Metafísica

Perguntas e Respostas

1) O que é a Metafísica?

Metafísica é a doutrina da essência das coisas, o conhecimento das coisas primárias e dos primeiros princípios. Por ter como objeto o objeto de todas as outras ciências, e como princípio um princípio que condiciona a validade de todos os outros, a Metafísica é considerada a ciência primeira.

2) Onde podemos encontrar a origem da Metafísica?

Tales de Mileto é o primeiro dos metafísicos, pois ele quis achar a substância primeira, a physis, de onde tudo se originava. Pensou que este elemento primordial fosse a água, porque esta poderia se transformar em gelo (matéria sólida) pelo esfriamento e em ar (matéria gasosa) pelo aquecimento.

3) Desde quando a Metafísica é considerada a filosofia primeira?

Foi por acidente livresco que se deu o nome de Metafísica à filosofia primeira, isto é, ao estudo sistemático dos problemas fundamentais relativos à natureza última da realidade e do conhecimento humano. Isso se deveu a Andrônico de Rodes que, no século I de nossa era, classificou a obra de Aristóteles, colocando os livros da filosofia primeira depois dos de física e se referiu a eles como "os que estão atrás da física" (tà metà tà physikà). Desde essa época, a metafísica é a parte da filosofia que se ocupa do que está mais além do ser físico enquanto tal.

4) Como se divide a Metafísica?

A Metafísica pode ser dividida em três partes: 1) ontologia (teoria do ser); 2) gnosiologia (teoria do conhecimento); 3) teoria do primeiro princípio do conhecimento e do ser (absoluto, Deus). O fato de esta palavra referir-se tanto à ontologia, como à gnosiologia, e mesmo a Deus, dificulta a definição rigorosa da mesma.

5) Como retratar historicamente a Metafísica?

Tales de Mileto, ao tentar encontrar o physis, deu a partida para a busca da origem, do arqué, do princípio das coisas. A teoria das ideias de Platão fornece-nos alguns subsídios para a sua compreensão. Aristóteles denominou a ciência primeira de Metafísica. Na Idade Média, a Metafísica permanece por longo tempo no campo da religião. Descartes, por sua vez, retoma o sentido filosófico, e afirma que o conhecimento de Deus e da alma é alcançado "pela razão natural". Depois de Descartes apareceram outros racionalistas. Kant, por exemplo, achava que o conhecimento depende apenas da razão, independentemente das experiências. Hegel, na sua dialética idealista, e Marx, na sua dialética materialista, dão também as suas contribuições para a compreensão do tema.

6) Por que houve depreciação deste termo?

O entendimento de "metafísico" como sinônimo de "sobrenatural" foi um deles. Há, também, o pensamento de que metafísico é "um homem cego num quarto escuro, que procura um gato preto que não está ali". Para completar, diz-se que o "teólogo é a pessoa que acha o gato". Hume e Augusto Comte, deslocando o absoluto para a região das fantasias, deram os seus contributivos para desmerecer a Metafísica.

7) O que é a Metafísica espírita?

Em linhas gerais, a metafísica é a busca da origem das coisas, tais como a origem de Deus, do Espírito e da matéria, entre outros. O Espiritismo, principalmente em O Livro dos Espíritos, dá-nos subsídios valiosos para tal compreensão.

8) Dê-nos uma ideia da teoria do conhecimento espírita

Para Platão, que pressupunha a reminiscência das idéias, conhecemos pelo Espírito; para os sofistas e empíricos, conhecemos pelos sentidos. Para o Espiritismo, a percepção é uma faculdade do Espírito e não do corpo. É uma faculdade geral do Espírito que abrange todo o seu ser.

9) Como explicar a ontologia espírita?

A ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser. Na Filosofia Espírita, cada criatura humana é um ser espiritual, mas é também um ser físico ou um ser corporal. A ligação entre o ser espiritual e o ser físico é feita através do perispírito (corpo perispiritual). Desta forma, o ser não é apenas o Espírito, é também o perispírito e o corpo vital.

10) Temos condições de penetrar no mistério de Deus?

No que tange ao conhecimento do Ser Supremo (Deus), a Doutrina Espírita afirma que quando o nosso Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, teremos condições de penetrar no mistério da divindade. Por enquanto devemos nos contentar com o conhecimento de seus atributos, ou seja, Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, e soberanamente justo e bom.

(Reunião de 06/03/2009) (https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/metaf%C3%ADsica?authuser=0 )


Texto Curto no Blog

Metafísica e Espiritismo

A Metafísica é a doutrina da essência das coisas, o conhecimento das coisas primárias e dos primeiros princípios. É a busca da essência de Deus, do Espírito e da matéria. Como analisar este tema sob a ótica espírita?

Foi por acidente livresco que se deu o nome de Metafísica à filosofia primeira, isto é, ao estudo sistemático dos problemas fundamentais relativos à natureza última da realidade e do conhecimento humano. Isso se deveu a Andrônico de Rodes que, no século I de nossa era, classificou a obra de Aristóteles, colocando os livros da filosofia primeira depois dos de física e se referiu a eles como "os que estão atrás da física" (tà metà tà physikà). Desde essa época, a metafísica é a parte da filosofia que se ocupa do que está mais além do ser físico enquanto tal.

A Metafísica pode ser dividida em três partes: 1) ontologia (teoria do ser); 2) gnosiologia (teoria do conhecimento); 3) teoria do primeiro princípio do conhecimento e do ser (absoluto, Deus). O fato de esta palavra referir-se tanto à ontologia, como à gnosiologia e mesmo a Deus, dificulta a definição rigorosa da mesma. Como analisar esta divisão sob a ótica do Espiritismo?

Teoria do conhecimento. Para Platão, que pressupunha a reminiscência das idéias, conhecemos pelo Espírito; para os sofistas e empíricos, conhecemos pelos sentidos. Para o Espiritismo, a percepção é uma faculdade do Espírito e não do corpo. É uma faculdade geral do Espírito que abrange todo o seu ser. Em realidade, o Espiritismo sintetiza as duas formas de conhecer.

Teoria do ser. A ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser. Na Filosofia Espírita, cada criatura humana é um ser espiritual, mas é também um ser físico ou um ser corporal. A ligação entre o ser espiritual e o ser físico é feita através do perispírito (corpo perispiritual). Desta forma, o ser não é apenas o Espírito, é também o perispírito e o corpo vital.

Deus. No que tange ao conhecimento do Ser Supremo (Deus), a Doutrina Espírita afirma que quando o nosso Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, teremos condições de penetrar no mistério da divindade. Por enquanto devemos nos contentar com o conhecimento de seus atributos, ou seja, Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, e soberanamente justo e bom.

Consultemos as obras básicas da Codificação, principalmente O Livro dos Espíritos e A Gênese, para obtermos os subsídios necessários à compreensão deste tema. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2009/12/metafisica-e-espiritismo.html)

Metafísica

A palavra metafísica sofreu mudanças ao longo do tempo. Inicialmente, era o título dado por Androginos Rodes (século I) à obra de Aristóteles que vem após a Física. Presentemente, quer dizer o que está além da física e compreende os problemas da ontologia, da ontoteologia, da teleologia, da racionalidade e tudo o que diz respeito às causas primeiras, tais como, Deus, Espírito e Matéria.

A metafísica, no sentido de "tudo o que está além da matéria", coincide com o próprio desenrolar da filosofia. Observe que a filosofia surgiu como uma tentativa de explicar o mundo e sua origem a partir da razão e não por intermédio do oráculo, do mito. No mito a verdade é revelada pelos deuses; na metafísica ela deve ser buscada, achada com o recurso da razão, com o esforço do ser humano.

Em termos históricos, Tales de Mileto é o primeiro dos metafísicos, pois ele quis achar a substância primeira, a physis, de onde tudo se originava. Pensou que este elemento primordial fosse a água, porque esta poderia se transformar em gelo (matéria sólida) pelo esfriamento e em ar (matéria gasosa) pelo aquecimento. Estava dada a partida para a busca da origem, do arqué, do princípio das coisas.

Sócrates e Platão não trataram diretamente da metafísica, mas forneceram subsídios úteis (Teoria das Ideias) à compreensão do tema. Se se toma como ponto de partida a obra de Aristóteles, a primeira chamada metafísica, ver-se-á que para defini-la são empregadas as seguintes expressões: sabedoria (sofhia), filosofia primeira (prote philosophia), ciência buscada ou procurada (zetoumene episteme) e teoria da verdade (tes aletheias theoria).

Na Idade Média, a escolástica de São Tomás, conciliando a religião com a filosofia de Aristóteles, "torna a metafísica a parte da filosofia que ultrapassa o real empírico para alcançar o conhecimento das realidades divinas e transcendentais, mas só pelo caminhos da razão e independentemente da revelação (que por sua vez fundamenta a teologia)".

Depois de a metafísica permanecer por longo tempo no campo da religião, ela retorna com Descartes. Este afirma que o conhecimento de Deus e da alma é alcançado "pela razão natural". Por isso, a sua célebre frase: cogito ergo sum (penso, logo existo). Depois de Descartes apareceram outros racionalistas. Kant, por exemplo, achava que o conhecimento depende apenas da razão, independentemente das experiências. Hegel, na sua dialética idealista e Marx, na sua dialética materialista, dão também as suas contribuições para a compreensão do tema.

A metafísica é a ciência das causas primeiras. Ela está acima da ciência. A ciência busca as causas próximas; a metafísica, as causas profundas do ser enquanto ser, ou seja, do ser na sua essência, na sua interioridade, na sua imortalidade.

Fonte de Consulta

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993

ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo: Encyclopaedia Britannica, 1987. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/11/metafsica.html)

O Ser e a Metafísica

A filosofia é a área falante por natureza. É por meio dela que o homem aprende a pensar. Contudo, para pensar bem, terá de cavar muita terra, pois o verdadeiro conhecimento não se encontra na superfície, mas no fundo.

No questionamento do ser surge a metafísica. Mas o que se entende por metafísica. É simplesmente algo além da física, como parece indicar a etimologia da palavra? Não. De acordo com os filósofos da antiguidade, a metafísica diz respeito aos primeiros princípios, o arché, o primeiro motor. Lembremo-nos de que na antiguidade não se falava em metafísica. O termo surgiu na Idade Média para significar a "ciência que contém os primeiros princípios do conhecimento humano".

Na perspectiva histórica, Sócrates foi o primeiro filósofo a tratar das causas primeiras. Até a sua vinda, buscava-se o conhecimento fora do indivíduo; com ele, para dentro de si mesmo, como atesta a sua famosa frase: "conhece-te a ti mesmo". A contribuição de Sócrates, ao estudo da metafísica, deu-se em dois momentos: ironia e maiêutica. Na ironia buscava a apreensão do verdadeiro conhecimento contido nas palavras; na maiêutica, procurava produzir um novo conhecimento das palavras. No momento inicial, confundia; depois, dava à luz uma nova ideia.

Platão foi o segundo filósofo a dar a sua contribuição. Em seu mito da caverna elucida a questão. Para ele, a humanidade vive dentro de uma caverna, cuja simbologia é opinião, falso saber, aparência da realidade. Para penetrar na realidade das coisas, as pessoas precisam sair das sombras, e ir ao encontro da luz, entendida por ele como idéias. Assim, o sistema filosófico platônico consiste no discurso das idéias. Discurso que mostra as formas ou os aspectos em que o ser se revela. Sua filosofia tornou-se conhecida como a filosofia das ideias.

Aristóteles, o terceiro filósofo que contribuiu para a compreensão da metafísica, chamava-a de filosofia primeira: philosophia prôte (cf. Met., I, 2, 928a, 4). A substância constitui o conceito fundamental da metafísica aristotélica, por que diz como o ser aparece e consiste em si. A substancia denota uma forma de presença clara e distinta, independente no ser, dotada de força própria (dýnamis). A toda presença autônoma no ser e no agir, Aristóteles chamava de substancia (ousía prôte = presença em sentido próprio).

A questão do ser é a base da filosofia. Ele assume papel relevante na metafísica, pois o ser, em qualquer situação em que for colocado, será o ponto central e fundamental de toda a argumentação.

Fonte de Consulta

BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao Pensar: O Ser, o Conhecimento, a Linguagem. 28. ed., Petrópolis, Vozes, 2001. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/07/o-ser-e-metafsica.html)

Metafísica e Número

“Desde a mais alta antiguidade o mundo foi considerado uma construção matemática, cuja harmonia não podia ser, naturalmente, senão de essência divina”.

A Metafísica é a ciência primeira, o esforço que o ser humano faz para chegar à essência do Universo, de Deus e de tudo o que existe no mundo. Poderia ser um sinônimo de Filosofia, caso não houvesse a sua ligação indevida com o “sobrenatural”. Neste artigo vamos analisar a sua relação com os números.

O número exerce um poder sem limite. É ele que nos posiciona na vida. Estamos sempre no meio deles, fazendo contas, pagando dívidas, comprando mantimento. Antoine de Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe, assim se expressa: “As pessoas crescidas adoram os números. Quando você lhes fala de um novo amigo, elas nunca perguntam o essencial: ‘Qual é o som de sua voz? Quais são os seus brinquedos preferidos? Ele coleciona borboletas?’ Elas sempre perguntam: ‘Qual é a sua idade? Quantos irmãos têm? Quanto ela pesa? Quanto ganha seu pai?’”

Algumas citações. De acordo com a Bíblia, Deus ordenou todas as coisas “segundo o número, o peso e a medida”. Leibniz: “Enquanto Deus calcula e exerce seu pensamento, o mundo se faz...” e, em sua convicção, ele acrescenta: “O ateu pode ser geômetra, mas não sabe o que é geometria”. Descartes disse: “Eu não incluo, em minha física, outros princípios que não aqueles que aceito em matemática”. Hegel: “Nada há de real além do racional e nada há de racional além do real”.

Para Pitágoras, todas as coisas eram números e qualquer número era uma divindade. Deus era representado pelo número 1, a Matéria pelo número 2 e o Universo pelo número 12, resultante da multiplicação de 3 por 4. Havia, assim, uma unidade divina, absoluta e primordial, na qual ele vê a mônada das mônadas, ou seja, a imortalidade da alma, a pluralidade das existências e a organização harmoniosa do universo, em que os números têm um poder ilimitado.

Os números são símbolos. O que está por detrás deles é a busca da origem das coisas. Observe a Cabala – decifração dos textos sagrados pelo simbolismo dos números e das letras. Ela é, antes de tudo, a explicação de uma cosmogonia (formação do Universo), baseada nos números, considerados potências conscientes e ativas. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2009/12/metafisica-e-numero.html)


Em Forma de Palestra

Metafísica

1. Introdução

O que se entende por metafísica? É tudo aquilo que está além da física? Como surgiu este termo? Como você explicaria a metafísica espírita?

2. Conceito

Ciência dos entes espirituais ou incorpóreos, das coisas abstratas, intelectuais. Doutrina da essência das coisas. Conhecimento das coisas primárias e dos primeiros princípios. Ciência primeira, por ter como objeto o objeto de todas as outras ciências, e como princípio um princípio que condiciona a validade de todos os outros.

3. Histórico

Em termos históricos, Tales de Mileto é o primeiro dos metafísicos, pois ele quis achar a substância primeira, a physis, de onde tudo se originava. Pensou que este elemento primordial fosse a água, porque esta poderia se transformar em gelo (matéria sólida) pelo esfriamento e em ar (matéria gasosa) pelo aquecimento. Estava dada a partida para a busca da origem, do arqué, do princípio das coisas.

Sócrates e Platão não trataram diretamente da metafísica, mas forneceram subsídios úteis (Teoria das Ideias) à compreensão do tema. Para Aristóteles, a Metafísica é a ciência que estuda todas as causas, todos os princípios, todas as substâncias. Para Aristóteles, a Metafísica é a ciência primeira no sentido de fornecer a todas as outras o fundamento comum, ou seja, o objeto a que todas elas se referem e os princípios dos quais todas dependem.

Na Idade Média, a Metafísica permanece por longo tempo no campo da religião. Descartes, por sua vez, retoma o sentido filosófico, e afirma que o conhecimento de Deus e da alma é alcançado "pela razão natural". Depois de Descartes apareceram outros racionalistas. Kant, por exemplo, achava que o conhecimento depende apenas da razão, independentemente das experiências. Hegel, na sua dialética idealista e Marx, na sua dialética materialista, dão também as suas contribuições para a compreensão do tema.

4. Metafísica

4.1. Origem do Termo

Foi por acidente livresco que se deu o nome de Metafísica à filosofia primeira, isto é, ao estudo sistemático dos problemas fundamentais relativos à natureza última da realidade e do conhecimento humano. Isso deveu a Andrônico de Rodes que, no século I de nossa era, classificou a obra de Aristóteles, colocando os livros da filosofia primeira depois dos de física e se referiu a eles como "os que estão atrás da física" (tà metà tà physikà). Desde essa época, a metafísica é a parte da filosofia que se ocupa do que está mais além do ser físico enquanto tal.

4.2. Divisão da Metafísica

A metafísica pode ser dividida em três partes: 1) ontologia (teoria do ser); 2) gnosiologia (teoria do conhecimento); 3) teoria do primeiro princípio do conhecimento e do ser (absoluto, Deus). O fato de esta palavra referir-se tanto à ontologia, como à gnosiologia, e mesmo a Deus, dificulta a definição rigorosa da mesma.

4.3. Além da Matéria

A metafísica, no sentido de "tudo o que está além da matéria", coincide com o próprio desenrolar da filosofia. Observe que a filosofia surgiu como uma tentativa de explicar o mundo e sua origem a partir da razão e não por intermédio do oráculo, do mito. No mito a verdade é revelada pelos deuses; na metafísica ela deve ser buscada, achada com o recurso da razão, com o esforço do ser humano.

5. Depreciando e Reverenciando a Metafísica

5.1. Sinônimo de Sobrenatural

Algumas pessoas entendem o termo "metafísico" como sinônimo de "sobrenatural". Daí, a preferência pelo uso de "filosofia" e "filosófico" em lugar de "metafísica" e "metafísico".

5.2. Depreciação do Termo

Atribui-se a Charles Bowen, juiz britânico do século XIX, a definição de metafísico como "um homem cego num quarto escuro, que procura um gato preto que não está ali". Há também um complemento desta frase: "teólogo é a pessoa que acha o gato".

Augusto Comte, o fundador do positivismo na França, deslocou o absoluto para a região das fantasias. Bem antes dele, porém, Hume, em seu Ensaio sobre o Espírito Humano, dissera: "Quando, convictos da doutrina aqui ensinada, penetramos numa biblioteca, que destruição devemos causar? Tomemos o livro de teologia ou de metafísica e perguntemos: contém investigações sobre grandeza e números? Não. Contém o resultado de experiências acerca de fatos e realidades existentes? Não. Jogue-se então o livro ao fogo, porque não poderá conter nada além de sofisticarias e mistificações". (Barreto, 1977, p.188)

5.3. Reverenciando a Metafísica

O filósofo americano Hilary Putman diz: "Se eu tivesse a coragem de ser um metafísico, então acho que criaria um sistema no qual não haveria nada além de deveres. A metafísica, na imagem que eu criaria, seria definir o que deveríamos fazer". Para fundamentar o seu pensamento, afirma que todos os "fatos" se dissolveriam em "valores".

6. A Metafísica Espírita

Perscrutando O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, podemos construir o edifício metafísico do Espiritismo, porque ali vamos encontrar explicações sobre Deus, Espírito e Matéria, entre outros.

6.1. Teoria Espírita do Conhecimento

A maneira pela qual se adquire o conhecimento é de vital importância não só para a Filosofia como para todos nós. De acordo com a tradição filosófica, há duas formas de se apreender o conhecimento: 1ª) a platônica ou socrático-platônica, que envolve a questão da reminiscência das idéias (conhecemos pelo Espírito); 2ª) a sofística ou empírica, que se refere apenas aos nossos sentidos (conhecemos pelos sentidos). Daí, a pergunta: conhecemos pelo corpo ou pelo Espírito?

Para o Espiritismo, o homem é essencialmente um Espírito. O Espírito é a substância do homem e o corpo o seu acidente. Nesse caso, a percepção é uma faculdade do Espírito e não do corpo. É uma faculdade geral do Espírito que abrange todo o seu ser.

6.2. Ontologia Espírita

Ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser. Na Filosofia Espírita, cada criatura humana é um ser espiritual, mas é também um ser físico ou um ser corporal. A ligação entre o ser espiritual e o ser físico é feita através do perispírito (corpo perispiritual). Desta forma, o ser não é apenas o Espírito, é também o perispírito e o corpo vital.

6.3. Deus

No que tange ao conhecimento do Ser Supremo (Deus), a Doutrina Espírita afirma que quando o nosso Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, teremos condições de penetrar no mistério da divindade. Por enquanto devemos nos contentar com o conhecimento de seus atributos, ou seja, Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, e soberanamente justo e bom.

7. Conclusão

A metafísica é a ciência das causas primeiras. A Doutrina Espírita fornece-nos subsídios valiosos para a compreensão deste tema. Basta consultarmos as obras básicas da Codificação, principalmente O Livro dos Espíritos

8. Bibliografia Consultada

BARRETO, Tobias. Estudos de Filosofia. 2. ed., São Paulo, Grijalbo; Brasília, INL, 1977.

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993

ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo: Encyclopaedia Britannica, 1987.

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo: Paidéia, 1983.

São Paulo, novembro de 2009. 


Notas do Blog

Evolução e Espiritismo

Na Metafísica, o evolucionismo, mesmo se servindo dos resultados da teoria biológica, vai muito além. O evolucionismo foi assumido como esquema fundamental de muitas metafísicas, tanto materialistas quanto espiritualistas. A característica fundamental que essas metafísicas distinguem na evolução é o progresso. Para elas, evolução significa essencialmente progresso, e sempre otimista, ao contrário da evolução biológica, que não necessariamente é otimista. Spencer, com o seu homogêneo indiferenciado, e Bérgson, com o seu elã vital, deram valiosas contribuições à divulgação do evolucionismo metafísico. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2009/12/evolucao-e-espiritismo.html)

Número e Fatalidade

Na Natureza, muitas coisas estão subordinadas a leis numéricas, suscetíveis dos mais rigorosos cálculos, principalmente o das probabilidades. É certo, pois, que os números estão na Natureza e que as leis numéricas regem a maioria dos fenômenos da ordem física. Ocorre o mesmo com os fenômenos de ordem moral e metafísica? Se os acontecimentos que decidem a sorte da Humanidade têm seus vencimentos regulados por uma lei numérica, é a consagração da fatalidade, e, então, em que se torna o livre-arbítrio do homem? (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2020/03/numero-e-fatalidade.html)

Resumo Histórico do Espiritismo

O Espiritismo é uma doutrina fundada sobre a crença de existência de Espíritos e nas suas manifestações. A doutrina pressupõe um conjunto de princípios. Os princípios são as molas propulsoras de qualquer Filosofia, Ciência ou Religião. Os princípios espíritas diferem sobremaneira de outros princípios, principalmente das doutrinas espiritualistas. Nesse sentido, o Espiritismo difere das religiões pela ausência total de misticismo, não invocando revelações nem o sobrenatural. O espiritismo só admite fatos experimentais, com as deduções que deles se desprendem. Também se distingue da Metafísica ao repelir todo o raciocínio a priori e toda a solução puramente imaginativa. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2011/08/resumo-historico-do-espiritismo.html)

A Substância Segundo Alguns Filósofos

Para Aristóteles, a metafísica é necessária, é a ciência do ser. Todas as ciências precisam de uma filosofia primeira que é a metafísica. “A medicina estuda o ser enquanto corpo vivo, a política estuda o ser da sociedade, a ética o ser como ação, a matemática, o ser como quantidade; somente a filosofia estuda o ser enquanto ser, em abstrato e independentemente de qualquer determinação particular”. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2012/02/substancia-segundo-alguns-filosofos.html)


Dicionário

Metafísica. A sabedoria, para Aristóteles, consiste na metafísica, isto é, não apenas no conhecimento ou ciência das causas, mas no conhecimento das causas primeiras e mais universais. A filosofia primeira é o saber fundamental, que se trata de caracterizar, cujo objeto é o estudo da substância invariável ou primeira. Estudando-a, a metafísica estuda o ser enquanto ser. Ciência que se procura, ou busca, quer dizer ciência ainda não feita, ou constituída, mas por fazer, e até então definida apenas por suas exigências. Ao designar a metafísica como a “teoria da verdade”, Aristóteles refere-se à aletheia, desvelamento das coisas como verdadeiramente são, em seu fundamento ou princípio, arqué. (1)

A metafísica como foi entendida e projetada por Aristóteles, é a ciência primeira no sentido de fornecer a todas as outras o fundamento comum, ou seja, o objeto a que todas elas se referem e os princípios dos quais todas dependem. A metafísica implica, assim, uma enciclopédia das ciências, um inventário completo e exaustivo de todas as ciências, em suas relações de coordenação e subordinação, nas tarefas e nos limites atribuídos a cada uma, de modo definitivo.

Historicamente, a metafísica compreende: a) teologia; b) ontologia; c) gnosiologia.

A caracterização hoje corrente da metafísica como “ciência daquilo que está além da experiência” pode referir-se apenas à primeira dessas formas históricas, ou seja, a metafísica teológica; trata-se também de uma caracterização imperfeita, porquanto leva em conta uma característica subordinada, por isso, inconstante, dessa metafísica. (2)

Metafísica. Ramo da filosofia que se interessa pelos princípios primeiros das coisas, incluindo conceitos abstratos como ser e conhecer. (3)

(1) ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. São Paulo: Encyclopaedia Britannica, 1987.

(2) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

(3) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.


Pensamentos

"Exigir da filosofia que ela aborde a questão do ser ou outros temas principais da metafísica ocidental é alimentar uma crença primitiva na virtude do assunto tratado." (Adorno, Dialética negativa)

"A metafísica nada tem em comum com uma generalização da experiência e, contudo, ela poderia definir-se como a experiência integral." (Bergson, O pensamento movente)

"A metafísica deriva, tanto dogmática quanto historicamente, da própria teologia, da qual jamais poderia constituir senão uma modificação dissolvente." (Comte, Discurso sobre o espírito positivo)

"Toda a filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a metafísica, o tronco é a física, e os galhos que saem do tronco são todas as outras ciências, que se reduzem a três principais, a saber, a medicina, a mecânica e a moral." (Descartes, Os princípios da filosofia)

"A filosofia primeira, que contém os princípios do uso do entendimento puro, é a METAFÍSICA." (Kant, Dissertação de 1770)

"Um sistema a priori do conhecimento por simples conceitos chama-se metafísica." (Kant, Metafísica dos costumes)

"Os templos e as igrejas, os pagodes e as mesquitas em todos os países, em todas as épocas, em sua magnificência e em sua grandeza, testemunham essa necessidade metafísica do homem que, onipotente e indelével, vem imediatamente após a necessidade física." (Schopenhauer, O mundo como vontade e representação)

"A metafísica consiste em fingir que se pensa A enquanto se pensa B e se opera sobre B." (P. Valéry, Tal qual II

"O pássaro Metafísica afugentado de um lugar para o outro, importunado na torre, fugindo da natureza, incomodado em seu ninho, vigiado na linguagem, indo aninhar-se na morte, nas mesas, na música..." (P. Valéry, Maus pensamentos e outros)

"Os problemas mais profundos não são absolutamente problemas." (Wittgenstein, Tratado lógico-filosófico)