30/10/2022
(Em 2025 cede lugar à comemoração de Finados)
1ª Leitura: Sabedoria 11,22-12,2
Salmo 144(145) – R- Bendirei eternamente vosso nome; para sempre, ó Senhor, o louvarei!
2ª Leitura: 2ª Tessalonicenses 1,11-2,2
Evangelho: Lucas 19,1-10
Tendo entrado em Jericó, Jesus estava passando pela cidade. 2 Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos publicanos e muito rico. 3 Ele procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causada multidão, pois era baixinho.4 Então ele correu à frente e subiu numa árvore para ver Jesus, que devia passar por ali. 5 Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. 6 Ele desceu depressa, e o recebeu com alegria. 7 Ao verem isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Foi hospedar-se na casa de um pecador!” 8 Zaqueu pôs-se de pé, e disse ao Senhor: “Senhor, a metade dos meus bens darei aos pobres, e se prejudiquei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. 9 Jesus lhe disse: “Hoje aconteceu a salvação para esta casa, porque também este é um filho de Abraão. 10Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.
Lc 19,1-10
Entre a multidão, do alto de uma figueira, Zaqueu queria ver Jesus. Ele não sabia como a sua vida seria mudada. Não podia suspeitar que o seu desejo de ver Jesus e a sua curiosidade iriam provocar uma mudança radical e definitiva em sua vida.
Quando chegou ao lugar, Jesus olhou para cima e viu Zaqueu. Sabe que Zaqueu o procura; dirige-lhe a palavra; faz-se convidar para ir a sua casa. Jesus sabe recompensar quem o busca com sinceridade de coração.
A hospitalidade, ativa e pronta, de Zaqueu é transformada em uma promessa; a alegria se transformou em generosidade. Ele ouve as críticas maldosas; talvez sejam até justas e merecidas! Mas a sua disponibilidade em acolher Jesus se torna motivo de sua conversão verdadeira e profunda.
O encontro de Zaqueu com Jesus é uma chave de leitura da vida cristã. A nossa conversão só é possível porque Jesus vem a nosso encontro. É o encontro com Ele que provoca a nossa conversão.
Sabemos que a riqueza de Zaqueu provinha de seu ofício, desempenhado sem escrúpulos. Os romanos davam em arrendamento (concessão) a cobrança de impostos sem exigir outra coisa a não ser o pagamento da quantidade estipulada. Um chefe de cobradores de impostos tinha mais ocasião para se enriquecer às custas de fraudes e abusos. Evidentemente ele não defraudava os romanos e o fisco, mas os cidadãos pobres.
Zaqueu desejava ver Jesus. Sua curiosidade não era meramente superficial. De alguma maneira ele devia, há tempos, como Herodes, se perguntar quem era esse homem.
É uma ironia fina a cena do homem rico e muito baixinho, que sobe numa árvore. Essa cena ganha força, quando Jesus é obrigado a olhar para cima para conversar com Zaqueu. Jesus o chama pelo nome, como um velho conhecido, como se tivesse vindo para a cidade para fazer-lhe uma visita.
Zaqueu obedece com prontidão e com alegria. Afinal era uma honra receber Jesus, mas isso provoca a reação de outros: “Esse homem come com os pecadores”, é o comentário de uma outra perícope.
Zaqueu devolve o dobro do que a Lei exige (Ex 22,4: “Se um animal roubado – boi, jumento ou ovelha – for encontrado vivo nas mãos do ladrão, este devolverá tudo em dobro”). Zaqueu dá a metade dos seus bens aos pobres como forma de expiação. Diferente do que foi pedido ao jovem rico, Zaqueu não precisa se desprender de tudo para seguir Jesus, pois não foi chamado para isso.
31°DomTC – Lc 19,1-10 - Ano C – 30-10-22
“Então, ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali” (Lc 19,4)
O Evangelho revela um mundo povoado por encontros e desencontros, numa rica variedade. Jesus se encontra com amigos e opositores, ricos e pobres, homens e mulheres, indivíduos, grupos e multidões, Deus, seu Pai. Algumas vezes é Ele quem toma a iniciativa para o encontro, e outras vezes são os outros que o encontram, pois já o estavam buscando ou se cruzam com ele casualmente.
Seus encontros e desencontros tem lugar no interior das casas, nas sinagogas e inclusive no templo, mas também no caminho e ao ar livre, no campo e à beira-mar, andando, sentado, de pé, numa barca ou num monte. O lugar de encontros e desencontros acaba sendo a vida, e nenhum de seus espaços fica à margem. Jesus se encontra e se deixa encontrar a partir de carências humanas, necessidades e desejos, insatisfações, marginalizações e irregularidades.
Jesus, com sua presença inspiradora e provocativa, transforma os espaços de encontro, mudando seu sentido, de forma que qualquer lugar é lugar adequado para estar com Ele, ao seu lado ou à sua frente.
Os encontros, além disso, são progressivamente inclusivos e reveladores do ser humano: quem se encontra com Jesus ou é encontrado por Ele fica a descoberto, desvela seu interior e mostra quem é no fundo de si mesmo. Por outro lado, os encontros contribuem também para clarificar a identidade de Jesus. Revelam quem e como é Jesus. E desvelam quem é e como é cada um.
Essa é a nossa vocação enquanto seguidores(as) de Jesus: converter a “indiferença” em “encontro”, o diferente em convidado, o estranho em amigo, e criar o espaço livre e sem medo, no qual a fraternidade pode ser experimentada em plenitude.
Na realidade, aqui se trata de um movimento expansivo onde se dá a travessia da indiferença ao encontro. Tal passagem é repleta de dificuldades: nossa sociedade é marcada pela presença de pessoas temerosas, defensivas e agressivas, agarrando-se ansiosamente ao seu modo fechado de viver, inclinadas a olhar ao redor com suspeitas, sempre à espera de que um inimigo apareça de repente e cause algum dano.
A indiferença e a hostilidade campeiam nas redes sociais e a xenofobia circula como um veneno: daí a agressividade preconceituosa no campo político-social-religioso-racial-sexual.
De fato, ultimamente, os “estranhos” e “diferentes” tornaram-se mais sujeitos à hostilidade do que à hospitalidade: protegemos nossas casas com cães e trancas duplas, nossos edifícios com vigilantes, nossos colégios com guardas, nossas estradas com policiais, nossos aeroportos com seguranças, nossas cidades com polícia armada.
Nosso coração pode querer ajudar os outros e mostrar simpatia para com os pobres, solitários, rejeitados, minoritários...: no entanto, rodeamo-nos com um muro de medo e de sentimentos hostis, evitando instintivamente pessoas e lugares que possam nos lembrar de nossas boas intenções.
Em um mundo tão competitivo, mesmo pessoas próximas, como colegas de classe, de equipe, de trabalho, todos podem ficar infectados pelo ódio e pela hostilidade quando sentem o outro como uma ameaça à sua segurança pessoal.
Muitas vezes, instituições criadas para oferecer espaço e tempo propícios para o desenvolvimento dos encontros hospitaleiros (família, escola, religião...), tornam-se tão dominadas pelo “defensismo” hostil que acabam atrofiando e bloqueando o melhor que cada pessoa traz em seu coração.
Encontro hospitaleiro não é mudar as pessoas, mas oferecer a elas um espaço no qual a mudança pode acontecer. Não é trazer homens e mulheres para o nosso círculo, mas oferecer uma liberdade sem as amarras de linhas divisórias. A hospitalidade não é um convite sutil para adotar o estilo de vida do anfitrião, mas a dádiva de uma chance para que o hóspede descubra o seu próprio estilo.
Vamos contemplar uma cena típica de encontro, no evangelho de Lucas deste domingo. Os protagonistas da cena, Jesus e Zaqueu, são duas pessoas completamente diferentes entre si, diametralmente opostas; porém, procuram-se mutuamente.
O encontro de ambos acontece na estrada, onde caminham, onde ocorrem os acontecimentos do dia a dia, onde a vida transcorre, onde passam os dias e os anos.
A agitação, a pressa e o entusiasmo, com os quais se pôs à procura do Mestre, eram a clara demonstração de que surgira em Zaqueu uma estranha inquietude. O nome e a pessoa de Jesus tiraram o véu que encobria o vazio de seu coração, a solidão na qual se encontrava, a insignificância de seus próprios dias.
Para saber “quem é Ele” é preciso sair da multidão; Zaqueu não fica constrangido em subir nos galhos de uma árvore e aguardar; este seu gesto abre possibilidade para que Jesus o veja, o chame pelo nome e o convide a descer depressa, pois deseja ficar em sua casa. Situar-se sobre os galhos pode ser um bom ponto de partida para iniciar um encontro. Mas, Zaqueu não pode permanecer aí; é como se Jesus dissesse: “Não fique aí, acima dos outros, no alto de sua vaidade! desça até às raízes de sua vida! o decisivo acontece nas profundezas de sua casa interior; descerei com você para cearmos juntos”.
Um convite que desfaz os medos e as culpas de quem se sabe pecador e que abre um espaço de esperança, permitindo-lhe uma mudança de vida. Não há no relato nenhuma palavra de condenação e sim uma certa urgência em “descer depressa”. Jesus não quer desperdiçar a oportunidade de viver um encontro com aquele que não podia encontrar-se com ninguém, pois era um explorador. Também Zaqueu não desperdiçou a oportunidade e recebeu Jesus com alegria em sua casa.
Em Zaqueu aconteceu uma mudança de perspectiva decisiva, radical. Anteriormente contemplava os outros a partir dos galhos do próprio ego. Agora ele não está mais sozinho e não se sente mais uma pessoa insignificante. O olhar do Mestre de Nazaré encheu-lhe o coração; a sua casa não está mais vazia; a tristeza não o sufoca mais.
Finalmente, ele descobriu a luz de um olhar e experimentou a ternura de ser procurado e amado. Não foi preciso que Jesus dissesse muitas coisas a Zaqueu para que este encontrasse um tesouro em seu interior, muito maior que todas as riquezas acumuladas; seus desejos desordenados ficam polarizados por aquele hóspede inesperado que vai transformar daí em diante sua vida: compartilhar o que tem com os pobres e devolver com medida generosa aquilo que roubou. O encontro com Jesus faz Zaqueu alargar seu espaço interior para se encontrar com os outros; ou melhor, amplia seu coração para deixar os outros entrarem em sua vida. Um encontro que desencadeia outros encontros.
Zaqueu, um personagem instigante em quem nos vemos; seu modo de proceder des-vela atitudes de todos nós. Quem de nós não precisou afastar-se da multidão e subir a um lugar mais alto para poder ver por cima dos obstáculos? Há sempre em nossa vida momentos nos quais, por algum motivo, queremos “ver mais além”, ampliar nossos horizontes, sair de nossos espaços estreitos e rotineiros. Há muitas coisas que nos impedem sonhar mais alto, respirar novos ares, ativar o espírito de busca... Precisamos fazer alto diferente, sermos mais ousados e criativos...
Os galhos de uma árvore podem oferecer uma visão mais ampliada da realidade, do contexto social, mas não podemos permanecer aí; é preciso descer ao chão da vida; no meio dos galhos não há possibilidade de viver a acolhida e o compromisso com o outro. Situar-nos sobre os galhos não pode ser uma atitude permanente. Alguém, lá de baixo, nos apela: “Desça depressa, pois hoje devo ficar em sua casa!”.
Para meditar na oração:
Todo encontro transformador implica “troca de olhar”.
Olhar para Jesus provoca, convoca, exige descer dos galhos da acomodação, da “zona de conforto” e tomar posição. Olhar para Ele e ser por Ele olhado implica disposição, exposição, compromisso para com a mudança. Nada estático, intimista, mas dinâmico, impulsionador de nova vida, novos envios, nova missão.
- “Desça, acompanhado(a), à raízes de sua vida”: quais as verdadeiras “riquezas” ali escondidas?
Situando
Estamos chegando ao fim da longa viagem que começou no capítulo 9. Durante a viagem, não se sabia bem por onde Jesus andava. Só se sabia que ele ia em direção a Jerusalém. Agora, no fim, a geografia fica clara e definida. Jesus chega a Jericó, a cidade das palmeiras, no vale do Jordão. Última parada antes de o peregrino chegar em Jerusalém! Foi em Jericó que terminou a longa caminhada do êxodo de 40 anos pelo deserto. O êxodo de Jesus também está terminando.
Na entrada de Jericó, Jesus encontra um cego que queria ver (Lc 18,35-43). Agora, atravessando a cidade, ele encontra Zaqueu, um publicano, que queria vê-lo. Um cego e um publicano. Os dois eram excluídos. Os dois incomodavam o povo: o cego com seus gritos, o publicano com seus impostos. Os dois são acolhidos por Jesus, cada um a seu modo.
Comentando
1. Lucas 19,1-2: A situação
Jesus entra em Jericó e atravessa a cidade. “Havia ali um homem, chamado Zaqueu, muito rico, chefe dos publicanos”. Publicano era o que cobrava o imposto público sobre a circulação da mercadoria. Zaqueu era o chefe dos publicanos da cidade. Sujeito rico e muito ligado ao sistema de dominação dos romanos. Os judeus mais religiosos argumentavam assim: “O rei do nosso povo é Deus. Por isso, a dominação romana sobre nós é contra Deus. Quem colabora com os romanos peca contra Deus!” Assim, soldados que serviam no exército romano e cobradores de impostos, como Zaqueu, eram excluídos e evitados como peca- dores e impuros.
2. Lucas 19,3-4: Atitude de Zaqueu
Zaqueu quer ver Jesus. Sendo pequeno, corre na frente, sobe numa árvore e aguarda Jesus passar. É muita vontade de ver Jesus! Anteriormente, na parábola do pobre Lázaro e do rico sem nome, Jesus fez ver como é difícil um rico se converter. Aqui aparece o caso de um rico que não se fecha na sua riqueza. Zaqueu quer algo mais. Quando um adulto, pessoa de destaque na cidade, trepa numa árvore, é porque já nem liga para a opinião dos outros. Algo mais importante o move por dentro. Ele está querendo abrir a porta para o pobre Lázaro.
3. Lucas 19,5-7: Atitude de Jesus, reação do povo e de Zaqueu
Chegando perto, Jesus não pergunta nem exige nada. Apenas responde ao desejo do homem e diz: “Zaqueu, desça depressa! Hoje devo ficar em sua casa!” Zaqueu desceu e recebeu Jesus em sua casa, com muita alegria. Todos murmuravam: “Foi hospedar-se na casa de um pecador!” Lucas salienta que todos murmuravam! Isto significa que Jesus estava ficando sozinho na sua atitude de dar acolhida aos excluídos, sobretudo aos colaboradores do sistema. Mas Jesus não se importa com as críticas. Ele vai à casa de Zaqueu e o defende contra as críticas. Em vez de pecador, o chama de “filho de Abraão” (Lc 19,9).
4. Lucas 19,8: Decisão de Zaqueu
“Dou a metade dos meus bens aos pobres e restituo quatro vezes o que roubei!” Esta é a conversão, produzida em Zaqueu pela acolhida que Jesus lhe deu. Restituir quatro vezes era o que a lei mandava em alguns casos (Ex 21,37; 22,3). Dar a metade dos bens aos pobres é a novidade que o contato com Jesus nele produziu. Era a partilha acontecendo de fato!
5. Lucas 19,9-10: Palavra final de Jesus
“Hoje, a salvação entrou nesta casa, porque ele também é um filho de Abraão!” A interpretação da Lei pela Tradição antiga excluía os publicanos da raça de Abraão. Jesus diz que veio procurar e salvar o que estava perdido. O Reino é para todos. Ninguém pode ser excluído. A opção de Jesus é clara, seu apelo também: não é possível ser amigo de Jesus e continuar apoiando um sistema que marginaliza e exclui tanta gente. Denunciando as divisões injustas, Jesus abre o espaço para uma nova convivência, regida pelos novos valores da verdade, da justiça e do amor.
Alargando
1. Filho de Abraão. Através da descendência de Abraão, todas as nações da terra serão benditas (Gn 22,18; 12,3). Para as comunidades de Lucas, formadas por cristãos de origem judaica e também de origem pagã, esta afirmação de Jesus era muito importante. Nela encontravam a confirmação de que, em Jesus, Deus estava cumprindo as promessas feitas a Abraão e que se dirigiam tanto aos judeus como aos gentios. Estes são também filhos de Abraão e herdeiros das promessas.
2. Jesus acolhe os que não eram acolhidos. Oferece lugar aos que não tinham lugar. Recebe como irmão e irmã as pessoas que a religião e o governo excluíam e rotulavam como:
• imorais: prostitutas e pecadores (Mt 21,31-32; Mc 2,15; Lc 7,37-50; Jo 8,2-11);
• hereges: pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10; 17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42);
• impuras: leprosos e possessos (Mt 8,2-4; Lc 17,12-14; Mc 1,25-26);
• marginalizadas: mulheres, crianças e doentes (Mc 1,32; Mt 8,16; 19,13-15; Lc 8,2-3);
• pelegos: publicanos e soldados (Lc 18,9-14; 19,1-10);
• pobres: o povo da terra e os pobres sem poder (Mt 5,3; Lc 6,20; Mt 11,25-26).
3. Jesus não só acolhe as vítimas da exclusão mas, também, ataca as causas. Com palavras e gestos ele ignora ou denuncia as divisões existentes entre:
• Próximo e não-próximo.
Para Jesus, próximo é todo aquele de quem a gente se aproxima (Lc 10,29-37).
• Judeu e estrangeiro.
Jesus atende ao pedido do centurião (Lc 7,6-10) e da cananeia (Mt 15,21-28).
• Santo e pecador.
Jesus acolhe Zaqueu (Lc 19,1-10) e se confraterniza com os pecadores (Mc 2,15-17).
• Puro e impuro.
Jesus critica as muitas leis e declara puros todos os alimentos (Mc 7,1-23).
• Obras santas e profanas.
Jesus ensina um novo jeito de fazer esmola, oração e jejum (Mt 6,1-18).
• Tempo sagrado e profano.
Jesus coloca o sábado a serviço do ser humano (Mc 2,27; Jo 7,23).
• Lugar sagrado e profano.
Jesus critica o Templo e adora a Deus em qualquer lugar (Jo 4,21; 2,19).
• Rico e pobre.
Jesus critica os ricos e ensina que não é possível servir a dois senhores (Lc 16,13).
*Este subsídio foi retirado do livro O avesso é o lado certo.
Lucas narra o episódio de Zaqueu para que os seus leitores descubram melhor o que podem esperar de Jesus: o Senhor que invocam e seguem nas comunidades cristãs «veio procurar e salvar o que estava perdido».
Ao mesmo tempo, o seu relato da atuação de Zaqueu ajuda a responder à pergunta que não poucos levam no seu interior: Todavia posso mudar? Não é já demasiado tarde para refazer uma vida que, em boa parte, deixei perder? Que passos posso dar?
Zaqueu é descrito com dois traços que definem com precisão a sua vida. É «chefe de publicanos» e é «rico». Em Jericó todos sabem que é um pecador. Um homem que não serve a Deus mas sim ao dinheiro. A sua vida, como tantas outras, é pouco humana.
No entanto, Zaqueu «procura ver Jesus». Não é mera curiosidade. Quer saber quem é, que se encerra neste Profeta que tanto atrai as pessoas. Não é tarefa fácil para um homem instalado no seu mundo. Mas este desejo de Jesus vai mudar a sua vida.
O homem terá que superar diferentes obstáculos. É «baixo de estatura», sobre tudo porque a sua vida não está motivada por ideais muito nobres. As pessoas são outro impedimento: terá que superar preconceitos sociais que lhe tornam difícil o encontro pessoal e responsável com Jesus.
Mas Zaqueu prossegue a sua procura com simplicidade e sinceridade. Corre para se adiantar à multidão, e sobe a uma árvore como uma criança. Não pensa na sua dignidade de homem importante. Só quer encontrar o momento e o lugar adequado para entrar em contacto com Jesus. Quer vê-Lo.
É então quando descobre que também Jesus o está a procurar pois chega até àquele lugar, procura-o com o olhar e diz: «O encontro será hoje mesmo na tua casa de pecador». Zaqueu desce e recebe-o em sua casa, cheio de alegria. Há momentos decisivos em que Jesus passa pela nossa vida porque quer salvar o que nós estamos a deitar a perder. Não os devemos deixar escapar.
Lucas não descreve o encontro. Só fala da transformação de Zaqueu. Muda a forma de ver a vida: já não pensa só no seu dinheiro mas no sofrimento dos outros. Muda o seu estilo de vida: fará justiça aos que explorou e partilhará os seus bens com os pobres.
Mais tarde ou mais cedo, todos corremos o risco de nos «instalarmos» na vida renunciando a qualquer aspiração de viver com mais qualidade humana. Os crentes temos de saber que um encontro mais autêntico com Jesus pode fazer a nossa vida mais humana e, sobretudo, mais solidária.
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez Perez
Jesus alerta com frequência sobre o risco de ficar preso pela atração irresistível ao dinheiro. O desejo insaciável de bem-estar material pode deitar a perder a vida de uma pessoa. Não faz falta ser muito rico. Quem vive escravo do dinheiro acaba encerrado em si mesmo. Os outros não contam. Segundo Jesus, “onde estiver o vosso tesouro, ali estará o vosso coração.
Esta visão do perigo desumanizador do dinheiro não é um recurso do Profeta indignado de Galileia. Diferentes estudos analisam o poder do dinheiro como uma força ligada a pulsões profundas de autoproteção, busca de segurança e medo da caducidade da nossa existência.
No entanto, para Jesus, a atração do dinheiro não é uma espécie de doença incurável. É possível liberar-se da sua escravidão e começar uma vida mais sã. O rico não é “um caso perdido”. É muito esclarecedor o relato de Lucas sobre o encontro de Jesus com um homem rico de Jericó.
Ao atravessar a cidade, Jesus encontra-se com uma situação curiosa. Um homem de pequena estatura subiu a uma figueira para poder vê-Lo de perto. Não é desconhecido. Trata-se de um rico, poderoso “chefe de cobradores”. Para as pessoas de Jericó, um ser desprezível, um cobrador corrupto e sem escrúpulos como quase todos. Para os setores religiosos, “um pecador” sem conversão possível, excluído de toda a salvação.
No entanto, Jesus faz-lhe uma proposta surpreendente: “Zaqueu, baixa de seguida porque tenho que alojar-me em tua casa”. Jesus quer ser acolhido em sua casa de pecador, no mundo de dinheiro e de poder deste homem desprezado por todos. Zaqueu baixou de seguida e recebeu-O com alegria. Não tem medo de deixar entrar na sua vida o Defensor dos pobres.
Lucas não explica o que sucedeu naquela casa. Só diz que o contacto com Jesus transformou radicalmente o rico Zaqueu. O seu compromisso é firme. Em diante pensará nos pobres: partilhará com eles os seus bens. Recordará também as vítimas de que abusou: devolverá com juros o que roubou. Jesus introduziu na sua vida justiça e amor solidário.
O relato conclui com umas palavras admiráveis de Jesus: “Hoje entrou a salvação nesta casa. Também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. Também os ricos se podem converter. Com Jesus tudo é possível. Ninguém o deve esquecer. Ele veio para procurar e salvar o que nós podemos estar a deitar a perder. Para Jesus não há casos perdidos.
1. Domingo passado o tema era a oração, domingo próximo é a riqueza.
2. Domingo passado já fizemos referência a Zaqueu, na reflexão do tipo de oração que os cobradores de imposto fazem.
3. Lucas é o evangelista que mais aprofunda o tema da riqueza. Por que?
4. Todas as comunidades eram pobres, mas a riqueza estava presente e era fruto da injustiça e dominação.
5. Os grandes sociólogos pensam que a amor das primeiras comunidades mudou quando o número dos ricos aumentou e começou a mandar nas comunidades.
6. Por isso a riqueza não é um mal, mas um perigo quando é usada só para nós próprios.
7. Zaqueu era um cobrador de impostos, pessoa considerada impura, pessoa pela qual não havia esperança de salvação, de conversão; os cobradores era pessoas que desobedeciam a todos os mandamentos. Por isso era impossível o perdão de Deus.
8. Mas se o amor de Deus é para todos, então será também para os ricos?
9. A opção de Jesus para os marginalizados parece injusta, mas não é assim. Jesus faz sua proposta a todos. Só que no entanto que os pecadores, os excluídos a entendem logo (os pastores são os primeiros), os outros que deviam entender logo esta proposta, não só não a entendem, mas a combatem.
10. Não é Jesus que os excluí. São eles que excluem Jesus.
11. Assim aconteceu com o jovem rico. Jesus lhe disse: se queres crescer, libera-te de todo capital que tem, vem e segue-me. O jovem queria seguir Jesus, mas queria manter-se o capital. Portanto não é Jesus que elimina uma categoria a favor de outra. Jesus faz uma proposta de amor.
12. Jesus foi almoçar na casa de Zaqueu.
13. Nas refeições não havia presença de mulheres, havia só homens.
14. Se aceitava somente pessoas que davam certeza de pureza ritual porque se comia todos num só prato e todo o prato tornava-se impuro se alguém impuro comia no mesmo prato.
15. Por isso Jesus se torna impuro porque come com os pecadores públicos.
16. A riqueza para Lucas é sempre desonesta por vários motivos, especialmente pelo jeito com que foi acumulada e pelo fato de não a repartir.
17. Por isso Lucas é o único evangelista que entre as condições para seguir Jesus coloca também a renúncia dos próprios bens.
18. A parábola do rico avarento e pobre Lázaro mostra como é difícil o rico se compadecer do pobre (Lc 16,19-31).
19. No mesmo evangelho de Lucas se fala de como é difícil para quem tem riqueza entrar no Reino de Deus. E para isso Jesus fala do camelo que quer passar pelo fundo da agulha.
20. O mesmo Jesus disse que não podemos servir a Deus e ao dinheiro. (Lc 16,13).
21. O conflito entre pobres e ricos devia ser muito forte na igreja primitiva pela história do pobre Lázaro e do rico avarento (Lc 16,19-21).
22. Por isso a igreja primitiva cantava com Maria uma ação de graças porque Deus manda os ricos embora de mãos vazias e sacia os famintos. (Lc 01,52).
23. Mas há salvação para todos, também para os ricos.
24. Zaqueu que devolve aos pobres o que roubou e é modelo para os ricos de todos os tempos. (Lc 19,1-10).
25. Por isso o evangelho é a boa nova para todos os excluídos, inclusive os ricos.
26. Qual é o pai que ao filho que lhe pede pão lhe dá uma cobra?
27. Quem vive só para si não vive a comunhão com o próximo nem com Deus.
28. O rico é quem guarda para si e não partilha com os outros.
29. Quem vive assim torna-se impuro e torna impuros os outros.
30. Para Lucas os ricos são doentes terminais de egoísmo para o quais não tem esperança de salvação.
31. O rico é uma criança que não cresceu e quer tudo para si. Cresceu, mas não aprendeu a comungar com os outros.
32. O mesmo Lucas no livro dos Atos dos apóstolos 20,35 diz que é mais feliz quem dá do quem recebe.
33. A felicidade não consiste naquilo que se tem, mas naquilo que se doa, não naquilo que se recebe dos outros, mas daquilo que se oferece aos outros.
34.A única que levamos na morte é o bem que fizemos para os outros.
35. No mesmo Lucas encontramos que a boa nova é alegria para os pobres (Lucas 4,18-20), mas é desgraça para os ricos (Lucas 6,20-26).
DOMINGO XXXI DURANTE EL AÑO – CICLO "C"
1ra. Lectura (Sab 11,22-12,2):
En esta sección del libro de la Sabiduría el autor desarrolla el argumento de la relación entre la omnipotencia y la misericordia de Dios . En Sab 11,21-22 compara la omnipotencia y grandeza de Dios con la impotencia y pequeñez de la creación que aparece ante la misma como un grano de polvo o una gota de rocío.
En Sab 11,23-12,1 desarrolla el tema de la misericordia de Dios, quien ama su obra, la creación, y trata con bondad y paciencia a los hombres pecadores. Esta benignidad de Dios para con el hombre tiene por finalidad su recuperación, su conversión.
La novedad del texto está en la fundamentación de la misericordia divina en su poder. Luego de presentar la grandeza y omnipotencia divina se esperaría como consecuencia el juicio condenatorio del hombre pecador. Sin embargo, se sigue una actitud compasiva, que cierra los ojos a los pecados esperando la conversión. En breve, el amor compasivo y misericordioso de Dios para con sus criaturas no es signo de debilidad, sino manifestación suprema de su poder, de su señorío sobre toda la creación. La liturgia ha expresado esta idea en la oración colecta del domingo XXVI del tiempo ordinario: "Oh Dios, que manifiestas especialmente tu poder con el perdón y la misericordia…".
Como dice H. U. von Balthasar : "la admirable sabiduría de este libro veterotestamentario se encuentra en la declaración de que Dios ama a todos los seres y por eso sólo castiga a los pecadores por amor y para propiciar su conversión al amor".
Evangelio (Lc 19,1-10):
La escena tiene lugar en Jericó, ciudad que Jesús está atravesando de camino hacia Jerusalén. Jericó fue la puerta de ingreso a la tierra prometida de los israelitas salidos de Egipto y conducidos entonces por Josué (cf. Jos 6,1-21). Es una especie de oasis antes de recorrer los últimos 25 kilómetros del desértico camino que sube a Jerusalén.
Luego de nombrar a Jesús, se nos presenta enseguida el otro personaje central dando su nombre: Zaqueo; su profesión: jefe de los cobradores de impuestos o publicanos (ἀρχιτελώνης); y su estatus social: rico. Ya vimos el domingo pasado la connotación negativa de esta profesión de publicano, con el agravante ahora de que se trata del jefe de los mismos. El mismo relato confirma esto con la valoración de la gente en el v. 7: "se va a alojar en casa de un pecador". A esto debemos sumarle su condición de rico y la insistencia de Lucas en que las riquezas representan un obstáculo para la recepción del Reino de Dios. Recordemos los casos del "rico Epulón" (16,19) y del hombre rico que se va entristecido (18,23); o el "¡Ay de ustedes los ricos!" en 6, 24; la necedad del campesino rico que proyecta llenar sus graneros (12,16); y la afirmación: "¡Qué difícil será para los ricos entrar en le Reino de Dios! Sí, es más fácil que un camello pase por el ojo de una aguja, que un rico entre en el Reino de Dios" (18,24-25).
Ahora bien, más allá de su condición de pecador-rico, Zaqueo busca ver a Jesús. El texto no especifica si se trata de mera curiosidad o de algo más profundo. Sólo indica que su decisión era firme pues como se lo impedía la multitud por ser de baja estatura, no duda en correr hacia él y treparse a un árbol para poder verlo. F. Bovon nos dice que el verbo "buscar" (zhtw/) "es importante en Lucas y puede designar la búsqueda de la verdad, de la salud, del sentido de la vida o de la salvación" . Retengamos entonces, junto a la valoración social y moral negativa de Zaqueo como jefe de publicanos, está su actitud positiva y decidida de búsqueda de Jesús.
Zaqueo sube (ἀναβαίνω; anabainō) a un árbol para ver a Jesús. Lo sorprendente es que cuando Jesús pasa por allí levanta la vista y llamándole por su nombre le pide que baje (καταβαίνω; katabainō) pronto. El motivo de esta orden es que Jesús quiere alojarse, quedarse "hoy" en su casa. La expresión verbal dei/ que se traduce por "es conveniente" o "tengo que" alojarme es típicamente lucana y se refiere a la voluntad de Dios que Jesús debe cumplir. Suele referirse a sucesos que deben ocurrir o acciones que Jesús debe realizar porque están determinadas por el Padre. El ejemplo más claro son las referencias a la necesidad de la pasión de Cristo (cf. 9,22; 17,25; 22,37; 24,7.44). Por tanto, el sentido de la frase de Jesús sería: es la voluntad del Padre que hoy me quede contigo, en tu casa; así lo quiere Él.
Notemos que hay algo muy llamativo en esta narración: de entre toda la multitud Jesús fija su mirada nada más y nada menos que en Zaqueo, un pecador, un rico deshonesto; al menos en la opinión de sus vecinos. Y le pide que baje y que lo reciba en su casa.
Zaqueo responde con prontitud y lo recibe con alegría. Esta actitud alegre contrasta con la del hombre rico que se fue entristecido de Lc 18,23. Podemos suponer en Zaqueo una mezcla de sentimientos que van desde la alegre sorpresa hasta un cierto orgullo ya que Jesús lo miró a él y eligió su casa para alojarse. Recordemos que por su profesión era un marginado religioso; y por su baja estatura acababa de sufrir una nueva marginación.
La reacción de la gente es la murmuración, que va dirigida a Jesús por ir a alojarse a la casa de un pecador. Por tanto, el juicio de la gente desfavorable para con Zaqueo – un pecador – se extiende ahora en cierto modo al mismo Jesús. Notemos que en la Biblia el murmurar (verbo diagoggu,zw) es la reacción de los hombres cuando Dios obra más allá y diversamente de las categorías y expectativas humanas. Puntualmente en Lucas, la murmuración se origina ante la predilección de Jesús por los pecadores (cf. Lc 5,30; 15,2; 19,7).
Zaqueo responde afirmando su intención (¿o su costumbre?) de compartir sus bienes con los pobres y de hacer una reparación concreta por el mal cometido . Se trata de una declaración solemne, hecha ante el Señor, y también ante la comunidad presente. Notemos que se dirige ahora a Jesús llamándolo "Señor" (ku,rie), título cristológico con sentido fuerte que implica ya una confesión de fe. Sin duda algo ha cambiado en él, se ha convertido, ha sido transformado por el encuentro con Jesús, el Señor. Y su conversión tiene una verdadera dimensión social por cuanto cambia su relación con los demás y no admite dilaciones: ya mismo dará la mitad de sus bienes a los pobres y compensará con el cuádruple a quienes haya perjudicado. Ambas acciones van más allá de lo debido y mandado por la Ley. En general la limosna generosa podía llegar al 20 % de las riquezas; y aquí se compromete a dar el 50 %. Y la restitución en general se limitaba a la totalidad de lo robado (Ex 22,2: “El ladrón está obligado a restituir la totalidad de lo robado; si no dispone de medios para hacerlo, deberá ser vendido para compensar por su robo”); salvo en el caso de algunos animales necesarios para subsistir donde depende si ya se los vendió o sacrificó (Ex 21,37: “Si alguien roba un buey o una oveja y lo sacrifica o lo vende, deberá restituir cinco animales del ganado mayor por un buey y cuatro animales del ganado menor por una oveja”); o si se encuentran todavía con vida (Ex 22,3: “Si lo robado –un buey, un asno o una oveja– se encuentra vivo en su poder, tendrá que restituir el doble”).
Más allá de la cantidad, lo cierto es que Zaqueo ha visto a Jesús y ahora también "ve" que hay pobres para socorrer, para compartir con ellos su riqueza. "Ve" también que tiene que reparar a los que ha dañado o perjudicado con su conducta corrupta.
Los grandes obstáculos para seguir a Jesús, el pecado y el afán de riquezas, son superados por este hombre que se siente "tocado" por la visita de Dios a su vida.
La frase final de Jesús es la conclusión teológica de todo el relato y, según algunos, la "quintaesencia" del evangelio de Lucas: "Hoy ha llegado la salvación a esta casa, ya que también este hombre es un hijo de Abraham, porque el Hijo del hombre vino a buscar y a salvar lo que estaba perdido".
Con Jesús llega la salvación del hombre, en este caso de un israelita quien recupera su dignidad de hijo de Abraham, de miembro del pueblo elegido, que había perdido. Y esta es la misión de Jesús que manifiesta la voluntad del Padre: buscar y salvar lo que estaba perdido. Aquí la búsqueda de Jesús se expresa con el mismo verbo que en 19,3 (zhtw/) indicando que al final el buscado era Zaqueo. Además, esta expresión nos inclina a favor de la conversión de Zaqueo, pues se lo considera como alguien que estaba de verdad "perdido", más allá de la condena social.
ALGUNAS REFLEXIONES:
Para comenzar, P. Tena nos avisa que con el evangelio de este domingo se concluye la sección del camino hacia Jerusalén que comenzamos a leer en el domingo 13 durante el año. Y nos sugiere, entonces, hacer "una especie de repaso y síntesis de todo lo que han sido los grandes temas de Lucas durante este largo período de lectura" . En mi opinión, si hacemos un balance de este recorrido nos queda como evidente que Jesús camina buscando el encuentro con las personas, especialmente los considerados como alejados de Dios, los publicanos, los enfermos (leprosos), para ofrecerles la misericordia y la salvación de Dios.
Por tanto, si bien F. Bovon nos dice que el evangelio de hoy es: "Una historia en la que se entrecruzan o entrelazan mil temas lucanos: el viaje, la riqueza, el deseo de ver, la inversión de valores, el encuentro, el hoy de la salvación, la identidad y la misión de Jesús"; conviene centrarnos en el encuentro entre los dos personajes principales: Jesús y Zaqueo; y la dinámica narrativa del mismo que es la revelación progresiva de la identidad profunda de ambos . La cuestión podría expresarse así: ¿quién es Zaqueo y quién es Jesús antes y después de encontrarse?
Zaqueo busca ver a Jesús para saber quién es. Y al descubrir quién es Jesús, también se descubre a sí mismo. En efecto, Zaqueo aparece en primer lugar como jefe de los publicanos y como un hombre rico (condición social). Además, aparece como bajo de estatura, petizo (condición física). La gente lo clasifica como pecador (condición religiosa). Jesús, por el contrario, lo declara digno de ser visitado por Dios y salvado por ser "hijo de Abraham".
Luego del encuentro con Jesús, Zaqueo aparece como un cristiano que reconoce a Jesús como su Señor y a los demás, en particular a los pobres, como hermanos a quienes debe ayudar. Al respecto decía el Papa san Juan Pablo II : "Al sentirse tratado como «hijo», comienza a pensar y a comportarse como un hijo, y lo demuestra redescubriendo a los hermanos. Bajo la mirada amorosa de Cristo, su corazón se abre al amor del prójimo. De una actitud cerrada, que lo había llevado a enriquecerse sin preocuparse del sufrimiento ajeno, pasa a una actitud de compartir que se expresa en una distribución real y efectiva de su patrimonio: «la mitad de los bienes» a los pobres. La injusticia cometida con el fraude contra los hermanos es reparada con una restitución cuadruplicada: «Y si en algo defraudé a alguien, le devolveré el cuádruplo» (Lc 19, 8). Sólo llegados a este punto el amor de Dios alcanza su objetivo y se verifica la salvación: «Hoy ha llegado la salvación a esta casa» (Lc 19, 9)." En fin, Zaqueo es un "perdido" que ha sido buscado, encontrado y salvado por Jesús.
Jesús, siempre de camino o de paso, aparece al inicio como alguien que despierta la atracción y la curiosidad de la gente, incluido Zaqueo. Aunque al comienzo parece que es Zaqueo quien busca ver a Jesús, en realidad es Jesús quien toma la iniciativa de buscarlo (levanta la vista) y llamarlo. Jesús es quien quiere entrar en su casa, en la vida privada de Zaqueo. Ofrece su visita que, al ser aceptada y recibida con alegría, comunica la salvación de Dios a esa casa, a esa vida íntima.
El encuentro personal con Jesús es un encuentro salvífico que hace presente, hoy, la salvación de Dios. Jesús es confesado como “Señor”, título que expresa en Lucas su realidad divina por cuanto es la traducción griega del nombre de Yavé. Jesús encarna la salvación de Dios, la hace presente y operante, es el Salvador prometido y esperado por Israel (cf. Lc 1,68-71). En este sentido el relato nos enseña que en el obrar de Jesús es Dios mismo quien está buscando la oveja extraviada (cf. Ez 34) para ofrecerle la salvación, que se alcanza reconociendo en Jesús al Señor. Y encontrarse con Jesús provoca un cambio, una transformación del corazón de la persona, como hemos visto en Zaqueo. La salida del egoísmo y el abrirse al amor de Dios y del prójimo, es el gran fruto del encuentro con Cristo que obra esta salvación en el corazón del hombre. Es la salvación que Jesús va sembrando por su camino entre los hombres, también hoy, en mi vida, en nuestra vida. Nos lo recordaba el Papa Francisco en EG n°1: “La alegría del Evangelio llena el corazón y la vida entera de los que se encuentran con Jesús. Quienes se dejan salvar por Él son liberados del pecado, de la tristeza, del vacío interior, del aislamiento. Con Jesucristo siempre nace y renace la alegría.”
Además, al pedido de Jesús a Zaqueo, “baja pronto”, puede unirse la frase final del evangelio del domingo anterior: "el que se eleva será humillado y el que se humilla será elevado". Al respecto este evangelio nos deja una enseñanza capital sobre la vida cristiana. Es importante y hasta necesario nuestro esfuerzo por "subir", por acercarnos a Jesús, a Dios. Pero debemos saber bien que para encontrarlo hay que "bajar" hasta el fondo de nuestro ser donde guardamos lo que nos avergüenza.
A. Cencini gusta hablar de esto como "el descenso a los infiernos", esto es, "la realidad más profunda, y no sólo la consciente y de inmediato visible, también el mundo interior sumergido, en el que habitan con frecuencia los aspectos menos positivos de la persona, sus inconsistencias e inmadureces" . Y hasta allí, hasta el fondo de nuestra miseria baja Jesús para devolvernos la condición de hijos amados del Padre. Y hasta allí debemos bajar pronto nosotros para experimentar la alegría de ser reconciliados con él. Según Eloi Leclerc "el hombre que acepta íntegramente a Dios, es capaz de aceptarse a sí" .
Ya en el siglo IV autores como San Juan Clímaco con su Santa Escala y San Benito en su regla enseñan que el ascenso a Dios es más bien un descenso por la escalera de la humildad. Al respecto comenta A. Louf : "La cima de esta escala coincide con la cima de la humildad y la exaltación que puede aportar en el futuro no se alcanza más que por medio de la humildad en la vida presente".
Por su parte, la pedagogía de Dios encarnada por Jesús mucho nos enseña sobre cual debe ser nuestra actitud como cristianos en el mundo, como bien lo señala A. Vanhoye : "Jesús no considera sólo la situación actual de las personas, sino que ve también los recursos interiores que hay en ellas, los dinamismos espirituales que pueden manifestarse en ellas, ve la posibilidad de un cambio y de una conversión. Evidentemente, para despertar en las personas la conversión, es preciso manifestarles no desprecio, sino amor. Y Jesús demuestra amor por Zaqueo".
Al respecto decía el Papa Francisco en el Ángelus del 3 de noviembre de 2019: “Dios condena el pecado, pero trata de salvar al pecador, va en busca de él para traerlo de vuelta al camino correcto. Aquellos que nunca se han sentido buscados por la misericordia de Dios tienen dificultades para comprender la extraordinaria grandeza de los gestos y de las palabras con las que Jesús se acerca a Zaqueo.
La acogida y la atención de Jesús hacia él lo condujo a un claro cambio de mentalidad: en un momento se dio cuenta de lo mezquina que es una vida esclava del dinero, a costa de robar a los demás y recibir su desprecio. Tener al Señor allí, en su casa, le hace ver todo con otros ojos, incluso con un poco de la ternura con la que Jesús lo miraba. Y su manera de ver y de usar el dinero también cambia: el gesto de arrebatar es reemplazado por el de dar. De hecho, decide dar la mitad de lo que posee a los pobres y devolver el cuádruple a los que ha robado (cf. v. 8). Zaqueo descubre de Jesús que es posible amar gratuitamente: hasta entonces era tacaño, y ahora se vuelve generoso; le gustaba acopiar, y ahora se regocija en el compartir. Encontrándose con el Amor, descubriendo que es amado a pesar de sus pecados, se vuelve capaz de amar a los demás, haciendo del dinero un signo de solidaridad y de comunión”.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
A lo profundo
Señor Jesús
Hasta el interior de nuestra oscuridad
Haznos descender
Deseamos conocerte y contemplar
Nuestra gran debilidad
Ponemos empeño en subir, en escalar
Sumergidos en un mar de violencia
Necesitamos sacar la cabeza
Y volver a respirar
Peregrinamos en esta senda
Agobiados y aturdidos, el mundo demanda.
La mente divaga y se dispersa en la nada
Una enfermedad que nos acaba
En lo profundo estás Tú
Entre las tinieblas brilla la Luz
Nos apremia el Amor,
Nuestro vacío interior
Abriremos las puertas de par en par
Sin temor a lo que puedas encontrar
Entra señor a sanar, a limpiar,
A rescatar lo perdido
Sana el alma y el cuerpo de los cautivos
Alimenta nuestra esperanza, nuestra fe
La caridad que nos salva
Danos la verdadera Libertad
Tú lo haces todo nuevo
Llenas nuestra morada de consuelo.
Haznos bajar Señor a lo profundo
Y penetrar en el silencio.
Maravillarnos contigo
En la belleza de tu amistad divina
Donde se repara lo quebrado, dividido
Donde la Trinidad habita. Amén.