AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Jesus se dirigiu das margens do lago para a casa de Jairo. Pelo caminho uma senhora toca e acaba sendo curada de uma crônica e penosa doença. Ao chegar na casa encontra a menina já morta. Chegou tarde demais! Nada pode mais ser feito! De fato, enquanto estavam a caminho, alguns avisaram o pai: “tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?”.
Quando chegaram havia confusão: choro, lamento, tristeza, gritos de desespero! Alguns até chegaram a caçoar de Jesus, porque disse: “por que essa confusão e esse choro? A criança não morreu, mas está dormindo”. Com toda a calma, sem ser indiferente à tristeza das pessoas e sem se irritar com a zombaria dos incrédulos, Jesus simplesmente pega na mão da menina e diz: “Talitá cum – Menina, levanta-te!”
Nós somos convidados a renovar nossa fé em Jesus Salvador. Jesus é aquele que salva nossa vida da morte. A sua salvação não é somente a salvação da alma ou do espírito, mas abraça todo o nosso ser. Também a nossa saúde faz parte da salvação que Jesus realiza.
Não podemos, porém, fazer promessas ilusórias. Essa passagem do evangelho e também outras que descrevem curas e milagres podem ser interpretadas de maneira falaciosa e manipuladas para fins pouco nobres.
O que o evangelho de hoje nos promete? Curas fáceis, milagres?
Desde sempre o ser humano está numa penosa procura de remédios para os seus males, especialmente para aqueles que nos fazem sentir impotentes. Quantas vezes aconteceu de, depois que a medicina se mostra impotente, nos ser recomendando um curandeiro ou até mesmo um exorcista? No momento em que a medicina se rende, se recorre a qualquer coisa que dê alguma esperança.
Foi mais ou menos o que aconteceu com Jesus. Depois que tudo falhou, recorre-se a Ele para ver se Ele pode dar um jeito numa situação desesperadora: a doença incurável da mulher e a morte da menina!
Mas será que Jesus é somente o quebra-galho a quem recorremos depois que todas as tentativas falharam?
Para não cairmos nesse erro, é preciso entender que as curas de Jesus não são milagres que têm fim em si mesmos. As curas não se limitam aos milagres, mas vão além dos milagres. Apontam para o mistério de Deus. Nas curas Jesus revela o Deus da vida. Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos. Ele quer que tenhamos a vida em abundância. Deus é aquele que faz triunfar a vida, mesmo que não elimine de imediato a doença e a morte física. Chegará o dia em que não haverá mais o pranto e a dor. E o último inimigo a ser vencido será a morte. Haverá vida: Vida eterna! Esse é o mistério que se antecipa nas curas que Jesus realiza. Em cada cura se torna visível e atual a promessa da vida eterna! Nas curas, percebemos que a promessa da vida eterna não é somente uma esperança futura, mas é uma promessa que começa a se realizar no aqui e no agora de nossa vida. A doença e a morte não têm a última palavra sobre a nossa vida. A última palavra sobre a nossa vida é a de Jesus: eu te ordeno, levanta-te! Vive! Vive comigo para sempre!
O evangelho deste domingo diz respeito, de uma maneira especial, às mulheres de qualquer idade e condição; mas sua mensagem é universal e não é dirigida somente a elas.
Impressiona-nos ver Jesus buscando a libertação radical das pessoas, de tudo aquilo que possa ser um obstáculo em suas relações, crescimento pessoal, realização total. Se considerarmos unicamente sua capacidade de curar enfermidades, nossa visão de Jesus seria muito superficial, sem captar o desejo dele de despertar em cada pessoa sua identidade mais profunda.
Ele, no seu “ministério terapêutico”, livre das ataduras da cultura, das leis, dos costumes e até da imagem de Deus alimentada pelas autoridades religiosas, é capaz de olhar cada pessoa e ver nela uma filha de Deus. Por isso, o Evangelho nos revela, através de seus ensinamentos e de suas obras, a mensagem profunda de Deus de querer que seus filhos e filhas se desenvolvam em plenitude e alcancem a felicidade.
O evangelista Marcos, neste domingo, nos situa diante de duas mulheres, ambas no limite da vida: a hemorroísa leva doze anos enferma (o tempo de maturação de uma mulher), e a adolescente que está no desabrochar da vida (doze anos é a entrada na vida adulta, conforme a visão desse tempo). São suas feridas que as conduzem para o interior do amor de Deus. Por essa abertura, elas se sentem aceitas e amadas. Por isso, nessa dupla atuação curativa de Jesus, cada um dos detalhes revela uma infinidade de mensagens diante das quais podemos nos deter para “saborear” alguma delas, e assim nos ajudar no nosso caminho de identificação com Ele.
Vamos dedicar atenção especial ao encontro de duas sensibilidades: a de Jesus e a da mulher com hemorragias. A cena é surpreendente. Marcos nos apresenta uma mulher desconhecida como modelo de fé para as comunidades cristãs. Dela, todos poderão aprender como buscar a Jesus com fé, como chegar a um contato sanador com Ele e como encontrar nele a força para iniciar uma vida nova, cheia de paz e saúde. A mulher é anônima, está sozinha, arruinada e junto dela não se vislumbram parentes ou amigos. Não é coxa, não é cega, não está paralítica, não é pobre, não é pagã. Só sabemos que padece de uma enfermidade secreta, tipicamente feminina, que lhe impede viver de maneira sadia sua vida de mulher, esposa e mãe. A religião e o contexto social lhe impõem um distanciamento desumanizador; a lei religiosa está destruindo esta mulher, sem oferecer-lhe nenhuma saída de esperança; existencialmente é considerada como morta: não há lugar para ela em nenhum ambiente.
A mulher está quebrada por dentro; arrasta um drama secreto. Leva uma vida oculta que ninguém conhece. Sua perda de sangue, além de torná-la estéril, encaminha-a para a morte e a situa no mundo da impureza, da vergonha e da desonra. Quer amar e não pode. Espalha “impureza”; segundo sua lei, converte em impuro tudo o que toca. Ela é toda angústia, é toda amargura. Sua ferida interior a corrói em silêncio. “...tinha sofrido nas mãos de muitos médios, gastou tudo o que possuía e, em vez de melhorar, piorava cada vez mais” (v.26).
Sofre muito, física e moralmente; sua vida está se esvaindo, secando, não têm forças para viver, sente-se separada dos outros. Seu dom, o sangue que possibilita gerar e nutrir outra vida nova, se converte em seu peso e em motivo para ser rejeitada por muitos. Excluída das relações, é submetida ao juízo social e ao isolamento. No entanto, ela resiste a viver para sempre como uma mulher enferma. Está sozinha. Ninguém lhe ajuda a aproximar-se de Jesus, mas ela saberá como encontrar-se com Ele. Não espera passivamente que Jesus se aproxime dela para lhe impor as mãos. Ela mesma toma a iniciativa e o busca. Vai superando todos os obstáculos, faz tudo o que pode e sabe.
A angústia armazenada leva-a a romper com sua Lei; ela tem de prescindir da instituição religiosa para aproximar-se de Jesus, por sua conta, saltando sobre todas as normas. Cansada de sofrer física e moralmente e alimentando um profundo desejo de ser curada, rompe com todos os protocolos sanitários que a separavam dos outros, inclusive de Deus, e busca a quem possa lhe devolver a saúde. Para isso, ousa transgredir as normas de distanciamento social, abre caminho por entre a multidão para se aproximar de Jesus, de quem muitos lhe haviam falado.
A mulher não se contenta só em ver Jesus de longe. Busca um contato mais direto e pessoal. Atua com determinação, mas com pudor e delicadeza. Não quer atrapalhar ninguém e nem interromper o caminho de Jesus. Aproxima-se dele por detrás, entre as pessoas e lhe toca o manto. Nesse gesto delicado se concretiza e se expressa sua confiança total na força sanadora de Jesus. Toca e se deixa tocar por Ele para poder experimentar a cura e a paz em seu interior.
“Quem tocou na minha roupa?”, perguntará Jesus. A mulher é chamada a sair de seu esconderijo, a romper o tabu que a marginalizava, a colocar um fim na cumplicidade existente entre sua vergonha e a rejeição social.
Jesus não aceita essa situação “às escondidas”, à qual a mulher estava condenada por um tabu, de modo que, fora de seu costume habitual, Ele concede ao milagre o caráter de publicidade. Ela é convocada por este Homem a depositar fé em si mesma como mulher. Doravante já não será mais uma “mulher impura”, mas uma filha muito amada. “Filha, a tua fé te curou”.
Para Jesus, não basta curá-la, e não fica satisfeito enquanto não estabelecer com ela um diálogo interpessoal, no qual ela lhe diz “toda a verdade”. A cura recebida abarca, pois, não somente seu corpo, mas também seu espírito, seus temores e sua vergonha, que desaparecem na confiança do diálogo e na experiência de ser reconhecida, escutada e compreendida.
Ela esperava ser salva na passiva, mas Jesus emprega o verbo na ativa, e situa nela a força que a salvou: a mulher vai embora, não apenas curada, mas tendo escutado uma bem-aventurança por causa de sua fé e tendo recebido o nome de “filha”, um título familiar raro nos Evangelhos. “Minha filha, a tua fé te curou; vai em paz e fica curada dessa doença” (v. 34)
A hemorroísa é a única pessoa nos evangelhos à qual Jesus chama “filha”. Porque estava separada de qualquer relação, Jesus estabelece com ela o vínculo mais forte que experimentou: chama-a “filha”, como Ele mesmo se sentiu chamado de “filho” pelo Pai, no batismo. Ele está batizando esta mulher; ela está nascendo para uma nova vida.
O relato deste domingo também nos faz penetrar nos meandros da fé, convidando-nos a crer que nossa força reside precisamente em nossos limites e fragilidades, reconhecidos e assumidos.
A Revelação nos diz que Deus tem mais facilidade de entrar em nossas vidas pelas feridas, fracassos, derrotas... e não pela porta das virtudes, da perfeição, do legalismo...
- Fazer “memória redentora” de suas “feridas existenciais” como oportunidades para quebrar todos os protocolos, inclusive religiosos, e se aproximar de Jesus para tocá-lo. Talvez, basta um “toque” para o despertar de outras energias e inspirações e, assim, viver com mais intensidade e sentido.
Jesus adotou perante as mulheres uma atitude tão surpreendente que confundiu até os seus próprios discípulos. Naquela sociedade judaica dominada por homens, não era fácil compreender a nova postura de Jesus, acolhendo sem discriminação homens e mulheres na sua comunidade de seguidores. Se algo se depreende com clareza da sua atuação, é que, para ele, homens e mulheres têm igual dignidade pessoal, sem que a mulher tenha de ser objeto de domínio do homem.
No entanto, os cristãos ainda não fomos capazes de extrair todas as consequências que resultam da atitude do nosso Mestre. O teólogo francês René Laurentin chegou a dizer que esta é “uma revolução ignorada” pela Igreja.
Em geral, os homens continuamos a suspeitar de todo movimento feminista, e reagimos secretamente contra qualquer abordagem que possa pôr em perigo a nossa situação privilegiada sobre a mulher.
Numa Igreja liderada por homens, não fomos capazes de descobrir todo o pecado que se encerra no domínio que os homens exercemos, de muitas formas, sobre as mulheres. E a verdade é que não se escutam desde a hierarquia vozes, que em nome de Cristo, urjam os homens a uma profunda conversão.
Os seguidores de Jesus devemos tomar consciência de que o domínio atual dos homens sobre as mulheres não é “algo natural”, mas um comportamento profundamente viciado pelo egoísmo e pela imposição injusta do nosso poder machista.
É possível superar este domínio masculino? A revolução impulsionada por Jesus não se realizará despertando a agressividade mútua e promovendo uma guerra entre os sexos. Jesus chama a uma conversão que nos faça viver de outra forma as relações que nos unem a homens e mulheres.
As diferenças entre os sexos, para além do seu papel na origem de uma nova vida, devem ser direcionadas para a cooperação, o apoio e o crescimento mútuos. E para isso, nós, homens, devemos ouvir com muito mais lucidez e sinceridade a interpelação daquele a quem, segundo o relato evangélico, ”saiu força” para curar a mulher.
O texto sobre o qual vamos refletir é Mc 5,21-43. Estamos no capítulo cinco do evangelho de Marcos. Trata-se da ressurreição da filha de Jairo e da cura da mulher hemorroíssa. São duas mulheres sem nome, sem dignidade e excluídas da sociedade por causa das impurezas do ser mulher que carregam no corpo. Quer saber como e o porquê dessa realidade de ontem e de hoje? Então, vamos lá!
Jesus acabara de passar para a outra margem do mar, no episódio do medo dos discípulos (Mc 4,35-41). Jesus desce e entra no território dos pagãos gerasenos, fora do ambiente judaico. Ali curara um endemoninhado, o qual, na despedida, pede a Jesus para segui-lo. Jesus responde não e pede que ele volte e aja com misericórdia para com sua família.
De volta ao ambiente judaico, Jesus não vai para a sinagoga, como de costume, mas é a sinagoga que vem até ele na pessoa de um chefe dela chamado Jairo, nome que significa Deus ressuscitará ou brilha a divindade. Repetindo o gesto do endemoninhado, Jairo cai aos pés de Jesus e lhe pede que tenha misericórdia com a sua casa, que cure a sua filha, uma menina de doze anos, que estava morrendo. A sinagoga implora a salvação para Jesus.
A caminho de sua casa, ocorre outra cena inusitada: uma mulher enferma de hemorragia, sangue que saía constantemente de seu corpo, encontra a cura ao tocar, com fé, a roupa de Jesus, no meio de muita aglomeração. A perda de sangue estava ligada à morte, fonte de impureza sacerdotal. Sangue menstrual era o sangue da morte.
Portanto, essa mulher era impura duas vezes, por ser mulher e estar doente. Ela conhecia a lei judaica que rezava que a impureza dela passava para quem ela tocasse (Lv 15,27). Jesus estava em perigo e ela podia ser reconhecida e apedrejada por tal atitude.
Jesus, o puro, que havia tocado um impuro leproso (Mc 2,40-45) para curá-lo, agora, corria o risco de ser contaminado. Na visão judaica daquela época, Deus era puríssimo e não suportava impurezas. Deus punia com morte os impuros. Contrário a essa visão, Jesus, por ser Deus, sente que foi tocado e pergunta por quem o fizera. A mulher sem nome não tem medo da aplicação da Lei. Num gesto de fé, ela se dá a conhecer publicamente ao prostrar-se aos pés de Jesus, que a enaltece, chamando-a de minha filha, contrapondo-a à filha de Jairo. Ambas não tinham quem as defendesse. Na sequência, os familiares de Jairo chegam para avisá-lo da morte de sua filha. Jesus ouve e lhe pede para ter fé como aquela mulher. A fé salva e nos devolve a paz.
Na casa de Jairo, outras cenas saltam aos nossos olhos. Os que não creem zombam de Jesus, sabendo que Ele não poderia fazer nada por um morto. A menina sem nome é tratada com dignidade. Jesus a toma pela mão e diz em aramaico, sua língua familiar: Talítha Kum, que quer dizer “Menina, eu te digo, levanta-te!”. Levantar-se é o mesmo que ressuscitar. Por ser um milagre de ressurreição somente Pedro, Tiago, João, o pai e a mãe da menina puderam presenciar ocorrido. Jesus vence a morte e une a comunidade dos que nele creem. Dar de comer à menina significa dizer que ela voltou ao mundo dos vivos.
Jesus tira da exclusão duas mulheres, uma adulta impura, e uma menina que estava se tornando mulher, isto é, que conheceria no corpo a dor da exclusão porque passaria a menstruar. As mulheres no tempo de Jesus tinham muito filhos, de preferência, homens, somente para não se sentirem impuras com a menstruação.
No tempo de Jesus, as pessoas pensavam que a mulher era inferior ao homem em tudo e que a ele deveria obedecer, ser dirigida por ele, pois foi ao homem que Deus deu o poder, escreveu, mas tarde, o historiador judeu Flávio Josefo (37-100 E.C.). O poder de procriar foi dado ao homem e não à mulher, pensavam. “Foi pela culpa da mulher que começou o pecado, por sua culpa todos morremos”, registrou Eclo 25,24. Ou ainda: “Não dês saída à água, nem liberdade de falar à mulher má. Se a mulher não obedece ao dedo e ao olho, separa-te dela (Eclo 24,25-26)”. “É motivo de vergonha para o homem uma mulher que sustenta o marido” (Eclo 25,22). A mulher não precisava ir rezar na sinagoga e, caso fosse, teria que ficar em um lugar reservado e de cabeça coberta para não tirar a atenção, isto é, seduzir o homem, na hora da reza.
Poderíamos elencar aqui muitas outras informações sobre o desprezo da mulher no tempo de Jesus, mas esses bastam para demonstrar como Jesus agiu de forma libertadora no seu tempo. Não teve medo da sociedade machista. Propôs atitudes de inclusão das mulheres. O encontro dessas mulheres com Jesus foi libertador.
Para nós, hoje, a pergunta final: como anda a situação da discriminação da mulher? Melhorou? Sim, mas ainda falta muito para a igualdade de gênero se estabelecer na sociedade, na Igreja, na política, na educação, na família, de modo que todas as mulheres possam caminhar em paz, assim como a mulher que foi libertada da impureza e, como Talita, chamemo-la assim, estar levantada para vencer todos os tipos de opressão, exclusão e ressuscitar para a vida. Talita Kum, Mulher, levanta-te! Homem, abrace essa causa!
DOMINGO XIII DURANTE EL AÑO – CICLO "B"
Primera Lectura (Sap 1,13-15; 2,23-24):
La cuestión de la muerte es afrontada con profundidad por el sabio en esta sección de su obra, pero siempre desde una perspectiva que podemos llamar “teológica”. Por ello reflexiona teniendo en cuenta no sólo la experiencia sino también la revelación contenida en la Torá de Israel. En efecto, como dice J. Vilchez[1]: "En los v.13-14 el autor tiene como telón de fondo a Gen 1-3, capítulos que recurrirán con frecuencia a lo largo de todo el libro de la Sabiduría. Así, pues, al decir que Dios no hizo la muerte nos está comunicando que Dios desde el principio no quiso para el hombre la muerte, sino la vida".
En 2,23 "el autor tiene presente Gn 1,27 y su contexto, pero no se contenta con repetir el venerable texto, sino que lo interpreta y lo completa a la luz de una teología más desarrollada sobre la inmortalidad personal más allá de la muerte"[2]. En concreto, el autor afirma que el plan de Dios sobre el hombre y, por tanto, el destino del hombre mismo, es la inmortalidad con Dios; aunque de hecho su condición sea mortal.
Queda en pie, entonces, la cuestión sobre el origen de la muerte; si no viene de Dios, ¿de dónde proviene? La respuesta de la Sabiduría, siguiendo a Gn 3, es que vino por el pecado de los hombres que cedieron a la tentación del demonio.
Para comprender esto tenemos que aceptar que el autor no se refiere sólo y exclusivamente a la muerte como hecho biológico, sino más bien a la muerte-perdición que incluye un sentido moral y escatológico. Esto se ve claro si tenemos en cuenta que el gran debate de esta sección (1,12-2,24) es la lucha entre la justicia y la injusticia; entre malvados y justos. Por ello se afirma que son los malvados e injustos los que perecerán padeciendo la muerte espiritual y escatológica.
Por último, es de notar el contraste entre el amor de Dios que quiere el bien, la vida inmortal para los hombres; y la envidia del diablo que quiere su perdición. En la encrucijada de ambas fuerzas, no proporcionadas por cierto, se encuentra la libertad del hombre a quien toca decidir de parte de quien elige estar. Y esta elección tiene consecuencias.
Evangelio (Mc 5,21-43):
Para los estudiosos que siguen el método histórico-crítico nos encontramos con dos relatos independientes, el de la hija de Jairo y el de la hemorroisa, que en su origen existieron separadamente[3]. Por su parte, quienes se aproximan al texto desde una perspectiva estructuralista[4] o narrativa[5] insisten en defender la unidad de la sección en su estado actual a la hora de interpretarla. Por nuestra parte, seguiremos esta segunda opción.
El relato nos sitúa de nuevo en la orilla judía del mar de Galilea. Allí mismo se queda Jesús y una multitud lo rodea. En estas circunstancias aparece un padre desesperado por la vida de su hija. Se trata de Jairo, uno de los jefes de la sinagoga. El jefe de la sinagoga tenía la función de dirigir la liturgia sinagogal y nombrar a los colaboradores; al mismo tiempo que era el responsable de cuidar la misma sinagoga. Pues bien, es personaje notable es quien se arroja a los pies de Jesús y le suplica por su hijita diciendo: "mi hijita está en lo último, ven a imponerle las manos para que se salve y viva". Se trata, por tanto, de una situación límite que le toca vivir al "jefe de sinagoga" quien se dirige a Jesús como último recurso. El gesto de postrarse y el tono del pedido denotan su desesperación.
Jesús accede ir a la casa de Jairo y para ello tiene que atravesar "una gran multitud que lo apretujaba por todos lados". En esta nueva circunstancia aparece en escena una mujer. De ella no se dice su nombre, pero el narrador se explaya bastante en describir su desesperada situación: sufre "flujo de sangre o hemorragias" desde hace doce años y, habiendo gastado toda su fortuna con los médicos, no ha podido librarse de la enfermedad, sino que va de mal en peor, como nota el texto. La expresión "flujo de sangre" la encontramos en Lv 15,19; 20,18 LXX para referirse a la menstruación donde se establece que en este período la mujer es impura[6]. Incluso más, según Lv 15,25, si el "flujo de sangre" tiene lugar fuera del período de la menstruación, la mujer "será impura mientras dure el flujo". Vale decir que en aquel contexto social la mujer, además de sufrir el mal de la enfermedad, padece una marginación social y religiosa. Por tanto, también esta mujer se encuentra en una situación límite, de desesperación, y recurre a Jesús por "lo que había oído hablar de Él".
A diferencia de Jairo, esta mujer no se atreve a dirigirse directamente a Jesús. Muy posiblemente su condición de mujer y de "impura" levante una insalvable barrera social para acercarse abiertamente a Jesús. Por ello va por detrás y, sin mediar palabra, toca el manto de Jesús movida por una gran fe/confianza: "con sólo tocar su manto quedaré salvada". Es interesante esta opinión: “el verbo "tocar" tiene una función clave en este episodio: se repite cuatro veces. Expresa con una imagen material qué es la fe: es decir, contacto personal con Jesús, del cual se recibe un don que rehabilita y hace renacer”[7].
El relato habla de una curación instantánea (kai. euvqu.j) de la mujer, quien lo percibe en su propio cuerpo. También señala que Jesús, al instante (kai. euvqu.j) se da cuenta de la fuerza que ha salido de él y comienza a buscar a la mujer. Jesús pregunta y mira. Los discípulos no comprenden lo sucedido. La mujer sí lo comprende y, con temor y temblor, se acerca ahora de frente a Jesús, se postra y le cuenta toda la verdad de lo sucedido. Según F. Lentzen Deis[8], “de esta manera se hace posible una reintegración de la mujer en la sociedad y se le concede, ante todo, valor para volver a ocupar en el futuro su puesto sin temor”.
La frase de Jesús que cierra toda esta escena es importante y hay que prestarle mucha atención: "Hija, tu fe te ha salvado. Vete en paz, y queda sana de tu aflicción".
En primer lugar, sorprende el vocativo "hija" dirigido a la mujer. Es un caso único en el evangelio. Algunos estudiosos piensan que hay que relacionar la condición de hija con la fe, por cuanto por la fe ha recuperado su condición de hija de Dios. Por ejemplo J. Delorme[9] afirma: "Esta palabra viene al término de un encuentro que fue difícil, como el término de un nacimiento. Debe comprenderse a la luz de lo que sigue: tu fe te ha salvado. Los dos términos, salvar e hija, hablan de vida nueva para una mujer que iba hacia la muerte. Se ha convertido en hija por su fe, como el paralítico de Cafarnaún se convirtió en hijo. Jesús no se apropia ni de uno ni de otra. Reconoce que un ser nuevo ha nacido allí donde discierne la fe".
Tampoco es frecuente en Marcos la expresión: "tu fe te ha salvado". Aparece aquí y en la curación del ciego Bartimeo (cf. Mc 10,52). Mediante esta frase Jesús declara públicamente que la salvación/sanación de la mujer vino por su fe, su actitud confiada en el poder de Jesús (de quien había oído hablar); y no por el simple gesto de tocar su manto.
El diálogo entre Jesús y la mujer viene interrumpido por la sorpresiva aparición de "empleados" de la casa del jefe de la sinagoga para anunciarles la muerte de la hija de Jairo. Con esta intervención volvemos al primer relato. Jesús no presta atención a estas palabras – como no hizo caso de las palabras de sus discípulos poco antes – y le pide a Jairo que venza el temor y tenga fe. Como bien nota M. Navarro Puerto[10]: "La frase que dirige a Jairo, no temas, sólo cree, está relacionada con los acontecimientos inmediatamente vividos. Jesús viene a decir a Jairo: haz como ella, cree como ella, de forma que si él ha aprendido de la mujer la fuerza de la fe, ahora enseña a Jairo apoyándose en lo aprendido experiencialmente".
A continuación, la narración se desenvuelve con rapidez y poniendo de relieve la búsqueda de privacidad por parte de Jesús: sólo presencian la curación tres discípulos escogidos (los mismos de la Transfiguración y Getsemaní) y los padres de la niña. También aquí Jesús hace caso omiso de los que juzgan sólo por las apariencias y se burlan de él.
El milagro implica un gesto (tomar la mano) y una orden de Jesús (conservada en su lengua original, el arameo: "Talitá kum"). No hay resistencia alguna: la niña se pone en pie al instante (kai. euvqu.j) y camina. Luego de pedirles reservas sobre lo sucedido, Jesús manda que le den de comer. Estas últimas palabras denotan una actitud de ternura por parte de Jesús, de preocupación por la situación concreta de la niña. Suenan en claro contraste con el reproche de los discípulos a Jesús durante la tempestad en el lago: "no te importa que perezcamos". Jesús demuestra en este detalle cuanto le importa la vida de los demás, en todos los órdenes.
En síntesis, “el evangelio ha reunido estos dos milagros porque es un encuentro de Jesús con la muerte manifestada en dos formas distintas: un muerto en vida y un muerto físicamente. Y Jesús demostró su poder ante esta muerte, contra la cual los hombres no pueden hacer nada” (L. H. Rivas).
ALGUNAS REFLEXIONES:
Una primera manera de apropiarnos el evangelio de hoy es ponernos en el lugar de la mujer y de la niña enfermas. Ambas se encuentran en una situación límite, y ya casi en brazos de la desesperanza. La hija de Jairo por la gravedad de su enfermedad; y la mujer con flujos de sangre porque había intentado curarse de mil maneras sin poder lograrlo. Esta mujer pone su confianza en Jesús y busca la sanación en Él y sólo Él. Jairo también recurre con fe a Jesús pidiendo la curación de su hija en estado terminal.
Creer en Jesús es confiar en Él, esperar de Él, como hijo de Dios, lo que nada ni nadie puede darnos, que es la vida eterna. Estas dos curaciones son un signo que nos muestran que Jesús puede vencer al mal en su raíz y, por eso, puede hacer que una niña de doce años, ya fallecida, se levante y camine. Estos relatos de curaciones milagrosas que hace Jesús son fundamentalmente una invitación a creer en Él, a confiarnos y abandonarnos a Él en las situaciones límite, de muerte, que nos puedan afectar. Como bien comenta A. Vanhoye[11]: "podemos observar en este episodio cómo se manifiesta – de una manera vivaz, aunque asimismo muy espontánea – el poder de la vida que procede de Jesús. Los milagros se han contado para que nosotros tengamos fe en ese poder de Jesús. Él es fuente de vida: no sólo de la vida física, sino también, y sobre todo, de la espiritual, de la vida creada a imagen de Dios, como dice el Génesis".
Por tanto, el evangelio de hoy nos ofrece la luz de la fe en Jesús que ilumina la realidad de la muerte/enfermedad con la buena noticia de la vida/salvación/sanación. No tengamos miedo al rechazo, porque el Señor siempre nos recibe, nos escucha y nos sana.
Además, en la mujer que sufría de hemorragias, vemos descrito un proceso de fe. En efecto, la mujer tiene inicialmente fe en Jesús, pero sin tener un vínculo personal con Él, sólo lo busca desesperada por su poder de curación. En cambio, Jesús quiere el encuentro personal y por eso la busca en medio de la multitud y, luego de escucharla, le reconoce la fuerza de su fe que la llevó a la curación. La conclusión es que, más allá de la sanación física, está la salvación personal que consiste en el vínculo con Jesús. En efecto, de mujer anónima y sin palabras, aunque creyente, llega a un diálogo confiado y verdadero con Jesús, quien la llama hija por su nueva condición espiritual. Por tanto, sólo cuando llega a esta situación de comunión personal con Jesús, puede decirse que ha sido “salvada por su fe” y se puede "ir en paz" pues ha recuperado, después de largos doce años, su salud integral, física y espiritual, que en el Antiguo Testamento se expresaba con la palabra: šālôm.
Al respeto dice J. Delorme[12]: "la transformación central del relato no es la curación, sino el nacimiento del diálogo […] Su fe (de la mujer) se expresa además y sobre todo en la manera en que, cambiada por el acontecimiento hasta en su conocimiento de sí misma y de Jesús, ella se ha abierto a él. No pasa simplemente de una fe secreta a una fe manifiesta. Su fe ha conocido la misma historia y la misma transformación que su relación con Jesús".
Por su parte, y a mi entender, la historia de Jairo más que el proceso de fe pone de manifiesto el objeto de esa fe; en otras palabras, lo que podemos esperar de la misma. Es decir, donde los hombres ven muerte, situación irreversible por la que no vale la pena molestar al maestro, Jesús ve sólo un estado de sueño del que se puede despertar.
Ahora bien, sólo de la fe en Dios se puede esperar tanto. De nada ni de nadie más. Ante la muerte todas las teorías, ideologías y prepotencias del hombre se derrumban. Sólo queda la fe en Jesús, Señor de la vida y de la muerte por su resurrección. Este despertar/resucitar de la hija de Jairo es signo de la resurrección definitiva de Cristo. Por ello la necesidad de guardar silencio, de callar esperando la llegada de aquel luminoso momento en que la muerte es definitivamente vencida. Sólo desde la resurrección de Jesucristo se ilumina el misterio de la muerte.
Al respecto dijo el Papa Francisco comentando este evangelio: “Estos dos episodios – una curación y una resurrección – tienen un único centro: la fe. El mensaje es claro, y se puede resumir en una pregunta: ¿creemos que Jesús – una pregunta que nos hacemos nosotros - nos puede curar y nos puede despertar de la muerte? Todo el Evangelio está escrito en la luz de esta fe: Jesús ha resucitado, ha vencido la muerte, y por esta victoria suya también nosotros resucitaremos. Esta fe, que para los primeros cristianos era segura, puede empañarse y hacerse incierta, al punto que algunos confunden resurrección con reencarnación. Pero la Palabra de Dios de este domingo nos invita a vivir en la certeza de la resurrección: Jesús es el Señor, Jesús tiene poder sobre el mal y sobre la muerte, y quiere llevarnos a la casa del Padre, en donde reina la vida. Y allí nos encontraremos todos, todos los que estamos en la plaza hoy, nos encontraremos en la casa del Padre, en la vida que Jesús nos dará” (Ángelus del 28 de junio de 2015).
A esta mirada podemos sumarle, de modo complementario, el ponernos del lado de Jesús, contemplando sus actitudes para imitarlo. Notemos cómo Jesús recibe a Jairo en su desesperada búsqueda de un milagro que salve a su hija moribunda; su disponibilidad para ir con él hasta su casa para curarla. A partir de ese momento la situación de esta niña enferma pasó a ser lo más importante y prioritario para Jesús. Y si se demora un poco es porque le surge el atender otro caso desesperado, el de la mujer con flujo de sangre y desahuciada por los médicos. Ya vimos cómo Jesús no se conforma con un gesto anónimo de curación sino que busca el encuentro personal con la mujer, el cara a cara y el diálogo, para luego confirmarle que la curación vino por su fe y que puede ir en paz, libre de la enfermedad y de la condenación social y religiosa a causa de su impureza legal.
Podemos también contemplar las actitudes y los gestos de Jesús con la hija de Jairo. Nunca pierde la esperanza, la toma de la mano y hace que la niña se levante y camine. Y se preocupa hasta del detalle de que le dieran algo de comer. El Señor está atento hasta los mínimos detalles, cuidando y protegiendo la vida.
En síntesis, como dijo el Papa Francisco en el ángelus de 1° de julio de 2018: “Se trata de dos relatos entrelazados, con un único centro: la fe, y muestran a Jesús como fuente de vida, como Aquél que vuelve a dar la vida a quien confía plenamente en Él. Los dos protagonistas, es decir, el padre de la muchacha y la mujer enferma, no son discípulos de Jesús y sin embargo son escuchados por su fe. Tienen fe en aquel hombre. De esto comprendemos que en el camino del Señor están admitidos todos: ninguno debe sentirse un intruso o uno que no tiene derecho. Para tener acceso a su corazón, al corazón de Jesús hay un solo requisito: sentirse necesitado de curación y confiarse a Él. Yo os pregunto: ¿Cada uno de vosotros se siente necesitado de curación? ¿De cualquier cosa, de cualquier pecado, de cualquier problema? Y, si siente esto, ¿tiene fe en Jesús? Son dos los requisitos para ser sanados, para tener acceso a su corazón: sentirse necesitados de curación y confiarse a Él. Jesús va a descubrir a estas personas entre la muchedumbre y les saca del anonimato, los libera del miedo de vivir y de atreverse. Lo hace con una mirada y con una palabra que los pone de nuevo en camino después de tantos sufrimientos y humillaciones. También nosotros estamos llamados a aprender y a imitar estas palabras que liberan y a estas miradas que restituyen, a quien está privado, las ganas de vivir”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Señor,
Sáname…
Me entrego a la oración sin reservas
Y me dejo alcanzar por tu fuerza
El manto que cubre tu cuerpo
Es ahora una figura de inerte apariencia
Me acerco como esclavo ante el Rey, temeroso
Y tiemblo de solo pensar que mi fe
Hará impacto en tu corazón y envolverá el mío
Solo porque de mí, tú lo sabes todo
¿Preguntarás quién te tocó?
Para que caiga en la cuenta de que eres el Señor
Me arrojaré a tus pies recuperado para recibir la misión.
Te llevaré a mi casa, allí también la salud no nos alcanza
Y esperamos en ti, Fuerza y Calma
Nos envíes tu Espíritu para saciar el alma. Amén
[1] Sabiduría (Verbo Divino; Estella 1990) 148.
[2] J. Vilchez, Sabiduría, 170.
[3] Cf. por ejemplo J. Gnilka, El evangelio según San Marcos. Vol. I (Sígueme; Salamanca 1992) 243-245.
[4] Cf. J. Delorme, El riesgo de la palabra. Leer los evangelios (Lidium; Buenos Aires 1995) 45-72.
[5] Cf. M. Navarro Puerto, Marcos (Verbo Divino; Estella 2006) 184-207. También véase Fritzleo Lentzen-Deis, Comentario al evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 1998) 172 desde la pragmalinguística.
[6] No se trata de una cuestión de género ni de discriminación por este motivo pues antes de estos textos, en Lv 15,2-3.13-15, se declaran impuros los hombres que padecen flujo seminal.
[7] T. Beck – U. Benedetti – G. Brambillasca – Clerici - S. Fauti, Una comunidad lee el Evangelio de Marcos (San Pablo; Bogotá 2006) 183.
[8] Comentario al evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 1998) 177.
[9] El riesgo de la palabra. Leer los evangelios (Lidium; Buenos Aires 1995) 59.
[10] Marcos (Verbo Divino; Estella 2006) 201.
[11] Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo B (Mensajero; Bilbao 2008) 226.
[12] El riesgo de la palabra. Leer los evangelios (Lidium; Buenos Aires 1995) 57.60.-