Lei de Justiça, Amor e Caridade

Perguntas e Respostas

1) O que se entende por justiça?

A justiça é um princípio moral que exige o respeito ao direito de si próprio e ao dos outros, segundo a equidade. Por direito, entende-se aquilo que é conforme uma regra precisa ou àquilo que é permitido. Por equidade, entende-se o tratar todos com igualdade, ou seja, da mesma maneira seres que, além de suas diferenças acidentais, podem ser considerados como essencialmente parecidos. Pode-se falar, também, de um sentimento de verdade, de equidade, de humanidade, colocado acima das paixões humanas.

2) Qual o conceito de amor?

Sentimento interior que nos remete a um objeto, considerado bom. Em se tratando de pessoa, é uma força tendente a aproximar e a unir, numa relação particular, dois ou mais seres. Exemplo: "amor ao próximo"; "amor fraternal".

3) Qual o conceito de caridade?

Da mesma raiz de amor (caritas), é uma virtude cristã fundamental que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus. A máxima empregada é: "Ama o próximo como ti mesmo". Paulo foi quem mais insistiu na superioridade da caridade em relação às outras virtudes cristãs, quais sejam a fé e a esperança. Assim se expressava: "Agora, essas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, entre elas, a mais excelente é a caridade". (Paulo, 1.ª Epístolas aos Coríntios, 13, 1 a 7 e 13). Para ele, "A caridade é paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura os seus próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada; não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre". (Kardec, 1984, p. 201)

4) Por que a Lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante das Leis Naturais?

De acordo com O Livro dos Espíritos, há dez Leis Naturais: 1) Lei de Adoração; 2) Lei do Trabalho; 3) Lei de Reprodução; 4) Lei de Conservação; 5) Lei de Destruição; 6) Lei de Sociedade; 7) Lei do Progresso; 8) Lei de Igualdade; 9) Lei de Liberdade; 10) Lei de Justiça, Amor e Caridade. Essa divisão da Lei Natural em dez partes, da mesma forma como fez Moisés com os Dez Mandamentos, abrange todas as circunstâncias da vida. A Lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante, porque ela resume todas as outras.

5) Que relação existe entre justiça, amor e caridade?

A justiça procura simplesmente ajustar-se à lei. A lei, contudo, é fria, diz respeito a uma norma. Observe, porém, o provérbio inglês: "Law on the table, justice under the table" ("Lei sobre a mesa, justiça sob a mesa"). A obediência cega a uma lei pode acarretar uma injustiça para com os seres humanos. Nesse caso, o amor e a caridade entram como um complemento da Lei de Justiça. Na pergunta 886 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec diz: "O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: ‘Amai-vos uns aos outros, como irmãos’".

6) Como distinguir a justiça humana da justiça divina?

A justiça humana está sujeita às limitações do ser humano. Serve para uma sociedade durante um determinado período de tempo, conforme o grau de desenvolvimento moral e espiritual alcançado pelas pessoas que ali vivem. A justiça divina é a justiça estabelecida por Deus, é um modelo a ser seguido. A função dos seres humanos é aproximar-se cada vez mais dessa justiça maior, a justiça das justiças.

7) Qual o critério da verdadeira justiça?

"O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar para o próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo". (Kardec, 1995, perguntas 873 a 876)

8) O que é a caridade, segundo Jesus?

"A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes, porque temos necessidade da indulgência, e nos proíbe humilhar o infortúnio, ao contrário do comumente se pratica... O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distancia entre ambos". (Kardec, 1995, pergunta 885)

9) Deve o homem sofrer ou fugir à injustiça?

Lembremo-nos do diálogo entre Sócrates e sua esposa. Ao visitá-lo na prisão, ela diz que aquela acusação era injusta e que ele deveria fugir de lá. Como filósofo que era, retrucou: e você gostaria que a acusação fosse justa?

(Reunião de 21/09/2008)

Fonte de Consulta

Enciclopédias

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995. (https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/lei-de-justi%C3%A7a-amor-e-caridade?authuser=0 )


Texto Curto no Blog

Lei de Justiça, Amor e Caridade

Justiça – do lat. justitia – significa, de modo restrito, a constante e perpétua vontade de conceder o direito a si próprio e aos outros, segundo a igualdade. Amor– do lat. amore –, sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa. Caridade – do lat. caritate –, no vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus.

Kant, na Doutrina do Direito, define a ação justa como qualquer ação que permite a livre vontade de cada um coexistir com a liberdade de qualquer outro segundo uma lei universal. Santo Agostinho, por seu lado, diz que a justiça é a virtude que dá a cada um aquilo que lhe é devido. Em realidade, a justiça visa estabelecer certa igualdade entre o forte e o fraco, o que tem poder e o que está despossuído dele.

A justiça pertence às virtudes cardeais e a caridade às virtudes teologais. As virtudes cardeais, princípio de todas as virtudes, dizem respeito à temperança, à fortaleza, à prudência e à própria justiça. Entre essas, a justiça ocupa lugar de destaque, pois dá equilíbrio às demais. As virtudes teologais, consideradas como dons infusos por Deus, dizem respeito à fé, à esperança e à própria caridade. Dentre elas, a caridade é a mais perfeita. Se à justiça e à caridade acrescentarmos o amor, teremos os fundamentos básicos da conduta humana em sociedade.

Os gregos usavam diferentes vocábulos para designar o amor. Philia referia-se à amizade, ao amor ternura; eros, ao amor carnal, sexual; agapé, ao amor divino, sem contrapartida, incondicional. Aristóteles, em Ética a Nicômaco, comparando o amor amizade à justiça, não hesita em afirmar que a amizade é mais necessária e importante, pois os inimigos podem ser justos entre si, mas a concórdia e a comunhão só podem coexistir com a amizade e o amor. Dizia que ser justo é bom, mas amar é ainda melhor. "Se somos amigos, não precisamos de justiça; justos, precisamos ainda da amizade".

A justiça, sendo fria e calculista, necessita do amor e da caridade que lhe complementam, porque amar o próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos nos fosse feito. A caridade é, primariamente, o amor a Deus e, sem mudar a direção, secundariamente, é o amor ao próximo e a si mesmo. Ela não se restringe à filantropia, mas abrange todas as nossas relações com os nossos semelhantes, quer sejam inferiores, iguais ou superiores.

Allan Kardec, na pergunta 648 de O Livro dos Espíritos, esclarece-nos que a divisão da lei de Deus em dez partes é a mesma da de Moisés e pode abranger todas as circunstâncias da vida. Dentre tais leis, a Lei de Justiça, Amor e Caridade é a mais importante; é por ela que o homem pode avançar mais na vida espiritual, porque ela resume todas as outras.

O justo dá a cada coisa o lugar que lhe compete. Ordena na medida certa. Situando-se além das oposições e dos contrários, realiza em si a unidade, que é una e total. O verdadeiro justo simboliza o homem perfeito, que põe ordem, primeiro em si, depois em torno de si. Seu papel é o de uma verdadeira potência cósmica.

A justiça dá base ao amor, para que este se transforme na caridade, que é o amor em ação. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2009/08/lei-de-amor-justica-e-caridade.html)


Em Forma de Palestra

Lei de Justiça, Amor e Caridade

1. Introdução

O objetivo deste estudo é analisar o inter-relacionamento entre a justiça, o amor e a caridade. Para tanto, iremos definir cada um dos termos, colocá-los dentro de um contexto histórico, elaborar alguns pensamentos sobre as virtudes cardeais e teologais para, por fim, mostrar como é importante a junção desses três termos.

2. Conceito

Justiça – É a constante e perpétua vontade de conceder o direito a si próprio e aos outros, segundo a igualdade. É virtude subjetiva, portanto.

Amor – É uma força tendente a aproximar e a unir, numa relação particular, dois ou mais seres.

Caridade – No vocabulário cristão, o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem e procura identificar-se com o amor de Deus.

3. Histórico

3.1. Justiça

Na história do pensamento filosófico o conceito de justiça apresenta uma interessante evolução. Prescindindo da noção bíblico-teológica de justiça, é mister ascender até a Grécia se quisermos seguir a sobredita evolução na cultura ocidental.

a) a palavra dikaiosyne, que nos escritores da idade clássica traduz o conceito de justiça, não aparece nem em Homero, nem em Hesíodo. Neles o conceito mais afim de justiça é expresso por dois vocábulos: Dike e Themis. O 1.º significa "decisão judicial", o 2.º o "bom conselho", que inspira a decisão prudente. A partir do séc. VI a. C., começa a divulgar-se a palavra dikaiosyne, mas não tem o sentido jurídico que hoje damos ao termo justiça. Dikaiosyne significava propriamente um "princípio universal de ordem e harmonia" entre o fato e a norma que lhe diz respeito. Este aspecto geral atinge a sua expressão máxima no sistema platônico. Essa noção geral manteve-se firme durante muitos séculos, embora se fosse paralelamente outro aspecto mais restrito.

b) Este segundo aspecto começa a ser sistematizado a partir de Aristóteles, utilizando, aliás, elementos já existentes em germe na filosofia pré-socrática e, designadamente pitagórica. Consiste em sublinhar a índole social da justiça frisando que ela é primariamente correspondência entre dois termos contrapostos precisando estabelecer igualdade no que reciprocamente lhes é devido. Deste modo se passa de um princípio universal para uma virtude particular.

c) Estas duas concepções coexistiram lado a lado durante séculos e aparecem ainda notadamente em Leibnitz. Mas o aspecto universal foi-se gradualmente esquecido e hoje prevalece ordinariamente a noção de justiça em sentido estrito ou jurídico.

A partir do século XIX foi-se divulgando cada vez mais a expressão justiça social, em relação contra os abusos do capitalismo liberal. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura)

3.2. Amor

A história da cultura ocidental apresenta duas raízes: a grega e a judeo-cristã ou bíblica.

A concepção grega está assentada no Eros platônico. Eros começa por ser pobre. Mas, sumamente engenhoso e ativo, ele encontra sempre meio de transcender e de se transcender até atingir o mundo das idéias, designadamente o belo, o verdadeiro e o bem. Ascende "gerando beleza". Ascende, deixando atrás de si – e abaixo de si – um mundo de troféus e de despojos, de aspirações satisfeitas e de imperfeições superadas, de aparências e de ilusões que foram dando progressivamente lugar a realidades autênticas e a formas e idéias verdadeiras.

A concepção grega baseia-se: 1) o mundo é eterno e não criado; 2) que o amar implica em conhecer e o conhecer implica o amar.

A concepção judeo-cristã não partirá nem do mundo nem do homem. Partirá de Deus, Transcendência absoluta. Ele próprio relação amorosa, em si, por si e para si, e que, sendo livre, também por Amor cria para fora de si uma realidade – o Mundo. O amor humano, fundado no amor divino, será pluridirecional e pluridimensional, será ativo e será histórico, será concreto e terá na imitação do próprio Deus, designadamente através de Cristo - imitatio Christi - o seu grande motor.

Do entrelaçamento das duas concepções – helênica e judeo-cristã – é feita a história do amor no Ocidente até os nossos dias, pelos menos, até aos chamados "tempos modernos", com o predomínio ora de uma ora de outra segundo as condições sócioculturais das épocas respectivas. (Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado)

3.3. Caridade

As obras de misericórdia são comuns a todos os povos e a todas as religiões. Os princípios da lei natural impressos no coração do homem manifestam-se mesmo entre algumas tribos selvagens, onde encontram rasgos duma caridade mais ou menos perfeita. Em todos os povos mongólicos é castigada a falta de proteção aos estrangeiros e uma lei regula a beneficência. Os habitantes do norte da África, principalmente em Marrocos, têm o socorro mútuo como principal regulador da vida social, merecendo especial atenção os necessitados: quando uma família mata um boi, o fato torna-se logo público afim de que os pobres e os doentes da localidade acudam em busca de carne.

A caridade entre os judeus foi a verdadeira piedade a favor dos pobres e a obediência a Deus. Os ricos eram apenas administradores dos seus bens, visto que Deus era o único proprietário. Para os maometanos, era uma obrigação mútua e limitada entre os fiéis do Islã. O motivo da caridade cristã é o amor da alma a Jesus, Salvador do homem. O pobre é um irmão ante Cristo, e a Humanidade, por ele reunida, constitui uma grande família em que o cristãos consideram o resto dos homens, como uma irmandade. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

4. A Justiça e as Virtudes

4.1. Justiça Normativa e Justiça Descritiva 

A justiça é um fim social, da mesma forma que a igualdade ou a liberdade ou a democracia ou o bem-estar. A diferença é que a justiça é normativa enquanto os outros são descritivos. O que isto significa? Significa dizer que podemos medir a igualdade através de comparações de rendimento, a liberdade em termos de liberdade de expressão, o bem-estar através do nível de consumo etc. A justiça, de seu lado, implica num juízo de valor. Nesse sentido, o senso de injustiça nada mais é do que o sentimento de que algo está errado, não meramente com referência à nossa condição pessoal, mas com o mundo em geral.

Há possibilidade de definirmos a justiça em termos descritivos? Não, pois implica uma contradição, ou seja, se "justo" tiver o mesmo significado de "igual", isto implica uma norma igualitária. Logicamente seria por isso incoerente para qualquer um considerar injustas tanto as normas igualitárias como as normas não-igualitárias. Evidentemente que estas definições não são aceitáveis. Evidentemente que não podemos ir do "ser" para o "dever ser" e dos fatos para os valores. Contudo, quando a expressamos em termos igualitários, não a estamos definindo, mas comunicando um juízo normativo, sob a capa verbal de definições, tendo como finalidade geral uma eficácia retórica. (BOBBIO, 1986)

4.2. Virtudes Cardeais e Virtudes Teologais 

As Virtudes — potências racionais que inclinam o homem para o bem, quer como indivíduo, quer como espécie, quer pessoalmente, quer coletivamente, podem ser divididas em:

a) Virtudes Cardeais

A virtude moral predispõe o indivíduo à prática do bem. Há duas ordens de moralidade, a natural e a infusa. Por isso, temos duas espécies de virtudes: adquiridas e infusas. Entre as virtudes adquiridas, distinguem-se principalmente quatro: prudência, justiça, fortaleza e temperança. Cognominadas de cardeais (de cardo, gonzo), por ser em redor delas que giram todas as outras, tais como a paciência, a tolerância, a brandura etc. Dentre todas elas a Justiça ocupa lugar de destaque, pois todas as outras giram primariamente sobre esta. (Santos, 1965)

b) Virtudes Teologais

Entre as virtudes infusas estão a , a esperança e a caridade, cognominadas de teologais, porque não são o produto de uma prática, mas um dom infuso de Deus nos seus filhos. (Santos, 1965)

4.3. A Base da Justiça Funda-se na Lei Natural 

O sentimento de justiça é natural ou resulta de ideias adquiridas? É tão natural que nos revoltamos ante uma injustiça. 0 progresso moral desenvolve a justiça, mas não a cria. Por isso, muitas vezes, entre os homens simples e primitivos encontramos noções mais exatas de justiça do que entre os de muito saber.

No que consiste a justiça? A Justiça consiste no respeito aos direitos de cada um. Esses direitos são determinados pela lei humana e pela lei natural. Como os homens fizeram leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que podem variar com o progresso.

Fora do direito consagrado pela lei humana, qual a base da justiça fundada sobre a lei natural? O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar para o próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo. (Kardec, 1995, perguntas 873 a 876)

5. Amor e Caridade 

A palavra amor é polissêmica e presta-se a muitos significados; do mesmo modo a caridade, pode ser identificada com a assistência social ou a esmola. No âmbito da Doutrina Espírita, convém nos atermos ao seu significado puramente espiritual, ou seja, aquele emprestado por Allan Kardec.

É nesse sentido que podemos definir o amor como "a totalidade dos sentimentos e desejos que estruturam o pensamento para a liberação de energia e de forças que guiam a ação na produção do bem e possibilitam a aquisição de qualidades, constituintes do crescimento do Espírito". (Curti, 1981, p.81)

O amor deve ser visto como uma energia radiante expressa pelo nosso pensamento, alicerçado na vontade e no discernimento.

A caridade, de seu lado, é definida pelo Espírito Emmanuel como "o coração no teu gesto". É preciso ampliar este conceito, modificando nossas atitudes para com tudo aquilo que nos cerca. Assim, devemos ter piedade para aquele que desespera; benevolência, para aquele que erra; tolerância, para quem não nos entende etc.

6. Relação entre Justiça, Amor e Caridade 

Temos notícias de que habitualmente a justiça é representada com os olhos vendados e com uma balança na mão. Essa imagem significa que a justiça não faz discriminação de pessoas nem tem preferências afetivas, que ela é muito mais racional e, portanto, fria. Ao contrário do amor, que se estabelece em uma dimensão essencialmente pessoal e de preferência afetiva. No entanto, isoladamente, a justiça corre risco de esquecer muitos aspectos pessoais e muitas considerações que só o amor é capaz de descobrir. Allan Kardec diz que "o amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: "Amai-vos uns aos outros, como irmãos"". (Kardec, 1995, pergunta 886)

Vejamos algumas das diversas relações entre Justiça e caridade.

1) A caridade, ou amor ao próximo, já prefigurada na doutrina dos estóicos, mas erguida pelo cristianismo ao seu máximo valor, é uma virtude que, com a justiça, regula o procedimento moral do homem para com os outros seres e, especialmente, para com os outros homens.

2) A justiça, a que correspondem os deveres estritos é a obrigação social e diz respeito à ação, ao passo que a caridade, a que correspondem os deveres largos, é a obediência à obrigação individual e só tem em conta a intenção.

3) A justiça é obrigatória e exigível; a caridade, porém, se é obrigatória em relação a quem a dá, não é exigível em relação a quem recebe.

4) A justiça é estrita e tem como regra o respeito da lei; a caridade não conhece nem limite nem regra e ultrapassa as obrigações estritas da lei.

5) A caridade supõe a justiça e completa-a; antes de exercer a caridade é necessário saber respeitar a liberdade e os direitos alheios.

6) Sem a caridade, a justiça seria demasiado rígida e até iníqua: onde a justiça fica inativa – perante a miséria, por exemplo – a caridade julga-se imperiosamente obrigada a intervir.

7) A caridade briga muitas vezes com a justiça: a caridade para com umas pessoas gera, amiúde, a injustiça para com outras, como no caso do chefe de família que, por filantropia, dissipa em dádivas a herança dos filhos. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

7. Conclusão 

O senso de injustiça mostra que algo está errado, não meramente conosco, mas com o mundo em geral. Ele mostra o descontentamento entre o ideal imaginado e a situação observada. É nesse momento que entra o sentimento de justiça, que deve ser contrabalançado pelo amor e a caridade, no sentido de atingir o bem comum.

8. Bibliografia Consultada 

BOBBIO, N., MATTEUCI, N. e PASQUINO, G. Dicionário de Política. 2. ed., Brasília, UNB, 1986.

CURTI, R. Espiritismo e Reforma Íntima. 3. ed., São Paulo, FEESP, 1981.

Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado. Lisboa/São Paulo, Verbo, 1986.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.