01/06/2025
Primeira Leitura: Atos 1,1-11
Salmo Responsorial 46(47) R- Por entre aclamações Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta!
Segunda Leitura: Efésios 1,17-23
Evangelho: Lucas 24, 46-53
"46.“Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. 47.E que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48.Vós sois as testemunhas de tudo isso. 49.Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai; entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.* 50.Depois os levou para Betânia e, levantando as mãos, os abençoou. 51.Enquanto os abençoava, separou-se deles e foi arrebatado ao céu. 52.Depois de o terem adorado, voltaram para Jerusalém com grande júbilo. 53.E permaneciam no templo, louvando e bendizendo a Deus."
Lc 24,46-53
A solenidade da ascensão que hoje celebramos está permeada por uma grande alegria. Mais do que isso: pedimos a Deus que nos faça exultar de alegria: “Fazei-nos, ó Pai, exultar de alegria e fervorosa ação de graças” (oração da coleta). A celebração de hoje não é, portanto, uma saudosa liturgia de adeus a Jesus, que vai embora tranquilo para o paraíso e nos deixa sozinhos. Pelo contrário, celebramos a ascensão do Senhor com um grande sentido de alegria e de exultação. Descobrir os motivos desta alegria e exultação significa celebrar com verdade o mistério da ascensão.
A oração da coleta expressa o sentido salvífico da ascensão para nós: ó Pai, a ascensão de vosso Filho já é nossa vitória! Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros do seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória. Jesus não sobe ao céu sozinho. Ele nos leva com Ele, porque, ao ser glorificado, não se separa da humanidade assumida na encarnação. A subida ao céu é a glorificação da humanidade de Jesus. Enquanto Deus, Jesus não precisava ser glorificado; é a humanidade feita sua na encarnação que é glorificada no céu. Por isso podemos afirmar que a ascensão do Filho é também a nossa ascensão ao céu.
Esses pensamentos, por si só, bastam para acender em nós o entusiasmo pois a nossa certeza e a nossa esperança, a nossa vocação e o nosso futuro estão todos apontados para o céu.
Tudo isso é muito bonito, mas não é tudo. A ascensão do Senhor esconde ainda um outro segredo. A ascensão marca também a sua presença no nosso mundo. Não só subimos ao céu com Jesus, mas o mundo, por causa da glorificação de Jesus, se tornou a habitação de Jesus e, portanto, se tornou também céu. Não se trata evidentemente de justificar o pecado e o mal presentes no mundo. O nosso mundo se tornou céu porque o lugar onde está Jesus é o céu. Com a ascensão de Jesus toda a nossa realidade, por causa da presença de Jesus, se torna de certa forma transparência dele.
A ascensão não é o movimento contrário do Natal. Pensamos erroneamente que no Natal Deus se aproxima e se torna presente neste mundo e que na Ascensão, Jesus abandona o nosso mundo à própria sorte. Essa representação é errada e a solenidade de hoje nos revela que agora Jesus está mais presente e mais ativo do que nunca em nosso mundo.
A presença de Cristo, no entanto, tem um ponto de maior densidade e de concentração. Ele está presente sobretudo na pessoa humana e de modo ainda mais concentrado nos pobres e sofredores deste mundo. Se há algo que coloca uma pessoa como maior transparência de Jesus, como lugar de maior densidade da presença de Jesus, essa intensidade consiste no grau de sua pobreza, de seu sofrimento e de sua humilhação. Com estas pessoas a presença de Cristo é máxima: “foi a mim que o fizestes... foi a mim que não o fizestes...”.
As pessoas sempre perguntam: como será a vinda de Jesus e quais serão os sinais que acompanham tal vinda? Com a ascensão do Senhor nós devemos reconhecer que Jesus não virá somente do céu, mas virá também e contemporaneamente da “terra”. A segunda vinda de Cristo revelará com clareza que Cristo não está somente no céu, mas que Ele está também presente na terra. Ao subir ao céu, Jesus está mais presente na terra do que podemos imaginar e a sua segunda vinda mostrará o quanto a nossa realidade está prenhe e carregada da sua presença. Com a vinda de Cristo, nós reconheceremos com toda a verdade como Jesus está mais presente do que nunca em nossa vida e em nosso mundo.
Hoje apresentamos a Deus um fragmento de nosso mundo, o pão e o vinho, como oferta humilde e pobre. Deus acolhe nosso pão e vinho, algo tão nosso, e os devolve para nós como presença misteriosa do seu Filho, o seu corpo e sangue. Ele toma posse de uma partícula de nosso mundo para consagrá-lo por inteiro na transparência do Filho Jesus. Bendito seja Deus pelo pão, pelo vinho, pelo corpo e sangue de vosso Filho! Transforme Jesus, presente na eucaristia, a nossa vida e o nosso mundo em presença de Cristo!
ASCENSÃO: expandir a visão
“Jesus os levou para fora da cidade, até Betânia. E erguendo as mãos os abençoou” (Lc 24,50).
Primeiro dado que nos faz pensar: nem Mateus, nem Marcos, nem João, nem Paulo, mas somente Lucas, no fim de seu Evangelho e, mais detalhadamente, no começo dos Atos dos Apóstolos, narra a Ascensão como um fenômeno constatável pelos sentidos.
Até o século V não se celebrava a festa da Ascensão. Considerava-se que a ressurreição já trazia em si a glorificação. Até então, o importante de toda a mensagem pascal era a certeza de que o mesmo Jesus que vivera com os discípulos foi exaltado, chegou à meta, alcançou a plenitude que consiste em identificar-se totalmente com Deus.
No entanto, o mistério da Ascensão nos oferece a oportunidade de aprofundar mais uma dimensão do mistério pascal. Trata-se de descobrir que a posse da Vida por parte de Jesus é total. Ele participa da mesma Vida de Deus e, portanto, ascendeu ao mais alto dos “céus”, ou seja, sua presença torna-se universal.
A Ascensão é o salto para a novidade, para a beleza, para a transcendência; ela nos faz descobrir a verdadeira extensão da Vida; sua luz ilumina toda a Criação: a vida de Cristo na vida da Terra nos traz alegria e esperança. O universo inteiro é o “habitat” do Cristo Cósmico.
A presença pascal de Jesus já é Ascensão; não é um afastar-se dos seus, mas permanecer com eles de maneira diferente, em amor e em presença transformadora.
Também nossa meta de vida, como a de Jesus, é ascender em direção ao Pai, aos outros, à Criação inteira. “Subimos” quando “descemos” à nossa realidade, visibilizando o Cristo glorificado através de nossa presença inspiradora, esperançada e comprometida.
Celebrar a Ascensão de Jesus é ampliar nossa visão, romper com tudo aquilo que atrofia nosso coração, abrir-nos ao novo e saborear a vida que se revela sempre como contínua surpresa.
Muitas vezes, ocupados só com o resultado imediato de um maior bem-estar e atraídos por pequenas aspirações e esperanças tímidas, corremos o risco de empobrecer o horizonte de nossa existência, esvaziando a aspiração de eternidade e perdendo o desejo de uma vida mais expansiva.
O ser humano resiste a viver fechado para sempre nesta condição caduca e mortal. Na verdade, muitos cristãos vivem hoje olhando exclusivamente para o chão, cabisbaixos. Parece que não se atrevem a levantar o olhar mais além do imediato de cada dia.
Nesta festa da Ascensão do Senhor podemos recordar as palavras do científico e místico Teilhard de Chardin: “Cristãos, a só vinte séculos da Ascensão, que haveis feito da esperança cristã?”
Em meio às interrogações e incertezas, os(as) seguidores(as) de Jesus continuam caminhando pela vida, fundamentados numa confiança e numa convicção. Quando parece que a vida se fecha ou se extingue, Deus permanece. O mistério último da realidade é um mistério de bondade e de amor. Deus é uma Porta aberta à vida que ninguém pode fechar.
É belo ver como Deus se manifesta neste desejo que habita todos nós, e coloca no interior de cada um algo tão transcendental e misterioso, ao alcance de nossa vivência e de nossa compreensão. “A eternidade (céu) é importante, mas a eternidade é construída no tempo e o tempo é importante” (Pe. Aldunate).
É isso que a liturgia faz: ela nos mobiliza a ir em busca dessa “escada” que nos permita alcançar tão profundo desejo. Foi assim que Jesus e seus contemporâneos entendiam a relação entre o céu e a terra.
A festa da Ascensão do Senhor é frequentemente mal-entendida como “a festa da desconexão” entre o céu e a terra. O Ressuscitado e Ascendido ao céu não nos deixa órfãos; Ele não se ausenta, mas é Aquele que “sobe” e “desce” para iluminar toda a Criação, Aquele que conecta céus e terra.
O desejo que o Cristo expressa é o de vivermos sobre a terra o céu que está em nosso interior. E diminuir a distância, a defasagem que existe entre nossos sentimentos mais elevados e nossas ações mais cotidianas.
Ele nos recorda que em nossas ações sobre a terra já se encontra o nosso céu. E o céu não é um estado que conheceremos somente após a morte, mas é também nossa grandeza interior.
O “subir” até Deus passa pelo “descer” até as profundezas da nossa própria realidade pessoal. Se com Cristo quisermos subir ao Pai, temos primeiro que descer com Ele à terra, afundar os pés na nossa própria condição humana.
O relato de Lucas deste domingo afirma que o Ressuscitado, tirou os seus discípulos do lugar onde estavam trancados e os levou para fora da cidade, até Betânia. Ascensão é festa que amplia nossa visão da humanidade e da realidade, alarga nosso coração para vivermos relações mais sadias com os outros, desperta nossa sensibilidade para acolher a vida, confirma nossa missão de prolongar a mesma missão de Jesus: sermos presenças solidárias e compassivas, acolhendo tudo o que é humano e comprometendo-nos com a transformação deste mundo, ainda carregado de morte.
É como se o Glorificado nos dissesse: “olhem a terra e seus homens e mulheres, deixem-se afetar pelas suas lágrimas e angústias, assumindo tudo como algo próprio dos meus discípulos; ocupem-se em transformar tudo, ajudando as pessoas a fazerem a travessia em direção ao amor, à verdade e à justiça”.
Esta é a aparição, única e universal, de Jesus segundo Lucas, uma “ascensão” que não é subida a outro céu, mas presença nesta terra, até o fim dos tempos. Esta “aparição” (presença) tem valor definitivo: não termina, perdura para sempre. Ela continua, não teve nem terá fim, até o dia em que a história chegue à sua plenitude. Isso significa que o tempo da humanidade (discípulos/as de Cristo) está marcado pela permanência e frutos dessa grande visão que fundamenta toda sua existência.
Há uma eterna tentação que se abate sobre nós, qual seja: fixarmos em olhar no céu para não prestarmos atenção ao mundo que nos cerca. Ao nos deixar conduzir pelo Espírito, rompemos com nossos lugares estreitos, vivemos a expansão de nós mesmos, tornamo-nos universais....
Essa ascensão não pode ser feita à custa dos outros, mas servindo a todos. Como Jesus, a única maneira de alcançar a plenitude é descendo para o mais profundo. Aquele que mais “desceu” é Aquele que mais alto “subiu”.
Podemos, também, conectar a Ascensão com o Nascimento de Jesus. Nada nos impede pensar a Ascensão como Natal ao contrário. O Natal é Jesus que vem de Deus para junto da humanidade. A Ascensão é Jesus que faz o retorno a Deus, junto com a humanidade e a Criação inteira. Não se trata simplesmente de dois momentos, mas de dois modos de presença: no Natal, faz-se presente e torna Deus visível na condição humana. Na Ascensão, continua fazendo-se presente, mas de maneira invisível também no humano.
Quando no Natal, Jesus se humaniza, assume nossa condição humana e a assume para sempre. A partir de então, o humano tem cheiro de divino e o divino tem cheiro de humano.
Quando na Ascensão se esconde a condição humana de Jesus, este continua fazendo-se Natal na vida da comunidade cristã e de seus seguidores. No Natal, Deus nos acostumou à sua visibilidade no humano.
Na Ascensão, Deus quer nos acostumar à sua invisibilidade no humano. Invisibilidade que não é ausência, mas presença de outra maneira.
Assim como Jesus não abandonou seu Pai para “fazer-se carne”, tampouco nos abandona para voltar a seu Pai. Mais ainda, o único objetivo da mensagem evangélica é que todos cheguemos à vivência profunda desse mistério, e vivê-la como Ele a viveu.
Cristo ascende e nos faz ascender à vida plena, neste mesmo mundo, no caminho da Igreja.
Para meditar na oração:
-Toda pessoa possui dentro de si uma profundidade, que é seu mistério íntimo e pessoal que quer se expandir, romper com os limites e as estreitezas da vida.
-Viver a Ascensão, desde já, é deixar o Espírito desatar as potencialidades de vida: novas relações, novo compromisso, novas inspirações, nova visão...
- Fazer memória das dimensões da vida que estão atrofiadas e que precisam entrar no fluxo da Ascensão.
Os evangelistas descrevem com diferentes linguagens a missão que Jesus confia aos Seus seguidores. Segundo Mateus eles devem «fazer discípulos» que aprendam a viver como Ele lhes ensinou. Segundo Lucas, hão de ser «testemunhas» do que viveram junto Dele. Marcos resume tudo dizendo que hão de «proclamar o Evangelho a toda a criação».
Quem se aproxima hoje de uma comunidade cristã não se encontra diretamente com o Evangelho. O que se apercebe é do funcionamento de uma religião envelhecida, com graves sinais de crise. Não podem identificar com clareza no interior dessa religião a Boa Nova proveniente do impacto provocado por Jesus há vinte séculos.
Por outro lado, muitos cristãos não conhecem diretamente o Evangelho. Tudo o que sabem de Jesus e da Sua mensagem é o que podem reconstruir de forma parcial e fragmentada, recordando o que escutaram de catequistas e predicadores. Vivem a sua religião privados do contato pessoal com o Evangelho.
Como o poderão proclamar se não o conhecem nas suas próprias comunidades? O Concílio Vaticano II recordou algo demasiado esquecido nestes momentos: «O Evangelho é, em todos os tempos, o princípio de toda a sua vida para a Igreja». Chegou o momento de entender e configurar a comunidade cristã como um lugar onde o primeiro é acolher o Evangelho de Jesus.
Nada pode regenerar o tecido em crise das nossas comunidades como a força do Evangelho. Só a experiência direta e imediata do Evangelho pode revitalizar a Igreja. Dentro de uns anos, quando a crise nos obrigue a centrar-nos só no essencial, veremos com clareza que nada é mais importante hoje para os cristãos que nos reunirmos a ler, escutar e partilhar juntos os relatos evangélicos.
O primeiro é acreditar na força regeneradora do Evangelho. Os relatos evangélicos ensinam a viver a fé não por obrigação, mas por atração. Fazem viver a vida cristã não como dever, mas como irradiação e contágio. É possível introduzir nas paróquias uma dinâmica nova. Reunidos em pequenos grupos, em contato com o Evangelho, iremos recuperando a nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus.
Havemos de voltar ao Evangelho como novo começo. Já não serve qualquer programa ou estratégia pastoral. Dentro de uns anos, escutar juntos o Evangelho de Jesus não será uma atividade mais entre outras, mas a matriz de onde começará a regeneração da fé cristã nas pequenas comunidades dispersas no meio de uma sociedade secularizada.
Tem razão o Papa Francisco quando nos diz que o princípio e motor da renovação da Igreja nestes tempos temos de encontrá-lo em «voltar à fonte e recuperar a frescura original do Evangelho».
Neste domingo, celebramos com toda a Igreja a festa da Ascensão de Jesus ao céu. Como introdução, devemos considerar a cultura greco-romana clássica na qual o evangelista — Lucas — se move e a comunidade para a qual ele escreve. Há vários casos de personagens que, após sua morte, são glorificados de maneira semelhante a Jesus, por exemplo, Hércules, Augusto, Drusila, Alexandre, o Grande. Marcos, em seu Evangelho, nos diz que, após a Ascensão, Jesus “sentou-se à direita de Deus”. O Evangelho de Lucas, que é a primeira obra dirigida a Timóteo, prévio ao Livro de Atos, onde a ascensão de Jesus também é relatada. São dois relatos diferentes que tentam nos deixar com uma mensagem: Jesus foi glorificado!
Nós nos perguntamos: o que significa para nós o fato de Jesus ter sido glorificado? Como isso afeta nossa vida e a vida de nossas comunidades? A partir dessa pergunta, acolhemos as palavras do evangelho: “Disse Jesus a seus discípulos: ‘Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”.
Durante quarenta dias, junto com a comunidade do primeiro século, procuramos reconhecer e testemunhar a presença de Jesus Ressuscitado. Em meio à dor de sua partida, às dúvidas de um futuro incerto, ao medo dos “judeus”, tocamos com nossas mãos, reconhecemos com nossos olhos e com o ardor de nossos corações diante de suas palavras, sua presença Ressuscitada em nosso meio! E assim entendemos o que já estava escrito em nossos corações, e que ele o havia dito várias vezes: “O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia”.
Neste domingo, também somos chamados a acolher sua mensagem para proclamar, em seu nome “a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”. É um convite ousado de Jesus para comunicar sua presença nas diversas situações que nos toca viver. A conversão e o perdão dos pecados contêm o convite a entrever a permanência de Deus, que nos ama com um amor incondicional, que não é proporcional aos nossos esforços, méritos ou pecados. O “reconhecimento” de Seu amor e de Sua presença traz consigo uma mudança de vida, deixando o pecado — que é o não amor — e nos convida a nos abrirmos continuamente para recebê-Lo, para acolhê-Lo nas diferentes situações em que Ele se apresenta, com Sua ternura e carinho de Pai.
Vós sereis testemunhas de tudo isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu.
Só o Espirito Santo pode levar adiante este chamamento a sermos testemunhas de sua presença. É ele quem conduz e torna presente a vida do Ressuscitado em nosso meio. As boas notícias são comunicadas, os bons lugares são compartilhados e por isso o convite de Jesus para sermos testemunhas não é uma exigência, mas a consequência generosa de quem sabe que é amado pelo Pai e quer que outros despertem para conhecer esse amor. A testemunha é simplesmente um mensageiro que traz esta boa notícia: Deus é Pai e ama a cada pessoa com um amor incondicional e original. Não é um amor generalizado, mas um amor pessoal e individual que deve ser experimentado individualmente. A conversão é o convite para “darmos volta”, como fez Maria Madalena quando chorava diante do sepulcro, para reconhecer na voz do “jardineiro” a presença amorosa de Jesus ressuscitado.
Leão XIV renovou o convite ao amor numa de suas primeiras declarações oficiais aos cardeais após sua eleição: “Irmãos e irmãs, esta é a hora do amor! O coração do Evangelho é o amor de Deus que nos faz irmãos e irmãs. Com meu predecessor Leão XIII, podemos nos perguntar hoje: se esse critério ‘prevalecesse no mundo, não cessariam todos os conflitos e a paz não retornaria?’” Leão XIV cita Leão XIII com frequência, mas reflete Leão X: "Vamos desfrutar do papado".
Neste domingo Jesus convida-nos a ser testemunhas de esse amor, de um amor que renova, que transforma. Não é um sentimentalismo passageiro, mas um amor fortalecido na incompreensão, no dor da rejeição e na cruz. Os/as discípulos/as foram testemunhas de todo isto e a memória permanente de sua vida, de suas palavras são sempre a força e o a esperança para continuar anunciando-O!
Nesta festa da Ascensão de Jesus, que traz a memória da vida de Jesus e da presença do Espírito no meio da comunidade, fazemos nossas as palavras do Papa Leão à Cúria Romana para traduzi-las também em oração: “A memória é um elemento essencial em um organismo vivo. Ela não se dirige apenas ao passado, mas nutre o presente e guia o futuro. Sem memória, o caminho se perde, perde-se o sentido de direção” (Papa Leão à Cúria Romana: 'Os papas vêm e vão, a Cúria permanece')
Chegamos ao último trecho do Evangelho de Lucas. Quase todo este capítulo é encontrado somente em Lucas, e revela bem o seu pensamento. Podemos dizer que o Evangelho todo culmina na postura dos discípulos, descrita no versículo 52: “Eles o adoraram”. Esta é a primeira e única vez que Lucas diz que os discípulos adoraram Jesus. Aqui há uma aproximação entre a cristologia de Lucas e a de João em Jo 20,28.
O trecho abre com uma frase que faz lembrar os dois discípulos na estrada de Emaús: “Jesus abriu a mente deles para entenderem as Escrituras.” (v. 45). Vale a pena salientar que ele fez que eles “entendessem” as Escrituras – não que as “conhecessem”, pois estavam bem a par de tudo que as Escrituras falavam! O problema deles – como dos dois de Emaús – era de entender como as Escrituras podiam iluminar a sua caminhada, na sua situação concreta.
Lucas frisa que o anúncio do Evangelho incluirá a grande Boa Nova do perdão dos pecados. Essa Boa Notícia “será anunciada a todas as nações, começando por Jerusalém” (v.47). Aqui explica como a salvação chegará aos outros povos – através da pregação e testemunho das comunidades cristãs. Por isso devemos entender a frase “E vocês são testemunhas disso” (v.48) como referente não só aos Onze, mas a todos os discípulos e discípulas de Jesus! Podemos lembrar-nos de Lc 24,9. 33 – onde enfatiza que além dos Onze, estavam também presentes “os outros”. Isso é importante para que não caiamos na cilada de achar que a missão de testemunhar os valores do Reino seja algo reservado aos ministros ordenados. O Documento de Aparecida insiste muito que não é possível ser discípulo/a de Jesus sem ser missionário/a. Essa incumbência, e privilégio, vêm do nosso batismo! As comunidades poderão contar com um poderoso ajudante nesta missão gostosa, mas árdua – o Espírito Santo, prometido pelo Pai: “Agora eu lhes enviarei aquele que meu Pai prometeu” (v.49). O comprimento dessa promessa será graficamente descrito na continuação da obra de Lucas, nos primeiros dois capítulos dos Atos dos Apóstolos.
O último parágrafo contém numerosas referências a Lc 1,5 – 2,25. O texto grego usa o verbo que no Antigo Testamento é usado para descrever o Êxodo, quando diz: “Jesus levou os discípulos para fora da cidade” (v.50). Para Lucas, Jesus está prestes a completar o seu Êxodo ao Pai. Mas antes, “Ergueu as mãos e os abençoava”(v. 50b). É a única vez que no Evangelho de Lucas se diz que Jesus abençoou alguém. No fim da liturgia da sua vida, Jesus dá a sua bênção final aos que vão continuar a sua missão! Os discípulos sentem grande alegria – um tema destacado no início da vida de Jesus, no seu nascimento em Belém, quando os anjos trouxeram notícias de grande alegria! A alegria prometida no início está presente no fim! Por isso, os discípulos se encontram no Templo, onde Jesus foi apresentado e onde Simeão louvou a Deus. O Evangelho de Lucas conclui afirmando que eles também “Estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus.” (v. 53). O autor termina enfatizando a resposta que os seus leitores devem dar, na medida em que eles aceitam que em Jesus chegou a nossa salvação, através da ação gratuita do Deus misericordioso! Esta resposta de bendizer a Deus não é somente com os lábios, mas com uma vida dedicada e missionária, no seguimento de Jesus de Nazaré e comprometida com a construção de comunidades e sociedades alternativas, baseadas na partilha e na solidariedade. Esse é um dos grandes temas da segunda parte do Evangelho de Lucas, que nós conhecemos como “Atos dos Apóstolos”, um dos livros bíblicos preferidos no estudo bíblico nas comunidades de hoje.
Algumas correntes dos cristianismos originários espiritualizaram muito cedo a pessoa e a proposta de Jesus. Para esses grupos, as chagas do Crucificado desapareceram e passando a cultuar uma religião que negava a encarnação. Muitos afirmavam que Jesus morreu na cruz aparentemente, seu corpo era apenas um corpo aparente (docetismo). Tal negação teórica tinha uma implicação prática: para ser uma boa pessoa cristã, bastava buscar conhecer (gnose) de verdade esse espírito e a ele chegar pelo esforço intelectual/espiritual.
Por essa razão, as comunidades joaninas, já no convívio com correntes de influência gnóstica, são enfáticas em afirmar: “o Verbo se fez carne e acampou no nosso meio” (João 1,14). Se, por um lado, a fala de Tomé é expressão de sua dúvida, por outro, é sinal de que acredita em um Deus encarnado e sofredor:
“Se eu não vir nas suas mãos os sinais dos cravos, e ali não puser o meu dedo, e não puser a minha mão no seu lado, de modo algum acreditarei” (João 20,25).
No texto de Lucas 24,36-49, Jesus chega desejando a paz, fazendo uso de um cumprimento que todo judeu gosta de ouvir: shalom! (24,36). O susto é grande e o grupo pensa que é um espírito. “Um espírito não tem carne e osso”, lembra Jesus, “vede minhas mãos e meus pés, sou eu” (24,39). Não há como negar, afirmam as comunidades lucanas: nosso Deus não é só um espírito, o Crucificado/Ressuscitado permanece entre nós! Erra quem prega um Deus desencarnado. Não entende a proposta quem imagina que é suficiente louvar um espírito, muitas vezes até distante, outras vezes apenas doce e virtual.
O Ressuscitado é carne, é gente de verdade e continua com mãos, pés e o lado marcados por ferimentos. Cabe a nós tratar desses ferimentos, como fez o samaritano em outro texto narrado exclusivamente por Lucas (10,29-37). Cabe a nós não fugir e testemunhar por nossos atos: o Ressuscitado é o mesmo Crucificado a contar conosco também hoje, nos pobres e necessitados, os crucificados deste mundo. A fé em Jesus é algo mais exigente: é preciso continuar reconhecendo sua pessoa sofredora, encarnada nas pessoas sofredoras de ontem e de hoje.
Primeiro comer para depois “abrir a mente”
Depois de saborear um bom peixe assado, Jesus convida o seu grupo a ler a Bíblia: “era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. E abriu-lhes a mente para que entendessem as Escrituras” (Lucas 24,44-45). Como tinha feito no caminho de Emaús (24,27), Jesus retoma a Bíblia: a Lei (a Torah, o Pentateuco), os Profetas (os Nebiin, livros históricos e proféticos) e os Salmos (que representam os Ketubin, os outros Escritos).
Nesse sentido, a experiência com Jesus ressuscitado é uma luz que ilumina todas as Escrituras. Dá um novo sabor a textos antigos. Talvez o inverso tenha sido mais decisivo: a memória de tradições de Israel ajudou as comunidades a interpretar a Cruz à luz da profecia e da esperança na vinda do libertador. A releitura de textos como Oséias 6,2 (“Depois de dois dias nos fará reviver; no terceiro dia nos levantará e nós viveremos em sua presença”) e da figura do servo em Isaías, especialmente do cântico de Isaías 52,13-53,12, ajuda o grupo que seguiu Jesus pelo caminho a reconhecer nele a realização dessa esperança popular. À luz destes textos, as comunidades passaram a compreender a Cruz, de modo que, em vez de sinal de morte, passou a ser sinal de ressurreição e de vida. É a vitória da vida sobre a morte. Nasceu uma nova esperança e, com entusiasmo e movidas pelo dinamismo do Espírito, testemunharam a Boa Nova da justiça do Reino a todas as nações.
Entretanto, parece que mais uma vez Jesus quer nos apresentar um método de evangelização: a mesa da partilha e o ato de matar a fome vêm em primeiro lugar em nossos trabalhos pastorais e sociais. Nenhuma doutrina pode ser usada como camisa de força para a Palavra, uma vez que esta não pode ser algemada por aquela (cf. 2Timóteo 2,9). Muito menos, a Bíblia e as normas das diferentes igrejas podem ser usadas para doutrinar a vida, mas para iluminá-la. Despertar a consciência é algo que não se faz com a barriga vazia! Partilhar o peixe (e o pão, e a dignidade) é algo que se faz como prioridade.
Ressurreição acontece ao redor da mesa
O tema da mesa (comensalidade) é um dos mais caros ao evangelho de Lucas. Jesus come com publicanos (Lc 5,29-32); à mesa, na casa de um fariseu, é ungido pela mulher pecadora; (7,36-50; 11,37-54); também na casa de um fariseu desmascara a hipocrisia e o legalismo de quem o acolhia (10,38-42); janta na casa de Zaqueu e o ensina a repartir; faz-se ele mesmo pão repartido (22,14-2); e se dá a conhecer, em Emaús, ao redor da mesa (Lc 24,13-35). Ao todo, por doze vezes Jesus se senta à mesa no evangelho de Lucas. E ainda convida a quem permanecer fiel a sentar-se na mesa de seu Reino (22,28-30).
No evangelho de hoje, ele pede peixe e come com os seus (22,42).
O peixe se tornou um forte símbolo do cristianismo primitivo. Era e ainda é comida de gente simples, que busca sobreviver como consegue, à margem de lagos, rios e mares. Ao mesmo tempo, um pouco de sal e algumas brasas são suficientes para que o banquete esteja pronto e apetitoso. A mesa é o chão da pesca, é a lida do dia-a-dia, a marmita do boia-fria, mas com o direito de estar quentinha, na brasa! E o Mestre come com eles, mais uma vez, um bom peixe assado!
Reflexão de Edmilson Schinelo, biblista popular e Secretário de Articulação do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos(CEBI).
Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia
Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu
Celebramos hoje a festa da Ascensão do Senhor... Os últimos momentos de Jesus junto aos apóstolos e a volta de Cristo ao Pai... As leituras bíblicas descrevem o fato. Mas a intenção não é informar o lugar, a forma e o tempo da Ascensão, mas responder às expectativas da comunidade cristã primitiva, que esperava ansiosamente a segunda vinda de Cristo. O importante não é saber "quando", mas cumprir hoje a MISSÃO. A 1ª Leitura narra a Ascensão como coroamento da obra redentora realizada por Jesus e apelo para anunciar a vida nova do Reino. Ungidos com o Espírito, serão testemunhas "até os confins do mundo" (At 1,1-11)
A Ascensão não é uma viagem de astronauta ao universo. O "Céu" não é um lugar. O Céu é estar com Deus. A Ascensão não é um fato acontecido 40 dias após a Ressurreição: O número é simbólico. É o tempo que prepara os apóstolos para a Missão... Um convite para seguir o caminho de Jesus, olhando para o futuro e entregando-nos à realização do projeto de salvação e libertação, que Ele veio apresentar e passou para as mãos da Igreja, animada pelo Espírito Santo. A Ascensão de Cristo ao céu não é o fim da sua presença entre os homens, mas o começo de uma nova forma de estar no mundo.
A Ascenção é o término missão terrena de Jesus, embora continue sua atuação mediante o Espírito Santo... - É o INÍCIO da missão da IGREJA: Ela deve continuar o que Ele começou.
O olhar dos apóstolos, voltado para o céu, simbolizava a esperança de uma volta imediata de Jesus, o desejo de que ele retomasse a obra interrompida. A voz do céu, porém, esclarece que Jesus não iria voltar para continuar a propagação do Reino de Deus, mas eles deveriam continuar a obra do Mestre.
E nós enquanto aguardamos a nossa Ascensão, não podemos ficar de braços cruzados, apenas olhando para o céu, indiferentes com as injustiças, a violência, as guerras, os direitos humanos, os problemas da mulheres e crianças. Pelo contrário, devemos cumprir a ordem deixada por Cristo: "Vocês serão as minhas testemunhas..."
Não podemos correr o risco de sermos advertidos pelos anjos de Deus: "Por que ficais parados, de braços cruzados, olhando para o céu?" O momento é de olhar ao nosso redor e iniciar a Missão. Jesus ainda falou: "Permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto". Eles esperaram a vinda do Espírito Santo.
“Afastou-se deles” (no evangelho). “Seus olhos não mais podiam vê-lo”. Daí em diante, Jesus não mais será visto em seu ir e vir, suas palavras só serão acessadas pelos escritos ou, como diz Paulo, através da loucura da pregação. Isto é, através de outras pessoas. Mas ele não havia preparado os discípulos para esta forma de ausência? Após a Ressurreição, podemos vê-lo aparecer e desaparecer inesperadamente, como em Emaús, por exemplo.
Inúmeras são as parábolas que nos falam de um mestre que se ausenta, permanecendo presente apenas através das ordens que teria dado. Na verdade, além do mandamento do amor que Jesus nos deixou, recebemos o Espírito que nos faz observá-lo; mas isso tudo se dá somente de modo invisível. Por sua Ressurreição, Jesus passou à vida de Deus; está “à direita do Pai”, como dizem os textos.
Ressalte-se disto tudo que, com a Ascensão, o nome Emanuel, que serve para designar Jesus, em Mateus 1,23, e significa “Deus conosco”, muda agora de sentido. Sim, Ele permanece conosco, mas de outro modo. Atualmente, a presença de Cristo é nossa fé, é o amor mútuo pelo qual esta presença se exprime.
Todos os “relatos” da Ascensão vêm acompanhados do envio dos discípulos “até às extremidades da terra”, para anunciarem o Evangelho. Assim, a imagem do deslocamento vertical, figurado pela Ascensão, vem acompanhada, pela imagem do deslocamento horizontal dos discípulos pela superfície do globo. Tendo em vista fazer de todos, mulheres e homens, um só corpo.
“O que significa “subiu”, senão que ele também desceu às profundezas da terra? Este que desceu é também o que subiu acima de todos os céus, a fim de plenificar todas as coisas” (Efésios 4,9-10). Ou seja, “a fim de plenificar o universo”. Assim o Cristo não é localizável nem acima nem ao lado do universo; tornou-se interior a ele. O céu para onde o Cristo sobe é isto, a face escondida de toda a criação. É, Ele mesmo, esta alma invisível de toda a criação e quem a está conduzindo à sua plena perfeição.
Os céus da Ascensão não estão longe, estão “aí onde dois ou três estão reunidos em seu nome”. Não poderá haver em lugar algum um amor verdadeiro sem que Deus esteja aí.
(Traduzido automaticamente pelo tradutor Google sem nossa correção. Se você quiser conferir com o original, acesse-o logo após esta tradução)
SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR CICLO "C" FESTA DA ESPERANÇA E DO COMPROMISSO MISSIONÁRIO
Primeira Leitura (At 1,1-11): “Jesus foi arrebatado dentre vós para o céu.”
O Livro dos Atos começa com um tema claramente cristológico: os "quarenta dias" de encontros que os discípulos têm com o Ressuscitado antes de sua Ascensão ao céu. E ele diz que durante esses dias Jesus deu aos seus discípulos provas abundantes de que estava "vivo", referindo-se às aparições narradas por Lucas no final do seu Evangelho. Como observa J. Ratzinger 1 , "o significado das aparições é claro em toda a tradição: trata-se, antes de tudo, de reunir um círculo de discípulos que possam testemunhar que Jesus não permaneceu no túmulo, mas está vivo. Seu testemunho concreto torna-se essencialmente uma missão: eles devem anunciar ao mundo que Jesus é o Vivente, a própria Vida."
O número “quarenta” tem um valor simbólico na Bíblia porque indica a passagem para uma nova geração; é o tempo necessário para Deus transformar uma situação . Desta vez conclui-se precisamente com a história da Ascensão, que é descrita aqui como uma elevação aos céus (usa o verbo analambanō na voz passiva – ser levantado, ser levado para cima – da mesma raiz do termo analempsis usado em Lucas 9:51).
Segue-se então, como em Lc 24,49, a ordem de Jesus de permanecer em Jerusalém aguardando a Promessa (ἐπαγγελία) do Pai, o Espírito Santo, na qual os apóstolos serão “imersos” (sentido amplo de “batizados”: ἐν πνεύματι βαπτισθήσεσθε ἁγίῳ em Hebreus 1:5). Assim, este “batismo no Espírito” supera em muito o “batismo com água” de João Batista, que visava apenas à conversão dos pecados.
A pergunta dos discípulos: "Senhor, é este o tempo em que restaurarás o reino a Israel?" - revela que eles ainda não compreenderam plenamente a missão universal e transcendente da Igreja, pois ainda aguardam a restauração do reino terrestre de Israel. Jesus refere esta restauração de Israel ao juízo final, ao fim dos tempos, ao “tempo e momento” (χρόνους ἢ καιροὺς) que só o Pai conhece e que não lhes será revelado (Hb 1,7). De certa forma, Jesus os leva a focar no presente e não no futuro; Mas para isso é preciso que recebam a força do Espírito Santo para, ao mesmo tempo, alargar a mente e os horizontes missionários, porque devem ser testemunhas «até aos confins da terra» (Hb 1, 8).
Depois de unir a missão universal dos apóstolos ao dom do Espírito Santo, Jesus é “elevado ao céu”. A palavra "céu" aparece quatro vezes em Atos 1:10-11. Assim como para nós hoje, a declaração de que Deus “ está no céu” era de uso comum na época de Jesus e já é encontrada no Antigo Testamento, apresentando o céu como a morada ou residência de Deus. Dizer que Deus está no céu é uma maneira de expressar sua transcendência invulnerável, bem como sua onipresença ao redor do homem .
Ao dizer que Jesus foi levado ao céu (Hb 1:11), afirma-se que ele agora está em uma nova situação ou estado, pois está na Morada de Deus. Mas embora esteja ' no céu ' em contraste com ' a terra' , destacando assim sua transcendência , a proximidade e a relação mútua não se perdem , pois a ação do céu ou do céu se sente na terra (cf. At 2,2). Da mesma forma, embora o livro dos Atos nos apresente Jesus como Senhor ( Kurios ), ressuscitado e exaltado à direita do Pai no céu, ao mesmo tempo nos mostrará que nesta nova situação Jesus continua atuando na terra e esta atividade consiste em operar a salvação .
A referência à nuvem que o esconde da vista deles reforça essa ideia porque tem um valor teológico e "apresenta o desaparecimento de Jesus não como uma viagem em direção às estrelas, mas como uma entrada no mistério de Deus. Isso remete a uma ordem de grandeza completamente diferente, a outra dimensão do ser" 2 .
Ao mesmo tempo, nesta nova situação ou etapa, a Igreja deve viver em expectativa ativa do retorno glorioso do próprio Jesus, como os anjos afirmam no final da história. (Hb 1:11). Aqui, o retorno do Senhor é apresentado como uma certeza, mas sem alimentar expectativas de algo iminente; pelo contrário, os "homens de branco" nos convidam a não apenas olhar para o céu.
Segunda leitura (Ef 1,17-23): “Provai a esperança para a qual fomos chamados”.
Depois do hino de bênção e louvor com que começa esta carta (Ef 1,3-14), seguido de uma breve ação de graças (1,15-16), passamos à intercessão em favor dos cristãos, pelos quais se implora ao Pai «um espírito de sabedoria e de revelação, que lhes permita conhecê-lo verdadeiramente» (1,17). É o dom de compreender e saborear os mistérios de Deus e, assim, descobrir a grandeza da esperança à qual foram chamados e os benefícios que receberam como fruto do mistério pascal de Cristo , que inclui a Ascensão. Precisamente a situação de Cristo depois da Ascensão é estar acima de toda a criação, que está sujeita a ele, e ser Cabeça do Corpo da Igreja . Sobre esta apresentação de Cristo como Cabeça do Corpo da Igreja, F. Pastor 3 nos diz : "Esta metáfora é usada pela primeira vez, e a correspondente, da Igreja como Corpo de Cristo. Sendo esta comunidade beneficiária do plano de Deus realizado em Cristo, ela é também a plenitude do cosmos e participa da condição do Senhor Jesus. A partir desta breve afirmação, compreenderemos mais tarde o ser e a missão da Igreja. Ela não será tanto – embora também o seja – uma organização, mas uma plenitude de todo o mundo novo que participa da regeneração universal por meio de Cristo, Senhor e Cabeça (cf. Cl 1,15-20)."
Evangelho (Lc 24,46-53): “Enquanto os abençoava, Jesus os deixou e foi elevado ao céu.”
Hoje nos é oferecida como leitura o final do Evangelho de Lucas, que termina com a ascensão de Jesus ao céu e o retorno dos apóstolos a Jerusalém para aguardar a promessa do Pai. Este é um final "aberto", pois requer sua continuação no segundo volume da obra de Lucas, o livro de Atos dos Apóstolos.
Jesus Ressuscitado diz suas últimas palavras aos Onze apóstolos e aos que estavam reunidos com eles. Especificamente, Jesus diz aos seus discípulos que nas profecias do Antigo Testamento ("assim está escrito") há três coisas sobre o Messias: 1) ele tem que sofrer; 2) ressuscitar; 3) Começando por Jerusalém, todas as nações devem ser pregadas em seu nome.
A novidade de Lucas é apresentar a pregação a todas as nações como algo já pré-anunciado sobre o Messias , como uma profecia; enquanto os outros evangelistas apresentam o mandato como originário de Cristo (cf. Mc 16,15; Mt 28,19-20). Portanto, não somente a paixão e a ressurreição de Jesus fazem parte do plano salvífico do Pai revelado nas Escrituras ; mas também a missão de anunciar a todas as nações o evangelho da salvação em Cristo. Por trás desta apresentação inédita podemos descobrir a tentativa de Lucas de despertar o sentido missionário na Igreja, pois esse sempre foi o desígnio do Pai contido nas Escrituras . O conteúdo desta pregação apostólica é a conversão ( metanoia ) para o perdão dos pecados em "nome de Jesus".
Desta vontade salvífica universal do Pai decorre o compromisso missionário dos Apóstolos que aqui vêm considerados testemunhas : «Vós sois testemunhas de todas estas coisas». Uma testemunha é alguém que viu e ouviu, alguém que experimentou que Jesus ressuscitou. Os Apóstolos, no livro de Atos, são antes de tudo testemunhas da ressurreição do Senhor .
Mas a missão universal da Igreja e o testemunho dos apóstolos só serão possíveis através da ação do Espírito Santo . Por isso, Jesus ordena que permaneçam em Jerusalém aguardando o cumprimento desta promessa do Pai. Jesus já lhes havia dado, antes de partir, o mandato missionário. Muito em breve Ele lhes dará a força, a “alma” que deve mobilizar a ação evangelizadora: o Espírito Santo . Também aqui fica claro que o final do Evangelho de Lucas nos remete ao início do Livro dos Atos, onde será narrada a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos (cf. At 2).
Jesus, ao ser elevado ao céu, abençoa os seus. Esta bênção, para alguns, tem o valor de uma despedida, de um adeus. De fato, no Antigo Testamento há alguns exemplos de bênção para aqueles que partem (cf. Gn 24,60; 28,1) 4 . Outros consideram-no mais um gesto sacerdotal de Cristo, já que no Antigo Testamento o Sumo Sacerdote é apresentado abençoando desta forma após o sacrifício solene 5 .
Os discípulos obedecem a Jesus e retornam a Jerusalém com alegria e permanecem em louvor a Deus. Quão diferente é a reação dos discípulos agora em comparação ao restante do Evangelho! Não há dúvida de que a ressurreição do Senhor iluminou suas vidas e os fez entender tudo. É verdadeiramente evidente que o Senhor Ressuscitado «abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras» (24, 45). Como diz o Cardeal CM Martini 6 : "O caminho que os apóstolos percorreram no momento em que o mandato lhes foi confiado é, portanto, a possibilidade de recebê-lo não como uma posse zelosa a ser zelosamente defendida, a ser administrada privada e pessoalmente, mas como o dom do Ressuscitado, recebido precisamente quando já não o esperavam, quando temiam que o Senhor os tivesse abandonado por causa da sua infidelidade. Em vez disso, o Senhor, que é um bom evangelizador, anunciador da misericórdia de Deus, devolve-lhes este tesouro do ministério, porque tem confiança neles e o confia aos seus corações livres."
Algumas reflexões:
Neste ciclo litúrgico, o evento da Ascensão nos é apresentado tanto na primeira leitura como no Evangelho. A Ascensão ocupa um lugar importante na obra de Lucas: fecha o seu primeiro livro (cf. Lc 24,30-31) e abre o segundo (cf. At 1,9-11). Para além de algumas diferenças na narrativa, há uma clara unidade na mensagem: com a Ascensão do Senhor, culmina uma etapa da história da salvação e começa uma nova .
Podemos falar, como muitas vezes se faz, do tempo de Jesus e do tempo da Igreja . Mas é importante ressaltar que não há separação ou ruptura entre ambos os tempos ou etapas porque, embora o tempo da Igreja seja diferente do de Jesus por haver um novo começo, ele ainda permanece em continuidade com o anterior por ser um tempo de cumprimento da Promessa do Pai que Jesus recorda e realiza derramando o Espírito (cf. Lc 24,49; Hb 2,33) naqueles “últimos dias” (cf. Hb 2,17) . Assim, para Lucas, a jornada salvífica de Jesus termina com sua ascensão ou exaltação ao céu, o que dá origem ao dom do Espírito Santo sobre a Igreja, que, por sua vez, inicia sua jornada guiada por Jesus, o Senhor. Concluímos então que o tempo da Igreja é também o tempo de Jesus Glorificado, presente e ativo nela. Como bem resume L. Monloubou 7 : "Desta forma, através de ambos os textos, delineia-se a situação de uma Igreja que conserva a memória da presença passada de Jesus, mas que vive profundamente a sua presença presente; uma Igreja cuja vida é penetrada pelo Espírito, e penetrada também pela certeza de ter uma missão a cumprir, em vista daquele momento em que Jesus se mostrará definitivamente presente."
O mistério da Ascensão, como todos os mistérios da vida de Jesus, são acontecimentos que acontecem com Jesus, neles " algo se realiza em Jesus ". Esta é a primeira coisa que temos que considerar, ou melhor ainda, contemplar . Mas os mistérios de Jesus também sempre têm suas consequências ou efeitos em nossa vida de fé que levaremos em consideração.
Segundo a apresentação do Catecismo da Igreja Católica (CATIC), o mistério da Ascensão nos fala da glorificação da humanidade de Jesus que entra definitivamente no reino divino . A Ascensão é, portanto, a coroação do triunfo de Cristo; É o ponto final de chegada da sua Ressurreição. Desde a sua Ascensão, “Jesus participa da sua humanidade no poder e na autoridade do próprio Deus” (CATIC n. 668). Como Verbo ou Filho do Pai, ele está eternamente no seio do Pai, mas na Encarnação assumiu uma verdadeira humanidade que, ao ressuscitar, alcançou a Vida Eterna e, portanto, pode ascender ao Pai. Neste sentido, a Ascensão é a plenitude da Encarnação, pois Ele ascende ao Pai com a humanidade que assumiu de Maria. É, pois, a glorificação de Jesus na sua condição de homem através da qual ele restitui à natureza humana a sua vocação de eternidade .
Ora, a primeira consequência ou efeito da Ascensão para nós é que ela nos abriu o caminho para o céu, para a vida eterna, pois em sua humanidade ele inclui todos os homens . Como diz o prefácio da Ascensão no Missal Romano: "Ele escolheu preceder-nos como nossa cabeça para que nós, membros do seu Corpo, pudéssemos viver com a ardente esperança de segui-lo em seu Reino". Ou seja, celebramos não apenas o triunfo de Jesus Cristo, mas também o triunfo do homem, da natureza humana, o nosso próprio triunfo. Cumprida a sua grande missão na terra, ele retorna ao Pai e, de certa forma, nos leva consigo. A partir da Ascensão, uma verdadeira humanidade, a de Jesus, participa da Glória Eterna de Deus. Esta é a causa e a razão da nossa esperança de sermos glorificados com Ele . Por isso é uma solenidade importante, de alegria além da nostalgia da separação. Este último ponto foi bem expresso por São Leão Magno em seus sermões sobre a Ascensão: "Assim, a Ascensão de Cristo é a nossa elevação, e a esperança do corpo também é chamada ao lugar para o qual a glória da cabeça a precedeu. Então, amados, deixemos que a nossa alegria irrompa quando Ele se sentar, e regozijemo-nos com piedosas ações de graças. Hoje, de fato, não só nos é confirmada a posse do paraíso, mas também penetramos com Cristo nas alturas do céu, recebemos mais pela graça inefável de Cristo do que perdemos pelo ódio do diabo" 8 .
Neste sentido, o Mistério da Ascensão do Senhor ilumina o mistério da morte e nos mostra o objeto da nossa Esperança: a Vida Eterna. De fato, “a esperança é a virtude teologal pela qual aspiramos ao Reino dos Céus e à vida eterna como nossa felicidade, depositando nossa confiança nas promessas de Cristo e contando não com as nossas próprias forças, mas com a ajuda da graça do Espírito Santo” (Catecismo da Igreja Católica n. 1817).
A segunda consequência ou efeito é que, desde a sua glorificação ou ascensão ao céu, Jesus se torna presente e age nos homens e na história por meio do Espírito Santo que atua nos sacramentos e anima a missão da Igreja . A esse respeito, o Papa Francisco disse: “O amor de Jesus por nós também se manifesta nisto: a sua é uma presença que não quer restringir a nossa liberdade. Pelo contrário, abre-nos espaço, porque o verdadeiro amor gera sempre uma proximidade que não esmaga, não é possessiva, é próxima, mas não possessiva; aliás, o verdadeiro amor torna-nos protagonistas. É por isso que Cristo nos assegura: "Eu vou para o Pai, e sereis revestidos de poder do alto; "Eu enviarei sobre ti o meu Espírito, e com o teu poder realizarás a minha obra no mundo" (cf. Lc 24,49). É por isso que, quando Jesus ascendeu ao céu, em vez de permanecer próximo de alguns com o seu corpo, Ele se faz próximo de todos com o seu Espírito. O Espírito Santo torna Jesus presente em nós, para além das barreiras do tempo e do espaço, para que sejamos suas testemunhas no mundo" ( Regina Caeli , 29 de maio de 2022).
A terceira consequência é que, segundo as próprias palavras de Jesus, com a efusão do Espírito no Pentecostes começa a missão da Igreja . Portanto, a esperança do cristão é uma esperança ativa . Não esperamos nossa glorificação final de braços cruzados, mas nos unimos em oração a Maria e a toda a Igreja para receber o Espírito Santo e continuar, nós também hoje, a Missão de Jesus.
Em suma, a solenidade da Ascensão reacende a Esperança e realiza a alegria pascal. É um dia de glória, de vitória, para Jesus e para todos os crentes. E é também um firme chamado ao compromisso missionário, para sermos testemunhas de Cristo Ressuscitado.
Este domingo marca o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, e a mensagem escrita do Papa Francisco é: “Compartilhem com mansidão a esperança que está em seus corações (cf. 1 Ped 3,15-16).”
No âmbito do Jubileu, ele diz aos comunicadores que: “Com esta Mensagem, gostaria de convidá-los a ser comunicadores de esperança, a partir de uma renovação do seu trabalho e da sua missão segundo o espírito do Evangelho”. É por isso que ele mais uma vez faz seu chamado para “desarmar a comunicação”: “Hoje, a comunicação muitas vezes não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceito e ressentimento, fanatismo e até ódio. A realidade é frequentemente simplificada para provocar reações instintivas; a palavra é usada como uma adaga; Até mesmo informações falsas ou habilmente distorcidas são usadas para enviar mensagens com a intenção de atiçar emoções, provocar e ferir. Já afirmei em diversas ocasiões a necessidade de “desarmar” a comunicação, de purificá-la da agressão”.
Em contraste, a proposta do Papa Francisco é: "A comunicação entre os cristãos — mas eu diria também a comunicação em geral — deve ser tecida com doçura e proximidade, no estilo de companheiros de viagem, seguindo o maior Comunicador de todos os tempos, Jesus de Nazaré, que ao longo do caminho falou com os dois discípulos de Emaús, incendiando-lhes o coração com a sua interpretação dos acontecimentos à luz da Escritura. Por isso, sonho com uma comunicação que nos faça companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs, para reacender neles a esperança num momento tão difícil. Uma comunicação capaz de falar ao coração, não de suscitar reações apaixonadas de isolamento e raiva, mas atitudes de abertura e amizade; capaz de acolher a beleza e a esperança mesmo nas situações aparentemente mais desesperadoras; capaz de gerar compromisso, empatia e preocupação pelos outros. Uma comunicação que nos ajude a "reconhecer a dignidade de cada ser humano e a cuidar juntos da nossa casa comum" (Carta Encíclica 11, 11). Dilexit nos, 217)."
Para a oração (ressonâncias do Evangelho em uma oração):
A alegria não nos será tirada
Cada manhã um caminho se abre
Iluminado pelo seu olhar
Embarcamos no curso planejado
E nós imploramos para que você não se desvie
Muitos irmãos saem ao nosso encontro
Homens e mulheres cansados
Já é cedo
Rostos desgastados, mistérios velados
Cada um sob o sinal da Cruz
Ele pede para ser ressuscitado,
E sem saber, ele quer subir com você
Respire profundamente o Sopro Divino
E foi assim que o Pai soube
Encha seus filhos com seu dom
Tu mesmo, Senhor, nos lembraste
O que nos foi prometido
Diante de ti, Senhor, prostrado aos teus pés
Recebemos a sua bênção e começamos a entender
A missão é retornar,
Aquele caminho marcado
E direcionado em sua vontade
A alegria será a bússola e o consolo
A ajuda virá do seu Espírito
Com Palavra e Pão alimentarás o teu Povo. Amém.
1Jesús de Nazaret. Desde la Entrada en Jerusalén hasta la Resurrección (Planeta; Buenos Aires 2011) 323.
2 J. Ratzinger, Jesús de Nazareth, 328.
3 Corpus Paulino II (DDB; Bilbao 2005) 29-30.
4 Cf. L. Monloubou, Leer y predicar el Evangelio de Lucas (Sal Terrae; Santander 1982) 326. 5 Cf. Card. A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 150; L. H. Rivas, La obra de Lucas (Ágape; Buenos Aires 2012) 247.
6 El evangelizador en San Lucas (Paulinas; Bogotá 1992) 126.
7 L. Monloubou, Leer y predicar el Evangelio de Lucas (Sal Terrae; Santander 1982) 326.
8 León Magno, Sermón 1 sobre la Ascensión, SC 74, 138; cit. en A. Nocent, Celebrar a Jesucristo IV (Sal terrae; Santander 1986) 230.
1
SOLEMNIDAD DE LA ASCENSIÓN DEL SEÑOR CICLO "C" FIESTA DE LA ESPERANZA Y DEL COMPROMISO MISIONERO
Primera lectura (He 1,1-11): "Jesús ha sido llevado al cielo de entre ustedes"
El libro de los Hechos de los Apóstoles comienza con una temática claramente cristológica: los "cuarenta días" de encuentros que tienen los discípulos con el Resucitado antes de su Ascensión a los cielos. Y dice que durante estos días Jesús dio a sus discípulos abundantes pruebas de que estaba "vivo", en referencia a las apariciones que narra Lucas al final de su evangelio. Como nota J. Ratzinger1, "el sentido de las apariciones está claro en toda la tradición: se trata ante todo de agrupar un círculo de discípulos que puedan testimoniar que Jesús no ha permanecido en el sepulcro, sino que está vivo. Su testimonio concreto se convierte esencialmente en una misión: han de anunciar al mundo que Jesús es el Viviente, la Vida misma".
El número “cuarenta” tiene en la Biblia un valor simbólico pues indica el paso a una nueva generación, es el tiempo necesario para que Dios transforme una situación. Este tiempo se concluye justamente con el relato de la Ascensión, que aquí es descrita como una elevación a los cielos (utiliza el verbo analambanō en pasivo –ser elevado, ser llevado en alto- de la misma raíz que el término analempsis utilizado en Lc 9,51).
Sigue luego, al igual que en Lc 24,49, la orden de Jesús de permanecer en Jerusalén a la espera de la Promesa (ἐπαγγελία) del Padre, el Espíritu Santo, en el cual los apóstoles serán “sumergidos” (sentido amplio de "bautizados": ἐν πνεύματι βαπτισθήσεσθε ἁγίῳ en He 1,5). Así, este "bautismo en el Espíritu" supera en mucho el "bautismo con agua" de Juan Bautista, orientado sólo a la conversión de los pecados.
La pregunta de los discípulos - "Señor, ¿es ahora cuando vas a restaurar el reino de Israel?" - revela que ellos todavía no han comprendido plenamente la misión universal y trascendente de la Iglesia por cuanto esperan aún la restauración del reino terrenal de Israel. Jesús remite esta restauración de Israel al juicio final, al fin de los tiempos, al “tiempo y el momento” (χρόνους ἢ καιροὺς) que sólo el Padre sabe y que no les será revelado (He 1,7). En cierto modo, Jesús los lleva a concentrarse en el presente y no en el futuro; pero para esto deberán recibir la fuerza del Espíritu Santo para que les amplíe al mismo tiempo la mente y el horizonte misionero, pues deberán ser testigos "hasta los confines de la tierra" (He 1,8).
Después de unir la misión universal de los apóstoles con el don del Espíritu Santo, Jesús es "elevado al cielo". La palabra "cielo" aparece cuatro veces en He 1,10-11. Al igual que para nosotros hoy, la afirmación de que Dios “está en el cielo” era de uso común en tiempos de Jesús y se encuentra ya en el Antiguo Testamento presentando al cielo como morada o residencia de Dios. Decir que Dios está en el cielo es una manera de expresar su trascendencia invulnerable al mismo tiempo que su omnipresencia entorno al hombre.
Al decir que Jesús fue llevado al cielo (He 1,11) se afirma que se encuentra ahora en una nueva situación o estado, pues está en la Morada de Dios. Pero si bien está ‘en el cielo’ en contraste con ‘la tierra’ resaltando así su trascendencia, no se pierde por ello la cercanía y mutua relación, por cuanto la acción del cielo o desde el cielo se hace sentir en la tierra (cf. He 2,2). De igual manera, si bien el libro de los Hechos nos presentará a Jesús hecho Señor (Kurios) resucitado y exaltado a la derecha del Padre en los cielos, al mismo tiempo nos mostrará que en ésta su nueva situación Jesús continúa actuando sobre la tierra y esta actividad consiste en obrar la salvación.
La referencia a la nube que lo oculta de su vista refuerza esta idea por cuanto tiene un valor teológico y "presenta la desaparición de Jesús no como un viaje hacia las estrellas, sino como un entrar en el misterio de Dios. Con esto se alude a un orden de magnitud completamente diferente, a otra dimensión del ser"2.
Al mismo tiempo, en esta nueva situación o etapa, la Iglesia debe vivir en la espera activa de la vuelta gloriosa del mismo Jesús tal como afirman los ángeles al final del relato
1Jesús de Nazaret. Desde la Entrada en Jerusalén hasta la Resurrección (Planeta; Buenos Aires 2011) 323. 2 J. Ratzinger, Jesús de Nazareth, 328.
2
(He 1,11). Aquí el retorno del Señor se presenta como una certeza, pero sin alimentar expectativas acerca de algo inminente, al contrario, los “hombres de blanco” invitan a no quedarse mirando al cielo.
Segunda lectura (Ef 1,17-23): "valorar la esperanza a la que hemos sido llamados".
Después del himno de bendición y alabanza con que comienza esta carta (Ef 1,3-14), seguido de una breve acción de gracias (1,15-16), se pasa a la intercesión en favor de los cristianos para quienes se implora del Padre "un espíritu de sabiduría y de revelación que les permita conocerlo verdaderamente" (1,17). Se trata del don de comprender y gustar los misterios de Dios y así descubrir la grandeza de la esperanza a la que han sido llamados y los beneficios que han recibido como fruto del misterio pascual de Cristo, que incluye la Ascensión. Justamente la situación de Cristo después de la Ascensión es estar por encima de toda la creación, la cual le está sometida, y ser Cabeza del Cuerpo de la Iglesia. Acerca de esta presentación de Cristo como Cabeza del Cuerpo de la Iglesia nos dice F. Pastor3: "Se emplea por primera vez esta metáfora y la correspondiente de la Iglesia como cuerpo de Cristo. Dado que esta comunidad es la beneficiaria del plan de Dios realizado en Cristo, es también plenitud del cosmos y participa en la condición del Señor Jesús. Desde esa breve afirmación habrá que comprender más adelante el ser y la misión de la Iglesia. No será tanto – aunque también – una organización, sino una plenitud de todo el mundo nuevo que participa en la regeneración universal mediante Cristo, Señor y Cabeza (cf. Col 1,15-20)".
Evangelio (Lc 24,46-53): "Mientras los bendecía, se separó de ellos y fue llevado al cielo".
Se nos ofrece hoy como lectura el final del evangelio de Lucas que termina con la ascensión de Jesús a los cielos y con los apóstoles volviendo a Jerusalén para esperar la promesa del Padre. Se trata de un final "abierto", por cuanto exige su continuación en el segundo volumen de la obra de Lucas que es el libro de los Hechos de los Apóstoles.
Jesús Resucitado dice sus últimas palabras a los Once apóstoles y a los que estaban reunidos con ellos. En concreto Jesús dice a sus discípulos que en las profecías del Antiguo Testamento ("así está escrito") hay tres cosas sobre el Mesías: 1) tiene que padecer; 2) resucitar; 3) comenzando por Jerusalén, en su nombre debe predicarse a todas las naciones.
La novedad de Lucas es presentar la predicación a todas las naciones como algo ya preanunciado acerca del Mesías, como profecía; mientras que los otros evangelistas presentan el mandato como originario de Cristo (cf. Mc 16,15; Mt 28,19-20). Por tanto, no sólo la pasión y la resurrección de Jesús forman parte del designio salvífico del Padre revelado en las Escrituras; sino también la misión a todas las naciones para anunciarles el evangelio de la salvación en Cristo. Detrás de esta presentación novedosa podemos descubrir el intento de Lucas de despertar en la Iglesia el sentido misionero, pues tal ha sido desde siempre el designio del Padre contenido en las Escrituras. El contenido de esta predicación apostólica es la conversión (metanoia) para el perdón de los pecados en "el nombre de Jesús".
De esta voluntad salvífica universal del Padre se sigue el compromiso misionero de los Apóstoles que aquí vienen considerados como testigos: "Ustedes son testigos de todo esto". Testigo es el que ha visto y oído, el que ha tenido experiencia de que Jesús ha resucitado. Los Apóstoles, en el libro de los Hechos, son ante todo testigos de la resurrección del Señor.
Pero la misión universal de la Iglesia y el testimonio de los apóstoles sólo serán posibles por la acción del Espíritu Santo. Por ello Jesús les manda que permanezcan en Jerusalén a la espera del cumplimiento de esta promesa del Padre. Jesús les ha dado ya, antes de partir, el mandato misionero. Muy pronto les dará la fuerza, el "alma" que debe movilizar la acción evangelizadora: el Espíritu Santo. También aquí es claro que el final del evangelio de Lucas nos remite al inicio del libro de los Hechos donde se narrará la venida del Espíritu Santo sobre los apóstoles (cf. He 2).
3 Corpus Paulino II (DDB; Bilbao 2005) 29-30.
3
Jesús, mientras es elevado a los cielos, bendice a los suyos. Esta bendición, para algunos, tiene el valor de una despedida, de un adiós. En efecto, en el Antiguo Testamento hay algunos ejemplos de bendición de los que parten (cf. Gn 24,60; 28,1) 4. Otros lo consideran más bien un gesto sacerdotal de Cristo por cuanto en el Antiguo Testamento se presenta al Sumo Sacerdote bendiciendo de esta manera después del sacrificio solemne5.
Los discípulos obedecen a Jesús y regresan a Jerusalén con alegría y permanecen en la alabanza a Dios. ¡Qué distinta es ahora la reacción de los discípulos si la comparamos con el resto del evangelio! No hay dudas de que la resurrección del Señor ha iluminado sus vidas y les ha hecho comprender todo. Se nota de verdad que el Señor Resucitado "les abrió la inteligencia para que pudieran comprender las Escrituras" (24,45). Como dice el Cardenal C. M. Martini6: "El camino al que llegaron los apóstoles, en el momento en el cual se les entregó el mandato es, pues, la posibilidad de recibirlo no como una posesión afanosa que hay que defender celosamente, que hay que administrar de manera privada y personal, sino como el don del Resucitado, recibido precisamente cuando ya no lo esperaban, cuando temían que el Señor los había abandonado por su infidelidad. En cambio, el Señor, que es evangelizador bueno, proclamador de la misericordia de Dios, les vuelve a poner en sus manos este tesoro del ministerio, porque tiene confianza en ellos y lo confía a su corazón libre".
Algunas reflexiones:
En este ciclo litúrgico se nos presenta el acontecimiento de la Ascensión tanto en la primera lectura como en el evangelio. La Ascensión ocupa en la obra de Lucas un lugar importante: cierra su primer libro (cf. Lc 24,30-31) y abre el segundo (cf. He 1,9-11). Más allá de algunas diferencias en la narración, hay una clara unidad en el mensaje: con la Ascensión del Señor culmina una etapa de la historia de la salvación y comienza una nueva.
Podemos hablar, como suele hacerse, del tiempo de Jesús y del tiempo de la Iglesia. Pero importa notar que no hay separación ni ruptura entre ambos tiempos o etapas por cuanto, si bien el tiempo de la Iglesia es distinto del de Jesús pues hay un nuevo comienzo, todavía se mantiene en continuidad con el anterior pues es tiempo de cumplimiento de la Promesa del Padre que Jesús recuerda y realiza derramando el Espíritu (cf. Lc 24,49; He 2,33) en aquellos “últimos días” (cf. He 2,17). Así, para Lucas, el caminar salvífico de Jesús termina con su ascensión o exaltación a los cielos, que origina el don del Espíritu Santo sobre la Iglesia que, a su vez, comienza su caminar guiada por Jesús el Señor. Concluimos entonces que el tiempo de la Iglesia es también el tiempo de Jesús Glorificado, presente y operante en la misma. Como bien sintetiza L. Monloubou7: "De este modo, a través de ambos textos, se perfila la situación de una Iglesia que conserva el recuerdo de la pasada presencia de Jesús, pero que vive en profundidad de su presencia actual; una Iglesia cuya vida está penetrada por el Espíritu, y penetrada también por la certeza de tener una misión que cumplir, con vistas a aquel momento en que Jesús se mostrará definitivamente presente".
El misterio de la Ascensión, como todos los misterios de la vida de Jesús, son acontecimientos que le suceden a Jesús, en ellos "algo se realiza en Jesús". Esto es lo primero que tenemos que considerar, o mejor, contemplar. Pero también los misterios de Jesús tienen siempre sus consecuencias o efectos para nuestra vida de fe que tendremos en cuenta.
Según la presentación del Catecismo de la Iglesia Católica (CATIC) el misterio de la Ascensión nos habla de la glorificación de la humanidad de Jesús que ingresa definitivamente en el ámbito divino. La Ascensión es, por tanto, la coronación del triunfo de Cristo; es el punto de llegada definitivo de su Resurrección. A partir de su Ascensión "Jesús participa en su humanidad en el poder y la autoridad del mismo Dios" (CATIC nº 668). En cuanto Verbo o Hijo del Padre está eternamente en el seno del Padre, pero en la Encarnación asumió una
4 Cf. L. Monloubou, Leer y predicar el Evangelio de Lucas (Sal Terrae; Santander 1982) 326. 5 Cf. Card. A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Bilbao 2009) 150; L. H. Rivas, La obra de Lucas (Ágape; Buenos Aires 2012) 247.
6 El evangelizador en San Lucas (Paulinas; Bogotá 1992) 126.
7 L. Monloubou, Leer y predicar el Evangelio de Lucas (Sal Terrae; Santander 1982) 326.
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verdadera humanidad que, al resucitar, alcanzó Vida Eterna y, por ello, puede ascender junto al Padre. En este sentido la Ascensión es la plenitud de la Encarnación ya que sube al Padre con la humanidad que había asumido de María. Se trata, entonces, de la glorificación de Jesús en su condición de hombre mediante la cual devuelve a la naturaleza humana su vocación de eternidad.
Ahora bien, la primera consecuencia o efecto de la Ascensión para nosotros es que nos ha abierto el camino hacia el cielo, hacia la vida eterna, ya que en su humanidad incluye a todos los hombres. Como bien reza el prefacio de la Ascensión del Misal Romano: "ha querido precedernos como cabeza nuestra para que nosotros, miembros de su Cuerpo, vivamos con la ardiente esperanza de seguirlo en su Reino". Es decir, no celebramos solamente el triunfo de Jesucristo sino también el triunfo del hombre, de la naturaleza humana, nuestro propio triunfo. Cumplida su gran misión en la tierra, regresa al Padre y, de algún modo, nos lleva ya con Él. A partir de la Ascensión, una verdadera humanidad, la de Jesús, participa de la Gloria Eterna de Dios. Esta es la causa y razón de nuestra esperanza de ser glorificados con Él. Por eso es una solemnidad importante, de alegría más allá de la nostalgia de la separación. Esto último lo expresaba bien San León Magno en sus sermones sobre la Ascensión: "Así, pues, la Ascensión de Cristo es nuestra propia elevación, y al lugar al que precedió la gloria de la cabeza es llamada también la esperanza del cuerpo. Dejemos, pues, queridos, que estalle nuestra alegría cuando él se sienta y regocijémonos con piadosa acción de gracias. Hoy, en efecto, no sólo se nos confirma la posesión del paraíso, sino que hasta hemos penetrado con Cristo en las alturas de los cielos, hemos recibido más por la gracia inefable de Cristo, que lo que perdiéramos por el odio del diablo"8.
En este sentido el Misterio de la Ascensión del Señor ilumina el misterio de la muerte y nos muestra el objeto de nuestra Esperanza: la Vida Eterna. En efecto, “la esperanza es la virtud teologal por la que aspiramos al Reino de los cielos y a la vida eterna como felicidad nuestra, poniendo nuestra confianza en las promesas de Cristo y apoyándonos no en nuestras fuerzas, sino en los auxilios de la gracia del Espíritu Santo” (Catecismo de la Iglesia Católica n. 1817).
La segunda consecuencia o efecto es que, a partir de su glorificación o ascensión a los cielos, Jesús se hace presente y actúa en los hombres y en la historia por medio del Espíritu Santo que obra en los sacramentos y anima la misión de la Iglesia. Al respecto decía el Papa Francisco: “El amor de Jesús por nosotros también se puede ver en esto: la suya es una presencia que no quiere restringir nuestra libertad. Al contrario, nos hace un espacio, porque el verdadero amor siempre genera una cercanía que no aplasta, no es posesivo, es cercano, pero no posesivo; es más, el verdadero amor nos hace protagonistas. Por eso, Cristo asegura: "Voy al Padre, y serán revestidos de un poder de lo alto: les enviaré mi propio Espíritu, y con su poder continuarán mi obra en el mundo" (cf. Lc 24,49). Por eso, al subir al cielo, Jesús, en lugar de permanecer cerca de unos pocos con su cuerpo, se hace cercano a todos con su Espíritu. El Espíritu Santo hace presente a Jesús en nosotros, más allá de las barreras del tiempo y del espacio, para que seamos sus testigos en el mundo” (Regina Coeli del 29 de mayo de 2022).
La tercera consecuencia es que, según las mismas palabras de Jesús, con la efusión del Espíritu en Pentecostés comienza la misión de la Iglesia. Por eso la esperanza del cristiano es una esperanza activa. No esperamos nuestra glorificación definitiva cruzados de brazos, sino que nos ponemos en oración junto a María y a toda la Iglesia para recibir el Espíritu Santo y continuar, también nosotros hoy, la Misión de Jesús.
En fin, la solemnidad de la Ascensión reaviva la Esperanza y plenifica la alegría pascual. Es un día de gloria, de victoria, para Jesús y para todos los creyentes. Y es también un llamado firme al compromiso misionero, a ser testigos de Cristo Resucitado.
Este domingo se celebra la 59° Jornada Mundial de las Comunicaciones Sociales y el mensaje que dejó escrito el Papa Francisco lleva por lema: “Compartan con mansedumbre la esperanza que hay en sus corazones (cf. 1 P 3,15-16)”.
En el marco del jubileo les dice a los comunicadores que: “quisiera con este Mensaje invitarlos a ser comunicadores de esperanza, comenzando por una renovación de su trabajo y misión según el
8 León Magno, Sermón 1 sobre la Ascensión, SC 74, 138; cit. en A. Nocent, Celebrar a Jesucristo IV (Sal terrae; Santander 1986) 230.
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espíritu del Evangelio”. Por eso vuelve a pedir su llamado a “desarmar la comunicación”: “Hoy en día, con mucha frecuencia la comunicación no genera esperanza, sino miedo y desesperación, prejuicio y rencor, fanatismo e incluso odio. Muchas veces se simplifica la realidad para suscitar reacciones instintivas; se usa la palabra como un puñal; se utiliza incluso informaciones falsas o deformadas hábilmente para lanzar mensajes destinados a incitar los ánimos, a provocar, a herir. Ya he afirmado en varias ocasiones la necesidad de “desarmar” la comunicación, de purificarla de la agresividad”.
Por contrapartida la propuesta del Papa Francisco es: “La comunicación de los cristianos — pero también diría que la comunicación en general— debería estar entretejida de mansedumbre, de proximidad, al estilo de los compañeros de camino, siguiendo al mayor Comunicador de todos los tiempos, Jesús de Nazaret, que a lo largo del trayecto dialogaba con los dos discípulos de Emaús haciendo arder sus corazones por el modo en el que interpretaba los acontecimientos a la luz de las Escrituras. Por eso, sueño con una comunicación que sepa hacernos compañeros de camino de tantos hermanos y hermanas nuestros, para reavivar en ellos la esperanza en un tiempo tan atribulado. Una comunicación que sea capaz de hablar al corazón, no de suscitar reacciones pasionales de aislamiento y de rabia, sino actitudes de apertura y amistad; capaz de apostar por la belleza y la esperanza aun en las situaciones aparentemente más desesperadas; capaz de generar compromiso, empatía, interés por los demás. Una comunicación que nos ayude a «reconocer la dignidad de cada ser humano y [a] cuidar juntos nuestra casa común» (Carta enc. Dilexit nos, 217).”
Para la oración (resonancias del Evangelio en una orante):
La alegría no nos será quitada
Cada mañana se abre un camino
Iluminado por tu mirada
Emprendemos el rumbo trazado
Y te rogamos, no desviarnos
Nos salen al encuentro muchos hermanos
Hombres y mujeres cansados
Ya desde temprano
Rostros gastados, misterios velados
Cada uno bajo el signo de la Cruz
Pide ser resucitado,
Y sin saberlo, desea elevarse contigo
Respirar hondo el Aliento Divino
Y es así como supo el Padre
Colmar con su Don a sus hijos
Tú mismo Señor nos recordaste
Lo que nos fue prometido
Ante ti Señor, postrados a tus pies
Recibimos tu bendición y empezamos a entender
La misión es de regreso,
Ese marcado sendero
Y encaminados en tu Voluntad
La alegría será la brújula y el consuelo
El Auxilio vendrá de tu Espíritu
Con Palabra y Pan, alimentarás a tu Pueblo. Amén.