18/05/2025
Primeira Leitura: Atos 14,21b-27
Salmo Responsorial: 144(145)-R- Bendirei o vosso nome, ó meu Deus, meu Senhor e meu rei para sempre
Segunda Leitura: Apocalipse 21,1-5a
Evangelho: João 13,31-33a – 34-35
Jo 13, 31 Depois que Judas saiu do cenáculo disse Jesus: 'Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. 32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. 33a Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. 34 Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. 35 Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.'
O evangelho que lemos está enquadrado pela última ceia e lava-pés. As palavras de Jesus são ditas imediatamente depois da saída de Judas Iscariotes para a traição. As palavras de Jesus são palavras de despedida, instrução e de testamento.
O gênero testamento está bem arraigado na literatura bíblica e profana da época. Um personagem ilustre, antes de morrer, reúne os filhos e pronuncia as últimas palavras, à maneira de testamento espiritual: veja, por exemplo: Jacó (Gn 49), Moisés (Dt 32-33), Samuel (1Sm 12), Davi (2Sm 23; 1Rs 2), Matatias (1Mc 2,49-70), Tobias (Também 14). Não é de se estranhar de que João coloque na boca de Jesus um testamento espiritual.
O testamento não é um ato puramente jurídico. O testamento de Jesus é primeiramente uma despedida, na qual se ajuntam as lembranças (retomada de tudo que foi vivido e compartilhado) e se cruzam os conselhos. A despedida dá um tom cordial às palavras e um preso acrescido para as instruções (seriedade, gravidade, urgência, definitividade).
O testamento é uma explicação. Vai acontecer algo terrível, dificilíssimo de entender, porque é duro de aceitar. Jesus explica antecipadamente o sentido profundo da morte infamante na cruz. Trata-se, na verdade, de chegar à glória plena e definitiva; de glorificar o Pai.
O testamento é, portanto, uma visão transcendente. Na Cruz Jesus é levantado da terra, exaltado na glória e sobe ao céu.
O testamento espiritual consiste no mandamento novo. Ele não é novo pelo conteúdo, mas pela extensão (inclui todos, até os inimigos e os pobres), pelo motivo (para que sejam reconhecido como discípulos, porque ele nos amou primeiro) e pelo exemplo (como Jesus amou).
Não serve qualquer amor: trata-se do amor de Jesus. Universal, fiel, radical, incondicional, gratuito, eterno.
5ºDomPascoa - Jo 13, 31–35 – Ano C –
Jesus compartilha com seus discípulos os últimos momentos antes de retornar ao mistério do Pai. O relato de João traz cuidadosamente o seu testamento: o que Jesus quer deixar gravado para sempre no seu coração: "Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei".
O evangelista João tem sua atenção voltada à comunidade cristã. Ele não está pensando em pessoas de fora. Quando Jesus estiver ausente, na sua comunidade terão de se amar como "amigos", porque é assim que Jesus os quis: "Vós sois meus amigos"; "eu não os chamo mais de servos, eu os chamei de amigos". A comunidade de Jesus será uma comunidade de amizade.
Essa imagem da comunidade cristã como uma "comunidade de amigos" foi logo esquecida. Por muitos séculos, os cristãos se viram como uma "família" onde alguns são "pais" (o papa, bispos, padres, abades...); outros são "filhos" fiéis e todos devem viver como "irmãos".
Compreender assim a comunidade cristã estimula a fraternidade, mas tem os seus riscos. Na família cristã há uma tendência a enfatizar o lugar que pertence a cada um. O que nos diferencia é enfatizado, não o que nos une; grande importância é dada à autoridade, ordem, unidade, subordinação. E existe o risco de promover dependência, infantilidade e irresponsabilidade para muitos.
Uma comunidade baseada na amizade cristã enriqueceria e transformaria a Igreja de Jesus hoje. A amizade promove o que nos une, não o que nos diferencia. Igualdade, reciprocidade e apoio mútuo são cultivados entre amigos. Ninguém está acima de ninguém. Nenhum amigo é superior a outro. As diferenças são respeitadas, mas a proximidade e o relacionamento são cuidados.
Entre amigos é mais fácil se sentir responsável e colaborar. E não é tão difícil estar aberto a estranhos e àqueles que são diferentes, aqueles que precisam de acolhimento e amizade. É difícil deixar uma comunidade de amigos. De uma comunidade fria, rotineira e indiferente, as pessoas vão embora, e as que ficam mal o sentem.
Depois que Judas saiu do cenáculo, disse Jesus: "Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo. Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros".
Estamos no quinto domingo do Tempo Pascal e, depois de celebrarmos o Domingo do Bom Pastor, agradecidos a Deus pelo novo bispo de Roma, o Papa Leão XIV, a liturgia nos propõe meditar sobre este texto do Evangelho de João. Jesus e os discípulos estão no cenáculo. No início do relato do capítulo 13 do Evangelho de João, Jesus lavou os pés de cada um deles como um sinal de amor e um convite para viver como servos e “lavar os pés uns dos outros”.
Judas saiu do cenáculo
A passagem deste domingo começa com a saída de Judas do cenáculo. A vida daquele que era discípulo de Jesus, que recebeu seu convite para segui-lo, que estava com ele, que compartilhava a alegria do povo simples com suas palavras, estava tomando outro rumo internamente. Esse “sair do cenáculo” é uma das atitudes finais de Judas, que aos poucos foi se distanciando, dando espaço para questionamentos, perguntas que só alimentavam seu desejo de se livrar de Jesus por um pouco de dinheiro. Judas “deixa” esse ambiente de amizade, não pertence mais a esse grupo.
A história simplesmente o descreve saindo, separando-se fisicamente do grupo e, dessa forma, assumindo plenamente a escolha que estava lentamente construindo: escolher trair Jesus e sua comunidade. Lembre-se de que, na unção em Betânia, Judas protestou contra o desperdício do perfume com que Maria ungiu Jesus. Para se justificar, ele “usou os pobres”, mas eles não eram da sua conta, pois ele era um ladrão, como diz o evangelho. Jesus também havia lavado seus pés porque ele havia compartilhado a mesa com os outros discípulos, mas depois de receber o bocado das mãos de Jesus, ele se retirou da assembleia.
Jesus está agora em um novo momento de intimidade com os discípulos em meio a tensões crescentes. É por isso que Jesus diz a eles: “Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco”. E continua dizendo: "Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”.
Com a ternura do mestre e amigo, Jesus lhes deixa palavras de conforto que trazem uma nova maneira de viver entre eles. Ele já havia expressado isso no gesto de lavar os pés uns dos outros, mas agora lhes deixa um novo mandamento: amar uns aos outros. Jesus gera ao seu redor uma atmosfera de amizade e total confiança, trazendo a novidade de uma comunidade onde a fraternidade e o amor são a fonte da qual se bebe e onde a vida cresce.
O amor que Jesus propõe é semelhante ao seu próprio: “assim como eu os amei, vocês devem se amar uns aos outros”. No início, com o gesto do lava-pés, Jesus deixou claro que somente aqueles que são servos dos outros serão senhores. Ele descarta totalmente os antigos “mestres”, assim chamados por causa de seus estudos ou da sabedoria acumulada pela vida e pelas experiências vividas. Somente na medida em que forem servos dos outros, lavando os pés dos que estão ao seu lado, eles serão mestres da vida, verdadeiros profetas que ensinam com a vida e não com palavras.
Este domingo lhes diz como é o coração que deve bater nesse grupo para que ele tenha vida e vida em abundância: um amor mútuo, semelhante ao seu, que sempre gera espaços de confiança, simpatia e companheirismo. Jesus os chama de amigos, meus filhos, e a partir dessa amizade lhes anuncia o novo mandamento para que a comunidade seja sustentada por esse vínculo profundo.
Hoje estamos passando por situações em que prevalece a busca pelo bem-estar de poucos à custa do descarte de milhões de pessoas, realidades em que impera a luta mútua, a frieza, o olhar para o outro como inimigo permanente. Retomamos as palavras que o Papa Leão XIV dirigiu aos jornalistas credenciados para cobrir o conclave, que são, sem dúvida, um reflexo do mandamento do amor que Jesus nos dá neste quinto domingo: “A paz começa dentro de cada um de nós, na maneira como nos olhamos, na maneira como falamos uns dos outros. A maneira como nos comunicamos é de fundamental importância. Devemos dizer não à guerra das palavras, das imagens; devemos rejeitar o paradigma da guerra (Leão XIV aos jornalistas: "Desarmemos a comunicação de todo preconceito, ressentimento, fanatismo e ódio, purifiquemo-la".)
Neste domingo, somos chamados a construir uma nova comunidade impulsionada pelo mandamento do amor, um amor comprometido com cada pessoa, assim como fez Jesus. Ser testemunhas e construtores dessa nova comunidade significa não permitir que o desprezo, o ódio, a inimizade e a desigualdade reinem, mesmo que apareçam disfarçados de justiça, igualdade e defesa dos mais pobres, como fez Judas. Jesus nos dá um mandamento para colocarmos no centro de nossas vidas, de modo que ele se torne a fonte de nossas ações e a fonte de nossas comunidades: "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros".
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13,35)
No evangelho deste domingo Jesus nos coloca diante da realidade mais profunda de sua mensagem e, ao mesmo tempo, a realidade que nos faz mais humanos: a vivência do amor. A forma como Ele se expressa é clara e simples: frente aos inumeráveis mandamentos rabínicos, frente ao Decálogo de Moisés, suas palavras soam taxativas: “Eu vos dou um novo mandamento”.
Só há um mandamento, não há outro: amar os outros, não de qualquer maneira, mas como Jesus nos amou. Ou seja, manifestar esse amor que é Deus, em nossas relações com os outros.
Jesus nos deixa a marca de identidade que nos distingue como cristãos. É o mandamento novo, em oposição ao mandamento antigo, a Lei. Jesus não manda amar a Deus nem amar a Ele, mas amar como Deus e como Ele ama.
O amor é expansivo, inclusivo, universal. Ao conectar com ele, graças à compreensão do que somos, tocamos aquele Centro que nos descentra ou, talvez melhor, nos des-egocentra. Porque a compreensão de quem somos não nos fecha nem nos faz girar em torno a nós mesmos em um narcisismo infantil e asfixiante, mas nos abre, como um abraço sem limites, a toda a realidade.
O amor é o “dinamismo divino”, poderosa força centrípeta e centrífuga ao mesmo tempo. No mesmo movimento, unifica nossa pessoa para “dentro” (integra e harmoniza todas as dimensões de nosso ser) e nos abre para “fora”, ao encontro inspirador com todos.
Jesus não propõe como primeiro mandamento o amar a Deus, nem o amor a ele mesmo. Não diz: “amai-me como eu vos amei”. Deus é dom total e não pede nada em troca. Não precisa de nós, nem nós podemos dar nada a Ele. Deus é puro dom, amor total. É preciso descobrir em nós e reativar esse dom incondicional de Deus que, através de nós deve chegar a todos.
O texto fala de “novo mandamento”, como querendo destacar a importância daquilo que aí se anuncia. Não se trata de um “conselho” nem de uma “recomendação”, mas de um "modo divino de proceder".
Ao dizer que é “mandamento novo”, provavelmente é um eco daquilo que os próprios discípulos perce-biam como “novidade” no modo de viver do Mestre, na gratuidade e na incondicionalidade de seu amor.
“Que vos ameis uns aos outros” foi, muitas vezes, entendido como um amor aos “nossos”. A partir de cada comunidade cristã, o amor deve chegar a todos. Não se trata de amor aos que são amáveis (dignos de serem amados), mas de estar a serviço de todos como se fossem nós mesmos. Se deixamos de amar uma só pessoa, nosso amor evangélico se esvazia. Não se trata de um amor humano a mais, senão do “ágape” divino (amor gratuito).
Sem essa experiência de que Deus é Amor em nós, a mensagem evangélica não terá acesso ao nosso próprio ser. O amor que Jesus nos pede, não é algo que possa ter sua origem em nós. Só podemos ser espelho que reflete a essência de Deus, que é puro Amor.
Naturalmente não se pode impor o amor por decreto. O principal erro que continuamos cometendo é apresentar o amor como um preceito que vem de fora. Todos os esforços que façamos por cumprir um “mandamento” de amor estão fadados ao fracasso. O empenho está em descobrir que Deus é amor dentro de nós. Na realidade não se trata de uma lei, mas de uma resposta ao que Deus é em cada um de nós, e que em Jesus se manifestou de maneira contundente. Nosso amor será “um amor que responde a seu amor”.
O amor que Jesus nos pede deve surgir a partir de dentro, não se impor a partir de fora como uma obrigação. Trata-se de manifestar o que é Deus no fundo de nosso ser, através do nosso modo de ser e viver.
Por isso, não é um mandato dado por outro, vindo de fora, como uma imposição arbitrária. Pelo contrário, ressoa em nós como um convite a viver o que somos, ou seja, conectados com o Mistério amoroso “d’Aquele que é”. Isso será possível, não tanto através de um voluntarismo moral, mas graças à compreensão daquilo que somos. Na medida em que vamos conhecendo e vivendo o que somos, o amor brota espontâneo e vai abrindo caminho de vida, despertando o amor latente nos outros.
O mandamento de Jesus não diz respeito à relação com Deus, mas à relação com todo ser humano. O que Jesus pede aos seus é um amor incondicional e a todos sem exceção. Todas as normas, todas as leis devem orientar-se a esse fim.
Não se trata de um amor humano, mais ou menos perfeito. É preciso entrar na dinâmica do Amor do mesmo Deus. Isto é impossível sem primeiro experimentar esse amor. Tudo parte do amor do Pai, que se manifesta em Jesus e que agora circula através dos seus(suas) seguidores(as).
Falamos do mesmo e único Amor, que constitui o segredo último do Criador. O que se pede aos discípulos é que permitam que esse Amor, primeiro e originante, se expresse e seja vivido através deles.
Antes de dizer, antes de pedir, Jesus viveu até o limite a capacidade de amar, até amar como Deus ama: “como eu vos amei”. Mas essa expressão não é comparativa, mas originante e “causal”: porque eu vos amei”. Em outras palavras: “vocês devem se amar porque eu vos amei, e tanto quanto eu vos amei”. A tradução mais justa do texto joanino poderia ser esta: “Com o mesmo amor com que eu vos amei, amai-vos também uns aos outros” (Leon-Dufour).
Esta é a marca da identidade dos(as) seguidores(as) de Jesus, a característica mais importante da vida cristã.
João emprega no seu evangelho a palavra ágape, que expressa o amor sem mistura de interesse pessoal; seria o puro dom de si mesmo, só possível em Deus. A expressão “agapate” (“que vos ameis”) faz referência ao amor que é Deus, ou seja, ao grau mais elevado do dom de si mesmo. Não está falando de amor de amizade ou amor entre familiares. O amor de Deus é a realidade primeira e fundante.
Ágape é o amor divino. Esse amor é o mais raro, o mais precioso, o mais milagroso.
Seria como que uma renúncia à centralidade do ego, ao poder, à força...
Assim como Jesus, que se “esvaziou de sua divindade”, o ágape se esvazia de si mesmo para dar mais lugar, para não invadir, para deixar ao outro um pouco mais de espaço, de liberdade...
É a doçura, a delicadeza de se afirmar menos, a autolimitação de seu poder, o esquecimento de si, o sacri-fício de seu prazer, de seu bem-estar ou de seus interesses...
Estas são algumas características do ágape cristão: é um amor espontâneo e gratuito, sem motivo, sem interesse, até mesmo sem justificação... o puro amor.
“O ágape é um amor criador. O amor divino não se dirige ao que já é em si digno de amor; ao contrário, ele toma como objeto o que não tem nenhum valor em si e lhe dá um valor. O ágape não constata valores, cria-os. Ele ama e, com isso, confere valor. O homem amado por Deus não tem nenhum valor em si; o que lhe dá valor é o fato de Deus amá-lo. O ágape é um princípio criador de valor” (Nygren).
Descobrir essa realidade e vivê-la é o distintivo do(a) seguidor(a) de Jesus. E é essa qualidade do amor o sinal decisivo pelo qual os discípulos de Jesus deverão ser reconhecidos. Os seguidores dos fariseus eram reconhecidos pelas “filaterias” que usavam; os de João Batista, por batizar, os de Jesus, unicamente pelo amor.
O amor ágape é expansivo: nos alarga através dos nossos membros, mãos e pés.
Podemos dizer que o amor tem coração, mãos e pés: coração cheio de compaixão e ternura, mãos que cuidam, curam, abençoam... e pés que nos arrancam de nossos lugares estreitos e nos deslocam para as margens, os pobres... Desse modo, o mandato do amor remete à Fonte que o possibilita, ao Amor originante que tece a unidade de tudo que É e somos.
Texto bíblico: Jo 13,31-35
Na oração: - deixe que aflore (recorde) os dons e benefícios recebidos, manifestação do carinho e da ternura amorosa de Deus.
- Faça “memória agradecida” de sua presença amorosa na realidade cotidiana.
- Viva em clima de ação de graças como atitude permanente; isso reforça os laços, faz a vida mais leve, desperta o sentido do humor e anima a assumir os novos desafios, próprios deste tempo.
O texto situa-se no contexto do último Discurso de Jesus, durante a Ceia Pascal. O Discurso começa logo após a saída de Judas a caminho da traição, depois que Jesus lhe disse "o que você pretende fazer, faça-o logo" (João 13, 27). Com a licença oficial dada ao agente de Satanás para iniciar o processo que iria matá-lo, Jesus começa o processo da sua glorificação.
A sua fidelidade ao projeto do Pai vai levá-lo à Cruz, que, no Quarto Evangelho, não é um sinal de derrota, mas da vitória última e permanente de Deus. Por isso, a morte de Jesus, aparente vitória do mal, será a glorificação de Jesus e, nele, do Pai. O anúncio da sua partida, para os judeus uma ameaça (v. 33), é para a comunidade dos seus discípulos um momento de emoção e carinho. A sua última dádiva a eles é um novo mandamento: "eu dou a vocês um novo mandamento: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem amar-se uns aos outros" (v. 34).
O que há de novo neste mandamento?
O que diferencia a proposta de amor de Jesus e dos seus seguidores de outras propostas já conhecidas?
O mundo do tempo de Jesus, tanto na sociedade pagã como judaica, conhecia propostas de amor mútuo. O mandamento de Jesus é novo, em primeiro lugar, porque ele se impõe como exigência essencial para entrar na comunidade "escatológica". Essa é a comunidade que já experimenta a presença do Reino de Deus, mesmo que ainda espere a sua plena realização. Ou seja, é uma comunidade que experimenta a salvação já realizada em Jesus, enquanto ainda experimenta a sua situação permanente de fraqueza.
O mandamento também é novo, porque não se fundamenta nas leis da tradição judaica sobre o amor (p. ex. Levítico 19,18, ou os documentos do Qumrã), onde se propõe amar o próximo como a si mesmo. Assim, o mandamento é assumido nos demais evangelhos. Em João, no entanto, o mandamento é novo porque requer um amor mais radical, de entrega de si mesmo, como Jesus fez.
O modelo deste amor é o exemplo do próprio Jesus "assim como eu vos amei!". E como ele nos amou? Entregando-se até a morte, para que todos pudessem "ter a vida e vivê-la plenamente" (João 10,10). Este amor não é sinônimo de simpatia ou sentimento de atração. Exige humildade e disposição para o serviço que leva a morrer pelos outros.
Este "morrer" normalmente não se expressa através duma morte literal, mas morrendo diariamente ao egoísmo e à busca do poder dominador, para que sejamos servidores, especialmente dos mais humildes, a exemplo do Mestre que "não veio para ser servido, mas para servir" (cf. Marcos 10,45).
Este amor é tão fundamental para a comunidade dos discípulos de Jesus que deve tornar-se o seu sinal característico: "assim todos reconhecerão que vocês são meus discípulos" (v. 35). Mais do que uma lista de doutrinas, mais do que práticas litúrgicas ou rituais, embora essas tenham o seu lugar e a sua importância, é o amor mútuo e concreto que deve distinguir os discípulos de Jesus.
Atos dos Apóstolos lembra-nos que "foi em Antioquia que os discípulos receberam, pela primeira vez, o nome de cristãos" (Atos 11,26). Receberam uma nova designação, da parte dos outros, porque a sua maneira de viver era marcadamente diferente das outras comunidades religiosas da cidade – era marcada pelo amor mútuo.
O Evangelho de hoje convida-nos para que, honestamente, examinemos a nós mesmos, a fim de verificar se este amor-serviço ainda é a nossa marca característica, discípulos/as de Jesus, na nossa vida pessoal e comunitária!
O Livro da Glorificação e a hora de Jesus
O Livro da Glorificação, ou a hora de Jesus (João 13,1 a 20,31), é chamado assim porque mostra a realização plena de tudo o que Jesus vinha prometendo, enquanto realizava os sete sinais nos capítulos anteriores. O Livro da Glorificação começa com esta frase: "Sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (João 13,1). Finalmente, chegou a hora de Jesus ser glorificado pelo Pai (João 12,23.27-28; 13,31; 17,1) e de revelar-nos o verdadeiro rosto do Pai, que é Amor (1 João 4,8.16). A frase mostra que Jesus está disposto a levar até o fim sua obra de revelar o amor do Pai. A hora de Jesus é a hora do seu retorno para o Pai.
Como esta hora foi fixada pelo próprio Pai, ninguém sabe o momento exato em que ela acontecerá. Por isso, no Evangelho de João, na medida em que vamos acompanhando a caminhada de Jesus, cresce o suspense com relação à chegada da sua hora. Este suspense atinge seu ponto máximo em João 7,1: "Pai, chegou a hora: glorifica teu Filho para que teu Filho te glorifique!"
A dinâmica do texto do Quarto Evangelho vai preparando o leitor, para que ele mesmo possa descobrir o momento certo da chegada desta hora. O suspense começa nas bodas de Caná. Diante do pedido de sua mãe, Jesus diz que sua hora ainda não chegou (João 2,4). Mas, a atuação de Maria mostra que a caminhada em direção à hora já foi iniciada e os sinais começam a surgir.
Diante da samaritana, Jesus diz que "virá a hora – e é agora – em que surgirão os verdadeiros adoradores do Pai" (João 4,23). Os sinais de Jesus aumentam o suspense. Por duas vezes, os inimigos querem prendê-lo, mas ainda não tinha "chegado a sua hora", e a prisão não acontece (João 7,30 e 8,20). Para o evangelista, não são os inimigos, mas sim o Pai quem determina a hora de Jesus. Quando chegar a hora do Filho do Homem, acontecerá, ao mesmo tempo, a glorificação de Jesus e a derrota de seus adversários (João 12,31-32).
Os sinais feitos por Jesus levam seus inimigos a planejar sua morte (João 11,45-54). Jesus sabe, então, que sua hora está chegando (João 12,23.27; 13,1:16,32). A tensão entre ele e seus adversários culmina na sexta hora, no momento em que se sacrificavam os cordeiros para a Páscoa (João 19,14). Nesta hora, Jesus, o novo Cordeiro de Deus, inaugura a nova Páscoa. Este exato momento entre a hora de Jesus como o novo Cordeiro e sua gloriosa subida para o mundo do alto é descrito com belas imagens em Apocalipse 5,5-14.
Para as comunidades do Discípulo Amado, também chegará a hora. Para cada discípulo ou discípula, o encontro com Jesus acontece numa hora marcante e inesquecível (João 1,39). Mas, o suspense, que existiu entre Jesus e o mundo, continuará a existir entre a comunidade e o mundo. Para a comunidade chegará uma hora semelhante à de Jesus (João 16,2). Esta hora significa perseguições e morte (João 16,4). Diante do exemplo deixado por Jesus, as comunidades chegarão, através desta hora, à alegria que vem de Deus (João 16,21-22).
* Texto extraído do livro RIO-X DA VIDA – Círculos Bíblicos do Evangelho de João. Coleção A Palavra na Vida 147/148. Autoria de Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino. CEBI Publicações. Saiba mais com vendas@cebi.org.br
Prezada Comunidade!
1. O texto sobre o qual queremos meditar, hoje, encontra-se no Evangelho de João 13. 31-35.
2. Jesus está reunido com seus discípulos e denuncia Judas como o traidor. Judas trai Jesus porque não vê nele o libertador do jugo romano. A pregação e os ensinamentos de Jesus não o convenceram. Como sabe que os principais sacerdotes do Templo querem a cabeça de Jesus, Judas se alia a eles e decide dar-lhes Jesus de mão beijada em troca de uma boa quantia de dinheiro.
Só que a traição de Judas, ao invés de acabar com Jesus, faz com que a glória, o poder de Deus se manifeste em Jesus. Todos verão que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas. Jesus é Deus em pessoa que já existia mesmo antes da criação do mundo (Jo 1. 1).
Sabendo do que lhe acontecerá, Jesus diz aos discípulos que ele não ficará muito tempo com eles, porque a armação para matá-lo já está consumada; que os discípulos, não podem ir para ele vai. Eles ainda não estão prontos para esta missão. Eles devem continuar onde estão para darem continuidade ao seu projeto, continuar a anunciar o Reino de Deus.
3. Só que para dar continuidade ao projeto de Jesus, os discípulos não podem se vender e nem trair os ensinamentos de Jesus. Por isso Jesus diz a eles: amem uns aos outros. Mas eles conhecem o amor por meio dos Dez Mandamentos que ensina respeitar, não ser falso, não difamar, não desejar o que é do próximo.
Nós também nos amamos, porque conhecemos o mandamento do amor que Jesus resumiu em dois: amar a Deus acima de tudo e o próximo como a nós mesmos.
4. Mas a pergunta que vem do nosso texto é esta: como devemos amar?
Jesus nos responde dizendo: amar assim como eu vos amei. Devemos amar como Jesus nos amou. Mas como Jesus amou e ama? Para responder esta pergunta, vamos ver, na Bíblia, o que Jesus ensina sobre o seu amor:
Mt 5. 21-48: Jesus ensina o perdão; não ficar com raiva dos outros; não ser vingativo; amar o inimigo e orar pelos que nos perseguem. Será que nós conseguimos amar os inimigos e orar pelos que nos perseguem? Nós queremos o inimigo e quem nos persegue bem longe de nós
Mt 9. 35-38: Jesus ensina a termos compaixão das pessoas que vivem como ovelhas sem pastor - pessoas perdidas no mundo. Será que temos tempo para ajudar estas pessoas?
Mt 11. 28: Jesus convida todas as pessoas cansadas, deprimidas, tristes para chegarem a ele, porque ele as aliviará de seus sofrimentos. Será que nós queremos nos envolver com os problemas dos outros, se não conseguimos resolver os nossos próprios problemas?
Lc 19. 1-10: Jesus visita e come com cobradores de impostos, pessoas corruptas que vivem do desvio do dinheiro público. Aí já é demais, convidar um corrupto para o almoço. As outras pessoas pensarão que somos corruptos também.
Lc 23. 34: Jesus perdoa quem o crucificou e promete, na cruz, o Reino de Deus a um dos criminosos crucificado. Perdoar alguém que causou um acidente premeditado e, ainda, lhe desejar uma vida em abundância?
Jo 10. 11-21: Jesus é o bom pastor que dá a sua vida por suas ovelhas/nós. Será que nós temos coragem de entregar a nossa vida à morte por uma pessoa?
Jo 11. 28-44: Jesus chora a morte de Lázaro e lhe devolve a vida. Chorar por um amigo, parente que faleceu nós fazemos. Agora, fazer alguém, que está falecido, voltar a viver nós não conseguimos.
Jo 13. 1-20: Jesus serve os discípulos e lhes lava os pés. Isto já é demais: lavar os pés de uma outra pessoa? Se humilhar desse jeito?
5. É assim que Jesus ama. Amar, como Jesus amou é impossível, no nosso entender. Para nós é quase impossível amar os nossos inimigos; se envolver com os problemas dos outros; sentar à mesa com um corrupto; perdoar e desejar uma vida em abundância a quem cometeu um crime premeditado; devolver a vida a quem já está falecido?
Assim é que Jesus amou e ama. Ele ama de forma impossível. Tão impossível que os sacerdotes e Judas e muitas outras pessoas não entenderam. Porque não entenderam? Por que amavam de forma corriqueira: amar a quem lhes ama, condenar quem persegue, conversar somente com quem é puro. Esse não é de Jesus. Jesus ama onde parece ser impossível amar.
6. Vamos ser sinceros: nós não conseguimos amar de forma impossível. Mas por que ele pede que amemos assim como ele ama?
O que Jesus quer nos dizer é que devemos ser diferentes. O nosso amor deve fazer a diferença. O nosso amor deve, realmente, transformar situações. Devemos, realmente, orar pelos nossos inimigos e amá-los, para sermos diferentes. Devemos perdoar sempre e não julgar. Devemos, realmente, devolver a vida para a pessoa que a perdeu. Assim faz, por exemplo, o AA (aqui na nossa comunidade): está devolvendo a vida para quem estava morto para a vida digna; para quem perdeu sua vida no vício. Devemos carregar, sim, as dores dos outros no sentido de consolar, animar e compreender a sua dor. Isto é amar como Jesus amou e ama.
7. E nós amamos como Jesus amou para sermos conhecidos como discípulos de Jesus. É por meio do nosso amor impossível que outros verão que somos verdadeiros discípulos de Jesus.
Existem muitas igrejas querendo mostrar que amam como Jesus. Convidam para o culto da prosperidade, da cura de qualquer doença. Mas não conseguem se curar da doença do tirar mais e mais dinheiro das pessoas; não conseguem curar a doença chamada corrupção. Este não é o amor de Jesus, porque o verdadeiro discípulo é conhecido por meio dos seus atos e suas palavras: Justos e verdadeiros.
Portanto, vamos amar como Jesus amou, para podermos revelar, por meio do nosso amar, a glória de Deus, o poder de Deus. Amemos como Jesus amou. Vivamos como Jesus viveu. Falemos como Jesus falou.
Amém.
1. Introdução
“Nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4.19). É um versículo muito conhecido e cheio de verdade. No entanto, parece que grande parcela das pessoas em nossa sociedade não deseja ir pelo caminho do amor. A cada dia vemos as consequências da falta de amor: aumento da violência, porte de armas, falta de respeito entre gêneros, falta de cuidado com crianças e idosos, desrespeito pelas vagas e acessibilidade das pessoas com deficiência, intolerância religiosa e étnica, desrespeito pelos enfermos e familiares. Poderíamos continuar a lista. Vivemos num tempo em que tudo precisa ser rápido, e a tendência é que as pessoas funcionem tão rapidamente quanto os computadores. Vivemos em grandes conflitos, e chega-se a afirmar que “não há tempo para amar”, para tomar um café em sua comunidade. Estamos mudando tudo e queremos que a igreja também faça tudo rapidamente. Mas o amor é paciente, bondoso e tolerante.
2. Analisando o texto bíblico
Sobre o amor ser tolerante temos um exemplo no próprio texto. Jesus sabia quem era o traidor. Mas lavou os seus pés e deixou que comesse à mesa com os outros. A hora da crucificação aproximava-se, e ele sabia que estavam planejando matá-lo. Mas Jesus não maltrata Judas diante dos outros discípulos. Os dois falam numa linguagem que somente eles entendem, tanto que, quando Jesus diz a Judas para fazer logo o que deveria fazer, os outros discípulos achavam que era para comprar alguma coisa para a festa da Páscoa ou ainda dar dinheiro aos pobres, por ele cuidar do dinheiro do grupo.
Quando Judas sai, Jesus sabe que seria apenas uma questão de tempo e logo o prenderiam. Ainda tinha que preparar seus discípulos para seguir unidos e acreditando nele. Ele não podia levá-los junto. No lugar de Judas um novo discípulo entraria, alguém que também tivesse convivido com Jesus desde o início, ou seja, Matias (At 1.15ss). Os discípulos correriam perigos, e Jesus estava entregando o testemunho nas mãos de homens e mulheres simples. Por isso deixa-lhes um segredo, para que essa comunhão na comunidade e com Jesus não quebre: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (v. 33).
A glorificação de Jesus, consequentemente a glorificação do próprio Deus, passa pela cruz. Satanás vai pelo caminho curto. O texto deixa entender que, após receber o “bocado de pão com vinho”, Judas é dominado por Satanás para trair Jesus. Com Jó vemos algo parecido: Satanás só pode ir até onde Deus permite. Por amar sua criatura, Deus não deixa de testar o ser humano. Adiante no evangelho, vemos que o próprio Pedro é testado. Satanás tem as suas artimanhas e pode agir mesmo que pertençamos à comunidade de Jesus. Vacilamos como Pedro, negamos sem querer. Por isso Jesus é o glorioso! Sem ele nada somos.
Ainda assim, Jesus chama seus discípulos para a nobre tarefa de testemunhar que o reino de Deus foi inaugurado: coxos andam, mulheres são respeitadas, crianças são cuidadas, o coração dos oprimidos e pobres é acalentado, enfermos são curados. Esses são os sinais do reino, sinais do amor, sinais do Senhor. A Lei serve para apontar o pecado, para que o ser humano perceba que não consegue cumprir a Lei por vontade ou força própria. Tudo foi purificado (At 11.9). A nova maneira de identificar-se como filho e filha de Deus passa pelo crivo do evangelho: o amor de Deus revelado em Jesus. Há um remédio contra toda prática de maldade: o amor. E “nisto conhecerão que são meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (v. 35). Pedro fala, em Atos, desse amor que vai além e alcança os gentios. Esses ouvem o evangelho e “se arrependem para a vida” (At 11.18). Sem amor a Jesus não há testemunho, porque levará à autobajulação e vanglória. Na prática do amor, o próprio Espírito Santo age. É o segredo: “amar a Deus e amar ao próximo, destes dois dependem toda Lei e os Profetas” (Mt 22.40).
3. Meditação
Jesus amava sua comunidade de discípulos e discípulas. Ele os havia encontrado em lugares simples, fazendo coisas simples e vivendo com suas famílias. Às vezes, percebemos que as coisas mais bonitas e que proporcionam alegria são as mais simples. Mas acabamos afastando-nos porque queremos “inventar” demais e, por querer inventar demais, acabamos não fazendo quase nada do que realmente importaria. Sabemos que cada pessoa é única. Por isso deveríamos valorizá-la mesmo se tivermos duas pessoas num grupo de estudo.
A prática do amor depende de um coração bondoso. Onde há maldade, inexiste o amor. Algumas teorias dizem que nascemos sabendo amar, outras dizem que aprendemos a amar. Da mesma forma, a maldade. Vivemos numa sociedade onde vemos as duas coisas: pessoas que nasceram em situações de maldade não querem ser pessoas más. Por outro lado, pessoas que nasceram em contexto onde houve amor e nada faltou optam pela prática do mal. Essa dualidade existe em todos nós. Há mistérios que não conseguimos compreender. Se não fosse tão nosso, não cometeríamos tantas incoerências. Mesmo batizados na morte e ressurreição de Jesus, Adão e Eva continuam existindo em nós.
Poderíamos, então, dizer que, se as pessoas respeitassem o próximo e vivessem eticamente, não teríamos tantas cenas de violência e desrespeito. Sim, seria uma regra de sociedade. Deus também deu regras ao povo de Israel, e no entanto falharam. Justamente por falharmos, Deus enviou Jesus Cristo para reconstruir a ponte da amizade entre o Criador e as criaturas. Fomos feitos filhos e filhas porque não sabemos andar longe do olhar do Senhor. Fomos aceitos porque o amor de Deus é maior do que o nosso.
Por causa desse amor e da expectativa de responder ao chamado de Jesus para ser “sal e luz” neste mundo, muitas vezes partimos para a ação e queremos fazer tudo. Ficamos sobrecarregados quando alimentamo-nos de nós mesmos e não buscamos glorificar a Deus. Por isso Jesus lembra: “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste” (Mt 6.1).
Jesus deixa bem claro no texto (v. 35) que somente através do amor mútuo seremos reconhecidos como discípulos e discípulas. Importante reflexão para nossas comunidades, porque nenhuma delas vive sem conflito. E o amor é espontâneo, paciente, bondoso, não busca vingar-se. Comunidades quebram quando o outro ou a outra deixam de ser importantes e quando esquecem de defender a vida. Nossas lideranças também não podem esquecer que correm grande risco de servir sem amor, de alimentar-se de si mesmas e de mostrar ao mundo quão grandes coisas podem realizar. Nos grupos, importa viver o amor mútuo, o aconselhamento e a compreensão em vez de competir entre si. Não amamos por nós mesmos porque não merecemos. Amamos por causa de Cristo. Quem crê em Jesus Cristo terá consciência de que sempre há alguma coisa por fazer (Gl 5.6) e de que é o próprio Deus que precisa atuar, através do Espírito Santo, em nós. Lutero dizia que, ainda que o mundo estivesse acabando, plantaria uma macieira. Somos amados por Deus, portanto amemos uns aos outros e estaremos perto dele.
QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA CICLO "C"
(Traduzido pelo tradutor google sem nossa correção. Veja o texto original em espanhol logo após a tradução)
Primeira Leitura (Atos 14,21b-27):
Esta história conta a conclusão da primeira viagem missionária de Barnabé e Paulo pelo que hoje é a Ásia Menor e seu subsequente retorno à comunidade "mãe" de Antioquia, de onde haviam sido enviados. Como o texto claramente aponta no final, o principal fruto da missão foi “tudo o que Deus fez por eles e como abriu a porta da fé aos pagãos” (Atos 13:27). A “porta da fé” é por onde “se entra no reino” (Atos 14:22). Essa abertura da porta da fé aos gentios dá origem ao problema que será discutido no “concílio de Jerusalém” (Atos 15). Foi justamente este texto que inspirou a Carta Apostólica de Bento XVI que convoca o Ano da Fé: porta fidei, porta da fé.
Temos aqui também uma síntese da obra missionária de Paulo: anunciar o evangelho para despertar a resposta da fé; exortação à perseverança na fé mesmo em meio às tribulações que cairão sobre os fiéis, organização da comunidade com a instituição de sacerdotes para continuar a missão. Mas no final afirma-se que todos os frutos da obra evangelizadora são atribuídos a Deus que operou por meio deles.
Segunda Leitura (Ap 21,1-5a):
O drama do Apocalipse está chegando ao fim. Com a primeira criação desaparecida e todos os ímpios entregues ao castigo eterno, o vidente agora tem a oportunidade de contemplar o reino de Deus em seu esplendor, que supera todas as coisas terrenas. É exatamente isso que acontece na seção de Apocalipse 21:1-22:5, cujos primeiros versículos lemos hoje.
O "primeiro" céu e a "primeira" terra, que são nossos hoje e cuja criação nos é contada na primeira página da Bíblia, desapareceram. O vidente contempla um novo mundo, desejado por Deus, um mundo no qual o mal está ausente e onde todo o bem que pode ser imaginado recebe seu poder infinito.
Ele vê aqui também a cidade santa — um grupo de homens — a nova Jerusalém que desce do nível divino, é perfeita em todos os sentidos, é a esposa: por isso mesmo ela pode ousar amar a Cristo com um amor de reciprocidade, típico de dois esposos.
Então a voz confirma que toda a Cidade é a Morada de Deus entre os homens, que o próprio Deus constrói porque desce do céu. A antiga fórmula da aliança ("Eu sou o vosso Deus, vós sois o meu povo") é retomada e transferida para outro nível: a simples reciprocidade de pertença torna-se agora uma reciprocidade de vida e de amor. Quando Deus tiver verdadeiramente realizado toda a sua obra, o lamento dilacerante daqueles que são vítimas de violência não será mais ouvido; Os gritos dos oprimidos, que veem seus direitos pisoteados, cessarão, e até mesmo o cansaço e o esforço físico desaparecerão completamente. Ecoando a expressão de Isaías, o autor faz seus ouvintes sentirem e saborearem até que ponto Deus está comprometido com as vicissitudes da humanidade: as lágrimas, a expressão mais humana e pessoal da dor, serão pessoalmente enxugadas por Deus.
Então o vidente ouve o próprio Deus falando com ele. É a única vez no Apocalipse que Deus fala, e é muito significativo que ele faça isso no final do livro. Sua primeira frase, que reproduz fielmente Is 43,19 (segundo o texto da LXX), assegura ao vidente que nos últimos tempos ele transformará radicalmente toda a criação e todas as modalidades da vida atual. O que o vidente contemplou em 21,1-4, encontrará pleno cumprimento. Deus — traduzindo literalmente — "está fazendo" novas todas as coisas agora mesmo. As sementes da primavera para o novo mundo encontram-se em todo o bem que existe, mesmo que seja menos evidente que o mal [1] .
Evangelho (Jo 13,31-35):
Depois da partida de Judas, o Evangelho de João nos traz uma longa seção em que Jesus dirige um discurso de despedida aos seus discípulos (cf. Jo 13,31-17,26). Este discurso ocorre durante a Última Ceia, após a lavagem dos pés. O texto que lemos hoje é uma espécie de prólogo ou introdução ao discurso que anuncia seus três grandes temas: a glorificação do Filho do Homem e do Pai, a partida e o novo mandamento.
Quanto à glorificação do Filho do Homem e do Pai com a qual o texto começa, notamos que os verbos estão no passado (aoristo). Ou seja, Jesus anuncia a glorificação como um fato consumado, consumado. Além disso, ambos os verbos (ser glorificado) estão na voz passiva. Ou seja, tanto o Filho do Homem quanto Deus são passivos em receber a glória, pois Jesus recebe a glória de Deus a partir do momento em que assume sua morte e Deus a recebe a partir desse mesmo momento de Jesus.
Receber glória para si mesmo não vale nada, por isso Jesus a recebe do Pai: "Respondeu Jesus: Se eu me glorifico a mim mesmo, minha glória é inútil. É meu Pai quem me glorifica, aquele a quem vocês chamam de "nosso Deus" (Jo 8,54).
Jesus é glorificado como o Filho do Homem porque ele será exaltado, elevado e receberá a glória que tinha como Filho de Deus.
O Pai é glorificado pela obediência do Filho, pela sua livre aceitação de dar a sua vida pela salvação da humanidade: "Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me confiaste. Agora, Pai, glorifica-me contigo, com aquela glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse" (Jo 17,4-5).
O versículo seguinte insiste que é Deus quem glorificará o Filho e que o fará muito em breve, em clara referência à paixão-ressurreição.
Segue-se o anúncio da sua partida, que começa com um tom muito familiar e afetuoso: “filhinhos” (teknía, expressão que se repete em 1 Jo 2,1.12.28; 3,7.18; 4,4; 5,21). Essa partida de Jesus trará consigo um período de ausência e busca infrutífera por parte de seus discípulos. Acontece que para encontrar Jesus, não bastará mais “ver”, mas sim “crer”. Eles terão que encontrá-lo na fé. Este afastamento é necessário para que os discípulos compreendam que ele está no Pai (cf. Jo 14,20).
Por fim, temos a “doação” do novo mandamento, o mandamento do amor mútuo. Sobre o significado desta “doação” – que inclui uma recepção prévia de amor – diz LH Rivas [2] : “Jesus é amado pelo Pai porque cumpre o seu mandamento (15,10), e este mandamento se refere à entrega da sua vida (10,17-18), a tudo o que Jesus deve fazer para dar a vida eterna aos seres humanos (12,49-50). Deus ama o mundo de tal maneira que deu o seu Filho único para que todos tenham a vida eterna (cf. 3,16; 1Jo 4,9-10). Jesus Cristo se entrega por todos movido pelo impulso de amor que vem do Pai (10,17-18; 1Jo 3,16) e este impulso é para Jesus um “mandamento” (15,10). Jesus dá o mandamento aos seus discípulos. Isto significa que ele coloca nos crentes o amor que recebe do Pai (15,9) e os capacita a amar da mesma maneira, como Ele ama (como eu vos amei). Se Ele deu a Sua vida por todos; os crentes também devem dar a vida pelos seus irmãos (1 Jo 3:16). Jesus não é apenas um exemplo de amor para os cristãos, mas também a fonte de onde provém o amor que se origina no Pai.
E aqui reside precisamente a “novidade” deste mandamento do amor. De fato, já no Antigo Testamento temos o mandamento de “amar o próximo como a si mesmo” (Lv 19,18), que é retomado pelos evangelhos sinóticos (cf. Mt 22,30; Mc 12,31; Lc 10,17). Jesus, por sua vez, nos pede que nos amemos uns aos outros "como Ele não nos amou", portanto há algo novo que supera em muito o antigo. E como vimos, não é apenas um exemplo a seguir, mas um presente a receber, porque devemos amar uns aos outros como e porque Ele nos amou primeiro. Para expressar isto melhor, X. Leon Dufour [3] prefere traduzir este texto assim: “Com o amor com que eu vos amei, amai-vos também uns aos outros”, uma versão que corresponde o mais exactamente possível ao significado da frase. O amor do Filho pelos seus discípulos gera neles um movimento de caridade; O amor passa para eles quando amam seus irmãos e são amados por eles. Nos capítulos 15 e 17, o amor de Jesus que se espalha entre os crentes revela-se o próprio amor do Pai.”
Em outras palavras, a novidade é que o amor entre os cristãos tem sua fonte no Pai e no Filho; é a circulação desse mesmo amor que recebemos de Jesus e o derramamos sobre o próximo, sobre os irmãos. E este dom de amor é tão novo e exclusivo de Jesus que deveria ser a marca dos cristãos, o seu “selo de identidade”; porque eles devem ser reconhecidos por esse amor mútuo.
O Cartão. A. Vanhoye [4] vê uma relação entre o tema da glorificação do Filho e do Pai e o mandamento do amor, porque “a glória de Deus é a glória de amar. Da mesma forma, a glória de Jesus é a glória de amar. Ele amou o Pai, cumprindo a sua vontade com perfeita generosidade; amou-nos, homens, dando, como Bom Pastor, a sua vida por nós. Assim, ele já foi glorificado na sua paixão, e Deus foi glorificado nele”.
Há também no Evangelho de João uma relação entre glória e amor, mas é negativa. De fato, aqueles que buscam a própria glória e não a glória de Deus não podem ter o amor de Deus e não podem crer: "A minha glória não vem dos homens. E eu os conheço, mas o amor de Deus não está em vocês. Eu vim em nome de meu Pai, e vocês não me recebem. Mas, se outro vier em seu próprio nome, vocês o receberão. Como podem crer, vocês que se glorificam uns aos outros e não consideram a glória que vem somente de Deus?" (Jo 5,41-44).
Algumas reflexões:
O contexto litúrgico da Páscoa, em que buscamos sinais da Presença de Jesus Ressuscitado em nossas vidas, nos guia a escolher como tema principal o mandamento do amor e sua capacidade de ser sinal de identidade dos cristãos.
Como vimos, não se trata de um mandato que impõe obrigações vindas de fora, mas sim de uma exigência nova e maior. Portanto, o voluntarismo pelagiano de pensar que podemos, por nós mesmos, imitar o amor de Jesus, é um caminho falso e tem um final perigoso. Quem segue este caminho errado «carece da humildade essencial para o amor, da humildade de poder receber dons que vão além das nossas acções e dos nossos méritos» [5] .
Por isso, o que precisamos é da humildade de nos deixarmos amar por Jesus, à sua maneira, que é a maneira divina e por isso nos supera e, às vezes, até nos desconcerta. Trata-se de deixar-nos invadir pelo seu amor, embora esta abertura revele a nossa insuficiente capacidade de amar, de amar verdadeiramente. E então somos encorajados a deixar o que é nosso e receber o que é dele, o que é muito melhor porque é amor puro, o amor de Deus. O Cartão. Vanhoye [6] descreve o amor de Jesus assim: “É um amor generoso, sem limites, um amor universal, uma atitude capaz de transformar até as circunstâncias negativas e todos os obstáculos em oportunidade de progresso no amor. Nunca houve uma situação tão contrária ao amor como aquela em que Jesus se encontrou durante a sua paixão: rejeitado por todos, escarnecido, condenado, executado. E, no entanto, ele a transformou em oportunidade para o maior amor.”
Ora, se nós, cristãos, nos amássemos uns aos outros com esse amor, revelaríamos Jesus, o faríamos presente e visível. Eles nos reconheceriam como seus, como de Cristo, porque amamos como Ele; ou melhor ainda, amamos com o mesmo amor dele.
Este é um convite a nos perguntarmos onde a caridade e o amor se encaixam na escala de valores. Se não for o primeiro, estamos perdidos. A caridade é o ápice da perfeição e a própria alma da vida cristã. E isso também tem consequências no campo do apostolado, da evangelização. HU von Baltasar [7] nos lembra : “Este novo mandamento, que é válido para todos, é também, como a quintessência do cristianismo, aquele que garante sua permanência: este será ‘o sinal pelo qual eles saberão que são meus discípulos’. Isto e somente isto. Nenhuma outra peculiaridade da Igreja pode convencer o mundo da verdade e da necessidade da pessoa e da doutrina de Cristo. O amor vivido e compartilhado pelos cristãos será a demonstração de todas as doutrinas, todos os dogmas e todas as normas morais da Igreja de Cristo.”
A esse respeito, o Papa Francisco disse aos adolescentes: “Que grande responsabilidade o Senhor nos confia hoje. Ele nos diz que as pessoas conhecerão os discípulos de Jesus pela forma como se amam uns aos outros. Em outras palavras, o amor é o documento de identidade do cristão; é o único "documento" válido para ser reconhecido como discípulo de Jesus. O único documento válido. Se este documento expira e não é continuamente renovado, deixamos de ser testemunhas do Mestre... O verdadeiro amigo de Jesus se distingue principalmente pelo amor concreto; não o amor "nas nuvens", não, o amor concreto que brilha em sua vida. O amor é sempre concreto. Quem não é concreto e fala de amor está fazendo uma novela, uma comédia... Sejam como os campeões mundiais de esporte, que alcançam metas altas treinando com humildade e tenacidade todos os dias. Que o seu programa diário seja de obras de misericórdia: treinem-se com entusiasmo nelas para serem campeões da vida, campeões do amor.” Assim vocês serão conhecidos como discípulos de Jesus. Dessa forma você terá o documento de identidade cristão. E eu vos asseguro: a vossa alegria será completa” (homilia de 24 de abril de 2016).
Em suma, a porta da fé, que se abre, é também a porta do amor. O amor de Jesus entra pela porta da fé e a experiência deste amor pelos crentes é também sinal da presença de Deus – “onde há caridade e amor, aí está Deus” -; que atrai os não crentes para esta porta da fé. Só o amor atrai, só o amor é digno de fé.
"Crer em Cristo é crer no amor de Deus e abrir-se a ele. Somente a partir daí o homem pode, por sua vez, começar a amar" (J. M. Casabó, Teologia Moral em São João, 379).
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Reconhece-me Senhor
No gesto delicado
Para você em cada irmão
Reconhece-me, Senhor
Na oração matinal ao amanhecer
E na solidão, abandonado
Reconhece-me, Senhor
No sorriso do pobre, sua mão estendida e esquecida
Reconhece-me, Senhor
No olhar perdido na tristeza
O coração ferido na escuridão
Reconhece-me, Senhor
Porque se você olhar para mim e mal enxergar,
A sombra da tua imagem serena
Serei como um pássaro de asas abertas, voando em direção à Pátria.
Ele se volta para a Luz e
buscar refúgio na eternidade
o horizonte sublime,
Ele se deleita somente na Verdade.
Reconheça-me então, sem demora, e
derrame seus dons sagrados
Nesta comunidade, porque vocês são família, Trinidad. Amém
[1] Cf. U. Vanni, Apocalipse. Uma assembleia litúrgica interpreta a história (Verbo Divino; Estella 1998) 129-132.
[2] Evangelho de João (San Benito; Buenos Aires 2005) 834.
[3] Leitura do Evangelho de João. Jo 13-17 Vol. III (Siga-me; Salamanca 1995) 71.
[4] Leituras bíblicas para domingos e feriados. Ciclo C (Messenger; Bilbao 2009) 139.
[5] Cartão. J. Ratzinger, Olhando para Cristo. Exercícios de fé, esperança e amor (EDICEP; Valência 1990) 87.
[6] Leituras bíblicas para domingos e feriados. Ciclo C (Messenger; Bilbao 2009) 140.
[7] Luz da Palavra. Comentários sobre as leituras dominicais (Encuentro; Madrid 1998) 247.
(Veja o texto traduzido em posição anterior a este)
QUINTO DOMINGO DE PASCUA CICLO "C"
Primera lectura (He 14, 21b-27):
Este relato nos narra la conclusión del primer viaje misionero de Bernabé y Pablo por lo que hoy es Asia Menor y su posterior regreso a la comunidad "madre" de Antioquia de dónde habían sido enviados. Como bien lo remarca el texto al final, el principal fruto de la misión fue "todo lo que Dios había hecho con ellos y cómo había abierto la puerta de la fe a los paganos" (He 13,27). La «puerta de la fe» es por dónde «se entra en el reino» (He 14, 22). Este abrir la puerta de la fe a los gentiles da origen al problema que se discutirá en el "concilio de Jerusalén" (He 15). Justamente en este texto se inspiró la Carta Apostólica de Benedicto XVI que convocaba al año de la fe: porta fidei, puerta de la fe.
Tenemos también aquí una síntesis de la labor misionera de Pablo: anunciar el evangelio para despertar la respuesta de la fe; exhortación a perseverar en la fe aún en medio de las tribulaciones que recaerán sobre los creyentes, organización de la comunidad con la institución de presbíteros para que continúen con la misión. Pero al final se afirma que todos los frutos de la obra evangelizadora se atribuyen a Dios que ha obrado por medio de ellos.
Segunda lectura (Ap 21,1-5a):
El drama del Apocalipsis se acerca a su fin. Desaparecida la primera creación y entregados al castigo eterno todos los malvados, ahora se le concede al vidente contemplar el reino de Dios en su esplendor, que sobrepasa todo lo terreno. Es justamente lo que sucede en la sección de Ap 21,1-22,5 cuyos primeros versículos leemos hoy.
El «primer» cielo y la «primera» tierra, que son los nuestros de ahora y de cuya creación nos habla la primera página de la Biblia, han desaparecido. El vidente contempla un mundo nuevo, querido por Dios, un mundo del que está ausente el mal y en donde todo el bien que puede imaginarse recibe su potenciación hasta el infinito.
Ve también aquí la ciudad santa —un conjunto de hombres— la nueva Jerusalén que desciende del nivel divino, es perfecta en todo, es la esposa: por eso mismo puede atreverse a amar a Cristo con un amor de reciprocidad, típico de dos esposos.
Luego la voz confirma que toda la Ciudad es la Morada de Dios entre los hombres, que Dios mismos construye pues desciende del cielo. La antigua fórmula de la alianza («Yo soy vuestro Dios, vosotros sois mi pueblo») queda recogida y trasladada a otro nivel: la simple reciprocidad de pertenencia se convierte ahora en una reciprocidad de vida y de amor. Cuando Dios haya llevado realmente a cabo toda su obra, ya no se oirá más el lamento desgarrador de los que son víctima de la violencia; cesarán los gritos de los oprimidos que ven pisoteados sus derechos, y hasta el cansancio y el esfuerzo físico desaparecerán por completo. Recogiendo la expresión de Isaías, el autor hace sentir y saborear al grupo de sus oyentes hasta qué punto se ha comprometido Dios con las vicisitudes del hombre: las lágrimas, la expresión más humana y personal del dolor, serán enjugadas personalmente por Dios.
Luego el vidente oye que Dios en persona le habla. Es la única vez en el Apocalipsis que Dios toma la palabra, y es muy significativo que lo haga al final del libro. Su primera frase, que reproduce muy de cerca a Is 43,19 (según el texto de los LXX), asegura al vidente que en los últimos tiempos él transformará radicalmente la creación entera y todas las modalidades de la vida actual. Lo que el vidente ha contemplado en 21,1-4, hallará pleno cumplimiento. Dios —traduciendo literalmente— «está haciendo», ya ahora, nuevas todas las cosas. Los gérmenes de primavera del mundo nuevo se encuentran en todo el bien que existe, aunque resulte menos evidente que el mal[1].
Evangelio (Jn 13,31-35):
Después de la partida de Judas el evangelio de Juan nos trae una larga sección en la cual Jesús dirige un discurso de despedida a sus discípulos (cf. Jn 13,31-17,26). Este discurso tiene lugar durante la última cena, después del lavatorio de los pies. El texto que leemos hoy es una especie de prólogo o introducción al discurso que anuncia los tres grandes temas del mismo: la glorificación del hijo del hombre y del Padre, la partida y el mandamiento nuevo.
En cuanto a la glorificación del hijo del hombre y del Padre con que comienza el texto, notamos que los verbos están en pasado (aoristo). Es decir que Jesús anuncia la glorificación como un hecho consumado, cumplido. Además, ambos verbos (ser glorificado) están en pasivo. Es decir, tanto el hijo del hombre como Dios son pasivos ante la recepción de la gloria, por cuanto Jesús recibe la gloria de parte de Dios desde el momento en que asume su muerte y Dios la recibe desde ese mismo momento de parte de Jesús.
Recibir la gloria de sí mismo no vale nada, por eso Jesús la recibe del Padre: "Jesús respondió: "Si yo me glorificara a mí mismo, mi gloria no valdría nada. Es mi Padre el que me glorifica, el mismo al que ustedes llaman "nuestro Dios" (Jn 8,54).
Jesús es glorificado como hijo del hombre por cuanto será exaltado, levantado en alto y recibirá la gloria que tenía como Hijo de Dios.
El Padre es glorificado por la obediencia del Hijo, por su aceptación libre de entregar la vida por la salvación de los hombres: "Yo te he glorificado en la tierra, llevando a cabo la obra que me encomendaste. Ahora, Padre, glorifícame tú, junto a ti, con la gloria que tenía a tu lado antes que el mundo fuese" (Jn 17,4-5).
En el versículo siguiente se insiste en que es Dios quien glorificará al Hijo y que lo hará muy pronto, en clara referencia a la pasión-resurrección.
Sigue el anuncio de su partida, que se inicia con un tono muy familiar y cariñoso: "hijitos" (teknía, expresión que se repite en 1Jn 2,1.12.28; 3,7.18; 4,4; 5,21). Esta partida de Jesús traerá aparejada un período de ausencia y de búsqueda infructuosa por parte de sus discípulos. Sucede que para encontrar a Jesús ya no servirá el "ver" sino el "creer". Tendrán que encontrarlo en la fe. Esta partida es necesaria para que los discípulos comprendan que él está en el Padre (cfr. Jn 14, 20).
Por último, tenemos la "donación" del mandamiento nuevo, el mandamiento del amor mutuo. Sobre el sentido de esta "donación" - que incluye una previa recepción del amor - dice L. H. Rivas[2]: "Jesús es amado por el Padre porque cumple su mandamiento (15,10), y este mandamiento está referido a la entrega de su vida (10,17-18), a todo lo que Jesús debe hacer para dar la vida eterna a los seres humanos (12,49-50). Dios ama tanto al mundo que ha entregado a su Hijo Único para que todos tengan la vida eterna (ver 3,16; 1Jn 4,9-10). Jesucristo se entrega por todos movido por el impulso de amor que viene del Padre (10,17-18; 1Jn 3,16) y ese impulso es para Jesús un "mandamiento" (15,10). Jesús da el mandamiento a sus discípulos. Esto significa que deposita en los creyentes el amor que Él recibe del Padre (15,9) y los capacita para que amen de la misma forma que Él ama (como yo los he amado). Si Él ha dado la vida por todos, también los creyentes deben dar la vida por los hermanos (1Jn 3,16). Jesús no es sólo ejemplo de amor para los cristianos, sino la fuente de donde viene el amor que se origina en el Padre".
Y aquí está justamente la "novedad" de este mandamiento del amor. En efecto, ya en el Antiguo Testamento tenemos el mandamiento de "amar al prójimo como a uno mismo" (Lv 19,18), que es recogido por los evangelios sinópticos (cf. Mt 22,30; Mc 12,31; Lc 10,17). Jesús, por su parte, pide que nos amemos "como Él no ha amado", por tanto hay algo nuevo y que supera en mucho lo antiguo. Y según vimos, no se trata solamente de un ejemplo a seguir sino de un don a recibir porque debemos amarnos como y porque Él nos amó primero. Para expresar mejor esto X. León Dufour[3] prefiere traducir así este texto: «Con el amor con que yo os he amado, amaos también los unos a los otros», versión que corresponde lo más exactamente posible al sentido de la frase. El amor del Hijo a sus discípulos engendra en ellos un movimiento de caridad; su amor pasa a ellos, cuando aman a sus hermanos y son amados por ellos. En los capítulos 15 y 17 el amor de Jesús que se difunde en los creyentes resulta ser el amor mismo del Padre”.
En otras palabras, la novedad está en que el amor entre los cristianos tiene su fuente en el Padre y en el Hijo, es la circulación de este mismo amor que recibimos de Jesús y lo volcamos al prójimo, al hermano. Y tan novedoso y exclusivo de Jesús es este don del amor que deberá ser el distintivo de los cristianos, su "sello de identidad"; por cuanto se los debe reconocer por este amor mutuo.
El Card. A. Vanhoye[4] ve una relación entre el tema de la glorificación del Hijo y del Padre y el mandamiento del amor por cuanto "la gloria de Dios es la gloria de amar. Del mismo modo también la gloria de Jesús es la gloria de amar. Él amó al Padre cumpliendo su voluntad con una generosidad perfecta; nos amó a los hombres dando, como Buen Pastor, su vida por nosotros. Así fue glorificado ya en su pasión, y Dios fue glorificado en él".
Hay también en el evangelio de Juan una relación entre la gloria y el amor, pero negativa. En efecto, los que buscan su propia gloria y no la gloria de Dios, no pueden tener el amor de Dios y no pueden creer: "Mi gloria no viene de los hombres. Además, yo los conozco: el amor de Dios no está en ustedes. He venido en nombre de mi Padre y ustedes no me reciben, pero si otro viene en su propio nombre, a ese sí lo van a recibir. ¿Cómo es posible que crean, ustedes que se glorifican unos a otros y no se preocupan por la gloria que sólo viene de Dios? "(Jn 5,41-44).
Algunas reflexiones:
El contexto litúrgico del tiempo pascual, en el cual buscamos los signos de la Presencia de Jesús Resucitado en nuestra vida, nos orienta a elegir como tema principal el mandamiento del amor y su capacidad de ser el signo de identidad de los cristianos.
Según vimos, no se trata de un mandamiento que obliga desde fuera, de una nueva y mayor exigencia. Por tanto, el voluntarismo pelagiano de pensar que podemos, por nosotros mismos, imitar el amor de Jesús, es un camino falso y con un final peligroso. A quienes toman por este camino equivocado "les falta la humildad esencial para el amor, la humildad de poder recibir dones más allá de nuestro actuar y merecer"[5].
Por tanto, lo que necesitamos es la humildad para dejarnos amar por Jesús, a su modo, que es el modo divino y por ello nos supera y, a veces, hasta nos desconcierta. Se trata de dejarse invadir por su amor, aunque esta apertura deja al desnudo nuestra insuficiente capacidad de amar, de amar de verdad. Y entonces nos animamos a dejar lo nuestro y a recibir lo suyo, que es mucho mejor porque es amor puro, amor de Dios. El Card. Vanhoye[6] describe así el amor de Jesús: "Se trata de un amor generosísimo, sin límites, de un amor universal, de una actitud capaz de transformar incluso las circunstancias negativas y todos los obstáculos en ocasión de progreso en el amor. Nunca se había presentado una situación tan contraria al amor como aquella en la que Jesús se encontró en su pasión: rechazado por todos, escarnecido, condenado, ajusticiado. Y, sin embargo, la transformó en ocasión del amor más grande".
Ahora bien, si los cristianos nos amásemos con este amor revelaríamos a Jesús, lo haríamos presente y visible. Nos reconocerían como suyos, de Cristo, porque amamos como Él; o mejor aún, amamos con su mismo amor.
Esto es una invitación a preguntarnos en qué lugar de la escala de valores está la caridad, el amor. Si no está en primer lugar, estamos extraviados. La caridad es la cumbre de la perfección y el alma misma de la vida cristiana. Y esto tiene sus consecuencias también en el campo del apostolado, de la evangelización. Nos lo recuerda H. U. von Baltasar[7]: "Este mandamiento nuevo y que vale por todos es también, como quintaesencia del cristianismo, el que le garantiza su permanencia: ésta será 'la señal por la que conocerán que son discípulos míos'. Ésta y solamente ésta. Ninguna otra peculiaridad de la Iglesia puede convencer al mundo de la verdad y de la necesidad de la persona y doctrina de Cristo. El amor vivido y repartido por los cristianos será la demostración de todas las doctrinas, de todos los dogmas y de todas las normas morales de la Iglesia de Cristo".
Al respecto les decía el Papa Francisco a los adolescentes: “Qué gran responsabilidad nos confía hoy el Señor. Nos dice que la gente conocerá a los discípulos de Jesús por cómo se aman entre ellos. En otras palabras, el amor es el documento de identidad del cristiano, es el único “documento” válido para ser reconocidos como discípulos de Jesús. El único documento válido. Si este documento caduca y no se renueva continuamente, dejamos de ser testigos del Maestro… El amigo verdadero de Jesús se distingue principalmente por el amor concreto; no el amor “en las nubes”, no, el amor concreto que resplandece en su vida. El amor es siempre concreto. Quien no es concreto y habla del amor está haciendo una telenovela, una telecomedia… Haced como los campeones del mundo del deporte, que logran metas altas entrenándose con humildad y tenacidad todos los días. Que vuestro programa cotidiano sea las obras de misericordia: Entrenaos con entusiasmo en ellas para ser campeones de vida, campeones de amor. Así seréis conocidos como discípulos de Jesús. Así tendréis el documento de identidad de cristianos. Y os aseguro: vuestra alegría será plena” (homilía del 24 de abril de 2016).
En fin, la puerta de la fe, que se abre, es también la puerta del amor. El amor de Jesús entra por la puerta de la fe y la vivencia de este amor por parte de los creyentes es también un signo de la presencia de Dios - "dónde hay caridad y amor allí está Dios” -; lo cual atrae a los no creyentes hacia esta puerta de la fe. Sólo el amor atrae, sólo el amor es digno de fe.
"Creer en Cristo, es creer en el amor de Dios y abrirse a él. Sólo a partir de allí podrá a su vez en hombre empezar a amar" (J. M. Casabó, La Teología moral en san Juan, 379).
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Reconóceme Señor
En el gesto delicado
Para contigo en cada hermano
Reconóceme, Señor
En la oración temprana al alba
Y en la soledad, abandonada
Reconóceme, Señor
En la sonrisa de pobre, extendida su mano y olvidado
Reconóceme, Señor
En la mirada pérdida de tristeza
El corazón herido en tinieblas
Reconóceme, Señor
Porque si me miras y ves apenas,
La sombra de tu imagen serena
Seré como un pájaro con alas abiertas, desplegadas en vuelo hacia la Patria.
Él se orienta hacia la Luz y
busca refugio en la eternidad
el horizonte sublime,
Se deleita solo en la Verdad.
Reconóceme entonces, sin tardar, y
derrama tus dones sagrados
En esta comunidad, porque eres familia, Trinidad. Amen
[1] Cf. U. Vanni, Apocalípsis. Una asamblea litúrgica interpreta la historia (Verbo Divino; Estella 1998) 129-132.
[2] El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2005) 834.
[3] Lectura del Evangelio de Juan. Jn 13-17 Vol. III (Sígueme; Salamanca 1995) 71.
[4] Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 139.
[5] Card. J. Ratzinger, Mirar a Cristo. Ejercicios de fe, esperanza y amor (EDICEP; Valencia 1990) 87.
[6] Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 140.
[7] Luz de la Palabra. Comentarios a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 247.