16/03/2025
1ª Leitura: Gênesis 15,5-12.17-18
Salmo 26(27)-R- O Senhor é minha luz e salvação
2ª Leitura: Filipenses 3,17-4,1
Evangelho de Lucas 9, 28b-36
Naquele tempo: 28bJesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para rezar. 29Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. 30Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias. 31Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém. 32Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. 33E quando estes homens se iam afastando, Pedro disse a Jesus: 'Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias.' Pedro não sabia o que estava dizendo. 34Ele estava ainda falando, quando apareceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Os discípulos ficaram com medo ao entrarem dentro da nuvem. 35Da nuvem, porém, saiu uma voz que dizia: 'Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!' 36Enquanto a voz ressoava, Jesus encontrou-se sozinho. Os discípulos ficaram calados e naqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto. Palavra da Salvação.
Lc 9,28-36
O relato da transfiguração do Senhor destaca a transformação do rosto de Jesus. Moisés e Elias conversam com Jesus, mas somente o rosto de Jesus resplandece. Os discípulos não entenderam o senso profundo desse evento. Sinal dessa incompreensão é a proposta de Pedro de construir três tendas, uma para cada um: Jesus, Moisés e Elias. Pedro coloca Jesus no mesmo plano, no mesmo nível que os dois grandes personagens do Antigo Testamento. A cada um será oferecida uma tenda. Jesus não ocupa lugar central no coração de Pedro e de seus companheiros.
A voz do Pai, no entanto, corrige os discípulos e revela a verdadeira identidade de Jesus: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que Ele diz”. Jesus não pode ser confundido com um profeta: Ele é superior a Moisés e Elias, porque é o Filho. A consequência dessa superioridade é a obediência. É preciso escutar Jesus. Ele é a Palavra decisiva e definitiva de Deus. As outras palavras, as palavras anteriores dos profetas conduzem todas a Jesus.
Ouvir Jesus... obedecer a Jesus... seguir Jesus... É urgente recuperar na Igreja a importância decisiva que teve a experiência de ouvir Jesus que os Apóstolos tiveram. Eles foram impactados por Jesus e se sentiram atraídos por Ele e o seguiram.
Precisamos desenvolver em nós uma nova paixão em ouvir Jesus, uma vontade ardente de ouvi-lo e de nos encontrar com Ele.
O Pai nos convida: escutai-o! Escutamos para conhecer e imitar Jesus. Nesse sentido, é preciso recordar que a transfiguração está no início do caminho da paixão, assim como o batismo está no início da vida pública de Jesus. A cruz ocupa um lugar especial no caminho de seguimento de Jesus.
A cruz põe em relação direta a transfiguração de Jesus com a nossa transfiguração. Jesus se transfigurou para que nós sejamos também transfigurados nele; e o mistério da paixão e morte faz essa relação.
Jesus não subiu ao monte para ser transfigurado, mas para rezar. A intenção de Jesus é orar. A transfiguração foi o efeito da sua oração. Foi enquanto orava que Jesus foi inundado de felicidade e o seu rosto resplandeceu. Isso é um forte apelo para nós: não progrediremos no seguimento de Jesus sem oração. Sem oração como a de Jesus, não seremos transfigurados, ou seja, sem a oração feita com calma, no silêncio e afastada de toda outra atividade. Não basta rezar enquanto trabalhamos ou dirigimos o carro ou estamos no ônibus. Não é suficiente a oração feita em pedaços, sob forma de jaculatórias. É preciso, ao menos uma vez por dia, uma oração um pouco mais longa que permita ao nosso coração tomar contato profundo com Deus.
O Pai nos convida: Este é o meu Filho Amado, escutai-o. Na missa nós o ouvimos pela proclamação da Palavra. Agora ele nos convida a comungar de seu corpo e de seu sangue. Escutando o Filho, comungando de Jesus seremos também nós transfigurados.
“Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, e subiu à montanha para rezar” (Lc 9,28)
O tema do Ano Jubilar (“Peregrinos de esperança”) vem confirmar que somos todos peregrinos, pessoas num processo dinâmico de crescimento e amadurecimento. Cada um de nós deve marchar corajosamente seguindo seu próprio ritmo, escalar suas próprias montanhas, ter um horizonte inspirador.
Às vezes, parece-nos mais seguro continuar na velha e conhecida trilha ou ser parte do rebanho. A estrada menos trilhada parece ser a mais arriscada.
No entanto, somos todos peregrinos, cada um a caminho do próprio destino. A estrada não é igual para todos. Cada um de nós é dotado de um potencial imenso e único.
Vivemos uma itinerância que começa dentro de nós mesmos, nas estradas e trilhas da nossa espiritualidade; um percurso revelador, que deixa transparecer nossa verdadeira identidade. Todo caminho nos “trans-figu-ra”, porque desperta nossa essência, ativa nossos melhores recursos, faz emergir nossa nobreza interior.
Uma eterna tentação também habita o ser humano: é mais cômodo e seguro ficar sentado à beira do caminho. Mas, ficar sentado é estagnar, é não crescer, é perder o caminho e se acomodar. É aceitar ser menos. É conformar-se em ter a mediocridade como horizonte; é ter vida “des-figurada”.
Quem caminha quer ser mais. Seu horizonte é o seu sonho, o seu ideal, a sua esperança.
É corajoso e persistente. Faz amigos e companheiros de caminhada. Vida “trans-figurada”.
A transfiguração não é condição de um “iluminado”, mas a realidade de toda pessoa que é capaz de “sair de seu próprio amor, querer e interesse” (S. Inácio).
Transfigurar é descentrar-se e expandir-se na direção do outro.
O tempo litúrgico da Quaresma vem nos arrancar de nossa mediocridade e de nossa acomodação; ele nos sintoniza com Aquele que é o Peregrino por excelência. Por ser Peregrino, Jesus vive sempre “trans-figurado”.
Mas os evangelistas querem destacar um momento mais denso na vida transfigurada de Jesus. Por isso, o evangelho deste segundo domingo da Quaresma nos move a “subir” com Jesus ao Monte Tabor, para ali vislumbrar a verdadeira identidade d’Ele e também a nossa.
A experiência de Montanha, portanto, significa experiência de trans-figuração, ou seja, nos revela nosso ser essencial, nos faz ir além de nossa aparência para captar nossa riqueza interior, nosso eu original.
Como aconteceu a Pedro, Tiago e João, Jesus também nos tira do caminho e nos leva consigo para nos fazer testemunhas e partícipes de seu encontro com o Pai, deste fato central em sua vida: experimentar-se como Filho Amado.
Tal relato nos convida a estar atentos diante da presença próxima e amorosa de Deus, como filhos e filhas amados(as), e a experimentar o encontro com Ele que nos “transfigura”.
A experiência de intimidade com o Pai está narrada com todos os elementos das teofanias bíblicas: subida ao monte (lugar em que Deus habita), vestimentas resplandecentes e personagens centrais da história do povo que nos conectam com a Lei e os Profetas. Mas estes elementos da teofania não nos devem tirar a nossa atenção do foco. A importância e a grandiosidade da proximidade de Deus não está na “roupagem” brilhante, mas na profundidade da experiência de Jesus, que se vê e se sente a si mesmo profundamente amado como Filho. Ele é o Filho amado do Pai, de seu Abbá. É desta experiência que os três discípulos são testemunhas. É ali, ao descobrir Jesus como Filho amado de Deus, que eles se sentem chamados a escutá-lo; ali também brota uma atração irresistível de permanecer com Ele, na montanha.
Pedro, em nome dos outros, se sentiu atordoado e pensou que já tinha chegado à hora final da Lei, do mundo e da história. E, no meio do espanto, disse: “façamos três tendas!”. Tendas, para que fiquem acampados e assim possam conservar o brilho de Deus para sempre; tendas de campanha que logo se tornarão imensos mosteiros, catedrais, basílicas gloriosas, para descansar, para admirar.
Mas, a questão verdadeira foi e continua aberta. Há um “Pedro” que continua sonhando com “templos suntuosos” e “vestes resplandecentes”, enquanto Jesus continua dialogando em meio à nuvem, com Moisés e Elias, sobre a forma de subir a Jerusalém, realizando o grande “êxodo”, o caminho que conduz à nova humanidade.
O Monte da Transfiguração é “parada inspiradora”, lugar da escuta e do discernimento, ambiente privilegiado para iluminar a opção do caminho a ser realizado.
Nesse sentido, o evangelho da transfiguração nos ajuda a descobrir nossa capacidade de escuta. Quantas vezes entramos no mais profundo de nosso ser (Tabor) para que ressoe em nós a mesma voz que Jesus ouviu: “És meu filho amado; és minha filha amada”?
Como escuto? Que palavras fazem que meus ouvidos se ampliem, para ouvir melhor? A quem fecho meus ouvidos? Que ruídos me impedem escutar atentamente o que de verdade vale a pena?
Se não fazemos silêncio em nossa vida, como vamos poder escutar as provocativas palavras que o Abbá nos diz ao coração? Se não cuidamos da experiência de sermos filhos e filhas de Deus, de onde tiraremos a força para viver cada dia?
Esta experiência de interioridade nos trans-figura, nos transforma radicalmente. Fomos criados à imagem e semelhança do bom Deus; só no silêncio podemos escutar cada dia a Palavra que nos ajuda a viver uma contínua conversão, a crescer como filhos e como irmãos, especialmente das pessoas mais pobres.
Nossa vida não se resume a pura aparência ou exterioridade, mas podemos dizer que trazemos a trans-figuração em nosso DNA.
A oração é o caminho deste retorno para dentro de nosso ser. Temos necessidade de um mundo interior, de um gosto pela “solitude” (solidão habitada), de um tempo de silêncio, de uma experiência de deserto...
Há situações humanas ante as quais nos encontramos despojados de nossos papéis, nossos títulos, nossos instrumentos de trabalho, nossas justificações, nossos disfarces... e não tem outro remédio a não ser acudir às nossas reservas mais profundas para encontrar, não tanto uma explicação, mas uma força e um sentido.
Ao experienciar-nos enraizados(as) em Deus, tornamo-nos fonte de felicidade, de paz e de alegria.
Somos gerados(as) no Amor e para o Amor.
O Amor fundante de Deus perpassa todo o nosso ser e plasma um coração novo, um novo modo de ser, de perceber, de relacionar-nos e de sentir, infundindo-nos uma visão nova de nós mesmos, dos outros, da realidade e de Deus. A pessoa é transformada por dentro.
Isto nos torna herdeiros da “imagem e semelhança” de Deus, que se revelou a Moisés como “EU SOU”. Todo ser humano, na sua identidade original, é uma faísca irrepetível do “EU SOU”, que reveste com Seu brilho o “eu sou” de cada pessoa.
Cada “faísca” traz, em si, a luz e o amor, o brilho e a vida da Trindade, que a torna única e vive uma relação pessoal no Mistério do Amor. A oração passa a ser o lugar da construção da própria identidade.
Por isso, S. Paulo fala que a “nossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Col. 3,3).
Para meditar na oração:
Inspirados pela transfiguração de Jesus, somos movidos a fazer o mesmo caminho de subida à montanha, para saber quem Ele é, para abandonar nossas tendas ilusórias, para segui-lo, sabendo que o brilho divino de seu rosto está presente em todos os homens e mulheres, e em especial nos marginalizados e explorados.
A oração é o ambiente propício de revelação de nosso Tabor interno, lugar da intimidade com o Senhor, onde cessa todo palavreado crônico, toda imagem egóica, todo pensamento interesseiro... Aqui brota um “sentimento” oblativo, despojado, simples..., através do qual Deus comunica sua Vontade.
- Sua oração: palavreado mecânico, repetitivo, auto-centrado..., ou esvaziamento de si na gratuidade?
No texto de hoje, Lucas descreve a Transfiguração. Têm momentos na vida em que o sofrimento é tanto, que a gente chega a pensar: "Deus me abandonou! Não está mais comigo!" E de repente a gente descobre que Ele nunca tinha ido embora, mas que a gente mesma estava com os olhos vendados, sem enxergar a presença dele. Aí, tudo muda e fica transfigurado. É a Transfiguração!
SITUANDO
O novo vai abrindo caminho, a transformação vai acontecendo. As tensões entre o Novo e o Antigo foram crescendo. No fim, Jesus fez um levantamento e percebeu que ninguém tinha entendido a sua proposta. O povo o imaginava como João Batista, Elias ou algum dos antigos profetas (Lc 9,18-19). Os discípulos o aceitavam como Messias, mas como Messias glorioso, bem de acordo com a propaganda do Governo e da religião oficial do Templo (Lc 9,20-21). Jesus tentou explicar aos discípulos que o caminho previsto pelos profetas era o caminho do sofrimento, como consequência do compromisso assumido com os excluídos, e que o discípulo só poderia ser discípulo se carregasse a cruz atrás dele (Lc 9,22-26). Mas não teve muito êxito. É neste contexto de crise que acontece a Transfiguração.
COMENTANDO
1. Lucas 9,28: O momento da crise
Várias vezes, Jesus já tinha entrado em conflito com as autoridades. Ele sabia que não iriam deixá-lo fazer o que estava fazendo. Mais cedo ou mais tarde, iriam prendê-lo. Pois, dentro daquela sociedade, o anúncio do Reino, do jeito que era feito por Jesus, não seria tolerado. Ou ele voltava atrás, ou seria morto! Não havia outra alternativa. Jesus não voltaria atrás. Por isso, a cruz aparece no horizonte, já não como uma possibilidade, mas sim como uma certeza (Lc 9,22). Junto com a cruz aparece a tentação de seguir pelo caminho do Messias Glorioso e não pelo caminho do Servo Crucificado. Nesta hora difícil, Jesus sobe a montanha para rezar, levando consigo Pedro, Tiago e João.
2. Lucas 9,29-31: Durante a oração
Enquanto reza, Jesus muda de aspecto e diante dos discípulos aparece glorioso, do jeito que eles o imaginavam. E junto com Jesus na mesma glória aparecem Moisés e Elias, os dois maiores do AT, que representavam a Lei e os Profetas. Eles conversam com Jesus sobre "o êxodo a ser completado em Jerusalém". Assim, diante dos discípulos, a Lei e os Profetas confirmam que Jesus é realmente o Messias Glorioso, prometido no AT e esperado pelo povo. Mas confirmam também que o caminho para a glória passa pela travessia dolorosa do "Êxodo". O êxodo de Jesus é a sua paixão, morte e ressurreição. Pelo seu êxodo, ele vai quebrar o domínio da propaganda do governo e da religião oficial, que mantinha todos presos dentro da visão do Messias glorioso nacionalista. Jesus vai libertar o povo da Cruz. Parece que a fala da cruz não agrada. Eles querem é segurar o momento da glória no alto do Monte e se oferecem para construir três tendas.
3. Lucas 9,32-34: A reação dos Discípulos
Eles estavam dormindo e só acordaram no fim. Ainda puderam ver um restinho da glória de Jesus, mas não escutaram a conversa sobre o êxodo. Como acontece conosco tantas vezes, eles escutaram só aquilo que lhes interessava. O resto escapou da atenção deles! E agora, acordando, falam bobagem, ficam com medo e não querem mais descer. Toda vez que se fala da cruz, tanto no Monte da Transfiguração como no Monte das Oliveiras (Lc 22,45), eles dormem. Gostam mais da glória do que da cruz. Parece que a fala da cruz não agrada. Eles querem é segurar o momento da glória no alto do Monte e se oferecem para construir três tendas.
4. Lucas 9,35-36: A voz do Pai
A voz do Pai sai da nuvem e diz: "Este é o meu filho, o eleito, ouçam-no". Com esta mesma frase o profeta Isaías tinha anunciado o Messias-Servo (Is 42,1). Depois de Moisés e Elias, agora é o próprio Pai que apresenta Jesus como Messias-Servo que chega a glória através da cruz. No fim da visão, Moisés e Elias desaparecem e só fica Jesus. Isto significa que, daqui para frente, quem interpreta a Escritura e a Vontade de Deus para o povo será Jesus, só ele! Ele é a Palavra de Deus para os discípulos: 'Ouçam-no!'
ALARGANDO
A Transfiguração é narrada em três Evangelhos: Mateus, Marcos e Lucas. Sinal de que este episódio tinha uma mensagem importante para as primeiras comunidades. Ela foi uma ajuda para superar a crise que a cruz e o sofrimento provocaram nos discípulos e discípulas. A Transfiguração continua sendo ajuda para superar a crise que o sofrimento e a cruz provocam hoje. Os três discípulos dorminhocos são o espelho de todos nós. A voz do Pai diz a eles e a nós: "Este é o meu filho, o eleito, ouçam-no!"
No Evangelho de Lucas, há uma semelhança muito grande entre a cena da Transfiguração (Lc 9,28-36) e a cena da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras (Lc 22,39-46). Você pode conferir e vai perceber o seguinte: nos dois episódios, Jesus sobe a montanha para rezar e leva consigo os mesmos discípulos, Pedro, Tiago e João. Nas duas ocasiões, Jesus muda de aspecto e se transfigura diante deles, seja glorioso, seja suando sangue. Nas duas vezes aparecem figuras celestes para confortá-lo, seja Moisés e Elias, seja o anjo do céu. E tanto na Transfiguração como na Agonia, os discípulos dormem, se mostram alheios ao fato e parecem não entender nada. No final dos dois episódios, Jesus se reúne de novo com seus discípulos. Sem dúvida, Lucas teve alguma intenção em acentuar a semelhança entre estes dois episódios. Qual seria? É meditando e rezando que, aos poucos, conseguiremos chegar por trás das palavras e perceber a intenção do seu autor. E o Espírito de Jesus nos guiará.
*Texto extraído do Livro "O AVESSO É O LADO CERTO: Circulos Bíblicos sobre o Evangelho de Lucas". Autoria de Carlos Mesters e Mercedes Lopes. CEBI/Paulinas.
Nós cristãos ouvimos falar desde a infância de uma cena evangélica tradicionalmente chamada de «transfiguração de Jesus». Já não é possível saber com segurança como se originou o relato. Ficou recolhido na tradição cristã sobretudo por dois motivos: ajudava-os a recordar o mistério encerrado em Jesus e convidava-os a ouvi-lo apenas a ele.
No cume de uma «montanha alta», os discípulos mais próximos veem Jesus com o rosto «transfigurado». Acompanham-no dois personagens lendários da história de Israel: Moisés, o grande legislador do povo, e Elias, o profeta do fogo que defendeu Deus com zelo abrasador.
Os dois personagens, representantes da Lei e dos Profetas, têm os seus rostos apagados: só Jesus irradia luz. Por outro lado, não proclamam nenhuma mensagem, vêm a «conversar» com Jesus: só ele tem a última palavra. Só ele é a chave para ler qualquer outra mensagem.
Pedro parece não o ter entendido. Propõe fazer «três cabanas»", uma para cada. Põe os três no mesmo plano. Não captou a novidade de Jesus. A voz que surge da nuvem vai deixar as coisas claras: «Este é o meu Filho, o escolhido. Ouvi-lo». Não há que ouvir a Moisés ou Elias, mas a Jesus, o «Filho amado». As suas palavras e a sua vida revelam-nos a verdade de Deus.
Viver ouvindo Jesus é uma experiência única. Por fim estamos a escutar alguém que diz a verdade. Alguém que sabe pelo que e para que viver. Alguém que oferece as chaves para construir um mundo mais justo e digno do ser humano.
Os seguidores de Jesus não vivem de nenhuma crença, norma ou rito. Uma comunidade vai-se fazendo cristã quando vai colocando no seu centro o Evangelho e apenas o Evangelho. Aí se joga a nossa identidade. Não é fácil imaginar um evento social mais humanizador do que um grupo de crentes a ouvir juntos a «história de Jesus». Cada domingo podemos sentir o seu apelo para olhar a vida com olhos diferentes e vivê-la com mais responsabilidade, construindo um mundo mais habitável.
Jesus ressuscitado é o crucificado
Ana Maria Casarotti
Eis o comentário.
Estamos no Ano Jubilar que nos convida a ser peregrinos da Esperança, como disse o Papa Francisco: "A esperança cristã não decepciona ou engana porque está fundamentada na certeza de que nada nem ninguém pode nos separar do amor de Deus". Neste tempo de Quaresma nos preparamos para a celebração da Páscoa. No primeiro domingo da Quaresma lemos o texto evangélico sobre as tentações de Jesus no deserto e hoje a Liturgia nos oferece o relato da Transfiguração segundo a evangelho de Lucas. O texto de hoje convida-nos a aprofundar mais na vitória de Cristo sobre a morte e o pecado. Para aprofundar no mistério pascal, deixamos aberta uma pergunta: por que tanta dor no mundo, por que as injustiças, é preciso dar sentido ao sofrimento, às injustiças? E podemos descrever e relatar muitas realidades injustas. Deixemos, pois, aberta a pergunta evitando dar respostas clichês ou padronizadas.
As injustiças, as grandes desigualdades, as guerras contínuas com suas consequências, geram em nós muitos questionamentos sobre o mistério do mal, sobre o agir humano, o egoísmo, as desigualdades sociais, e sem dúvida sobre as diferentes possibilidades que temos desde o nosso nascimento ou ainda antes. Por que algumas pessoas têm tanto, e outras estão quase condenadas a vaguear pelo mundo, suspirando um pouco de comida, sem saúde, sem moradia, sem famílias? Por que algumas crianças morrem sem ter nunca um sorriso no seu rosto? Por que pessoas, que devem ser os responsáveis do pais e garantir a equidade para toda pessoa que mora no seu território, age de modo contrário? Como é possível que hoje, depois de ter conhecido, os totalitarismos, as ditaduras, a escravidão e a falta de liberdade de expressão, a pobreza esteja ainda pior?
Fazemos nossa a pergunta do Papa Francisco: "Como é possível (...) que o grito desesperado por ajuda não esteja motivando os líderes mundiais a resolverem os numerosos conflitos regionais, tendo em vista suas possíveis consequências em nível global?" Ele disse que "a necessidade de paz nos desafia a todos e exige que sejam tomadas medidas concretas" e pediu que a diplomacia "seja incansável em seu compromisso de buscar, com coragem e criatividade, cada oportunidade para empreender negociações visando uma paz duradoura". A esperança é a mensagem central do decreto do Papa Francisco para o Ano Jubilar de 2025.
O tempo da Quaresma é um tempo de purificação. Ele nos permite, pessoal e comunitariamente, expandir o nosso olhar, abrir nosso coração e deixarmos nos afetar pelas realidades circundantes. E uma luta contra nosso egoísmo, nossa procura de poder, não deixarmos vencer pela tentação de desviar o olhar das necessidades de nossos irmãos. Para viver a Quaresma, precisamos fazê-lo tomados pela mão de Jesus Crucificado. Somente Ele pode nos levar no íntimo da Páscoa.
Seguindo a leitura do Evangelho, Jesus disse: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia” (Lc 9,22). Não é fácil entender suas palavras. Os discípulos o consideram o Messias e possivelmente seguiam pensando num messias glorioso. Jesus tenta explicar que quem deseja segui-lo deve estar disposto a sofrer, a perder sua vida, a renunciar a si mesmo. Jesus não disse que é preciso fazer sacrifícios porque a vida da pessoa que procura viver segundo o reino de Deus e construí-lo vai sofrer. Ela deve enfrentar-se com os poderosos e será rejeitada, silenciada, e possivelmente assassinada como acontece com os/as profetas do nosso século.
No relato, o evangelista relaciona o que aconteceu nesse dia com uma Teofania.
“Enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante”. Jesus está rezando e seu rosto muda de aparência. Esta transformação se produz “enquanto rezava”. Pode-se entender como uma modificação, que alguns evangelistas chamam transfiguração no seu aspecto. Pode-se entender como uma antecipação da ressurreição. Jesus Ressuscitado não foi reconhecido por seus amigos e amigas, pelos seus, de imediato. Aqueles que estiveram com ele durante toda sua vida têm dificuldade de reconhecê-lo ressuscitado. A “mudança” do rosto e as vestes de brancura resplandecente lembram o resplendor de Moisés quando desce do Sinai (cf. Ex 34,29).
Aparecem Moisés e Elias que “estavam conversando com Jesus”. Nos perguntamos: qual o sentido da presença de Moisés e Elias? Moisés é uma figura muito importante, representa a Lei e ele foi o mediador entre Deus e seu povo. Como vimos anteriormente, com ele Deus dialogava e o povo obedecia às palavras de Moisés. Elias simboliza os Profetas. Por sua fidelidade à palavra de Deus que comunicava ao povo, foi salvo num momento muito especial de crise. Para os judeus, Moisés e Elias eram duas pessoas fundamentais. Jesus dialoga com eles, e são os discípulos que o percebem. Jesus apresenta-se assim como o novo Moisés e o novo Elias.
“Conversavam sobre o êxodo de Jesus, que iria acontecer em Jerusalém”. Já não é o êxodo do povo saindo do Egito e caminhando pelo deserto em busca da terra prometida. O êxodo de Jesus vai acontecer em Jerusalém e significa sua partida, como tinha dito Jesus anteriormente. É um êxodo – partida no sentido libertador; sua morte traz uma nova aliança de Deus com seu povo, mas uma aliança que não pode ser quebrada: o triunfo de Vida do Ressuscitado sobre a Morte. Jesus deve cumprir seu destino de entrega, de amor total até a morte na Cruz.
“Pedro e os companheiros dormiam profundamente”. Jesus tinha-os convidado para subir ao monte para rezar. Eles ainda não estão capacitados para entender que Jesus, que lhes tinha falado que ia ser morto, dialogue neste momento com Moisés e Elias. Possivelmente excede suas possibilidades aceitar que o caminho do Messias passe pela cruz, pela humilhação.
Mas da nuvem sai uma voz que diz: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutem o que ele diz!” É ele quem deve ser escutado, são suas palavras que devem ser obedecidas. Ele é o Filho amado do Pai e é preciso escutar o que ele ensina.
Para escutar é preciso sair do sono do costume, daquilo que parece fácil e com que já estamos acostumados. Para seguir Jesus pelo seu caminho, é necessário escutá-lo. Fazer silêncio interior e deixar que sua voz ressoe no íntimo do nosso ser e conduza nossa vida.
Somos convidados, assim, a não deixar que o sono da rotina, do comportamento habitual guie nossa vida. Pelo contrário. É um chamado a abrir-nos à mensagem que ele tem para nos dizer, sabendo que a escolha dele foi o caminho da cruz porque confiava totalmente no Pai.
Como peregrinos da esperança, neste Jubileu peçamos ao Senhor que tenhamos nossas vidas abertas às necessidades das irmãs e irmãos mais necessitados para escutar neles a voz do Pai que nos disse: “estes são meus filhos e filhas muito amados”. Não nos deixemos vencer pela desesperança; pelo contrário, que sejamos chamados a renovar nossa esperança que nasce da Morte e Ressurreição de Cristo.
COMO COMPREENDER A “TRANSFIGURAÇÃO” DE JESUS? (Lc 9,28-36). E NÓS?
Por frei Gilvander Moreira
No Evangelho segundo Lucas, o episódio da "transfiguração" de Jesus (Lc 9,28-36), aparece na mesma ordem do texto de Marcos (Mc 9,2-9), imediatamente depois das cinco máximas sobre o seguimento de Jesus, nas quais se descrevem as atitudes dos discípulos e das discípulas de Jesus no caminho da doação de vida testemunhando um jeito libertador de conviver e lutar até a Cruz (cf. Mc 8,34-9,1; Lc 9,23-27).
Como elementos próprios da redação de Lucas, podemos destacar os seguintes: “uns oito dias depois” (Lc 9,28), em vez da datação de Marcos: “seis dias depois” (Mc 9,2); o motivo pelo qual Jesus sobe a montanha: “para orar” (Lc 9,28); as circunstâncias de sua experiência, isto é, de sua “transfiguração”: “enquanto orava” (Lc 9,29); a substituição do título "querido" (Mc 9,7) por eleito (Lc 9,35). Exclusivo da composição lucana são os versículos Lc 9,30-33.34b e 36bc. O contexto literário mostra que o episódio está intimamente relacionado com o final da máxima anterior, onde se fala de "ver o Reino de Deus" (Lc 9,27).
No Evangelho segundo Lucas, a "transfiguração" de Jesus está especialmente relacionada com a cena do batismo de Jesus. O Batismo marca o começo da missão de Jesus na Galileia, inaugurada por meio de uma voz celeste, que lhe proclama: "Tu és meu Filho querido, meu predileto” (Lc 3,21-22). Aqui se repete essa apresentação, estreitamente relacionada com a viagem a Jerusalém (Lc 9,51). Jesus vai à capital Jerusalém na qual deve cumprir sua missão (Lc 9,31) - cidade que "mata os profetas" (Lc 13,34) - porque seu êxodo (Lc 9,31) está relacionado com sua "assunção/subida". "Quando se completaram os dias de sua assunção (= subida), ele tomou resolutamente (sterissein, em grego) o caminho de Jerusalém” (Lc 9,51). A expressão "tomou resolutamente o caminho" tem, no original, também o sentido de "endureceu o rosto rumo a”, como se fosse alguém que vai sempre reto sem aceitar mudar de rumo, com firme e decisão inabalável.
A voz que sai da nuvem declara que Jesus é mais que Messias; é "Filho” e "eleito" pelo Deus da Vida. Jesus é o "Filho" de Deus, o "Eleito" do Deus vivo, nosso Senhor. O primeiro anúncio da paixão (e da ressurreição) não termina na perspectiva da morte, mas inclui essencialmente a ressurreição de Jesus "no terceiro dia".
Outro aspecto desta passagem é a presença das figuras do Primeiro Testamento: Moisés e Elias. Em Mc 9,4 aparecem simplesmente "conversando com Jesus", porém sem especificar o assunto da conversa. Por outro lado, em Lucas falam concretamente "de sua partida", de seu êxodo, e diz que "apareceram cheios de glória". A menção de êxodo está indubitavelmente relacionada com a subida para Jerusalém, perspectiva geográfica de Lucas; porém a palavra, em si mesma, recorda o "êxodo" de Israel, a subida dos pobres escravizados fugindo da escravidão no Egito sob o imperialismo dos faraós para conquistar a terra prometida por Deus a Abraão e Sara, e à sua descendência que são todos os povos injustiçados.
Por que Lucas menciona os três discípulos Pedro, Tiago e João presentes na cena da “transfiguração”? Por que não somente Pedro? Se mencionasse somente Pedro, poderia estar reforçando a autoridade de Pedro. É provável que Lucas quisesse valorizar a autoridade comunitária, ao invés de reforçar uma autoridade pessoal.
Foi na montanha (Lc 9,28). A tradição que associa este acontecimento com o monte Tabor não é anterior a Orígenes (185-254). Lucas não tem particular interesse na localização geográfica, porque, na sua perspectiva, o monte é um "lugar de manifestação" de Deus. A idéia global de Lucas é interpretar o monte como lugar específico "de oração" (cf. Lc 6,12; 19,29; 22,39).
Jesus subiu "para orar" (Lc 9,28). Lucas fala do verdadeiro motivo da subida de Jesus precisamente ao monte; sobe “para orar", não para manifestar-se a seus discípulos. Jesus não é exibicionista, não quer aparecer, mas prefere ser fermento, sal e luz no mundo (Mt 5,13-16). Os grandes momentos da vida e as maiores opções de Jesus nascem de sua comunhão com o projeto do Pai, na oração. E para rezar, Jesus sobe ao monte. Foi em um "lugar elevado" onde Jesus recusou a tentação de se tornar o maior latifundiário do mundo (cf. Lc 4,5-8) para realizar seu programa de libertação dos oprimidos (cf. Lc 4,16-21). A indicação de Lc 9,32 sobre o estado dos três discípulos - "caíam de sono" - sugere que era noite.
"O aspecto do rosto de Jesus mudou de repente" (Lc 9,29). Lucas, consciente da mentalidade dos seus leitores pagão-cristãos, evita a terminologia de Marcos (metamorphothe = "se transformou", "se transfigurou") para não dar lugar a possíveis associações equivocadas com os mitos gregos que falam da metamorfose de certos personagens. É possível que Lucas faça referência à experiência de Moisés em Ex 34,29, onde se diz que o grande libertador, ao descer do Sinai, "tinha radiante seu rosto por ter falado com Deus". Jesus não foi o primeiro a se “transfigurar”. Moisés se “transfigurou”. Nós também podemos nos “transfigurar”, revelar o que há de mais humano-divino em nós.
“Moisés e Elias apareceram” (Lc 9,30). Qual a função de Moisés e Elias neste episódio? Elias representa aqui os profetas, mas não é claro se Moisés representa a Lei ou se representa também os profetas. Moisés foi libertador, legislador, profeta, guia..., não foi apenas representante da Lei.
Os líderes libertadores do passado dão testemunho favorável a Jesus (Lc 9,30-31). Moisés e Elias – que, tradicionalmente, representam respectivamente a Lei libertadora e os Profetas, isto é, todo o Primeiro Testamento - se fazem presentes e conversam com Jesus sobre seu êxodo que iria acontecer em Jerusalém (Lc 9,31). Moisés é o líder da libertação do Egito; Elias é o restaurador do javismo no Reino do Norte no tempo do rei Acab, um grande idólatra. O profeta Elias libertou o povo da opressão da idolatria de Baal. O Primeiro Testamento testemunha que Jesus veio para libertar mediante a entrega total de sua vida.
"Vamos fazer três tendas" (Lc 9,33). Festa das Tendas era a festa da água e da luz. Recorda o tempo em que o povo vivia em Tendas no deserto. A "Festa das Tendas" ou "dos Tabernáculos" era originalmente uma celebração de caráter agrícola - uma das antigas festas de Israel, conhecida também como "festa da colheita" (cf. Ex 23,16; 34,22); segundo Flávio Josefo: "a festa mais sagrada e a mais importante dos hebreus." No tempo de Jesus havia sido convertida em uma festa de peregrinação, da qual participavam grandes caravanas de pessoas; a celebração durava sete dias, e durante esse tempo os peregrinos residiam em "tendas" ou em "cabanas" (cf. Lv 23,42-44).
"Formou-se uma nuvem" (Lc 9,34). Essa nuvem é símbolo da presença e da glória de Deus, da "manifestação de Deus”, como com frequência aparece no Primeiro Testamento.
"Saiu da nuvem uma voz" (Lc 9,35). Clara referência à palavra de Deus, que transmite uma revelação. Está mais para Diafania do que para Epifania. Esta significa aparição de Deus, mas com uma conotação de que surge de fora, que aparece de cima para baixo. Já Diafania parte do pressuposto de que Deus permeia, perpassa e inunda tudo, está em tudo, e irrompe de dentro para fora e debaixo para cima; logo não implica uma vinda de fora. Dá mais sintonia entre as dimensões humano-divina unidas.
"Este é meu Filho" (Lc 9,35). Esta apresentação é igual à do batismo de Jesus (Lc 3,22). "Meu eleito" (Lc 9,35). Uma voz "do céu" apresenta Jesus como Filho e como Escolhido. Observe que colocamos "do céu" entre aspas para indicar que a voz brota da transcendência existente na imanência.
O Pai dá testemunho de Jesus (Lc 9,34-36). Como um fio condutor, no início (batismo), no meio (transfiguração) e no fim desse evangelho (paixão) encontramos a declaração de que Jesus é o Filho de Deus (cf. 3,22; 9,35 e 22,70). O Pai declara que Jesus é o Escolhido. Esta palavra faz lembrar o Servo de Javé (cf. Is 42,1).
A "Transfiguração" de Jesus o revela como aliado da humanidade. O êxodo evoca a libertação dos povos de Deus da escravidão do Egito rumo à posse da vida e da liberdade na terra prometida, Palestina. Lá os povos oprimidos puderam sentir a presença do Deus, aliado fiel que liberta e salva.
A "transfiguração" de Jesus acontece na sua humanidade. Jesus se deixa transformar pela luz do amor ao próximo e aos últimos da sociedade! É capaz de sair de si mesmo para ir ao encontro do outro a partir do outro mais injustiçado e violentado. Aí estão sua humanidade e sua divindade: na manifestação do amor.
Se assim entendermos, podemos também nos reconhecer como pessoas que podem “transfigurar-se”, a partir da libertação do egocentrismo, da coragem de abrir-se ao outro lutando por vida em fraternidade socioambiental, de saber ouvir o clamor de Deus no grito de tantos irmãos e irmãs e da Mãe Terra tão ferida!
1- Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutor em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, Movimentos Sociais e Ocupações.
E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.freigilvander.blogspot.com.br – www.gilvander.org.br - www.twitter.com/gilvanderluis – Face book: Gilvander Moreira III – Canal no You Tube: Frei Gilvander luta pela terra e por direitos
2- (= ho agapetos, em grego).
3-(ho eklelegmenos, em grego).
4- (analempsis, em grego: Lc 9,51).
12/03/2025.
Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, ATUALIZAM o assunto tratado, acima.
1 - + 25 HOMENS FORTEMENTE ARMADOS FIZERAM BRUTAL ATAQUE A ACAMPADOS, ACAMPAMENTO VIDA NOVA, JORDÂNIA/MG
https://www.youtube.com/watch?v=a9ETqshN5Ag
2 - HUMANIDADE SÓ TERÁ FUTURO SE APRENDER A SEGUIR JEITO DE CONVIVER DE POVOS INDÍGENAS (FREI GILVANDER)
https://www.youtube.com/watch?v=mXX1cM45JjU
3 - CARNAVAL COM BLOCO CABRA CEGA: ALEGRIA E LUTA CONTRA DESPEJO DA CASA-LAR DE CEGOS em BH/MG. Vídeo 2
https://www.youtube.com/watch?v=ADg4EYWeEyo
4 - 50 FAMÍLIAS EM NOVA OCUPAÇÃO NO BARREIRO, EM BH/MG, CLAMAM POR MORADIA PRÓPRIA E DIGNA. Vídeo 1
https://www.youtube.com/watch?v=DbIACcVnvsQ
5 - Dr. HÉLDER, do MPF, VISITA ACAMPAMENTO CIGANO CALON EM IBIRITÉ/MG E EXIGE A LIBERAÇÃO DO TERRITÓRIO
https://www.youtube.com/watch?v=QI1uLOxdNe8
6 - LULA NO QUILOMBO CAMPO GRANDE (11 Acampamentos), MST, SUL DE MG, LIBERA TERRA PARA 12.297 ACAMPADOS
https://www.youtube.com/watch?v=Nu7eX9Rh4rc
(Traduzido automaticamente pelo Tradutor Google sem a nossa correção. Veja o texto original logo após a tradução)
SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA
A TRANSFIGURAÇÃO RENOVA NOSSA ESPERANÇA
1a. Leitura (Gn 15,5-12.17-18):
A liturgia deste segundo domingo apresenta-nos a figura de um grande caminhante ou peregrino, o primeiro da Bíblia: Abraão. Receba o convite de Deus para partir atrás da promessa, isto é, de uma palavra de Deus dada para o futuro; ao que responde com uma fé expressa com uma ação, com a vida, pois Abraão permanece mudo e obedece prontamente, apesar da terribilidade do mandamento de Deus. arrancar totalmente (cf. Gn 12,1-5). Como comenta J. Loew: "De Abraão não temos palavras, por assim dizer: a sua própria vida é a resposta"1.
Agora, a fé de Abraão leva-o a caminhar rumo ao desconhecido com a única garantia da promessa divina, da Palavra de Deus. Mas a promessa supõe um cumprimento que demora a chegar e, então, a fé começa a vacilar, entra em crise. Em Gênesis 15:1-3 encontramos a reação de Abrão, que é o lamento de um homem sem filhos. Para a mentalidade do Antigo Testamento, uma vida sem filhos não é uma vida completa ou abençoada. Então a Palavra de Deus convida você a sair, olhar para o céu e contar as estrelas; e promete-lhe que a sua descendência será muito numerosa (cf. Gn 15, 4-5).
Olhar para o céu pode significar o convite a não se fechar na própria visão ou perspectiva; e abrir-se ao poder criador de Deus depositando confiança Nele. A esta renovação da promessa segue-se a fé de Abraão, que é acolhimento, confiança, confiança na Palavra de Deus. Esta resposta de Abrão foi valorizada por Deus e tida em conta para a sua justificação (cf. Gn 15, 6).
Para o promessa dos numerosos descendentes agora segue o promessa da terra. Arám, por sua vez, pede uma placa que 'certifique' esta doação do terreno. Este pedido serve de ‘gatilho’ para que Deus ordene a Abrão que prepare tudo para o rito da aliança. Acompanhe agora o ato de juramento ou compromisso de dar a terra que Deus assume. Aqui o termo hebraico "Berit" tem o significado de um juramento ou compromisso incondicional; e não um pacto ou aliança bilateral, pois só Deus se compromete ao dar a terra ao patriarca e nenhuma obrigação por parte do patriarca é mencionada. O rito solene que precede o compromisso de Deus (cf. Gn 15, 9-17) confirma o seu caráter unilateral, pois só o Senhor, representado por «uma tocha de fogo» (15, 17), passa entre as duas metades dos animais. Como diz G. von Rad: “A cerimónia decorreu sem dizer uma palavra e face à total passividade do participante humano..."2.
Em resumo, esta cena descreve a jornada de fé de Abrão superando a crise. Primeiro ele reclama com Deus com base no que vê da sua realidade atual: não tem filhos e um servo o herdará. Poderíamos dizer que Abrão olha para baixo, para os seus descendentes, o que lhe falta. Então a Palavra de Deus convida você a sair e olhar para o céu para contar as estrelas. E assim, A Palavra de Deus leva Abrão a olhar a realidade de forma diferente, para cima e para o futuro.. E esta nova forma de ver as coisas permite a Abrão confiar e acreditar, aceitar a promessa. Ele ainda não a vê presente, mas acredita que poderá vê-la porque confia na Palavra de Deus. Este olhar de fé conduz à Esperança que o move a continuar caminhando rumo à Promessa, a continuar sendo um peregrino da Esperança.
2a. Leitura (Flp 3,17-4,1)
Paulo exorta os filipenses a serem seus imitadores e a prestarem atenção àqueles que eles andam dependendo do seu modelo ou exemplo. E esta exortação é necessária porque “há muitos que andam como inimigos da cruz de Cristo. O seu fim é a perdição, o seu deus é o ventre, a sua glória está naquilo que os cobre de vergonha, e eles só apreciam as coisas da terra." (3,18-19). Temos, portanto, dois caminhos que simbolizam dois estilos de vida contrastantes e alternativos: o de Paulo e seus seguidores; e o do “inimigos da cruz de Cristo”. Podemos deduzir, então, que o caminho de Paulo é o dos “amigos da cruz de Cristo”. Diante desta realidade, Paulo tenta reavivar a fé dos filipenses, lembrando-lhes o objeto da esperança do cristão: Eles são cidadãos do céu que esperam pelo Senhor Jesus que virá e com o seu poder transformará os corpos dos crentes em corpos gloriosos como o seu.. Portanto, valorizar apenas as coisas deste mundo é tornar-se inimigo de a cruz de Cristo, que é a escada que nos sobe ao eterno. Não devemos permanecer prisioneiros deste mundo porque a promessa de Deus é de algo muito melhor: transformação e glória. Devemos acreditar no poder de Deus para operar isso em nós.
Ao apresentar-vos este objecto da esperança cristã, a intenção final de Paulo é que vós «permaneçais firmes no Senhor»; isto é, permanecer no caminho da fé até o fim. No contexto deste segundo domingo, esta leitura ajuda-nos a unir o tema do caminho da fé com o da transfiguração que esperamos, pelo poder e imagem de Cristo (evangelho de hoje).
Evangelho (Lucas 9:28-36):
A história da transfiguração é colocada nos três sinópticos depois do primeiro anúncio da paixão e da exigência de uma renúncia total para seguir Jesus (cf. Lc 9,22-27; Mt 16,21-28; Mc 8,31-38). Depois desses anúncios, foi necessário que pelo menos alguns de seus discípulos (aqueles considerados colunas em Gl 2,9 e que o acompanharão novamente no Getsêmani) vivessem uma experiência que dissipasse o medo e a angústia gerados por tais anúncios e, para isso, lhes concedesse uma visão antecipada da glória prometida após o sofrimento. Já o disse São Leão Magno: “Sem dúvida, esta transfiguração teve sobretudo a finalidade de tirar do coração dos apóstolos o escândalo da cruz, para que a humilhação da paixão voluntariamente aceite não perturbasse a fé daqueles a quem foi revelada a excelência da sua dignidade oculta."3. Nesse contexto "A transfiguração assume então uma função parenética de consolação.”4.
Por sua vez, A. Rodríguez Carmona5 considere esta cena como um cumprimento do que dito por Jesus no versículo imediatamente anterior: “Garanto-vos que alguns dos aqui presentes não morrerão antes de ver o Reino de Deus»”(9,27). Segundo este autor: “Ver o Cristo ressuscitado é ver o Reino de Deus, que nele está personalizado”.
E se voltarmos um pouco mais atrás encontramos, também nos três sinópticos, as perguntas que Jesus dirige aos seus discípulos sobre a sua própria identidade: "Quem as pessoas dizem que eu sou?" "E quem você diz que eu sou?" (Cf. Lc 9,18.20; Mc 8,27-30; Mt 16,13-16). A história da transfiguração também é uma resposta a estas perguntas; É a resposta do próprio Pai sobre a identidade de Jesus. Nesse contexto É uma história teofânica, de alta cristologia.
Continuando com a história da transfiguração, notamos que para Lucas a primeira intenção de Jesus não é manifestar-se, mas orar (“Ele subiu a montanha para orar" ele subiu ao monte e rezou em 9.28). E também exclusiva de Lucas é a referência às mudanças na aparência externa que acontecem com Jesus ”enquanto ele estava orando" (aconteceu em oração em 9.29). Nos momentos decisivos da sua vida, Jesus permanece unido pela oração ao Pai. São momentos em que Ele manifesta a sua profunda identidade de Filho. A Transfiguração é antes fruto ou consequência da sua relação íntima com o Pai. No âmbito da cristologia de Lucas, a transfiguração é antes de tudo “uma janela aberta para a relação do Pai com o Filho, uma relação que a voz explicará”6.
Outra característica da história de Lucas é que para descrever a transfiguração não usa o termo transformação” (μεταμορφόω) que Marcos traz mas é bem mais discreto porque em 9:29 só diz que “a aparência de seu rosto ficou diferente” (τὸ εἶδος τοῦ προσώπου αὐτοῦ ἕτερον) e “seu vestido de brancura brilhante” (ὁ ἱματισμὸς αὐτοῦ λευκὸς ἐξαστράπτων.) indicando sua pertença à esfera divina.
Na cena, ao lado de Jesus, aparecem Moisés e Elias, “que apareceu em glória” Acrescenta Lucas. É interessante porque além de representarem a Lei e os Profetas, são dois homens de oração que subiram ao monte para encontrar Deus face a face, para ver o seu rosto (cf. Ex 33, 8; 1 Reis 19, 17). De certa forma, Lucas nos diz que eles alcançaram o que tanto buscavam em suas vidas: a glória de Deus. Também exclusiva de Lucas é a alusão ao tema da conversa entre Jesus, Moisés e Elias sobre sua Êxodo, isto é, sua partida, sua morte, sua ascensão ou Páscoa que se cumprirá em Jerusalém. Assim nos revelam, ao mesmo tempo, o fim e os meios; o objetivo e o caminho: através da cruz para a luz, para a glória.
Pedro, Santiago e Juan são espectadores privilegiados da cena, que os cativa tanto que superam o sonho e querem que ele continue no tempo. Este é o significado da exclamação de Pedro: “Senhor, que lindo (kalós) é estar aqui". A transfiguração é um mistério da beleza divina, do esplendor da verdade e do bem do próprio Deus. Pedro sente-se "preso" a esta visão e quer fazer três tendas para ali ficar. Segundo Santo Agostinho, Pedro provou a alegria da contemplação e não quer mais voltar às preocupações e fadigas da vida quotidiana. É por isso que quer, de certa forma, "eternizar" aquele momento. A menção das tendas (“skene") remete-nos para a Festa dos Tabernáculos, Tendas ou Cabanas (“sukkot”), que celebrava a colheita das colheitas de outono, e estava relacionada com o período desértico, pensando que os israelitas então viviam em cabanas ou cabanas. Seria, portanto, mais uma referência ao tema do êxodo.
Enquanto Pedro dizia isto, uma nuvem luminosa, sinal da presença de Deus e do Espírito Santo, cobriu-os com a sua sombra. No livro do Êxodo a nuvem cobre o monte onde habita a glória do Senhor (cf. Ex 24, 15-18). Deixar-se cobrir pela sombra da nuvem significa entrar no mundo de Deus, no mistério de Deus. O medo expressa a reação humana a um fenômeno sobrenatural.
Da nuvem sai a voz e, pelo exposto, não há dúvida de que é a voz do Pai. Como antes no batismo (cf. Lc 3,22), a voz divina manifesta-se novamente, mas agora dirige-se aos discípulos e diz-lhes. revela a identidade profunda de Jesus: o Filho escolhido; e ordena-lhes que o ouçam, isto é, que o obedeçam, que o sigam (Este é meu filho, o escolhido, você ouve ele).
No final, Lucas diz que quando a voz celestial foi ouvida, Jesus estava sozinho, as outras vozes de Deus, Moisés e Elias, a Lei e os Profetas, desapareceram; agora temos o Filho, a Palavra pessoal do Pai.
ALGUMAS REFLEXÕES
Na primeira leitura encontramos um Abrão duvidoso em crise que, de certa forma, se rebela contra Deus. Queixa-se porque a promessa do Senhor não se cumpre, deseja-a profundamente, mas ainda não a possui nem a descobre no horizonte da sua já longa vida. Abrão fez bem em expressar seu desânimo porque Deus o encorajou ao confirmar a promessa,
diante do qual Abrão acreditou novamente, confiou, esperou. Então Deus confirmou a sua Palavra com um sinal, um gesto de compromisso incondicional. Mas não percamos de vista o fato de que Deus não lhe deu imediatamente o filho que desejava, mas prometeu-lhe novamente, mas agora com a força de um compromisso. Então Abrão tive que continuar vivendo pela fé e andando na esperança.
Observemos também que Deus atende à necessidade de Abrão de ter descendentes e uma terra; e ele o concede como um presente gratuito, sem pedir nada em troca.
Por sua vez, São Paulo tenta sustentar a fé dos Filipenses ̶ tentados a reduzir o horizonte da sua vida ao material, esquecendo a cruz de Cristo ̶ lembrando-lhes que O objetivo é ser transformado e glorificado por Cristo, ou seja, participar do seu mistério pascal.. Mas isso acontecerá quando Cristo, o Senhor, vier, portanto, você tem que continuar acreditando e esperando.
No evangelho, Jesus leva três dos seus discípulos ao monte e é transfigurado diante deles. Ele conforta aqueles que ficaram desanimados com o anúncio da paixão com a visão da sua glória, como afirma o prefácio da Missa deste dia: “Ele mesmo, depois de anunciar a sua morte aos discípulos, revelou-lhes o esplendor da sua glória no monte santo, para mostrar, com o testemunho da Lei e dos Profetas, que através da paixão deve alcançar a glória da ressurreição.”. Agora, depois de desfrutar da transfiguração Temos que descer da montanha, viver de novo ouvindo e esperando, continuar acreditando e esperando.. Sim, mas não seremos mais os mesmos, algo mudou em nós, um horizonte de Esperança se abriu para nós.
Portanto, um tema comum a todas as três leituras é que “estamos salvos na esperança"; o que significa seguir acreditar, confiar e esperar por aquilo que ainda não vemos ou possuímos plenamente. Continuamos a ser peregrinos da Esperança. E este é o grande desafio do crente: perseverar na fé apesar das trevas do mal e das exigências da cruz.
Agora, o Senhor vem em auxílio da nossa fraqueza e nos dá sinais que reforçam a sua Palavra/Promessa (como Abrão); Ele nos dá momentos de Luz, de consolação, de sentir a sua presença Divina que renova a nossa Esperança (como Pedro, João e Tiago).
No domingo passado foi-nos apresentada a necessidade de lutar contra a tentação, de renunciar a tudo o que nos possa separar do caminho de Deus; Em suma, fomos convidados a assumir a cruz como dimensão fundamental da existência cristã. Jesus nos pede para segui-lo no mesmo caminho onde Ele caminhou, que é o caminho da renúncia e da cruz. E como isto é muito difícil de aceitar, as leituras de hoje recordam-nos a meta do caminho, quão longe você tem que seguir Jesus: até a Ressurreição/Glória/Plena Felicidade com o Pai.
Jesus quer fazer-nos participar da sua glória, da sua transfiguração, fruto da sua relação com o Pai. Somos apresentados, portanto, à dimensão alegre e triunfante da existência cristã, que é uma dimensão tão essencial como a cruz. Além disso, é o que lhe dá sentido. Por isso, no nosso caminho quaresmal, o Senhor transfigurado e a Voz do Pai confirmam-nos e encorajam-nos a prosseguir até ao fim. porque “A esperança não decepciona” (Rm 5,5).
Hoje podemos contemplar a Glória d’Aquele que em breve veremos coberto de ignomínia, pregado numa cruz. É um mistério luminoso para guardar na memória, tão necessário para atravessar a noite que nos separa da Luz definitiva e eterna..
Jesus convida os seus discípulos a subirem ao alto monte “para rezar”. Seguindo o espírito quaresmal, somos apresentados a oração como meio necessário, como janela aberta para aquela realidade definitiva que almejamos: a nossa transformação em Deus.
Na nossa oração somos chamados a reviver a experiência da transfiguração de Jesus que os discípulos viveram; encontrar o Cristo glorioso e resplandecente que encherá de luz a nossa inteligência e de calor os nossos corações, a tal ponto que, como Pedro, desejaremos permanecer ali. A este respeito, é muito válido o que o Papa Francisco disse sobre a oração durante a Quaresma.: “É um período em que Deus quer nos despertar da letargia interior, desta sonolência que não permite que o Espírito se expresse. Porque – nunca esqueçamos – manter o coração desperto não depende só de nós: é uma graça e devemos pedi-la. Os três discípulos do Evangelho demonstram-no: eram bons, tinham seguido Jesus até ao monte, mas só com as suas forças não conseguiam ficar acordados. Acontece conosco também. Mas eles acordam justamente durante a Transfiguração.
Podemos pensar que foi a luz de Jesus que os despertou. Como eles, também nós precisamos da luz de Deus, que nos faz ver as coisas de maneira diferente; Atrai-nos, desperta-nos, reacende o desejo e a força para rezar, para olhar para dentro de nós mesmos e dedicar tempo aos outros. Podemos vencer o cansaço do corpo com a força do Espírito de Deus. E quando não conseguirmos superar isso, devemos dizer ao Espírito Santo: “Ajude-nos. Vem, vem Espírito Santo. Ajuda-me: quero encontrar Jesus, quero estar atento, desperto”. Peça ao Espírito Santo que nos tire desta sonolência que nos impede de orar. Neste tempo de Quaresma, depois do cansaço de cada dia, nos fará bem não apagar a luz do quarto sem antes nos colocarmos sob a luz de Deus. Ore um pouco antes de dormir. Vamos dar ao Senhor a oportunidade de nos surpreender e despertar nossos corações. Podemos fazer isso, por exemplo, abrindo o Evangelho e deixando-nos maravilhar pela Palavra de Deus, porque a Escritura ilumina os nossos passos e inflama os nossos corações. Ou podemos olhar para o Crucifixo e maravilhar-nos com o amor louco de Deus, que nunca se cansa de nós e tem o poder de transfigurar os nossos dias, de lhes dar um sentido novo, uma luz diferente, uma luz inesperada.” (angelus 13 de março de 2022).
Para concluir: A liturgia deste segundo domingo convida-nos a olhar para Deus, para a sua promessa, para a sua obra, para o seu poder e para a sua glória. Convida-nos a fixar o olhar em Jesus transfigurado e a reconhecer ali o nosso próprio futuro. E com esta Esperança partimos decididamente para a Páscoa. Deixemos o Senhor trabalhar em nossas vidas, mantenhamos nossos corações despertos para que a Luz do Senhor transfigurado renove a Esperança que não decepciona.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Transfigurado
Os profetas anunciaram sua hora
E seus apóstolos viram sua glória
Aqui na terra e no céu
Ensina-nos a orar ao Pai
Para nos transfigurar com você
E em você, como eles te viram
Limpe-nos da nossa culpa
Para que brilhe sobre nós
a pureza do seu amor
Mostre-nos a beleza do topo
Na intimidade da oração
E então venha, desça conosco
Aqui a escuridão ilumina com você
Em cada altar, Mistério Eucarístico
Doação e Sacrifício
E na cara de tantos
Que vagam pelas ruas confusos
Com sede, sem saber da sua sede
Hoje esperamos pela sua Paixão e pela sua Páscoa
Guie-nos pelo mesmo caminho
Renove nossa esperança. Amém.
1 Ese Jesús al que se llama Cristo, Madrid, 1971, 67.
2 El Libro del Génesis, Sígueme, Salamanca, 2008, 230.
3 Sermón 51, en Oficio de Lectura del segundo domingo de cuaresma.
4 F. Bovon, El evangelio según San Lucas, Vol. I (Sígueme; Salamanca 1995) 693.
5 Evangelio según san Lucas, BAC, Madrid, 2014, 183.
6 F. Bovon, El evangelio según San Lucas, 696.
1
SEGUNDO DOMINGO DE CUARESMA
LA TRANSFIGURACIÓN RENUEVA NUESTRA ESPERANZA
1a. Lectura (Gn 15,5-12.17-18):
La liturgia de este segundo domingo nos presenta la figura de un gran caminante o peregrino, el primero de la Biblia: Abraham. Recibe la invitación de Dios para ponerse en marcha detrás de la promesa, es decir, de una palabra de Dios dada al futuro; a la que responde con una fe expresada con una acción, con la vida, pues Abraham permanece mudo y obedece con prontitud a pesar de lo terrible del mandato de desarraigarse totalmente (Cf. Gn 12,1-5). Como bien comenta J. Loew: "De Abraham no tenemos, por así decir, palabras: su vida misma es respuesta"1.
Ahora bien, la fe de Abraham lo lleva a ponerse en camino hacia lo desconocido con la única garantía de la promesa divina, de la Palabra de Dios. Pero la promesa supone un cumplimiento que tarda en llegar y, entonces, la fe comienza a flaquear, entra en crisis. En Gn 15,1-3 nos encontramos con la reacción de Abrám que es el lamento de un hombre sin hijos. Para la mentalidad del Antiguo Testamento una vida sin hijos no es una vida completa ni bendita. Entonces la Palabra de Dios lo invita a salir afuera, mirar hacia el cielo y contar las estrellas; y le promete que así de numerosa será su descendencia (cf. Gn 15,4-5).
La mirada al cielo puede significar la invitación a no cerrarse en la propia visión o perspectiva; y a abrirse al poder creador de Dios poniendo la confianza en Él. A esta renovación de la promesa sigue la fe de Abrám que es aceptación, confianza, fiarse de la Palabra de Dios. Esta respuesta por parte de Abrán fue valorada por Dios y tenida en cuenta para su justificación (cf. Gn15,6).
A la promesa de la descendencia numerosa sigue ahora la promesa de la tierra. Abrám, por su parte, pide un signo que 'certifique' esta donación de la tierra. Esta petición sirve de 'disparador' para que Dios ordene a Abrám preparar todo para el rito de alianza. Sigue ahora el acto de juramento o compromiso de darle la tierra que Dios asume. Aquí el término hebreo "Berit" tiene el sentido de juramento o compromiso incondicional; y no de pacto o alianza bilateral, pues sólo Dios se compromete dando la tierra al patriarca y no se menciona ninguna obligación por parte del patriarca. El rito solemne que precede al compromiso de Dios (cf. Gn 15,9-17) confirma el carácter unilateral del mismo, pues sólo el Señor, representado por "una antorcha de fuego" (15,17), pasa entre las dos mitades de los animales. Como dice G. von Rad: "la ceremonia se ha desarrollado sin decir palabra y ante la pasividad total del participante humano…"2.
En síntesis, esta escena nos describe el camino de fe de Abrám superando la crisis. Primero se queja a Dios en función de lo que ve de su realidad actual: no tiene hijos y lo heredará un siervo. Podríamos decir que Abrám mira hacia abajo, hacia su descendencia, de la que carece. Entonces la Palabra de Dios lo invita a salir afuera y mirar hacia arriba, al cielo, para contar las estrellas. Y así, la Palabra de Dios lo lleva a Abrám a mirar la realidad de modo diferente, hacia arriba y hacia el futuro. Y este nuevo modo de ver las cosas le permite a Abrám confiar y creer, aceptar la promesa. Sigue sin verla presente, pero cree que la podrá ver porque confía en la Palabra de Dios. Esta mirada de fe desemboca en la Esperanza que lo mueve a seguir caminando hacia la Promesa, a seguir siendo un peregrino de Esperanza.
2a. Lectura (Flp 3,17-4,1)
Pablo exhorta a los filipenses a ser imitadores suyos y a fijarse en aquellos que caminan según su modelo o ejemplo. Y esta exhortación es necesaria porque "hay muchos que
1 Ese Jesús al que se llama Cristo, Madrid, 1971, 67.
2 El Libro del Génesis, Sígueme, Salamanca, 2008, 230.
2
caminan como enemigos de la cruz de Cristo. Su fin es la predicción, su dios es el vientre, su gloria está en aquello que los cubre de vergüenza, y no aprecian sino las cosas de la tierra" (3,18-19). Tenemos, por tanto, dos caminos que simbolizan dos estilos de vida contrapuestos y alternativos: el de Pablo y sus seguidores; y el de los “enemigos de la cruz de Cristo”. Podemos deducir, entonces, que el camino de Pablo es el de los "amigos de la cruz de Cristo". Ante esta realidad, Pablo trata de reavivar la fe de los Filipenses recordándoles el objeto de la Esperanza del cristiano: son ciudadanos del cielo que están a la espera del Señor Jesús que vendrá y con su poder transformará los cuerpos de los creyentes en cuerpos gloriosos como el suyo. Por tanto, valorar sólo las cosas de este mundo es volverse enemigo de la cruz de Cristo que es la escalera que nos sube a lo eterno. No hay que quedar prisionero de este mundo porque la promesa de Dios es de algo mucho mejor: transformación y gloria. Hay que creer en el poder de Dios para obrar esto en nosotros.
Al presentarles este objeto de la Esperanza cristiana, la intención final de Pablo es que "perseveren firmemente en el Señor"; o sea, mantenerse en el camino de la fe hasta el final. En el contexto de este segundo domingo esta lectura nos ayuda a unir el tema del camino de la fe con el de la transfiguración que esperamos, por la potencia y a imagen de Cristo (evangelio de hoy).
Evangelio (Lc 9,28-36):
El relato de la transfiguración viene colocado en los tres sinópticos a continuación del primer anuncio de la pasión y de la exigencia de una renuncia total para seguir a Jesús (cf. Lc 9,22-27; Mt 16,21-28; Mc 8,31-38). Luego de estos anuncios, se hacía necesario que al menos algunos de sus discípulos (los considerados como columnas en Gal 2,9 y que volverán a acompañarlo en Getsemaní ), tuvieran una experiencia que disipara el temor y la angustia generados por tales anuncios y, para ello, les concede una visión anticipada de la gloria prometida después de padecer. Ya lo decía san León Magno: "Sin duda esta transfiguración tenía sobre todo la finalidad de quitar del corazón de los apóstoles el escándalo de la cruz, a fin de que la humillación de la pasión voluntariamente aceptada no perturbara la fe de aquellos a quienes había sido revelada la excelencia de su dignidad escondida"3. En este contexto “la transfiguración asume entonces una función parenética de consolación”4.
Por su parte A. Rodríguez Carmona5 considera esta escena como un cumplimiento de lo dicho por Jesús en el versículo inmediatamente anterior: “Les aseguro que algunos de los que están aquí presentes no morirán antes de ver el Reino de Dios»” (9,27). Según este autor: “ver a Cristo resucitado es ver el Reino de Dios, que se personaliza en él”.
Y si vamos un poco más atrás encontramos, también en los tres sinópticos, las preguntas que Jesús dirige a sus discípulos sobre su propia identidad: "¿Quién dice la gente que soy yo?"; "¿y ustedes quién dicen que soy yo?" (Cf. Lc 9,18.20; Mc 8,27-30; Mt 16,13-16). El relato de la transfiguración es también una respuesta a estas preguntas; es la respuesta misma del Padre sobre la identidad de Jesús. En este contexto es un relato teofánico, de cristología alta.
Continuando con el relato de la transfiguración, notamos que para Lucas la intención primera de Jesús no es la de manifestarse, sino la de orar ("subió al monte para orar" ἀνέβη εἰς τὸ ὄρος προσεύξασθαι en 9,28). Y también es exclusiva de Lucas la referencia a que los cambios de aspecto exterior le suceden a Jesús "mientras estaba orando" (ἐγένετο ἐν τῷ προσεύχεσθαι en 9,29). En los momentos decisivos de su vida Jesús permanece unido por la oración a su Padre. Son momentos en los que manifiesta su identidad profunda de Hijo. La Transfiguración es más bien el fruto o la consecuencia de su íntima relación con el Padre. En el marco de la
3 Sermón 51, en Oficio de Lectura del segundo domingo de cuaresma.
4 F. Bovon, El evangelio según San Lucas, Vol. I (Sígueme; Salamanca 1995) 693.
5 Evangelio según san Lucas, BAC, Madrid, 2014, 183.
3
cristología de Lucas la transfiguración es ante todo “una ventana abierta a la relación del Padre con el Hijo, relación que la voz va a explicar”6.
Otra característica propia del relato de Lucas es que para describir la transfiguración no utiliza el término “transformación” (μεταμορφόω) que trae Marcos sino que es mucho más discreto pues en 9,29 sólo dice que “la apariencia de su rostro se hizo otra” (τὸ εἶδος τοῦ προσώπου αὐτοῦ ἕτερον) y que “su vestido de una blancura brillante” (ὁ ἱματισμὸς αὐτοῦ λευκὸς ἐξαστράπτων.) indicando su pertenencia a la esfera divina.
En la escena, junto a Jesús, aparecen Moisés y Elías, “los cuales aparecían en gloria (ἐν δόξῃ)”, añade Lucas. Es interesante porque además de representar la Ley y los Profetas, son dos hombres de oración que subieron al monte para encontrarse cara a cara con Dios, para ver su rostro (cf. Ex 33,8; 1Re 19,17). En cierto modo, Lucas nos dice que alcanzaron lo que con tanto anhelo buscaron en sus vidas: la gloria de Dios. También es exclusiva de Lucas la alusión al tema de conversación entre Jesús, Moisés y Elías sobre su éxodo, o sea su salida, su muerte, su ascensión o pascua que se cumplirá en Jerusalén. De este modo nos revelan, al mismo tiempo, el fin y el medio; la meta y el camino: por la cruz a la luz, a la gloria.
Pedro, Santiago y Juan son espectadores privilegiados de la escena, que los atrapa tanto que vencen el sueño y quieren que se prolongue en el tiempo. Este es el sentido de la exclamación de Pedro: "Señor, que hermoso (kalós) es estarnos aquí". La transfiguración es un misterio de belleza divina, de esplendor de la verdad y del bien de Dios mismo. Pedro se siente "atrapado" por esta visión y quiere hacer tres carpas para quedarse allí. Según San Agustín, Pedro ha gustado el gozo de la contemplación y no quiere ya volver a las preocupaciones y fatigas de la vida cotidiana. Por eso quiere, en cierto modo, "eternizar" ese momento. La mención de las tiendas (“skene”) nos remite a la Fiesta de los Tabernáculos, Tiendas o Chozas (“sukkot”), que celebraba la recolección de las cosechas de otoño, y se la relacionó con el período del desierto, pensando que los israelitas vivieron entonces en cabañas o chozas. Sería, por tanto, otra referencia al tema del éxodo.
Mientras Pedro decía esto una nube luminosa, signo de la presencia de Dios y del Espíritu Santo, los cubre con su sombra. En el libro del Éxodo la nube cubre la montaña donde habita la gloria del Señor (cf. Ex 24,15-18). Dejarse cubrir por la sombra de la nube significa entrar en el mundo de Dios, en el misterio de Dios. El miedo expresa la reacción humana delante de un fenómeno sobrenatural.
Desde la nube sale la voz y, por lo antedicho, no hay dudas de que se trata de la voz del Padre. Como antes en el bautismo (cf. Lc 3, 22), la voz divina vuelve a manifestarse, pero ahora se dirige a los discípulos y les revela la identidad profunda de Jesús: el Hijo elegido; y les manda escucharle, es decir, obedecerle, seguirle (οὗτός ἐστιν ὁ υἱός μου ὁ ἐκλελεγμένος, αὐτοῦ ἀκούετε).
Al final dice Lucas que al escucharse la voz celestial Jesús estaba sólo, desaparecieron las otras voces de Dios, Moisés y Elías, la Ley y los Profetas; ahora tenemos al Hijo, la Palabra personal del Padre.
ALGUNAS REFLEXIONES
En la primera lectura nos encontramos con un Abrám dubitativo y en crisis que, en cierto modo, se rebela contra Dios. Se queja porque la promesa del Señor no se cumple, lo desea vivamente pero no lo posee todavía ni lo descubre en el horizonte de su ya larga vida. Hizo bien Abrám en manifestar su desaliento porque Dios lo animó confirmándole la promesa,
ante la cual Abrám volvió a creer, a confiar, a esperar. Luego Dios confirmó su Palabra con un signo, un gesto de compromiso incondicional. Pero no perdamos de vista que Dios no le
6 F. Bovon, El evangelio según San Lucas, 696.
4
dio inmediatamente el hijo que deseaba, sino que se lo volvió a prometer, pero ahora con la fuerza de un compromiso. O sea que Abrám tuvo que seguir viviendo de fe y caminando en la esperanza.
Notemos, además, que Dios colma la necesidad de Abrám de tener descendencia y una tierra; y se la concede como don gratuito, sin pedirle nada a cambio.
Por su parte San Pablo trata de sostener la fe de los filipenses ̶ tentados de reducir el horizonte de sus vidas a lo material olvidando la cruz de Cristo ̶ recordándoles que la meta es ser transformados y glorificados por Cristo, es decir, participar de su misterio pascual. Pero esto sucederá cuando venga Cristo el Señor, por lo tanto, hay que seguir creyendo y esperando.
En el evangelio Jesús lleva a tres de sus discípulos al monte y se transfigura ante ellos. A quienes había desalentado el anuncio de la pasión, los consuela con la visión de su gloria, como bien reza el prefacio de la Misa de este día: “Él mismo, después de anunciar su muerte a los discípulos, les reveló el esplendor de su gloria en la montaña santa, para mostrar, con el testimonio de la Ley y los Profetas, que por la pasión, debía llegar a la gloria de la resurrección”. Ahora bien, después de gozar de la transfiguración hay que bajar del monte, volver a vivir de la escucha y de la espera, seguir creyendo y esperando. Sí, pero ya no seremos los mismos, algo cambió en nosotros, se nos abrió un horizonte de Esperanza.
Por tanto, un tema común a las tres lecturas, es que "estamos salvados en esperanza"; lo cual supone seguir creyendo, confiando y esperando lo que todavía no vemos ni poseemos plenamente. Seguimos siendo peregrinos de Esperanza. Y este es el gran desafío del creyente: perseverar en la fe a pesar de las tinieblas del mal y de las exigencias de la cruz.
Ahora bien, el Señor viene en ayuda de nuestra debilidad y nos da signos que refuerzan su Palabra/Promesa (como a Abrám); nos regala momentos de Luz, de consolación, de sentir su presencia Divina que nos renueva la Esperanza (como a Pedro, Juan y Santiago).
El domingo pasado se nos presentó la necesidad de la lucha contra la tentación, de la renuncia a todo lo que pueda apartarnos del camino de Dios; en fin, se nos invitó a asumir la cruz como dimensión fundamental de la existencia cristiana. Jesús nos pide seguirlo por el mismo camino por donde él transitó, que es el camino de la renuncia y de la cruz. Y como esto es muy difícil de aceptar, las lecturas de hoy nos recuerdan la meta del camino, hasta donde hay que seguir a Jesús: hasta la Resurrección/Gloria/Felicidad plena junto al Padre.
Jesús quiere hacernos partícipes de su gloria, de su transfiguración, fruto de su relación con el Padre. Se nos presenta, por tanto, la dimensión gozosa, triunfal, de la existencia cristiana, que es una dimensión tan esencial como la cruz. Más aún, es la que da sentido a la misma. Por tanto, en nuestro camino cuaresmal, el Señor transfigurado y la Voz del Padre, nos confirman y alientan a continuar hasta el final porque “la Esperanza no defrauda” (Rom 5,5).
Hoy se nos permite contemplar la Gloria de Aquel que pronto veremos cubierto de ignominia, clavado en una cruz. Es un misterio luminoso para conservar en la memoria, tan necesario para atravesar la noche que nos separa de la Luz definitiva y eterna.
Jesús invita a sus discípulos a subir al monte elevado "para orar". En consonancia con el espíritu cuaresmal, se nos presenta la oración como el medio necesario, como la ventana abierta a esa realidad definitiva que anhelamos: nuestra transformación en Dios.
En nuestra oración estamos llamados a revivir la experiencia de la transfiguración de Jesús que vivieron los discípulos; a encontrarnos con Cristo glorioso y resplandeciente que llenará de luz nuestra inteligencia y de calor nuestro corazón al punto que, como Pedro, vamos a querer permanecer allí. Al respecto es muy válido lo que dijo el Papa Francisco sobre la oración en la cuaresma: “Es un período en el que Dios quiere despertarnos del letargo interior, de esta somnolencia que no deja que el Espíritu se exprese. Porque —no lo olvidemos nunca— mantener el corazón despierto no depende solo de nosotros: es una gracia, y hay que pedirla. Los tres discípulos del Evangelio así lo demuestran: eran buenos, habían seguido a Jesús al monte, pero solo con sus fuerzas no conseguían mantenerse despiertos. Nos sucede también a nosotros. Pero se despiertan justo durante la Transfiguración.
5
Podemos pensar que fue la luz de Jesús la que los despertó. Como ellos, también nosotros necesitamos la luz de Dios, que nos hace ver las cosas de otra manera; nos atrae, nos despierta, reaviva el deseo y la fuerza de rezar, de mirar dentro de nosotros y dedicar tiempo a los demás. Podemos vencer la fatiga del cuerpo con la fuerza del Espíritu de Dios. Y cuando no podamos superar esto, debemos decirle al Espíritu Santo: “Ayúdanos. Ven, ven Espíritu Santo. Ayúdame: quiero encontrar a Jesús, quiero estar atento, despierto”. Pedirle al Espíritu Santo que nos saque de esta somnolencia que nos impide rezar. En este tiempo de Cuaresma, después de las fatigas de cada día, nos hará bien no apagar la luz de la habitación sin antes ponernos bajo la luz de Dios. Rezar un poco antes de dormir. Démosle al Señor la oportunidad de sorprendernos y despertar nuestro corazón. Esto lo podemos hacer, por ejemplo, abriendo el Evangelio y dejándonos asombrar por la Palabra de Dios, porque la Escritura ilumina nuestros pasos e inflama nuestro corazón. O podemos mirar el Crucifijo y maravillarnos ante el amor loco de Dios, que nunca se cansa de nosotros y tiene el poder de transfigurar nuestros días, de darles un nuevo sentido, una luz diferente, una luz inesperada” (ángelus 13 de marzo de 2022).
En conclusión: la liturgia de este segundo domingo nos invita a levantar la mirada a Dios, a su promesa, a su obra, a su poder y a su gloria. Nos invita a fijar la mirada en Jesús transfigurado y reconocer allí nuestro propio futuro. Y con esta Esperanza ponernos decididamente en camino hacia la Pascua. Dejémosle obrar al Señor en nuestra vida, mantengamos despierto el corazón para que la Luz del Señor transfigurado renueve la Esperanza que no defrauda.
PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):
Transfigurado
Los profetas anunciaron tu tiempo
Y tus apóstoles vieron tu gloria
Aquí en la tierra y en el cielo
Enséñanos a orar al Padre
Para transfigurarnos contigo
Y en ti, como te vieron ellos
Límpianos de nuestras culpas
Para que brille en nosotros
la pureza de tu amor
Muéstranos la belleza de la cima
En la intimidad de la oración
Y luego ven, baja con nosotros
Aquí la oscuridad se ilumina contigo
En cada altar, Misterio Eucarístico
Donación y Sacrificio
Y en los rostros de tantos
Que vagan por las calles confundidos
Sedientos, sin saber de tu Sed
Hoy esperamos tu Pasión y tu Pascua
Guíanos por el mismo camino
Renueva nuestra esperanza. Amen.