o prejuízo, e se alegra com a volta de quem estava morto! Mais uma vez, uma leitura mais do que aceitável!
Mas, o contexto do capítulo, à luz dos primeiros versículos, sugere uma leitura diferente - a partir do irmão mais velho. Pois Jesus conta a parábola para contestar a atitude dos fariseus e doutores da Lei, que o reprovam, porque ele acolhe os pecadores! Então, o filho mais velho é a imagem dos fariseus - “gente boa”, fiel na observância da Lei, mas, cujos corações estão fechados, ao ponto de serem incapazes de alegrar-se com a volta de um irmão perdido. Assim, embora observem minuciosamente todas as prescrições da Lei, a atitude deles contradiz claramente a atitude de Deus, demonstrada pela ação do pai misericordioso! Essa diferença de atitude se resume claramente nos termos que ambos usam, referindo-se ao filho mais moço. Enquanto o filho mais velho o chama de “este teu filho” (v. 30), o pai fala “este teu irmão” (v. 32).
Aqui Jesus quer questionar todos nós que somos “praticantes”. Somos capazes de reconhecer a nossa própria fraqueza e miséria espiritual, como fez o “pródigo”? Somos capazes de correr ao encontro de um irmão perdido, como fez o pai? Ou somos como o irmão mais velho - “gente boa”, gente de “observância”; mas, gente incapaz de ter um coração de misericórdia, de alegrar-nos com a volta ao estado original de irmão ou irmã perdido? Um texto muito apropriado para a nossa reflexão nesse “Ano da Misericórdia”. Uma parábola de consolo para todos, mas também de desafio.
Podemos até dizer que este capítulo de Lucas é o coração do Evangelho. Pois Deus, o Deus de Jesus e o de Lucas, é o Deus que não se alegra com a perda de quem quer que seja, mas com a volta do pecador. É o Deus que se encarnou em Jesus de Nazaré, para salvar quem estava perdido. É o Deus da misericórdia e do perdão. Como traduzimos esta visão de Deus em nossas vidas?
Todos os cobradores de impostos e pecadores se aproximavam de Jesus para o escutar.
Mas os fariseus e os doutores da Lei criticavam a Jesus, dizendo:
"Esse homem acolhe pecadores, e come com eles!"
Então Jesus contou-lhes esta parábola:
"Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: 'Pai, me dá a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu, e partiu para um lugar distante. E aí esbanjou tudo numa vida desenfreada. Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome nessa região, e ele começou a passar necessidade. Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para a roça, cuidar dos porcos. O rapaz queria matar a fome com a lavagem que os porcos comiam, mas nem isso lhe davam. Então, caindo em si, disse: 'Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome... Vou me levantar, e vou encontrar meu pai, e dizer a ele: - Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Então se levantou, e foi ao encontro do pai.
Quando ainda estava longe, o pai o avistou, e teve compaixão. Saiu correndo, o abraçou, e o cobriu de beijos. Então o filho disse: 'Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho’. Mas o pai disse aos empregados: 'Depressa, tragam a melhor túnica para vestir meu filho. E coloquem um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Peguem o novilho gordo e o matem. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’. E começaram a festa.
O filho mais velho estava na roça. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança. Então chamou um dos criados, e perguntou o que estava acontecendo. O criado respondeu: 'É seu irmão que voltou. E seu pai, porque o recuperou são e salvo, matou o novilho gordo’. Então, o irmão ficou com raiva, e não queria entrar.
O pai, saindo, insistia com ele. Mas ele respondeu ao pai: "Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua; e nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho gordo!’. Então o pai lhe disse: 'Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. Mas, era preciso festejar e nos alegrar, porque esse seu irmão estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado'’'.
Estamos hoje no 4° Domingo de Quaresma e a Igreja oferece-nos ler e meditar este texto conhecido como a Parábola do filho pródigo.
De diferentes formas Jesus tenta não somente comunicar a Boa Notícia que ele vem nos trazer, mas através das parábolas ele procura apresentar o Mistério do grande amor do Pai para cada um e cada um de nós ao longo de toda nossa vida. Como disse o Salmo 138: “Javé é compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor. Ele não vai disputar perpetuamente, e seu rancor não dura para sempre. Nunca nos trata conforme os nossos erros, nem nos devolve segundo as nossas culpas”. (Sal 138, 8-10)
Esta narrativa oferece-nos a possibilidade de aprofundar no coração do nosso Deus que é Amor.
Nas três pessoas que aparecem, um pai e dois filhos, apresentam-se três tipos de relacionamentos e comportamentos diferentes entre eles.
O filho menor escolhe sair da casa do pai, receber sua herança e perder tudo aquilo que vivia junto com o pai.
Qual é essa herança que este filho mais novo pede para seu pai?
Quando se faz referência a uma herança, num primeiro momento pensamos no dinheiro. Mas nesta parábola que Jesus hoje nos oferece, além do dinheiro, ficam abertas outras coisas que ele também recolhe e leva consigo porque considera que lhe pertencem. Por exemplo: roupas, ferramentas, animais, numa palavra: retira aquilo que acha que é seu.
Mas nunca poderá levar aquilo que é possível viver somente na sua casa, ao lado do Pai. Esse espírito que sopra nesse lar. A água viva que sacia a sede mais profunda. Ele conhece isso mas não pode levar consigo.
O filho mais velho vive nesse espaço, mas não sabe reconhecê-lo. Seu sentimento de raiva pela festa que o Pai oferece pelo retorno do irmão que tinha abandonado sua casa deixa transluzir que ele ainda não reconhece as possibilidades de vida e alegria que há na casa do Pai. Ele está junto com seu pai fisicamente porque ainda não reconhece seu Amor e por isso não pode desfrutá-lo.
O Pai, que apesar da dor que pode lhe provocar o pedido de seu filho, aceita, mas fica sempre no aguardo do seu retorno.
Da mesma forma atua com seu filho mais velho quando não quer entrar na festa. Recebe seus insultos mas continua na tentativa que ele aprenda a desfrutar da vida, fique alegre pelo “retorno do irmão que estava morto e agora está vivo”.
Suas entranhas de compaixão, de ternura e misericórdia que fazem o Pai correr ao encontro de seu filho.
E este é um tema central do evangelho de Lucas, a misericórdia; o Deus de Jesus é o Deus da misericórdia!
Contemplemos agora o que o Pai faz sem pronunciar nenhuma palavra, seus gestos e seu silêncio pleno de amor dizem tudo! O evangelista diz que o "abraçou, e o cobriu de beijos".
Detenhamo-nos na cena do pai e do filho unidos num só abraço. Segundo Álvaro Barreiro no seu livro A Parábola do Pai misericordioso, é o encontro de dois pobres, de dois mendigos do amor e da comunhão.
Neste encontro, o Pai que Jesus nos apresenta na sua parábola tem atitudes, comportamentos que nos revelam seus rasgos maternos e paternos. Lembro-me de uma pintura africana que representa este evangelho que desenha o pai e a mãe abraçando o filho que retorna. Sim, o Deus de Jesus, nosso Deus é Pai e Mãe.
Depois do abraço, o Pai urgido pelo amor continua agindo: "Tragam a melhor túnica. Coloquem um anel, peguem o novilho...", tudo é pouco para esta grande festa que celebra a nova vida do filho:" Porque este meu filho estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado".
Peçamos ao Pai neste tempo de Quaresma ter um coração mais semelhante ao Seu com nossos irmãos e irmãs que por diferentes motivos tiveram que sair da sua casa, e caminhar pela vida na procura de um espaço onde morar.
Oração
Antes de morrer assassinado junto com sua comunidade, o Pe. Christian de Chergé, monge trapense, escreve uma carta, que é um testemunho de comunhão e reconciliação. Que ela nos coloque em caminho à casa do Pai de todos/as.
Quando um A-Deus se vislumbra…
Se me sucedesse um dia – e esse dia poderia ser hoje-
Ser vítima do terrorismo que parece querer abarcar
Neste momento a todos os estrangeiros que vivem na Argélia,
Eu quisera que minha comunidade, minha Igreja, minha família,
Lembrem que minha vida foi entregue a Deus e a este país.
Todos têm que saber que por fim será libertada
A minha mais aguda curiosidade.
Então poderei, se Deus assim o quer,
Afundar meu olhar no do Pai
Para contemplar com Ele seus filos do Islã tal como Ele os vê…
Neste OBRIGADO, no que disse tudo,
De agora em diante, sobre minha vida
Eu os incluo, obviamente,
Amigos de ontem e de hoje, e vocês,
Oh! amigos daqui,
junto a minha mãe e a meu pai
meus irmãos e irmãs..
E a ti amigo do último instante,
Que não terás sabido o que fazias,
Sim, para ti também quero este OBRIGADO,
e este A – Deus, em cujo rosto te contemplo.
E que nos seja concedido reencontrar-nos,
Ladrões bem-aventurados
No paraíso, se assim Deus o quiser.
Padre nosso, teu e meu. Amem.
Referências
BARREIRO, Alvaro. A parábola do Pai Misericordioso. São Paulo:Loyola, 1998.
MESTERS, Carlos, LOPES Mercedes. O avesso é o lado certo. Cursos bíblicos sobre o Evangelho de Lucas. São Leopoldo/RS: CEBI e São Paulo/SP: Paulinas, 1998
SHULTZ, P.Adilson. O pai do Filho Pródigo. Disponível em: Acesso em: fev. 2013.
KONINGS, Johan. Espírito e Mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.
(Traduzido pelo Tradutor Google sem nossa correção. O original para conferência está logo após a tradução)
QUARTO DOMINGO DA QUARESMA
“A ESPERANÇA DO CORAÇÃO VEM DA MISERICÓRDIA DO PAI” 1a. leitura (Jos 4:19; 5:10-12):
A celebração da Páscoa marcou a saída do Egito; e também a celebração da Páscoa marca a chegada à terra prometida. Mas esta nova Páscoa, já na terra, começa algo diferente, novo. O transitório cessa, eeu maná, e surge o que é permanente: “os frutos do país”. Deus cumpriu, já não é apenas uma promessa, mas a realidade da terra, o dom da terra tornado realidade. Resta conquistá-lo, apoderar-se dele, o que não é um detalhe menor; mas você tem que comemore porque já foi dado por Deus ao seu povo.
Existem duas notas dominantes na história: a atmosfera festiva e um novo estilo de vida. Alegria e surpresa depois de um caminho por vezes demasiado complicado pelas misérias e resistências humanas, como o caminho pelo deserto.
2a. leitura (2Cor 5,17-21):
Cristo é confessado por Paulo claramente como o Reconciliador dos homens com Deus; enquanto o Apóstolo se apresenta como anunciador desta reconciliação. A sua missão é anunciar aos homens a obra reconciliadora de Cristo para que nela possam participar. A reconciliação com o Pai é como uma nova criação que dá origem a uma nova criatura, para um novo ser. Renascemos para a vida da graça. Não pode haver desculpas para não responder a este chamado porque o grande obstáculo, que são os nossos pecados, já foi removido pelo perdão de Deus alcançado através de Cristo.
A frase final é muito forte: “Ele fez com que aquele que não conhecia pecado fosse pecado por nós". Ou seja, o pecado é o que separa o homem de Deus. Jesus entrou no pecado do homem, tornou-se pecado, para a partir daí nos reconciliar com o Pai. A iniciativa de Deus é incrível. Na verdade, "O normal é que quando há um ultraje, uma ofensa, é quem o causou quem deve dar o primeiro passo para a reconciliação. Mas na história da salvação foi Deus, que se ofendeu com as nossas faltas, quem deu os primeiros passos – e foram passos enormes –"1.
Evangelho (Lc 15,1-3.11-32):
Em relação à parábola do filho pródigo, é provável que, depois de tanto ouvi-la, ela tenha perdido parte da força da sua mensagem para nós, por isso é importante redescobrir o seu significado original e depois dar-lhe uma correta aplicação à nossa vida cristã.
As três parábolas do capítulo 15 de São Lucas referiam-se originalmente a uma situação particular porque, como nos diz a introdução do capítulo: “cobradores de impostos e pecadores" com Eles se aproximaram de Jesus para ouvi-lo; o que gerou duras críticas por parte dos fariseus e doutores da Lei que, escandalizados, disseram: “receber pecadores e comer com eles”(cf. Lc 15,2).
Como observa L. Rivas, deve-se levar em conta que “Para os orientais, partilhar a mesa não era apenas um ato de hospitalidade, mas também criava parentesco entre os participantes. É por isso que os professores e os piedosos em geral evitavam o contacto com os pecadores e nunca os admitiam à sua mesa.”2.
Depois, com a intenção de responder aos fariseus e aos escribas que o criticavam e murmuravam, Jesus conta três parábolas. Os dois primeiros, a ovelha perdida e a moeda perdida, no final recebem uma clara transposição para a ordem da fé, insistindo na alegria de Deus (o céu; os anjos) pela conversão dos pecadores (cf. Lc 15,7.10).
A parábola do filho pródigo, por sua vez, permanece sem aplicação explícita, mas, pelo contexto, é fácil deduzir que o pai representa Deus; o filho mais novo dos pecadores; e o filho mais velho dos fariseus e escribas que se consideravam justos. A leitura litúrgica escolheu apenas esta última das três parábolas e nela nos concentraremos.
A interpretação das parábolas como uma história dinâmica convida-nos a considerar a história global mais do que os detalhes e, então, descobrimos que O centro ou fio condutor desta parábola é a relação do Pai com seus dois filhos. Por esta razão, talvez fosse melhor chamá-la de “parábola dos dois filhos”. ou do “Pai misericordioso”, principal protagonista da história.
No início a parábola nos descreve em detalhes o itinerário do filho mais novo desde o momento em que sai da casa do pai até o retorno e o reencontro com o Pai. O fato de pedir a herança em vida do pai já constitui uma ofensa grave para o pai. Soma-se a isso, como agravante, o fato de ela decidir abandoná-lo, saindo da casa da família. Sobre isso diz B. Malina3: “Ao solicitar não só a sua herança, mas o direito de dispor dela durante a vida do pai, o jovem rompe violentamente com o pai, com o irmão e com a comunidade em que vivem. A hostilidade se manifestaria quando ele retornasse, especialmente quando sua família soubesse que ele havia dissipado sua parte na propriedade familiar com não-israelitas. As famílias da cidade teriam medo de que os seus filhos tivessem tais ideias..”
Depois a história nos conta o declínio progressivo do filho mais novo, que, desperdiçando toda a herança recebida, chega ao fundo do poço porque tem fome e precisa cuidar de porcos, o que é muito humilhante para um judeu, que os considera animais impuros. A opinião de F. Bovon4 a coisa é “o erro do filho mais novo reside menos no seu pedido ou na sua partida do que no desperdício da herança paterna". E Na verdade, é o que o irmão mais velho mais lhe censura por ter gasto os bens do pai com prostitutas (cf. 15,30).
Em particular, destaca-se o ponto de ruptura que ocorre quando o filho mais novo toma consciência da sua atual situação miserável em comparação com a de viver na casa do pai. Então “reconsiderar” (“entrou em si mesmo” - mas ele voltou a si -, o texto grego diz literalmente em 15,17); Ele se arrepende, reconhece seu pecado diante de si e decide voltar. Como observa F. Bovon5 em relação à autoconfissão do filho mais novo em 15,18-19: “O filho não quer falar da sua situação jurídica: sabe muito bem que não tem direito filial aos bens do pai. Ele declara que perdeu a honra, a identidade e até o nome do filho.”.
Segue-se um momento de surpresa e esse é o centro da parábola: O pai o vê, fica emocionado, corre ao seu encontro, o abraça e o beija. O verbo grego que expressa os sentimentos do pai (Estou arrasado) indica um choque visceral, uma repercussão nas 'entranhas'. Lucas utiliza novamente este verbo para se referir aos sentimentos de Jesus para com uma mãe viúva que perdeu o seu único filho (cf. 7,13), e aos do bom samaritano para com o homem ferido (cf. 10,33).
As ordens do pai de dar-lhe o melhor vestido, colocar-lhe o anel (sinal de poder) e os sapatos (cf. 15,22) indicam claramente a intenção do pai de restaurá-lo plenamente à condição de filho e de reintegrá-lo na família como se nada tivesse acontecido.
Neste ponto está claro para nós que A parábola procura revelar a predisposição de Deus para com os pecadores e, desta forma, justificar a atitude de Jesus para com eles, uma vez que Ele nada mais faz do que “encarnar” os sentimentos do Pai..
Não podemos esquecer que a parábola também nos apresenta um anti-exemplo porque tem alguém que fica muito bravo com a volta do filho mais novo: o filho mais velho. E notemos que o pai sai para procurá-lo e implora-lhe que se junte à festa; Mas ele se recusa a fazê-lo e suas palavras revelam o coração de um servo, não de um filho ou irmão. Na verdade, em sua resposta ele nunca o chama "pai"; e evite chamá-lo de “meu irmão” àquele que voltou e se refere a ele como “aquele teu filho” (15:30). Portanto, o filho mais velho representa os fariseus e os mestres da Lei que criticam Jesus porque “receber pecadores e comer com eles”(cf. Lc 15,2). Notemos que a parábola termina com um final aberto porque não é especificado se o irmão mais velho entrou ou não no banquete. Desta forma há na história um apelo à conversão, à mudança de mentalidade.
As palavras finais do pai reforçam a mensagem da parábola: “É certo que haja festa e alegria, porque seu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado”(15,32). Aqui o uso dos termos “morte e perdição”, “vida e encontro” têm um significado religioso claro e Referem-se à reconciliação com Deus e ligam esta parábola às duas anteriores.
Algumas reflexões
No domingo passado ouvimos o O chamado urgente de Jesus à conversão, para voltar para Deus. Hoje o evangelho nos revela o que encontramos quando voltamos para Deus. A este respeito, diz H.U. de Baltasar: “A parábola do filho pródigo é talvez a mais emocionante e sublime de todas as parábolas de Jesus no evangelho. O destino e a essência dos dois filhos servem apenas para revelar o coração do pai. Nunca Jesus descreveu o Pai celestial de uma forma mais vívida, clara e impressionante do que aqui”6. E considerando a segunda leitura e o contexto litúrgico, vemos claramente que o tema da reconciliação é o dominante E, por isso, talvez o melhor seja fazer uma boa catequese sobre a reconciliação, incluindo a dimensão sacramental, sem perder de vista a única perspectiva correta: o amor misericordioso do Pai, no qual devemos acreditar e que nos permite esperar.
Sim, porque nesta perspectiva O pecado aparece sobretudo como perda do dom da filiação, como incapacidade de viver como filhos de Deus.. É o caso do filho mais novo que pede a sua parte na herança e vai embora. De fato, "Pecado é querer realizar-se seguindo a própria vontade, longe do pai. Este desejo de realizar-se com a posse da herança, este desejo de afirmar a própria vontade sobre o que foi criado, corresponde ao que a serpente sugeriu ao ouvido do primeiro homem: sereis como Deus (cf. Gn 3, 5).", diz M. Rupnik7 com sucesso. A consequência desse desejo desordenado de ser “senhor” de si mesmo é acabar sendo “escravo”, como ironicamente sugere a parábola ao se referir a como termina a vida libertina do filho mais novo ao sair da casa do pai.
Daqui surge também o arrependimento autêntico ou a dor profunda por não ter valorizado o dom do amor do Pai, por tê-lo desperdiçado. O vazio de bens e de futuro leva o filho mais novo a entrar em si mesmo, a reconsiderar o que fez. Sem a relação com Deus Pai, o homem fica mergulhado na miséria da condição humana, sem um verdadeiro lar ou lar.
Agora, é importante insistir que a misericórdia do Pai é mais forte que o nosso pecado e, por isso mesmo, pode nos devolver à condição de filhos. Quando o filho mais novo reconsidera, ele pensa no pai, em como era bom em casa. Ele não fica pensando amargamente em seus erros e fracassos. De fato, Uma consciência formada na justiça estrita pode ter sérias dificuldades em aceitar o perdão do Pai porque o considera algo imerecido, que não corresponde.. E isto é verdade a partir da lógica das relações humanas, mas não a partir da lógica do amor de Deus. Tal consciência muito possivelmente permanece encerrada na sua culpa à espera do castigo e, desta forma, resiste a lançar-se nos braços do Pai. Dada esta atitude, A mensagem evangélica recorda-nos que a misericórdia triunfa sobre o julgamento e que o perdão de Deus é um grande dom que deve ser acolhido e valorizado. É mais importante atender ao desejo e à alegria do Pai pelo retorno do filho do que ao remorso do filho por ter falhado com o Pai dessa forma. Vemos isso no final da cena em que o pai com seu abraço abafa a confissão do filho arrependido; Ele restaura a dignidade filial simbolizada pelas roupas e ordens de celebração.
É muito importante meditar sobre isto porque às vezes projetamos em Deus imagens que desfiguram a sua verdadeira face. Como o pai da parábola recebeu o filho pródigo? Ele bateu nele, repreendeu, cobrou dele, disse: eu te avisei, mas você não me ouviu; você não me ouviu; Agora eu aceito as consequências...
Jesus descreve assim: “Ele ainda estava longe quando seu pai o viu e, profundamente emocionado, correu ao seu encontro, abraçou-o e beijou-o com ternura.” (15,20). O mais importante para o Pai foi que o seu filho, que ele pensava estar morto, regressou vivo. Este é o amor misericordioso de Deus Pai, é assim que ele nos recebe e nos trata quando voltamos para Ele sinceramente arrependidos por termos nos afastado. De fato, O Pai é fiel à sua paternidade, sendo fiel ao seu amor pelo filho rebelde.; um amor que se transforma em misericórdia quando ultrapassa o padrão preciso de justiça.
A este respeito, o Papa Francisco disse no Angelus de 27 de março de 2022: “Vejamos se também temos em nossos corações as duas necessidades do Pai: comemorar uma festa e alegrar. Em primeiro lugar, comemorar uma festa, isto é, expressar a nossa proximidade a quem se arrepende ou está a caminho, a quem está em crise ou distante. Por que isso tem que ser feito assim? Porque isso ajudará a superar o medo e o desânimo, que podem advir da lembrança dos próprios pecados. Quem cometeu um erro muitas vezes sente-se repreendido pelo próprio coração; Distância, indiferença e palavras ofensivas não ajudam. Portanto, segundo o Padre, é necessário oferecer-lhe um acolhimento caloroso, que o encoraje a seguir em frente [...] E então, segundo o Padre, é necessário alegrar. Quem tem o coração sintonizado com Deus, ao ver o arrependimento de uma pessoa, por mais graves que tenham sido seus erros, se alegra. Não se cala diante dos erros, não aponta o dedo ao mal, mas alegra-se com o bem, porque o bem do outro também é meu! E sabemos ver outros assim?
Me permito contar uma história, inventada, mas que mostra o coração de pai. Tem uma peça pop, de três ou quatro anos atrás, sobre a trama do filho pródigo, com a história toda. E no final, quando o filho decide voltar para a casa do pai, ele conversa com um amigo e diz: “Sabe, tenho medo que meu pai me rejeite, que ele não me perdoe”. E o amigo o aconselha: “Envie uma carta ao seu pai e diga-lhe: ‘Pai, sinto muito, quero voltar para casa, mas não tenho certeza se você será feliz. Se quiser me receber, por favor, coloque um lenço branco na janela’”. E quando ele estava perto de casa, na última curva da estrada, sua casa estava na sua frente. E o que ele viu? Lenço não: estava cheio de lenços brancos, as janelas, tudo! O Pai nos recebe assim, com plenitude, com alegria. Este é o nosso Pai!”
Por sua vez, o filho mais velho contentou-se com uma pertença meramente externa à casa paterna, sem estar em comunhão com os sentimentos paternos. É por isso que ele não tem compaixão pelo irmão e assume o papel de juiz. Devemos reconhecer a nossa filiação como dom gratuito do amor paterno e alegrar-nos com ela. Então poderemos aceitar a gratuidade do perdão divino ao pecador arrependido. E isto é fundamental porque não podemos ser filhos se não aceitarmos ser irmãos de todos os outros filhos do pai. W. Marchel chama isso de lei fundamental da revelação do Novo Testamento: “Ninguém pode ter Deus como pai se não tiver o próximo como irmão.”8. Portanto, a atitude do filho mais velho convida-nos a meditar sobre a possibilidade de o nosso coração ter endurecido, de já não nos sentirmos filhos perdoados e amados do Pai, embora ainda permaneçamos em casa, na Igreja.
Finalmente, neste ano jubilar em que nos descobrimos peregrinos da Esperança e o Evangelho nos leva à fonte e ao fundamento da “a esperança do coração que vem da misericórdia do Pai” (Abrir A esperança nos confunde n. 23). Deixe-nos testemunhar a grande mestra da confiança e da esperança, Santa Teresinha do Menino Jesus: “O que agrada a Deus na minha pobre alma... é ver-me amar a minha pequenez e a minha pobreza, é a esperança cega que tenho na sua misericórdia... Este é o meu único tesouro. Querida madrinha, por que esse tesouro também não deveria ser seu...?” (carta 197 à irmã e madrinha, Irmã María del Sagrado Corazón).
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Os dois em mim...
Senhor: Perdoe-me
Eu olho dentro de mim para o filho perdido
Ele se afastou da rotina do Amor
Desperdiçar o que foi recebido e salvo
Ele desprezava o lar, a família, os irmãos.
Ele chafurdou no mais baixo
E mortalmente ferido ele caiu derrotado.
Sozinho e longe tomou consciência da sua pobreza
E na miséria ele chorou amargamente
Porque ele repudiou sua herança!
Arrastado olhou de baixo
Eles o observaram e passaram,
Um cachorro doente recebeu mais cuidados.
E ele sentiu falta de casa, abrigo,
A mesa partilhada, o Altar…
Senhor: Perdoe-me
Eu olho dentro de mim para o filho perdido
Endureceu seu coração, o tempo testemunhou
Serviu você todos os dias em reprovação
A amargura tomou conta dele, ele ficou morno...
Ele preencheu suas horas com ostentação
Ele estava cheio de preconceitos e esqueceu
Para pedir desculpas arrependido.
Cego para antigas paixões e medos
Silencioso silencioso com aborrecimento.
Os dois estão em mim,
Eles esperam o momento certo
Para refazer o caminho e retornar
Para os braços daqueles que tanto sofreram
Para mim, seu pequeno, seu filho.
Comemorar é para todos - disse ele
E eu acreditei nele, como a Palavra de Deus.
Ele é o Cristo, e eu: indigno sou.
Aceito o convite para sua festa
Eu me visto e recebo o seu Espírito. Amém
[1] Card. A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Madrid 2009) 89.
[2] La obra de Lucas I. El Evangelio, Agape, Buenos Aires, 2012, 152.
[3] Os evangelhos e a cultura mediterrânea do século I. Comentário das Ciências Sociais (Palavra Divina; Estella 1996) 282. De acordo com J. A. Fitzmyer, O evangelho de Lucas. Vol. III (Cristiandad; Madrid 1986) 678, neste caso seria a doação em vida pelo pai da percentagem (1/3 por ser o filho mais novo) da herança que lhe correspondia. Segundo a lei da época, o usufruto continuava a pertencer ao pai; mas o herdeiro recebia o título de propriedade e podia vendê-lo. Se o fizesse, o filho perdia todos os direitos à sua herança e o comprador só poderia possuir o usufruto após a morte do pai. Entende-se que, nestas condições, a herança foi subvendida.
[4] El evangelio según san Lucas III, Sígueme, Salamanca, 2004, 65.
[5] El evangelio según san Lucas III, Sígueme, Salamanca, 2004, 68.
[6] H. U von Balthasar, Luz de la palabra. Comentario a las lecturas dominicales, Encuentro, Madrid, 1998, 235-236.
[7] Le abrazó y le besó (PPC; Madrid 1999) 29.
[8] M. I. Rupnik, Le abrazó y le besó (PPC; Madrid 1999) 15-17
[9] Marchel, W., Abba, Padre. El Mensaje del Padre en el Nuevo Testamento (Barcelona 1967) 88.
CUARTO DOMINGO DE CUARESMA
“LA ESPERANZA DEL CORAZÓN PROVIENE DE LA MISERICORDIA DEL PADRE” 1a. lectura (Jos 4,19; 5,10-12):
La celebración de la Pascua marcó la salida de Egipto; y también la celebración de la Pascua marca la llegada a la tierra prometida. Pero esta Pascua nueva, ya en la tierra, da comienzo a algo distinto, nuevo. Cesa lo transitorio, el maná, y surge lo permanente: “los frutos del país”. Dios ha cumplido, ya no se trata sólo de una promesa, sino de la realidad de la tierra, del don de la tierra hecho realidad. Falta conquistarla, tomar posesión de ella, que no es un detalle menor; pero hay que
celebrar porque ya ha sido dada por Dios a su pueblo.
Hay dos notas dominantes en el relato: el clima festivo y un nuevo estilo de vida. Alegría y sorpresa después de un camino a veces demasiado complicado por las miserias y resistencias humanas, como fue el camino por el desierto.
2a. lectura (2Cor 5,17-21):
Cristo es confesado por Pablo claramente como el Reconciliador de los hombres con Dios; mientras que el Apóstol se presenta a sí mismo como el anunciador de esta reconciliación. Su misión es proclamar a los hombres la obra reconciliadora de Cristo para que puedan tener parte en ella. La reconciliación con el Padre es como una nueva creación que da a luz una nueva criatura, a un nuevo ser. Renacemos a la vida de la gracia. No puede haber excusas para no responder a este llamado porque el gran obstáculo, que son nuestros pecados, ya ha sido removido por el perdón de Dios alcanzado por Cristo.
La frase final es muy fuerte: "A quien no conoció pecado, le hizo pecado por nosotros". Es decir, el pecado es lo que separa al hombre de Dios. Jesús entró en el pecado del hombre, se hizo pecado, para desde allí reconciliarnos con el Padre. La iniciativa de Dios es asombrosa. En efecto, "lo normal es que cuando existe un ultraje, una ofensa, sea la persona que lo causa la que deba dar el primer paso para la reconciliación. Sin embargo, en la historia de la salvación ha sido Dios, que era el ofendido por nuestras culpas, el que ha dado los primeros pasos – y eran unos pasos enormes –"1.
Evangelio (Lc 15,1-3.11-32):
En relación a la parábola del hijo pródigo es probable que, de tanto escucharla, haya perdido para nosotros parte de la fuerza de su mensaje, por ello es importante redescubrir su sentido original para luego darle una correcta aplicación a nuestra vida cristiana.
Las tres parábolas del capítulo 15 de San Lucas se referían originalmente a una situación particular pues como nos dice la introducción del capítulo: “recaudadores de impuestos y pecadores” se acercaban a Jesús para escucharlo; lo cual genera una dura crítica por parte de los fariseos y doctores de la Ley que escandalizados decían: “recibe a los pecadores y come con ellos” (cf. Lc 15,2).
Como bien nota L. Rivas, hay que tener en cuenta que “para los orientales, compartir la mesa no sólo era un acto de hospitalidad sino que también creaba parentesco entre los que participaban. Por eso los maestros y los piadosos en general evitaban el contacto con los pecadores y jamás los admitían en su mesa”2.
Entonces, con la intención de responder a los fariseos y escribas que lo criticaban y murmuraban, Jesús narra tres parábolas. Las dos primeras, la oveja perdida y la moneda extraviada,
1 Card. A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Madrid 2009) 89. 2 La obra de Lucas I. El Evangelio, Agape, Buenos Aires, 2012, 152.
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reciben al final una clara transposición al orden de la fe insistiendo en la alegría de Dios (el cielo; los ángeles) por la conversión de los pecadores (cf. Lc 15,7.10).
La parábola del hijo pródigo, por su parte, permanece sin aplicación explícita, pero, por el contexto, es fácil deducir que el padre representa a Dios; el hijo menor a los pecadores; y el hijo mayor a los fariseos y escribas que se creían justos. La lectura litúrgica ha optado sólo por esta última de las tres parábolas y a ella nos abocaremos.
La interpretación de las parábolas en cuanto relato dinámico invita a considerar la historia global más que los detalles y, entonces, descubrimos que el centro o hilo conductor de esta parábola es la relación del Padre con sus dos hijos. Por esto tal vez sería mejor llamarla "parábola de los dos hijos" o del “Padre misericordioso”, protagonista principal del relato.
Al inicio la parábola nos describe en detalle el itinerario del hijo menor desde que se va de la casa paterna hasta que regresa y se reencuentra con su Padre. El hecho de pedir la herencia en vida de su padre es ya una ofensa grave para el padre. A esto se suma, como agravante, que decide abandonarlo, dejar la casa familiar. Al respecto dice B. Malina3: “Al solicitar no sólo su herencia, sino el derecho a disponer de ella en vida de su padre, el joven rompe violentamente con su padre, su hermano y la comunidad en la que viven. La hostilidad sería manifiesta tras su regreso, especialmente cuando supiese su familia que había disipado su parte de la propiedad familiar con no-israelitas. Las familias del pueblo tendrían miedo de que a sus hijos jóvenes se les ocurrieran semejantes ideas.”
Luego el relato nos narra la progresiva decadencia del hijo menor, quien dilapidando toda la herencia recibida llega hasta tocar fondo pues pasa hambre y tiene que cuidar cerdos, lo cual es de lo más humillante para un judío, que los considera animales impuros. La opinión de F. Bovon4 es que “el error del hijo menor radica menos en su petición o su partida que en la dilapidación de la herencia paterna”. Y de hecho es lo que más le recrimina el hermano mayor, el haberse gastado los bienes del padre con prostitutas (cf. 15,30).
En particular se resalta el punto de quiebre que se da cuando el hijo menor toma conciencia de su miserable situación actual en comparación con la de vivir en la casa de su padre. Entonces “recapacita” (“entró en sí mismo” - εἰς ἑαυτὸν δὲ ἐλθὼν -, dice literalmente el texto griego en 15,17); se arrepiente, reconoce ante sí mismo su pecado y decide volver. Como bien nota F. Bovon5 en relación a la auto confesión del hijo menor en 15,18-19: “el hijo no quiere hablar de su situación jurídica: sabe muy que no tiene derecho filial alguno a los bienes de su padre. Declara que ha perdido su honor, su identidad, y hasta su nombre de hijo”.
Sigue un momento de sorpresa y que es el centro de la parábola: el padre lo ve, se conmueve, corre a su encuentro, lo abraza y lo besa. El verbo griego que expresa los sentimientos del padre (σπλαγχνίζομαι) indica una conmoción visceral, una repercusión en las 'entrañas'. Este verbo Lucas lo vuelve a utilizar para referirse a los sentimientos de Jesús ante una madre viuda que ha perdido a su hijo único (cf. 7,13), y a los del buen samaritano ante el hombre herido (cf. 10,33).
Las órdenes del padre en relación a darle el mejor vestido, a ponerle el anillo (signo de poder) y el calzado (cf. 15,22) indican claramente la intención del padre de devolverle plenamente la condición de hijo y de reintegrarlo a la familia como si nada hubiese pasado.
En este momento nos queda claro que la parábola busca revelar la predisposición de Dios para con los pecadores y, de este modo, justificar la actitud de Jesús para con ellos pues no hace más que 'encarnar' los sentimientos del Padre.
3Los evangelios y la cultura mediterránea del siglo I. Comentario desde las Ciencias Sociales (Verbo Divino; Estella 1996) 282. Según J. A. Fitzmyer, El evangelio de Lucas. Vol. III (Cristiandad; Madrid 1986) 678, en este caso se trataría de la donación en vida por parte del padre del porcentaje (1/3 por ser hijo menor) de la herencia que le correspondía. Según el derecho de la época el usufructo seguía siendo del padre; pero el heredero recibía el título de propiedad y podía venderlo. Si lo hacía, el hijo perdía todo derecho sobre su herencia y el comprador sólo podía poseer el usufructo a la muerte del padre. Se entiende que, bajo estas condiciones, se malvendía la herencia.
4 El evangelio según san Lucas III, Sígueme, Salamanca, 2004, 65.
5 El evangelio según san Lucas III, Sígueme, Salamanca, 2004, 68.
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No podemos olvidar que la parábola nos presenta también un anti-ejemplo porque hay alguien que se enoja mucho por el regreso del hijo menor: el hijo mayor. Y notemos que el padre sale a buscarlo y a suplicarle que se una a la fiesta; pero él se niega a hacerlo y sus palabras revelan un corazón de siervo, no de hijo ni de hermano. De hecho, en su respuesta no lo llama nunca “padre”; y evita llamarlo “mi hermano” al que ha regresado y se refiere a él como «ese hijo tuyo» (15,30). Por tanto, el hijo mayor representa a los fariseos y a los maestros de la Ley que critican a Jesús porque “recibe a los pecadores y come con ellos” (cf. Lc 15,2). Notemos que la parábola termina con un final abierto porque no se precisa si el hermano mayor entró o no al banquete. De este modo hay en el relato un llamado a la conversión, a cambiar de mentalidad.
Las palabras finales del padre refuerzan el mensaje de la parábola: “Es justo que haya fiesta y alegría, porque tu hermano estaba muerto y ha vuelto a la vida, estaba perdido y ha sido encontrado” (15,32). Aquí el uso de los términos “muerte y perdición”, “vida y encuentro” tienen un claro sentido religioso y hacen referencia a la reconciliación con Dios y vinculan esta parábola con las dos anteriores.
Algunas reflexiones
El domingo pasado escuchamos la llamada urgente de Jesús a la conversión, a volver a Dios. Hoy el evangelio nos revela con qué nos encontramos al volver a Dios. Al respecto dice H. U. von Balthasar: “La parábola del hijo pródigo es quizá la más emotiva y sublime de todas las parábolas de Jesús en el evangelio. El destino y la esencia de los dos hijos sirve únicamente para revelar el corazón del padre. Nunca describió Jesús al Padre celeste de una manera más viva, clara e impresionante que aquí”6. Y considerando la segunda lectura y el contexto litúrgico vemos con claridad que el tema de la reconciliación es el dominante y, por esto, tal vez lo mejor sea hacer una buena catequesis sobre la reconciliación, incluyendo la dimensión sacramental, sin perder de vista la única perspectiva correcta: el amor misericordioso del Padre en el que hay que creer y que nos permite esperar.
Sí, porque desde esta perspectiva el pecado aparece ante todo como la pérdida del don de la filiación, un dejar de vivir como hijos de Dios. Es el caso del hijo menor que pide su parte de la herencia y se marcha lejos. En efecto, "el pecado es querer realizarse siguiendo la voluntad propia, lejos del padre. Este deseo de realizarse con la posesión del patrimonio, este afán de afirmar la propia voluntad sobre lo creado corresponde a lo que la serpiente sugería al oído al primer hombre: seréis como Dios (cfr. Gn 3,5)", dice M. Rupnik7 con acierto. La consecuencia de este desordenado deseo de ser "señor" de sí mismo es terminar siendo "esclavo", como sugiere con ironía la parábola al referirse a cómo termina la vida libertina del hijo menor luego de marcharse de la casa de su padre.
Desde aquí brota también el auténtico arrepentimiento o dolor profundo por no haber valorado el don del amor del Padre, por haberlo despilfarrado. El vacío de bienes y de futuro lleva al hijo menor a entrar en sí mismo, a recapacitar en lo que hizo. Sin la relación con Dios Padre el hombre queda sumido en la miseria de la condición humana, sin casa ni hogar verdadero.
Ahora bien, importa insistir en que la misericordia del Padre es más fuerte que nuestro pecado y, por esto mismo, nos puede devolver la condición de hijos. El hijo menor al recapacitar piensa en el padre, en lo bien que se estaba en casa. No se repliega amargamente sobre sus errores y sus fracasos. En efecto, una conciencia formada en la estricta justicia puede tener serias dificultades para aceptar el perdón del Padre pues lo considera como algo inmerecido, que no corresponde. Y esto es verdad desde la lógica de las relaciones humanas, pero no desde la lógica del amor de Dios. Una conciencia tal muy posiblemente se quede encerrada en su culpa esperando el castigo y, de este modo, se resista a arrojarse en los brazos del Padre. Ante esta actitud, el mensaje evangélico nos recuerda que la misericordia triunfa sobre el juicio y que el perdón de Dios es un gran regalo que se debe aceptar y valorar.
6 H. U von Balthasar, Luz de la palabra. Comentario a las lecturas dominicales, Encuentro, Madrid, 1998, 235-236. 7 Le abrazó y le besó (PPC; Madrid 1999) 29.
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Importa más atender al deseo y a la alegría del Padre por la vuelta del hijo, que al remordimiento del hijo por haberle fallado al Padre de tal modo. Esto lo vemos en el final de la escena donde el padre con su abrazo ahoga la confesión del hijo arrepentido; le devuelve la dignidad filial simbolizada por las vestiduras y ordena festejar.
Es muy importante meditar sobre esto porque a veces proyectamos imágenes sobre Dios que desfiguran su verdadero rostro. ¿Cómo recibió el padre de la parábola al hijo pródigo? ¿Acaso le pegó, lo regañó, le pasó factura, le dijo: te lo advertí, pero no me hiciste caso; no me escuchaste; ahora asumí las consecuencias…
Jesús lo describe así: “Todavía estaba lejos cuando su padre lo vio y, conmovido profundamente, salió corriendo a su encuentro, lo abrazó y lo besó con ternura” (15,20). Lo más importante para el Padre fue que su hijo, a quien había creído muerto, ha regresado con vida. Así es el amor misericordioso del Padre Dios, así nos recibe y nos trata cuando volvemos a Él arrepentidos sinceramente por habernos alejado. En efecto, el Padre es fiel a su paternidad siendo fiel al amor por su hijo rebelde; un amor que se transforma en misericordia cuando supera la norma precisa de la justicia.
Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 27 de marzo de 2022: “Veamos si también nosotros tenemos en el corazón las dos necesidades del Padre: celebrar una fiesta y alegrarse. En primer lugar, celebrar una fiesta, es decir manifestar nuestra cercanía a quien se arrepiente o está en camino, a quien está en crisis o alejado. ¿Por qué hay que hacer así? Porque esto ayudará a superar el miedo y el desánimo, que pueden venir al recordar los propios pecados. Quien se ha equivocado, a menudo se siente reprendido por su propio corazón; distancia, indiferencia y palabras hirientes no ayudan. Por eso, según el Padre, es necesario ofrecerle una acogida cálida, que aliente para ir adelante […] Y después, según el Padre, es necesario alegrarse. Quien tiene un corazón sintonizado con Dios, cuando ve el arrepentimiento de una persona, por graves que hayan sido sus errores, se alegra. No se queda quieto sobre los errores, no señala con el dedo el mal, sino que se alegra por el bien, ¡porque el bien del otro es también el mío! Y nosotros, ¿sabemos ver a los otros así?
Me permito contar una historia, inventada, pero que hace ver el corazón del padre. Está esta obra pop, hace tres o cuatro años, sobre el argumento del hijo pródigo, con toda la historia. Y al final, cuando el hijo decide volver a casa del padre, habla con un amigo y le dice: “Sabes, tengo miedo de que mi padre me rechace, que no me perdone”. Y el amigo le aconseja: “Manda una carta a tu padre y dile: ‘Padre, estoy arrepentido, quiero volver a casa, pero no estoy seguro si tú estarás contento. Si quieres recibirme, por favor, pon un pañuelo blanco en la ventana’”. Y después empezó el camino. Y cuando estaba cerca de casa, en la última curva del camino, tuvo de frente su casa. ¿Y qué vio? No un pañuelo: estaba llena de pañuelos blancos, las ventanas, ¡todo! El Padre nos recibe así, con plenitud, con alegría. ¡Este es nuestro Padre!”
Por su parte, el hijo mayor se había conformado con una pertenencia meramente externa a la casa paterna sin estar en comunión con los sentimientos del padre. Por eso no tiene compasión de su hermano y asume el rol de juez. Hay que reconocer nuestra filiación como un don gratuito del amor paterno, y gozarse en ello. Entonces podremos aceptar la gratuidad del perdón Divino al pecador arrepentido. Y esto es clave porque no podemos ser hijos si no aceptamos ser hermanos de todos los otros hijos del padre. W. Marchel llama a esto la ley fundamental de la revelación neotestamentaria: “Nadie puede tener a Dios por padre, si no tiene al prójimo por hermano”8. Por tanto, la actitud del hijo mayor nos invita a meditar en la posibilidad de que nuestro corazón se haya endurecido, que no nos sintamos ya hijos perdonados y amados del Padre, aunque permanezcamos todavía en casa, en la Iglesia.
Por último, en este año jubilar en el cual nos descubrimos como peregrinos de Esperanza, y el evangelio nos lleva a la fuente y fundamento de “la esperanza del corazón que proviene de la misericordia del Padre” (Bula Spes nos confundit n. 23). Dejemos que la gran maestra de la confianza y la esperanza, Santa Teresita del Niño Jesús, nos lo testimonie: “lo que le agrada a Dios en mi pobre alma… es verme amar mi pequeñez y mi pobreza, es la esperanza ciega que tengo en su misericordia... Este es mi único tesoro. Madrina querida, ¿por qué este tesoro no va a ser también el tuyo...?” (carta 197 a su hermana y madrina Sor María del Sagrado Corazón).
8 Abba, Padre. El Mensaje del Padre en el Nuevo Testamento (Barcelona 1967) 88.
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PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Los dos en mí…
Señor: Perdóname
Miro dentro mío al hijo perdido
Se fue lejos de la rutina del Amor
A derrochar lo recibido y guardado
Despreció el hogar, la familia, los hermanos.
Se revolcó en lo más bajo
Y herido de muerte cayó derrotado.
Solo y lejos tomó conciencia de su pobreza
Y en la indigencia lloró amargamente
¡Porque repudió su Herencia!
Arrastrado miró desde abajo
Lo observaban y pasaban de largo,
Un perro enfermo recibió más cuidados.
Y extrañó el hogar, el abrigo,
La mesa compartida, el Altar…
Señor: Perdóname
Miro dentro mío al hijo perdido
Endureció su corazón, el tiempo fue testigo
Te sirvió cada día en el reproche
Lo ganó la amargura, se volvió tibio…
Llenó sus horas de jactancia
Se llenó de prejuicios y se olvidó
De pedir perdón arrepentido.
Ciego de pasiones y temores antiguos
Enfermo silencioso de fastidio.
Ellos dos están en mí,
Aguardan el momento propicio
Para desandar el camino y regresar
A los brazos de quién tanto ha sufrido
Por mí, su pequeño, su hijo.
Celebrar es de todos - dijo
Y le creí, como Palabra de Dios.
Él es el Cristo, y yo: indigno soy.
Acepto la invitación a tu fiesta
Me visto de gala y recibo tu Espíritu. Amén