17/08/2025
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura Apocalipse 11,19a; 12,1-6a.10ab
Salmo 44(45) R- À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir
Segunda Leitura: 1 Coríntios 15,20-27a
Evangelho Lucas 1,39-56 (Cântico de Maria).
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naqueles dias, 39Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.46Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. 51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa. – Palavra da salvação.
Lc 1,39-56
Hoje nós nos unimos para cantar com Maria: “todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor”. O que nos ensina a exaltação da serva Maria?
1. A assunção é um privilégio. Um privilégio que nos ensina e nos revela o desígnio de Deus em relação a todos nós.
O privilégio da assunção consiste na união admirável de Maria com Cristo, uma união de corpo e de alma que começou na Anunciação, mas que cresceu sempre mais ao longo dos anos e da vida de Maria e que alcança a plenitude na assunção.
2. Toda a vida de Maria foi um caminhar na fé. O evangelho que acabamos de ouvir nos mostra como essa união com Cristo (sua concepção virginal) se desdobra no anúncio e no serviço. “Ela foi apressadamente...”.
Este breve relato mostra quais são as características da ação da jovem Maria: ela é capaz de um amor atento, concreto, alegre e terno.
Seu amor é atento: Maria não precisa de pedidos para compreender a necessidade da prima Isabel, de idade madura e à espera de um filho. Intui a necessidade e corre ao seu encontro: seu olhar, nutrido de amor, compreendeu o que se devia fazer muito além de qualquer comunicação verbal. “Ubi amor, ibi oculus”: onde existe o amor, o olho vê aquilo que um olhar sem amor não sabe ver.
À atenção, Maria une a concretude: não perde tempo sonhando com boas intenções. Age com prontidão. A expressão “apressadamente” (v. 39) fala da solicitude e da urgência com que concretiza a decisão de ir ajudar a Mãe de João. Santo Ambrósio comenta: “A graça do Espírito Santo não tolera delongas” (Expositio in Evangelium secundum Lucam, 2,19)!
Depois, o amor de Maria é perpassado de alegria: ela não realiza seus atos como cumprimento pesado de um dever ou como obediência a uma obrigação imposta pelas circunstâncias. Nela tudo é gratuidade, bem que se difunde, generosidade vivida sem cálculo ou constrangimentos. A sua alegria (evangelii gaudium) consiste em se sentir tão amada que percebe a obrigação de amar como um corresponder ao amor recebido.
Exatamente por isso, tudo em Maria se vive em plenitude a ternura, isto é, o amor que gera alegria, que não cria distâncias nem cria dependência. O amor de Maria não é somente alegre, o seu amor enche o outro de alegria, enche o outro com o espanto e a beleza de se descobrir objeto de puro dom. “Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre” (v. 43s). Ternura é dar despertando alegria no amado: quem não ama com ternura, cria dependências ou mantém distâncias nas quais é impossível desencadear a alegria.
Nisso tudo, a fé de Maria, que se irradia na caridade, é um modelo para nós, especialmente nas relações familiares e comunitárias.
3. É esse o mistério que a liturgia de hoje proclama: “Aurora e esplendor da Igreja, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou vosso Filho feito homem”.
Notem que a liturgia fala da Assunção como nosso consolo e esperança. A assunção de Maria revela qual é a vontade de Deus, qual é o seu desígnio, qual é o seu desejo em relação a nós: é a nossa glorificação em corpo e alma, de todo nosso ser, não somente de uma parte de nós. O que exaltamos em Maria é, ao mesmo tempo, a expressão de nossa esperança no desígnio de Deus. A Assunção é confirmação e realização antecipada do nosso destino de salvação. Deus revela não só com palavras, mas também com fatos a sua vontade.
4. A Assunção confirma a unidade do ser humano (corpo e alma) e nos confirma que devemos glorificar e servir a Deus com todos o nosso ser (corpo e alma).
Servi-lo só com o corpo é escravidão. Servi-lo só com a alma é dedicar-lhe um amor distante e irreal.
Viver neste mundo servindo e amando Deus, viver unido com Jesus Cristo, viver como Maria viveu nos levará a sermos glorificados em corpo e alma como aconteceu com Cristo e como aconteceu com Maria.
Perguntemo-nos: Qual é meu estilo de vida? Como Maria, sou atento ao outro, às suas necessidades evidentes e também as ocultas? Sei ser concreto no meu modo de amar? Meu amor é terno como o de Maria, gerando alegria e a paz no coração do outro? Procuro manifestar atenção e solidariedade com quem sofre?
Ó Maria, Nossa Senhora da Ponte! Logo depois que o anjo te anunciou que serias a “Mãe do meu Senhor”, te dirigiste apressadamente à casa de Zacarias e de Isabel. Foste para a “região montanhosa”; subiste colinas e montes; atravessaste vales com teus passos rápidos e decididos.
Em ti e por meio de ti, Jesus se tornou itinerante antes mesmo de nascer. Em ti e por ti, Jesus colocou em prática o que Ele próprio ensinaria aos discípulos: “não leveis bolsa, nem duas túnicas, não saudeis ninguém pelo caminho; em qualquer casa que entrardes dizei: ‘a paz esteja nesta casa’”.
Como correste, ó Maria! Desejo também te acompanhar para levar Jesus aos outros. “Como são belos os pés de quem anuncia a paz”. Prometo me esforçar em seguir teus pés velozes. Peço que tenhas paciência comigo se me atraso por causa de meus pecados.
Olha com benevolência quem te admira e te ama.
FESTA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA - 20º DomTC - Lc 1,39-56 – Ano C
“...porque Ele olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48)
O dogma da Assunção afirma que Maria, mãe de Jesus, “subiu ao céu como mulher plena”.
A festa da Assunção nos revela que em Maria realiza-se a situação final, situação prometida a toda humanidade: “ser um dia de Deus e para Deus”; Maria o é desde o início (imaculada) até o fim (assunção), através de uma fidelidade de toda a sua vida.
Maria foi “assunta ao céu” porque “levantou-se apressadamente” em direção ao serviço; ela foi “assunta” porque assumiu tudo o que é humano, porque “desceu” e se comprometeu com a história dos pequenos e marginalizados. Maria foi glorificada porque se fez radicalmente “humana”; foi “assunta ao céu” porque sempre foi “olhada” por Deus, que a engrandeceu plenamente.
“Alegra-se meu espírito em Deus meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva”, canta Maria no seu “Magnificat”, reconhecendo que nesse olhar divino está a fonte de seu júbilo: Deus se inclinou para ela, a envolveu em sua ternura e a inundou de graça. E Maria, ao sentir-se assim olhada, se alegra até as raízes mais profundas de seu ser.
Mas, sem deter-se aí, dirige seus olhos para onde Deus sempre olha e contempla a história com o mesmo olhar na qual se sentiu envolvida. Aproxima-se da “janela” da realidade com olhos novos, com um realismo consciente da fragilidade das pessoas e da dureza da vida: há famintos, pobres e humilhados; há ambições e poderes opressores que são a causa da tanta miséria e violência.
Maria não se deixa enganar pelas aparências, pois revela-se capaz de perfurar a realidade e ver as coisas, as pessoas e as relações tal como Deus as vê. Por isso, adianta-se a contemplar os famintos já saciados, os humildes e abatidos já exaltados e os ricos e poderosos despedidos de mãos vazias.
Porque “sentiu-se olhada amorosamente por Deus” Maria se revela com olhos contemplativos; brilham neles traços de ternura, de compreensão e amor compassivo, que atraem como imã. São olhos que expressam amor, proximidade, sensibilidade, interesse pela realidade. É o olhar da pessoa próxima que se “põe na pele do outro”, o olhar da pessoa que se deixa afetar.
Maria se revela com olhos contemplativos. É o olhar da pessoa próxima que se “põe na pele do outro”, o olhar da pessoa que se deixa afetar – Adroaldo Palaoro
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Podemos dizer que Maria tem “olhos oblativos”, comprometidos. “Faz-te olhar”, recomenda Rumi, o místico sufi do século XIII, com sua costumeira simplicidade e determinação.
Maria tem os olhos grandes da mulher contemplativa; olhos abertos e serenos, voltados para o mistério interior e exterior. Tudo cabe sob o amparo desta fonte cálida.
Há um adágio latino que diz: “ubi amor, ibi oculus”. “Onde há amor, ali está o olhar”. O amor direciona o olhar, a atenção e o cuidado para aquilo que se ama. E onde está o olhar, o amor passa do coração aos pés e às mãos. O amor vê o que os olhos não veem. O amor vê o que os egoístas não veem. O amor vê e não pensa duas vezes. O amor não espera chamadas.
Não basta ver as coisas a partir de longe; nem basta saber que os outros precisam de ajuda; não basta saber que os outros estão sós e necessitados.
Na Bíblia, “pôr os olhos” é “pôr o coração”. Maria põe seu coração em toda a realidade, em todos os homens e mulheres, seus filhos e filhas; Maria, a contemplativa, é a mulher mística “de olhos abertos”, tocando a terra; assim é a genuína fé cristã, bem enraizada sempre na realidade.
Assim é Maria, revelada pelos evangelhos: uma mulher que se “deixa afetar”, de olhar contemplativo e estremecida de júbilo em Deus, em pé e mobilizada, uma mulher que bendiz e se põe a serviço.
É assim que a encontramos na casa de Isabel, na sua visitação e estadia como servidora.
Há um adágio latino que diz: (...) “Onde há amor, ali está o olhar”. O amor direciona o olhar, a atenção e o cuidado para aquilo que se ama. E onde está o olhar, o amor passa do coração aos pés e às mãos – Adroaldo Palaoro
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Maria é a mulher contemplativa, mulher aberta e atenta a Deus e à realidade, ou melhor, a Deus-na-realidade. São olhos de uma mulher mística e profetisa: mística, ou seja, capaz de ver a Deus em tudo e tudo em Deus (“a minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”); e profetisa, capaz de ver tudo com os “olhos” de Deus; olhos que proclamam as maravilhadas e que denunciam as mazelas daqueles que são ambiciosos e rompem a comunhão.
No Magnificat de Maria encontramos uma mulher lúcida, comprometida com a história de seu povo, crítica da ordem estabelecida, na linha dos profetas de Israel.
No Evangelho deste domingo, Maria revela-se disposta, pronta a empreender o caminho em direção à casa de sua prima; inteira em sua atenção profunda e aberta para a ação. É a mulher que “se pôs a caminho e foi às pressas à montanha, a uma cidade de Judá”.
Em Maria vemos uma pessoa de pé, pronta, mobilizada, com talante, capaz de olhar com o coração, deixando-se afetar pela realidade, vivendo a alegria de crer e fazendo de sua vida uma benção.
Como mulher “resolvida”, Maria é transparência de Deus. Nela vemos que “o que é próprio de Deus” não é prioritariamente um assunto de doutrina nem de moral, mas um assunto de “entranhas”, de vida.
Porque experimentou a Deus como fonte de vida, ela explodiu em louvor, mostrando que a fonte da alegria só a encontramos no Deus da Vida: esse é seu canto. Ela também, como Jesus, nos comunica algo extraordinário: o verdadeiramente humano é transparência de Deus.
Contra certas imagens de Maria que predominaram e predominam no imaginário cristão, o evangelho nos revela uma mulher decidida, segura de si e, ao mesmo tempo, voltada para os demais. Tinha olhar atento, inclusive “perscrutador”, para inteirar-se do que acontecia ao seu redor, não para alimentar curiosidade, mas para colocar-se à disposição; seu olhar oblativo parte do movimento interior, despertado pelo seu “sim” a Deus; daí brota sua “responsabilidade” como colaboradora: Maria é a mulher “responsável”, a partir de sua autonomia e seu serviço.
Para viver a fidelidade autêntica ao Evangelho, precisamos ser, como Maria, místicos e profetas: capazes de ver a Deus em toda realidade e de ver toda a realidade com os olhos de Deus. Precisamos, em definitivo, sentir-nos entranhavelmente amados(as) e benditos(as), para poder fazer de nossa vida uma benção, para nós mesmos(as) e para os outros. Precisamos sentir o que Maria experimentou: “Deus olhou com bondade minha pequenez”; em nossa “pequenez” Deus continua realizando maravilhas e nos olha (“põe seu coração em nós”), sempre e incondicionalmente, com bondade e misericórdia, querendo só nosso bem.
Para viver a fidelidade autêntica ao Evangelho, precisamos ser, como Maria, místicos e profetas: capazes de ver a Deus em toda realidade e de ver toda a realidade com os olhos de Deus – Adroaldo Palaoro
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Este é o Seu desejo para todos nós: que sejamos pessoas a caminho da completude e plenitude humana: em Deus, já somos “assuntos(as)”, ou seja, pura transparência d’Ele.
Assim, o mistério da Assunção de Maria torna-se uma inspirada referência para aclarar melhor o mistério de cada um de nós. Porque em Maria se encontra realizado aquilo que todos aspiramos: viver no fluxo da santidade divina; todos aspiramos a uma plenitude que, saibamos ou não, só Deus pode saciar.
Maria, “cheia de graça”, “cheia de Deus”, é a realização plena de todas as nossas aspirações.
Por outra parte, além de uma vida plena, todos aspiramos a uma vida duradoura. Vida plena que permaneça, vida cheia de Deus e eterna. Na Assunção de Maria se realiza esta outra grande aspiração humana: viver para sempre, unidos(as) a Deus, fonte de toda vida. E viver com toda nossa realidade, plenificada em todas as suas dimensões. O pensador Kierkegaard afirmou que quando o ser humano ignora o eterno que há nele, sente o vazio, a angústia e o desespero.
Maria, na plenitude, é o referente do qual todos almejamos: que nada nos falte, que todos os aspectos e dimensões de nossa vida estejam plenificadas e saciadas. É este o significado do dom da salvação, oferecida por Aquele que a todos nos eleva. A salvação é um projeto de vida feliz, estável e completa, no qual todos os nossos desejos estão plenamente saciados. Isso é o que, com outras palavras, o dogma da Assunção diz de Maria. Essa é a esperança cristã. Por isso, Maria é transparência de nosso próprio mistério.
Para meditar na oração
Ao longo da oração peça que as palavras de louvor e de libertação cantadas por Maria penetrem no seu coração e deixem brotar frutos de conversão, de alegria e de gratidão; peça especialmente a graça de cantar com um coração transbordante de júbilo, pela salvação recebida. Peça também que as palavras do Magnificat transformem seus valores, suas atitudes e suas práticas na linha da justiça e da misericórdia do Evangelho do Reino, proclamado por Jesus e antecipado no cântico de sua mãe.
- Rezar as “marcas salvíficas” de Deus na sua própria história pessoal.
Neste domingo, celebramos Maria que, após aceitar a proposta do Anjo para ser a mãe do Senhor, inicia uma jornada que marcará sua vida. O relato nos apresenta Maria em movimento, uma peregrina em busca de sua prima, de quem recebeu boas notícias: “partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia”. Não sabemos se ela empreende essa viagem sozinha ou com um grupo de pessoas que a acompanham. Também não nos diz claramente para qual cidade da Judeia ela se dirige. A tradição nos traz Ain Karem como possível cidade onde ocorreu o encontro com Isabel. O texto destaca que Maria parte e o faz com pressa. Não há tempo a perder: ela quer estar com sua prima, quer compartilhar com ela a maternidade com a qual ambas estão sendo abençoadas. Desde o início, Maria compreende que no Sim dado ao Anjo, quando disse “faça-se em mim segundo a tua palavra”, está implícito o convite a ser peregrina, portadora de uma Boa Nova para compartilhar com outras pessoas.
Estamos acelerados, porém não se trata da prontidão de Maria, que era conduzia por uma intenção profunda que vibrava em seu peito; nossa agitação é o imediatismo alimentado por uma velocidade excessiva que nos provoca impaciência – Ana Maria Casarotti
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Maria sente a necessidade de partir imediatamente para estar com sua prima e precisa fazer isso “apressadamente”, o mais rápido possível. Atualmente estamos acelerados, porém não se trata da prontidão de Maria, que era conduzia por uma intenção profunda que vibrava em seu peito; nossa agitação é o imediatismo alimentado por uma velocidade excessiva que nos provoca impaciência. Nossa sensação de urgência muitas vezes não é realmente sincera, mas sim uma ansiedade que nos deixa impacientes por um resultado em um prazo específico. Quando esse resultado não chega no tempo que desejamos, ficamos de mau humor por dentro, pois estamos tão apressados que até na hora de descansar sentimos essa pressa.
Neste tempo há uma ansiedade generalizada, como disse Laura Casamitjana, na reportagem publicada por La Marea em 12-04-2024. Estamos imersos na chamada cultura do imediatismo que “afeta toda a sociedade, e tanto os adultos como os jovens podem se sentir tentados a assistir um vídeo em ritmo acelerado ou a abandonar uma página web, caso não carregue em dez segundos. Agora, a ênfase desta dinâmica nos jovens - e especialmente em adolescentes – está também em sua etapa de aprendizagem. Reter na memória a característica de um estímulo por vários segundos, com a finalidade de depois contrastá-la com a de outro estímulo, constitui um trabalho cognitivo que exige esforço” (cf. A geração dos oito segundos)
Nossa sensação de urgência muitas vezes não é realmente sincera, mas sim uma ansiedade que nos deixa impacientes por um resultado em um prazo específico – Ana Maria Casarotti
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Mas esta não foi a pressa de Maria que “partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia”. Depois de escutar as palavras do anjo ela deixa seu espaço, seus costumes, seu habitat natural e dirige-se a casa de sua prima para abraçá-la, para celebrar, para ajudá-la no tempo da gravidez. Por isso ela é a primeira missionária, uma jovem gravida que sai ao encontro da vida que a necessita! Hoje celebramos o fim da sua vida e o evangelho nos convida a ler e meditar o começo da vida de Maria com Jesus no seu ventre. Sua vida foi sempre um generoso serviço para quem necessitava suas palavras e nelas brincar com a presença consoladora de Jesus. É tão simples que as vezes é difícil aceitar.
As primeiras comunidades entenderam rapidamente o mistério da generosidade da vida de Maria e o vínculo amoroso com seu filho e por isso aceitaram que seu caminho culminou no Céu, Ressuscitada junto dele. Peçamos ao Senhor que nos conceda viver o amor como fez Maria: sempre em prontidão. Que sejamos rápidas e atentas as necessidades dos que nos rodeiam, que saibamos calar as vozes que nos fazem frenéticos mas ensurdecem nossa capacidade de observar e responder com prontidão e serviço.
A visita de Maria a Isabel permite ao evangelista Lucas pôr em contato o Batista e Jesus, antes mesmo de nascer. A cena está carregada de uma atmosfera muito especial. As duas mulheres vão ser mães. As duas foram chamadas a colaborar no plano de Deus. Não há varões. Zacarias ficou mudo. José está surpreendentemente ausente.
As duas mulheres ocupam toda a cena, Maria que veio apressadamente de Nazaré, transforma-se na figura central. Tudo gira em torno dela e seu filho. Sua imagem brilha com certos traços mais genuínos do que muitos outros que lhe foram acrescentados ao longo dos séculos a partir da invocação e títulos alheios aos evangelhos.
Maria, “a mãe de meu senhor”. Assim o proclama Isabel em alta voz e cheia do Espírito Santo. Isto é certo: para os seguidores de Jesus, Maria é, antes de tudo, a mãe do nosso Senhor. Daí parte sua grandeza. Os primeiros cristãos nunca separam Maria de Jesus. Eles são inseparáveis: “Bendita por Deus entre todas as mulheres”, ela nos oferece Jesus, “fruto Bendito de seu ventre.”
Maria, a crente. Isabel proclama Maria feliz porque ela “acreditou.” Maria é grande não simplesmente por sua maternidade biológica, mas por ter acolhido com fé o chamado de Deus para ser mãe do Salvador. Ela soube ouvir a Deus; guardou sua Palavra dentro de seu coração; meditou-a; a pôs em prática cumprindo fielmente sua vocação. Maria é mãe crente.
Maria, a evangelizadora. Maria oferece a todos a salvação de Deus, que ela acolheu em seu próprio Filho. Essa é sua grande missão e seu serviço. De acordo com o relato, Maria evangeliza não só com seus gestos e palavras, mas porque traz consigo, para onde vai a pessoa de Jesus e seu Espírito. Isto é o essencial do ato evangelizador.
Maria, portadora de alegria. A saudação de Maria comunica a alegria que brota de seu filho Jesus. Ela foi a primeira a ouvir o convite de Deus: “Alegra-te, o Senhor está contigo.”. Agora, a partir de uma atitude de serviço e de ajuda a quem precisa. Maria irradia a boa notícia de Jesus, o Cristo, que ela sempre traz consigo. Ela é para a igreja o melhor modelo de uma evangelização prazerosa
O ASSUNTO DA VIDA: PARA COMEÇO DE CONVERSA
O texto de hoje nos fala da visita de Maria a sua prima Isabel. As duas eram conhecidas uma da outra. E, no entanto, neste encontro elas descobrem, uma na outra, o mistério que ainda não conheciam e que as encheu de muita alegria. Hoje também encontramos pessoas que nos surpreendem com a sabedoria que possuem e com o testemunho de fé que nos dão.
CHAVE DE LEITURA
Na leitura que vamos refletir, sobretudo no Cântico de Maria, percebemos que ela descobriu o mistério de Deus não só na pessoa de Isabel, mas também na história do seu povo. Durante a reflexão vamos prestar atenção no seguinte: ”Com que palavras e comparações Maria expressou a descoberta de que Deus está presente em sua vida e na vida do seu povo?”
SITUANDO
Quando Lucas fala de Maria, ele pensa nas comunidades do seu tempo que viviam espalhadas pelas cidades do império romano. Maria é, para ele, o modelo da comunidade fiel. Descrevendo a visita de Maria a Isabel, ele ensina como aquelas comunidades devem fazer para transformar a visita de Deus em serviço aos irmãos e irmãs.
O episódio da visita de Maria a Isabel mostra ainda outro aspecto bem próprio de Lucas. Todas as palavras e atitudes, sobretudo o Cântico de Maria, formam uma grande celebração de louvor. Parece a descrição de uma solene liturgia. Assim, Lucas evoca o ambiente litúrgico e celebrativo, em que as comunidades devem viver a sua fé.
D. COMENTANDO
1. Lucas 1,39-40: Maria sai para visitar Isabel
Lucas acentua a prontidão de Maria em atender as exigências da Palavra de Deus. O anjo lhe falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta para verificar o que o anjo lhe tinha anunciado, e sai de casa para ir ajudar a uma pessoa necessitada. De Nazaré até as montanhas de Judá são mais de 100 quilômetros! Não havia ônibus nem trem.
2. Lucas 1,41-44: Saudação de Isabel
Isabel representa o Antigo Testamento que termina. Maria, o Novo que começa. O AT acolhe o NT com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar toda a expectativa do povo. No encontro entre as duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito que faz a criança estremecer de alegria no seio de Isabel. A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se ajudar. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: É nisto que Lucas quer que as comunidades (e nós todos) percebamos e descubramos a presença do Reino. As palavras de Isabel, até hoje, fazem parte do salmo mais conhecido e mais rezado da América Latina, que é a Ave Maria.
3. Lucas 1,45: O elogio que Isabel faz a Maria
“Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai acontecer”. É o recado de Lucas às comunidades: crer na Palavra de Deus, pois ela tem força para realizar aquilo que nos diz. É Palavra criadora. Gera vida nova no seio de uma virgem, o seio do povo pobre e abandonado que a acolhe com fé.
4. Lucas 1,46-56: O Cântico de Maria
Muito provavelmente, este cântico já era conhecido e cantado nas comunidades. Ele ensina como se deve orar e cantar.
Lucas 1,46-50
Maria começa proclamando a mudança que aconteceu na sua própria vida sob o olhar amoroso de Deus, cheio de misericórdia. Por isso, ela canta feliz: “Exulto de alegria em Deus, meu Salvador”.
Lucas 1,51-53
Em seguida, canta a fidelidade de Javé para com seu povo e proclama a mudança que o braço de Javé estava realizando a favor dos pobres e famintos. A expressão “braço de Deus” lembra a libertação do Êxodo. É esta força salvadora de Javé que faz acontecer a mudança: dispersa os orgulhosos (1,51), destrona os poderosos e eleva os humildes (1,52), manda os ricos embora sem nada e aos famintos enche de bens (1,53).
Lucas 1,54-55
No fim, ela lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e expressão de sua fidelidade às promessas feitas a Abraão. A Boa Nova veio não como recompensa pela observância da Lei, mas como expressão da bondade e da fidelidade de Deus às promessas. É o que Paulo ensinava nas cartas aos Gálatas e aos Romanos.
ALARGANDO
O Segundo Livro de Samuel conta a história da Arca da Aliança. Davi quis colocá-la em sua casa, mas ficou com medo e disse: “Como virá a Arca de Javé para ficar na minha casa?” (2 Samuel 6,9) Davi mandou que a Arca fosse para a casa de Obed-Edom. “E a Arca de Javé ficou três meses na casa de Obed-Edom, e Javé abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família” (2 Samuel 6,11). Maria, grávida de Jesus, é como a Arca da Aliança que, no AT, visitava as casas das pessoas trazendo benefícios. Ela vai para a casa de Isabel e fica lá três meses. E enquanto está na casa de Isabel, ela e toda a sua família são abençoadas por Deus. A comunidade deve ser como a Nova Aliança. Visitando a casa das pessoas, deve trazer benefícios e graça de Deus para o povo.
A atitude de Maria frente à Palavra expressa o ideal que Lucas quer comunicar às comunidades: não fechar-se sobre si mesmas, mas sair de si, sair de casa, e estar atentas às necessidades bem concretas das pessoas e procurar ajuda na medida das necessidades.
Texto extraído do livro O AVESSO É O LADO CERTO. Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Lucas de autoria de Carlos Mesters e Mercedes Lopes.
A presente festa é uma grande felicitação de Maria da parte dos fiéis, que nela veem, ao mesmo tempo, a glória da Igreja e a prefiguração de sua própria glorificação. A festa tem uma dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira e a Mãe dos fiéis. Daí a facilidade com que se aplica a Maria o texto de Ap 12 (1ª leitura), originariamente uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto (a Igreja perseguida do 1° século) até a vitória final do Cristo. Na 2ª leitura, a Assunção de Maria ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Observe-se, portanto, que a glória de Maria não a separa de nós, mas a une mais intimamente a nós.
Merece consideração, sobretudo, o texto do evangelho, o Magnificat, que hoje ganha nova atualidade, por traduzir a pedagogia de Deus: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Deus escolhe o lado de quem, aos olhos do inundo, é insignificante. Podemos ler no Magnificat a expressão da consciência de pessoas “humildes” no sentido bíblico, isto é, rebaixadas, humilhadas, oprimidas (a “humildade” não como aplaudida virtude, mas como baixo estado social): Maria, que nem tinha o status de casada, e toda uma comunidade de humildes, o “pequeno rebanho” tão característico do evangelho de Lc (cf. 12,32, peculiar de Lc). Na maravilha acontecida a Maria, a comunidade dos humildes vê claramente que Deus não obra através dos poderosos: antecipação da realidade escatológica, em que será grande quem confiou em Deus e se tomou seu servo (sua serva), e não quem quis ser grande por suas próprias forças, pisando em cima dos outros. Assim, realiza-se tudo o que Deus deixou entrever desde o tempo dos patriarcas (as promessas).
Pois bem, a glorificação de Maria no céu é a realização desta visão escatológica. Nela, é coroada a fé e a disponibilidade de quem se toma servo da justiça e bondade de Deus, impotente aos olhos do mundo, mas grande na obra que Deus realiza. É a Igreja dos pobres de Deus, que hoje é coroada.
A “arte” litúrgica deverá, portanto, suscitar nos fiéis dois sentimentos dificilmente conjugáveis: o triunfo e a humildade. O único meio para unir estes dois momentos é colocar tudo nas mãos de Deus, ou seja, esvaziar-se de toda glória pessoal, na fé de que Deus já começou a realizar a plenitude das promessas.
Em Maria vislumbramos a combinação ideal de glória e humildade: ela deixou Deus ser grande na sua vida. É o jeito…
Magnificat: a mãe gloriosa e a grandeza dos pobres
Em 1950, o Papa Pio XII definiu a Assunção de Maria como dogma, ou seja, como ponto referencial de sua fé. Maria, no fim de sua vida, foi acolhida por Deus no céu “com corpo e alma”, ou seja, coroada plena e definitivamente com a
glória que Deus preparou para os seus santos. Assim como ela foi a primeira a servir Cristo na fé, ela é a primeira a participar na plenitude de sua glória, a “perfeitissimamente redimida”. Maria foi acolhida completamente no céu porque ela acolheu o Céu nela – inseparavelmente.
O evangelho de hoje é o Magnificat de Maria, resumo da obra de Deus com ela e em torno dela. Humilde serva – nem tinha sequer o status de mulher casada -, ela foi “exaltada” por Deus, para ser mãe do Salvador e participar de sua glória, pois o amor verdadeiro une para sempre. Sua grandeza não vem do valor que a sociedade lhe confere, mas da maravilha que Deus opera nela. Um diálogo de amor entre Deus e a moça de Nazaré: ao convite de Deus responde o “sim” de Maria, e à doação de Maria na maternidade e no seguimento de Jesus, responde o grande “sim” de Deus, a glorificação de sua serva. Em Maria, Deus tem espaço para operar maravilhas. Em compensação, os que estão cheios de si mesmos não deixam Deus agir e, por isso, são despedidos de mãos vazias, pelo menos no que diz respeito às coisas de Deus. O filho de Maria coloca na sombra os poderosos deste mundo, pois enquanto estes oprimem, ele salva de verdade.
Essa maravilha, só é possível porque Maria não está cheia de si mesma, como os que confiam no seu dinheiro e seu status. Ela é serva, está a serviço – como costumam fazer os pobres – e, por isso, sabe colaborar com as maravilhas de Deus. Sabe doar-se, entregar-se àquilo que é maior que sua própria pessoa. A grandeza do pobre é que ele se dispõe para ser servo de Deus, superando todas as servidões humanas. Mas, para que seu serviço seja grandeza, tem que saber decidir a quem serve: a Deus ou aos que se arrogam injustamente o poder sobre seus semelhantes. Consciente de sua opção, o pobre realizará coisas que os ricos, presos na sua autossuficiência, não realizam: a radical doação aos outros, a simplicidade, a generosidade sem cálculo, a solidariedade, a criação de um homem novo para um mundo novo, um mundo de Deus.
A vida de Maria, a “serva”, assemelha-se à do “servo”, Jesus, “exaltado” por Deus por causa de sua fidelidade até a morte (Fl 2,6-11). O amor torna semelhantes as pessoas. Também a glória. Em Maria realiza-se, desde o fim de sua vida na terra, o que Paulo descreve na 2ª leitura: a entrada dos que pertencem a Cristo na vida gloriosa do pai, uma vez que o Filho venceu a morte.
Para muitas igrejas, a Palavra evangélica proposta para a liturgia do próximo final de semana é a visita de Maria a Isabel (Lucas 1,39-56), que faz parte dos relatos da Infância de Jesus segundo Lucas (Lucas 1-2).
Essas narrativas, mais do que dizerem como os fatos aconteceram, indicam para realidades mais profundas que iluminem a caminhada das comunidades a quem se destinam. Em resumo, o primeiro capítulo do Evangelho da Infância mostra como é reconhecida a ação de Deus em meio ao povo excluído, mas cheio de esperança, representado por Zacarias, Isabel e Maria. Dois eram idosos, uma era estéril e a outra ainda não havia tido relações sexuais com homem. Portanto, eram pessoas de quem não se esperava que vida nova pudesse nascer, que pudessem dar à luz uma criança.
Maria pôs-se a caminho… (Lucas 1,39)
A narrativa proposta pode ser dividida em três momentos:
O primeiro descreve a ida de Maria à casa de Isabel e de Zacarias, próxima de Jerusalém (Lucas 1,39-41), uma caminhada de mais de 100 km. De um lado, essa saída de casa faz-nos lembrar de tantas jovens que, igualmente como Maria, também deixam seus povoados quando engravidam, a fim de encontrar apoio em familiares que moram distante. De outro lado, quando foi chamada para ser a mãe do Messias, Maria havia se disponibilizado para estar a serviço da Palavra de Deus (Lucas 1,38).
Agora, ela já está a caminho para servir, para ser solidária com outra mulher, também grávida. É a solidariedade entre as mães que reconhecem em seus corpos o agir do Espírito divino, pois ambas receberam a graça da fecundidade de forma misteriosa. Mas não é somente o encontro de duas mulheres. É também o encontro de duas crianças ainda no útero de suas mães. É o encontro do Precursor com o Salvador. João alegra-se com a visita de Jesus (Lucas 1,41). Ainda no ventre materno, já aponta para seu primo como aquele que vem socorrer o seu povo num momento de forte repressão por parte do império romano.
Feliz aquela que acreditou… (Lucas 1,45)
A segunda parte desta narrativa é a saudação que Isabel faz a Maria (Lucas 1,42-45). Impulsionada pelo Espírito, a mãe de João Batista reconhece Maria como a mãe do Messias. Ao mesmo tempo em que elogia a sua fé (Lucas 1,45), declara-a abençoada, bem-aventurada, tal como Jesus, o fruto do seu ventre (Lucas 1,42). Essa saudação faz lembrar outras mulheres que também foram chamadas de benditas.
São os casos de Jael (Juízes 5,24) e de Judite (Judite 13,18), ambas libertadoras de seu povo ameaçado por exércitos poderosos. Em Lucas 1,56, podemos ler que Maria ficou três meses com Isabel. Mais uma vez, os autores do texto fazem memória das Escrituras de Israel e querem nos apresentar Maria como a nova Arca da Aliança, pois em seu útero carrega o Emanuel, o Deus que está em nosso meio. É que, da mesma forma como Maria ficou os três meses com Isabel, também a antiga Arca da Aliança havia ficado durante três meses na casa de Obed-Edom (2 Samuel 6,2-11; cf. v. 11).
Em outras palavras: os representantes da antiga Aliança, Zacarias (Javé se lembrou) e Isabel (Deus é plenitude), reconhecem a ação de Deus em Maria (a amada) e em Jesus (Javé salva), representantes da nova Aliança. João (Javé é misericórdia) anuncia que a misericórdia de Deus na antiga Aliança vem se realizar plenamente em Jesus de Nazaré. Por isso, seus pulos de alegria no ventre de Isabel (Lucas 1,41.44), acolhendo o novo que está por nascer.
E encheu de bens os famintos… (Lucas 1,53)
A terceira parte do relato é a reação de Maria à saudação de Isabel, é o salmo de Maria conhecido como Magnificat (Lucas 1,46-55). Ele está recheado de memórias da história de Israel, especialmente do canto de Ana, a mãe do profeta Samuel (1 Samuel 2,1-10). Entre outros textos, recorda também a profecia de Sofonias em favor dos pobres de Javé, o resto fiel a Deus (cf. Sofonias 2,3; 3,11-13).
Maria é a legítima representante de todos os pobres que têm esperança, pois tem plena consciência da luta de classes, cuja consequência é os ricos estarem em cima, sustentados pelos pobres a quem eles oprimiram ontem e ainda hoje (Lucas 1,52-53). Da mesma forma como o profeta Habacuc (Hab 3,18), ela percebe a presença de Deus e se alegra com sua grandeza (Lucas 1,46-47). E o motivo dessa alegria é que, tal como na experiência libertadora do Êxodo (Êxodo 3,7-8), Deus viu a humilhação dos pobres e exerce sua misericórdia para com eles, estando a seu lado para libertá-los dos poderosos (Lucas 1,49-50; Salmo 103,17).
Qual é a força capaz de promover essa libertação?
É a força do braço de Deus, isto é, a força de sua justiça, que consiste e um projeto revolucionário que subverte relações desiguais. Se antes os poderosos humilhavam os pobres a partir de seus tronos, agora os famintos são exaltados e comem pão com fartura (Lucas 1,51-53). Mais que ser uma mulher submissa e alienada dos conflitos sociais de seu tempo, Maria é uma mulher de luta pela igualdade e pela superação de todas as injustiças. Ela é subversiva porque subverte as relações de humilhação propondo a acolhida e a igualdade.
Não é por acaso que seu filho seguiu os passos dela nesse caminho. É no engajamento pela superação de todas as formas de opressão que revelamos a misericórdia divina em nossa prática. A justiça de Deus se revela em seu agir na defesa dos fracos e contra todos os sistemas que os oprimem, sejam eles políticos ou econômicos, culturais, jurídicos ou religiosos. Nesse agir libertador se manifesta a aliança fiel e misericordiosa esperada desde as origens do povo hebreu (Lucas 1,54-55; Miqueias 7,20).
Em seu cântico, Maria de Nazaré celebra a esperança na realização da vontade de Deus que liberta. E mais. Convida a todas as pessoas discípulas de Jesus a nos juntarmos a ela para colocar-nos a serviço desse projeto de Deus, de modo que também em nós se realize a sua Palavra (cf. Lucas 1,38).
A ação divina em Maria foi possível por que ela acreditou (Lucas 1,45), ela deu a sua contribuição, colocando-se a serviço de Deus na solidariedade. Mais adiante, quando uma mulher também declarara Maria feliz, Jesus dirá a ela que felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática (cf. Lucas 11,27-28). E essa bem-aventurança soa forte para nós ainda hoje.
Fonte: Ildo Bohn Gass é biblista, assessor de Leitura Popular e Feminista da Bíblia, e autor de diversos livros da nossa livraria. Conheça a coleção Uma Introdução à Bíblia.
Para entender bem a finalidade de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para ele, o importante é acentuar o grande contraste, mesmo que haja também continuidade, entre a Antiga e a Nova Aliança.
A primeira está retratada nos eventos que giram ao redor do nascimento de João Batista, e tem os seus representantes em Isabel, Zacarias e João. A segunda está nos relatos ao redor do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus. Para Lucas, a Antiga Aliança está esgotada, deu o que era para dar. Os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa; Zacarias, sacerdote que duvida do anúncio do anjo; e o nenê que será um profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem como símbolos a jovem virgem de Nazaré que acredita, e cujo filho será o próprio Filho de Deus. Mais adiante, Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e Simeão, no Templo (Lc 2,25-38), especialmente quando Simeão reza: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação” (2,29).
Por isso, não devemos reduzir a história de hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua parenta idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse essa, não teria colocado o versículo 56, que mostra ela deixando Isabel antes do nascimento de João: “Maria ficou três meses com Isabel e depois voltou para casa”. É só depois que Lucas trata do nascimento de João.
Também não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse uma viagem tão perigosa como a da Galileia à Judeia! A intenção de Lucas é teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas possam louvar a Deus pela sua ação nas suas vidas e para que fique claro que o filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas personagens principais: de um lado, Isabel, Zacarias e João; do outro lado, Maria, José e Jesus.
O fato de que a criança “se agitou” no ventre de Isabel faz recordar algo semelhante na história de Rebeca, quando Esaú e Jacó “pulavam” no ventre dela, de acordo com a Septuaginta, a tradução grega da Bíblia hebraica (cf. Gênesis 25,22). O contexto, especialmente versículo 43, salienta que João reconhece que Jesus é o seu Senhor. Com a iluminação do Espírito Santo, Isabel pode interpretar a “agitação” de João: é porque Maria está carregando o Senhor em seu útero.
As palavras referentes a Maria: “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre” (v. 42) fazem lembrar mais duas mulheres que ajudaram na libertação do seu povo: Jael (Juízes 5,24) e Judite (Judite 13,18). Aqui, Isabel louva a Maria que traz no seu ventre o libertador definitivo do seu povo.
Finalmente, vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v. 45): “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Maria é bendita em primeiro lugar, não pela sua maternidade, mas pela fé, em contraste com Zacarias, que duvidou. Aqui, Maria é principalmente modelo de fé.
Na boca de Isabel, encontramos as seguintes expressões: “Ave Maria” (1,28), “Cheia de graça” (1,28), “O Senhor é contigo” (1,28), “Bendita és ti entre as mulheres” (1,42); “Bendito o fruto do teu ventre” (1,42). Junto com Isabel, saibamos honrar Maria, a mãe do Senhor, modelo de fé para todos nós! Mas, a fé de Maria, como, aliás, sempre é na Bíblia, não foi uma adesão somente intelectual a Deus. Era o assumir do projeto de Deus, justiça, libertação, solidariedade e salvação integral. Por isso, Lucas põe na boca de Maria o grande Cântico do Magnificat, atualizando o Canto de Ana, (1 Samuel 2,1-10), cantando a grandeza do nosso Deus, que se põe ao lado dos humilhados e sofridos, e derruba os poderosos e prepotentes.
O texto de hoje lembra-nos que Maria era uma mulher lutadora, totalmente comprometida com o projeto de Deus para um mundo fraterno. Se Ela estivesse entre nós hoje, sem dúvida, como também Jesus, estaria nos movimentos e pastorais sociais, lutando pela vida digna de todos e celebrando com os irmãos e irmãs a fé no Deus de Justiça, Libertação e Salvação.
(Traduzido pelo Google tradutor sem nossa correção. Para conferir use o texto original em espanhol logo após o texto em português).
SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA
Primeira Leitura (Ap 11,19; 12,1-6.10):
Considerando o contexto dinâmico do Livro do Apocalipse, é importante notar que a comunidade eclesial se encontra em um momento delicado, pois se revela a poderosa presença do mal na história, com a consequente luta contra o bem e a vitória temporária do mal. Então, o sétimo anjo toca a sua trombeta, e é proclamada a vinda do Reino de Deus por meio do seu Cristo, Jesus crucificado e ressuscitado (cf. Ap 11,15-17). Ou seja, anuncia-se a vitória final de Deus sobre as forças do mal. Nesse contexto, surge no céu um "grande sinal", isto é, da parte de Deus; é o sinal da vitória definitiva de Deus que a comunidade eclesial deve decifrar, tanto ontem como hoje.
Primeiro, somos informados de que se trata de uma mulher. À luz do Antigo Testamento, acredita U. Vanni, devemos pensar em uma esposa e mãe, na aliança nupcial de Deus com seu povo. Essa mulher está "vestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça" (12:1). O sol indica que essa mulher é amada por Deus, que a cobre com seus dons, seu "sol". A lua, que no Antigo Testamento tem a função de regular o curso do tempo, está sob seus pés, indicando que a mulher está acima do tempo e de suas vicissitudes, que ela já possui sua eternidade. A coroa em sua cabeça é um sinal de sua vitória, pois ela é rainha; e o número doze expressa a unidade do Antigo (doze tribos de Israel) e do Novo (doze apóstolos), o povo de Deus. Finalmente, somos informados de que essa mulher está grávida e prestes a dar à luz. Um pouco mais adiante seremos informados de que ele teve um filho que é elevado à presença de Deus e ao seu trono, portanto, é Cristo em sua glória.
Segundo todos esses dados, para U. Vanni ela é antes de tudo um símbolo do povo de Deus, da Igreja Mãe que dá à luz Cristo e, desse modo, a assembleia, identificando-se com a Igreja e com a mulher, renova sua confiança para continuar dolorosamente dando à luz Cristo ao mundo até a consumação final.
Mas "não podemos ignorar que o Apocalipse faz parte da tradição da comunidade de João; e no Evangelho de João Maria aparece sempre designada com este título de "mulher", sendo ao mesmo tempo "mãe"; em Jo 2,4, onde, graças à intervenção de Maria, Jesus "manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele" (2,11). Mas aí Jesus transfere a função de Maria para outro momento muito mais importante: a "hora" (2,4). E a "hora" é a morte redentora na cruz (19,27: "Aquela hora"). É ali que Jesus a chama novamente de "mulher" e a declara "mãe" do seu discípulo (19,26). E só depois de fazer isso, Jesus sabe que "está consumado" (19,18). Tudo isso significa que o Evangelho de João vê em Maria aquela que cumpre plenamente o anúncio de uma Mulher inimiga da serpente. A descendência de Maria, que é Cristo, pisoteia a serpente e a vence [...] No Apocalipse 12, como em Jo 19, Maria é a mãe de Cristo, mas também a mulher inimiga do diabo e a mãe dos discípulos [...] Esta mulher une no mesmo simbolismo o povo do Antigo Testamento, a Igreja perseguida do Novo Testamento e Maria"2.
Segunda Leitura (1 Cor 15,20-27)
Esses versículos pertencem à subseção da carta (15,12-34) onde Paulo busca demonstrar a unidade intrínseca que existe entre a ressurreição de Cristo, afirmada como núcleo do querigma, e a ressurreição dos mortos, situação que pode ser iluminada a partir da fé recebida.
Aqui, Paulo começa afirmando claramente a verdade da ressurreição de Cristo e como ela garante a futura ressurreição dos cristãos. Para demonstrar essa relação entre a ressurreição de Cristo e a dos cristãos, que alguns coríntios negavam, ele usa a comparação antitética entre Adão e Cristo (tema que desenvolverá em Romanos 5). Por meio de Adão veio a morte para todos os homens; por meio de Cristo vem a vida, também para todos os homens. Mas em uma ordem progressiva: primeiro Cristo, já ressuscitado; depois, na Parusia, aqueles que pertencem a Cristo; e a conclusão com a submissão de todas as coisas a Deus Pai. A morte é apresentada como o inimigo final que Cristo derrotará no fim dos tempos, para que a vida reine.
EVANGELHO (Lucas 1,39-56)
Como sabemos, a Assunção de Maria não é narrada no Novo Testamento, portanto, não há necessidade de procurar uma referência explícita a esse dogma mariano neste texto. No entanto, a conexão que o Cardeal Albert Vanhoye³ encontra entre o Evangelho de hoje e a Assunção de Maria é sugestiva: o Magnificat expressa perfeitamente os sentimentos de Maria por ocasião de sua Assunção. Segundo este autor, o Magnificat é um hino profético que anuncia a exaltação de Maria no evento da Assunção.
ALGUMAS REFLEXÕES
Considero essencial começar por esclarecer o significado deste dogma mariano de fé, o seu conteúdo e o seu alcance, para depois ver como ele ilumina as nossas vidas. Portanto, vejamos o que o Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos diz sobre este dogma mariano:
N. 966: A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos: «No teu nascimento conservaste a tua virgindade, no teu sono não abandonaste o mundo, ó Mãe de Deus: reuniste-te à fonte da vida, tu que concebeste o Deus vivo e que, com as tuas orações, libertarás as nossas almas da morte» (Liturgia Bizantina, Troparion da Festa da Dormição [15 de Agosto]).
N.º 972: A Mãe de Jesus, já glorificada no Céu em corpo e alma, é a imagem e o início da Igreja que alcançará a sua plenitude no século vindouro. Também neste mundo, até que chegue o dia do Senhor, ela brilha diante do Povo de Deus a caminho como sinal de esperança e consolação seguras (LG 68).
Especificamente, o Catecismo aponta a base principal para essa graça ou privilégio especial que Maria recebeu: sua estreita ligação com o mistério pascal de seu Filho, Jesus. Ela participou de maneira única da ressurreição de seu Filho, e assim Deus antecipou nela o destino final de todos os cristãos. E essa graça especial de Maria tem implicações para a Igreja, que vê nela seu futuro já cumprido, visto que a Assunção é uma antecipação da ressurreição de outros cristãos. Por isso, é um sinal de esperança e consolação.
Hoje somos convidados a contemplar Maria na glória de Deus e reconhecer que ela é a imagem e a garantia do que nós, crentes, um dia seremos como membros da Igreja. Ela é cheia de alegria, e sua vida é um louvor constante à Glória da Trindade. Mas, ao mesmo tempo, graças ao seu estado glorioso, ela pode estar atenta a cada um de seus filhos, a nós. Como bem diz R. Cantalamessa4, quando Santa Teresa do Menino Jesus expressou sua missão eterna dizendo: "Quero passar o meu céu fazendo o bem na terra", ela estava, sem saber, assumindo a vocação de Maria, que passa o seu céu fazendo o bem na terra. E como ela faz isso? Por meio de sua poderosa intercessão. Nas bodas de Caná, vemos Maria intercedendo diante de seu Filho Jesus porque o vinho da festa havia acabado. E ela o fez antecipar sua hora. Bem, agora que Maria está associada à glorificação de seu Filho, seu poder de intercessão do céu é infinitamente maior. É por isso que os cristãos de todos os tempos lhe dirigem suas súplicas com tanta fé e confiança. Um exemplo claro é a oração "Lembra-te", atribuída a São Bernardo, mas cujos textos mais antigos datam do século XV e cujo verdadeiro autor é desconhecido: "Lembra-te, ó piedosíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que alguém que recorreu à tua proteção, implorou a tua assistência e pediu o teu socorro tenha sido abandonado por ti. Animado por esta confiança, também eu venho a ti, ó Mãe, Virgem das virgens."
Por isso, é sempre bom contemplar a Virgem Maria Assunta ao Céu como exemplo e sinal de Esperança para as nossas vidas. O objeto essencial da nossa Esperança cristã é a salvação como "posse" de Deus, a plena comunhão com Ele. E Maria obteve esta Graça na sua Assunção e ensina-nos a pedi-la e a esperá-la precisamente como tal, como uma GRAÇA.
Em sua vida terrena, Maria viveu a Esperança através do exercício da memória, como evidenciado pelo Magnificat. Maria recorda as grandes maravilhas que Deus realizou por seu povo no passado e por ela no presente, apesar de sua pequenez. Maria guardava com carinho todas as experiências que havia vivenciado com Jesus e as meditava em seu coração. Assim,
lembrando, ele sempre manteve a Esperança viva.
Mas de modo especial, Maria viveu "a esperança contra toda a esperança" ao lado da cruz de Jesus, participando como ninguém do mistério pascal de seu Filho. E ela nos ensina a vivê-lo também, especialmente nos momentos mais difíceis, quando parece que não podemos fazer mais nada. Nesses momentos, Maria, como uma estrela brilhante na noite, nos convida a continuar olhando para o céu e a continuar esperando em Deus. De fato, "mesmo quando não há mais nada que possamos fazer para mudar uma determinada situação difícil, resta uma grande tarefa a cumprir: a de permanecer comprometidos e manter o desespero sob controle: suportar pacientemente até o fim. Esta foi a grande "tarefa" que Maria realizou, esperando, aos pés da cruz, e nisso ela está pronta para nos ajudar também". 5
Maria ensina a Igreja a viver e a oferecer a verdadeira esperança, como explica tão bem R. Cantalamessa: “Maria, que no mistério da Encarnação foi mestra de fé, é, portanto, no Mistério Pascal mestra de esperança. Assim como Maria esteve ao lado do Filho crucificado, a Igreja é chamada a estar ao lado dos crucificados de hoje: os pobres, os sofredores, os humilhados e os feridos. E como a Igreja estará ao lado deles? Com esperança, como Maria. Não basta simpatizar com o seu sofrimento ou mesmo procurar aliviá-lo. Isso é muito pouco. Todos podem fazer isso, mesmo aqueles que não conhecem a ressurreição. A Igreja deve dar esperança, proclamando que o sofrimento não é absurdo, mas tem sentido, porque haverá uma ressurreição dos mortos... As pessoas precisam de esperança para viver, assim como precisam de oxigênio para respirar.”
No contexto do Ano Jubilar, é muito claro que Maria é um grande modelo para aprender a viver como peregrinos da esperança. A este respeito, o Papa Francisco nos disse no Angelus de 15 de agosto de 2024: “É bela esta expressão do Evangelho: ‘Ela partiu’ (Lc 1,39). Significa que Maria não considera a notícia recebida do Anjo um privilégio, mas, ao contrário, deixa sua casa e se põe a caminho, com a pressa de quem deseja anunciar essa alegria aos outros e com o desejo de servir a sua prima. Esta primeira viagem, na realidade, é uma metáfora para toda a sua vida, porque a partir daquele momento, Maria estará sempre a caminho: estará sempre a caminho seguindo Jesus, como discípula do Reino. E, no final, a sua peregrinação terrena termina com a sua Assunção ao Céu, onde, juntamente com o seu Filho, goza para sempre da alegria da vida eterna.”
Irmãos e irmãs, não devemos imaginar Maria "como uma estátua de cera imóvel", mas nela podemos ver uma "irmã... com sandálias gastas... e tão cansada" (C. Carretto, Beata te che hai creduto, Roma 1983, p. 13), por ter caminhado atrás do Senhor e ter ido ao encontro dos seus irmãos e irmãs, concluindo o seu caminho na glória do Céu. Deste modo, a Santíssima Virgem é aquela que nos precede no caminho — ela nos precede — ela nos precede no caminho, recordando-nos a todos que também a nossa vida é um caminho, um caminho contínuo rumo ao horizonte do encontro definitivo. Peçamos a Nossa Senhora que nos ajude neste caminho rumo ao encontro com o Senhor.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM UMA ORAÇÃO):
Saudações
Saudação em Deus, de Isabel e Maria
Eles elogiaram sem hesitação
Àquele que neles deu à luz a vida
Daqueles que viriam nos ensinar
A alegria deles soava como uma melodia
Canção de amizade e alegria plena
Era o Segredo Divino que estava escondido
No ventre de uma Mãe escolhida
Deus se fez homem nela
Ele entrou naquela família
Ele cumprimentou seus parentes,
Ele batizou João, que logo nasceria.
Foi um momento no tempo
Único e especial,
O Filho de Deus mostrou a sua Mãe
E registrou isso na eternidade
Ele traçou seu perfil nestes fatos:
Solícito, alegre e disponível para Grace
Obediente ao extremo
Ressuscitados com Cristo aos altares O que posso dizer!
No céu de Asunta nós contemplamos você
Tu és rainha e auxílio dos cristãos
Você veio para nos ajudar
Para pedir a nossa oração e nos abrigar
Rezamos o Santo Rosário
Levantando o olhar para o céu
Fica sempre por perto, Virgem Santa
Nós viajamos com você. Amém.
1 Cf. Apocalipse (Verbo Divino; Estella 1994) 109-115.
2 VM Fernández, O Apocalipse e o Terceiro Milênio (San Pablo; Buenos Aires 1998) 49-50.
3 Cf. Leituras bíblicas para domingos e festas (Mensageiro; Bilbao 2009) 377.
4 Maria, espelho da Igreja (Ágape: Buenos Aires 2013) 308.
5 R. Cantalamessa, Maria, Espelho da Igreja (Ágape: Buenos Aires 2013) 174.
6 Maria, espelho da Igreja (Ágape: Buenos Aires 2013) 168-169.
SOLEMNIDAD DE LA ASUNCIÓN DE LA VIRGEN MARÍA
Primera lectura (Ap 11,19; 12,1-6.10):
Teniendo en cuenta el contexto dinámico del libro del Apocalipsis importa notar que la comunidad eclesial se encuentra ante un momento delicado pues le ha sido revelada la fuerte presencia del mal en la historia con la consecuente lucha con el bien y la transitoria victoria del mal. Entonces el séptimo ángel toca su trompeta y se aclama el advenimiento del Reino de Dios a través de su Cristo, de Jesús crucificado y resucitado (cf. Ap 11,15-17). Es decir, se anuncia la victoria final de Dios sobre las fuerzas del mal. En este contexto aparece una "gran señal" en el cielo, o sea de parte de Dios; es la señal de la victoria definitiva de Dios que la comunidad eclesial deberá descifrar, tanto ayer como hoy.
En primer lugar, se nos dice que se trata de una mujer. A la luz del Antiguo Testamento, opina U. Vanni1, hay que pensar en una esposa y madre, en la alianza nupcial de Dios con su pueblo. Esta mujer está "revestida del sol, con la luna bajo sus pies y una corona de doce estrellas en su cabeza"(12,1). El sol indica que esta mujer es querida por Dios quien la llena de sus regalos, de su "sol". La luna, que en el Antiguo Testamento tiene la función de regular el curso del tiempo, está bajos sus pies, indicando que la mujer está por encima del tiempo y de sus vicisitudes, que tiene ya su eternidad. La corona sobre su cabeza es signo de su victoria, pues es reina; y el número doce expresa la unidad del Antiguo (doce tribus de Israel) y del Nuevo (doce apóstoles) pueblo de Dios. Por fin, se nos dice que esta mujer está embarazada y por dar a luz. Un poco más adelante se nos dirá que tuvo un hijo varón que es elevado hasta Dios y su trono, por tanto, se trata de Cristo en su gloria.
Según todos estos datos, para U. Vanni se trata en primer lugar de un símbolo del pueblo de Dios, de la Iglesia Madre que da a luz a Cristo y, de este modo, la asamblea identificándose con la Iglesia y con la mujer se renueva en la confianza para seguir dando a luz dolorosamente a Cristo al mundo hasta la consumación final.
Pero "no podemos ignorar que el Apocalipsis es parte de la tradición de la comunidad de Juan; y en el evangelio de Juan aparece María siempre designada con este título de «mujer», siendo al mismo tiempo «madre»; en Jn 2,4, donde gracias a la intervención de María, Jesús «manifestó su gloria y creyeron en Él sus discípulos» (2,11). Pero allí Jesús traslada la función de María a otro momento mucho más importante: la «hora» (2,4). Y la «hora» es la muerte redentora en la cruz (19,27: «Aquella hora»). Allí es cuando Jesús vuelve a llamarla «mujer», y la declara «madre» de su discípulo (19,26). Y sólo después de hacer esto, Jesús sabe que «todo está cumplido» (19,18). Todo esto significa que el Evangelio de Juan ve en María a la que cumple plenamente el anuncio de una Mujer enemiga de la serpiente. La descendencia de María, que es Cristo, pisa la serpiente y la vence […] En Apocalipsis 12, al igual que en Jn 19, María es la madre de Cristo, pero también la mujer enemiga del demonio y la madre de los discípulos […] Esta mujer reúne en un mismo simbolismo al pueblo del Antiguo Testamento, a la Iglesia perseguida del Nuevo Testamento, y a María"2.
Segunda Lectura (1Cor 15,20-27)
Estos versículos pertenecen a la subsección de la carta (15,12-34) donde Pablo busca demostrar la intrínseca unidad que existe entre la resurrección de Cristo, afirmada como núcleo del kerigma, y la resurrección de los muertos, situación que es posible iluminar a partir de la fe recibida.
Aquí Pablo comienza afirmando claramente la verdad de la resurrección de Cristo y cómo la misma es la garantía de la resurrección futura de los cristianos. Para demostrar esta relación entre la resurrección de Cristo y la de los cristianos, que negaban algunos corintios, recurre a la comparación antitética entre Adán y Cristo (tema que desarrollará en Rom 5). Por Adán vino la muerte para todo hombre, por Cristo viene la vida, también para todos los hombres. Pero con un orden progresivo: primero Cristo, ya resucitado, luego, en la parusía, los que son de Cristo; y la conclusión con el sometimiento de todo a Dios Padre. La muerte es presentada como el último enemigo al cual Cristo derrotará al final de los tiempos, para que reine la vida.
EVANGELIO (Lc 1,39-56)
Como sabemos, la Asunción de María no se encuentra narrada en el Nuevo Testamento, por ello no hay que buscar en este texto una referencia explícita a este dogma mariano. Sin embargo, es sugestiva la relación que encuentra el Cardenal Albert Vanhoye3 entre el evangelio de hoy y la Asunción de María: el Magnificat expresa muy bien los sentimientos de María con ocasión de su Asunción. Según este autor, el Magnificat es un canto profético que anuncia la exaltación de María en el acontecimiento de la Asunción.
ALGUNAS REFLEXIONES
Pienso que es fundamental comenzar precisando el sentido de este dogma de fe mariano, su contenido y su alcance; para luego ver cómo ilumina nuestra vida. Por ello veamos lo que sobre este dogma mariano nos dice el Catecismo de la Iglesia Católica (CIC):
Nº 966: La Asunción de la Santísima Virgen constituye una participación singular en la Resurrección de su Hijo y una anticipación de la resurrección de los demás cristianos: “En tu parto has conservado la virginidad, en tu dormición no has abandonado el mundo, oh Madre de Dios: tú te has reunido con la fuente de la Vida, tú que concebiste al Dios vivo y que, con tus oraciones, librarás nuestras almas de la muerte” (Liturgia bizantina, Tropario de la fiesta de la Dormición [15 de agosto]).
Nº 972: La Madre de Jesús, glorificada ya en los cielos en cuerpo y alma, es la imagen y comienzo de la Iglesia que llegará a su plenitud en el siglo futuro. También en este mundo, hasta que llegue el día del Señor, brilla ante el Pueblo de Dios en marcha, como señal de esperanza cierta y de consuelo (LG 68).
Puntualmente el Catecismo nos señala el principal fundamento de esta gracia o privilegio especial que recibió María: su estrecha vinculación al misterio pascual de su Hijo Jesús. Ella participó de modo singular en la resurrección de su Hijo y así Dios anticipó en ella la suerte final de todos los cristianos. Y esta Gracia especial de María tiene su repercusión para la Iglesia quien ve en Ella su futuro ya realizado por cuanto la Asunción es una anticipación de la resurrección de los demás cristianos. Por esto es señal de esperanza y consuelo.
Hoy se nos invita a contemplar a María en la gloria de Dios y reconocer que Ella es la imagen y la garantía de lo que llegaremos a ser un día los creyentes como miembros de la Iglesia. Ella está llena de gozo y su vida es una permanente alabanza de la Gloria de la Trinidad. Pero al mismo tiempo, gracias a su estado glorioso, puede estar pendiente de todos y cada uno de sus hijos, de nosotros. Como bien dice R. Cantalamessa4, cuando Sta. Teresita del Niño Jesús expresó su misión eterna diciendo: “quiero pasar mi cielo haciendo el bien en la tierra”; estaba haciendo suya, sin saberlo, la vocación de María, quien pasa su cielo haciendo el bien en la tierra. ¿Y cómo lo hace? Mediante su poderosa intercesión. En las bodas de Caná vemos a María intercediendo ante su Hijo Jesús porque se terminó el vino de la fiesta. Y le hizo anticipar su hora. Pues bien, ahora que María está asociada a la glorificación de su Hijo, su poder de intercesión desde el cielo es infinitamente mayor. Por eso con tanta fe y confianza le dirigen sus súplicas los cristianos de todos los tiempos. Un claro testimonio es la oración “Acordaos”, atribuida a san Bernardo, pero cuyos textos más antiguos son del siglo XV y se desconoce su verdadero autor: «Acordaos, oh piadosísima Virgen María, que jamás se ha oído decir que ninguno de los que han acudido a tu protección, implorando tu asistencia y reclamando tu socorro, haya sido abandonado de ti. Animado con esta confianza, a ti también acudo, oh Madre, Virgen de las vírgenes».
Por tanto, siempre es bueno contemplar a la Virgen Asunta a los cielos como ejemplo y signo de Esperanza para nuestras vidas. El objeto esencial de nuestra Esperanza cristiana es la salvación como “posesión” de Dios, la comunión plena con Él. Y María ha alcanzado esta Gracia en su Asunción y nos enseña a pedirla y esperarla justamente como tal, como una GRACIA.
En su vida terrena María vivió la Esperanza mediante el ejercicio de la memoria, tal como lo prueba el Magnificat. María hace memoria de las grandes maravillas obradas por Dios en favor de su pueblo, en el pasado; y en favor de ella en el presente, a pesar de su pequeñez. María guardaba todas las cosas vividas con Jesús y las meditaba en su corazón. Así,
haciendo memoria, mantuvo siempre viva la Esperanza.
Pero de modo especial María vivió “la esperanza contra toda esperanza” junto a la cruz de Jesús y participando como nadie del misterio pascual de su Hijo. Y nos enseña a vivirla también a nosotros, particularmente en los momentos límites, cuando parece que ya nada más podemos hacer. En esos momentos María, como una estrella brillante en la noche, nos invita a seguir mirando al cielo y continuar esperando en Dios. En efecto, “cuando incluso no hubiera nada más que hacer por parte nuestra, para cambiar una cierta situación difícil, quedaría siempre una gran tarea por cumplir, la de mantenerse comprometido y mantener lejana la desesperación: soportar con paciencia hasta el fin. Ésta fue la gran “tarea” que María llevó a cumplimiento, esperando, al pie de la cruz, y en esto ella está lista para ayudarnos también a nosotros”5.
María enseña a la Iglesia a vivir y ofrecer la verdadera esperanza, como lo explica muy bien R. Cantalamessa6: “María que en el misterio de la Encarnación fue maestra de fe, en el Misterio Pascual es, por tanto, maestra de la esperanza. Como María estuvo junto al Hijo crucificado, así la Iglesia está llamada a estar junto a los crucificados de hoy: los pobres, los que sufren, los humillados y los heridos. ¿Y cómo estará la Iglesia junto a ellos? Con esperanza, como María. No basta compadecerse de sus penas o incluso buscar aliviarlas. Es demasiado poco. Esto lo pueden hacer todos, incluso los que no conocen la resurrección. La Iglesia debe dar esperanza, proclamando que el sufrimiento no es absurdo, sino que tiene un sentido, porque habrá resurrección de la muerte […] Los hombres tienen necesidad de esperanza para vivir, como del oxígeno para respirar”.
En el contexto del año jubilar es muy claro que María es un gran modelo para aprender a vivir como peregrinos de esperanza. Al respecto el Papa Francisco nos decía en el Ángelus del 15 de agosto de 2024: “Es hermosa esta expresión del Evangelio: «se puso en camino» (Lc 1,39). Significa que María no considera un privilegio la noticia recibida del Ángel, sino que, por el contrario, deja su casa y se pone en camino, con la prisa de quien desea anunciar a los demás esa alegría y con el afán de ponerse al servicio de su prima. Este primer viaje, en realidad, es una metáfora de toda su vida, porque a partir de ese momento, María estará siempre en camino: siempre estará en el camino siguiendo a Jesús, como discípula del Reino. Y, al final, su peregrinación terrena termina con su Asunción al Cielo, donde, junto a su Hijo, goza para siempre de la alegría de la vida eterna.
Hermanos y hermanas, no debemos imaginar a María «como una inmóvil estatua de cera», sino que en ella podemos ver a una «hermana... con las sandalias gastadas... y con tanto cansancio» (C. CARRETTO, Beata te che hai creduto, Roma 1983, p. 13), por haber caminado tras el Señor y al encuentro de sus hermanos y hermanas, concluyendo su viaje en la gloria del Cielo. De este modo, la Santísima Virgen es Aquella que nos precede en el camino -nos precede, Ella-, nos precede en el camino recordándonos a todos que también nuestra vida es un viaje, un viaje continuo hacia el horizonte del encuentro definitivo. Pidamos a la Virgen que nos ayude en este camino hacia el encuentro con el Señor.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Saludo
Saludo en Dios, el de Isabel y María
Alabaron sin reparos
A quien engendró en ellas la vida
De quienes vendrían a enseñarnos
El gozo de ellas sonó a melodía
Canto de amistad y plena alegría
Era el Secreto Divino que se escondía
En el vientre de una Madre elegida
Dios se hizo en ella, hombre
Entró en aquella familia
Saludó a sus parientes,
Bautizó a Juan, que pronto nacería
Fue un momento en el tiempo
Único y especial,
El Hijo de Dios mostraba a su Madre
Y lo gravó en la eternidad
Dibujaba en esos hechos su perfil:
Solícita, alegre y disponible a la Gracia
Obediente hasta el extremo
Elevada con Cristo a los altares ¡Qué decir!
En el cielo asunta te contemplamos
Tú eres reina y auxilio de los cristianos
Te abajaste a socorrernos
A pedir nuestra oración, y abrigarnos
El santo Rosario rezamos
Elevando al cielo la mirada
Quédate siempre cerca, Virgen Santa
Contigo peregrinamos. Amén
1 Cf. Apocalipsis (Verbo Divino; Estella 1994) 109-115.
2 V. M. Fernández, El Apocalipsis y el tercer milenio (San Pablo; Buenos Aires 1998) 49-50.
3 Cf. Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas (Mensajero; Bilbao 2009) 377.
4 María, espejo de la Iglesia (Ágape: Buenos Aires 2013) 308.
5 R. Cantalamessa, María, espejo de la Iglesia (Ágape: Buenos Aires 2013) 174.
6 María, espejo de la Iglesia (Ágape: Buenos Aires 2013) 168-169.