Parábola do Bom Samaritano

Perguntas e Respostas

"E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, o que é preciso que eu faça para possuir a vida eterna? Jesus lhes respondeu: Que está escrito na lei? Que ledes nela? Ele lhe respondeu: Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma, de todas as vossas forças e de todo o vosso espírito, e vosso próximo como a vós mesmos. Jesus lhe disse: Respondeste muito bem; fazei isso e viverás.

Mas esse homem, querendo parecer que era justo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E Jesus tomando a palavra, lhe disse:

Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu nas mãos de ladrões que o despojaram, cobriram-no de feridas e se foram, deixando-o semi-morto. Aconteceu, em seguida, que um sacerdote descia pelo mesmo caminho e tendo-o percebido passou do outro lado. Um levita, que veio também para o mesmo lugar, tendo-o considerado, passou ainda do outro lado. Mas um Samaritano que viajava, chegando ao lugar onde estava esse homem, e tendo-o visto, foi tocado de compaixão por ele. Aproximou-se, pois, dele, derramou óleo e vinho em sua feridas e as enfaixou; e tendo-o o colocado sobre sue cavalo, conduziu-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas e as deus ao hospedeiro, dizendo: Tende bastante cuidado com este homem, e tudo o que despenderdes a mais, eu vos restituirei no meu regresso.

Qual desses três vos parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? O doutor lhe respondeu: Aquele que exerceu a misericórdia para com ele. Ide pois, lhe disse Jesus, e fazei o mesmo". (São Lucas, cap. 10, 25 a 37)

1) O que se entende por parábola?

Parábola é uma narração alegórica na qual o conjunto dos elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior.

2) Quem são os samaritanos?

Os Samaritanos são as pessoas naturais da Samaria. Desde a separação das dez tribos e a ereção do bezerro de ouro em Samaria, capital do reino de Israel, os samaritanos eram desprezados pelos judeus.

3) Por que os samaritanos eram considerados heréticos?

Porque admitiam somente o Pentateuco de Moisés. Aos olhos dos Judeus ortodoxos, eles eram heréticos, e, por isso mesmo, desprezados, anatematizados e perseguidos.

4) Além da parábola do Bom Samaritano, cite outras alusões de Jesus aos samaritanos?

Há o episódio do poço de Samaria. Vindo tirar água uma mulher (Fotina) da Samaria, disse-lhe Jesus: "Dá-me de beber". Respondeu-lhe, porém, esta samaritana: "Como! Vós que sois judeus, me pedis de beber, a mim que sou samaritana?"

Há o episódio dos dez leprosos curados. Somente um veio agradecer; este era samaritano.

5) O que se entende por doutor da lei?

Um doutor da lei era um especialista no estudo da ‘torah’ (porção da bíblia judaica conhecida como lei, equivalente aos cinco primeiros livros do AT).

6) Como Jesus responde à pergunta do doutor da lei: Mestre, o que é preciso que eu faça para possuir a vida eterna?

Jesus lhes respondeu: Que está escrito na lei? Que ledes nela? Ele lhe respondeu: Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma, de todas as vossas forças e de todo o vosso espírito, e vosso próximo como a vós mesmos. Jesus lhe disse: Respondeste muito bem; fazei isso e viverás.

Comentário: Jesus respondeu à pergunta com outra pergunta. A resposta do doutor da lei mostra que ele conhece a lei, mas a conhece na letra, não na prática. E é isso que Jesus quer lhe mostrar, fazê-lo refletir sobre esse ponto. A Vulgata, para exprimir a palavra amar, serve-se do verbo dilligere que significa escolher, eleger, preferir. Quer dizer, o amor que temos a Deus é acompanhado de escolha, de eleição, de preferência.

7) E quem é o meu próximo?

Jesus explicita que, diante do homem caído, passara um sacerdote e um levita, sem lhe dar atenção. Em seguida, veio o samaritano, que o socorreu. Daí, a pergunta: quem foi o próximo?

Comentário: para ter amor ao próximo é preciso ver, sentir a contrição do seu semelhante e ter um sentimento de piedade pela miséria alheia.

8) Por que o conceito de caridade está expresso nesta parábola?

A caridade é a perfeição do amor. O samaritano cedeu o seu tempo, o seu dinheiro e a sua pessoa para ajudar o seu próximo, que nem sabia quem era.

9) Como Allan Kardec interpreta esta parábola?

No quadro desta parábola é preciso separar a figura da alegoria. A homens que estavam ainda na infância da espiritualidade, Jesus precisou utilizar-se de imagens materiais, surpreendentes e capazes de impressionar. Mas ao lado dessa parte acessória e figurada do quadro, há uma ideia dominante: a da felicidade que espera o justo e da infelicidade reservada ao mau. Jesus não fala das convenções externas da religião; simplesmente quer exaltar a caridade, o único meio de salvação da alma. É por essa razão que Jesus coloca o Samaritano, considerado herético, acima do ortodoxo que falta com a caridade. (1)

(Reunião de 23/05/2009)

(1) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39 ed., São Paulo: Ide, 1984 (capítulo XV, item 2 e 3, p. 198 a 201) (https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/par%C3%A1bola-do-bom-samaritano?authuser=0 )


Texto Curto no Blog

Parábola do Bom Samaritano

Os Samaritanos são as pessoas naturais da Samaria. Desde a separação das dez tribos e a ereção do bezerro de ouro em Samaria, capital do reino de Israel, os samaritanos, porque admitiam somente o Pentateuco de Moisés, eram considerados heréticos e, ao mesmo tempo, desprezados, anatematizados e perseguidos pelos judeus ortodoxos.

Jesus, nesta parábola, traça as diretrizes do amor ao próximo. Escolhe o samaritano, considerado herege pelos judeus. Quer mostrar que o amor é universal e pode ser vivenciado em qualquer circunstância, quer seja de afeto, quer seja de adversidade. Em vista de o samaritano ceder o seu tempo, o seu dinheiro e a sua pessoa para ajudar o seu próximo, que nem sabia quem era, esta parábola é considerada o fundamento básico do conceito de caridade, que é a perfeição do amor.

Além desta parábola, há também o episódio do poço de Samaria e dos dez leprosos, os dois referindo-se ao samaritano. O poço de Samaria é retratado assim: Vindo tirar água uma mulher (Fotina) da Samaria, disse-lhe Jesus: "Dá-me de beber". Respondeu-lhe, porém, esta samaritana: "Como! Vós que sois judeus, me pedis de beber, a mim que sou samaritana?". Os judeus não conversavam com os samaritanos, mas Jesus fez questão de puxar prosa com esta mulher. No episódio dos dez leprosos curados, somente um veio agradecer, o samaritano.

Jesus inicia esta parábola com a pergunta do doutor da lei, ou seja, de um especialista no estudo da torah, porção da bíblia judaica conhecida como lei, equivalente aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento. O doutor da lei queria saber o que ele devia fazer para possuir a vida eterna. Jesus lhes respondeu: "Que está escrito na lei? Que ledes nela? Ele lhe respondeu: Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma, de todas as vossas forças e de todo o vosso espírito, e vosso próximo como a vós mesmos". Jesus lhe disse: Respondeste muito bem; fazei isso e viverás.

Jesus respondeu à pergunta com outra pergunta. A resposta do doutor da lei mostra que ele conhece a lei, mas a conhece na letra, não na prática. E é isso que Jesus quer lhe mostrar, fazê-lo refletir sobre esse ponto. Mais adiante explicita o amor ao próximo, contando uma pequena história: havia um homem caído, passara um sacerdote e um levita, sem lhe dar atenção. Em seguida, veio o samaritano, que o socorreu. Daí, a pergunta: quem foi o próximo? Para se ter amor ao próximo é preciso ver, sentir a contrição do seu semelhante e ter um sentimento de piedade pela miséria alheia.

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz que no quadro desta parábola é preciso separar a figura da alegoria. A homens que estavam ainda na infância da espiritualidade, Jesus precisou utilizar-se de imagens materiais, surpreendentes e capazes de impressionar. Mas ao lado dessa parte acessória e figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade que espera o justo e da infelicidade reservada ao mau. Jesus não fala das convenções externas da religião; simplesmente quer exaltar a caridade, o único meio de salvação da alma.

É por esta razão que Jesus coloca o Samaritano, considerado herético, acima do ortodoxo que falta com a caridade. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2009/05/parabola-do-bom-samaritano.html)


Em Forma de Palestra

Parábola do Bom Samaritano

1. Introdução

O objetivo deste estudo é refletir sobre as dificuldades que as convenções sociais impõem à prática da caridade.

2. Conceito

Parábola - do gr. parabole significa narrativa curta, não raro identificada com o apólogo e a fábula. Vizinha da alegoria, ou seja, consiste num discurso que faz entender outro.

Sinteticamente: narração alegórica na qual o conjunto dos elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior.

Samaritano - Depois do cisma das dez tribos, Samaria tornou-se a capital do reino dissidente de Israel. Destruída e reconstruídas por várias vezes, ela foi, sob os Romanos, a sede de Samaria, uma das quatro divisões da Palestina.

"Os Samaritanos estiveram, quase sempre, em guerra com os reis de Judá; uma aversão profunda, datando da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que afastavam todas as relações recíprocas. Os Samaritanos, para tornar a cisão mais profunda e não ter que ir a Jerusalém na celebração das festas religiosas, construíram um templo particular, e adotaram certas reformas. Eles não admitiam senão o Pentateuco contendo a lei de Moisés, rejeitando todos os livros que lhe foram anexados depois. Seus livros sagrados eram escritos em caracteres hebreus da mais alta antigüidade. Aos olhos dos Judeus ortodoxos, eles eram heréticos, e, por isso mesmo, desprezados, anatematizados e perseguidos. O antagonismo das duas nações tinha, pois, por único princípio a divergência das opiniões religiosas, embora suas crenças tivessem a mesma origem; eram os Protestantes daquela época". (Kardec, 1984, p. 18)

3. O Texto Bíblico

"E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, o que é preciso que eu faça para possuir a vida eterna? Jesus lhes respondeu: Que está escrito na lei? Que ledes nela? Ele lhe respondeu: Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma, de todas as vossas forças e de todo o vosso espírito, e vosso próximo coma a vós mesmos. Jesus lhe disse: Respondeste muito bem; fazei isso e viverás.

Mas esse homem, querendo parecer que era justo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E Jesus tomando a palavra, lhe disse:

Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu nas mãos de ladrões que o despojaram, cobriram-no de feridas e se foram, deixando-o semi-morto. Aconteceu, em seguida, que um sacerdote descia pelo mesmo caminho e tendo-o percebido passou do outro lado. Um levita, que veio também para o mesmo lugar, tendo-o considerado, passou ainda do outro lado. Mas um Samaritano que viajava, chegando ao lugar onde estava esse homem, e tendo-o visto, foi tocado de compaixão por ele. Aproximou-se, pois, dele, derramou óleo e vinho em sua feridas e as enfaixou; e tendo-o o colocado sobre sue cavalo, conduziu-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas e as deus ao hospedeiro, dizendo: Tende bastante cuidado com este homem, e tudo o que despenderdes a mais, eu vos restituirei no meu regresso.

Qual desses três vos parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? O doutor lhe respondeu: Aquele que exerceu a misericórdia para com ele. Ide pois, lhe disse Jesus, e fazei o mesmo". (São Lucas, cap. 10, 25 a 37)

4. Cairbal Schutel e o Samaritano

Cairbal Schutel, no livro Parábolas e Ensinos de Jesus, retrata a didática do discurso de Jesus em que o Mestre não perdia a oportunidade para enaltecer os pobres, os deserdados, os repudiados pelas seitas dominantes. Tanto nesta, como nas demais parábolas, o objetivo não muda, ou seja, aproveita-se de uma realidade material para evocar as realidades de cunho moral e espiritual. No caso específico desta parábola, Jesus escolhe o Samaritano, considerado desprezado e herético pelos judeus ortodoxos. O interessante, ainda, é que a referida parábola foi proposta a um Doutor da Lei, a um judeu da alta sociedade que, para tentar o Mestre, foi inquiri-lo sobre a vida eterna. O judeu doutor não ignorava os mandamentos, mas não os punha em prática. Do mesmo modo pode-se falar dos sacerdotes, que conheciam perfeitamente a Lei, mas não a punha também em prática. Por fim, diz que o viajante ferido pode ser comparada a Humanidade saqueada de seus bens espirituais e de sua liberdade, pelos poderosos do mundo. (1979, p. 74 a 77)

5. Allan Kardec e o Samaritano

No quadro desta parábola é preciso separar a figura da alegoria. A homens que estavam ainda na infância da espiritualidade, Jesus precisou utilizar-se de imagens materiais, surpreendentes e capazes de impressionar. Mas ao lado dessa parte acessória e figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade que espera o justo e da infelicidade reservada ao mau. Jesus não fala das convenções externas da religião; simplesmente quer exaltar a caridade, o único meio de salvação da alma. É por essa razão que Jesus coloca o Samaritano, considerado herético, acima do ortodoxo que falta com a caridade. (Kardec, 1984, cap. XV, item 2 e 3, p. 198 a 201)

6. Parábola Moderna 

O Irmão X, em Lázaro Redivivo, conta-nos esta versão da parábola do Bom Samaritano:

"E eis que, em plena assembléia de espiritualidade, se levantou um certo companheiro intelectualizado e dirigiu-se ao Amigo Sábio Benevolente, que se comunicava através da organização mediúnica, perguntando, para tentá-lo:

— Benfeitor da Humanidade, que devo fazer para alcançar a vida eterna? Como agir para entrar na posse da verdadeira luz?

Respondeu-lhe o orientador:

— Que te aconselha a doutrina? Como lês o ensinamento do Cristo?

O consulente pensou um minuto e replicou:

— Amarás o Senhor teu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças, com todo o entendimento e a teu próximo como a ti mesmo.

O Sábio Espiritual sorriu e observou:

— Respondeste bem. Faze isso e alcançarás a vida eterna.

Contudo, o intelectualista, apresentando justificativa e desejando destacar-se no círculo dos irmãos, interrogou ainda:

— Como reconhecerei o meu próximo?

O comunicante assumiu atitude paternal e narrou" (Xavier, 1978, p. 243 e 244) a passagem, comparando o espiritista ao materialista, a qual iremos resumir:

Situação 1: pessoas ignorantes que reclamavam o ensino.

Atitude do Espiritista: passou de largo dizendo que aquilo não era Espiritismo.

Atitude do Materialista: distribui palavras conforto e de encorajamento.

Situação 2: miserável mulher, exibindo terríveis sinais de sífilis.

Atitude do Espiritista: passou de largo, com medo de ser visto na casa de prazeres menos dignos, dizendo que aquilo não era Espiritismo.

Atitude do Materialista: amparou a pobre criatura, providenciando que fosse asilada em hospital próximo e colaborou no pagamento das despesas.

Situação 3: grupo de trabalhadores, filiado às Igrejas evangélicas, solicitando dinheiro para as pessoas carentes.

Atitude do Espiritista: como expressavam interpretações diferentes das do Espiritismo, diz que aquilo não era Espiritismo.

Atitude do Materialista: conversou, inteirou-se do propósito e deu-lhe uma soma de dinheiro para a obra benemérita.

Por fim diz: Quem aprendeu a reconhecer próximo, prestando-lhe serviços?

7. Conclusão 

Vemos, por esta simples parábola, a grande dificuldade de colocarmos em prática a verdadeira caridade. A maioria de nós ainda é católico, espírita ou protestante de fachada. Esquecemo-nos de que a salvação da alma não depende da religião que professamos, mas sim, e, unicamente, da caridade que prestarmos ao nosso próximo.

8. Bibliografia Consultada 

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

SCHUTEL, C. Parábolas e Ensinos de Jesus. 11. ed., São Paulo, O Clarim, 1979.

XAVIER, F. C. Lázaro Redivivo, pelo Espírito Irmão X. 6. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978.

São Paulo, abril de 2000.



Notas de Livro

"O próximo, para o senhor, intelectual, é o ser que necessita da verdade, como o próximo do bom Samaritano era o ferido na estrada. Antes de dar a verdade, adquira-a, e não jogue fora o grão de mostarda". (p.54) (SERTILLANGES, A.-D. A Vida Intelectual: seu Espírito, suas Condições, seus Métodos. Tradução de Lilia Ledon da Silva. 3. ed., São Paulo: É Realizações, 2014)

*

A parábola cristã do Bom Samaritano impõe um enorme fardo moral sobre todos. 

Ao reunir os argumentos dos capítulos anteriores, cheguei à seguinte conclusão geral: o papel do Estado é, ou deveria ser, menor do aquele que os socialistas exigem e maior do que os liberais clássicos permitem. Tudo o que os políticos podem fazer é ampliar o espaço em que a sociedade pode prosperar. Lionel Robbins definiu a economia como "a ciência que estuda o comportamento humano como um relacionamento entre fins e meios escassos, que tem aplicações alternativas". Oscar Wilde, cinicamente, diz: "homem que sabe o preço de tudo, mas não sabe o valor de nada". As coisas que realmente valorizamos são aquelas que hesitamos em atribuir um preço, como a vida, o amor e o conhecimento. 

As revoluções consideraram a Igreja o "inimigo público número 1" exatamente por criar uma esfera de valor e de autoridade fora do alcance do Estado. 

"Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que este."

A história do Bom Samaritano, apresentada em resposta à pergunta "Quem é o meu próximo?", nos mostra que o "o amor ao próximo", como dever religioso, não exige a imposição de uma obediência religiosa e não é uma forma de irmandade. Destina-se tanto ao desconhecido quanto ao amigo. (SCRUTON, Roger. Como Ser um Conservador. Tradução de Bruno Garschagen. 4. ed., Rio de Janeiro: Record, 2016, capítulo 11 — "Esferas de Valor")

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Resta-nos apreciar a maneira por que a razão vai progressivamente impondo os seus direitos, até conquistar a supremacia necessária, para libertar o espírito humano dos liames terríveis do passado. 

O Cristianismo aparece como o verdadeiro remate desse vasto processo. Jesus não se limita a condenar o apego ao ritualismo religioso no mundo judaico. Ele proclama a natureza espiritual de Deus, e conseqüentemente a do homem, filho de Deus. Ensina a universalidade do espírito, rompendo assim as barreiras de todos os preconceitos tribais, que dividiam a humanidade em grupos raciais ou religiosos. Mostra que o samaritano podia ser melhor que um príncipe da igreja judaica, e adverte à mulher samaritana que Deus devia ser adorado, não através de fórmulas exteriores, em locais considerados sagrados, mas “em espírito e verdade”. (PIRES, J. H. O Espírito e o Tempo - Introdução Antropológica do Espiritismo. 3. Ed. São Paulo: Edicel, 1979, item 2 "Desenvolvimento da Razão", do capítulo I — "Emancipação Espiritual do Homem" da Segunda Parte: "Fase Histórica")

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Você escuta uma batida na porta. Quando abre, depara-se com um rapaz que nitidamente precisa de ajuda: está ferido e sangrando. Você o coloca para dentro e o ajuda a se sentir seguro e confortável, depois chama uma ambulância. Com certeza, essa é a coisa certa a se fazer. De acordo com Kant, se você o ajuda simplesmente porque sente pena dele, esta não seria de jeito nenhum uma ação moral. Sua solidariedade é irrelevante para a moralidade da ação. A solidariedade faz parte do seu caráter, mas nada tem a ver com o que é certo ou errado. Para Kant, a moralidade não diz respeito apenas a o que fazer, mas também a por que fazer. Aqueles que fazem a coisa certa não o fazem só por causa do modo como se sentem: a decisão precisa ser baseada na razão, pois é ela que diz qual é o nosso dever, independentemente de como porventura nos sentimos.

Para Kant, se você ajuda o rapaz porque sabe que é seu dever, está agindo moralmente. Isso é também o que Aristóteles teria pensado.

Pense na parábola do bom samaritano. Ele ajuda um homem necessitado que vê deitado na beira da estrada. Todos os outros apenas passam e vão embora. O que faz do bom samaritano um homem bom? Se o samaritano ajudasse o homem pensando que com isso iria para o céu, esta não seria, na visão de Kant, uma ação moral. Ele estaria cuidando do homem como uma forma de chegar a algum lugar – um meio para um fim. Se o ajudasse somente por compaixão, não seria nada bom aos olhos de Kant. Contudo, se o ajudasse porque reconhece que faz parte do seu dever e que seria a coisa certa a fazer naquela circunstância, Kant diria que o bom samaritano foi moralmente bom.

Um imperativo é uma ordem. Imperativos categóricos diferenciam-se dos imperativos hipotéticos. Os imperativos hipotéticos têm a forma de “Se quiser x, faça y”. “Se não quer ir para a prisão, não roube” é um exemplo de imperativo hipotético. Os imperativos categóricos são diferentes. Eles servem como instruções. Nesse caso, o imperativo categórico seria simplesmente “Não roube!”.

Kant acreditava que a moral era um sistema de imperativos categóricos. O seu dever moral é o seu dever moral, quaisquer que sejam as consequências, quaisquer que sejam as circunstâncias. A forma de Kant dizer isso é em termos de “máximas” a partir das quais agimos. A máxima é apenas o princípio subjacente, a resposta à pergunta “Por que você fez isso?”. Kant acreditava que a máxima subjacente à nossa ação era o que realmente importava. Ele dizia que deveríamos agir somente sob as máximas universalizáveis. 

Essa maneira de pensar sobre o certo e o errado baseada no bom raciocínio, e não na emoção, é bem diferente do que pensava Aristóteles. Para Aristóteles, uma pessoa verdadeiramente virtuosa sempre tem os sentimentos apropriados e faz a coisa certa como resultado desses sentimentos. Para Kant, os sentimentos apenas obscurecem o problema; torna-se mais difícil perceber se o sujeito está genuinamente fazendo a coisa certa, ou se apenas parece que faz. Kant tornou a moral algo praticável por qualquer pessoa racional, tivesse ou não sorte o suficiente para ter sentimentos que a motivassem a agir bem.

A filosofia moral de Kant contrasta totalmente com a filosofia moral de Jeremy Bentham, assunto do próximo capítulo. Enquanto Kant argumentava que algumas ações eram erradas independentemente das consequências, Bentham afirmava que o importante eram tão somente as consequências. (WARBURTON, Nigel. Uma Breve História da Filosofia. Tradução de Rogério Bettoni. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012 (Coleção L&PM POCKET), capítulo 20 — "E se todos fizessem isso?" (Immanuel Kant [2]))