Intuição

Perguntas e Respostas

1) Em que consiste a intuição?

A intuição é um meio de chegar ao conhecimento de algo, e se contrapõe ao conhecimento discursivo. Num único ato do espírito, lança-se sobre o objeto, apreende-o, fixa-o, determina-o.

2) O que é o método discursivo?

Discorrer e discurso dão a ideia de uma série de atos, de uma série de esforços sucessivos para captar a essência ou realidade do objeto.

3) Há somente uma intuição?

Não. O que existe na realidade são intuições.

4) O que é a intuição sensível?

É a intuição que todos praticamos a cada momento. Quando com um só olhar percebemos um objeto, um copo, uma árvore, uma mesa.

5) A intuição sensível é a mesma de que falam os filósofos?

Não. 1) O filósofo precisa de tomar como termo do seu esforço objetos não sensíveis. 2) Os dados sensíveis não oferecem conhecimento. Precisa de um dado universal.

6) Como situar a intuição espiritual?

Suponhamos a seguinte afirmação: “Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo.” O princípio de contradição, como o chamam os lógicos, é, pois, intuído por uma visão direta do espírito, é uma intuição.

7) O que diferencia a intuição formal da intuição real?

A intuição formal capta apenas o objeto. A intuição real penetra no fundo da coisa, que chega a captar sua essência, sua existência, sua consistência.

8) O que se entende por intuição intelectual?

A intuição intelectual é um esforço para captar diretamente, mediante um ato direto do espírito, a essência, ou seja, aquilo que o objeto é.

9) Como se entende a intuição emotiva?

A intuição emotiva mostra-nos não a essência do objeto, mas o valor do objeto, aquilo que o objeto vale.

10) E a intuição volitiva?

Não se refere nem à essência, como a intuição intelectual, nem ao valor, como a intuição emotiva. Refere-se à existência, à realidade existencial do objeto.

11) Quais são os representantes da intuição intelectual?

A intuição intelectual pura encontramo-la na Antiguidade, em Platão; na época moderna, em Descartes e nos filósofos idealistas alemães, sobretudo em Schelling e Schopenhauer.

12) Quais são os representantes da intuição emotiva?

Plotino, Santo Agostinho, São Tomas de Aquino, Spinoza ["Sentimus experimur que nos esse aeternos.” Que quer dizer: “Nós sentimos e experimentamos que somos eternos.”]

13) Quais são os representantes da intuição volitiva?

Fichte faz depender a realidade do universo e a própria realidade do eu de uma afirmação voluntária do eu. O eu voluntariamente se afirma a si mesmo; cria-se, por assim dizer, a si mesmo

Fonte de Consulta

GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia - Lições Preliminares. 4. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1970. [Lição III — A intuição como método da filosofia]

(Reunião de setembro de 2023)

https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/intui%C3%A7%C3%A3o


Texto Curto no Blog

Intuição

Garcia Morente, no capítulo terceiro do livro “Fundamentos da Filosofia”, faz um estudo detalhado sobre a intuição como método da filosofia. Eis um pequeno resumo.

A intuição é um meio de se chegar ao conhecimento de algo, e se contrapõe ao conhecimento discursivo. Num único ato do espírito, lança-se sobre o objeto, apreende-o, fixa-o, determina-o. Quanto ao método discursivo, podemos dizer que discorrer e discurso dão a ideia de uma série de atos, de uma série de esforços sucessivos para captar a essência ou realidade do objeto.

Esclarece-nos que não há apenas uma intuição, mas intuições, as quais denomina de intuição sensível, espiritual, intuição real, intuição intelectual, intuição emotiva, intuição volitiva. Posteriormente, enumera os filósofos defensores de cada uma dessas intuições. Estudemos cada uma dessas intuições.

Intuição sensível é a intuição que todos praticamos a cada momento. Quando com um só olhar percebemos um objeto, um copo, uma árvore, uma mesa. Esta intuição sensível não é a mesma de que fala os filósofos. As razões: 1) O filósofo precisa de tomar como termo do seu esforço objetos não sensíveis; 2) Os dados sensíveis não oferecem conhecimento. Precisa de um dado universal.

Situemos a intuição espiritual. Suponhamos a seguinte afirmação: “Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo.” O princípio de contradição, como o chamam os lógicos, é, pois, intuído por uma visão direta do espírito, é uma intuição.

Útil se nos torna diferenciar intuição formal da intuição real. A intuição formal descreve o objeto. A intuição real penetra no fundo da coisa, que chega a captar sua essência, sua existência, sua consistência.

Continuando nosso estudo. A intuição intelectual é um esforço para captar diretamente, mediante um ato direto do espírito, a essência, ou seja, aquilo que o objeto é. A intuição emotiva mostra-nos não a essência do objeto, mas o valor do objeto, aquilo que o objeto vale. Intuição volitiva. Não se refere nem à essência, como a intuição intelectual, nem ao valor, como a intuição emotiva. Refere-se à existência, à realidade existencial do objeto.

Os representantes dessas intuições. A intuição intelectual pura encontramo-la na Antiguidade, em Platão; na época moderna, em Descartes e nos filósofos idealistas alemães, sobretudo em Schelling e Schopenhauer. A intuição emotiva encontramo-la em Plotino, Santo Agostinho, São Tomadas de Aquino, Spinoza (Sentimus experimur que nos esse aeternos.” Que quer dizer: “Nós sentimos e experimentamos que somos eternos.”). A intuição volitiva está em Fichte que faz depender a realidade do universo e a própria realidade do eu de uma afirmação voluntária do eu. O eu voluntariamente se afirma a si mesmo; cria-se, por assim dizer, a si mesmo

É preciso considerar que estas três classes de intuição que repartem em grandes linhas o campo metódico filosófico contemporâneo têm, cada uma delas, sua justificação num lugar do conjunto do ser. O erro consiste em querer aplicar uniformemente uma só delas a todos os planos e a todas as camadas do ser.

Fonte de Consulta

GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia - Lições Preliminares. 4. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1970. [Lição III — A intuição como método da filosofia]

https://sbgfilosofia.blogspot.com/2023/06/intuicao.html

Noesis. A operação do nous, pensar (como oposto à sensação), intuição (como oposto ao raciocínio discursivo).


Notas do Blog

Bérgson, Henri

O intuicionismo de Bérgson. No início do século XX, muitos pensadores achavam que a filosofia deveria caminhar à margem do positivismo das ciências. Henri Bérgson destacou-se na reconstrução filosófica. Baseou-se na intuição para captar a essencialidade do tempo. A intuição é o instinto da inteligência. Ele acha que não podemos afirmar a superioridade da inteligência em relação ao instinto: existem coisas que somente a inteligência é capaz de buscar, mas por si só não encontrará nunca; somente o instinto poderia descobri-la, mas não as buscará nunca. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2020/02/bergson-henri.html)

Conceito de Filosofia

Na Idade Moderna, as ciências se desprendem do tronco comum da Filosofia. Restam à Filosofia as reflexões sobre a Ontologia ou Teoria do Ser, a Gnoseologia ou Teoria do Conhecimento e a Axiologia ou Teoria dos Valores. O método utilizado é o da intuição: intelectual, emotiva e volitiva. Discutem-se problemas relacionados ao ser, ao pensamento e à conexão entre ambos. A finalidade é a transformação da sociedade pela autoconsciência do indivíduo. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2008/06/conceito-de-filosofia.html)

Intuição e Inspiração

Intuição significa um conhecimento direto, imediato do conjunto das qualidades sensíveis e essenciais dos objetos e das suas relações, sem uso do raciocínio discursivo. Inspiração quer dizer soprar para dentro. É o estado de exaltação emotiva, de íntima e misteriosa iluminação, em que, pela intuição estética, o artista apreende o seu objeto de modo impreciso, mas em plenitude. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/intuio-e-inspirao.html)

Ideias Inatas

Ideias Inatas — Segundo a filosofia, são as ideias com as quais a gente nasce, que não se aprende. Para o Espiritismo, são o resultado dos conhecimentos adquiridos nas existências anteriores; são ideias que se conservam no estado de intuição para servirem de base à apreciação de outras novas. As ideias inatas não são mais do que a herança intelectual e moral que vêm das nossas vidas passadas. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2005/10/idias-inatas.html)

Notas de Livros

O Livro dos Espíritos

Terceira Ordem de Espíritos: Espíritos Imperfeitos Predominância da matéria sobre o Espírito. Propensão ao mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões consequentes. Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem. (VI Escala Espírita)

A purificação dos Espíritos reflete-se na perfeição moral dos seres em que estão encarnados. As paixões animais se enfraquecem, o egoísmo dá lugar ao sentimento fraternal. É assim que, nos mundos superiores ao nosso, as guerras são desconhecidas, os ódios e as discórdias não têm motivo, porque ninguém pensa em prejudicar o seu semelhante. A intuição do futuro, a segurança que lhes dá uma consciência isenta de remorsos fazem que a  morte não lhes cause nenhuma apreensão; eles a recebem sem medo e como uma simples transformação. (Questão 182 de III — Encarnação nos Diferentes Mundos)

Não, pois os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem; o Espírito, liberto da matéria, sempre se recorda. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que lhe fica ajuda o seu adiantamento. Sem isso, ele sempre teria de recomeçar.  (Questão 218a  de IX — Ideias Inatas)

Esta doutrina é tão antiga quanto o mundo. É por isso que a encontramos por toda parte, e é esta uma prova da sua veracidade. O Espírito encarnado, conservando a intuição do seu estado de Espírito, tem a consciência instintiva do mundo invisível. Mas quase sempre ela é faiscada pelos preconceitos, e a ignorância mistura a ela a superstição (Questão 221a de IX — Ideias Inatas)

O respeito instintivo do homem pelos mortos em todos os tempos e entre todos os povos é um efeito da intuição da existência futura?

É a sua consequência natural. Sem ela, esse respeito não teria sentido. (Questão 329 de IX — Comemoração dos Mortos — Funerais)

O esquecimento das faltas cometidas não é obstáculo à melhoria do Espírito, porque, se ele não tem uma lembrança precisa, o conhecimento que delas teve no estado errante e o desejo que concebeu de as reparar, guiam-no pela intuição e lhe dão o pensamento de resistir ao mal. Este pensamento é a voz da consciência, secundada pelos Espíritos que o assistem, se ele atende às boas inspirações que estes lhe sugerem. (Questão 399 de VIII — Esquecimento do Passado)

O Livro dos Médiuns

Ora, uma intuição não poderia ser tão generalizada, nem sobreviver através dos tempos, sem ter alguma razão.  (Capítulo I — Ação dos Espíritos Sobre a Matéria)

184. O pressentimento é uma vaga intuição de acontecimentos futuros. Certas pessoas têm essa faculdade mais ou menos desenvolvida. Pode-se tratar de uma espécie de dupla vista que lhes permite ver as consequências do presente e o encadeamento natural dos acontecimentos. (Capítulo XV — Médiuns Escreventes ou Psicógrafos)

O Evangelho Segundo o Espiritismo

O homem é uma alma encarnada. Antes de sua encarnação, ela existia junto aos modelos primordiais, às ideias do verdadeiro, do bem e do belo. Separou-se delas ao encarnar-se, e lembrando seu passado, sente-se mais ou menos atormentada pelo desejo de a elas voltar.

Não se pode enunciar mais claramente a distinção e a independência dos dois princípios, o inteligente e o material. Além disso, temos aí a doutrina da preexistência da alma; da vaga intuição que ela conserva, da existência de outro mundo, ao qual aspira; de sua sobrevivência à morte do corpo; de sua saída do mundo espiritual, para encarnar-se; e da sua volta a esse mundo, após a morte. É, enfim, o germe da doutrina dos anjos decaídos. (Resumo da Doutrina de Sócrates e Platão)

No fundo tenebroso dessas inteligências encontra-se, latente, a vaga intuição de um Ser Supremo, mais ou menos desenvolvida. Esse instinto é suficiente para que uns se tornem superiores aos outros, preparando-se para a eclosão de uma vida mais plena. Porque eles não são criaturas degradadas, mas crianças que crescem. (Instruções dos Espíritos: Mundos Superiores e Inferiores)

Emmanuel 

Cada individualidade deve alargar o círculo das suas capacidades espirituais, porquanto, poderá, como recompensa à sua perseverança e esforço, certificar-se das sublimes verdades do mundo invisível, sem o concurso de quaisquer intermediários. ("Desenvolvimento da Intuição", item VII — "Labor das Almas", na parte  "Doutrinando a Fé")

O Consolador

122 — Que se deve fazer para o desenvolvimento da intuição?

— O campo do estudo perseverante, com o esforço sincero e a meditação sadia, é o grande veículo de amplitude da intuição, em todos os seus aspectos. ("Aprendizado", I — Vida, Segunda Parte — Filosofia)

Roteiro

Antes de tudo, é preciso compreender que tanto quanto o tato é o alicerce inicial de todos os sentidos, a intuição é a base de todas as percepções espirituais e, por isso mesmo, toda inteligência é médium das forças invisíveis que operam no setor de atividade regular em que se coloca. (Capítulo 27 —  Mediunidade)

O Problema da Verdade, de Jacob Bazarian 

A ideia ou noção da intuição é uma das mais confusas de todas as noções filosóficas.

Intuição é uma espécie, uma forma, um modo de conhecimento, que completa as demais espécies e modos de conhecimento  (sensível e racional). A intuição é uma função especial de nossa mente. A capacidade intuitiva é um fenômeno psíquico natural que todos os homens têm, em maior ou menor grau, conforme certas condições. 

Condições para a manifestação da intuição:

1) Ter um problema pessoal ou profissional para resolver.

2) Desejar imperiosamente solucionar o problema.

3) Colocar correta e concretamente o problema. 

4) Acumular ricos conhecimentos práticos e teóricos sobre o problema que nos preocupa. 

5) Concentrar todas as forças psíquicas, trabalhando e meditando longa e intensivamente na solução do problema. 

6) Desconcentrar a mente, passando para outro tipo de atividade. 

7) Ter mente flexível e aberta para o novo. 

Em resumo: para merecer a visita da intuição — a musa da adivinhação, da descoberta e da criação — é preciso saber trabalhar, meditar e descansar. 



 Intuição e Inteligência Artificial

A inteligência artificial pode ser entendida como um enorme banco de dados que, por meio de associações e análises combinatórias, oferece informações sobre os dados que possui. Não é uma inteligência propriamente dita, pois a raiz da palavra inteligência pressupõe uma escolha do indivíduo. A inteligência artificial não tem essa capacidade de escolha, limita-se a oferecer o que já tem guardado em sua memória virtual.  

A intuição, tanto quanto a imaginação e outras representações simbólicas, pressupõe uma relação vertical com o mundo das ideias, como nos ensinou Platão no Mito da Caverna, com um plano espiritual, um plano mental. No caso da inteligência artificial, a relação é horizontal. Mostra apenas o que tem, não cria algo. Observe a diferença entre o símbolo e o logotipo. No símbolo, há um relação vertical, que une dois planos: o material e o espiritual. No logotipo, há somente o plano material, que é a relação da empresa com os seus consumidores.

A ciência valoriza muito a razão, mas utiliza sobremaneira a intuição.

Fonte: "Visão Simbólica X Inteligência Artificial" — Professora Lúcia Helena Galvão da Nova Acrópole.

Link do vídeohttps://www.youtube.com/watch?v=HW0xqoTDEw8&t=2364s


Dicionário

Intuição. (do latim intueri, ver.) Esse termo cujos significados são diversos designa de uma maneira geral um modo de conhecimento imediato e direto que coloca no mesmo momento o espírito em presença do seu objeto.

A intuição empírica, que nos entrega o mundo da experiência, comporta a intuição externa ou sensível (dados dos sentidos) e a intuição interna ou psicológica (fenômenos mentais conscientes relativa a vida interior).

A intuição racional percebe as relações e apreende os princípios primeiros que constituem a estrutura da razão.

A noção de intuição metafísica aplica-se em contextos filosóficos diferentes. Em Descartes, é a própria intuição racional, a "concepção firme de um espírito puro e atento, que nasce apenas da luz da razão; marcada pelo selo da evidência, é o conhecimento das ideias claras e distintas, ou então a visão sintética do espírito que verifica o encadeamento lógico de uma demonstração. 

A intuição pura, na concepção kantiana, é a das formas a priori da sensibilidade que, aplicando-se a intuição empírica, estrutura o diverso sensível de acordo com o espaço e o tempo. O alcance metafísico da intuição afirma-se com o intuicionismo bergosoniano que, contra a inteligência conceitual aplicável com frutos apenas ao domínio da quantidade e do espaço, coloca a intuição como uma "espécie de simpatia intelectual", que constitui não apenas o estofo da consciência, mas ainda a própria essência de qualquer realidade.

A noção também é utilizada para designar na matemática o conhecimento das noções primeiras a partir das quais se constrói todo o edifício matemático. 

Quanto à intuição mística, aplica-se, na concepção própria ao misticismo, à experiência inefável de Deus. A intuição divinatória, finalmente, é quer um pressentimento, quer um conhecimento global, instantâneo e aparentemente imediato que repousa o espírito de sutileza. "Instrumento da invenção" (Poincaré), permite, por exemplo, descobrir de repente a solução de um problema, depois de, em geral, um longo período de pesquisa. (1)

Intuição. A habilidade de compreender ou produzir novas ideias instantaneamente sem elaboração racional anterior. Sin. Insight, visão. Assim, o “intuitivo” é o oposto ao “racional” e, em particular, ao “exato” e ao “formal”. Entretanto, o intuitivo e o formal são apenas os extremos de uma ampla escala. Além disso, as intuições nunca saem do nada, mas culminam em processos de aprendizagem e pesquisa. E, se promissoras, poderão amiúde ser exatificadas. Isto prova que a intuição e, em geral, a primeira etapa do processo da formação de conceitos. Ademais, a prática da razão fortalece a intuição. O estudioso experiente desenvolve um “sentimento” intuitivo — embora nunca infalível. (2)

Intuitivo. Pré-analítico, o que pode ser apreendido imediatamente. A experiência tem mostrado que a intuitividade depende não só do assunto como do cognoscente: o que é intuitivo para o mestre pode ser o oposto do intuitivo para o aprendiz. De modo que a contra-intuitividade é a marca registrada da originalidade e da profundidade da ciência. (2)

Intuição. O vocábulo “intuição” geralmente designa a visão direta e imediata de uma realidade ou a compreensão direta e imediata de uma verdade. A condição para que haja intuição nos dois casos é que não existam elementos intermediários que se interponham a essa “visão direta”. Foi comum, por isso, contrapor o pensar intuitivo, ao pensar discursivo, mas vários autores preferem contrapor a intuição à dedução (Descartes) ou ao conceito (Kant). Certos filósofos consideram a intuição como um modo de conhecimento primário e fundamental, e a ela subordinam as outras formas de conhecimento, chegando até mesmo a negar sua legitimidade. Outros filósofos, em compensação, consideram a intuição como origem de muitas falácias e pensam que é conveniente substituí-la sempre que possível pelo raciocínio discursivo, pelo conceito ou pela dedução.

Além da definição de “intuição”, e de sua comparação e contraposição a outros modos de conhecimento, os filósofos dedicaram-se a distinguir diversos tipos de intuição. Todas elas supõem uma certa ideia de intuição, um certo juízo de valor sobre ela e certos tipos de contraposição com outras formas de conhecer.

Platão e Aristóteles admitiram tanto o pensar intuitivo como o discursivo, mas enquanto Platão inclinou-se a destacar o valor superior do primeiro e a considerar o segundo como um auxílio para alcançá-lo, Aristóteles sempre procurou estabelecer um equilíbrio entre ambos. (3)

Intuição (e Razão) — (do lat. intuitio que vem de intus e ire, ir dentro, penetrar no âmago de uma coisa). O termo foi empregado na filosofia sempre no sentido da penetração na singularidade do objeto por parte do sujeito, na captação imediata dos aspectos fenomênicos que o objeto exibe. Teve o sentido da captação singular e imediata do sensível, daí chamar-se de intuição sensível. Contudo há os que admitem que além do fenômeno, ela capta também o formal; ou seja, que há também como o propõe Husserl, uma intuição eidética, uma intuição da generalidade. (4)


(1) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(3) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.



Mensagem Espírita

Intuição

Reunião pública de 28/10/60

Questão nº 180

Sempre que te disponhas à tarefa de servir, na mediunidade, és alguém interpretando alguém, junto de alguém.

Vaso em que se transporte a mensagem do Amor Infinito para os caminhantes da Terra, deixa que a compaixão seja em tua alma o fixador do divino auxílio.

*

Contempla os sofredores que te procuram, por mais desarvorados, na categoria de irmãos que trazem na própria dor o sinal da altura a que não puderam chegar.

Diante de todos aqueles que o mundo reprova, pensa no supremo esforço que fizeram para serem bons, sem que pudessem atingir o ideal a que se propunham.

À frente dos companheiros incursos em faltas graves, medita na extrema luta que sustentaram consigo mesmos, antes de se arrojarem à delinquência, e, perante os que se mergulham na corrente do vício, imagina-te à beira das armadilhas em que caíram sem perceber.

Encontrando a mulher que te parece desprezível, reflete nas longas noites de aflição que atravessou, padecendo na resistência moral para não cair no infortúnio, e, surpreendendo o celerado que se te afigura cruel, mentaliza o seio maternal que o acalentou, entre preces e lágrimas, supondo amamentar a boca de um anjo.

Se os problemas do próximo surgem obscuros e inconfessáveis, pede à simpatia te ajude a resolvê-los, porque, em verdade, não lhes conheces o início e nem sabes que forças da sombra se ocultam por trás dos que tombam, chagados de sofrimento.

*

Seja qual for o necessitado, compadece-te; e, se esse mesmo necessitado te fere e injuria, compadece-te ainda mais.

Não julgues ninguém tão excessivamente culpado que não careça de apoio e de entendimento, recordando que a Bondade de Deus, cada manhã, retira a alvorada vitoriosa das trevas da meia-noite.

Intuição é pensamento a pensamento.

E só o pensamento da compaixão é capaz de traduzir, com fidelidade, o pensamento da Luz. (Capítulo 79 Seara dos Médiuns)