06/04/2025
1ª Leitura: Isaías 43,16-21
Salmo Responsorial 125(126)R- Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!
2ª Leitura: Filipenses 3,8-14
Evangelho: João 8, 1-11
Naquele tempo: 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. 3Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles, 4disseram a Jesus: 'Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?' 6Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 7Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: 'Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra.' 8E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo. 10Então Jesus se levantou e disse: 'Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou ?' 11Ela respondeu: 'Ninguém, Senhor.' Então Jesus lhe disse: 'Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.' Palavra da Salvação.
Jo 8,1-11
Os escribas e fariseus levam a Jesus uma mulher surpreendida em flagrante adultério. Querem saber se Jesus é fiel à lei que manda lapidar as adúlteras. Os escribas e fariseus não pedem a Jesus uma sentença forense, mas um parecer sobre a aplicação da lei de Moisés para o caso particular daquela mulher que eles trazem para Jesus.
Jesus imediatamente vê o que os acusadores daquela mulher não conseguem ver. Jesus fixou nos olhos aquela mulher e leu no seu coração: lá encontrou o desejo de ser compreendida, perdoada e libertada.
Jesus, inclinando-se, escreve com o dedo na terra. Faz isso de propósito, ou melhor, com propósito. Deseja dar tempo, fazer refletir, despertar a consciência das pessoas. A quem pretendia julgá-la e condená-la à morte, Jesus responde com um primeiro longo silêncio, cujo intuito é deixar emergir a voz de Deus tanto na consciência da mulher como nas dos seus acusadores.
Como os acusadores insistem, Jesus precisa tomar a palavra para apelar para a consciência de cada um: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”.
Segue-se um segundo longo silêncio; Jesus volta a escrever no chão, agora para esperar que quem não tiver pecado execute a sentença de morte. Essa atitude serena de Jesus revela uma força extraordinária que desmascara o pecado mais grave daqueles que acusam a pecadora. Ele obriga a própria consciência a voltar-se para si mesma. Os acusadores estavam voltados unicamente para fora, unicamente dedicados a acusar e a condenar a adúltera, em vez de examinar-se a si mesmos. Estavam atentos ao pecado da mulher, mas perdiam de vista a si mesmos. Exigiam o cumprimento da lei, mas eles mesmos não viviam interiormente o que a lei prescrevia.
Pior do que isso, os acusadores condenavam a adúltera não por aversão ao adultério, mas para se afirmarem como justos e para por Jesus a prova. Condenam a pecadora, não porque odeiam o pecado, mas simplesmente porque fazem do pecado do outro uma cortina de fumaça para não verem as próprias misérias. Essa é a lógica distorcida que cria a ilusão de ser uma pessoa melhor desqualificando o outro, acusando severamente o erro alheio unicamente para não ter que fazer qualquer esforço de mudança dos próprios comportamentos.
Em vez de só se preocuparem com o pecado alheio, os acusadores deveriam se esforçar em viver a virtude. Com efeito, não há condenação mais firme do adultério e da luxúria do que viver a castidade. Assim acontece com todos os outros pecados: a condenação mais clara da desonestidade nas coisas públicas é a justiça vivida pessoalmente; a reprovação mais eloquente da preguiça é a laboriosidade praticada; a desaprovação mais sentida do despudor é o recato e a discrição.
O veredito de Jesus é claro: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Em outras palavras: cada um de vós se examine a si mesmo, se apresente ao julgamento da própria alma, se constitua diante do tribunal na própria consciência.
A reação ao apelo de Jesus é tão surpreendente quanto triste: “ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos”. Permaneceram somente Jesus e a adúltera; permaneceram somente a mísera e a Misericórdia.
O texto bíblico não fala explicitamente do que causou na consciência da mulher o apelo de Jesus. Podemos imaginar que ela deva ter se sentido envergonhada e humilhada pela sua falta; que tenha se sentido aterrorizada, uma vez que foi deixada sozinha com o único que podia atirar a primeira pedra. Ela estava agora sozinha com o seu grande pecado diante daquele que não tem pecado.
Levantando-se, Jesus pergunta: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ela respondeu: Ninguém, Senhor. Então Jesus lhe disse: Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.”
Precisamos prestar atenção: Jesus não diz para a mulher que ela pode ir e continuar a viver como lhe pareça melhor. Absolutamente não! Ele diz: “de agora em diante não peques mais”. Desta forma, Jesus ajuda a pecadora a olhar para o futuro com esperança, pronta a começar a vida nova; a partir de agora, se quiser, poderá “viver no amor” (Ef 5,2). Depois que se revestiu da misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal condição é dominada pelo amor que consente olhar para o futuro e viver de maneira diferente.
O perdão não é esquecer o passado; não é cancelar o passado. O mal cometido não pode ser mais cancelado, nem a morte vai cancelar o mal cometido! O perdão é a possibilidade de uma vida nova, de um futuro novo. Jesus não perdoa o pecado, perdoa o pecador, ou seja, abre ao pecador a possibilidade de começar uma nova vida. Vá, e de agora em diante não peques mais.
O perdão é a possibilidade de mudança. Nisso consiste o milagre do perdão: “Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?”
O perdão tem um preço. Para Jesus o preço do perdão da pecadora foi aceitar a morte para que ela pudesse viver uma vida nova. Ninguém pode perdoar se não estiver disposto a morrer um pouco para si mesmo. Para perdoar é preciso escolher a possibilidade de um novo futuro ao pecador em vez de reclamar o meu direito que foi violado. Só posso fazer isso com a graça dAquele que morreu por mim quando era seu inimigo.
Vale a pena perdoar? A resposta a isso só pode ser a ressurreição de Jesus. Jesus perdoou a pecadora, perdoou tantos pecadores públicos, perdoou até os seus algozes. Valeu a pena perdoar tanto? Se ele não tivesse ressuscitado, deveríamos dizer que ele foi um mártir do perdão, mas que isso não valeu a pena. A razão última de valer a pena perdoar é a ressurreição do Senhor.
Nós corremos dois perigos quanto ao perdão. Podemos pecar por abusar da misericórdia ou por não acreditar na misericórdia: presunção ou desespero são dois pecados contra a esperança.
Façamos hoje os propósitos de:
Não esquecer o passado, mas de ter dele uma memória reconciliada.
Permitir que o Senhor faça surgir em nós e nos outros uma nova realidade.
Lutar contra o pecado e confiar na graça de Deus para vencê-lo.
5ºDomQuaresma - João 8,1-11 – Ano C – 06-04-25
“Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” (Jo 8,5)
Há em todos nós uma dificuldade básica de nos tornar conscientes e responsáveis pelos nossos erros. Em muitas ocasiões atua em nós um mecanismo de defesa, em forma de negação e de cegueira, que pretende evitar a dor e a ferida interior da culpa, preservando nossa autoimagem e nosso narcisismo. Introjetamos em nós a falsa ideia de perfeição; há uma cobrança social de que não podemos fracassar; temos resistências em assumir nossa condição humana (húmus) pobre e frágil; pesa sobre nossos ombros a força da falsa imagem de que somos semideuses. Com isso, alimentamos escribas e fariseus em nosso interior, centrados na lei e com as mãos cheias de pedras.
Efetivamente, no relato evangélico deste domingo Jesus desmascara aqueles que, com a lei na mão, assumem a cátedra de juízes e projetam sobre os outros as próprias mazelas: “quem dentre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. A “primeira pedra” é a que provoca todas as violências, alimenta ódios, intolerâncias, rompe relações...; a primeira pedra é ponto de partida de toda desumanização.
É verdade que, literalmente, aquela “primeira pedra” é algo incômodo para quem deseja lançá-la. No entanto, quando se trata de palavras, maledicências, fofocas, calúnias, murmurações, suspeitas, “fake news”, julgamentos ..., não pensamos nisso. São diferentes expressões da “primeira pedra”. São piores as pedras da língua que as pedras que atiramos com a mão. Todas as desgraças sociais e religiosas dependem da primeira pedra.
Depois da primeira pedra produz-se uma chuva de meteoros. E todos correm para socorrer, defender e justificar, não a pobre vítima, mas àquele que lança as pedras, integrando suas violentas pedradas às daquele que iniciou a lapidação. Tudo por culpa da primeira pedra, lançada com frequência e sem medir as consequências. Na verdade, a primeira pedra, a primeira palavra, a primeira suspeita..., lançadas com rapidez, são as mais contundentes e desencadeiam um processo destruidor.
Os olhos, a língua e as mãos são expressões do coração; um coração petrificado é gerador de pedras mortais. Normalmente, a petrificação interior é sempre recheada de devocionismos externos, de práticas religiosas alienadas, de ritualismos repetitivos, de moralismos estéreis... O legalismo intransigente e inflexível desemboca no orgulho e na vaidade, levando a pessoa a subir no seu tribunal, fazendo-se juíza dos outros.
Quando alguém não reconhece a própria culpa, porque o próprio perfeccionismo o impede, facilmente ele a projeta sobre os outros, num claro mecanismo de defesa. E descarrega sobre outros a própria insatisfação, frustração e os próprios sentimentos de culpabilidade. Assim, ele elege alguns “bodes expiatórios” sobre os quais se projeta o próprio mal interno e, desse modo, procura aliviar o íntimo mal-estar e o peso moral.
Quem tem o coração petrificado não tem bênçãos a oferecer, mas pedras a serem atiradas. Um coração petrificado se expressa numa atitude de intolerância e insensibilidade frente aos outros.
Tal atitude a encontramos claramente na cena da mulher surpreendida em adultério, relatada por João. Aqui temos a “pedra na mão”, magnífico símbolo da culpabilidade, disposta a ser lançada sobre alguém em quem se projeta a própria maldade não reconhecida.
Numa postura arrogante, os escribas e fariseus tomam para si o poder de julgar os outros, de dar aos outros o que eles pensam que merecem (recompensa ou castigo, a vida ou a morte). O “arrogante” é um ser petrificado: a lei é a sua; a palavra é a sua; a verdade é a sua; o momento é o seu.
É por isso que Jesus apela ao grupo dos agressores a que dirijam o olhar sobre seu próprio interior e, no reconhecimento de seu próprio pecado, a pedra possa cair de suas mãos.
A mulher ficou livre. Os agressores, de outra maneira, também livres do engano de negar sua culpa para projetá-la maldosamente sobre aquela pobre mulher. Silêncio e palavra configuram as duas faces do relato do evangelho deste domingo.
Jesus escreve sobre a terra; isso tem gerado especulações. Segundo France Quéré, com sua escrita misteriosa, Jesus traça as grandes linhas do “código da misericórdia”, que não pode se encerrar nos artigos de uma norma jurídica, nem pode ser esculpida sobre a pedra.
Não se escreve a misericórdia sobre matéria dura, e tampouco ela pode ser fixada sobre o papel. Traça-se a misericórdia sobre a superfície delicada de um coração de carne, simbolizada na matéria fofa da terra. A vida surge da argila, porque a argila é maleável. Deus não tirou o ser humano da pedra.
Só a terra é fértil; a pedra é estéril. E as pedras lançadas nunca produzirão frutos. A misericórdia, sim, é fecunda: cria, re-cria, abre um novo horizonte de vida...
“Ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos”. Também aqueles que queriam lapidar a mulher receberam a luz da misericórdia, visível no rosto de Jesus. O Mestre tirou a máscara que cobria o rosto de cada um deles; tirou-os do anonimato e da maldosa cumplicidade do grupo, do corporativismo, para pôr cada um frente à sua própria consciência. Obriga-os a se olharem por dentro e não olhar mais a adúltera. Habituados a notar os defeitos dos outros e a denunciá-los com ira, tinham perdido o costume de notar e preocupar-se com as próprias más ações. Habilíssimos para descobrir as infrações dos outros, estavam desacostumados a se sentirem pecadores, tendo sujas as mãos e a boca. Convencidos de ter autorização para desempenhar o papel de juízes, já não perguntam se, por um acaso, também eles não pertenciam à categoria dos malfeitores, dos iníquos. Forçando os outros a dar conta de suas ações, acreditavam finalmente dispensados de se olharem no espelho.
Desembarcam como “justos” e agora regressam às suas casas com a patente de “pecadores”. São colocados dentro da comunhão dos pecadores, ponto de partida obrigatório para chegar a uma profunda conversão.
No fundo, Jesus obrigou os juízes a se julgarem a si mesmos. Deste modo, o processo que devia acabar com um escândalo, se interioriza. Desenrola-se a portas fechadas; cada um “rumina” em sua casa. Nem sequer é preciso luz porque o rubor do rosto deles podia ser percebido até na obscuridade.
Como diz S. Agostinho, no fim se encontram a sós “miséria e misericórdia”.
Provavelmente a mulher do relato não precisasse nem sequer de escutar aquelas palavras de Jesus: “também eu não te condeno”. O que ela precisava era levantar os olhos. No momento em que faz isso, a adúltera se encontra com alguém que a olha de maneira diferente dos outros. Nunca tinha visto nenhum homem olhá-la dessa forma.
Nada tem a temer diante daquele homem que traça sinais misteriosos sobre a terra. Ela toma consciência de que corresponde a ela dar finalmente uma resposta à provocação dos sinais esboçados sobre o pó. Trata-se de aproveitar daquela página de misericórdia, de confiança, de perdão que leu, não sobre a terra, mas no olhar dele. Volta para sua casa transformada, re-criada.
Para meditar na oração:
A “pedra na mão” é fácil encontrá-la também em nossas vidas. O convite de Jesus a reconhecer nosso pecado é a única via para que essa pedra não caia sobre nenhum inocente e, ao mesmo tempo, nós possamos encontrar a possibilidade da transformação e da mudança.
A arrogância também é nossa; manifesta-se no nosso pensar e agir cotidianos. Ela é a base de nossas intransigências, dos nossos preconceitos, dos nossos dogmatismos, de nossas críticas amargas, dos comentários maldosos... A arrogância mora no nosso desprezo e nas nossas ironias.
- Contemplar as “pedras” presentes na própria mão (contra quem costuma lançá-las?...)
É surpreendente ver Jesus cercado por tantas mulheres: amigas íntimas como Maria Madalena ou as irmãs Marta e Maria de Betânia... O que as mulheres encontravam nele? Por que elas eram tão atraídas por ele?
A resposta oferecida pelos relatos do Evangelho é clara. Jesus defende a dignidade deles e os acolhe como discípulos.
Quem nos ensinará a olhar para as mulheres hoje através dos olhos de Jesus? Quem introduzirá a verdade, a justiça e a defesa das mulheres no estilo de Jesus na Igreja e na sociedade?
É surpreendente ver Jesus cercado por tantas mulheres: amigas íntimas como Maria Madalena ou as irmãs Marta e Maria de Betânia. Seguidores fiéis como Salomé, mãe de uma família de pescadores. Mulheres doentes, prostitutas de aldeia... Nada disso é dito sobre nenhum profeta.
O que as mulheres encontraram nele, por que isso os atraiu tanto? A resposta oferecida pelos relatos do Evangelho é clara. Jesus olha para eles com outros olhos. Ele os trata com uma ternura desconhecida, defende sua dignidade e os acolhe como discípulos. Ninguém nunca os havia tratado daquele jeito.
As pessoas os viam como uma fonte de impureza ritual. Quebrando tabus e preconceitos, Jesus se aproxima deles sem medo, os aceita em sua mesa e até se deixa acariciar por uma prostituta agradecida.
A sociedade os considerava como uma ocasião e fonte de pecado; desde a infância, os meninos eram avisados para não cair em seus truques de sedução. Jesus, porém, enfatiza a responsabilidade dos homens: "Todo aquele que olhar para uma mulher com desejo sexual, já cometeu adultério em seu coração".
Sua reação é compreensível quando lhe é apresentada uma mulher apanhada em adultério, com a intenção de apedrejá-la. Ninguém fala sobre o homem. Isso é o que sempre aconteceu naquela sociedade machista. A mulher é condenada porque desonrou a família, e o homem é facilmente desculpado.
Jesus não suporta essa hipocrisia social baseada no domínio masculino. Com admirável simplicidade e coragem, ele expõe a verdade, a justiça e a compaixão: "Aquele que não tiver pecado, atire a primeira pedra". Os acusadores recuam envergonhados. Eles sabem que são os maiores responsáveis pelos adultérios cometidos naquela sociedade.
Jesus se dirige àquela mulher humilhada com ternura e respeito: "Nem eu também te condeno". Vá, continue caminhando em sua vida e, "de agora em diante, não peques mais". Jesus confia nela, deseja-lhe o melhor e a encoraja a não pecar. Mas nenhuma condenação sairá dos seus lábios.
Quem nos ensinará a olhar as mulheres de hoje com os olhos de Jesus? Quem introduzirá a verdade, a justiça e a defesa das mulheres no estilo de Jesus na Igreja e na sociedade?
Neste domingo, a liturgia nos convida a ler o texto do Evangelho a partir da presença de Jesus no Monte das Oliveiras, que é um lugar de oração, onde ele foi em algumas ocasiões com os discípulos, um lugar de encontro com o Pai. De acordo com a história, Jesus passa a noite inteira no Monte das Oliveiras e, de manhã cedo, vai ao Templo para ensinar as pessoas que querem ouvi-lo. Sentando-se, começou a ensiná-los. Como todos os mestres, Jesus se senta e, no meio do Templo, começa a ensinar; ele comunica a novidade que tem para esse grupo de pessoas sedentas de sua Palavra, onde encontram paz, esperança, onde se sentem acolhidas exatamente como são. Mas os mestres da Lei e os fariseus – com os quais as tensões estavam aumentando – irrompem e trouxeram uma mulher surpreendida em adultério.
Em poucas palavras, eles narram uma situação muito violenta na qual confrontam Jesus. Ela não é ninguém, não tem voz, não tem nome, é uma mulher – que eles “descobrem” – em flagrante adultério. É possível pensar que eles já a conheciam, ou talvez tenham se aproveitado dela em outras ocasiões, e que, nesse caso, eles a usam para forçar Jesus a condená-la publicamente. Eles arrastam a mulher até Jesus, humilhando-a publicamente para deixar claro que – de acordo com a Lei de Moisés – sua atitude merece a morte. Uma cena cheia de acusações, vitupérios, gritos de reprovação diante da qual eles confrontam Jesus: "Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?"
É uma atmosfera tensa, em que a culpa, a agressão e a violência dominam a cena. Os fariseus e os mestres da Lei estão procurando uma sentença dada por Jesus que não possa contradizer a Lei que ordena o apedrejamento de tais atitudes. Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusa. Eles não se importam com a mulher e sua morte, porque isso já está determinado, mas, mais uma vez, procuram uma maneira de acusá-lo. Eles sabem, porque o viram, que ele está morto. Eles sabem, porque já o viram e o confrontaram em várias ocasiões, que Jesus sempre defende os pobres, os oprimidos, os doentes, aqueles que eles consideram castigados por Deus.
As ações de Jesus os incomodam porque as questionam e deixam claro que Deus é misericordioso, que Ele ama e não condena. Agora eles arrastam essa mulher para a frente dele e desafiam suas ações: Que dizes tu? Ela ousará contradizer a Lei de Moisés, estando no Templo, diante do povo de Deus?
Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão.
Jesus viu e recebeu as palavras dela e primeiro responde com uma atitude de se curvar e depois escrever no chão. É um novo ensinamento que não será feito sentado, mas “inclinando-se”, possivelmente buscando o olhar dessa mulher que havia sido arrastada. Nele, o amor misericordioso de Deus deixa para trás uma justiça condenatória para se aproximar de cada pessoa na situação em que ela se encontra. Ele escreve no chão, talvez nos convidando a ler a realidade a partir de baixo, a partir da terra; ali está a nova escritura que teremos de saber ler e redescobrir. Seu novo ensinamento será dado a partir do chão onde a mulher está, oprimida e condenada pelos fariseus quando é pega em flagrante adultério.
Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: "Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra".
Os fariseus e os mestres da Lei ainda estão procurando uma palavra de Jesus, não entendem Sua linguagem e, diante disso, Ele se levanta, fica de pé e os convida a internalizar a lei que eles estão usando para condenar: quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra! Palavras claras e contundentes. “E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos”. Era impossível considerar-se perfeito diante de Deus, e eles sabiam muito bem disso, por isso se retiraram um a um.
Jesus continua escrevendo e ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo. Os dois estão sozinhos, mas no meio do povoado. E é só aí que ele entra em um diálogo com ela, que reconhece que ninguém a condenou e que ele também não o fará. Ele a convida a não continuar nesse caminho, a mudar de rumo: "Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais".
Neste quinto domingo da Quaresma, somos chamados a olhar para cada pessoa a partir do coração de Jesus, que bate o amor misericordioso do Pai. Não somos semeadores de leis ou obrigações, mas de um amor sem limites, que não julga nem condena, mas que acolhe cada pessoa a partir de sua realidade, convidando-a a deixar para trás o que lhe faz mal, o que está destruindo gradualmente sua vida. Como comenta o Papa Francisco: “A misericórdia vai além e faz de modo que o pecado seja colocado de lado na vida de uma pessoa. É como o céu: nós olhamos para o céu e vemos tantas estrelas; mas quando chega o sol, pela manhã, com muita luz, não vemos as estrelas. E assim é a misericórdia de Deus: uma grande luz de amor, de ternura. Deus perdoa não com um decreto, mas com um carinho, acariciando as nossas feridas do pecado. Porque Ele faz parte do perdão, faz parte da nossa salvação. E assim Jesus faz como um confessor: não a humilha, não lhe diz ‘O que você fez, diga-me! E quando foi isso? E como foi? E com quem?’. Não! ‘Vai’, vai’ e de agora em diante não peque mais!’. É grande a misericórdia de Deus, é grande a misericórdia de Jesus. Perdoar-nos, acariciando-nos!” (cf. “Deus perdoa não com um decreto, mas com uma carícia”, diz o Papa Francisco)
Olhar no espelho da vida
O texto que vamos refletir descreve o encontro de Jesus com a mulher que ia ser apedrejada. Durante a leitura, somos convidados a prestar atenção nas atitudes dos fariseus, da mulher e de Jesus.
Situando
O Evangelho de João não foi escrito de uma só vez, mas cresceu lentamente. Ao longo dos anos, os cristãos iam lembrando e acrescentando outros episódios da vida de Jesus. Um destes acréscimos é o episódio da mulher que ia ser apedrejada (Jo 8,1-11). Pouco antes, Jesus tinha declarado: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!” (Jo 7,37). Esta declaração provocou muita discussão (Jo 7,40-53).
Pulando para nosso texto de hoje (Jo 8,1-11), encontramos uma nova declaração de Jesus: “Eu sou a luz do mundo!” (Jo 8,12), que provoca nova discussão com os judeus. Entre estas duas declarações com suas discussões, foi inserido o episódio da mulher para esclarecer como Jesus é a luz do mundo.
Como ele ilumina a vida das pessoas.
Comentando
1. João 8,1-2: Jesus e o povo
Depois da discussão, descrita no fim do capítulo 7 (Jo 7,37-52), cada um voltou para casa (Jo 7,53). Jesus não tinha casa em Jerusalém. Por isso, foi para o Monte das Oliveiras. Lá havia um horto, onde ele costumava passar a noite em oração (Jo 18,1). No dia seguinte, antes do nascer do sol, Jesus já estava novamente no templo. O povo também veio bem cedo para poder escutá-lo. Eles sentavam no chão ao redor de Jesus e ele os ensinava. O que será que Jesus ensinava? Deve ter sido bonito, pois vinha antes do nascer do sol para poder escutá-lo!
2. João 8,3-6a: Os escribas armam a cilada
De repente, chegam os escribas e os fariseus, trazendo consigo uma mulher pega em flagrante de adultério. Eles a colocam no meio da roda entre Jesus e o povo. Conforme a lei, esta mulher deveria ser apedrejada (Lv 20,10; Dt 22,22.24). Eles perguntam: “E qual é a sua opinião?” Era uma cilada. Se Jesus dissesse: “Apliquem a lei”, eles diriam: “Ele não é tão bom como parece, porque mandou matar a pobre da mulher”. Se dissesse: “Não matem”, diriam: “Ele não é tão bom quanto parece, porque nem sequer observa a lei!” Sob a aparência de fidelidade a Deus, manipulam a lei e usam a pessoa da mulher para poder acusar Jesus.
O que nos falta perceber?
3. João 8,6b-8: Reação de Jesus: escreve no chão
Parecia um beco sem saída. Mas Jesus não se apavora nem fica nervoso. Pelo contrário. Calmamente, como quem é dono da situação, ele se inclina e começa a escrever no chão com o dedo. Quem fica nervoso são os adversários. Eles insistem para que Jesus dê a sua opinião. Então, Jesus se levanta e diz: “Quem for sem pecado seja o primeiro a jogar a pedra!” E, inclinando-se, tornou a escrever no chão. Jesus não discute a lei. Apenas muda o alvo do julgamento. Em vez de permitir que eles coloquem a luz da lei em cima da mulher para poder condená-la, pede que eles se examinem a si mesmos à luz do que a lei exige deles.
4. João 8,9-11: Jesus e a mulher
A resposta de Jesus derruba os adversários. Os fariseus e os escribas se retiram envergonhados, um depois do outro, a começar pelos mais velhos. Aconteceu o contrário do que eles queriam. A pessoa condenada pela lei não era a mulher, mas eles mesmos, que pensavam ser fiéis à lei. No fim, Jesus fica sozinho com a mulher no meio da roda. Ele se levanta e olha para ela: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou!” Ela responde: “Ninguém, Senhor!” E Jesus: “Nem eu te condeno! Vai, e de agora em diante não peques mais!” Jesus não permite que alguém use a lei de Deus para condenar o irmão ou a irmã, quando ele mesmo ou ela mesma é pecador ou pecadora.
Refletindo
Este episódio, melhor do que qualquer outro ensinamento, revela que Jesus é a luz que faz aparecer a verdade. Ele faz aparecer o que existe escondido dentro das pessoas, no mais íntimo delas. À luz da sua palavra, os que pareciam os defensores da lei se revelam cheios de pecado e eles mesmos o reconhecem, pois vão embora, a começar pelos mais velhos. E a mulher, considerada culpada e merecedora da pena de morte, está de pé diante de Jesus. Absolvida, redimida e dignificada (cf. Jo 3,19-21).
Alargando
As Leis a respeito da mulher no Antigo Testamento e a reação do povo
Desde Esdras e Neemias, a tendência oficial era de excluir a mulher de toda a atividade pública e de considerá-la inapta para qualquer função na sociedade, a não ser para a função de esposa e mãe. O que mais contribuiu para a sua marginalização foi a lei da pureza. A mulher era declara impura por ser mãe, por ser esposa, por ser filha, por ser mulher.
Por ser mãe: dando à luz, ela se torna impura. Por ser filha: o filho que nasce traz 40 dias de impureza; mas a filha, 80 dias! (Levítico 12) Por ser esposa: a relação sexual a torna impura durante um dia (Levítico 15,18). Quando menstruava, ficava impura sete dias. E quem a tocasse também se tornava impuro por contágio (Levítico 18,19-23).
E não havia meio para uma mulher manter sua impureza em segredo, pois a lei obrigava as outras pessoas a denunciá-la. Esta legislação tornava insuportável a convivência diária em casa. Durante sete dias em cada mês, a mãe de família não podia deitar na cama, nem sentar-se numa cadeira, nem tocar nos filhos ou no marido, se não quisesse contaminá-los! Esta legislação é fruto de uma mentalidade segundo a qual a mulher era inferior ao homem. Alguns provérbios revelam essa discriminação da mulher. A marginalização chegou ao ponto de se considerar a mulher como a origem do pecado e da morte e a causa de todos os males (Eclesiástico 25,24).
Ser mulher, ser luta
Desta maneira se justificavam e se mantinham o privilégio e a dominação do homem sobre a mulher. Por exemplo, se um homem depois de algum tempo de casado, não gostasse mais da sua mulher, podia livrar-se dela dizendo que ela já não era virgem quando se casaram. Se os pais da mulher não conseguissem provar o contrário, ela seria apedrejada (Deuteronômio 22,13ss). A lei em relação ao divórcio é outro exemplo do privilégio do homem, pois somente ele tinha o direito de pedir o divórcio, mandando a mulher embora se já não a quisesse (Deuteronômio 24,1-4). A lei previa a morte do casal adúltero, mas na prática somente a mulher era julgada e condenada por adultério.
Dentro do contexto da época, a situação da mulher do povo da Bíblia não era pior nem melhor do que nos outros povos. Era a cultura geral. Até hoje, em muitos povos continua essa mesma mentalidade. Mas como hoje, assim também antigamente, desde o começo da história do povo da Bíblia sempre houve reações contrárias à exclusão da mulher, sobretudo depois do exílio, quando a lei marginalizava a mulher como impura e expulsava a estrangeira como perigosa.
A resistência
A resistência da mulher cresceu no mesmo período em que a sua marginalização era mais pesada. Vários livros sapienciais registram essa voz da oposição: Cântico dos Cânticos, Rute, Judite, Ester. Nestes livros, a mulher aparece não como mãe nem como esposa, mas como mulher que sabe usar sua beleza e feminilidade para lutar pelos direitos dos pobres e assim defender a Aliança do povo. E ela luta não a favor do templo nem a favor de leis abstratas, mas sim a favor da vida do povo.
Tradução Moises Sbardelotto
O itinerário quaresmal sob o sinal do anúncio da misericórdia de Deus narrada por Jesus conhece um verdadeiro ápice no trecho do Evangelho deste domingo: o texto do encontro entre Jesus e a mulher apanhada em adultério. Essa página conheceu um destino muito particular, que atesta o seu caráter “escandaloso”: está ausente nos manuscritos mais antigos, é ignorada pelos Padres latinos até o século IV e não é comentada pelos Padres gregos do primeiro milênio.
Ao término de uma longa e conturbada migração, esse texto foi inserido no Evangelho segundo João, antes do versículo 15 do capítulo 8, em que é relatada uma palavra de Jesus que parece justificar tal colocação: “Vocês julgam segundo a carne, mas eu não julgo ninguém”.
Deve ser dito que o nosso trecho apresenta semelhanças com o Evangelho segundo Lucas, o mais atento ao ensinamento de Jesus sobre a misericórdia, e poderia ser facilmente colocado depois de Lc 21, 37-38: “De dia, Jesus ensinava no Templo. Ao anoitecer, ele saía, e passava a noite no chamado monte das Oliveiras. De manhã cedo, todo o povo ia ao Templo para ouvi-lo”. Mas nós, em obediência ao cânone das Escrituras, lemo-lo onde a redação final o colocou, no contexto de uma discussão sobre a relação entre Lei e pecado.
Enquanto Jesus, sentado no templo, anuncia a Palavra, “os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério”, para “experimentar Jesus”. Muitas vezes, os Evangelhos observam que os adversários de Jesus tentam pô-lo em contradição com a Lei, para poder acusá-lo de blasfêmia. Mas, desta vez, a armadilha não diz respeito a interpretações da Lei, mas sim a uma mulher – ou, melhor, aquela que é “usada” como um caso jurídico – surpreendida em adultério e arrastada à força diante dele por aqueles que vigiam o cumprimento da Torá.
Tendo irrompido entre os ouvintes de Jesus, esses homens especialistas da Lei colocam a mulher no meio de todos e se apressam a declarar: “Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres”. Sua declaração parece irrepreensível, mas, na realidade, é parcial: a Lei, de fato, prevê a pena de morte para ambos os adúlteros (cf. Lv 20,10 e Dt 22,22) e atesta a mesma pena, mediante apedrejamento, para um homem e uma mulher casada que cometeram adultério (cf. Dt 22,23-24). Mas onde está o homem aqui, o adúltero, tão culpável quanto a mulher?
A dureza da pena prevista é explicada pelo fato de que o adultério é uma negação da promessa criacional de Deus e uma grave ferida na aliança estipulada pelo casal humano (cf. Ml 2,14-16). Eis, portanto, que os zelosos guardiões da Lei, aparentemente irrepreensíveis e considerados pelas pessoas como homens religiosos de autoridade, pela sua visibilidade ostensiva (cf. Mt 23,5), perguntam a Jesus: “Que dizes tu?”.
Tal pergunta visa a pegá-lo em contradição: se Jesus não confirmar a condenação e não aprovar a execução, poderá ser acusado de transgredir a Lei de Deus; se, ao contrário, decidir a favor da Lei, por que então ele acolhe os pecadores e come com eles (cf. Mc 2,15-16 e par.; Lc 15,1-2)?
Detenhamo-nos nessa cena. Alguns levaram uma mulher a Jesus para que seja condenada. Discípulos e ouvintes estão distantes: aqui só está Jesus diante desses homens religiosos – juízes injustos, inimigos – e, no meio, uma mulher de pé, na infâmia. Não há espaço para considerar a sua história, os seus sentimentos: para os seus acusadores, ela não apenas cometeu o pecado do adultério, ela “é” uma adúltera, totalmente definida pelo seu pecado.
Mas Jesus se inclina e começa a escrever no chão: desse modo, ele se inclina diante da mulher que está de pé diante dele! Tudo sem proferir uma palavra, em um grande silêncio...
Mas o que significa o gesto de Jesus? Ele escreve os pecados dos acusadores da mulher, como pensa Jerônimo? Ou escreve frases bíblicas, de acordo com a opinião de alguns exegetas? Ou simplesmente toma tempo para procurar uma resposta fiel à vontade de Deus?
Não é fácil interpretar esse gesto: na minha opinião, ele deve ser entendido como uma ação dotada de uma forte carga simbólica. Acredito que é preciso ver, de um lado, os escribas e os fariseus que recordam a Lei esculpida em tábuas de pedra; de outro, Jesus, que, ao escrever na terra, a terra com a qual nós, filhos e filhas de Adão, o terrestre, somos feitos (cf. Gn 2,7), indica-nos que a Lei deve estar inscrita na nossa carne, nas nossas vidas marcadas pela fragilidade e pelo pecado.
Não por acaso Jesus escreve “com o dedo”, assim como a Lei de Moisés foi escrita na pedra “pelo dedo de Deus” (Ex 31,18; Dt 9,10) e foi reescrita depois da infidelidade idolátrica do bezerro de ouro e da ruptura da aliança (cf. Ex 34,28).
No entanto, como os acusadores insistem em interrogá-lo, Jesus se levanta e não responde diretamente, mas faz uma afirmação que é também uma pergunta: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Depois, inclina-se de novo e volta a escrever no chão. Mas essa frase de Jesus interroga: quem pode se dizer sem pecado? Jesus confirma a Lei, segundo a qual a testemunha deve ser a primeira a apedrejar o culpado (cf. Dt 13,9-10; 17, 7), mas também diz que a testemunha deve ser, ela em primeiro lugar, sem pecado!
É claro que essa mulher adúltera cometeu um pecado manifesto; mas os seus acusadores não têm pecados ou, na verdade, têm pecados ocultos? E, se têm pecado, com que autoridade lançam as pedras que matam o pecador?
Somente Jesus, ele que era sem pecado, podia atirar uma pedra, mas não o faz. A sua palavra, que não contradiz a Lei e, ao mesmo tempo, confirma a sua práxis de misericórdia, parece eficaz, vai ao coração dos seus acusadores que, “ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos”: quanto mais se avança em idade, mais numerosos são os pecados cometidos; essa consciência deveria impedir a nossa inflexibilidade para com os outros...
Assim, uma única palavra de Jesus, incisiva e autêntica, uma daquelas perguntas que nos fazem ler a nós mesmos em profundidade, impede que esses homens cometam violência em nome da Lei que eles acreditam interpretar com rigor.
Só Deus, e, portanto, só Jesus, poderia condenar aquela mulher. Mas Jesus escolhe narrar de outro modo o agir de Deus, pelo qual a vida do pecador transcende o pecado por ele cometido. Jesus, aquele que, como Filho de Deus, narrou Deus humanamente (cf. Jo 1,18), que foi a exegese do Deus vivo, afirma que, diante do pecador, Deus tem um único sentimento: não a condenação, mas sim o desejo de que se converta e viva (cf. Ez 18,23; 33,11).
Somente quando todos foram embora é que Jesus se levanta e fica de frente para a mulher, finalmente restituída à sua identidade de ser humano, no face a face com ele. É o fim de um pesadelo, porque os seus apedrejadores se dispersaram e porque quem devia julgá-la agora está de pé, como aquele que absolve. Agora é possível o encontro falado, que se abre com o apelativo que lhe é dirigido por Jesus: “Mulher”, o mesmo reservado para a sua mãe (Jo 2,4), para a samaritana (Jo 4,21), para Madalena (Jo 20,15).
Dirigindo-se a ela desse modo, Jesus faz com que ela seja ressaltada por aquilo que ela é: não uma pecadora, mas uma mulher, restituída à sua dignidade. A ela, Jesus pergunta: “Onde estão os teus acusadores? Ninguém te condenou?” E ela, ao responder: “Ninguém, Senhor (Kýrie)”, faz uma grande confissão de fé em Jesus. Aquele que se encontra diante dela é mais do que um simples mestre, “é o Senhor” (Jo 21,7)!
Jesus, então, se despede com uma afirmação extraordinária, gratuita e unilateral: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”. O texto não está interessado nos sentimentos da mulher, mas revela que, quando ocorreu o encontro entre a santidade de Jesus e o pecado dessa mulher, então “permaneceram somente elas duas, a mísera e a misericórdia” (Agostinho), e a santidade de Jesus destruiu o pecado.
Nisso consiste a gratuidade daquela absolvição: Jesus não condena, mas, com o seu ato de misericórdia previdente, oferece à pecadora a possibilidade de mudar. E preste-se atenção: não está escrito que ela mudou de vida, converteu-se, nem que se tornou discípula de Jesus. Só sabemos que, a fim de que voltasse a viver, Deus a perdoou por meio de Jesus e a enviou rumo à liberdade: “Vai rumo a ti mesma e não peques mais”...
Jesus não veio ao nosso meio para julgar e condenar – como ele diria pouco depois: “Eu não julgo ninguém” (Jo 8,15) –, mas sim para anunciar a misericórdia, para fazer misericórdia executando fiel e pontualmente a justiça de Deus, que é justiça justificante (cf. Rm 3,21-26).
Chamado a escolher entre o castigo pela infração da Lei e a misericórdia, Jesus escolhe a misericórdia sem contradizer a Lei. Esta última é essencial como revelação da vocação humana que Deus nos dirige; mas, uma vez que o pecado infringiu a Lei, a Deus só resta a misericórdia, ensina-nos Jesus. Nada de condenação, só misericórdia!
De fato, todas as vezes que ele encontrou um pecador, ele o libertou dos seus pecados e nunca praticou a justiça punitiva. Proferiu convites à conversão, advertências em vista do juízo, mas nunca castigou ninguém, porque sabia discernir a vontade de Deus que não quer a condenação do pecador, mas faz misericórdia, para que se converta e viva.
Essa história parece muito mais semelhante às narrativas do Evangelho de Lucas do que do Evangelho do Discípulo Amado. De fato, não aparece nos manuscritos mais antigos de João e só aparece pela primeira vez em versões do século terceiro. Por isso, a maioria dos estudiosos acha que originalmente esta história circulava nas comunidades como uma tradição independente. O copista que a inseriu talvez fizesse por achar que ilustrasse duas frases do Quarto Evangelho: “Eu julgo a ninguém” (Jo 8, 15) e “Quem de vocês pode me acusar de pecado?” (Jo 8, 46). O tema do perdão de uma mulher pecadora é tipicamente lucano. Alguns manuscritos situam esse texto no Evangelho de Lucas durante as controvérsias da Semana Santa – o que parece ser um contexto mais adequado.
O problema apresentado a Jesus pelos fariseus é semelhante àquele do imposto em Lc 21, 27-38. A Lei judaica prescreveu a pena de morte para uma mulher casada, pega em adultério (Dt 22, 23-24). Mas, segundo João 18, 31, os romanos tinham retirado dos judeus o direito de condenar alguém à morte. Portanto, se Jesus dissesse que ela deveria ser apedrejada, ele contrariaria a lei civil dos romanos; se ele negasse esta pena, estaria contra a lei religiosa mosaica. É uma cilada semelhante ao dilema sobre o imposto a César em Mc 12 13-17, ou a questão sobre o divórcio em Mt 19, 3-9. Que os seus interlocutores não se interessam pela Lei se manifesta pelo fato de só acusarem a mulher e não o seu parceiro! Uma atitude machista tão comum ainda na nossa sociedade.
Não se esclarece o que foi que Jesus escreveu no chão. Alguns autores veem uma referência a uma frase em Jeremias: “Aqueles que se afastam de ti terão seus nomes inscritos na poeira, porque abandonaram Javé, a fonte de água viva” (Jr 17,13). Assim seria uma indicação que os verdadeiros culpados são aqueles que se davam o direito de condenar a mulher.
Perguntando da mulher se os seus acusadores não a tinham condenado, Jesus deixa claro que ele não se identifica com eles. Ele não veio para condenar, mas para salvar! Por isso a mulher está livre para ir – mas não para pecar de novo!
O texto ilustra mais uma vez o recado central que vimos no evangelho do último Domingo – Deus é um Deus de misericórdia, e não de condenação. Ele condena o pecado, o mal, mas não a pessoa. Como em Lucas 15, 1-2 também no texto de hoje as pessoas que mais deviam se preocupar em manifestar o rosto misericordioso do Pai, se preocupavam mais em condenar, a partir de um legalismo que desconhecia a misericórdia. Jesus, do outro lado, valoriza a Lei (pede que a mulher não continue a pecar), mas tem compaixão diante da fraqueza humana. Aliás, é notável que, nos Evangelhos, Jesus nunca é duro ou rígido com as pessoas que manifestam nas suas vidas sinais da fraqueza humana, mas é contundente com os que não têm compaixão nem misericórdia e que escondem o verdadeiro rosto de Deus através do seu legalismo e autossuficiência.
Quantas vezes nas Igrejas – até hoje – se manifesta muito mais a dureza de uma mentalidade legalista do que a compaixão de um Deus que é “rico em misericórdia?”. Neste tempo quaresmal preocupemo-nos em sermos manifestação do Deus verdadeiro, misericordioso e compassivo, a exemplo de Jesus, que soube distinguir bem entre o pecado e o pecador. “Nem eu te condeno, vá e não peca mais!”
Situando
A palavra de Deus é uma luz que ilumina o caminho de quem está escutando essa palavra. Mas a palavra que nós escutamos nas celebrações dominicais, ou nas reuniões da comunidade foi escrito de 2 a 4 mil anos atras. Por isso para melhor entender essa Palavra do Pai, além de pensar sobre a situação em que nós nos encontramos hoje temos que pensar sobre o tempo e a situação dos primeiros ouvintes dessa palavra.
Em Isaias 43, 16-21 estamos na fase final do Exílio do povo na Babilônia (o segundo cativeiro deles, uns 500 anos antes do nascimento de Jesus. Isaias está conversando com um povo muito desanimado porque, para começar, o templo e a cidade deles haviam sido destruídos e eles levados como prisioneiros para outro País. Eles pensavam que iriam voltar rapidamente para a terra deles, e nada disso acontecia. No desanimo deles pensavam que Deus tinha virado as costas para eles, e eles condenados a morrer numa terra estrangeira sem jamais rever a sua terra. O salmo 137 retrata muito bem a situação e o desanimo do povo. É com este povo que Isaias conversa para respondes às suas perguntas angustiantes e não perder a esperança.
Analisando
No trecho de Isaias de hoje Deus se apresenta como aquele que, há alguns séculos antes, marcou a vida e a história dos seus antepassados: o libertador dos hebreus da escravidão do Egito. Foi Ele que abriu as águas do mar Vermelho para eles poderem fugir da terra da escravidão e conquistar a liberdade (v.16); foi Ele que venceu as tropas do Faraó, e acabou com o poderio dos Egípcios, como se apaga uma mecha que fumega (v. 17).
Agora, de novo, o povo está exilado, essa vez na Babilônia. Muitos deles vivem de lembranças do passado (v. 18). O papel do profeta é garantir que esse olhar para o passado não ofusca a sua capacidade de enxergar o futuro que se prepara. Se alguém olhar para o passado, é para descobrir, nas ações de Deus em favor do seu povo do outrora um “padrão”: o Deus que outrora interveio e libertou o seu povo, é o mesmo Deus que sempre agirá em favor do seu povo que é maltratado e injustiçado. O Deus libertador e salvador de outrora, será o Deus salvador e libertador de hoje e de sempre.
Lembrando disso, os exilados devem aprender ler os sinais dos tempos em volto deles e perceber as brechas do futuro, a fim de perceber oinicio de um novo êxodo, de uma nova libertação, de um tempo novo que está para chegar. Deus Libertador está agindo na história preparando uma nova intervenção para salvar o seu povo.
2.500 anos atras Isaías, atento aos fatos da história, soube ler os sinais dos tempos, sinais da ação de Deus na história em favor do seu povo. O novo êxodo que Deus tinha preparado para o seu povo voltar para Judá (a sua terra natal, a cidade de Jerusalém, e o templo), mesmo com tudo em ruinas é descrito pelo profeta em termos grandiosos: Javé vai abrir um caminho largo no deserto, a fim de que os exilados possam fazer, sem problemas, a viagem de volta para sua terra (v. 19); Deus vai fazer brotar rios na terra árida, para seu povo não sofrer os tormentos da sede; e todos – incluindo os animais selvagens – vão ver e reconhecer a ação salvadora de Deus em favor do seu povo. Todos os seres humanos e todos os outros seres criados vão se unir para cantar a glória e o poder de Deus (vers. 20). Diante da ação de Javé, Israel tomará consciência de que é o povo eleito que dará a resposta adequada: louvará o seu Deus pelos dons recebidos (vers. 21).
Alargando
Quando o seu povo se sentiu desanimado e derrotado na escravidão da Babilônia, Javé pediu para os escravos lembrarem o que Ele tinha feito em seu favor, quando sentirem o peso da situação esmagadora do Egito. Ele usou Moises, que havia sido criado na casa do próprio Faraó, para ser o seu instrumento e tirar o povo da escravidão do Egito. Mas diante da nova situação de escravidão alertou: "Não fiquem lembrando do que aconteceu no passado, não continuem pensando nas coisas que fiz há muito tempo. Pois agora vou fazer uma coisa nova, que logo vai acontecer, e, de repente, vocês a verão” (v19). Isso foi quando usou Ciro, que nem conhecia Javé, para ser seu instrumento.
E hoje, as Comunidades cristãs estão procurando sinais onde?
As CEBs estão identificando sinais onde?
Os Movimentos populares estão sendo sinais para quem?
"Não fiquem lembrando do que aconteceu no passado, não continuem pensando nas coisas que fiz há muito tempo. Pois agora vou fazer uma coisa nova”.
Devemos olhar para onde, e para quem?
Situando
A cidade de Filipos, Macedónia oriental, era uma cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do exército, e dependia diretamente do imperador. Gozava dos mesmos privilégios das cidades de Itália e os seus habitantes tinham cidadania romana. Paulo chegou a Filipos pelo ano 49 ou 50, no decurso da sua segunda viagem missionária, acompanhado de Silvano, Timóteo e Lucas (cf. At 16,1-40). Da sua pregação nasceu a primeira comunidade cristã em solo europeu.
A comunidade cristã de Filipos era uma comunidade generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da coleta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2Cor 8,1-5). Paulo nutria pelos cristãos de Filipos um afeto especial; e os filipenses, por seu turno, tinham Paulo em grande apreço. Apesar de tudo, a comunidade cristã de Filipos não era perfeita: os altivos patrícios romanos de Filipos tinham alguma dificuldade em assumir certos valores como o desprendimento, a humildade e a simplicidade.
Paulo escreve aos Filipenses numa altura em que estava na prisão (não sabemos se em Cesareia, em Roma, ou em Éfeso). Os filipenses tinham-lhe enviado, por um membro da comunidade chamado Epafrodito, uma certa quantia em dinheiro, a fim de que Paulo pudesse prover às suas necessidades. Na carta, Paulo agradece a preocupação dos filipenses com a sua pessoa (cf. Flp 4,10-20), exorta-os a manterem-se fiéis ao Evangelho de Jesus e a incarnarem os valores que marcaram a vida de Cristo (cf. Flp 2,5). A carta apresenta, também, uma parte “polémica” (cf. Flp 3,1b-4,1.8-9), na qual Paulo avisa os filipenses contra os “cães”, os “maus trabalhadores” (Flp 3,2) que, em Filipos, como em todo o lado, semeiam a dúvida e a confusão na comunidade. Quem são estes? São os chamados “judaizantes”, isto é, os pregadores cristãos de origem judaica que proclamavam a obrigatoriedade da circuncisão e da obediência à Lei de Moisés.
O texto que nos é proposto insere-se nesse discurso de polémica contra os adversários “judaizantes”. Nele, Paulo pede aos Filipenses que não se deixem enganar por esses falsos pregadores, que se apresentam com títulos de glória, mas que parecem esquecer que só Cristo é importante.
Analisando
Ao exibicionismo e ao discurso pretensioso dos “judaizantes”, que alardeiam por todo o lado os seus títulos de glória e os seus méritos enquanto cumpridores da Lei mosaica, Paulo contrapõe o seu próprio exemplo. Ele teria mais razões do que outros para exibir os seus títulos: é hebreu genuíno, filho de hebreus, da tribo de Benjamim; foi circuncidado com oito dias; foi fariseu convicto, estudou a Lei na melhor escola de Jerusalém e viveu irrepreensivelmente como filho da Lei (cf. Flp 3,5-6). No entanto, considera que tudo isso nada vale diante da única coisa verdadeiramente decisiva: “conhecer” Jesus Cristo. A palavra “conhecer” deve ser aqui entendida no mais genuíno sentido da tradição bíblica, quer dizer, no sentido de “entrar em comunhão de vida e de destino” com uma pessoa. Aquilo que Paulo procura agora, aquilo que ele sente como determinante na sua vida, é identificar-se com Cristo e viver em comunhão com Cristo. Tudo o que não é “conhecimento” de Cristo – a circuncisão, os ritos da Lei de Moisés, as credenciais que os estudos rabínicos lhe outorgaram – são apenas “lixo” (“esterco”, “excremento”) que deve ficar para trás (vers. 8). A “justificação” que leva à vida não vem do cumprimento das obras da Lei, mas sim da adesão (“fé”) a Cristo (vers. 9). Aderindo a Cristo, identificando-se com Cristo e vivendo em comunhão com Cristo, Paulo está seguro de que o seu destino final será a vida nova, a ressurreição (vers. 10-11).
De resto, Paulo está consciente de que ainda tem um longo caminho a percorrer até alcançar esse destino final (vers. 12). A sua identificação com Cristo é um processo em construção. Implica um esforço diário, uma luta nunca terminada. Paulo sente-se como um atleta que corre em direção a uma meta; mas está consciente de que a meta ainda está distante. Resta a Paulo lançar-se para a frente, esquecer tudo aquilo em que durante algum tempo tinha apostado e não tirar os olhos da “meta” que é o encontro com Cristo (vers. 13-14). Esse é o único caminho que faz sentido para quem descobre Cristo e a beleza da sua proposta.
Os filipenses – e, é claro, os crentes de todos os tempos e lugares – farão bem em imitar o exemplo de Paulo e em correr decididos ao encontro de Cristo, sem deixar que nada os distraia ou afaste desse objetivo.
Questionamentos
Paulo, a partir desse encontro fundamental, passou a considerar todas as coisas um “prejuízo” quando comparadas com Cristo.
Que lugar ocupa Cristo na nossa vida? O “conhecimento” de Cristo, a identificação com Cristo, a comunhão com Cristo, o seguimento de Cristo é a nossa prioridade?
Cristo sobrepõe-se a todos os outros valores e propostas que a cada instante entram no caminho da nossa vida?
Paulo refere-se a algumas das coisas a que chegou a dar importância, antes de se encontrar com Cristo, como “lixo”, “esterco”. O tempo da Quaresma é um tempo oportuno para identificarmos e para nos livrarmos do “lixo” que vamos acumulando na nossa vida e que dificulta a nossa identificação com Cristo.
Estamos dispostos, neste tempo quaresmal, a fazer uma limpeza da nossa vida e a prescindir daquilo que nos aprisiona e nos impede de correr para a meta?
Em determinados momentos do caminho, somos tentados pela acomodação, conformismo, instalação, preguiça, convicção de que já fizemos tudo o que era necessário fazer.
Como é que encaramos a nossa caminhada ao encontro de Cristo? Como uma meta, ou como uma corrida nunca terminada?
Sem Justiça e Misericórdia a Lei sozinha só trabalha contra a Vontade de Deus
A nossa esquizofrenia nos leva a pensar que a justiça e misericórdia existam separadamente. Na Bíblia isto é impossível. Sobretudo nos ensinamentos e na prática de Jesus, justiça e misericórdia nem mesmo se distinguem. Pois Deus não poderia ser justo se não fosse ao mesmo tempo misericordioso.
Para Jesus ser justo é fazer a vontade de Deus.
Por isso, a justiça do Reino vai além da justiça distorcida e parcial dos escribas e fariseus, que buscavam sempre motivos para condenar: “Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres”.
Por outro lado, Deus, por ser justo, isto é, para cumprir a sua vontade – disse numa explosão de amor - “Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo.” (Jo 3,17).
Jesus, neste trecho do Evangelho de João de hoje, desmascara uma “justiça” falsa (fake), pois tanto na sua formulação, como também, no seu significado é distorcida, a fim de favorecer apenas os interesses de um grupo pequeno.
De fato, a Lei mandava punir as pessoas que adulterassem. Porém não se comete adultério sozinho. Desta forma, levando apenas uma das pessoas – a mulher - para o julgamento não se cumpria a Lei, mas cometia-se uma outra injustiça, pois a Lei era clara: “Se um homem cometer adultério com a mulher de outro, ele e a mulher deverão ser mortos.” (Lv 20,10); ou em Dt. 22,22: “Se um homem casado for encontrado na cama com a esposa de outro, os dois serão mortos, o homem e a mulher. Assim vocês tirarão o mal do meio do povo de Israel”.
Observe-se que na Lei, o primeiro imputado é o homem, a mulher é considerada apenas cúmplice. Os fariseus e escribas, conhecedores da Lei, sem dúvida sabiam disso, mas são os primeiros a fazer injustiça para com a própria Lei, pois distorcendo-a, afirmam que a Lei dada por Moisés ordena lapidar tais mulheres: “De acordo com a Lei que Moisés nos deu, as mulheres adúlteras devem ser mortas a pedradas” (Jn 8,5) sem nenhuma menção aos homens implicados na transgressão.
Jesus poderia ter refutado esta interpretação, desmoralizando-os diretamente, citando o artigo completo da Lei. Contudo, preferiu usar de misericórdia até mesmo para com os injustos, e, “abaixando-se”, como fez ao encarnar-se, “humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz". (Fl 2,7-8), ele escreve na areia. Este gesto parece um pouco misterioso, poderia ser um modo expressivo de dizer aos acusadores que algo estava faltando naquela Lei que eles citaram, quem sabe até mesmo apelando para que eles próprios reconhecessem o o que faltava para levar adiante o julgamento.
O silêncio misterioso de Jesus pode ser considerado o tempo necessário para eles lembrarem, pelo menos no seu íntimo, daquilo que eles tinham omitido, pois não se pode fazer justiça diante de uma lei incompleta. Em um dos núcleos fundamentais da Lei, afirma-se: “Quando julgar alguma causa, não seja injusto; não favoreça os humildes, nem procure agradar os poderosos. Julgue todas as causas com justiça”. De novo no V. 37 “Obedeçam às minhas leis e aos meus mandamentos. Eu sou o Senhor”.
Contudo, o silêncio misericordioso de Jesus é rejeitado pelos juízes de plantão, que não são capazes de ouvir senão a sua própria voz e exigem que o Mestre se pronuncie. Jesus é obrigado a se pronunciar, ou para absolver a mulher, e assim, eles teriam motivo de acusá-lo como transgressor da Lei, ou para condená-la, para que ele mesmo seja condenado pelo povo, que contava sempre com a sua compaixão.
Diante da insistência de levar adiante um julgamento injusto, Jesus apela de novo para a justiça da Lei: “Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher!”. Vamos lembrar que de acordo com a Lei judaica a punição com a morte exigia que além do julgamento em base a um depoimento verídico e seguro, as próprias testemunhas do delito teriam que fazer o apedrejamento: “As testemunhas serão as primeiras a jogarem pedras no condenado; depois todos os outros devem atirar pedras também.” (Dt 17,7).
Com seu pronunciamento, Jesus estava propondo o cumprimento justo da Lei. Portanto, quem lançaria a primeira pedra, tem que ser a primeira testemunha do pecado. Isto é, neste caso aqui de adultério, tem que ser aquele que o cometeu, como diz o salmista com muita honestidade: “De fato, tenho sido mau desde que nasci;
tenho sido pecador desde o dia em que fui concebido”. (Sl 51,5). Este salmo é atribuído a Davi, quando o profeta Natã foi a sua casa denunciar o adultério que Natã tinha cometido com Betsabeia, a mulher de Urias (2Sm 11-12). Portanto, a primeira testemunha do pecado é o próprio pecador. A retirada silenciosa dos acusadores, a começar pelos mais velhos, confirma a hipocrisia do julgamento.
Se ao inclinar-se a primeira vez para escrever no chão, Jesus denuncia que a Lei está incompleta, agora inclinando-se mais uma vez, reitera o ensinamento do profeta Jeremias que diz: “Ó Senhor, esperança de Israel, todos os que te abandonarem serão envergonhados; aqueles que se desviarem de ti terão os seus nomes escritos no pó, pois abandonaram o Senhor, a fonte de água viva". (Jr 17,13).
Ficando lá no local do julgamento, apenas Jesus e a mulher acusada de infidelidade, o evangelista nos faz lembrar Javé que não se deixa vencer pelo pecado da sua esposa infiel, mas porque a ama, “Vou seduzir a minha amada e levá-la de novo para o deserto, onde lhe falarei do meu amor.” (Os 2,14). E apesar de ser o único a poder atirar a pedra, não o fez, pois age como o Pai que diz: “Não deixarei que a ira me domine, não destruirei o meu povo outra vez. Pois eu sou Deus e não um ser humano; eu, o Santo Deus, estou no meio do meu povo e não o destruirei novamente." (Os 11,9).
Se o cumprimento da Lei fosse segundo o ser humano, certamente faltariam pedras diante da multidão de pecadores, pois ninguém estaria isento. Mas como não há pedras suficientes para atirar em todos os pecadores, o Deus justo prefere renovar o seu compromisso com a vida. Jesus perguntou para a mulher: Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém para condenar você? “. Ela respondeu: Ninguém, senhor. A resposta de Jesus: Pois eu também não condeno você.”. E ao invés de pedras para nos ferir e matar, Jesus lança o apelo para a conversão: “Vá e não peque mais”.
Baseada na reflexão de Dom André Vital Félix da Silva, SCJ
(Traduzido pelo tradutor Google sem nossa correção. O original pode ser conferido logo após a tradução)
QUINTO DOMINGO DA QUARESMA
JESUS, COM O SEU PERDÃO, OFERECE-NOS A ESPERANÇA DE UMA NOVA VIDA
1a. Leitura (Is 43,16-21):
Israel está no exílio na Babilônia. Ali o profeta alimenta a esperança enfraquecida do povo anunciando um novo êxodo, uma nova intervenção salvadora de Deus na história. Esta salvação de Deus tem o sinal da novidade: uma nova criação, um novo êxodo e um novo começo. O profeta diz aos exilados que o mesmo Deus que abriu um caminho através do mar para tirar o seu povo do Egito, abrirá agora um caminho no deserto para que o povo possa regressar à sua terra natal e recuperar a sua vocação ao louvor.
A novidade da pregação do segundo Isaías é fruto da interação entre memória e dor. O memória recupera o sentido do passado, com os seus textos e tradições; ele dor Impede-nos de nos fecharmos na alegria do presente e leva-nos a procurar compreendê-lo a partir do passado, mas fazendo nascer algo novo, significativo para o futuro dos exilados.1.
Mas precisamente porque é romance, a mensagem profética era difícil de acreditar. O povo, enferrujado por tantos anos de exílio onde se sentiu esquecido e até traído por Deus, recusa-se agora a aceitar o novidade da misericórdia e do perdão de Deus; e até pede sinais para acreditar e esperar. Os israelitas exilados pensavam que as obras gloriosas de Deus eram apenas uma coisa do passado, não do presente ou do futuro. Eles estavam ancorados no fracasso, sem esperança para o futuro. Diante desta realidade, a difícil missão deste profeta foi convencer um povo decepcionado de que Deus pode trabalhar além de nossas possibilidades e de nossos méritos; e que mais uma vez operará a salvação do seu povo Israel, formado e salvo para o louvor da sua glória.
2a. Palestra (Flp 3,8-14):
Na carta aos Filipenses Paulo volta a olhar para a sua vocação e declara que ali recebeu um verdadeiro conhecimento de Cristo que mudou radicalmente a sua vida. Esse "conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor: do conhecimento de Cristo Jesus, meu senhor" (Flp 3.8), existe novidade extraordinário. Ele "conhecimento de Jesus Cristo“Para Paulo, não é uma doutrina que possa ser aprendida nos livros, que possa ser ensinada pelos professores, ou que possa ser alcançada pelo próprio esforço ou estudo. Esse conhecimento irrompe na vida, afeta todo o homem que ele quer “transformar” à sua própria imagem (cf. 2Cor 3,18) e faz irradiar o seu rosto.
São Paulo abre o coração e diz aos seus amados Filipenses qual é a motivação fundamental da sua vida, o que corre atrás e o que espera alcançar: união com Cristo, participando na sua morte e ressurreição. Esta corrida para Cristo é a sua resposta ao apelo inicial que dá sentido a todas as suas renúncias. Na verdade, Paulo declara que foi "alcançado por Cristo"(Fl 3,13), cujo amor tocou as fibras mais íntimas do seu coração, fazendo-o experimentar o valor salvífico da sua morte e ressurreição. Paulo sentiu-se pessoalmente amado e salvo por Jesus, o Filho de Deus; Ele se sentiu objeto e destinatário da dedicação de Jesus em seu favor..
Este texto nos mostra que A conversão de São Paulo não foi tanto de natureza moral, uma passagem do pecado à graça, mas sim existencial, uma mudança radical de rumo na sua vida religiosa.. Aqui ele reconhece que não basta a justiça em si, a da Lei, segundo a qual se pode agradar a Deus através do próprio esforço para cumpri-la. Paulo afirma que abandonou este caminho para aderir a uma Pessoa que o salvará, Cristo. Agora, olhando mais profundamente para o coração do homem, podemos muito bem dizer que Paulo “foi convertido” por Cristo de um pecado mais oculto e inconsciente, o pecado de quem acredita não precisar da graça para ser bom e que tem como raiz o orgulho. Nesta situação o Senhor faz Paulo ver que, embora ele seja “quanto ao cumprimento da lei, irrepreensível”(Flp 3,6), Ele também precisa ser salvo por Jesus2.
Evangelho: (Jo 8,1-11)
Os dois primeiros versículos deste capítulo descrevem a cena onde ocorrerá uma discussão muito interessante entre os fariseus e escribas com Jesus. Com efeito, segundo o seu costume, Jesus retirou-se à noite para o Monte das Oliveiras, mas de madrugada já ensinava no Templo e uma multidão o rodeava (“toda a cidade"vai o povo em 8,2) que vem ouvi-lo.
Neste contexto, os fariseus e os escribas levam-no a uma mulher apanhada em adultério. Segundo a lei de Moisés, ela deve ser condenada à morte, sobretudo porque há testemunhas da sua culpa e a autoridade de Moisés assim o exigia (cf. Lv 20,10; Dt 22,22-24). Mas de acordo com a lei do império dominante, o romano, os judeus não estavam autorizados a executar este tipo de sentença ou punição extrema porque os romanos lhes tinham reservado o direito de declarar e executar o crime, a sentença de morte, chamada “direito da espada” o ius gladii.
O evangelista deixa claro em 8:6 que a intenção dos escribas e fariseus com sua pergunta é “tentar” ou preparar uma armadilha ter algo para acusá-lo de usar o verbo provocar que é o mesmo que descreve as tentações do diabo sobre Jesus no deserto (cf. Mc 1,13; Mt 4,1; Lucas 4,2). E foi uma verdadeira armadilha porque se Jesus respondeu isso “Sim” O pedido para apedrejar a mulher era contra a lei romana; e se ele respondeu isso “não”, contradisse a lei de Moisés. Portanto, segundo a resposta que dá, Jesus seria confrontado ou com Moisés e com os judeus; ou com César e as autoridades romanas.
O silêncio e a calma de Jesus são extremamente marcantes, pois ele demora a responder.3. Mas ainda mais surpreendente é o que ele diz: “quem não tem pecado atire a primeira pedra". Nos informa F. Moloney4que “Estas palavras reflectem a legislação de Lv 24,1-6, Dt 13,10, 17,27, segundo a qual as testemunhas deveriam atirar a primeira pedra. Neste caso, os escribas e fariseus que afirmam tê-la apanhado cometendo adultério (cf. vv. 3-4) teriam de atirar a primeira pedra. Só depois de as testemunhas autênticas terem atirado as primeiras pedras é que “todo o povo” (cf. v. 2) pode juntar-se a elas no processo de execução.”.
Com a sua resposta inteligente, Jesus respeita a autoridade da Lei de Moisés; mas ele nega aos escribas e fariseus o autoridade moral para executá-lo; Portanto, não é contra a lei romana. Segue-se então o silêncio dos presentes que se retiram silenciosamente, a começar pelos mais velhos (começando pelos mais velhos).
Na cena final restam apenas Jesus e a mulher. Não há mais acusadores nem condenação. Até o próprio Jesus se recusa a condená-la, mas ao dispensá-la acrescenta um pedido muito importante: “Vá, e de agora em diante não peque mais” - Vá, de agora em diante você vai pecar (Jo 8:11). De acordo com L. Rivas5, visto que o imperativo negativo no presente ordena uma ação que já começou a cessar, a tradução exata seria: “Vá embora, de agora em diante não continue pecando“Ou seja, ele reconhece que está em pecado e ordena que ele saia de lá e não faça isso novamente, encerrando assim o caso que lhe foi apresentado.
ALGUMAS REFLEXÕES
Um elemento comum às três leituras é o olhar para o futuro, para o novo que surgirá da mão de Deus. Como observa HU von Balthasar6: “Curiosamente, todos os textos da missa de hoje referem-se ao futuro, à salvação de Deus que cria algo novo e para o qual nos dirigimos. E isto precisamente como uma introdução à semana da paixão. Mas precisamente aqui se realiza a nova e definitiva salvação; e toda a nossa vida consistirá em nos orientarmos para esta ação de Deus”.
3 Tem havido muita especulação sobre o que Jesus pode ter escrito no chão. Para alguns trata-se dos pecados dos presentes, para outros trata-se dos mandamentos; para alguns, em suma, a sentença de condenação. Achamos mais prudente a opinião de L. H. Rivas: “O narrador não sugere que Jesus tenha escrito nenhuma palavra especial, mas sim que demonstrou falta de interesse pelo problema que lhe era colocado: não se envolvia nas discussões sobre a lei”, em O Evangelho de João, San Benito, Buenos Aires 2005, 263.
O primeira leitura Ensina-nos que a maior obra de Deus não está no passado, mas no futuro, não atrás, mas à frente. O Deus que os resgatou do Egipto no passado irá agora resgatá-los do exílio babilónico através de um novo êxodo.
Ele salmão Também nos ensina que a memória de "as grandes coisas que o Senhor fez por nós"deve alimentar o ter esperança que Deus continuará trabalhando em nosso favor.
No segunda leitura A vida de São Paulo parece totalmente polarizada pelo seu futuro encontro com Cristo. Ele não planeja parar no caminho porque tudo o que existe não é nada diante do bem supremo que ele busca alcançar: comunhão com Cristo, com a sua morte e ressurreição.
Nele evangelho Jesus propõe à mulher um futuro sem pecado, em paz e sem qualquer condenação. A mensagem fundamental desta narrativa está em clara continuidade com a parábola do filho pródigo. Não é mais uma história de ficção, mas um encontro pessoal onde “Restam apenas dois, miséria e misericórdia” (“Restam dois, o miserável e o misericordioso”), como diz Santo Agostinho em Eu. Eu. Trato. 33,5 comentando sobre o final deste evangelho.
Sobre esta mulher adúltera ele disse Papa Francisco na homilia de 3 de abril de 2022: “A sua situação parece comprometida, mas um novo horizonte, antes impensável, abre-se diante dos seus olhos. Coberta de insultos, pronta a receber palavras implacáveis e castigos severos, para sua surpresa vê-se absolvida por Deus, que lhe abre diante de si um futuro inesperado: «Ninguém te condenou? — Disse-lhe Jesus — Eu também não te condeno. Vai e não peques mais” (vv. 10.11). Que diferença entre o Mestre e os acusadores! Estes citaram as Escrituras para condenar; Jesus, a Palavra de Deus em pessoa, reabilita completamente a mulher, restaurando-lhe a esperança”.
As “crianças mais velhas” também estão presentes., os acusadores, os escribas e os fariseus pedindo justiça e condenação. Jesus, como fez com os seus interlocutores na história do domingo passado, confronta os acusadores com sua própria realidade como pecadores. Mas para diferença do “filho mais velho” quem não quis entrar, deixou cair as pedras e recuou. Pode ser o início da conversão destes “convertidos”. Jesus não quer que sejamos juízes, mas sim penitentes..
Sobre os acusadores O Papa Francisco disse em sua homilia: “Irmãos e irmãs, esses personagens nos dizem que a nossa religiosidade também pode se insinuar. o verme da hipocrisia e o mau hábito de apontar o dedo. Em todos os momentos, em todas as comunidades. Há sempre o perigo de compreender mal Jesus, de ter o seu nome nos lábios, mas negá-lo com factos. E isso também pode ocorrer levantando bandeiras com a cruz. Como verificar, então, se somos discípulos na escola do Mestre? Pelo nosso olhar, pelo a maneira como olhamos para os outros e nós olhamos para nós mesmos. Este é o ponto para definir a nossa pertença.
Aliás, olhamos para o próximo: se o fizermos como Jesus nos mostra hoje, ou seja, com olhar de misericórdia; ou de uma forma que julga, às vezes até despreza, como os acusadores do Evangelho, que se colocam como campeões de Deus, mas não percebem que pisoteiam os seus irmãos. Na realidade, quem acredita defender a fé apontando o dedo aos outros terá até uma visão religiosa, mas não abraça o espírito do Evangelho, porque se esquece da misericórdia, que é o coração de Deus.
Para entender se somos verdadeiros discípulos do Mestre, é necessário também examinar como olhamos para nós mesmos. Os acusadores da mulher estão convencidos de que não têm nada a aprender. Certamente, a sua estrutura externa é perfeita, mas falta-lhe a verdade do coração. São o retrato daqueles crentes de todos os tempos, que fazem da fé um elemento de fachada, onde o que sobressai é a exterioridade solene, mas falta a pobreza interior, que é o tesouro mais valioso do homem. Para Jesus, de facto, o que conta é a abertura e a disponibilidade de quem não sente que alcançou a meta, mas sim que precisa de salvação.” A história não termina com uma festa de reconciliação como na parábola do filho pródigo, mas há uma última indicação, “não continue pecando”, o que é importante porque seria a última etapa no caminho para a reconciliação: o propósito da alteração, da mudança de vida. A resposta ao perdão gratuito de Deus, além da celebração grata, é a resolução de nunca mais pecar..
Vale dizer que o caminho da reconciliação Conduz à Páscoa, a uma vida renovada, recriada pelo perdão de Deus e que a partir de agora devemos valorizar e cuidar mais. Como diz A. Louf: “A boa nova de Jesus consiste nisto: o nosso pecado, seja ele qual for, está perdoado. A nossa única e imensa alegria é ser um pecador perdoado”7.
Para concluir, dentro do caminho quaresmal Este domingo nos convida a esperar a salvação que vem de Deus e somente de Deus; porque só Ele pode renovar nossas vidas. Somos convidados a aceitar a oportunidade de uma vida nova que o perdão de Deus nos oferece porque “o cristão que pecou mas se arrepende não tem mais nada do passado; se se converte, é um homem novo num mundo novo, e aí é capaz de retomar a sua atividade resgatada: louvar ao Senhor”8.
Em suma, aqui se desenrola o drama da fé, que é sobretudo confiança ilimitada e esperança completa em Seu Amor Misericordioso. E esta fé convida-nos a olhar para o futuro com grande esperança porque Deus também está lá. Esta Esperança pode dissipar o medo, tão natural para nós, que nos paralisa e nos leva a voltar atrás sem poder continuar o caminho da vida cristã; porque esta “eesperança teológica” purifica a nossa memória para que deixemos definitivamente para trás o nosso passado de pecado e peregrinemos com confiança rumo ao encontro com o Senhor Ressuscitado.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Aquele amanhecer
Conte-nos Senhor sobre aquele amanhecer
Quando o silêncio reinou no templo
E aos poucos ele interrompeu sua oração
O burburinho da condenação e do julgamento
Eles, com ameaças e pedras,
O pecador pagou o preço,
Você lê o coração de todos
e você escreveu no chão
Que palavras essas letras formaram?
Do dedo de Deus em seu silêncio
De repente ela encontrou seu olhar
E ela sabia sobre morrer, sobre se sentir condenada
Seu coração ferido estava cheio de esperança
Ele não entendeu como, mas abaixou a cabeça
Eu ouço Deus falar, concluo a cena
E ele ficou observando os outros
Jogue pedras no chão
Chegou sem querer,
Salvação para sua vida, para sua casa
E caiu aos seus pés sem remédio
totalmente apaixonado
Alcança-nos hoje assim, Senhor, tua Misericórdia
Rasgue nossos corações e cure-os
Preencha-nos com seu amor de amores
Eu nos joguei em seus braços e nos salvei. Amém
[1] Cf. W. Brueggemann, Hopeful Imagination. Prophetic Voices in Exile (Fortress Press, Philadelphia) 99.
[2] Cf. Card. A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Madrid 2009) 93.
[3] Mucho se ha especulado sobre lo que pudo haber estado escribiendo Jesús en el suelo. Para algunos se trata de los pecados de los presentes, para otros de los mandamientos; para algunos, en fin, de la sentencia de condena. Nos parece más prudente la opinión de L. H. Rivas: "El relator no sugiere que Jesús escribía alguna palabra en especial, sino que demostraba falta de interés por el problema que le estaban planteando: El no se enredaba en discusiones sobre la ley", en El Evangelio de Juan, San Benito, Buenos Aires 2005, 263.
[4] El Evangelio de Juan, Estella, Verbo Divino, 2005.
[5] L. H. Rivas, El Evangelio de Juan, San Benito, Buenos Aires 2005, 264.
[6] A. Louf, A merced de su gracia, Narcea, Madrid 1996, 93-94.
[7] A. Nocent, Celebrar a Jesucristo III. Cuaresma, 168.
QUINTO DOMINGO DE CUARESMA
JESÚS, CON SU PERDÓN, NOS OFRECE LA ESPERANZA DE UNA VIDA NUEVA
1a. Lectura (Is 43,16-21):
Israel se encuentra en el exilio babilónico. Allí el profeta alimenta la alicaída esperanza del pueblo anunciando un nuevo éxodo, una nueva intervención salvífica de Dios en la historia. Esta salvación de Dios tiene el signo de la novedad: una nueva creación, un nuevo éxodo y un nuevo comienzo. El profeta les dice a los exiliados que el mismo Dios que abrió un camino a través del mar para hacer salir a su pueblo de Egipto pondrá ahora un camino en el desierto para que el pueblo pueda regresar a su patria y recuperar su vocación a la alabanza.
La novedad de la predicación del segundo Isaías es fruto de la interacción entre memoria y dolor. La memoria recupera el sentido del pasado, con sus textos y tradiciones; el dolor impide que nos encerremos en el gozo del presente y nos mueve a buscar comprenderlo a partir del pasado, pero dando a luz algo nuevo, significativo para el futuro de los exiliados1.
Pero justamente por ser novedoso, el mensaje profético resultaba difícil de creer. El pueblo, herrumbrado por tantos años de exilio donde se había sentido olvidado y hasta traicionado por Dios, se resiste ahora a aceptar la novedad de la misericordia y del perdón de Dios; e incluso pide señales para creer y esperar. Los israelitas exiliados pensaban que las obras gloriosas de Dios eran cosa sólo del pasado, no ya del presente ni del futuro. Estaban anclados en el fracaso, sin esperanza para el futuro. Ante esta realidad, la no fácil misión de este profeta fue la de convencer a un pueblo decepcionado que Dios puede obrar más allá de nuestras posibilidades y de nuestros méritos; y que volverá a obrar la salvación de su pueblo Israel, formado y salvado para la alabanza de su gloria.
2a. Lectura (Flp 3,8-14):
En la carta a los Filipenses Pablo vuelve la mirada otra vez sobre su vocación y declara haber recibido allí un verdadero conocimiento de Cristo que cambió radicalmente su vida. Este "conocimiento de Jesucristo mi Señor: τῆς γνώσεως Χριστοῦ Ἰησοῦ τοῦ κυρίου μου" (Flp 3,8), es la novedad extraordinaria. El "conocimiento de Jesucristo" no es para Pablo una doctrina que pueda aprenderse en los libros; que puedan enseñar unos maestros, o que se pueda alcanzar por el propio esfuerzo o estudio. Ese conocimiento irrumpe en la vida, afecta a todo el hombre a quien quiere "transformar" en su propia imagen (cf. 2Cor 3,18) y hace que irradie su rostro.
San Pablo abre su corazón y les cuenta a sus queridos Filipenses cuál es la motivación fundamental de su vida, detrás de la que corre y que espera alcanzar: la unión con Cristo, tener parte en su muerte y en su resurrección. Esta carrera hacia Cristo es su respuesta al llamado inicial que da sentido a todas sus renuncias. En efecto, Pablo declara que ha sido "alcanzado por Cristo" (Flp 3,13), cuyo amor ha tocado las fibras más íntimas de su corazón haciéndole experimentar el valor salvífico de su muerte y resurrección. Pablo se sintió personalmente amado y salvado por Jesús, el Hijo de Dios; se sintió objeto y receptor de la entrega de Jesús en favor suyo.
Este texto nos muestra que la conversión en San Pablo no fue tanto de índole moral, paso del pecado a la gracia, sino existencial, un cambio radical de orientación en su vida religiosa. Aquí reconoce que no basta la propia justicia, la de la Ley, según la cual se puede agradar a Dios mediante el propio esfuerzo por cumplirla. Pablo afirma que ha abandonado este camino para adherirse a una Persona que lo salvará, a Cristo. Ahora bien, con una mirada más profunda sobre el corazón del hombre, bien podemos decir que Pablo "fue convertido" por Cristo de un pecado más oculto e inconsciente, el pecado de quien cree no necesitar de la gracia para ser bueno y que tiene como raíz el orgullo. En esta situación el Señor le hace ver a Pablo que, aunque él sea “en cuanto al cumplimiento de la ley, irreproachable” (Flp 3,6), tiene también necesidad de ser salvado por Jesús2.
1 Cf. W. Brueggemann, Hopeful Imagination. Prophetic Voices in Exile (Fortress Press, Philadelphia) 99. 2 Cf. Card. A. Vanhoye, Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas. Ciclo C (Mensajero; Madrid 2009) 93.
2
Evangelio: (Jn 8,1-11)
Los dos primeros versículos de este capítulo nos describen la escena donde tendrá lugar una muy interesante discusión entre fariseos y escribas con Jesús. En efecto, según su costumbre, Jesús se retiró a la noche al monte de los Olivos, pero al amanecer ya está enseñando en el Templo y lo rodea una multitud (“todo el pueblo” πᾶς ὁ λαὸς en 8,2) que viene a escucharlo.
En este contexto, los fariseos y los escribas le llevan a una mujer sorprendida en adulterio. Según la ley de Moisés debe ser condenada a muerte, sobre todo porque hay testigos de su falta y la autoridad de Moisés así lo demandaba (cf. Lev 20,10; Dt 22,22-24). Pero según la ley del imperio dominante, el romano, no les estaba permitido a los judíos ejecutar este tipo de sentencia o castigo extremo porque los romanos se habían reservado para ellos el derecho de declarar y ejecutar la
condena a muerte, llamado “derecho de la espada” o ius gladii.
El evangelista deja en claro en 8,6 que la intención de escribas y fariseos con su pregunta es “tentarlo” o tenderle una trampa para tener de qué acusarlo utilizando el verbo πειράζω que es el mismo que describe las tentaciones del diablo a Jesús en el desierto (cf. Mc 1,13; Mt 4,1; Lc 4,2). Y era una verdadera trampa porque si Jesús respondía que “sí” al pedido de apedrear a la mujer, se ponía en contra de la ley romana; y si respondía que “no”, contradecía la ley de Moisés. Por tanto, de acuerdo a la respuesta que dé, Jesús quedaría enfrentado o con Moisés y los judíos; o con el César y las autoridades romanas.
Es por demás llamativo el silencio y la calma de Jesús, que demora su respuesta3. Pero es más sorprendente aún lo que dice: "el que esté libre de pecado que arroje la primera piedra". Nos informa F. Moloney4que “estas palabras reflejan la legislación de Lv 24,1-6, Dt 13,10, 17,27, de acuerdo con la cual los testigos tenían que arrojar la primera piedra. En este caso, los escribas y fariseos que afirman haberla sorprendido cometiendo el adulterio (cf. vv. 3-4) tendrían que arrojar la primera piedra. Solo después de que los auténticos testigos hubieran arrojado las primeras piedras, «todo el pueblo» (cf. v. 2) podría unírseles en el proceso de ejecución”.
Con su inteligente respuesta Jesús respeta la autoridad de la Ley de Moisés; pero les niega a los escribas y fariseos la autoridad moral para ejecutarla; por tanto, no se pone contra la ley romana. Le sigue, luego, el silencio de los presentes que calladamente se retiran, comenzando por los más ancianos (ἀρξάμενοι ἀπὸ τῶν πρεσβυτέρων).
En la escena final quedan sólo Jesús y la mujer. Ya no quedan acusadores ni hay condena alguna. Incluso el mismo Jesús renuncia a condenarla, pero al despedirla le añade un pedido muy importante: "Vete, y en adelante no peques más” - πορεύου, ἀπὸ τοῦ νῦν μηκέτι ἁμάρτανε (Jn 8,11). Según L. Rivas5, dado que el imperativo negativo en tiempo presente ordena cesar una acción ya comenzada, la traducción exacta sería: "Vete, a partir de ahora no sigas pecando". Es decir, reconoce que está en pecado y le manda salir de allí y no volver a hacerlo, cerrando así el caso que le presentaron.
ALGUNAS REFLEXIONES
Un elemento en común a las tres lecturas es la mirada al futuro, a lo nuevo que surgirá de la mano de Dios. Como bien nota H. U. von Balthasar6: “Curiosamente todos los textos de la misa de hoy remiten al futuro, a la salvación de Dios que crea algo nuevo y hacia la que nos dirigimos. Y esto precisamente como introducción a la semana de pasión. Pero justamente aquí se realiza lo nuevo, la salvación definitiva; y toda nuestra vida consistirá en dirigirnos hacia esta acción de Dios”.
3 Mucho se ha especulado sobre lo que pudo haber estado escribiendo Jesús en el suelo. Para algunos se trata de los pecados de los presentes, para otros de los mandamientos; para algunos, en fin, de la sentencia de condena. Nos parece más prudente la opinión de L. H. Rivas: "El relator no sugiere que Jesús escribía alguna palabra en especial, sino que demostraba falta de interés por el problema que le estaban planteando: El no se enredaba en discusiones sobre la ley", en El Evangelio de Juan, San Benito, Buenos Aires 2005, 263.
4 El Evangelio de Juan, Estella, Verbo Divino, 2005.
5 El Evangelio de Juan, San Benito, Buenos Aires 2005, 264.
6 Luz de la palabra. Comentario a las lecturas dominicales, Encuentro, Madrid, 1998, 237.
3
La primera lectura nos enseña que la mayor obra de Dios no está en el pasado sino en el futuro, no atrás sino adelante. El Dios que los rescató de Egipto en el pasado, los rescatará ahora del exilio babilónico mediante un nuevo éxodo.
El salmo nos enseña también que la memoria de "las grandes cosas que hizo el Señor por nosotros" debe alimentar la esperanza de que Dios seguirá obrando en favor nuestro.
En la segunda lectura aparece la vida de san Pablo totalmente polarizada por el futuro encuentro con Cristo. No piensa detenerse en el camino porque todo lo que existe es nada ante el bien supremo que busca alcanzar: la comunión con Cristo, con su muerte y resurrección.
En el evangelio Jesús le propone a la mujer un futuro sin pecado, en paz y sin condenación alguna. El mensaje fundamental de esta narración está en clara continuidad con la parábola del hijo pródigo. Ya no es una historia ficticia sino un encuentro personal donde “son sólo dos que permanecen, la miseria y la misericordia” (“Relicti sunt duo, misera et misericordia”), como dice San Agustín en Io. Ev. Tract. 33,5 comentando el final de este evangelio.
Sobre esta mujer adúltera decía el Papa Francisco en su homilía del 3 de abril de 2022: “Su situación parece comprometida, pero ante sus ojos se abre un horizonte nuevo, antes impensable. Cubierta de insultos, lista para recibir palabras implacables y castigos severos, con asombro se ve absuelta por Dios, que le abre ante sí, de par en par, un futuro inesperado: «¿Nadie te ha condenado? —le dijo Jesús— Tampoco yo te condeno. Vete y no vuelvas a pecar» (vv. 10.11). ¡Qué diferencia entre el Maestro y los acusadores! Estos habían citado la Escritura para condenar; Jesús, la Palabra de Dios en persona, rehabilita completamente a la mujer, devolviéndole la esperanza”.
Están presentes también los “hijos mayores”, los acusadores, los escribas y los fariseos pidiendo justicia y condenación. Jesús, como hizo con sus interlocutores en el relato del domingo pasado, enfrenta a los acusadores con su propia realidad de pecadores. Pero a diferencia del “hijo mayor” que no quiso entrar, estos sí dejan caer las piedras y se retiran. Puede que sea el inicio de la conversión de estos "convertidos". Jesús no nos quiere jueces, sino penitentes.
Sobre los acusadores decía el Papa Francisco en su homilía: “Hermanos y hermanas, estos personajes nos dicen que también en nuestra religiosidad pueden insinuarse la carcoma de la hipocresía y la mala costumbre de señalar con el dedo. En todo tiempo, en toda comunidad. Siempre se corre el peligro de malinterpretar a Jesús, de tener su nombre en los labios, pero desmentirlo con los hechos. Y esto también puede producirse elevando estandartes con la cruz. ¿Cómo verificar, entonces, si somos discípulos en la escuela del Maestro? Por nuestra mirada, por el modo en que miramos al prójimo y nos miramos a nosotros mismos. Este es el punto para definir nuestra pertenencia.
Por el modo en que miramos al prójimo: si lo hacemos como Jesús nos muestra hoy, es decir, con una mirada de misericordia; o de una manera que juzga, a veces incluso que desprecia, como los acusadores del Evangelio, que se erigen como paladines de Dios, pero no se dan cuenta de que pisotean a los hermanos. En realidad, el que cree que defiende la fe señalando con el dedo a los demás tendrá incluso una visión religiosa, pero no abraza el espíritu del Evangelio, porque olvida la misericordia, que es el corazón de Dios.
Para entender si somos verdaderos discípulos del Maestro, también es necesario examinar cómo nos miramos a nosotros mismos. Los acusadores de la mujer están convencidos de que no tienen nada que aprender. Ciertamente, su estructura exterior es perfecta, pero falta la verdad del corazón. Son el retrato de esos creyentes de todos los tiempos, que hacen de la fe un elemento de fachada, donde lo que se resalta es la exterioridad solemne, pero falta la pobreza interior, que es el tesoro más valioso del hombre. Para Jesús, en efecto, lo que cuenta es la apertura y
disponibilidad del que no siente que haya alcanzado la meta, sino más bien que está necesitado de salvación.” En relato no termina con una fiesta de reconciliación como en la parábola del hijo pródigo, pero hay una última indicación, “no sigas pecando”, que es importante porque sería la última etapa en el camino de la reconciliación: el propósito de enmienda, de cambio de vida. La respuesta al perdón gratuito de Dios, además del festejo agradecido, es el propósito de no volver a pecar.
Vale decir que el camino de la reconciliación desemboca en la Pascua, en una vida renovada, recreada por el perdón de Dios y que de aquí en adelante debemos valorar y cuidar más. Como bien dice A. Louf: "La buena nueva de Jesús consiste en esto: nuestro pecado, cualquiera que sea, está perdonado. Nuestra única e inmensa alegría es ser pecador perdonado"7.
7 A. Louf, A merced de su gracia, Narcea, Madrid 1996, 93-94.
4
En conclusión, dentro del camino cuaresmal este domingo nos invita a esperar la salvación que viene de Dios y sólo de Dios; porque sólo Él puede renovar nuestra vida. Se nos invita a aceptar la oportunidad de una vida nueva que el perdón de Dios nos ofrece porque “el cristiano que ha pecado pero que se arrepiente no tiene ya nada del pasado; si se convierte, es un hombre nuevo en un mundo nuevo, y helo ahí capaz de reemprender su actividad de rescatado: alabar al Señor”8.
En fin, aquí se juega el drama de la fe, que es ante todo una confianza ilimitada y una esperanza total en Su Amor Misericordioso. Y esta fe nos invita a dirigir nuestra mirada al futuro con gran esperanza porque Dios está también allí. Esta Esperanza puede disipar el miedo, tan natural en nosotros, que nos paraliza y nos impulsa a volver atrás sin poder continuar el camino de la vida cristiana; porque esta “esperanza teologal” purifica nuestra memoria para que dejemos definitivamente atrás nuestro pasado de pecado y peregrinemos confiados hacia el encuentro con el Señor Resucitado.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Aquel amanecer
Cuéntanos Señor de aquel amanecer
Cuando en el templo reinaba el silencio
Y poco a poco interrumpió tu oración
El bullicio de la condena y el juicio
Ellos, con amenazas y piedras,
El pecador pagaba el precio,
Tú leías el corazón de todos
Y escribías en el suelo
Que palabras formaban esas letras
Del dedo de Dios en su silencio
De pronto ella encontró tu mirada
Y supo del morir, de sentirse condenada
Su corazón herido, se llenaba de esperanza
No entendió cómo, pero agachó la cabeza
Escucho a Dios hablar, concluir la escena
Y se quedó de pie viendo a los demás
Arrojar al piso las piedras
Había llegado sin quererlo,
La salvación a su vida, a su casa
Y cayó a tus pies sin remedio
Totalmente enamorada
Alcáncenos hoy así, Señor, tu Misericordia
Rasgue nuestro corazón y lo sane
Llénenos tu Amor de los amores
A tus brazos nos arroje, y nos salve. Amén
8 A. Nocent, Celebrar a Jesucristo III. Cuaresma, 168.