Pr. Marcos retoma a palavra dizendo que iria libertar muita gente da bebida e expulsar os demônios que estivessem ali. Disse ser um pastor “super consagrado” (sic), que não estava ali pra brincadeira, tanto que sua Bíblia não era de cor preta, mas azul, pois preto era do diabo e que quem é de Deus não usa nem preto e nem vermelho, pois são cores que expressam louvor ao demônio… – Ops! Quem estava de camisa vermelha, bermudão preto e Bíblia cor vinho? Eu! Nesse momento uns três obreiros me lançam um olhar ameaçador, e eu pensei: vai sobrar para mim.

Pastor Marcos diz que o modelo de homem de Deus era ele mesmo; Sempre de terno ou de roupa social, nunca de preto ou vermelho. Nada de ler jornal, assistir televisão, internet, perfume ou barba. Presente em todos os cultos. O segredo do sucesso de seu ministério é que ele não era um pastor igual aos outros. E que as mulheres da ADUD, são cheias de poder, por que não cortam os cabelos e não usam adornos, exceto aliança para as casadas e nem “roupas do mundo”, mas os roupões “revelados” pelo Espírito Santo (E esta foi a primeira menção no culto a uma das pessoas da Trindade).

A partir daí, temos três atrações musicais: Nívea Silva, Elaine Martins e o ex-pagodeiro Waguinho – futuro senador da república.

Após uma hora de música, o Pastor Marcos anuncia o momento mais importante do evento. Seria a pregação da Palavra de Deus? Negativo! Começa o desencapetamento!

E toma: “sai capeta”, “manifesta pomba gira dos infernos”, “demônio cheirador de cocaina aparece para enfrentar o homem de Deus”, entre outras. Histeria coletiva. Pessoas caindo no chão e sendo levadas ao palanque para serem “libertadas” pelo Pastor Marcos.A esta altura, sobra pra mim. Dois obreiros se aproximam e perguntam se podem orar. Eu concordo. E vai: – “Deus, liberte esse jovem do exu tranca-rua, esse homem esta cheio de capeta meu Deus, tira esse demônio que faz esse jovem usar as cores do inferno, manisfesta exu tranca-rua, cai no chão porque o homem de Deus está mandaaaandoooo!” Forçam minha cabeça tentando me fazer cair no chão e eu na minha. Continuam berrando no meu ouvido – “Sai capeta, o teu dia chegou, tu vai sair da vida desse jovem e vai levar essa Bíblia vermelha de abominação, tu pensou que iria enganar o homem de Deus vindo com essa Bíblia com cor do inferno, mas eu sei que você tá ai capeta, saiiiii…saiiiiiiiii!”

Depois de uns três minutos, cessa a oração e o obreiro me pergunta se eu senti algum arrepio, sinal de mal-estar. Respondo que estou bem! O obreiro diz que eu tenho que freqüentar umas reuniões de libertação para expulsar o tranca-rua da minha vida, e que eu tinha que jogar a minha Bíblia fora, por causa da cor da capa (vinho) porque era uma cor que o diabo usa e gosta e que essa cor era de louvor ao mal, etc. Vejam só o absurdo: A Bíblia louvando ao diabo!

Mas tem mais! No palanque, muitas pessoas manifestadas por espíritos demoníacos ( segundo o pastor). A mim parecia mais um surto psicótico coletivo. E toma entrevista com exu; paletó derrubando; sopro ungido e mais demônio. Parecia até que um trem vindo direto do inferno tinha parado atrás do palanque, pois tinha mais exu alí do que em centro de umbanda em dia de festa! Muitos “endemoniados” lançados ao chão e berros do público! Era “deus” arrebentando com o diabo em Jacarepaguá!

Seguem-se duas cenas famosas: uma menina aparentando uns 13 anos de idade é colocada na beira do palco (de frente pra o pastor e de costas para a platéia). Paletó e um berro e não deu outra… a garota cai nos braços dos obreiros engravatados no chão a mais de três metros abaixo do palanque. Aquele susto! A segunda cena é o famoso Pastor Sonic (vídeo). Delírio coletivo.

Agora são as mulheres. As irmãs vestidas com os roupões “revelados” pelo Espírito Santo, vão a platéia expulsar as pombas-giras e marias-mulambos presentes no evento. Berros e uivos com os nomes de todos os exus existentes. Sobra pra mim de novo! Tentam de todo o jeito me lançar no chão, mas não conseguem. Depois de uns 5 minutos de tentativa de exorcismo, eles cessam a oração, dizem que Deus tem uma obra na vida, que eu tinha que me converter e me vestir como homem de Deus.

O evento termina com música e uma oração final.

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Cláudio é editor do blog Peregrino do Evangelho e ainda está traumatizado com o “tranca rua”

Via Genizah