Filosofia Espírita

Perguntas e Respostas

1) O que se entende por filosofia? 

Filosofia é a junção das palavras gregas philos e sophia, que significam "amor à sabedoria". 

2) Qual a diferença entre mitologia e filosofia?

Na mitologia, a sabedoria era um atributo dos deuses, que revelavam uma verdade apodítica. Na filosofia, há um esforço pessoal na busca da verdade. 

3) O que é a filosofia hoje? 

Do amor à sabedoria grego, passando pela escolástica e limitando o seu campo de ação, com o surgimento das ciências, sobra-lhe essencialmente a ontologia, a teoria do conhecimento e a axiologia.

4) No que se funda a atitude filosófica?

Funda-se na dúvida, na crítica, na reflexão e na contradição. 

5) O que é a filosofia espírita?

Segundo Gonzales Soriano, "é a síntese essencial dos conhecimentos humanos aplicados à investigação da verdade". 

6) Como se apresenta a filosofia espírita?

A filosofia espírita é uma síntese de tudo o que outros filósofos argumentaram, mas tendo as suas interpretações próprias, alicerçadas nos princípios doutrinários.

7) Onde está  a força do Espiritismo?

Não está no fenômeno, mas na sua filosofia, na sua maneira de interpretar o mundo segundo os ensinos dos Espíritos. 

8) Qual a importância de Kardec?

Allan Kardec juntou conhecimentos esparsos e deu-lhes uma conotação científica. Observou o fenômeno, fez ilações filosóficas e tirou conclusões morais.

9) Qual era o lema de Allan Kardec?

É preferível rejeitar 10 verdades a aceitar uma só como erro. 

10) Como se explica ontologia espírita?

O mistério do ser se aclara com a revelação e a cogitação. A revelação é divina, mas a cogitação é humana. Para o espiritismo, o ser é espírito, corpo espiritual e corpo físico. 

11) Como se entende a teoria do conhecimento espírita?

Ao longo do tempo, a apreensão do conhecimento se dava pela reminiscência de ideias (Platão), em que conhecemos pelo Espirito, e sofística ou empírica, em que conhecemos pelos sentidos. No Espiritismo, o homem é essencialmente um Espírito. 

12) Onde situar as questões axiológicas no Espiritismo?

A axiologia trata dos problemas de ética, estética, direito, política, escatologia etc. Allan Kardec no livro III (As Leis Morais) e no livro IV (Esperanças e Consolações) de O Livro dos Espíritos faz uma síntese de todos esses problemas.

Fonte de Consulta

PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. 1.ed., São Paulo, Paideia, l983. (https://sites.google.com/view/aprofundamentodoutrinario/filosofia-esp%C3%ADrita)


Texto Curto no Blog

Filosofia Espírita

A Filosofia, presentemente, é uma atividade humana que procura direcionar o pensamento para a verdade das coisas. Ela implica a crítica, a dúvida e a contradição. Dentre as suas habilidades, destacamos a análise, a avaliação, a argumentação e a reflexão. Esta postura filosófica é importante, porque nos leva ao aprofundamento radical dos temas e questões levantados. Pode-se dizer, também, que a filosofia é o pensamento debruçado sobre si mesmo.

A Filosofia Espírita, pelo fato de ser filosofia, não pode fugir à conceituação da própria filosofia. Nesse sentido, a filosofia espírita é definida como o pensamento debruçado sobre si mesmo para a compreensão da realidade. No dizer de Gonzales Soriano, "É a síntese essencial dos conhecimentos humanos aplicados à investigação da verdade". A filosofia espírita apresenta-se, assim, como um delta de todo o processo histórico, uma síntese de tudo o que outros filósofos argumentaram, mas tendo as suas interpretações próprias, alicerçadas nos princípios doutrinários.

Praticar o Espiritismo não é provocar fenômenos, escutar os Espíritos ou mesmo desenvolver a mediunidade. A sua força não está no fenômeno, como muita gente pensa, mas na sua filosofia, na sua forma de interpretar o mundo e de analisar as questões relativas ao ser e ao pensamento. A filosofia espírita procura direcionar o nosso pensamento para a compreensão do ser existencial, colocado no mundo das formas, mas sem perder o elo com sua essência divina. Em outras palavras, estamos encarnados, mas a nossa essência pertence ao mundo espiritual, o verdadeiro mundo.

O Espiritismo é um processo lento que se formou ao longo do tempo. A ideia espírita sempre existiu no seio sociedade. Muitos outros pensadores já a tinham formulado. Allan Kardec, nos diversos volumes da Revista Espírita, remete-nos a Sócrates e Platão, ao Cristo, a Jean Reynaud (escritor francês), a Santo Atanásio (cardeal da igreja de Grécia) e outros, como sendo precursores do Espiritismo. Coube, porém, ao gênio Allan Kardec juntar, organizar e codificar esses conhecimentos esparsos, para dar-lhes uma conotação científica. Observou o fenômeno, fez ilações filosóficas e tirou conclusões morais.

A Filosofia Espírita está assentada em O Livro dos Espíritos. Estudando-o, estaremos filosofando. Contudo, como o Espiritismo é – ao mesmo tempo – ciência, filosofia e religião, não podemos desprezar as outras obras da codificação, principalmente, os 12 volumes da Revista Espírita, que nos oferecem o registro minucioso das pesquisas realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. A Doutrina Espírita aí está. O nosso dever consiste em debruçar o pensamento sobre essas obras, para extrair delas o suco saboroso do conhecimento espírita.

O verdadeiro espírita deve ser um eterno combatente das opiniões pessoais, não só em si mesmo como nos outros. O Espiritismo está nos livros e é sobre o seu conteúdo que devemos edificar o nosso conhecimento doutrinário.

Fonte de Consulta

PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo: Paidéia, 1983. 

Filosofia e Espiritismo

Filosofia - do grego philos (amor) e sofia (sabedoria). Tem o sentido etimológico de "amor à sabedoria". Atualmente é uma ciência que estuda as leis mais gerais do ser, do pensamento e da ação. Divide-se em três partes fundamentais: 1ª) Gnosiologia ou Teoria do Conhecimento; 2ª) Ontologia ou Teoria do Ser; 3ª) Axiologia ou Teoria dos Valores.

A Gnosiologia ou Teoria do Conhecimento estuda a origem, a essência e a validade do conhecimento. Da Antiguidade aos nossos dias, o problema do conhecimento, para a Filosofia, apresenta-se contraditório: conhecemos pelo espírito ou pelos sentidos? Essa dualidade, para a Filosofia Espírita, não existe, pois o homem é essencialmente Espírito. Assim, segundo a Doutrina Espírita, a percepção é faculdade geral do espírito, que abrange todo o seu ser, isto é, o Espírito, oPerispírito e o Corpo Físico.

A Ontologia ou Teoria do Ser estuda a origem, a essência e a causa primária do cosmos, da vida e do pensamento. Para a Filosofia, a dualidade persiste: é o ser que dá origem ao pensamento, ou este àquele? Quem surgiu primeiro: a matéria ou o espírito? Para o Espiritismo, Deus é causa primária de todas as coisas. Dele vertem-se dois princípios: o princípio material e o princípio espiritual. Diz-nos que a ligação entre ambos é feita através do perispírito.

No conhecimento do perispírito está a solução para muitos de nossos problemas, inclusive os filosóficos. Ele é o elo de ligação entre o ser e o pensamento. Enquanto a Filosofia debate se a origem está na matéria (materialismo filosófico) ou no espírito (idealismo filosófico), o Espiritismo afirma que o ser é essencialmente um Espírito, que deve ser visto no seu tríplice aspecto, ou seja: Espírito, Perispírito e Corpo Físico.

A Axiologia ou Teoria dos Valores estuda a origem, a essência e a evolução dos valores existenciais e indica os princípios da ação. Um estudo pormenorizado das Aleis Morais e, especificamente, a Lei de Justiça, Amor e Caridade, contidas em O Livro dos Espíritos nos fornecerá os princípios da ação voltados para o bem. Automatizando-os em nossos atos cotidianos, poderemos construir uma sociedade mais justa e igualitária.

A atitude filosófica da dúvida, crítica, reflexão e contradição aliada aos princípios codificados por Allan Kardec, fornecem-nos subsídios valiosos para a compreensão de nós mesmos, do nosso próximo, da natureza e do mundo que nos circunda.

Fonte de Consulta

BAZARIAN, J.. O Problema da Verdade. São Paulo, Círculo do Livro, s/d.

KARDEC, A.. O Livro dos Espíritos. São Paulo, FEESP, l972.

PIRES, J. H.. Introdução à Filosofia Espírita. 1.ed., São Paulo, Paideia, l983. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/filosofia-e-espiritismo.html)


Em Forma de Palestra

Filosofia e Espiritismo

1. Introdução

O objetivo deste estudo é mostrar que o Espiritismo — que é ao mesmo tempo Ciência, Filosofia e Religião — faz a síntese histórica da Filosofia. O nosso roteiro segue os seguintes passos: conceito, histórico, a atitude filosófica, os grandes problemas filosóficos e o Espiritismo.

2. Conceito

A origem do conceito de filosofia está na sua própria estrutura verbal, ou seja, na junção das palavras gregas philos e sophia, que significam "amor à sabedoria". Filósofo é, pois, o amante da sabedoria. Mas o que é a sabedoria? É um termo que significa erudição, saber, ciência, prudência, moderação, temperança, sensatez, enfim um grande conhecimento.

Na tradição mitológica, a sabedoria era um atributo dos deuses, que revelavam uma verdade apodíctica, evidente, não suscitando nem interrogações, nem dúvidas. A sabedoria era o dom de conhecer o desconhecido, o incompreensível e, principalmente, de prever o futuro, o destino. Os deuses, na hierarquia mitológica, renunciavam uma parcela de sua sabedoria em favor dos oráculos e de outros eleitos.

Enquanto a consciência do homem é dominada pela mitologia ele não interroga sobre o que é a sabedoria. Foi preciso que surgisse a Filosofia e, com ela, o questionamento do conhecimento aceito como evidente, a fim de que os mitos e as adivinhações cedessem lugar ao pensamento reflexivo. A partir daí, o simples "amor à sabedoria" vai ampliando-se com as contribuições dos vários filósofos, até chegarmos à complexidade da atualidade. (Oïzerman, 1978)

3. Histórico

Na própria Grécia Antiga o termo filosofia passou a designar não apenas o amor ou a procura da sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria. Aquela que nasce do uso metódico da razão, da investigação racional em busca do conhecimento. Platão distingue a doxa, opinião, ou seja, o saber que temos sem tê-lo procurado, e a episteme, a ciência, que é o saber que temos porque o procuramos. Então, a filosofia já não significa "amor à sabedoria", nem tampouco significa o saber em geral, qualquer saber; senão que significa esse saber especial que temos, que adquirimos depois de tê-lo procurado e de tê-lo procurado metodicamente.

Durante a Idade Média o saber humano dividiu-se em dois grandes setores: teologia e filosofia. A teologia é o conhecimento acerca de Deus. A filosofia são os conhecimentos humanos acerca das coisas e da Natureza e até mesmo de Deus por via racional. Nesta situação a palavra "filosofia" continua designando todo o conhecimento, menos o de Deus. E assim adentrou muito o século XVII. (Garcia Morente, 1970, p. 26 a 29)

A partir do século XVII, o campo imenso da filosofia começa a partir-se. Saem do seio da filosofia as ciências particulares: as matemáticas, física, química etc. Assim, atualmente, a filosofia é uma ciência que estuda as leis mais gerais do ser, do pensamento, do conhecimento e da ação. É uma concepção científica do mundo como um todo, da qual se pode deduzir certa forma de conduta. (Bazarian, s. d. p., p. 37)

4. Atitude Filosófica

Atitude

Significa comportamento, postura, modo de proceder de uma pessoa. No âmbito da filosofia, são os questionamentos que fazemos com relação a nós mesmos, à vida, ao outro e ao mundo. Perguntamo-nos: por que existo? Qual a finalidade de minha existência? Como proceder em relação ao meu próximo? Devo ajudá-lo? Até que ponto?

Dentro de um estudo mais aprofundado da Filosofia, esta atitude pode ser resumida nos seguintes termos:

Dúvida

Estado do pensamento que, espontaneamente ou deliberadamente, não tem certeza de se adequar ao seu objeto (ou de que o seu objeto lhe seja adequado). (Legrand, 1986) Desconfiar da autoridade e não acreditar de imediato em tudo o que nos falam é um bom exercício.

Crítica

Designa todo o estado de um juízo que vise estabelecer o seu valor ou a sua legalidade de ponto de vista lógico. (Legrand, 1986). Em termos do pensamento crítico, deveríamos passar tudo pelo crivo da razão. É por esta razão que se diz que é preferível rejeitar nove verdades a aceitar uma única como erro.

Reflexão

Volta atenta do pensamento consciente sobre si próprio que, tanto sob o ponto de vista psicológico como ontológico constitui a sua principal manifestação. Implica sempre uma "separação" da consciência de si própria, que indica talvez sua essência. (Legrand, 1986) Nesse sentido, devemos estar sempre remoendo as informações, ruminando aqui e ali para ver um outro ângulo da questão, buscando o aprofundamento e dando respostas corretas.

Contradição

Em lógica, chama-se proposições contraditórias a duas proposições que não podem ser simultaneamente nem verdadeiras , nem falsas. (Legrand, 1986) Quer dizer, devemos evitar a expressão dúbia das palavras. Ou seja: sermos coerentes com aquilo que falamos.

O verdadeiro filósofo não pode ser nem otimista, nem pessimista. Dever ver tudo como se fosse um problema que o obriga a pensar. Pensar não por pensar, mas com o vigor intelectual de descobrir a verdade. E para conseguir tal fim, deve adquirir uma postura desarmada, sem preconceitos e sem posições já assumidas anteriormente, isto é, deve estar permanentemente aberto aos novos acontecimentos.

5. Ontologia

Ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser. De acordo com J. Herculano Pires em Introdução à Filosofia Espírita, "O problema do ser empolga toda a História da Filosofia e podemos considerá-lo como o elo que mantém a união do pensamento religioso com o filosófico".

Diz-nos ele que o Ser, para Pitágoras, era representado pelo número 1; para Sartre, o Ser é uma espécie desses ovóides de que nos falam os livros de André Luiz; no marxismo e no neopositivismo é o ser humano o que importa. Deduz-se daí que o Ser é sempre, em qualquer sistema ou concepção, o mistério do Um e do Múltiplo.

Na Filosofia Espírita esse mistério se aclara através da revelação e da cogitação A revelação pode ser humana e divina. No caso é divina, pois reservamos para o campo humano a expressão clássica da técnica filosófica: a cogitação. Os Espíritos revelaram a existência do Ser pela comunicação mediúnica (e a provaram pela fenomenologia mediúnica), mas os homens confirmaram essa existência pela cogitação, pela pesquisa mental do problema.

Assim, cada criatura humana é um ser espiritual, mas é também um ser físico ou um ser corporal. A ligação entre o ser espiritual e o ser físico é feita através do corpo perispiritual. Desta forma, o ser não é apenas o Espírito, é também o perispírito e o corpo vital.

O correto, portanto, é dizer "Espírito fulano de tal" e não como a maioria diz "Espírito de fulano de tal. Expressando-nos com o prefixo de, dá-se a impressão que separamos o Espírito do corpo físico, o que não é uma verdade.

No que tange ao conhecimento do Ser Supremo (Deus), a Doutrina Espírita afirma que quando o nosso espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, teremos condições de penetrar no mistério da divindade. (1983, cap. V)

6. Teoria do Conhecimento

A maneira pela qual se adquire o conhecimento é de vital importância não só para a Filosofia como para todos nós.

De acordo com a tradição filosófica, há duas formas de se apreender o conhecimento:

1ª) a platônica ou socrático-platônica, que envolve a questão da reminiscência das ideias (conhecemos pelo Espírito);

2ª) a sofística ou empírica, que se refere apenas aos nossos sentidos (conhecemos pelos sentidos).

Aristóteles tenta conciliar essas duas posições antagônicas com a sua teoria do espírito formativo e do espírito receptivo.

Para Aristóteles, o espírito formativo era a própria alma humana procedente do mundo espiritual, não sujeita às influências do mundo exterior; o espírito receptivo, uma espécie de matéria em que se imprimem as sensações do mundo exterior. Para Aristóteles, as formas do mundo exterior se imprimem na matéria dos sentidos e dão forma a essa matéria.

Na Filosofia Espírita, a dualidade de espíritos da teoria aristotélica não existe. Isto porque os sentidos são apenas instrumentos de captação.

- o homem é essencialmente um espírito;

- espírito é substância do homem e o corpo seu acidente.

A percepção segundo a Filosofia Espírita é uma faculdade geral do Espírito que abrange todo o seu ser. O espírito é, pois, o grande conhecedor, é o princípio inteligente da Natureza, cuja faculdade perceptiva se desenvolve através de fases sucessivas: sensibilidade vegetal, animal e depois humana. O processo gnoseológico iniciado na era tribal se desenvolve através das fases anímica, mágica, mítica, mística ou religiosa, atingindo a científica ou racional e passando então à psicológica ou espírita. (Pires, 1983, cap. III)

7. Axiologia

Axiologia – do gr. axios, valor, valia e logos teoria. Termo muito usado atualmente para designar a teoria do valor, que investiga a natureza, a essência, e os diversos aspectos que o valor pode tomar na especulação humana. Teve início com Platão, na teoria das formas ou ideias subordinadas à forma do Bem, e desenvolvida posteriormente, por Aristóteles, pelos estoicos e epicuristas, que investigaram sobre o summum bonum (supremo bem). Na filosofia escolástica, o Summum Bonum é Deus. No século XIX, pela influência da Economia, da Sociologia e da Psicologia surgiram diversas doutrinas sobre a relatividade dos valores. (Santos, 1965)

A axiologia trata dos problemas de ética, estética, direito, política, escatologia etc. Allan Kardec no livro III (As Leis Morais) e no livro IV (Esperanças e Consolações) de O Livro dos Espíritos faz uma síntese de todos esses problemas. Diferencia-nos com muita clareza o que é o bem e o que é o mal; estimula-nos à prática da justiça do amor e da caridade; dá-nos, em fim, todas as coordenadas para uma atuação mais consciente no seio da sociedade em que somos obrigados a conviver.

8. Conclusão

A Filosofia Espírita é, e sempre será, a grande educadora do homem. Podemos, assim, afirmar que não existe nenhum outro processo tão revolucionário quanto o Espiritismo. Por que? Ele nos oferece as noções do "Ser" e seus deveres com relação a si mesmo, à família, à pátria e ao planeta em que habita. Aproxima-nos de uma verdade integral. De posse do conhecimento espírita, Já não mais pensamos parcialmente, mas como co-participantes de uma verdade maior, assumindo uma responsabilidade não só para com o Planeta em que vivemos como também para com o Cosmo que nos absorve.

9. Bibliografia Consultada

BAZARIAN, J. O Problema da Verdade. São Paulo, Círculo do Livro, s. d. p.

GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia - Lições Preliminares. 4. ed., São Paulo, Mestre Jou, 1970.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.

LEGRAND, G. Dicionário de Filosofia. Lisboa, Edições 70, 1986.

OÏZERMAN, T. Problemas da História da Filosofia. Lisboa, Livros Horizontes, 1978.

PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. 1.ed., São Paulo, Paideia, l983.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965. 



 Filosofia e o Filosofar

1. Introdução

O objetivo destes escritos é demonstrar que não precisamos ser exímios conhecedores da filosofia, nem mesmo ter frequentado uma Universidade, porque o ato de filosofar encontra-se naturalmente em nosso âmago. Basta apenas exercitá-lo pela discussão, pelo debate e pela troca de ideias.

2. Considerações Iniciais

A filosofia não é uma atitude de resignação serena face aos caminhos da existência: não se trata de uma atitude, mas de um saber. A filosofia não é igualmente uma Weltanschauung (visão de mundo), pois que se pretende dela que seja explícita e sistemática. Não se identifica nem com a ideologia, na medida em que não se coloca ao serviço de uma causa, nem com a religião, visto que se esforça por apelar unicamente à razão. Finalmente e, sobretudo, a filosofia diferencia-se da ciência ao explicar a totalidade do real a partir de elementos que não se situam no plano fenomenal. Pode-se, por conseguinte, considerar a filosofia como um saber racional radical, incidindo sobre a totalidade do real e dando deste uma explicação última. (Thines, 1984)

3. Conceito de Filosofia

A origem do conceito de filosofia está na sua própria estrutura verbal, ou seja, na junção das palavras gregas philos e sophia, que significam "amor à sabedoria". Filósofo é, pois, o amante da sabedoria.

3.1. Antiguidade

Os filósofos gregos da Antiguidade fornecem-nos uma visão completa da Filosofia. A atitude desinteressada na busca do conhecimento objetivava à última redução do real, sem compromissos particulares e limitados. Utilizavam o método demonstrativo não apenas aplicando a um plano lógico, mas metafísico. A finalidade era favorecer a reta razão, a perfeição interior e a autoconsciência do homem.

3.2. Idade Média

Na Idade Média não existia uma Filosofia, mas correntes de opiniões, doutrinas e teorias, denominadas de Escolástica. Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho são seus principais representantes. Buscava-se conciliar fé com razão. O método utilizado é o da disputa: baseando-se no silogismo aristotélico, partiam de uma intuição primária e, através da controvérsia, caminhavam até às últimas conseqüências do tema proposto. A finalidade era o desenvolvimento do raciocínio lógico.

3.3. Idade Moderna

Na Idade Moderna, as ciências se desprendem do tronco comum da Filosofia. Restam à Filosofia as reflexões sobre a Ontologia ou Teoria do Ser, a Gnoseologia ou Teoria do Conhecimento e a Axiologia ou Teoria dos Valores. O método utilizado é o da intuição: intelectual, emotiva e volitiva. Discutem-se problemas relacionados ao ser, ao pensamento e à conexão entre ambos. A finalidade é a transformação da sociedade pela autoconsciência do indivíduo. (Mendonça, 1961)

4. O Filosofar

4.1. Atitude Filosófica

O espanto, que caracterizava a busca do saber na antiguidade, é a postura correta do ato de filosofar. A criança, sem defesas e com a sua inquirição desprovida de interesses, é um exemplo a ser seguido. A dúvida, a crítica, a reflexão e a contradição devem ser sempre lembradas. Além disso, deve-se evitar o preconceito.

4.2. Os Questionamentos

No âmbito da filosofia, o que realmente tem valor são os questionamentos que fazemos com relação a nós mesmos, à vida, ao outro e ao mundo. Perguntamo-nos: por que existo? Qual a finalidade de minha existência? Como proceder em relação ao meu próximo? Devo ajudá-lo? Até que ponto? O filosofar é compreender que cada um de nós tem responsabilidade para com os outros, no sentido de respeitar a sua própria condição. Voltaire, o mais livre de todos os pensadores, dizia: "Não concordo com nada do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la".

4.3. Espírito Crítico

O ato de filosofar exige o espírito crítico e não o espírito de crítica. O espírito crítico analisa os prós e os contras, enquanto o espírito de crítica está sempre disposto a denegrir a imagem das coisas e das pessoas.

5. A Filosofia Espírita

5.1. Tradição Filosófica

A Filosofia Espírita se apresenta naturalmente integrada na tradição filosófica.

Dos pitagóricos, passando pela contribuição da doutrina da forma e matéria, de Aristóteles, enaltecendo os pensamentos de Descartes, Espinosa e Kant, a tradição filosófica é terreno vasto e profundo em que podemos descobrir as razões da Filosofia Espírita.

A Filosofia Espírita sintetiza, em sua ampla e dinâmica conceituação, todas as conquistas reais da tradição filosófica, ao mesmo tempo em que inicia o novo ciclo dialético da nova civilização em perspectiva.

5.2. A Filosofia Espírita não está nos Fenômenos

Kardec afirma, na introdução de O Livro dos Espíritos, que a força do Espiritismo não está nos fenômenos, como geralmente se pensa, mas na sua "filosofia", o que vale dizer na sua mundividência, na sua concepção de realidade.

Segundo Gonzales Soriano, o Espiritismo é "a síntese essencial dos conhecimentos humanos aplicada à investigação da verdade". É o pensamento debruçado sobre si mesmo para reajustar-se à realidade.

Trata-se, pois, não de fazer sessões, provocar fenômenos, procurar médiuns, mas de debruçar o pensamento sobre si mesmo, examinar a concepção espírita do mundo e reajustar a ela a conduta através da moral espírita. (Pires, 1983)

5.3. Especulativa Versus Afirmativa

O Espiritismo – doutrina codificada por Allan Kardec – é um conhecimento afirmativo. Afirmativo, mas não dogmático. É um tipo de conhecimento que temos de sedimentar em nossos Espíritos. Às vezes, por não termos condições de absorvê-lo, saímos por aí dizendo que ele não resolve os nossos problemas e, por isso, precisamos procurar um lugar mais forte (Centro de Umbanda, por exemplo).

6. Conclusão

Deixemos a inutilidade de lado e acolhamos a luz, venha ela de onde vier. Filosofar, tendo por base os princípios da Doutrina Espírita, é um exercício dos mais proveitosos, porque nos conduz ao domínio da verdade.

7. Bibliografia Consultada

THINES, G., LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70, 1984.

MENDONÇA, E. P. O Problema do Conceito de Filosofia - Tese de Concurso para Provimento da Cadeira de Filosofia, 1961.

PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo: Paidéia, 1983. 


Notas do Blog

O Termo Filosofia Espírita

De acordo com Luiz Alberto Cerqueira, “O mau hábito de imaginar que a atividade filosófica só se desenvolve em função de autores impede uma visão crítica do estudo de filosofia no país”. Acrescenta que aquilo que os gregos chamaram de filosofia, referida ao sujeito pensante, não é exclusiva dos gregos nem de qualquer cultura particular. Tem, assim, a preocupação de desenvolver o estudo filosófico em função de problemas, e não de autores. Acha que o modelo brasileiro desenvolvido em cima de autores é o câncer da vocação filosófica brasileira. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2010/10/o-termo-filosofia-espirita.html)

A Filosofia Espírita e o Existencialismo Moderno

Para o existencialismo, conforme o ser humano vai vivendo, ele vai formando a sua existência. Assemelha-se à tabula rasa de Locke. A essência é como uma folha em branco, que vai sendo preenchida pelas nossas experiências. No Espiritismo, não é assim que acontece, pois o Espírito, o princípio inteligente do universo (essência), toma um corpo (existência), mas é anterior ao corpo, porque já teve outras vivências passadas. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2010/10/filosofia-espirita-e-o-existencialismo.html)

Epistemologia e Espiritismo

A epistemologia espírita pode ser entendida como o estudo e a crítica do conhecimento à luz do Espiritismo. José Herculano Pires, no capítulo X "Epistemologia Espírita", do livro Curso Dinâmico de Espiritismo, acentua que não há menção deste termo nas obras de Kardec, mas pode-se verificar implicitamente tal assertiva em O Livro dos Espíritos.

Assim, na introdução de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec afirma que o Espiritismo é uma Ciência que se defronta com as outras ciências em pé de igualdade e não pode ser julgada pelos cientistas que não a conhecem. Na Ciência, o que importa são os fatos e não as opiniões. Na ausência dos fatos, a dúvida é a opinião do homem prudente. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2016/09/epistemologia-e-espiritismo.html)

Iluminismo e Espiritismo

O Espiritismo prende-se a todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral. É a síntese de todo o processo de conhecimento, desde a filosofia de Sócrates e Platão, considerados os seus precursores. É a mais completa Doutrina de consolo até hoje aparecida na face da terra. Em seu conteúdo doutrinal, toca em todos os pontos centrais de qualquer filosofia ou religião, como é o caso de Deus, do Espírito, da matéria, da sobrevivência da alma após a morte e da comunicação com os Espíritos. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2009/12/iluminismo-e-espiritismo.html)

Metafísica e Espiritismo

Deus. No que tange ao conhecimento do Ser Supremo (Deus), a Doutrina Espírita afirma que quando o nosso Espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, teremos condições de penetrar no mistério da divindade. Por enquanto devemos nos contentar com o conhecimento de seus atributos, ou seja, Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, e soberanamente justo e bom. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2009/12/metafisica-e-espiritismo.html)

Teoria do Conhecimento e Espiritismo

Como vemos há a percepção objetiva que estabelece a relação sujeito-objeto, e a percepção subjetiva, que faz do sujeito o seu próprio objeto. Isto quer dizer que há ciência e filosofia. Não há, assim, uma separação total entre ciência e Filosofia. É justamente esse viés do pensamento que divide o mundo em duas partes: numa o pensamento materialista como ideologia oficial dos Estados; noutra o pensamento espiritualista na mesma posição. A Filosofia Espírita coloca-se entre ambas e oferece-nos a síntese, no sentido de compreender a realidade como um todo. (http://sbgespiritismo.blogspot.com/2008/07/teoria-do-conhecimento-e-espiritismo.html)

Filosofia: Algumas Notas

A filosofia é um contínuo perguntar. O ensino formal favorece mais as respostas do que as perguntas. Contudo, no âmbito da filosofia, deveríamos ensinar o aluno a perguntar. As perguntas mostram não só o estado de espírito do aluno como também o torna proativo, no sentido de ele mesmo buscar o conhecimento de que precisa e não esperando que venha do outro, o que fez a pergunta e tenta passar as suas informações para frente. A pergunta também revela uma virtude, ou seja, a virtude da humildade, porque nos coloca na condição de ouvir o outro, ouvir aquele que supostamente saiba mais do que nós. 

Um pequeno diálogo:

— O que senhor faz? — indaga o camponês.

— Sou professor de filosofia.

— Isso é profissão?

— Por que não? Acha estranho?

— Um pouco!

— Por quê?

— Um filósofo é uma pessoa que não liga para nada... Não sabia que se aprendia isso na escola. (http://sbgfilosofia.blogspot.com/2006/09/filosofia-algumas-notas.html)


Frases e Pensamentos

"Interrogado sobre o que havia aprendido com a filosofia, disse: 'A fazer, sem ser comandado, aquilo que outros fazem apenas por medo da lei.'" (Aristóteles)

"Um pouco de filosofia leva a mente humana ao ateísmo, mas a profundidade da filosofia a leva para a religião." (A little philosophy inclineth man's mind to atheism; but depth in philosophy bringeth men's minds about to religion) (F. Bacon)

"Não há nada de tão absurdo que não saia da boca de algum filósofo." (Cícero)

"Se queres a verdadeira liberdade, deves fazer-te servo da filosofia." (Epicuro)

"Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio." (Heráclito)

"A filosofia triunfa facilmente sobre os males passados e os futuros; mas os males presentes triunfam sobre ela." (F. La Rochefoucauld)

"A sabedoria é filha da experiência." (Leonardo da Vinci)

"Temos na filosofia uma medicina muito agradável, pois, nas outras, sentimos o bem-estar apenas depois da cura; esta faz bem e cura ao mesmo tempo." (M. de Montaigne)

"Na verdade, a filosofia é nostalgia, o desejo de sentir-se em casa em qualquer lugar." (Novalis)

"Zombar da filosofia é o verdadeiro ato de filosofar." (B. Pascal)

"A admiração é própria da natureza do filósofo; e a filosofia deriva apenas da estupefação." (Platão)

"Só é possível tornar-se filósofo, não sê-lo. Assim que se acredita sê-lo, cessa-se de se tornar filósofo." (J. von Schiller)

"A filosofia ensina a agir, não a falar." (Sêneca)

"Para muitas pessoas, os filósofos são noctívagos inoportunos que as perturbam durante e sono." (A. Schopenhauer)

"Existem mais coisas no céu e na terra, Horácio, / do que sonha a tua filosofia." (W. Shakespeare)

"Nos dias de hoje existem professores de filosofia, mas não filósofos." (H. D. Thoreau)

O Espiritismo não dogmatiza; não é uma seita nem uma ortodoxia. É uma filosofia viva, patente a todos os espíritos livres, e que progride por evolução. Não faz imposições de ordem alguma; propõe, e o que propõe apóia-se em fatos de experiência e provas morais; não exclui nenhuma das outras crenças, mas se eleva acima delas e abraça-as numa fórmula mais vasta, numa expressão mais elevada e extensa da verdade. (Léon Denis)


Mensagem Espírita

O Sublime Triângulo

A Ciência, a Filosofia e a Religião constituem o triângulo sobre o qual a Doutrina Espírita assenta as próprias bases, preparando a Humanidade do presente para a vitória suprema do Amor e da Sabedoria no grande futuro.

Recorremos às três vigorosas sínteses da Codificação Kardequiana, para comentar, com mais segurança, o tríplice aspecto de nossos princípios redentores.

Com a Ciência, asseverou o grande missionário: “A fé sólida é aquela que pode encarar a razão, face a face.” 

Com a Filosofia, afirmou peremptório: “Nascer, viver, morrer e renascer de novo, progredindo sempre, tal é a lei.”

Com a Religião disse bem alto: “Fora da caridade não há salvação.”

Não será justo em nosso movimento libertador da vida espiritual, prescindir da Ciência que estuda, da Filosofia que esclarece e da Religião que sublima.

Buscando a verdade, colheremos o conhecimento superior; conquistando o conhecimento superior, penetraremos novas faixas de evolução e, absorvendo-lhes a claridade divina, compreenderemos que somente pela caridade que é amor puro, é que viveremos em harmonia com a justiça imutável, erguendo-nos enfim à desejada ascensão.

Abracemos em nossa fé o trabalho paciente da pesquisa honesta e a construção do entendimento, para que a fraternidade cristã possa esculpir em nós mesmos a viva pregação do ideal que espalhamos, no serviço aos outros e que significa a nós mesmos.

Em suma, instruamo-nos e amemo-nos uns aos outros, descerrando o coração ao sol da boa vontade infatigável e incessante, e o Espírito da Verdade nos tornará na Terra por instrumentos úteis na edificação do Reino de Deus. (XAVIER, Francisco Cândido. Fonte de Paz: Espíritos Diversos. Pelo Espírito Emmanuel. IDE, capítulo 13)