HOUVE UM HOMEM ENVIADO POR DEUS por, Leonard Ravenhill

HOUVE UM HOMEM ENVIADO POR DEUS

por, Leonard Ravenhill

Houve um Homem Enviado por Deus

Leonard Ravenhill

Os céus cerrados estavam abertos! Enfim, o lamento de séculos – “Oh! se fendesses

os céus” – fora ouvido e respondido de forma inusitada. Quatro longos séculos de noite

espiritual foram encerrados pela presença deslumbrante de um homem mais incandescente

do que o cometa Halley.

As pessoas que estiveram no Templo aquele dia e viram o sumo sacerdote em suas

vestes de glória e beleza teriam dificuldade para aceitar este sujeito excêntrico e barbado,

de austeridade crônica e palavras rudes, como um profeta enviado por Deus. Mas Jesus

disse a respeito desse homem incomum, imprevisível e radical: “Em verdade vos digo: entre

os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista” (Mt 11.11).

O segredo desse homem surpreendente é fácil de descobrir. Ele tinha um foco único na

glória de Deus, um propósito único de fazer a vontade de Deus e uma mensagem única para

anunciar e apresentar o Cristo, o ungido de Deus, como o Redentor do mundo.

Uma Mensagem de Justiça

A mensagem de João era justiça. Ele se sentia angustiado porque as leis de Deus

estavam sendo quebradas, seu sábado desonrado, sua casa desolada. Ele não estava

atacando um efeito, mas uma causa – o pecado. Ele dizia que o pecado destruiria os homens

como indivíduos, arruinaria comunidades e quebraria nações. Só a justiça poderia exaltar

uma nação ou um povo. João foi bem-sucedido, por qualquer parâmetro de avaliação, como

profeta. Socialmente, alcançou todas as classes, pois o povo estava farto de injustiça,

maldade e opressão. Como labaredas de fogo num prédio em chamas à meia-noite, este

profeta gerado no deserto atraía soldados, legiões estrangeiras, o povão e os publicanos. Ele

falava uma linguagem que não conheciam, porém compreendiam. Ele falava a verdade, algo

que fora perdido naquela época – e hoje também. “Já está posto o machado à raiz das

árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Mt

3.10). João não pregava nenhum “evangelho barato”. Ele não oferecia ao penitente

sorridente um “castelo no ar”, uma mansão celestial e uma coroa de glória, além de uma

entrada na Festa das Bodas do Cordeiro e um galardão permanente de autoridade sobre

cinco cidades, tudo em troca de um simples pedido de desculpas a Deus mais um ritual de

batismo. Hoje, se fala muito nos dons do Espírito, e realmente são maravilhosos quando

autênticos. No entanto, ouvimos pouco sobre o fruto do Espírito e menos ainda sobre

produzir “frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.8).

Muitos evangelistas modernos, geralmente sujeitos bem populares, ao oferecerem

perdão gratuito por ofensas graves contra um Deus santo e justo, prometem demais por um

preço muito baixo. Ao falar isso, alguns nos acusam de exigir obras para obter salvação.

Bem, se pregar arrependimento é exigir obras, acuse então João Batista, acuse Jesus (Lc

5.32), acuse Pedro pelo que pregou no dia de Pentecostes.

Pregação Ungida Pelo Espírito

Existem tantos tipos de pregação quanto tipos de pregadores. Há pregações que

edificam, mas não trazem convicção de pecado. Algumas apelam às emoções, outras ao

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intelecto. As pregações de Jesus, de João Batista e de Pedro atingiam a consciência e,

também, a vontade. Os três tinham uma coisa em comum: a unção do Espírito Santo.

Antes de começar seu ministério, Jesus foi ungido pelo Espírito Santo. “O Espírito do

Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar...” (Lc 4.18). Pedro foi cheio do

Espírito Santo e, em seguida, ergueu sua voz e pregou ao povo (At 2). Foi registrado a

respeito de João Batista algo que não foi dito de qualquer outro homem: “será cheio do

Espírito Santo, já do ventre materno” (Lc 1.15). Nosso evangelho atual e decadente, com sua

ênfase em felicidade, teria chocado João Batista.

Tentamos induzir felicidade num coração enfermo pelo pecado. Oferecemos

curativos a pacientes que precisam de uma cirurgia espiritual radical para extrair o câncer

de carnalidade do coração. Pregamos para trazer paz ao coração. João Batista pregava para

produzir pânico! O profeta inabalável abalava todos os outros. Visualize este quadro: João

Batista, ungido pelo Espírito, preparando o caminho do Senhor, abrasava todos os corações

enquanto pregava uma palavra viva e poderosa, mais afiada do que qualquer espada de dois

gumes.

Soldados pagãos ouviam e descobriam que suas couraças de armadura reluzente

não conseguiam impedir as flechas, com pontas de fogo do juízo de Deus, de penetrar no

coração. Clamavam, aflitos, “o que faremos?” (Lc 3.14).

Depois de ver sua linhagem sanguínea de Abraão proclamada inválida para

proporcionar-lhe misericórdia ou perdão, o povo clamou a João Batista: “o que faremos?”

(Lc 3.10). Os ambiciosos e inescrupulosos publicanos também murcharam sob os ataques do

pregador, e clamaram junto com os demais: “o que faremos?” (Lc 3.12).

Lágrimas e Dores de Parto

Os homens que pregam nas nossas campanhas são evangelistas, não avivalistas. Um

avivamento abalaria toda a situação vigente. Assim como é impossível um terremoto passar

sem causar destruição, um genuíno avivamento, gerado pelo Espírito, não vem sem causar

profundo transtorno moral e espiritual na Igreja e no mundo.

Com todo o nosso conhecimento e os avanços tecnológicos na agricultura, ainda não

conseguimos colher uvas de espinheiros, nem figos de abrolhos. Tampouco podemos

receber avivamentos do Espírito Santo em transmissões da televisão ou pela organização de

cruzadas. Bebês só nascem depois de dores de parto (Is 66.8). Avivamentos são gerados por

gigantes espirituais, não por gente boa de lábia nem por ministros atrás de vantagens

materiais. Deixemos que a História nos ensine algumas lições.

Quando uma senhora disse a George Whitefield: “Senhor, tenho ouvido cinco

pregações suas em três dias e, cada vez, fui banhada com suas lágrimas”, ela estava

revelando que o grande ganhador de almas havia chorado, ele mesmo, em favor dos

perdidos no seu recanto secreto.

Lembre-se, por favor: naquela época, sem a facilidade de transportes públicos, a

única maneira de chegar a um local de reunião era a pé, ou de carruagem, que poucos

tinham condições de pagar, ou a cavalo. No entanto, quando a população da cidade de

Boston chegava a apenas 12 mil pessoas, 14 mil vinham todas as noites para ouvir

Whitefield. Não havia estradas asfaltadas, restaurantes, hotéis, ônibus ou trens. Tamanho

era o magnetismo de um homem cheio do Espírito que multidões vinham para ouvi-lo e

eram tocadas por Deus.

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Um pregador simples, porém incomum, chamado John Smith veio logo depois de

John Wesley. Ele dizia: “Estou buscando batismos mais profundos do Espírito Santo. Se nós

sempre nos enchêssemos do Espírito antes de chegar à casa de Deus, veríamos muitos sinais

e maravilhas”. Lágrimas em favor dos perdidos eram o exercício diário desses avivalistas. O

poderoso Jeremias disse: “Mas, se isto não ouvirdes, a minha alma chorará em segredo, por

causa da vossa soberba; chorarão os meus olhos amargamente, e se desfarão em lágrimas”

(Jr 13.17). O Príncipe de todos os pregadores chorou sobre Jerusalém (Lc 19.41). Arthur

Fawcett disse: “O profeta é a manifestação da atividade de Deus”. A História comprova essa

opinião.

Uma experiência com Deus que não custa nada não tem valor algum e não produz

resultado algum. Estou convencido de que a razão por que não temos avivamentos que

abalam o mundo, como antigamente, é que estamos satisfeitos sem eles! Ao examinarmos

as histórias dos santos do passado, vemos que campanhas evangelísticas podem ser

iniciadas e encerradas de acordo com os caprichos dos homens, enquanto avivamentos só

virão com enorme custo de lágrimas, dores de parto e a misericórdia de um Deus soberano.

Estou certo de que somos ineficazes quando pregamos para os homens porque

somos impotentes em suplicar em oração diante de Deus.

Conte-me, com todo o entusiasmo, sobre a pregação de Finney, como ela abalava os

ouvintes e transtornava o coração de todos. A minha resposta é: “Sim, mas lembre que

Nash e Clary o sustentavam em oração, vinte e quatro horas por dia, como Arão e Hur

seguravam as mãos de Moisés”. Enquanto Finney suplicava aos homens em público, Nash e

Clary suplicavam diante do Senhor em secreto. Resultado: avivamento!

Deus Tinha Seus Profetas

Que nenhum cristão deixe o coração ficar abalado por verem o inimigo entrando

como inundação e por não ouvirem ainda a voz do profeta na Terra. Deus esconde os seus

homens. Eles aparecerão sem etiqueta de preço, sem nada para vender, nada para divulgar

a não ser a mensagem de Deus, nada para organizar, nada para promover a não ser

“santidade ao Senhor”.

João Batista veio numa hora crítica na história de Israel. As almas sedentas iam atrás

dele no calor do deserto. Lembremos outra vez das palavras chocantes e pungentes do

Professor Harold Kuhn do Seminário Asbury: “O Cristianismo não foi servido ao mundo

numa travessa de prata; nasceu num mundo sofisticado dominado por um poder

totalitário”.

A Inglaterra, espiritualmente morta sob os ensinamentos do deísmo e contaminada

em larga escala com a corrupção política, não ofereceu um ambiente muito propício ou

receptivo para o estudante de Oxford, John Wesley. Injustiça, cobrança desigual de

impostos, vícios e alcoolismo eram comuns. A essa nação corrupta na política, congelada na

igreja, nos púlpitos e nos bancos, Wesley trouxe a tocha da pregação ungida pelo Espírito, e

a nação se derreteu diante dele.

Os lideres e promulgadores de doutrinas falsas, com amplos fundos para espalhar

suas falsas doutrinas por todo o mundo, representam maiores desafios hoje do que aqueles

que foram enfrentados por Wesley ou Finney – porém não acima da capacidade de Deus. A

mensagem evangelística atual oferece aos homens uma mudança de destino – mas a

regeneração bíblica oferece uma nova personalidade, gerada pelo Espírito, e, só depois, um

novo destino.

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Avivamento é obra divina e é maravilhoso aos nossos olhos. Avivalistas com lágrimas

nos olhos e corações partidos geram pecadores com lágrimas nos olhos e corações

quebrantados, aos pés de um Deus santo. “Avivamento genuíno”, dizia o amado Dr. Tozer,

“muda o clima moral de uma comunidade”. Homens como João Batista gravaram seus

nomes em letras de fogo na história do mundo.

Outra vez, repito: o custo de chegar perto do coração de Deus, de ouvir a voz de

Deus e fazer a vontade de Deus não é pequeno. Deus não pode ser apressado. A região

isolada do deserto, solitário, sem recursos, atrativos ou vozes, é o lugar onde a sarça arde,

onde a voz de Deus é ouvida, onde a visão é transmitida, onde o casamento com a vontade

divina acontece.

Da escola de oração, do lugar no deserto, homens incendiados na fornalha da

revelação e que ambicionam somente a força para fazer a perfeita vontade de Deus surgirão

para abalar nações e libertar o povo. A escola de profetas nunca é muito concorrida. Não

existe nenhum currículo predeterminado. Deus molda o homem de acordo com o momento

na história. Um fator simples fica evidente em todos: são homens solitários, homens

recolhidos, homens apaixonados, homens poderosos, homens perseguidos. Sabem que

precisam sangrar para poder abençoar.

Senhor, Envia-nos Avivalistas!

Atualmente, as nações do Ocidente estão quebradas, quebradas financeira, moral e

espiritualmente. Se tivéssemos a metade da espiritualidade que achamos que temos,

iríamos à casa de Deus em pano de saco com um punhado de cinzas para ungir nossas

cabeças indignas. Porém, preferimos brincar de igreja. Ainda temos prazer em pregações

rasas e oferecemos orações mais rasas ainda. Nosso pano de saco e cinzas seriam menos

notáveis do que quando Isaías andou despido e descalço (como escravo) por três anos como

sinal.

Jeremias lamentou o pecado do povo. Sua recriminação da iniquidade deles lhe

custou um tempo na prisão, no tronco e no fundo de um poço de lama. Mas ele sabia que

não valia a pena dizer “paz, paz”, quando não haveria paz. Só ele sabia como seria o

iminente juízo de Deus sobre a nação. Precisou permanecer sozinho por causa da ira de

Deus (Jr 15.17).

Que Deus nos dê homens que esperem no Senhor, que ouçam sua voz, que recebam

um batismo de poder do alto e a autoridade de entregar a mensagem divina a uma igreja

doente e um mundo moribundo.

Temos batalhado na carne por tempo demais. Temos interpretado o sucesso em

termos de ganho material – prédios maiores para nossas igrejas, multidões maiores para

nos ouvir, ofertas maiores como provas do favor divino. Há muito, temos pregadores fracos

– que Deus nos dê gigantes! Tivemos muitos promotores de vendas; que o Senhor nos dê

avivalistas. Temos feito o evangelismo com centenas de truques: que Deus nos dê, nesta

hora escura da História humana, alguns João Batistas para arder e brilhar, alguns homens

como Knox que digam: “Dá-me Escócia, ou Inglaterra, ou Brasil, senão eu morro!”

Leonard Ravenhill (1907-1994) foi um escritor e evangelista britânico que focalizava

em assuntos como oração e avivamento. É mais conhecido por desafiar a igreja moderna e

seu mais notável livro é "Por que Tarda o Pleno Avivamento?"