21/07/2024
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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Jeremias 23,1-6
Salmo Responsorial 22(23)R-O Senhor é o pastor que me conduz: felicidade e todo bem hão de seguir-me.
2ª Leitura: Efésios 2,13-18
Evangelho: Marcos 6,30-34
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham tempo nem para comer. 32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé e chegaram lá antes deles. 34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas. – Palavra da salvação.
Mc 6,30-34
O Evangelho de hoje é continuação do de Domingo passado, quando Jesus enviou os 12, dois a dois na mais absoluta pobreza para anunciar o Evangelho, expulsar os demônios e curar os doentes.
Os apóstolos retornam da missão e prestam contas de tudo o que tinham feito e tinham ensinado. Podemos imaginar a alegria dos apóstolos em poder apresentar a Jesus um belo relatório de tudo o que eles fizeram, a excitação dos apóstolos ao apresentarem a Jesus como era importante a colaboração deles para a missão. Podemos até mesmo imaginar que eles já se sentissem “colaboradores indispensáveis” para Jesus.
Nesse sentido, é significativa a reação de Jesus ante o belo relatório que os apóstolos lhe entregam: Jesus os convida a se retirarem junto com Ele para um lugar deserto para descansar um pouco! De fato, o evangelista observa que eram tantos que os procuravam que não tinham sequer tempo para comer.
Evidentemente é admirável a dedicação dos Apóstolos ao povo. É mais admirável ainda que os apóstolos se entreguem ao serviço junto com e a exemplo de Jesus.
O convite que Jesus faz ao descanso não tem somente uma função fisiológica. O descanso dos Apóstolos deve consistir em se retirarem para “um lugar deserto”. O descanso com Jesus não é meramente funcional. Trata-se de um afastamento do trabalho para por em prática o comportamento indicado nas parábolas do Reino, de modo especial da parábola da semente que cresce sozinha e segundo o seu ritmo. Descansar nesse sentido, significa assumir o comportamento da confiança na ação de Deus, da humildade de quem não se considera “indispensável”, da paciência de quem sabe que os frutos dependem de Deus e não do nosso ativismo. Temos grande necessidade de escutar e de aceitar o convite de Jesus: “Vinde, vós sozinhos, para um lugar deserto e descansai um pouco”.
Mesmo que se retirem para um lugar deserto, as multidões seguem Jesus e os apóstolos. As multidões estão cansadas também, mas é uma canseira diferente da dos apóstolos. Os apóstolos estão cansados pelas exigências da missão, as multidões estão cansadas porque não encontram guias autênticos e verdadeiros, porque já foram muito enganadas por falsos mestres, porque já foram muito exploradas por aproveitadores.
Por isso Jesus e os discípulos adiam o descanso para depois para poder dar descanso às multidões, ou seja, para guiar as multidões no caminho certo da vida, para ensinar o Evangelho, para cuidar da salvação delas.
“Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco” (Mc 6,31)
A vida, toda vida, tem sua dose de cansaço. Também Jesus experimentou isso: “Fatigado da caminhada, sentou-se junto ao poço” (Jo 4,6).
De que estava habitado o cansaço de Jesus?
Marcos nos conta que eram muitos que chegavam e saíam, e não lhes sobrava tempo nem para comer. É um cansaço perpassado de rostos, que tem a ver com a vida que se gasta e se põe a fadigar por outros: “Levavam a eles todos os enfermos e endemoniados” (Mc 1,32).
De fato, de acordo com o evangelho deste domingo, as jornadas de Jesus se revelavam esgotadoras: muitos enfermos eram levados até Ele para que os tocasse e os curasse; muitas pessoas se aproximavam para escutá-lo; era muito exigido em todos os lugares por onde passava; os conflitos desgastantes com os fariseus...
Jesus sentia os cansaços e as pressões, mas, ao mesmo tempo, sabia fazer “paradas” para recuperar as forças, para retomar o contato com o sentido de sua vida e de sua missão, para ser Ele mesmo.
Ele possuía uma lucidez que proporcionava uma visão profunda das coisas, no clima de uma paz sempre buscada. Para Jesus, o descanso, entre outras coisas, era um momento de restauração e reabilitação pessoal que lhe permitia mergulhar de novo na sua missão com maior criatividade.
Talvez, por isto, nunca perdia o norte, sempre estava preparado, pronto, disposto a investir o melhor de si e a responder na direção adequada.
De que estão feitos nossos cansaços?
Todo esforço precisa seu descanso, toda atividade pede uma parada.
Não há tensão que não exija um relaxamento, nem atividade continuada que não peça um repouso reparador. Os cansaços acabam nos revelando que, em nossa vida ativa, estamos amputando certas dimensões do humano. Assim, o descanso, em seu sentido nobre, impede que nos convertamos em meros trabalhadores estressados; ele nos arranca de nossa existência maquinal.
É sintomático o fato de recorrermos frequentemente ao uso da linguagem da máquina para expressar o que buscamos com o descanso: “desconectar”, “tirar da tomada”, “recarregar a bateria”, “recuperar a energia”, “reabastecer o motor” ... Sutilmente, expressamos deste modo como nos percebemos em nossa realidade cotidiana e até que ponto estamos suportando níveis intoleráveis de saturação, de ativismo, de estresse...
Descansar tornou-se uma necessidade do planeta. A terra, nós e todos os seres vivos precisamos da pausa que revigora, do repouso que nos faz criativos.
Prazer, vitalidade e criatividade dependem dessas pausas que estamos negligenciando. Devemos buscar, em cada circunstância, fazer do descanso uma ocasião de subversão de valores, de questionamento de nossa prática cotidiana, de enraizamento de nossa missão... enfim, de vivê-lo à maneira de Jesus Cristo.
O descanso nos conserva humanos; ele nos ajuda a recuperar um ritmo de vida mais humanizante, ou seja, recuperar a capacidade de estabelecer relações gratuitas com outras pessoas, com a natureza e seus ritmos, com o Criador... Não basta simplesmente poder folgar; ter acesso ao verdadeiro descanso é recuperar o sentido da gratuidade das nossas atividades e que melhoram a vida e a convivência.
O descanso pode ser um bom tempo para retomar a vida com mais liberdade e para realizar atividades mais humanizantes. Nesse sentido, o objetivo principal do descanso é recuperar nosso lugar e nossa condição de homens e mulheres, afastando de nós o endeusamento e as fantasias de onipotência.
No descanso, voltamos a pisar a terra (húmus – humildade) para recuperar uma relação desinteressada e sadia com os outros, com o mundo e com Deus.
A vida tem necessidade de “consideração”, “avaliação”, “fundamentação” ... Do contrário, ela perde densidade e, sobretudo, desperdiça sua própria beleza.
Por mais descansos que tenhamos, há cansaços que só se aliviam através do encontro consigo mesmo, e há descansos que só se conseguem quando nos reconciliamos com o que somos e vivemos.
Precisamos de “paradas”, mas paradas com argumento interior. Elas devem ser algo assim como um retorno contemplativo, uma “reflexão” em direção à raiz de nossas motivações.
O descanso permite sintonias profundas conosco mesmo e com a profundidade das circunstâncias habituais que fazem parte do nosso cenário cotidiano.
Ele desperta uma predisposição pessoal que pode ser decisiva para redescobrir o valor e o sentido do cotidiano no qual voltamos a mergulhar. O descanso inspira, nos faz criativos, porque toca as profundezas de nós mesmos e das atividades rotineiras.
Nesse sentido, o descanso se assemelha muito a uma certa ressurreição; não é um simples reabastecimento, mas uma regeneração na qual se recompõem a interioridade, o espírito criativo, a disposição de coração...
“Vinde sozinhos para um lugar deserto...” O descanso não é uma “desconexão”, senão uma “conexão” com aquilo que é o impulso fundamental de nossa vida cotidiana. O descanso nos possibilita afastar do rotineiro e nos faz caminhar ao deserto interior, onde podemos dirigir um olhar contemplativo sobre a vida cotidiana. Nele nos desprendemos do presente e de sua urgência tirana.
No deserto nos personalizamos, resgatamos nossa identidade; nele temos a chance de ver a realidade sem instrumentalizá-la, gratuitamente. E só no gratuito é que descansamos.
Deste modo, o descanso também pode se constituir como um “tempo” privilegiado para uma intimidade com o Senhor, um espaço em nossa existência para estar gratuitamente com Ele, para saborear sua presença em nossa vida, para alegrar-nos com sua ação providente e cuidadosa.
“Tempo sagrado” para dirigir nosso olhar para o Pai, para compreender, a partir d’Ele, o sentido das coisas e da história. “Tempo” para Deus, para mergulharmos no mistério que pulsa no profundo da vida e render-nos diante d’Ele, para descalçarmos diante do sagrado e contemplar.
A mística inaciana tem muito a nos revelar sobre esta atividade tão divina e tão humana: o descanso.
“Viver descansadamente” (S. Inácio) é encontrar um descanso, uma paz interior, uma quietude, uma consolação, uma satisfação na vida e nas atividades, e que tem sua raiz na comunhão com Deus que trabalha e descansa. A vida do “contemplativo na ação” é uma vida ativa vivida “descansadamente”, ou seja, na presença de Deus, com o coração centrado n’Ele, fazendo somente Sua Vontade...
Viver uma vida ativa descansadamente é viver com os pés na terra e contemplando as “coisas do alto”.
Como homem pragmático, Inácio de Loyola mandou construir casas de descanso para os jesuítas, pois sabia, por experiência, que uma atividade forte pede relaxamento. Ele compreendeu que os ambientes tensos e atividades estressantes não são desejáveis nem para a vida espiritual, nem para o trabalho, e recomenda “recreação” e “relaxamento” na atividade, seja corporal ou espiritual.
Para meditar na oração:
Também na vida espiritual, necessitamos de pausa para um encontro profundo conosco e com Deus, e assim poder retomar a vida com mais dinamismo. A pausa é que dá sentido e inspiração à caminhada.
- Na perspectiva do discernimento, devemos, depois de cada descanso, nos perguntar:
“o que ele nos trouxe de novidade? Ajudou a nos dignificar como pessoas? Melhorou a relação com os outros? Facilitou ao outro sentir-se bem? Que possibilidades novas nos apresentou?”
“Descansar é uma arte. Viver descansadamente, uma arte ainda mais delicada” (J.A. Guerreiro)
- Seu descanso: tempo de humanização ou mais um estresse na sua agenda?
A cena está cheia de ternura. Chegam os discípulos cansados do trabalho realizado. A atividade é tão intensa que já não «conseguiam arranjar tempo para comer». E então Jesus faz-lhes este convite: «Venham para um lugar tranquilo descansar».
Hoje nós cristãos esquecemos com demasiada frequência que um grupo de seguidores de Jesus não é apenas uma comunidade de oração, reflexão e trabalho, mas também uma comunidade de descanso e fruição.
Nem sempre foi assim. O texto que se segue não é de nenhum teólogo progressista. Foi escrito lá pelo século IV por aquele grande bispo pouco suspeito de frivolidades que foi Agostinho de Hipona.
«Um grupo de cristãos é um grupo de pessoas que rezam juntas, mas também conversam juntas. Riem-se em comum e trocam favores. Estão a brincar juntos, e juntos estão a falar a sério. Por vezes discordam, mas sem animosidade, como às vezes se está consigo mesmo, usando esse desacordo para reforçar sempre o acordo habitual.
Aprendem algo uns com os outros ou ensinam uns aos outros. Sentem falta, com pena, dos ausentes. Acolhem com alegria os que chegam. Fazem manifestações deste ou daquele tipo: faíscas do coração dos que se amam, expressas no rosto, na linguagem, nos olhos, em mil gestos de ternura».
Talvez o que mais nos surpreende hoje neste texto seja aquela faceta de cristãos que sabem rezar, mas também sabem rir. Sabem como estar sérios e sabem brincar. A igreja atual quase sempre parece grave e solene. Parece que como cristãos temos medo do riso, como se o riso fosse um sinal de frivolidade ou irresponsabilidade.
Há, no entanto, um humor e um saber rir que é um sinal de maturidade e sabedoria. É o sorriso do crente que sabe relativizar o que é relativo, sem necessidade de dramatizar os problemas.
É um sorriso que nasce da confiança última desse Deus que nos olha a todos com piedade e ternura. Um sorriso que se distende, liberta e dá força para continuar a caminhar. Este sorriso une. Os que riem juntos não se atacam nem se magoam, porque o riso verdadeiramente humano nasce de um coração que sabe compreender e amar.
As figuras da ovelha e do pastor de ovelhas são símbolos muito conhecidos do povo de Deus. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, elas aparecem várias vezes. No Antigo Testamento, Deus mesmo é o pastor que busca, apascenta, protege e cuida do seu rebanho, seu povo. Assim podemos ler em Jeremias 23. Foi nesta mesma confiança que o autor do Salmo 23 confessou: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará”. No Novo Testamento, Jesus se torna o bom pastor, que conhece as suas ovelhas e as ama tanto que dá a vida por elas. O rebanho é formado pelos seus discípulos, seus seguidores, os que creem em Cristo, a igreja, o povo que foi reconciliado com Deus e passa a fazer parte de uma nova família.
É esta também a imagem, ou seja, a ilustração que aparece em nosso texto. Jesus se relaciona com os discípulos e com o povo como um bom pastor. Trata uns e outros como parte de um rebanho de ovelhas. Sobre como acontece este relacionamento entre o pastor e as ovelhas é o que queremos meditar.
1. Jesus, pastor com os discípulos!
Voltaram os apóstolos à presença de Jesus e lhe relataram tudo quanto haviam feito e ensinado. E ele lhes disse: “venham repousar um pouco à parte; num lugar deserto” (v.30s). É importante notar que os discípulos aqui são chamados de apóstolos. Esta troca de termos é ilustrativa. Discípulo é aquele “segue” Jesus. Apóstolo é aquele que foi “enviado” por Jesus para testemunhar e ensinar as verdades do Reino de Deus. Isso mostra que o discipulado cristão e a vivência da nossa fé acontecem nesta dupla relação entre a comunhão com o Senhor e o serviço no mundo! Os discípulos, que haviam sido enviados para anunciar a mensagem do Reino de Deus, agora voltam e relatam tudo o que fizeram, ensinaram e experimentaram. E Jesus ouve atentamente o que eles têm a dizer. Jesus ouve e se interessa pelos seus discípulos.
E, depois de ouvir o relato dos enviados, Jesus conclui que eles precisam de uma folga, de um tempo de recolhimento para descanso e avaliação. “Venham a um lugar deserto para descansar um pouco” (v.31). “E foram sós para um lugar deserto” (v.32). Os discípulos estão cansados, eles não tiveram tempo nem para comer.
Mas Jesus, como bom pastor, é sensível a esta necessidade de seus seguidores. Ele convida para o recolhimento e oferece descanso. “Venham a mim todos aqueles que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei”. Assim ele disse em outra oportunidade (Mt 11.28). Será que este convite de Jesus para a quietude, o recolhimento e descanso poderia valer também para você?
A seguir, o texto dirige a atenção ao povo. Conforme lemos, era muita gente. E eram enormes as suas carências. As pessoas precisam de alimento e saúde e, por isso, correm atrás de Jesus (v.33). Levam a ele os enfermos (v. 55). Assim, ao desembarcar, Jesus vê uma multidão e se compadece das pessoas, porque reconhece que elas são como ovelhas que não têm pastor (v.34). É um povo desamparado e desorientado. Mas Jesus tem um coração sensível para as suas necessidades. Assim chegamos ao segundo ponto da nossa reflexão.
2. Jesus, pastor com a multidão!
Como vive uma ovelha sem pastor? Ovelhas são animais muito dóceis e sociáveis. Mas também são animais muito frágeis e sensíveis. A saúde e a sobrevivência de um rebanho dependem basicamente dos cuidados do seu pastor. Jesus afirma que a multidão que ele encontra está como ovelhas sem pastor. Ovelhas sem pastor enfrentam sérios problemas:
• a) Ficam expostas a muitos perigos – pragas, ataques de moscas ou animais ferozes;
• b) Ficam famintas e sedentas – pois não encontram pastagem;
• c) Vivem inseguras porque perdem o rumo a seguir.
Certo criador de ovelhas ensinava que uma ovelha precisa ter supridas três necessidades para que possa descansar e procriar: Ela precisa sentir-se segura; alimentada e livre do atrito com as demais ovelhas do rebanho. O pastor de ovelhas tem exatamente estas funções: Deve proteger, guiar e alimentar o rebanho, bem como cuidar das ovelhas feridas e buscar as ovelhas perdidas. Sem estas necessidades supridas as ovelhas ficam aflitas, angustiadas, cansadas, exaustas.
Um rebanho de ovelhas sem pastor está perdido. Uma história pode ilustrar isso. Aconteceu na Europa. Um rebanho de ovelhas perdidas e desorientadas invadiu uma autoestrada. A confusão no trânsito foi geral. A polícia corria atrás das ovelhas e não conseguia reunir as coitadas. Até que chamaram o pastor responsável por aquele rebanho. Este se aproximou e começou a chamar as ovelhas. Três minutos depois ele tinha reunido todo o rebanho e a autoestrada foi liberada.
Algo semelhante acontece com a multidão aqui avistada por Jesus. Estão como ovelhas sem pastor. Por isso, correm atrás de Jesus e dos discípulos. Veem na mensagem de Jesus um sinal de esperança e de orientação. E Jesus se coloca ao seu lado como um bom pastor. Sua tarefa é reunir o rebanho, proteger as ovelhas e conduzi-las em segurança para a salvação. Por isso, Jesus mostra-se sensível às necessidades do povo. Ele sente compaixão da multidão. Os discípulos estão próximos de Jesus, mas a multidão está abandonada. Por isso precisa de mais atenção do que os discípulos.
Amados irmãos e irmãs! Qual é a sua situação? Você está entre o grupo dos discípulos ou entre a multidão desorientada como ovelha sem pastor? Seja qual for a sua situação, Jesus é aquele que nos acolhe, convida e chama para o discipulado para então nos enviar ao mundo a fim de testemunhar o seu amor e proclamar a mensagem do Reino de Deus.
Como cristãos e como comunidade, vivemos a nossa fé neste duplo relacionamento. Por um lado, é importante nos reunirmos em culto e participarmos nas demais atividades da Igreja. Nestes encontros aprofundamos nossa comunhão com o Senhor, nos fortalecemos na fé e nos auxiliamos uns aos outros. Por outro lado, é importante e necessário que voltemos nosso olhar para fora dos muros da Igreja. Pois ainda há muita gente que vive abandonada e desorientada. Há muitas ovelhas desgarradas e rebanhos sem pastor.
O mundo precisa de discípulos que anunciam a misericórdia de Deus para com aqueles que sofrem. Ainda há muita ovelha sedenta e faminta que precisa ouvir o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Como discípulos de Jesus, somos convidados a ver e ouvir as ovelhas desgarradas, desviadas, perdidas, aflitas, desorientadas e desesperadas do nosso tempo. Vamos olhar para estas ovelhas com os olhos da compaixão e anunciar a elas que o Reino de Deus está próximo, que o próprio Deus está perto de nós através de seu Filho Jesus Cristo.
Que Deus nos ajude e nos dê a mesma alegria experimentada pelos primeiros discípulos, no cumprimento da nossa missão. Que assim seja.
1. A volta dos apóstolos
O texto de Marcos 6.30-34 encontra-se dentro do contexto da missão dos doze. Jesus chama os doze (Mc 3.13-19) e passa a enviá-los de dois a dois (Mc 6.7), faz recomendações sobre o modo de vestir, agir e comportar-se (Mc 6.8-11). Então, saindo eles, pregavam ao povo que se arrependesse; expeliam muitos demônios e curavam numerosos enfermos, ungindo-os com óleo (Mc 6.12-13).
Marcos 6.30 nos conta que os apóstolos voltaram à presença de Jesus, depois da sua primeira atividade missionária. O termo apóstolos, derivado do verbo apostellein, enviar (6.7), denota o envio e a atividade dos doze (6.12). Os apóstolos têm aqui o sentido de os enviados. Os apóstolos contam a Jesus tudo o que tinham feito e ensinado. Aqui são muito importantes os verbos feito e ensinado. O fazer está ligado com o ensino. O ensino está ligado com o fazer.
Jesus se mostra muito sensível e atencioso para com os apóstolos. Ele lhes diz: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto; porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham (Mc 6.31). É muito natural a necessidade que os apóstolos têm de compartilhar com Jesus a sua primeira experiência missionária. Necessidade de ficarem sozinhos... compartilhar e avaliar o que aconteceu... o que fizeram... o que ensinaram... Jesus toma a iniciativa. Ele convida: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto. A atitude de Jesus é pastoral. É poimênica. É pedagógica.
Será que isso não falta a nós? Afastar-se da agitação! Ficar junto com os/as companheiros/as de caminhada. Compartilhar e avaliar o ensino e os trabalhos/ serviços realizados... O método de trabalhar e ensinar. Sentimos que nós fazemos isso pouco, aqui em Cunha Porã. Enviamos muitas pessoas para cursos e atividades. A Igreja tem, aqui, muitas pessoas aluando nos mais diversos trabalhos. No entanto, é pouco o tempo que temos para assimilar em conjunto o jeito de realizar esses trabalhos. É preciso acompanhar muito mais as pessoas, para que o Sacerdócio Geral de Todos Crentes se torne mais efetivo e real. É necessário ter a sensibilidade de Jesus. A volta é importante. Não só o envio.
O texto conta que os apóstolos foram sós no barco para um lugar solitário (Mc 6.32). Desde 3.9, quando Jesus se sente muito apertado pela multidão, ele usa o barco numa espécie de vaivém de uma margem para outra no lago de Tiberíades. O começo e o fim desses vaivéns estão bem marcados. Inicia em 3.7, quando as multidões chegam de todos os lugares (Judéia, Transjordânia, Fenícia), e termina em 8.29, quando Pedro diz a Jesus: Tu és o Cristo. Ao longo dessas travessias de barco, os doze descobrem pouco a pouco o fio condutor da prática de Jesus, à qual eles assistem e da qual participam. a partir de 9.30 aparece uma outra figura: o caminho (Clévenot, pp. 107-109).
No entanto, dá para perceber pelo texto que essa margem não era muito distante. Muitos, porém, os viram partir e, reconhecendo-os, correram para lá, a pé, de todas as cidades, e chegaram antes deles (6.33). As pessoas correm a pé para se encontrar com Jesus. São pessoas de todas as cidades. Mc 3.7-8 nos diz: Seguia-o da Galileia uma grande multidão. Também da Judéia, de Jerusalém, da Indumeia, dalém do Jordão e dos arredores de Tiro e de Sidom uma grande multidão, sabendo quantas cousas Jesus fazia, veio ter com ele. A multidão são as pessoas que vêm de todos os lugares, pois são atraídas pela pregação e pelos ensinamentos de Jesus.
Quando Jesus desembarca, ele vê uma grande multidão (Mc 6.34). Jesus não inunda as pessoas embora porque quer ficar sozinho com os discípulos. Ele se compadece das pessoas da multidão. Jesus sente a situação da multidão. Ela está como que perdida, sem rumo e direção. A multidão é como ovelhas que não têm pastor. Lembramos, aqui, o texto de Jeremias 23.1-6, onde o profeta lança a denúncia contra os pastores que dispersaram, afugentaram e não cuidaram das suas ovelhas: Mas eu cuidarei em vos castigar a maldade das vossas ações, diz o Senhor (Jr 23.2). E anuncia: Levantarei sobre elas pastores que apascentam, e elas jamais temerão, nem se espantarão; nem uma delas faltará, diz o Senhor... rei que é, reinará c agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra... será chamado: Senhor Justiça Nossa (Jr 23.4-6). Essa promessa se cumpre em Jesus.
Jesus sente compaixão da multidão, porque era como ovelhas que não têm pastor. No AT, temos muitas passagens que falam que Deus é pastor do seu povo (Sl 23.1, 78.52, Mq 7.14, Zc 10.3 por exemplo). O povo é o rebanho de Deus (Sl 79.13, 95.7, Jr 13.17, por exemplo). Essa comparação recorda os primórdios da história do povo de Israel, povo de pastores nómades.
No NT, Jesus é o bom pastor (Jo 10.1-16). Ele veio para reunir, conduzir, guardar e defender (Mt 15.24, Jo 10.4, Lc 12.32, por exemplo), levar à pastagem da salvação (Mt 2.6, Jo 10.9, Ap 7.17) para julgar, isto é, purificar e distinguir dos outros rebanhos (Mt 25.31-46, l Pe 5.4). Ter Jesus como pastor é ter a paz, o repouso (Mt 9.36) e a vida abundante (Jo 10.10).
Jesus é sensível, humano... sente compaixão pela multidão... e passa a ensinar-lhe muitas cousas. Jesus reúne a multidão através do seu ensinamento. Marcos não especifica em que consistia esse ensinamento. E por quê? Uma frase talvez o esclareça: 'Muita gente, tendo ouvido as coisas que fazia (Jesus), veio ter com ele' (3.8); o que atrai as multidões não é o ensinamento sob forma de 'discurso', mas sim o relato, propagado por mil vozes, daquilo que Jesus faz, da sua prática (Clévenot, p. 82).
Os apóstolos são aquele grupo que está mais próximo de Jesus. A multidão, porém, é como ovelhas que não têm pastor. Naquele momento, portanto, a multidão tem maior necessidade do que os apóstolos.
Logo após, o ensino é praticado na multiplicação dos pães. Jesus organiza a multidão em grupos, e o pão e os peixes são repartidos (Mc 6.35-44). Também nessa perícope encontramos a incompreensão dos discípulos (6.36-37).
2. Lições de Marcos 6.30-14
Em nosso texto, o ensino é o ponto central. A perícope inicia contando a volta dos apóstolos, que relatam para Jesus tudo quanto haviam feito e ensinado. O texto encerra com Jesus ensinando muitas coisas à multidão. Esse ensino não é uma simples teoria, mas ensino que se torna prática na vida. Existe uma coerência entre ensino e prática. Jesus também tem o seu método de ensinar e fazer... por isso envia os apóstolos... organiza a multidão... reparte o pão... Não é só Jesus que ensina e faz, mas também aqueles/aquelas que o cercam devem ensinar, viver e guardar tudo aquilo que ele ensinou e fez. Os discípulos e discípulas são realmente dignos de serem chamados de discípulos/discípulas quando ensinam e vivem na prática/na vida os ensinamentos de Jesus.
Ao mesmo tempo, o texto nos mostra que o contato com as pessoas é muito importante. Não é possível ensinar sem viver junto com as pessoas, sem ter contato com as pessoas. Jesus estava próximo dos doze, mas também era cercado por outros grupos, entre esses a multidão.
Ser sensível às necessidades é outra lição. Jesus é atencioso, sensível à volta dos apóstolos. Mas também vê a situação da multidão... São como ovelhas que não têm pastor. Jesus se compadece. O grupo íntimo de Jesus não é exclusivista (só para si). Há necessidade de ficar sozinho, para repousar. Porém a multidão se apresenta mais necessitada para Jesus. Os olhos de Jesus ajudam os apóstolos também a se voltarem para fora... verem a situação da multidão.
Situando
Jeremias, nascido em Anatot, uns 650 anos antes de Cristo, exerceu a sua missão profética antes, durante e até depois da destruição de Jerusalém pelos Babilónios (586 a.C.). Profetizou no Sul do país (Judá), sobretudo a cidade de Jerusalém e na Babilônia.
O rei da época, Josias fez uma grande reforma religiosa destinada a banir do país os cultos aos deuses estrangeiros. Jeremias, neste período, constantemente chamava os seus conterrâneos a uma conversão. Isto é, fidelidade a Javé e à Aliança feita ente Ele e o povo escolhido. Josias morre e Joaquim se torna rei.
Com Joaquim no trono a voz profética de Jeremias denuncia as graves injustiças sociais, fomentadas pelo próprio rei, e pelo abandono de Aliança com Javé. A infidelidade religiosa de Judá se torna evidente nas alianças políticas que Joaquim procura fazer com outras nações: em lugar de confiar em Deus, Judá coloca a sua segurança em exércitos estrangeiros. Jeremias anuncia a iminência da invasão do rei da Babilónia. Mas, nem o rei, nem os notáveis do país prestam qualquer atenção à opinião do profeta. Considerado um amargo “profeta da desgraça”, Jeremias apenas consegue criar o vazio à sua volta.
Em 587 a.C., Nabucodonosor põe cerco a Jerusalém. O sofrimento, a fome e a destruição foram terríveis. Terminou com a invasão da cidade, a destruição de Jerusalém, e a deportação das lideranças em 597 a.C.
O texto de hoje provavelmente foi escrito por ele depois dessa deportação. Judá não tem mais nem referências e nem esperança no futuro. Pela voz de Jeremias, Deus denuncia a incompetência dos “pastores” de Judá: com as suas políticas, eles dispersaram as ovelhas do rebanho - uma alusão ao exílio do Povo.
A imagem do “pastor”, para falar dos líderes da nação, é frequente no Antigo Testamento. O jovem Davi - pastor de ovelhas em Belém – foi ungido por Javé, transformado em rei e encarregado de cuidar do rebanho do Povo de Deus. O rei David será sempre o pastor por excelência, que cuidou do seu Povo seguindo as orientações recebidas de Deus.
Comentando
Deus, por intermédio de Jeremias, pronuncia-se sobre os “pastores”. A palavra “ai” com que se inicia o oráculo significa Javé desaprovando a forma negligente como os líderes têm conduzido o seu Povo. Os líderes de Judá não procuraram servir o Povo, mas serviram-se do Povo para concretizar os seus objetivos pessoais. Privilegiaram interesses próprios à custa do bem comum. Ora, o “rebanho” não é propriedade dos “pastores”, mas do Senhor. Deus chamou os reis de Judá para uma missão concreta, encarregou-os de cuidar do seu “rebanho” e eles, depois de terem aceite o compromisso, falharam totalmente.
Depois da formulação da culpa, vem a sentença. Deus vai “ocupar-se” desses maus pastores: vai castigá-los e pedir-lhes contas das suas más ações (vers. 2b).
Mas a intervenção de Deus não fica somente em pedir contas aos maus líderes; Ele mesmo vai tomar medidas para remediar a situação e para salvar esse Povo abandonado e disperso. Essa intervenção vai acontecer em três tempos, ou momentos.
Num primeiro momento, Deus vai tratar da repatriação dos exilados: as ovelhas serão devolvidas “às suas pastagens”. Javé mesmo vai liderar o processo de libertação e de regresso dos exilados à terra de onde foram afastados.
Num segundo momento, Deus vai escolher novos pastores para cuidar do seu Povo com a missão de “cuidar”, para o povo não ficar mais perdido ou apavorado.
O terceiro momento da intervenção de Deus é projetado para o futuro. Promete a chegada do descendente de David. O nome desse rei será “Senhor da justiça”, pois é Deus que o legitima, e a sua missão será administrar a justiça que Deus quer. Garantindo a justiça, esse “pastor” vai trazer a harmonia, paz, tranquilidade - a salvação ao Povo de Deus.
“Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Havia aí tanta gente que chegava e saía, a tal ponto que Jesus e os discípulos não tinham tempo nem para comer. Então Jesus disse para eles: Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco" Estes versículos mostram como Jesus formava seus discípulos. Ele se preocupava não só com o conteúdo da pregação, mas também com o descanso. Levou-os a um lugar mais tranquilo para poder descansar e fazer uma revisão.
* Marcos 6,33-34. O acolhimento dado ao povo.
O povo percebeu que Jesus tinha ido para o outro lado do lago, e eles foram atrás dele procurando alcançá-lo andando por terra até o outro lado. “Quando saiu da barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar muitas coisas para eles”. Ao ver aquela multidão, Jesus ficou com dó, “pois eles estavam como ovelhas sem pastor”. Ele esqueceu o descanso e começou a ensinar. Ao perceber o povo sem pastor, Jesus começou a ser pastor. Começou a ensinar. Como diz o Salmo: “O Senhor é meu pastor! Nada me falta! “Ele me guia por bons caminhos, por causa do seu nome. Embora eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois junto a mim estás; teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo. Diante de mim preparas a mesa, à frente dos meus opressores” (Sl 23,1.3-5).” Jesus queria descansar junto com os discípulos, mas o desejo de atender à necessidade do povo levou-o a deixar de lado o descanso.
*Alargando
A Imagem do Pastor na Bíblia
Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecemos a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica aos maus pastores foi crescendo na mesma medida em que, por responsabilidade dos reis, o povo acabou sendo levado para o cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4-17).
Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo, que é o próprio Deus: “O Senhor é meu pastor e nada me falta” (Sl 23,1-6; Gn 48,15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor para guiar o seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: “Oxalá, ouvísseis hoje a sua voz!” (Sl 95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34,17). Surgem o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o seu povo (Jr 3,15; 23,4).
Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubaram o povo ontem e o seguem roubando. Ele se apresenta também como o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos, isto é, os justos dos injustos (Mt 25,31-46). Jesus realiza a esperança do profeta Zacarias. Ele diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: “Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão” (Zc 13,7).
AMBIENTE
Jeremias, nascido em Anatot 650 a.C., exerceu a sua missão profética antes e durante o Cativeiro da Babilonia – 627 até 580 a.C., no Sul da Palestina, sobretudo, na cidade de Jerusalém.
É um tempo de desgraça e de pecado para o Povo, e de incompreensão e sofrimento para Jeremias. Jeremias critica as injustiças sociais e a infidelidade religiosa, traduzida, sobretudo, na busca das alianças políticas, que só traziam desgraças. Ele está convencido de que o povo dele já ultrapassou todos os limites e que a invasão babilónica é a consequência da infidelidade e dos erros do Povo de Deus.
O texto que nos é hoje proposto como primeira leitura faz referência a esses tempos de desnorte nacional, em que Judá, sem líderes capazes, já perdeu as referências e a esperança no futuro. No texto, Deus condena os "pastores" de Israel porque dispersaram as ovelhas do rebanho, o que parece aludir ao exílio na Babilónia.
MENSAGEM
O trecho começa com uma breve exposição da culpa: os "pastores" de Judá perderam, dispersaram, escorraçaram as ovelhas do Senhor, sem terem cuidado delas (vers. 1-2a). Cada um dos verbos utilizados faz referência a fatos recentes. Interesses pessoais, jogadas políticas, e a falta de consciência dos líderes civis e religiosos trouxeram consequências desastrosas para Povo, o "rebanho" de Deus.
Os líderes não procuraram servir o Povo, mas serviram-se do Povo para concretizar os seus objetivos pessoais. Ora, o "rebanho" não é propriedade dos "pastores", mas do Senhor... Deus chamou-os a uma missão concreta, encarregou-os de cuidar do seu "rebanho" e eles, depois de terem aceite o compromisso, falharam totalmente.
Depois da culpa, vem a sentença: Deus vai pedir explicações das suas más ações (v. 2). Deus não está disposto a tolerar abusos de confiança, nem pode pactuar com líderes que exploram o "rebanho" em seu benefício próprio. Na perspectiva de Deus, trata-se de algo intolerável e que não pode ser deixado em claro.
Mas a intervenção de Deus não fica só pelo pedir contas aos maus líderes... O próprio Javé vai intervir, no sentido de salvar o seu "rebanho". A intervenção de Deus vai desenvolver-se em três tempos, ou momentos...
O primeiro é a repatriação dos exilados: as ovelhas serão devolvidas "às suas pastagens para que cresçam e se multipliquem" (vers. 3). Para esta tarefa, Deus não conta com intermediários: Ele mesmo vai liderar o processo de libertação e de regresso dos exilados à terra.
O segundo momento da intervenção de Deus consiste na escolha de "pastores" exemplares (v4). A missão desses "pastores" será, simplesmente, "apascentar, que implica, cuidar com cuidado, solicitude, amor e ternura... Esses pastores estarão ao serviço do rebanho e não usarão o rebanho para concretizar os seus interesses pessoais. As "ovelhas" aprenderão a confiar nesse "pastor" que as ama e não terão mais "medo nem sobressalto".
O terceiro momento da intervenção de Deus é projetado para um futuro sem data marcada. Promete a chegada de um "rebento justo" da família de David (V.5). A imagem tirada do reino vegetal ("rebento") sugere fecundidade e vida em abundância, porque ele dará vida em abundância ao rebanho de Javé. Ele assegurará "o direito e a justiça" e trará salvação e segurança ao Povo de Deus. O nome desse rei será "o Senhor é a nossa justiça" (vers. 6), pois é Deus que o legitima e a sua missão será administrar a justiça que Deus quer. Garantindo a justiça, esse "pastor" irá trazer a harmonia, a paz, a tranquilidade, a salvação, a vida verdadeira ao Povo de Deus. Esta promessa anula a frustração e o desespero e inaugurar um tempo de esperança para o Povo de Deus. O tempo do Bom Pastor dos Evangelhos, Jesus de Nazaré.
Dehonianos, 16 Domingo do Tempo Comum, Ano B
(Tradução automática do Tradutor Google)
16º DOMINGO DO TEMPO COMUM – CICLO “B”
Primeira Leitura (Jr 23,1-6):
A maioria dos estudiosos[1] data este oráculo da época do último rei da linhagem de Davi, Zedequias (597-587 aC), filho de Josias, que foi colocado no trono por Nabucodonosor, rei da Babilônia, após a rendição de Jerusalém e a subsequente primeira deportação (597 aC). Zedequias se rebelará contra Nabucodonosor em 588 AC, o que será seguido pelo cerco e destruição de Jerusalém (587 AC).
O texto começa com uma denúncia contra os pastores (classe dominante) que, ao não cumprirem o seu devido dever, perdem e dispersam o rebanho (povo). Ele já havia denunciado esta mesma coisa em Jr 10,21: “Porque os pastores tornaram-se insensatos e não buscaram o Senhor; por isso não agiram com sabedoria e todo o seu rebanho foi disperso”. O julgamento de Deus recairá então sobre os pastores, punindo-os pelas suas más ações, por não terem cuidado do rebanho que lhes foi confiado.
Mas isto não termina aqui, mas, face ao fracasso destes maus pastores, Deus anuncia que ele próprio assumirá esta função e reunirá as ovelhas dispersas. Então ele estabelecerá bons pastores que procurarão o bem do rebanho, para que não tenham mais medo.
Finalmente, a reunificação do povo de Deus será seguida pela refundação da dinastia davídica; mas desta vez o descendente de David será um rei prudente e justo que trará bem-estar ao seu povo. Este oráculo, que se refere a um futuro (possivelmente não imediato), tem sido interpretado como um oráculo messiânico porque através do rei ungido de Deus a salvação chegará ao povo. Agora, para além da figura do futuro Messias, é notável o protagonismo de Deus que promete a salvação definitiva do seu povo.
Evangelho (Mc 6,30-34):
Para os comentadores, esta perícope encerra a secção anterior do envio dos apóstolos, momentaneamente suspensa pela narração do martírio de João Baptista (cf. Mc 6, 17-29). Ao mesmo tempo, tem a função de introduzir a história da multiplicação dos pães que se segue (cf. Marcos 6,35-44).
Os apóstolos, enviados por Jesus em missão, reúnem-se novamente com ele e contam-lhe tudo o que fizeram e ensinaram . Então Jesus os convida a se retirarem para um lugar deserto ou solitário, porque as pessoas que iam e vinham eram tantas que não lhes era permitido comer em paz. Notemos que a palavra “descanso” (ἀναπαύω) já se refere à tarefa do pastor, pois, segundo Ez 34,14.15 e Sl 23,2, é responsabilidade do pastor fazer com que suas ovelhas descansem em pastos verdejantes[2]. . Notemos também que por duas vezes, em 6,31.32, é assinalado que Jesus quer que eles fiquem “só” (κατ᾽ ἰδίαν); Portanto, a intenção de Jesus ao separar-se da multidão não é tanto a busca da solidão individual, mas de um espaço de intensa comunhão com os seus discípulos.
Eles entram no barco e dirigem-se para um lugar solitário, para o próprio deserto (ἔρημος), mas uma multidão vinda de "todas as cidades corre " por terra e chega antes deles. Marcos não dá nenhuma indicação precisa do referido local isolado; Em Lucas 9:10 é dito que é Betsaida. A nível narrativo, o importante é que, por iniciativa do próprio Jesus, ele e os seus discípulos procuram afastar-se das pessoas que deles precisavam, mas sem sucesso porque ao desembarcarem encontram ali presente uma multidão.
Agora trata-se de ver como Jesus reage ao povo após a tentativa fracassada de retirada. O evangelho nos diz que “ele viu muitas pessoas e sentiu compaixão por elas”. O evangelista descreve o sentimento profundo que este olhar sobre a multidão provoca em Jesus usando o verbo splagjnízomai (σπλαγχνίζομαι), que indica um choque visceral, ao nível das entranhas , daí a compaixão . Este verbo é usado nos Evangelhos de maneira particular para expressar a atitude compassiva e misericordiosa de Jesus para com o homem que sofre ou está desorientado (cf. Mc 1,41; 8,2; 9,22; Mt 9,36; 14). 0,14;
A seguir, é-nos explicada a causa ou razão desta compaixão: “porque eram como ovelhas sem pastor”. A imagem das ovelhas sem pastor é frequente no Antigo Testamento (cf. Nm 27,17; 1Rs 22,17; Ez 34,5), particularmente no contexto da acusação feita aos pastores/autoridades de terem abandonado o rebanho . /cidade. Portanto, como diz com razão M. Navarro Puerto[3]: “A percepção que Jesus tem desta falta levanta suspeitas sobre o ministério dos pastores oficiais”.
A compaixão , atitude bastante interna ao sujeito, é seguida de ações concretas para remediar a situação que a causa: Jesus começa a ensinar-lhes muitas coisas . Esta última indicação explica-nos melhor em que sentido as pessoas são como ovelhas sem pastor: estão desorientadas por falta de conhecimento, ninguém as guia e preside nos caminhos autênticos de Deus . Já no Antigo Testamento os profetas denunciavam que a falta de conhecimento de Deus era a ruína do povo; carregando a tinta sobre os responsáveis por esse ensino, como eram os sacerdotes daquela época: "Meu povo perece por falta de conhecimento. Porque você rejeitou o conhecimento, eu o rejeitarei do meu sacerdócio; porque você se esqueceu da instrução do seu Deus, também me esquecerei dos teus filhos” (Os 4:6). Junto com a denúncia está também a promessa de pastores autênticos que ensinam a verdade de Deus ao povo. Nisto Jesus cumpre as profecias do Antigo Testamento, entre elas a de Jr 3,15: “Depois lhes darei pastores segundo o meu coração, que os alimentarão com conhecimento e prudência”.
É por isso que Jesus assume o papel de bom pastor ao ensinar as pessoas. No evangelho de Marcos, ensinar é uma atividade constante de Jesus, como comprova o fato de que das 17 vezes que aparece o verbo didaskein (ensinar), 15 referem-se à atividade de Jesus. O que chama a atenção é que, com algumas exceções, o conteúdo do ensino não é especificado. Diz-se que ele ensinava através de parábolas (como as parábolas sobre o Reino de Deus em Marcos 4); que ensinou o caminho do filho do homem até a cruz; e que a casa do seu Pai – o templo – deve ser uma casa de oração. Talvez o mais ilustrativo seja como um grupo de fariseus e herodianos que vão vê-lo descreve o conteúdo do ensinamento de Jesus: “Mestre, sabemos que és sincero e não levas em conta a condição das pessoas, porque não pagas atenção à categoria de ninguém, mas ensinais com toda a verdade (avlhqei,aj) o caminho de Deus” (Mc 12,14). Esta é então uma das maneiras pelas quais Jesus exerce a missão de pastor do seu povo.
Em síntese, Jesus é apresentado como o bom pastor anunciado no Antigo Testamento, tanto por procurar descanso para os seus apóstolos que regressam cansados da missão, como pela sua compaixão perante a desorientação do povo, que ele remedia com o seu ensinamento.
MEDITAÇÃO:
A nossa vida passa entre momentos de atividade e momentos de descanso; e não é fácil encontrar o equilíbrio entre os dois. Precisamente sobre isto, o evangelho de hoje convida-nos, antes de mais nada, a meditar.
Na verdade , vemos que Jesus propõe aos apóstolos passar um tempo de descanso e descanso necessário; um momento para partilhar o que viveram na sua primeira experiência missionária. Embora não possa acontecer mais tarde, a intenção de Jesus é válida, reconhecendo a necessidade humana que todos temos de descansar, de rezar, de contar a Jesus como foram as coisas para nós e como nos sentimos pela missão recebida. Esta é uma verdadeira necessidade e não podemos viver sem estes momentos de descanso físico, mental e espiritual. Como observa com razão F. Lentzen-Deis[4]: “O convite ao descanso significa não só o necessário relaxamento do corpo e do espírito, mas também permite superar o ativismo inútil e ininterrupto que só aparentemente é uma verdadeira atividade. Jesus apela também à assimilação interior do trabalho realizado ao serviço do Reino de Deus. Os Doze devem reatualizar as experiências de pregação e trazê-las à memória para aprofundar todas as suas implicações e novos significados com o futuro ensinamento de Jesus”.
E hoje esta necessidade torna-se mais imperativa, porque como diz o Papa Francisco na GE 29: “as constantes novidades dos recursos tecnológicos, a atratividade das viagens, as inúmeras ofertas de consumo, por vezes não deixam espaços vazios onde a Voz de Deus. Tudo se enche de palavras, gozos epidérmicos e ruídos com velocidade cada vez maior. Não reina a alegria, mas a insatisfação de quem não sabe para que vive. Como não reconhecer então que é preciso parar esta corrida frenética para recuperar um espaço pessoal, às vezes doloroso, mas sempre fecundo, onde se estabeleça um diálogo sincero com Deus? Em algum momento teremos que perceber de frente a nossa própria verdade, para deixar que ela seja invadida pelo Senhor… Assim encontramos as grandes motivações que nos levam a viver plenamente as nossas próprias tarefas”.
Em segundo lugar , recorremos a Jesus para pedir a graça de poder imitar as suas atitudes, tão cheias de amor. Com efeito, Jesus vê a necessidade do povo, dói-lhe que estejam desorientados como ovelhas sem pastor, e sente profunda compaixão por eles e renuncia ao descanso legítimo para se dedicar a ensiná-los. E o que isso lhes ensina? Jesus ensina-os a viver como filhos de Deus e como irmãos; ensina-lhes o significado transcendente da vida; Ensina-os a viver a vida cotidiana com Deus e segundo Deus.
Deste coração de bom pastor, cheio de misericórdia ou compaixão, brota o anúncio da Verdade de Deus como forma eminente da Caridade de Deus. O Cardeal A. Vanhoye expressa isso muito bem.5: "Vemos em Marcos 6:34 que para Jesus o ensino, ou seja, a comunicação da palavra de Deus, é um ato de misericórdia e de amor [...] Jesus ensina porque se comoveu ao ver a situação do povo. O verbo em grego fala do vísceras e corresponde ao que chamamos de coração. Este aspecto afetivo é afirmado em Jesus, como decorrente da sua atividade de ensino, de comunicação da palavra de Deus. Portanto, a Palavra de Deus não pode ser comunicada senão em união com o coração, com a compaixão de Jesus, com a sua misericórdia sacerdotal. Quando no final do evangelho Jesus diz: “Ide e fazei discípulos de todas as nações… ensinando-as”, ele chama os seus apóstolos – e também os sacerdotes atuais – a comunicar a palavra de Deus com o coração e não apenas com os lábios. O que se comunica apenas com os lábios não é comunicação verdadeira, não pode produzir frutos. A união com o coração de Jesus é essencial para poder ensinar a palavra de Deus”.
Em resumo, temos o que disse o Papa Francisco no Angelus de 18 de julho de 2021: «Convida você a descansar. Ao fazer isso, Jesus nos dá um ensinamento valioso. Embora esteja feliz por ver os seus discípulos felizes com as maravilhas da sua pregação, não se detém em felicitações e perguntas, mas preocupa-se com o seu cansaço físico e interior. E por que ele faz isso? Porque quer alertar para um perigo que está sempre à espreita, também para nós: o perigo de nos deixarmos levar pelo frenesim do fazer, de cair na armadilha do activismo, em que o mais importante são os resultados que obtemos e sentem-se protagonistas absolutos. Quantas vezes isso acontece também na Igreja: estamos ocupados, vamos rápido, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar Jesus e de nos colocarmos sempre no centro. Por isso Ele convida o Seu povo a descansar um pouco em outro lugar, com Ele.
Não se trata apenas de descanso físico, mas também de descanso do coração. Porque não basta “desligar-se”, é preciso descansar verdadeiramente. E como isso é feito? Para isso é preciso voltar ao cerne das coisas: parar, calar, rezar, para não passar da correria do trabalho à correria das férias. Jesus não se retirou das necessidades da multidão, mas todos os dias, antes de mais nada, retirou-se na oração, no silêncio, na intimidade com o Pai. O seu terno convite – descansar um pouco – deve acompanhar-nos: evitemos, irmãos e irmãs, a eficiência, interrompamos a corrida frenética que dita as nossas agendas.
Aprendamos a parar, a desligar o telemóvel, a contemplar a natureza, a regenerar-nos no diálogo com Deus [...] Comovido, Jesus dedica-se ao povo e começa a ensinar (cf. vv. 33-34) . Parece uma contradição, mas a realidade não é. Na verdade, só o coração que não se deixa sequestrar pela pressa é capaz de se comover, isto é, de não se deixar levar por si mesmo e pelas coisas que tem que fazer, e de se dar conta dos outros, das suas feridas, dos seus precisa. A compaixão nasce da contemplação. Se aprendermos a descansar verdadeiramente, nos tornaremos capazes de ter verdadeira compaixão; Se cultivarmos uma visão contemplativa, realizaremos nossas atividades sem a atitude voraz de quem quer possuir e consumir tudo; Se permanecermos em contato com o Senhor e não anestesiarmos o mais profundo do nosso ser, as coisas que temos que fazer não terão o poder de nos tirar o fôlego e nos devorar. Precisamos – ouça isto – precisamos de uma “ecologia do coração” composta de descanso, contemplação e compaixão”.
Peçamos ao Senhor que tenha a mesma visão para ver as necessidades das pessoas, as suas deficiências; temos o mesmo sentimento de compaixão, de que essa necessidade dói dentro de nós. E, como Jesus, deixe que esses sentimentos se traduzam em ações concretas, na renúncia ao próprio conforto para se dedicar a aliviar ou corrigir a situação de carência das pessoas.
PARA ORAÇÃO (RESSONÂNCIAS DO EVANGELHO EM ORAÇÃO):
Com os olhos no alto
Senhor e Mestre
Venho para orar cansado e com sede
Eu sei que você me vê com ternura
E peço sua compaixão
Eu trago as mãos vazias
Eu tenho tempo para te dar
E eu me rendo ao seu abraço em oração
Eu subo no seu barco com confiança
Você está a bordo e no comando
E então, finalmente, eu descanso
Na outra margem há tantos...
Eles também estendem as mãos
Ao pastor incansável de um só rebanho
Rogai ao Pai por nós
Envie o Espírito Santo a este mundo
Então vamos navegar por esses mares com os olhos voltados para o alto. Amém
[1] Cf. A. Weiser, Geremia Capitoli 1-25,14 (Paideia; Brescia 1987) 366-367.
[2] Cf. Fritzleo Lentzen-Deis, Comentario al evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 1998) 205.
[3] Marcos (Verbo Divino; Estella 2006) 243.
[4] Comentario al evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 1998) 206-207.
[5] Conferencia dictada en el Colegio Sacerdotal Argentino de Roma el 14 de febrero de 2007 (tr. G. Söding).