23/03/2025
1ª Leitura: Êxodo 3,1-8a.13-15
Salmo 102(103-R- O Senhor é bondoso e compassivo
2ª Leitura: 1Coríntios 10,1-6.10-12
Evangelho de Lucas 13,1-9
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – 1Naquele tempo, vieram algumas pessoas trazendo notícias a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam. 2Jesus lhes respondeu: “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus por terem sofrido tal coisa? 3Eu vos digo que não. Mas, se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo. 4E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”. 6E Jesus contou esta parábola: “Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. 7Então disse ao vinhateiro: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?’ 8Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. 9Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás!’” – Palavra da salvação.
As pessoas relatam a Jesus um dos últimos acontecimentos políticos ocorrido na capital do país. Alguns peregrinos galileus tinham ido em peregrinação ao templo de Jerusalém para oferecerem seus sacrifícios. A situação da época era de grandes tensões políticas. Por isso, bastava pouco para que ocorressem protestos e distúrbios. Pilatos, que governava o território com mão de ferro, matando de maneira sistemática e contínua possíveis rebeldes, não pensou duas vezes em afogar no sangue também aqueles peregrinos galileus, “misturando o sangue deles com o sangue dos sacrifícios que ofereciam”.
A esse relato, Jesus reage advertindo e ensinando. Ele ensina que não se deve pensar que a morte daqueles galileus aconteceu como castigo pelos pecados cometidos por eles. A desgraça não acontece como castigo pelo pecado. O mesmo vale para as dezoito vítimas fatais da queda da torre de Siloé. As pessoas que morreram com aquele acidente imprevisto não eram mais pecadoras do que os outros moradores de Jerusalém.
O que está em jogo nesse modo de pensar (a desgraça alheia indica que as vítimas mereciam tal castigo) é o modo como imaginamos que Deus seja. Pensando assim convertemos Deus em um juiz que sanciona imediatamente as ações das pessoas, premiando exteriormente as pessoas boas e castigando os maus. O juízo de Deus, porém, não se traduz sob forma de sanção mecânica intramundana.
Jesus não condenou aqueles galileus por serem revoltosos e causadores de tumulto político, mas também não os considera heróis religiosos que podiam salvar a humanidade com o seu gesto de protesto e com a sua morte. Eles foram esmagados violentamente por uma desgraça deste mundo, a desgraça de uma situação política que pairava ameaçadora sobre o povo, tal como uma torre mal construída cai sobre a multidão semeando a morte.
A desgraça de uma política que conduz à violência e feita de repressão e morte, a desgraça de uma civilização que pode esmagar aqueles que vivem nela, são sinal da precariedade deste mundo e de nossa vida neste mundo. Esses dois acontecimentos, um de natureza política e outro de natureza fortuita, servem para mostrar que nossa vida está fundada sobre um risco que é o juízo de Deus. O juízo de Deus se aproxima, por isso é urgente a conversão. Não ajuda nada a nossa conversão ficar pensando que as desgraças deste mundo atinjam somente os pecadores e os culpados.
Sem conversão, nós acabaremos como aqueles galileus, que sofreram uma morte violenta. Sem conversão nós acabaremos como aquelas dezoito vítimas fatais da queda da torre de Siloé.
Se nós nos convertermos a morte, inesperada ou não, será convertida em caminho e passagem dolorosa para a vida com Deus. Com a conversão, a nossa morte será como a de Jesus: passagem necessária e dolorosa para a Vida.
Essa é a mensagem de Jesus para a multidão assustada e amedrontada pelos perigos da violência política e pelos imprevistos de tantas torres que balançam sobre suas cabeças. Ante a insegurança e precariedade desta vida, Jesus ensina que devemos nos converter a Deus.
É ainda tempo de conversão. “Não demores em voltar a Ele nem te delongues de um dia para o outro” (Eclo 5,5-7).
A conversão é urgente para nós, porque Deus nos dá ainda a última chance. Como a figueira estéril que só serve para esgotar a terra e que, por isso, está prestes a ser cortada, foi nos dada ainda uma oportunidade: nosso divino e misericordioso vinhateiro intercede por nós: “Senhor, deixa a figueira ainda este ano”. E não só isso. Além de pedir mais tempo, ele trabalha interiormente para que possamos dar os frutos desejados. “Vou cavar em volta e colocar adubo”. Jesus nos alcançou uma moratória. Ele age com sua graça para que possamos nos converter. Não podemos, porém, desperdiçar culpavelmente essa última chance nem esgotar o tempo da paciência de Deus. “Pode ser que venha a dar fruto”.
3º Domingo de Quaresma - Lc 13, 1-9 – Ano C –
“Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto” (Lc 13,8)
“E Deus viu que tudo era muito bom”: este é lema da Campanha da Fraternidade deste ano que nos provoca e amplia nossa visão em direção à grandeza da Criação, Casa Comum de todos. A preocupação pela vivência de uma Ecologia integral não é opcional para quem deseja viver o seguimento de Jesus; é missão de todos nós.
“Ser protetores da obra de Deus é parte essencial de uma existência virtuosa, não consiste em algo opcional nem em um aspecto secundário da experiência cristã” (Laudato si’, n. 217).O decisivo é que seja uma “ecologia com Espírito”, motivada por Ele, alentada e inspirada por Ele e seu projeto de novos céus e nova terra.
Na experiência espiritual da Quaresma, nos é pedido que, junto com Jesus, mergulhemos os pés no “chão da vida”, como as raízes na obscuridade, na vivência do deserto. O movimento de enterrar profundamente as raízes possibilita alcançar a seiva, o pulsar da vida e o equilíbrio.
Sentir que somos Terra faz-nos ter os pés no chão da vida e viver em comunhão com a comunidade das criaturas. A hora é de somar em prol da vida e no cuidado de todos os seres da Terra.
Avançamos no percurso quaresmal. A parábola da figueira, indicada para este terceiro domingo, não visa dar “lição de moral”; ela nos oferece imagens que devem se projetar sobre nossa interioridade, transformando assim todas as imagens negativas que nos impedem viver com mais leveza.
Essas imagens negativas muitas vezes se expressam com palavras como estas: “nunca serei nada”; “sou um caso perdido”; “há algo de errado comigo”; “todos esses esforços não vão dar em nada”; “não consigo sair dessa situação e progredir”.
Cada um de nós conhece esses sentimentos de decepção e nos perguntamos: Qual o sentido da nossa vida? A quem ela serve? Será que não estamos ocupando o lugar de outra pessoa?
Duvidamos do nosso direito de ser. Algumas pessoas, então, chegam à amarga conclusão: seria melhor se nem existisse, sou apenas um peso na vida dos outros.
O processo de conversão, a qual Jesus se refere, é um caminho existencial, uma viagem ao centro da Fonte que nos nutre e nos lança à vida, onde está toda nossa potencialidade como reflexo do ato criador de Deus em nossas entranhas. Portanto, a “conversão” é ir descobrindo uma nova consciência até conectar com nossa “versão” mais original, nossa identidade; um caminho que requer paciência, lucidez, confiança, desejar vincular-nos com o dinamismo profundo que nos impulsiona a sermos mais humanos.
Não é um caminho de busca da salvação-plenitude como recompensa, mas da encarnação dessa salvação-plenitude que já faz parte da nossa essência e que requer conectar-nos com o tempo de Deus, tempo de paciência e confiança no “melhor” do ser humano.
Não temos de esperar nada de fora; Deus já nos deu tudo; temos reservas de recursos nobres escondidos em nosso interior. A tarefa fundamental está em descobrir isso de nós mesmos. É um processo de despertar, de iluminação, de tomada de consciência de quem somos.
“Converter-nos” é centrar-nos, retornando à essência de nossa fonte interior; ao mesmo tempo é “descentrar-nos”, sairmos de nós mesmos, deslocarmos em direção à realidade que nos cerca, transformando-a.
Se não descobrimos que nosso caminho nos leva aos “aforas” da vida, não estaremos motivados para nenhuma mudança em nossa vida.
Há, em todos nós, ricas potencialidades, recursos originais, dons inspiradores..., que nem suspeitamos e que ainda não encontraram maneiras de se expressarem. Mas, o Jardineiro divino nos conhece e, na sua paciência, sempre nos oferece novas oportunidades para que a nossa nobreza interior possa se fazer visível, através de uma vida comprometida e solidária.
Este é o sentido da verdadeira conversão; esta não se reduz a alguns atos externos bons, jejuns, mortificações vazias, ritos expiatórios estéreis, penitências egoicas nas madrugadas da vida..., para mostrar nossa condição pecadora; tais posturas tem muito mais a ver com uma certa soberba escondida que utiliza a própria fragilidade para revelar um falso “deus” que tem prazer com o sofrimento e as mortificações humanas.
E assim vamos nos afundando na lama de uma vida raquítica e distorcida, carregada de culpas e que nos deixa na mesma posição durante anos e anos. Deus não “comercializa” com ritos, práticas religiosas piegas, devocionismos alienantes, que nos distanciam da realidade e do compromisso solidário com os outros. Esta sim que é a esterilidade da figueira, ou seja, toda uma vida plantada no mesmo lugar e inútil para a vinha.
Somos “figueiras” chamadas a dar fruto, um fruto em formato de respeito à dignidade, à liberdade e valor de cada ser humano, de uma nova visão sobre cada rincão do planeta Terra que hoje necessita muita solidariedade, generosidade e compromisso. Neste cenário, alimentamos uma presença inspiradora frente às vítimas da atrocidade humana que nos envolve: ódio, intolerância, violência, preconceito, insensibilidade social e ecológica...
Identificados com Jesus, somos chamados a viver com mais “radicalidade”; e “radicalidade” significa ser suportado, carregado e alimentado por uma raiz que está plantada fundo no chão da vida. É como uma árvore que se apoia, se sustenta e se alimenta das suas raízes. Radical é aquele que vive perto da raiz, que se alimenta da raiz, que toma as coisas pela raiz, pelo fundamento.
Quando dizemos que os homens e as mulheres espirituais costumam ser radicais, queremos mencionar, em primeiro lugar, esta proximidade junto à terra e ao húmus, esse enraizamento profundo que alimenta a vida, que sustenta o tronco e a copa da árvore em todo e qualquer tempo, dando-lhe firmeza e consistência.
A dificuldade para entender o que é radicalidade vem da postura fundamental da nossa cultura pós-moderna que é muito pouco radical e profunda. Nós mal fincamos raízes em algo ou em algum lugar. Em geral, vivemos na superfície, no cultivo da aparência, na distração fundamental.
“Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto”. A parábola da figueira nos revela a aridez e a infertilidade da vida quando nos deixamos levar pela inércia dos acontecimentos, das situações, por sentir a segurança em fazer sempre o mesmo, por não enfrentar o medo que supõe entrar em nossa realidade interior para “cavar e adubar” nossa terra pessoal, para tocar as raízes onde está a verdadeira essência de nossa seiva vital.
Conversão tem três componentes que podem nos ajudar numa interpretação mais vital desta palavra: “con” (junto, completamente), “versus” (dar volta, retorno), “tion” (ação e efeito). Estes três componentes nos falam, sem dúvida, de um movimento que conduz muito mais a uma transformação que pode significar um profundo retorno à nossa interioridade do que simples mudanças de atos. Seria uma busca completa de nossa “versão” original e deixar de viver usando máscaras que nos afastam de nossa essência e de nossa verdade pro-funda.
Conversão não é questão de evitar “atos maus” pontuais que só nos enganam e tranquilizam nossa consciência; trata-se, sobretudo, de encontrar um espaço interior de conexão com nossa origem divina e que toda nossa vida gire em torno disso.
Para meditar na oração:
Há uma força de gravidade que nos atrai progressivamente para o mais profundo de nós mesmos, onde Deus nos espera e nos acolhe, e onde encontramos o nosso “eu original” e a verdadeira paz.
É preciso “descer” até as raízes de nossa existência para descobrir uma nova “seiva” para nossa vida; é “descendo” que poderemos revitalizar a vida que se tornara vazia e ressequida.
Trata-se de despertar, de escavar nosso chão interior, alargar nosso coração e garimpar o “veio de ouro” que está disponível no eu mais profundo.
- O que alimenta as raízes de sua existência? Onde você busca o adubo que se transformará em seiva vital?
- Que frutos de verdade, de compaixão, de santidade, de paz... estão surgindo do interior de seu coração?
De acordo com o Evangelho de Lucas, Jesus certa vez contou uma curta parábola sobre uma "figueira estéril".
Sustentada pelo amor, confiança e preocupação de seu cuidador, a figueira é convidada a dar frutos. Ele será capaz de responder?
Qual é o sentido da adoração sem conversão e uma prática que nos tranquilize e confirme nosso bem-estar?
Jesus se esforçou de muitas maneiras para despertar a conversão das pessoas a Deus. Era a sua verdadeira paixão: chegou o momento de buscar o Reino de Deus e a sua justiça, o momento de nos dedicarmos a construir uma vida mais justa e humana, assim como Ele a quer.
De acordo com o Evangelho de Lucas, Jesus certa vez contou uma curta parábola sobre uma "figueira estéril". Ele queria desbloquear a atitude indiferente daqueles que o ouviam, praticamente sem responder ao seu chamado. A história é curta e clara.
Um proprietário de terras plantou uma figueira no meio de sua vinha. Há muito tempo ele vem buscando frutos nela. No entanto, ano após ano, a figueira tem decepcionado suas expectativas. Ali permanece, estéril, no meio do vinhedo.
O proprietário toma a decisão mais sensata. A figueira não está produzindo frutos e está absorvendo inutilmente a energia do solo. O mais razoável é cortá-lo. "Por que ele ocuparia um pedaço de terra por nada?"
Contra toda a razão, o viticultor propõe fazer todo o possível para salvá-la. Ele cavará o solo ao redor da figueira para que ela tenha a umidade necessária e adicionará esterco para que ela seja nutrida. Sustentada pelo amor, confiança e preocupação de seu cuidador, a figueira é convidada a dar frutos. Ele será capaz de responder?
A parábola foi contada para provocar nossa reação. O que é uma figueira sem figos? Por que uma vida estéril e pouco criativa? Qual é o sentido do cristianismo sem seguir Jesus na prática? Por que uma Igreja sem dedicação ao reino de Deus?
Qual é o sentido de uma religião que não muda nossos corações? Qual é o sentido da adoração sem conversão e uma prática que nos tranquilize e confirme nosso bem-estar? Por que nos preocupar tanto em "ocupar" um lugar importante na sociedade se não introduzimos poder transformador em nossas vidas? Por que falar sobre as "raízes cristãs" da Europa se não podemos ver os "frutos cristãos" dos seguidores de Jesus?
Estamo-nos aproximando do terceiro domingo da Quaresma. Este é um tempo de graça (kairos), um tempo oportuno para a conversão, a mudança de vida. E a liturgia nos propõe, como luz no caminho, o texto de Lucas 13,1-9. Encontramos esta narrativa somente no evangelho segundo Lucas.
Vamos refletir sobre este relato em dois momentos. Primeiro, a partir do diálogo de Jesus com algumas pessoas que o procuraram. Depois, a partir da parábola que ele lhes contou.
Mudai de vida! (Lucas 13,1-5)
Esta narrativa situa-se na caminhada de Jesus com seu grupo desde a Galileia (Lucas 9,51) até Jerusalém (Lucas 19,28), onde autoridades do sinédrio e da ocupação romana o condenarão à morte na cruz. Porém, a vida vencerá a morte. Nesse sentido, o evangelho deste final de semana é um convite para a conversão, a mudança de direção em nossas vidas, de modo a andar no mesmo caminho de justiça proposto por Jesus. Porém, ontem e hoje, rejeitado pelos poderosos deste mundo. É o caminho em que Jesus vai formando seus discípulos e suas discípulas.
O texto não informa quem são as pessoas que procuraram Jesus para falar do massacre que Pilatos promovera no pátio do templo junto ao altar, onde galileus estavam oferecendo sacrifícios. Provavelmente, é uma referência à chacina de galileus executada pelo interventor romano, quando estes resistiram contra o saque do tesouro do templo que Pilatos havia feito, a fim de construir um aqueduto.
Pela resposta de Jesus, podemos entender o contexto. Eram pessoas que queriam saber sua opinião a respeito de quem era o pecado para tamanho “castigo”. O caso trata da mesma questão de João 9, onde os discípulos perguntam a respeito do cego de nascença: “quem pecou, ele ou os pais dele?” (João 9,1). Ao que Jesus responde: “nem ele, nem seus pais, mas para que nele se manifestem as obras de Deus” (João 9,2). Assim, vemos que Jesus concorda com os autores dos livros de Rute, Jó, Eclesiastes e Jonas. Também eles discordam da teologia da retribuição, isto é, da experiência com um Deus que castiga os pecadores e abençoa os justos. A resistência indignada de Jó contra a catequese oficial do templo, representada por seus “amigos”, questiona a imagem de Deus tipo “toma lá, dá cá”. E Jesus se insere nessa mesma experiência com um Deus de ternura, e não um Deus sempre a postos para castigar ou abençoar, de acordo com os méritos de cada pessoa. Em vez da experiência com a teologia da retribuição que gera medo nas pessoas, Jesus faz a experiência com o Deus da graça.
Por isso, ele logo responde que o massacre dos galileus não é por serem pecadores. É que Jesus sabia muito bem qual era a prática dos romanos diante de quem resistia à sua dominação: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as oprimem, e seus grandes as tiranizam” (Marcos 10,42). Além do fato lembrado pelos interlocutores de Jesus, ele recorda também a morte dos dezoito trabalhadores na torre de Siloé em Jerusalém (Lucas 13,4). No entanto, Jesus aproveita aqueles dois fatos para chamar à conversão (metánoia), isto é, à mudança de mentalidade, à mudança de vida. Converter-se é não se amoldar aos esquemas deste mundo (Romanos 12,2). Na carta aos efésios, Paulo ou seus discípulos escreveram que o modo de vida deste mundo vem do maligno (cf. Efésios 2,2). E o modo de vida deste mundo, entre outras práticas, é de discriminação e de violência, de injustiça e de ódio, de busca de riquezas e de poder.
Portanto, Jesus propõe outro espírito de vida, outro caminho. São atitudes de acolhida e de ternura, de justiça e de amor, de partilha e de serviço. Neste relato, duas vezes Jesus pede aos que o procuraram, e hoje a nós, para seguirmos por seu caminho: “mudai de vida!” (Lucas 13,3.5).
Aqui, convém lembrar que Jesus passa toda sua vida lutando contra uma teologia que impõe medo. Por isso, o vemos tantas vezes dizendo: “não tenhais medo!” (cf. Lc 5,10; 8,50; 12,4-7.32). Ou ainda: “Coragem!” (cf. Mt 9,2.22; 14,27).
Mudai de vida e produzi frutos! (Lucas 13,6-9)
Depois do duplo chamado à mudança de vida, Jesus ainda conta uma parábola: a figueira plantada em meio a uma vinha. Tanto a vinha (Isaías 5,1-7) como a figueira (Joel 1,7) eram imagens do povo da aliança. Por ser um povo em aliança com o Deus da vida, sua missão no mundo é, tal como a vinha e a figueira, produzir frutos, e frutos de justiça (Isaías 5,7) e de amor (João 15,1-17), em profunda comunhão com o Deus da aliança. Mas, a figueira não produziu os frutos desejados.
Interessante notar que Marcos (11,12-14.20-24) e Mateus (21,18-22) situam a parábola da figueira em íntima conexão com a expulsão dos vendilhões do templo. Ou seja, a figueira é símbolo do sistema do templo que manipula a aliança com Deus, de modo a não mais gerar os frutos que deveria. Em vez de promover a vida em comunhão com o Pai, foi transformado em covil de ladrões (Lucas 19,46). Em Marcos e Mateus, portanto, a figueira seca representa toda estrutura do templo que não gera mais frutos de justiça. E aqui, temos um julgamento severo e indignado de Jesus sobre a instituição oficial judaica ao amaldiçoar a “figueira”.
Diferentemente, Lucas insere a parábola da figueira em outro contexto e apresenta Jesus revelando a misericórdia de Deus. Mais do que os outros evangelhos, Lucas resgata esse rosto misericordioso de Deus (cf. Lucas 6,36; 15,11-32). Na parábola, o dono da vinha representa Deus. E, como em Mateus e Marcos, seu julgamento é severo: “podes cortá-la” (Lucas 13,7). Mas Jesus, que é representado pelo vinhateiro, pede a seu Pai mais uma chance para o povo: “Senhor, deixa-a ainda este ano, para que eu escave ao redor dela e ponha estrume” (Lucas 13,8). Jesus revela outra imagem de Deus: misericordioso, compassivo, cheio de ternura e de perdão. Como o pai misericordioso, sempre dá uma chance e espera a volta do filho, pronto para festejar o seu retorno (Lucas 15,11-32).
É esse convite que Jesus também nos faz nesta Quaresma e em todos os dias de nossa vida. Ele quer a vida e não a morte. “Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor. Portanto, mudai de vida e vivei” (Ezequiel 18,32).
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Estamos no período da Quaresma, que convida a nos preparar para a celebração da morte e ressurreição de Jesus. Durante muito tempo, a Quaresma foi entendida e vivida como um período em que o denominador comum era o sacrifício, a impossibilidade de celebrar a vida, a necessidade de manter uma certa reserva, pelo menos aos olhos da sociedade. A Quaresma, vivida apenas como um espaço de renúncia, abnegação, sofrimento, fragmenta o mistério da Páscoa e se concentra em um Jesus crucificado, destacando seu sofrimento, seu sangue, sua dor, entendendo assim mal o profundo significado de sua morte e o mistério do qual ele nos convida a participar. A Quaresma não enfatiza o sacrifício como uma meta a ser alcançada. Se assim fosse, muitas pessoas em nossas sociedades vivem uma “Quaresma continua” e carregariam cruzes pesadas desde o momento de seu nascimento.
Enfatizar o sacrifício por si só tem uma cota de satisfação pessoal que não tem nada a ver com a Quaresma, mas se assemelha ao fariseu que vai ao Templo para orar e agradecer por “não ser como os outros homens”, listando seus jejuns, orações e dízimos (cf. Lc 18, 9-14). Neste período, somos convidados a nos preparar para viver a Semana Santa e acolher Jesus e sua mensagem com um coração renovado.
Como disse o Papa Francisco: “Não nos cansemos de fazer o bem, através duma operosa caridade para com o próximo. Durante esta Quaresma, exercitemo-nos na prática da esmola, dando com alegria (cf. 2 Cor 9, 7) [...]. Se é verdade que toda a nossa vida é tempo para semear o bem, aproveitemos de modo particular esta Quaresma para cuidar de quem está próximo de nós, para nos aproximarmos dos irmãos e irmãs que se encontram feridos na margem da estrada da vida (cf. Lc 10, 25-37).
O Evangelho deste domingo nos fala da necessidade de conversão, de mudança, de transformação interior, trazendo-nos a parábola de uma figueira que não dava frutos e estava ameaçada de ser cortada. Na Palestina, era comum plantar árvores frutíferas em vinhedos, que eram como pomares. De acordo com Levítico, quando uma árvore frutífera é plantada, o fruto não pode ser cortado nos primeiros três anos (Lv 19,23-25); no quarto ano, o fruto é oferecido ao Senhor. Em nossa parábola, a figueira já faz três anos que o proprietário está procurando frutos e não os encontra, ou seja, não produz frutos há sete anos! A decisão de cortá-la é quase óbvia: ela não produz e desperdiça a terra. Mas a figura do jardineiro do mercado aparece e pede mais um ano para fazer algo novo: “Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar frutos”.
Jesus não olha para a nossa vida e a de nossas comunidades para condená-las porque não deram frutos, mas, como o jardineiro, ele nos oferece esse tempo para renovar nosso solo, para fertilizá-lo para que dê frutos. Ele não corta a figueira porque ela está sendo improdutiva, mas procura novas estratégias para fazê-la dar frutos. Na parábola, o jardineiro intercede junto ao proprietário da terra pedindo mais tempo.
A sugestão de “cavar na volta dela e colocar adubo” é algo novo, desconhecido no Antigo Testamento. Ela introduz a novidade que Jesus traz, renovada em cada momento de nossa vida, especialmente neste período da Quaresma. Não existe “uma única conversão” ou “uma melhor maneira de viver a Quaresma”, pois cada solo é original e único. A maneira de cavar e fertilizar o solo responde ao vínculo estreito entre a figueira e a terra. Cavar o solo significa cavar, cavar e colocar o fertilizante necessário para que a figueira plantada naquele solo dê muitos frutos. Não se trata de um ato mágico e, na mesma parábola, o jardineiro pede essa extensão sem ter plena certeza de seu sucesso. O jardineiro, com sábia paciência, fará essa tarefa de cavar e adubar em um solo que anteriormente foi colocado em suas mãos, que foi deixado à sua disposição.
Com essa parábola, o Senhor nos convida à conversão, a revolver nosso solo, a renová-lo com um novo ar, a fertilizá-lo. Isso pode ter diferentes expressões em cada pessoa. Neste domingo somos convidados a deixar que sua Palavra, seu Espírito cave em nosso solo, removendo aquilo que o impede dar frutos. Ele trabalha em nós e aguarda com infinita paciência que nosso solo seja fecundo para que a figueira tenha figos. Esta é a conversão que o Senhor deseja para cada pessoa. Ele é misericordioso e não está aguardando um sacrifício, o um grande sofrimento, pelo contrário, Ele procura que deixemos nossa terra nas suas mãos para que ele possa cavar ao redor dela e colocar adubo para que dê muito fruto.
Mas o Senhor não trabalha sozinho, ele precisa de cada um e cada uma de nós para cavar e adubar a terra. Por isso nos convida a ter sua mirada sobre cada “figueira” e nos chama a cavar e adubar como ele o faz; dar ânimo a quem está sem esperança, e trabalhar juntos para contribuir na fecundidade da figueira.
Fazemos nossas as palavras de Francisco: “A Quaresma é tempo propício para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão. Acolhamos o apelo a praticar o bem para com todos, reservando tempo para amar os mais pequenos e indefesos, os abandonados e desprezados, os discriminados e marginalizados” (cf. Fratelli tutti, 193). “Não nos cansemos de fazer o bem”, convida o Papa Francisco em sua mensagem para a Quaresma.
Estamos no monte Horeb (também conhecido como Sinai), “a montanha de Deus”. Nesse local, Moisés viverá uma experiência extraordinária, que o marcará para o resto da vida. Ele é atraído pela manifestação divina e não acredita no que seus olhos veem: um arbusto que queima e não se consome. Nesse momento, contudo, recebe uma advertência: deve tirar as sandálias dos pés, porque o lugar em que se encontra é terra santa. Moisés é um errante que está fugindo de si e dos outros. Contudo, nesse encontro, Deus lhe reaviva a memória, dizendo: “Eu sou o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”. Não era um deus ligado ao império egípcio, que promovia escravidão e morte; não era uma divindade que legitimava os atos violentos do império.
O Deus que falara com os antepassados de Moisés continuava falando. Agora, fala dentro de uma situação de profunda dor: “Vi a aflição do meu povo… Ouvi seu clamor por causa dos opressores, conheço-lhe o sofrimento e por isso desci para libertá-los”. Moisés é chamado por Deus para ser parceiro no processo de libertação.
Qual é a grande e surpreendente descoberta de Moisés? Depois de tantos anos na corte egípcia e de tantos outros como pastor, aprende que Deus está atento ao sofrimento do povo. Não é somente um Deus que fala. Trata-se de um Deus que ouve e age; que não permanece numa zona de conforto, enquanto o povo sofre toda sorte de violências que antecipam a morte. Além disso, é um Deus que vê o que acontece com os escravos: seus olhos estão voltados para os que sofrem, para as vítimas do reino das trevas, representado, nesse momento, pelo império egípcio.
Deus desce, mas não como os deuses do faraó, que, ao descerem, permanecem ao redor daquele que tem o poder e promove seu reino à custa de milhares de vítimas. Deus desce em direção à periferia do Egito e se solidariza com os oprimidos; identifica-se com os escravos e cria para eles nova possibilidade histórica numa terra que mana leite e mel, onde poderão construir nova sociedade, caracterizada por relações que já não sejam marcadas pela violência e pela escravização, e sim pela solidariedade e pela fraternidade.
COMENTÁRIO
Num mundo em que se busca justificativa para tudo e isenção das culpas mais evidentes, falar em arrependimento, significando admitir que se cometeu erro e se busca um processo de reconhecimento e de conversão, parece muito difícil. Parece até “fora de moda”. No entanto, é a proposta do Reino, é o que fala Jesus ao povo.
Na narração do Evangelho de Lucas o que para os galileus foi uma desgraça passou a ser uma advertência aos demais. No Salmo 50 já se recitava: “Atenção, vós que esqueceis a Deus (...) A quem corrige sua conduta, eu farei desfrutar a salvação de Deus” (VV. 22 e 24).
A parábola contada pelo Mestre, aponta para a paciência de Deus que espera e que cerca de cuidados a figueira que não produz frutos. Ele “afofa a terra em volta dela”, ou seja, oferece-lhe possibilidades. Põe “bastante adubo”, quer dizer, apresenta-lhe incentivos que visam suprir as deficiências em substâncias vitais à sobrevivência. Deus é representado neste homem que espera frutos de sua figueira.
O tempo de Jesus Mestre não é só de admoestação, mas de oportunidade de conversão, de salvação. O texto fala de 3 anos de improdutividade da figueira. Deus é infinitamente paciente, mas cada árvore – cada um de nós – pode esgotar seu tempo de tolerância.
(Traduzido pelo Tradutor Google sem nossa correção. Se desejar, confira com o texto original logo após a tradução)
SEGUNDA PARTE DA QUARESMA: DOMINGOS 3, 4 e 5
O terceiro, quarto e quinto domingos da Quaresma nos apresentarão o caminho da reconciliação com Deus nos seus diferentes momentos e dimensões. Ele terceiro domingo nos levará a sentir-nos tocados pela Palavra que nos chama urgentemente à conversão. Ele quarto domingo nos convida a reviver o alegria do reencontro com o Pai. Ele quinto nos apresenta o nova vida dos reconciliados e procura reforçar a sua lealdade para o futuro.
3º DOMINGO: DEUS AGUARDA NOSSA CONVERSÃO
1a. Leitura (Ex 3,1-8.10.13-15):
Moisés caminha pelo deserto, no solidão, ambiente privilegiado para o encontro com Deus e figura da Quaresma. Aí acontece a iniciativa de Deus, que se faz presente na vida de Moisés para transformá-la. Esta experiência extraordinária ocorre no meio do seu trabalho quotidiano de pastor (3,1). A análise do vocabulário revela-nos que o tema da ver. O anjo faz você ver (aparece), Moisés quero ver, Deus eu que Moisés estava se aproximando ver. Agora isso ver revela-se insuficiente para compreender a realidade profunda que se revela; somente quando Deus fala descobre Sua presença e então o ver é deixado de lado (Moisés cobre o rosto porque teme ver Bye Bye). Deus não pode ver, você só pode ouvir. E isso porque quem eu Ele pode sucumbir à tentação de encerrar Deus em seus próprios esquemas conceituais, de reificá-lo. Por isso também a imagem do fogo, que é algo que não pode ser apreendido; que não podemos nos apropriar dele.
Nas palavras de Deus a Moisés é evidente que Ele reage ao sofrimento do seu povo (ver, ouvir, saber, não ignora) e decide intervir porque quer libertá-lo e trazê-lo do Egito e, para isso, 'precisa' de colaboração de Moisés. Este “jogo” de imagens entre Deus que baixo para onde seu povo está, deprimido e desesperado, para fazê-lo subir para a terra de Canaã, o que implica também levantá-lo da sua prostração1.
Por sua vez, Moisés quer saber o nome de Deus porque o povo vai querer saber mais sobre quem é o seu Deus. Mas Moisés também pode estar projetando a sua própria dúvida. A resposta de Deus é paradoxal porque responde e ao mesmo tempo evita responder: Ele é um ser incompreensível. Resta-nos o facto de Deus revelar o seu nome eterno a Moisés, mas isso permanece incompreensível. A revelação do nome de Deus em Israel não é para satisfazer a curiosidade, mas sim um meio de louvor contínuo. A transcendência divina dá razão a este paradoxo de revelação - ocultação de Deus comum ao pensamento bíblico e pertencente, portanto, à essência da fé cristã (cf. CATIC 203-213).
De certa forma, com este relato da vocação/missão de Moisés, inicia-se o processo que incluirá o êxodo do Egito e culminará com a Aliança no Sinai, eventos que compõem a Páscoa de Israel. Podemos dizer que a sua missão é preparar o caminho para a Passo de Deus para o seu povo (significado original do termo Páscoa cf. Ex 12,12-13). Então será a sua vez de acompanhar o Passe do Povo através do Mar Vermelho e através do deserto (significado derivado do termo Páscoa).
Esta é a chave do texto em uma leitura litúrgica: A misericórdia de Deus manifesta-se na sua decisão de tirar o seu povo do Egipto, de descer à sua procura e convidá-lo a sair da escravatura.
2a. leitura (1Cor 10,1-6.10-12):
São Paulo faz uma narração livres dos acontecimentos de Israel no deserto considerando a nuvem que os acompanhava, a passagem do mar, o maná e a água que brotava da rocha.
Depois acrescenta que "Eles foram batizados em relação a Moisés, na nuvem e no mar" O significado desta expressão não é claro", Paulo provavelmente usa o verbo batizar em relação a estes dois casos porque pensa principalmente nos efeitos salvíficos do batismo cristão e considera que o episódio da nuvem e a passagem do mar foram um batismo porque foram experiências salvíficas."2. Aparentemente, Paulo tinha em mente a fórmula do batismo cristão ("em nome de Cristo") e retoma aplicando-o a estes acontecimentos ligados à pessoa de Moisés. Também a referência ao maná e à água da rocha os apresenta de alguma forma interpretados a partir da fé cristã: trata-se de comida e bebida espiritual; e essa rocha era Cristo3.
São Paulo quer, através desta referência aos acontecimentos em Israel, chamar a atenção para duas coisas. Em primeiro lugar, que Não basta ter sido batizado e comer e beber os dons de Cristo para agradar a Deus.. Em segundo lugar, há um claro contraste entre o universalidade do chamado e dos dons de Deus ao povo (“todos”é repetido 4 vezes) e a brevidade da resposta (“muito poucos agradavam a Deus”). Portanto, Todos foram beneficiados pelos atos salvíficos e dons de Deus, mas a maioria deles caiu no deserto.
Esta é uma interpretação tipológica do êxodo de Israel. Paulo se lembra do caminho difícil de Israel para que servir de lição aos coríntios para que levem a sério o Dom de Deus, sua Graça. Este é um exemplo negativo porque apresenta os pecados de Israel para que os cristãos não os cometam e a mesma coisa aconteça com eles. Aparentemente São Paulo,
com o judaísmo de sua época, considera desejo ou ganância como fonte de outros males (cf. 1Tes 4,5; Rm 1,24; 6,12; 7,7.8; Gl 5,16.17.24). Em suma, é um forte alerta para não adormecer em falsa segurança (“quem fica de pé teme não cair”). Como diz P. Tena: “A segunda leitura é o comentário e a advertência aos cristãos, na perspectiva tipológica, do caminho do Êxodo. Esta advertência é notável para a Quaresma: não basta falar dela, mas deve ser realizada”4.
Evangelho (Lucas 13:1-9):
Ao interpretar este texto, lembremo-nos que ele é precedido por uma exortação de Jesus para “discernir o tempo presente”(cf. Lc 12, 54-59). Isto é, Jesus Compromete cada um a considerar o seu tempo como habitado por Deus, com todo o peso de julgamento e de perdão que esta presença implica. Uma vez estabelecida esta verificação decisiva, ela nos convida a tomar medidas urgentes: com respeito a si mesmo, compromisso; em relação a Deus, confiança e esperança; em relação aos outros, algo muito diferente de processos ou guerras”5.
O texto de hoje contém duas subunidades literárias e cada uma contribui com o seu tema, sem esquecer que se complementam. A primeira (Lucas 13:1-5) é um chamado urgente para conversão. A segunda (Lc 13,6-9), com a intercessão do viticultor, fala-nos da paciência e compaixão de Deus. Ao mesmo tempo, o contexto mais amplo em que estes textos se encontram no Evangelho de Lucas (cf. Lucas
12,35-59; 13,22-35) é dominado pelo convite urgente de Jesus a dar frutos de vida cristã tendo em conta os sinais dos tempos6.
O primeira subunidade Começa com informações trazidas a Jesus sobre um ato de crueldade de Pilatos contra alguns galileus. O acontecimento deve ter sido recente e, embora não haja notícias dele em fontes extrabíblicas, corresponde à forma cruel de Pilatos proceder face a qualquer suspeita de rebelião contra a autoridade romana ou contra si mesmo. Jesus comenta esta notícia, condenando como falsa aquela que seria a interpretação comum ou popular do seu tempo: esses
2 JM Diaz Rodelas, Primeira carta aos Coríntios, 169.
3 Na literatura rabínica já encontramos a ideia de que a rocha seguia os israelitas: “a fonte rochosa subia com eles às montanhas e descia com eles aos vales; no lugar onde estava Israel também ficava diante deles em direção à entrada do tabernáculo”, Tosefta, Peúga 3,11.
Os galileus eram pecadores e sofreram aquela morte como punição pelos seus pecados. “Garanto-lhe que não é” (não, eu te digo) Jesus fala sobre esta interpretação errônea em 13:3.5.
A seguir, a partir deste acontecimento, Jesus faz um convite aos conversão para não perecer. Ou seja, lembre-se que todos somos pecadores e necessitamos de conversão. Os interlocutores de Jesus pensavam apenas no pecado dos outros, na culpa dos outros; Jesus confronta-os com a sua própria realidade e com os seus próprios pecados, convidando-os a para a conversão (arrepender-se)7.
Em seguida, Jesus reforça sua posição ao mencionar outro infortúnio ocorrido – a queda da torre de Siloé que matou 18 pessoas em Jerusalém – e fazendo a mesma interpretação do fato: isso não aconteceu com eles porque eram mais pecadores8. E repita a mesma chamada para a conversão (arrepender-se).
Jesus nega claramente que esses infortúnios aconteceram a essas pessoas porque eram mais pecadores do que os demais. Mas ele continua dizendo: "Se você não se converter, todos vocês perecerão da mesma forma" (13,3.5). Pode nos ajudar a entender o significado desta afirmação saber que o verbo Apolo (que diabos, escória) tem vários significados no evangelho: morrer ou se perder. Este último sentido – estar perdido – É interessante porque Lucas o utiliza para se referir à ovelha perdida e à dracma (cf. 15,4.6.8.9) e ao filho pródigo (cf. 15,24.32). Portanto, para Jesus Perecer ou morrer é estar longe de Deus, é estar perdido. Neste sentido, o oposto da perdição é a salvação:
Lucas 9:24-25: Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a vida por minha causa, salvá-la-á. Que bem fará a um homem ganhar o mundo inteiro, se perder e arruinar a sua vida?
Lucas 19:10: porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido.
Por sua vez, os interlocutores de Jesus querem saber se o pecado é a causa da morte temporária do homem, uma morte trágica nos casos propostos. Jesus responde-lhes que o pecado é certamente a causa do perdição ou condenação, morte eterna, do homem, de todos os homens. Por isso a necessidade da conversão, de deixar-se encontrar pela salvação que vem de Deus e está presente na Pessoa de Jesus.
No segunda subunidade, com a parábola da figueira, a ênfase é colocada a misericórdia de Deus que sabe esperar mais um pouco. Ao mesmo tempo, é um chamado à atenção para falhas de omissão, por receber tantos presentes ou cuidados de Deus e não respondendo com frutos de autêntica vida cristã9. Como diz A. Rodríguez Carmona10: “Assim como a figueira é plantada para dar frutos, Deus plantou cada pessoa para dar frutos com base no seu plano para a humanidade. Deixar de fazer isso é ocupar um lugar inutilmente, como a figueira que não dá frutos. É um grande erro reconhecer a necessidade da conversão e adiá-la constantemente, pois não sabemos quanto tempo de paciência, que Jesus obteve para todos os pecadores. Portanto, a decisão pessoal de abandonar o pecado é urgente.”.
A parábola tem um final surpreendente, sobretudo no que diz respeito à intercessão do vinhateiro, que tenta salvar a figueira. O viticultor não se contenta em pedir um prazo ao proprietário, mas está até disposto a dar o seu melhor para salvar a figueira com duas tarefas específicas: retirar a terra e fertilizá-la. Uma leitura cristológica abre-nos a uma dimensão importante da obra de Cristo, intercessor junto do Pai e solidário com a nossa salvação.. Mas a boa vontade da figueira ainda permanece, a sua disponibilidade para dar bons frutos. A parábola fica assim inacabada, com um final aberto cujo desfecho, positivo ou negativo, dependerá da reação da figueira. É então um apelo à conversão, à frutificação.
ALGUMAS REFLEXÕES
Os homens têm uma tendência instintiva de fugir daquilo que é difícil, árduo ou perigoso. E esta tendência pode levar-nos a querer “fugir” do evangelho de hoje porque a sua mensagem nos deixa bastante desconfortáveis. Jamais nos ocorreria contar a alguém que nos comentasse alguma tragédia ocorrida para interpretá-la como um chamado à conversão. Mas Jesus fez isso com dois infortúnios que ocorreram em seu tempo. Sem dúvida, no primeiro, é condenável a crueldade de Pilatos motivada pela sua ambição de poder absoluto. Mas o colapso da torre de Siloé não parece ter uma causa humana óbvia.
É possível que a leitura deste texto desperte a pergunta permanente sobre a origem e o significado do mal; a razão dos infortúnios que de uma forma ou de outra nos afetam a todos. Mas este texto mostra que O próprio Jesus evitou entrar nessas especulações; “não pensa na origem do infortúnio, mas no futuro dos vivos”11.
Em relação a discernimento dos sinais dos tempos, das desgraças de ontem e de hoje, Jesus neste evangelho nos deixa claras três coisas:
1. Num momento de crise não devemos perder-nos em especulações sobre a origem do mal, dos infortúnios; o que significaria ficar no passado e não olhar para o futuro. O discernimento é "avançar" o, Se você prefere “para cima” porque esperamos que Deus responda com a nossa vida, hoje.
2.Jesus rejeita o antigo princípio segundo o qual todo sofrimento ou infortúnio é sempre causado pelo pecado pessoal (cf. Jo 9,2-3). São João Paulo II reafirmou-o em Salvio da dor nº 11: “Se é verdade que o sofrimento tem sentido como punição quando está ligado à culpa, não é verdade, pelo contrário, que todo sofrimento é consequência da culpa e tem caráter de punição (...) O livro de Jó é argumento suficiente para que a resposta à questão sobre o significado do sofrimento não esteja vinculada sem reservas à ordem moral, baseada apenas na justiça". Agora, embora não possamos generalizar dizendo que os infortúnios são castigos divinos pelo pecado, podemos dizer que são um convite de Deus para nos reconhecermos como frágeis e pecadores. Talvez o critério de discernimento indicado pelo Padre Jorge se aplicasse aqui, de forma análoga. Bergoglio comentando as “Cartas da Tribulação” (Herder, 2019): “Discutem-se ideias, discerne-se a situação... O que acontece não é coincidência: aqui subjacente está uma dialética típica da situacionalidade do discernimento: procurar – dentro de si – um estado semelhante ao exterior. Neste caso, ver-se sozinho perseguido poderia engendrar o mau espírito de “sentir-se vítima”, objeto de injustiça, etc. Lá fora, devido à perseguição, há confusão... Ao considerar os seus próprios pecados, o jesuíta pede – para si mesmo – “vergonha e confusão de mim mesmo”. Não é a mesma coisa, mas são semelhantes; e - desta forma - estamos em melhor posição para fazer o discernimento”.
3. Tanto as desgraças passadas como as atuais são sobretudo um convite urgente à conversão, a rever a nossa situação em relação a Deus, a nós mesmos e aos outros. Para se referir à conversão usa-se o termo grego eu me arrependo que o Léxico O grego do NT de Danker traduz: “ter uma grave mudança de opinião ou de coração em relação a um determinado ponto de vista ou estilo de conduta anterior, em vista de um futuro desenvolvimento extraordinário”. Como exemplo de aplicação disto à realidade, observemos como o Papa Francisco discerniu na pandemia um apelo de Deus à conversão. Isto é o que ele expressou em sua Mensagem A cidade e o mundo durante o momento extraordinário de oração do dia 27 de março de 2020: “Converte-te", "volta para mim de todo o coração" (Jl 2,12). Tu chamas-nos a encarar este tempo de provação como um momento de escolha. Não é o momento do teu julgamento, mas do nosso julgamento: o momento de escolher entre o que realmente conta e o que passa, de separar o que é necessário do que não é. É o momento de restabelecer o rumo da vida para ti, Senhor, e para com os outros.”.
Em resumo, o cerne da mensagem da primeira parte do evangelho é, sem dúvida, tornar-se ou perecer (condenar). Assim, este terceiro domingo da Quaresma confronta-nos com a nossa própria realidade de pecadores e faz um apelo urgente à conversão. E ignorar este apelo implica um grande risco para o nosso futuro eterno. Por outras palavras, o evangelho de hoje convida-nos a levar muito a sério o seu apelo à conversão que ouvimos no início da Quaresma: “Converta-se e acredite no evangelho.”
O Senhor nos chama à conversão de muitas maneiras. Em primeiro lugar, de uma forma suave e atrativa, através das suas palavras e movimentos interiores.
Outras vezes, isso acontece através de acontecimentos dolorosos, que a princípio nos irritam. e rebelião, mas se soubermos “lê-los” a partir do Evangelho, descobriremos que atravésEntre eles, o Senhor quer tirar-nos das falsas seguranças e convida-nos a depositar nele toda a nossa fé e confiança.
Comentando o Evangelho de hoje, o Papa Francisco disse: “Devemos estar atentos: quando o mal nos oprime, corremos o risco de perder a lucidez, e para encontrar uma resposta fácil para o que não conseguimos explicar, acabamos por culpar Deus... Quantas vezes atribuímos as nossas desgraças e as desgraças do mundo Àquele que, por outro lado, sempre nos deixa livres e, por isso, nunca intervém impondo-se, apenas propondo; a Ele, que nunca usa a violência, mas, pelo contrário, sofre por nós e connosco! …O mal nunca pode vir de Deus, porque Ele “não nos trata segundo os nossos pecados” (Podemos 103,10), mas segundo a sua misericórdia. É o estilo de Deus. Você não pode nos tratar de outra maneira. Ele sempre nos trata com misericórdia.
Em vez de culpar a Deus, diz Jesus, temos que olhar para dentro: é o pecado que produz a morte; É o nosso egoísmo que destrói os relacionamentos; São as nossas decisões erradas e violentas que desencadeiam o mal. Neste ponto, o Senhor oferece a verdadeira solução. Qual é? A conversão: “Se vocês não se converterem”, diz ele, “todos vocês perecerão da mesma maneira” (Lc 13.5). Este é um convite convincente, especialmente neste período de Quaresma. Vamos acolhê-lo com o coração aberto. Convertamo-nos do mal, renunciemos àquele pecado que nos seduz, abramo-nos à lógica do Evangelho: porque onde reinam o amor e a fraternidade, o mal já não tem poder!” (Angelus 20 de março de 2022).
A segunda parte do evangelho complementa o anúncio de “converter ou perecer” revelando a paciência e a misericórdia de Deus que quer, a todo custo, nos dar mais uma chance, “mais um ano”. “Jesus deixa aberta a porta à esperança: a esterilidade da figueira faz o agricultor implorar por mais um tempo de graça, um ano jubilar concedido pelo Senhor, pronto mais uma vez a confiar enquanto espera pelos frutos tão esperados.”12. Dessa forma, destaca a intenção de Deus, o que Ele quer e busca: a nossa salvação. Ou seja, Deus mais uma vez insiste em nós nesta Quaresma que nos convertamos para que vivamos uma vida cristã fecunda, que demos frutos. O Papa Francisco também disse isso no Angelus de 20 de março de 2020.: “Irmãos e irmãs, Deus acredita em nós! Deus confia em nós e nos acompanha com paciência, a paciência de Deus conosco. Ele não desanima, mas sempre coloca esperança em nós. Deus é Pai e olha para você como um pai: como o melhor dos pais, ele não vê os resultados que você ainda não alcançou, mas os frutos que você pode dar; Não monitora suas falhas, mas aumenta suas possibilidades; Não se detém no seu passado, mas aposta com confiança no seu futuro. Porque Deus está perto, ele está ao nosso lado. É o estilo de Deus, não esqueçamos: proximidade; Ele está próximo com misericórdia e ternura. É assim que Deus nos acompanha, é próximo, misericordioso e terno. Peçamos, portanto, à Virgem Maria que nos infunda esperança e coragem, e que desperte em nós o desejo de conversão.”.
Na primeira e na segunda leitura devemos descobrir também a presença destes temas. Na verdade, na primeira leitura Deus se manifesta como um salvador misericordioso porque decide intervir para resgatar seu povo. Para isso, Moisés é dado a conhecer e enviado ao povo. E o segundo é, como o evangelho de hoje, um aviso sério para levarmos a sério a nossa vida cristã. Israel no deserto não permaneceu fiel, por isso muitos permaneceram no caminho. Que não aconteça o mesmo conosco é a mensagem clara de São Paulo!
O ideal seria alcançar a atitude espiritual que A. Louf sugere.13: “Tudo é provisório na vida do homem, tudo está ligado ao tempo: neste sentido, tanto os justos como os pecadores vivem no tempo, no tempo que é um dom de Deus para eles, um tempo de graça e, portanto, um tempo aberto à conversão. Nem o pecador endurecido nem o justo endurecido permanecerão assim para sempre. Eles são chamados a ser “pecadores na conversão”. Deus nos toca de muitas maneiras para nos levar a esse estado de conversão. Só podemos nos preparar para que Deus nos toque. Fora da conversão estamos fora do amor. Neste caso, o homem teria apenas duas possibilidades: autossatisfação e autojustificação, ou profunda insatisfação e desespero.”.
Em suma, a salvação é um dom de Deus, mas um dom que compromete: devemos converter-nos a Deus que nos quer salvar e permanecer fiéis a Deus que nos salvou pela sua misericórdia.. Desta forma, a Quaresma convida-nos a confrontar a realidade do pecado à luz da misericórdia de Deus e sugere-nos o que devemos fazer. Antes do nosso pecado: conversão. Diante do pecado dos outros: intercessão.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Senhor
Vinhedo dos Vinhedos
Viemos até você para orar por nossa fé
Pedir e gritar para que você não nos deixe cair
Vossa Graça nos ajude nas dúvidas
Na incerteza, num tempo de escuridão.
E finalmente surge a certeza entre a morte e as sombras
Somente a sua Palavra nos mostra um caminho
E ele confirma a oportunidade em seus projetos:
A possibilidade de mudar com a sua ajuda
Move a terra Senhor, trabalha na tua vinha
Já desperdiçamos nossa herança
E a terra precisa do seu amor e da sua paciência
Será o Pai quem nos espera no caminho
E você contará a ele quando voltarmos.
Será o Espírito Santo quem animará o Partido. Amém
[1] Cf. P. Andiñach, El libro del Éxodo, Sígueme, Salamanca 2006, 72.
[2] J. M. Díaz Rodelas, Primera carta a los corintios, 169.
[3] En la literatura rabínica encontramos ya la idea de que la roca seguía a los israelitas: "la fuente rocosa subió con ellos a los montes y descendió con ellos a los valles; en el sitio donde Israel se paraba también ella se paraba frente a ellos hacia la entrada del tabernáculo", Tosefta, Sukka 3,11.
[4] El leccionario de Lucas, 23.
[5] F. Bovon, El evangelio según San Lucas II, 448.
[6] F. Bovon, El evangelio según San Lucas II, 470.
[7] Cf. L. H. Rivas, Jesús habla a su pueblo. Ciclo C (CEA; Buenos Aires 2000) 114.
[8] Tampoco este hecho aparece documentado fuera del evangelio; aunque se habla de la piscina de Siloé en 2Re 20,20 y Jn 9,7.11. Pero sabemos por Flavio Josefo que en tiempos de Pilato se hicieron trabajos de reconstrucción en ese lugar (cf. Guerras 2, 175 y Antigüedades, 18, 60).
[9] Cf. L. H. Rivas, Jesús habla a su pueblo. Ciclo C (CEA; Buenos Aires 2000) 117.
[10] Evangelio según san Lucas, BAC, Madrid, 2014, 254.
[11] F. Bovon, El evangelio según San Lucas II, 457.
[12] G. Zevini – P. G. Cabra, Lectio divina para cada día del año. Vol 3 (Verbo Divino; Navarra 2001) 197.
[13] A. Louf, A merced de su gracia, Narcea, Madrid 1991, 19-24.
SEGUNDA PARTE DE LA CUARESMA: DOMINGOS 3, 4 y 5
Los domingos tercero, cuarto y quinto de cuaresma nos presentarán el camino de la reconciliación con Dios en sus distintos momentos y dimensiones. El tercer domingo nos llevará a sentirnos tocados por la Palabra que nos llama de modo urgente a la conversión. El cuarto domingo nos invita a revivir el gozo del reencuentro con el Padre. El quinto nos presenta la vida nueva del reconciliado y busca reforzar su fidelidad de cara al futuro.
TERCER DOMINGO: DIOS ESPERA CON ANSIAS NUESTRA CONVERSIÓN 1a. Lectura (Ex 3,1-8.10.13-15):
Moisés camina por el desierto, en la soledad, ámbito privilegiado para el encuentro con Dios y figura de la cuaresma. Entonces tiene lugar la iniciativa de Dios quien se hace presente en la vida de Moisés para transformarla. Esta experiencia extraordinaria se da en medio de su labor ordinaria de pastor (3,1). El análisis del vocabulario nos revela que es clave el tema del ver. El ángel se hace ver (aparece), Moisés quiere ver, Dios ve que Moisés se acercaba para ver. Ahora bien, este ver se revela insuficiente para comprender la realidad profunda que se revela; sólo cuando Dios habla
descubre Su presencia y entonces el ver queda de lado (Moisés se cubre el rostro porque teme ver a Dios). Dios no se puede ver, sólo se puede escuchar. Y esto porque quien ve puede sucumbir a la tentación de encerrar a Dios en sus propios esquemas conceptuales, en cosificarlo. Por esto también la imagen del fuego, que es algo que no puede ser aferrado; que no podemos apropiárnoslo.
En las palabras de Dios a Moisés queda en evidencia que Él reacciona ante el sufrimiento de su pueblo (ve, oye, conoce, no se desentiende) y decide intervenir porque quiere liberarlo y hacerlo subir de Egipto y, para ello, ‘necesita’ la colaboración de Moisés. Es muy interesante este "juego" de imágenes entre Dios que baja hasta donde está su pueblo, deprimido y desesperado, para hacerlo subir a la tierra de Canaán, que implica también levantarlo de su postración1.
Por su parte, Moisés quiere conocer el nombre de Dios porque el pueblo querrá saber más acerca de quién es su Dios. Pero puede que Moisés esté proyectando también su propia duda. La respuesta de Dios es paradójica pues responde y al mismo tiempo evita responder: El es un ser incomprensible. Nos queda que Dios le revela a Moisés su nombre eterno, pero sigue siendo incompresible. La revelación del nombre de Dios en Israel no es para satisfacer la curiosidad sino medio de continua alabanza. La trascendencia divina da razón de esta paradoja de revelación - ocultamiento de Dios común al pensamiento bíblico y perteneciente, por tanto, a la esencia de la fe cristiana (cf. CATIC 203-213).
En cierto modo con este relato de la vocación/misión de Moisés comienza el proceso que incluirá el éxodo de Egipto y culminará con la Alianza en el Sinaí, acontecimientos que conforman la Pascua de Israel. Podemos decir que tiene por misión preparar el camino para el Paso de Dios por su pueblo (sentido original del término Pascua cf. Ex 12,12-13). Luego le tocará acompañar el Paso del Pueblo a través del Mar Rojo y a través del desierto (sentido derivado del término Pascua).
Esta es la clave del texto en una lectura litúrgica: la misericordia de Dios se manifiesta en su decisión de sacar a su pueblo de Egipto, de bajar a buscarlo e invitarlo a salir de la esclavitud.
2a. lectura (1Cor 10,1-6.10-12):
San Pablo hace una narración libre de los acontecimientos de Israel en el desierto considerando la nube que los acompañaba, el paso del mar, el maná y el agua que brotó de la roca.
1 Cf. P. Andiñach, El libro del Éxodo, Sígueme, Salamanca 2006, 72.
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Luego añade que "fueron bautizados en relación con Moisés, en la nube y en el mar". No es claro el sentido de esta expresión, "lo más probable es que Pablo utilice el verbo bautizar en relación con estos dos casos porque piensa principalmente en los efectos salvíficos del bautismo cristiano y considera que el episodio de la nube y del paso del mar fueron un bautismo por haber sido experiencias salvíficas"2. Al parecer Pablo tenía en mente la fórmula del bautismo cristiano ("en el nombre de Cristo") y la retrotrae aplicándosela a estos hechos vinculados con la persona de Moisés. También la referencia al maná y al agua de la roca las presenta de algún modo interpretadas desde la fe cristiana: se trata de comida y bebida espiritual; y esa roca era Cristo3.
San Pablo quiere, mediante esta referencia a los acontecimientos de Israel, llamar la atención sobre dos cosas. En primer lugar, que no es suficiente haber sido bautizado y comer y beber los dones de Cristo para ser gratos a Dios. En segundo lugar, se nota un claro contraste entre la universalidad del llamado y de los dones de Dios al pueblo (“todos” se repite 4 veces) y lo reducido de la respuesta (“muy pocos fueron agradables a Dios”). Por tanto, todos fueron beneficiados por los actos salvíficos y los dones de Dios, pero la mayoría de ellos cayeron en el desierto.
Se trata de una interpretación tipológica del éxodo de Israel. Pablo hace memoria del accidentado camino de Israel para que les sirva de lección a los corintios a fin de que tomen en serio el Don de Dios, su Gracia. Se trata de un ejemplo negativo por cuanto presenta los pecados de Israel para que los cristianos no los cometan y les suceda lo mismo que a ellos. Al parecer san Pablo,
con el judaísmo de su época, considera al deseo o codicia como fuente de los demás males (cf. 1Tes 4,5; Rom 1,24; 6,12; 7,7.8; Gal 5,16.17.24). En fin, es una fuerte llamada de atención para no dormirse en falsas seguridades (“el que esté en pie tema no caer”). Como bien dice P. Tena: “La segunda lectura es el comentario y el aviso para los cristianos, en la perspectiva tipológica, del camino del Éxodo. Este aviso es remarcable para la Cuaresma: no basta con hablar de ella, sino que hay que realizarla”4.
Evangelio (Lc 13,1-9):
A la hora de interpretar este texto recordemos que está precedido por una exhortación de Jesús a “discernir el tiempo presente” (cf. Lc 12, 54-59). Es decir, Jesús “compromete a cada uno a considerar su tiempo como habitado por Dios, con todo el peso de juicio y de perdón que implica esta presencia. Una vez establecida esta constatación decisiva, invita a tomar medidas de urgencia: respecto a uno mismo, el compromiso; respecto a Dios, la confianza y la esperanza; respecto al prójimo, algo muy distinto de los procesos o guerras”5.
El texto de hoy contiene dos subunidades literarias y cada una aporta su propio tema, sin olvidar que se complementan. La primera (Lc 13,1-5) es un llamado urgente a la conversión. La segunda (Lc 13,6-9), con la intercesión del viñador, nos habla de la paciencia y la compasión de Dios. A su vez el contexto mayor en que se encuentran estos textos en el evangelio de Lucas (cf. Lc
12,35-59; 13,22-35) está dominado por la invitación urgente de Jesús a dar frutos de vida cristiana teniendo en cuenta los signos de los tiempos6.
La primera subunidad comienza con una información que le acercan a Jesús sobre un acto de crueldad de Pilato contra unos galileos. El acontecimiento debió ser reciente y, si bien no hay noticias del mismo en fuentes extrabíblicas, se corresponde con el modo cruel de proceder de Pilato ante cualquier sospecha de rebelión contra la autoridad romana o contra su persona. Jesús comenta esta noticia condenando por falsa la que sería la interpretación común o popular de su tiempo: estos
2 J. M. Díaz Rodelas, Primera carta a los corintios, 169.
3 En la literatura rabínica encontramos ya la idea de que la roca seguía a los israelitas: "la fuente rocosa subió con ellos a los montes y descendió con ellos a los valles; en el sitio donde Israel se paraba también ella se paraba frente a ellos hacia la entrada del tabernáculo", Tosefta, Sukka 3,11.
4 El leccionario de Lucas, Dossiers CPL, Barcelona 1991, 23.
5 F. Bovon, El evangelio según San Lucas II, 448.
6 F. Bovon, El evangelio según San Lucas II, 470.
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galileos eran pecadores y sufrieron esa muerte como castigo por sus pecados. “Les aseguro que no” (οὐχί, λέγω ὑμῖν) dice Jesús sobre esta interpretación errónea en 13,3.5.
A continuación, a partir de este acontecimiento, Jesús hace una invitación a la conversión para no perecer. Es decir, recuerda que todos somos pecadores y estamos necesitados de conversión. Los interlocutores de Jesús pensaban solamente en el pecado de los otros, en la culpa de los demás; Jesús los enfrenta con su propia realidad y con sus propios pecados invitándolos a la conversión (μετανοῆτε)7.
Luego, Jesús refuerza su postura mencionando otra desgracia sucedida – la caída de la torre de Siloé que mató a 18 personas en Jerusalén – y haciendo la misma interpretación del hecho: no les sucedió esto por ser más pecadores8. Y repite el mismo llamado a la conversión (μετανοῆτε).
Jesús niega claramente que estas desgracias les sucedieron a esas personas por ser más pecadoras que el resto. Pero afirma a continuación: "si ustedes no se convierten, todos perecerán de la misma manera" (13,3.5). Puede ayudarnos a comprender el sentido de esta afirmación el saber que el verbo apóllumi (a vpo,llumi) tiene en el evangelio varios sentidos: morir o perderse. Este último sentido – perderse – es interesante porque lo utiliza Lucas para referirse a la oveja y la dracma perdidas (cf. 15,4.6.8.9) y al hijo pródigo (cf. 15,24.32). Por tanto, para Jesús perecer o morir es estar lejos de Dios, es estar perdido. En este sentido lo opuesto de la perdición es la salvación:
Lc 9,24-25: Porque el que quiera salvar su vida, la perderá y el que pierda su vida por mí, la salvará. ¿De qué le servirá al hombre ganar el mundo entero, si pierde y arruina su vida?
Lc 19,10: porque el Hijo del hombre vino a buscar y a salvar lo que estaba perdido.
Por su parte, los interlocutores de Jesús quieren saber si el pecado es la causa de la muerte temporal del hombre, muerte trágica en los casos propuestos. Jesús les responde que el pecado es con certeza la causa de la perdición o condenación, muerte eterna, del hombre, de todos los hombres. Por eso la necesidad de la conversión, de dejarse encontrar por la salvación que viene de parte de Dios y se hace presente en la Persona de Jesús.
En la segunda subunidad, con la parábola de la higuera, se pone el acento en la misericordia de Dios que sabe esperar un poco más. Al mismo tiempo es un llamado de atención por las faltas de omisión, por recibir tantos dones o cuidados por parte de Dios y no responder con frutos de auténtica vida cristiana9. Como bien dice A. Rodríguez Carmona10: “Como la higuera se planta para que dé fruto, Dios ha plantado cada persona para que dé frutos en función de su plan sobre la humanidad. El no hacerlo, es ocupar inútilmente un lugar, como la higuera que no da fruto. Es un gran error reconocer la necesidad de la conversión y posponerla constantemente, pues no conocemos la duración del tiempo de la paciencia, que nos ha conseguido Jesús a todos los pecadores. Por ello urge la decisión personal de abandonar el pecado”.
La parábola tiene un final sorprendente, en particular por lo referente a la intercesión del viñador, quien intenta salvar a la higuera. El viñador no se contenta con pedir un plazo al propietario, sino que está dispuesto incluso a dar lo mejor de sí para salvar la higuera con dos tareas concretas: remover la tierra y abonarla. Una lectura cristológica nos abre a una dimensión importante de la obra de Cristo intercesor ante el Padre y solidario con nuestra salvación. Pero todavía queda en pie la buena voluntad de la higuera, su disposición para dar buenos frutos. La parábola queda así inacabada, con un final abierto cuyo desenlace, positivo o negativo, dependerá de la reacción de la higuera. Se trata entonces de un llamado a la conversión, a dar frutos.
7 Cf. L. H. Rivas, Jesús habla a su pueblo. Ciclo C (CEA; Buenos Aires 2000) 114.
8 Tampoco este hecho aparece documentado fuera del evangelio; aunque se habla de la piscina de Siloé en 2Re 20,20 y Jn 9,7.11. Pero sabemos por Flavio Josefo que en tiempos de Pilato se hicieron trabajos de reconstrucción en ese lugar (cf. Guerras 2, 175 y Antigüedades, 18, 60).
9 Cf. L. H. Rivas, Jesús habla a su pueblo. Ciclo C (CEA; Buenos Aires 2000) 117.
10 Evangelio según san Lucas, BAC, Madrid, 2014, 254.
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ALGUNAS REFLEXIONES
Los hombres tenemos una tendencia instintiva a huir de lo difícil, arduo o peligroso. Y esta tendencia puede llevarnos a querer "huir" del evangelio de hoy pues su mensaje nos incomoda bastante. A nosotros nunca se nos ocurriría decirle a quien nos hiciera un comentario sobre la alguna tragedia sucedida que la interprete como una llamada a la conversión. Pero Jesús ha hecho esto con dos desgracias sucedidas en su tiempo. Sin duda que en la primera es condenable la crueldad de Pilato movido por su ambición de poder absoluto. Pero el desplome de la torre de Siloé no parece tener una causa humana evidente.
Es posible que la lectura de este texto despierte la pregunta permanente sobre el origen y sentido del mal; el por qué de las desgracias que de una forma u otra nos tocan a todos. Pero este texto muestra que Jesús mismo evitó entrar en estas especulaciones; “no piensa en el origen de la desdicha, sino en el porvenir de los vivientes”11.
En relación al discernimiento de los signos de los tiempos, de las desgracias de ayer y de hoy, Jesús en este evangelio nos deja en claro tres cosas:
1. En un momento de crisis no hay que perderse en especulaciones sobre el origen del mal, de las desgracias; lo que supondría quedarse en el pasado y no mirar al futuro. El discernimiento es “hacia delante” o, si se prefiere “hacia arriba” porque miramos hacia Dios para responder con nuestra vida, hoy.
2. Jesús rechaza el principio antiguo según el cual todo sufrimiento o desgracia tiene siempre como causa un pecado personal (cf. Jn 9,2-3). Lo reafirmaba san Juan Pablo II en Salvici Doloris n° 11: "Si es verdad que el sufrimiento tiene un sentido como castigo cuando está unido a la culpa, no es verdad, por el contrario, que todo sufrimiento sea consecuencia de la culpa y tenga carácter de castigo (...) El libro de Job es un argumento suficiente para que la respuesta a la pregunta por el sentido del sufrimiento no esté unida sin reservas al orden moral, basado sólo en la justicia". Ahora bien, aunque no podemos generalizar diciendo que las desgracias son castigos divinos por el pecado, sí podemos decir que son una invitación de Dios a reconocernos frágiles y pecadores. Tal vez se aplicaría aquí, análogamente, el criterio de discernimiento que señalaba el P. Jorge Bergoglio comentando las “Cartas de la tribulación” (Herder, 2019): “Las ideas se discuten, la situación se discierne… Lo que sucede no es casual: subyace aquí una dialéctica propia de la situacionalidad del discernimiento: buscar —dentro de sí mismo— un estado parecido al de fuera. Es este caso, verse solo perseguido podría engendrar el mal espíritu de «sentirse víctima», objeto de injusticia, etc. Fuera, por la persecución, hay confusión… Al considerar los pecados propios, el jesuita pide —para sí— «vergüenza y confusión de mí mismo». No es la misma cosa, pero se parecen; y —de esta manera— se está en mejor disposición de hacer el discernimiento”.
3. Tanto las desgracias del pasado como las actuales son ante todo una invitación, con carácter urgente, a la conversión, a revisar nuestra situación respecto de Dios, de nosotros mismos y de los demás. Para referirse a la conversión se utiliza el término griego μετανοέω que el Léxico griego del NT de Danker traduce: “tener un serio cambio de mentalidad o de corazón en relación a un determinado punto de vista previo o un estilo de conducta, de cara a un futuro desarrollo extraordinario”. Como ejemplo de aplicación de esto a la realidad, notemos cómo el Papa Francisco ha discernido en la pandemia un llamado de Dios a la conversión. Así lo expresó en su Mensaje Urbi et orbi durante el momento extraordinario de oración del 27 de marzo de 2020: “Convertíos”, «volved a mí de todo corazón» (Jl 2,12). Nos llamas a tomar este tiempo de prueba como un momento de elección. No es el momento de tu juicio, sino de nuestro juicio: el tiempo para elegir entre lo que cuenta verdaderamente y lo que pasa, para separar lo que es necesario de lo que no lo es. Es el tiempo de restablecer el rumbo de la vida hacia ti, Señor, y hacia los demás”.
11 F. Bovon, El evangelio según San Lucas II, 457.
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En síntesis, el núcleo del mensaje de la primera parte del evangelio es sin dudas convertirse o perecer (condenarse). Así, este tercer domingo de cuaresma nos enfrenta con nuestra propia realidad de pecadores y nos hace un llamado urgente a la conversión. Y desoír este llamado implica un gran riesgo de cara a nuestro futuro eterno. En otras palabras, el evangelio de hoy nos invita a tomar muy en serio su llamada a la conversión que escuchamos al inicio de la cuaresma: “Conviértanse y crean en el evangelio”.
El Señor nos llama a la conversión de muchas maneras. En primer lugar, de modo suave y atrayente, por medio de sus palabras y las mociones interiores.
Otras veces lo hace a través de acontecimientos dolorosos, que al principio nos causan enojo y rebelión, pero si sabemos “leerlos” desde el Evangelio descubrimos que a través de ellos el Señor quiere sacarnos de nuestras falsas seguridades e invitarnos a poner toda nuestra fe y confianza en Él.
Comentando el evangelio de hoy decía el Papa Francisco: “Hemos de estar atentos: cuando el mal nos oprime, corremos el riesgo de perder lucidez, y para encontrar una respuesta fácil a cuanto no logramos explicarnos, terminamos por echarle la culpa a Dios…. ¡Cuántas veces le atribuimos nuestras desgracias y las desventuras del mundo a Él que, en cambio, nos deja siempre libres y, por tanto, no interviene nunca imponiéndose, tan solo proponiéndose; a Él, que nunca usa la violencia, sino que, por el contrario, ¡sufre por nosotros y con nosotros! … De Dios no puede venir nunca el mal, porque Él «no nos trata según nuestros pecados» (Sal 103,10), sino conforme a su misericordia. Es el estilo de Dios. No puede tratarnos de otro modo. Siempre nos trata con misericordia.
En vez de culpar a Dios, dice Jesús, tenemos que mirar nuestro interior: es el pecado el que produce la muerte; son nuestros egoísmos los que laceran las relaciones; son nuestras decisiones equivocadas y violentas las que desencadenan el mal. En este punto, el Señor ofrece la verdadera solución. ¿Cuál es? La conversión: «Si no os convertís -dice- pereceréis todos del mismo modo» (Lc 13,5). Se trata de una invitación apremiante, especialmente en este tiempo de Cuaresma. Acojámosla con el corazón abierto. Convirtámonos del mal, renunciemos a aquel pecado que nos seduce, abrámonos a la lógica del Evangelio: ¡porque donde reinan el amor y la fraternidad, el mal ya no tiene poder!” (Ángelus 20 de marzo de 2022).
La segunda parte del evangelio complementa el anuncio de “convertirse o perecer” revelando la paciencia y la misericordia de Dios que quiere, a toda costa, darnos otra oportunidad, "un año más". “Jesús deja la puerta abierta a la esperanza: la esterilidad de la higuera hace suplicar al labrador un ulterior tiempo de gracia, un año jubilar concedido por el Señor, dispuesto una vez más a confiar en espera de los frutos añorados desde hace mucho tiempo”12. Resalta, de este modo, la intención de Dios, lo que Él quiere y busca: nuestra salvación. Es decir, Dios vuelve a insistirnos en esta cuaresma que nos convirtamos para que vivamos una vida cristiana fecunda, que demos frutos. Al respecto decía también el Papa Francisco en el ángelus del 20 de marzo de 2020: “Hermanos y hermanas, ¡Dios cree en nosotros! Dios se fía de nosotros y nos acompaña con paciencia, la paciencia de Dios con nosotros. No se desanima, sino que pone siempre esperanza en nosotros. Dios es Padre y te mira como un padre: como el mejor de los papás, no ve los resultados que aún no has alcanzado, sino los frutos que puedes dar; no lleva la cuenta de tus faltas, sino que realza tus posibilidades; no se detiene en tu pasado, sino que apuesta con confianza por tu futuro. Porque Dios está cerca, está a nuestro lado. Es el estilo de Dios, no lo olvidemos: cercanía; Él está cerca con misericordia y ternura. Así nos acompaña Dios, es cercano, misericordioso y tierno. Pidamos, por tanto, a la Virgen María que nos infunda esperanza y valor, y que encienda en nosotros el deseo de conversión”.
En la primera y la segunda lectura hay que descubrir también la presencia de estos temas. En efecto, en la primera lectura Dios se manifiesta como misericordioso salvador pues se decide a intervenir para rescatar a su pueblo. Para esto se da a conocer a Moisés y lo envía al pueblo. Y la segunda es, al igual que el evangelio de hoy, una advertencia seria para que tomemos en serio nuestra vida cristiana. Israel en el desierto no permaneció fiel, por eso muchos quedaron en el camino. ¡Que no nos pase lo mismo!, es el mensaje claro de San Pablo.
El ideal sería alcanzar la actitud espiritual que nos sugiere A. Louf13: “Todo es provisional en la vida del hombre, todo está ligado al tiempo: en este sentido, tanto justos como pecadores viven en el tiempo, tiempo
12 G. Zevini – P. G. Cabra, Lectio divina para cada día del año. Vol 3 (Verbo Divino; Navarra 2001) 197. 13 A. Louf, A merced de su gracia, Narcea, Madrid 1991, 19-24.
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que es un don de Dios para ellos, un tiempo de gracia, y por ello, un tiempo abierto a la conversión. Ni el pecador empedernido ni el justo empedernido permanecerán así para siempre. Están llamados a ser "pecadores en conversión". Dios nos toca de muchas maneras para llevarnos a este estado de conversión. Nosotros sólo podemos prepararnos para que Dios nos toque. Fuera de la conversión estamos fuera del amor. En este caso no le quedarían al hombre más que dos posibilidades: la satisfacción de sí y la justicia propia, o una profunda insatisfacción y la desesperación”.
En síntesis, la salvación es un don de Dios, pero un don que compromete: hay que convertirse a Dios que nos quiere salvar y permanecer fieles al Dios que nos salvó por su misericordia. De este modo la cuaresma nos invita a enfrentarnos con la realidad del pecado a la luz de la misericordia de Dios y nos sugiere lo que debemos hacer. Ante nuestro pecado: conversión. Ante el pecado de los demás: intercesión.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Señor
Viñador de los viñadores
Venimos a ti a rogar por nuestra fe
A pedir y clamar que no nos dejes caer
Tu Gracia nos asista entre las dudas
En la incertidumbre, en un tiempo de penumbras.
Y al fin surja la certeza entre la muerte y las sombras
Solo tu Palabra nos marca un camino
Y nos confirma la oportunidad en sus designios:
La posibilidad de cambiar con tu auxilio
Remueve la tierra Señor, trabaja en tu viña
Ya hemos malgastado nuestra herencia
Y la tierra necesita de tu Amor y tu Paciencia
Será el Padre quien nos espere en el camino
Y Tú le hablarás de cuando estemos de vuelta.
Será el Espíritu Santo quien animará la Fiesta. Amén