vale a pena fazer mestrado engenharia química?
Gustavo Barcelos, Mar 26, 2021
Gustavo Barcelos, Mar 26, 2021
Quando recebi o convite do SemprEQ para escrever sobre minhas experiências na pós-graduação em Engenharia Química da UFMG, concluí que a maior contribuição que eu poderia trazer aos leitores do blog seria passar a visão de um aluno do programa em 2021 sobre o quanto o mestrado de fato agrega à formação dos discentes.
Eu sou suspeito para falar sobre a escolha de ingressar em um programa de mestrado porque sou apaixonado por ciência, pesquisa e desenvolvimento, assim como por tudo que dialoga com esse universo, desde o primeiro contato que tive com a área. Além disso, frequento a UFMG e tenho contato com mestres e doutores desde os 11 anos, quando comecei minha primeira iniciação científica, e diariamente desde os 14 anos, quando fui aprovado no Colégio Técnico em primeiro lugar geral entre os alunos oriundos de escolas públicas.
Basta olhar para as atividades extracurriculares que participei antes do ingresso na pós-graduação para perceber que minhas escolhas, desde a época do ensino fundamental, foram sempre nesse caminho: dezenas de competições estudantis, sendo medalhista em algumas de Matemática e Química, curso técnico em Química, mais de 4 anos de atividades de iniciação científica em Matemática e Engenharia Química, estágio em Engenharia Química no centro de pesquisa e desenvolvimento de multinacional brasileira, etc..
Por essas características, a escolha da graduação em Engenharia Química, que entre outras coisas aplica várias ciências como Matemática, Física e Química, e a decisão de ingresso no mestrado ocorreram de forma bastante natural. Inclusive concluí meu curso de graduação em 4 anos e 6 meses, um semestre antes do tempo normal, para iniciar mais cedo a pós-graduação.
Os cursos de mestrado (stricto sensu) realizados no Brasil são uma etapa da formação acadêmica que culmina na carreira como docente. Embora muitas pessoas digam que não, provavelmente porque isso melhora a aceitação dos mestres em outras áreas do mercado e aumenta o interesse das pessoas em obter o título, o foco da maioria dos programas, os critérios de avaliação e várias outras características estruturais são centrados na formação de professores universitários.
Isso não significa que outros profissionais não devam cursar um mestrado. A pós-graduação desenvolve uma série de características desejáveis em muitas áreas. O que eu disse é que esse não é o foco e as pessoas precisam saber disso antes de dedicarem meses de preparação para um processo seletivo!
São justamente essas características adquiridas pelos mestres e úteis para qualquer pessoa que eu quero destacar neste texto, para ajudar você que está em dúvida se cursa ou não o mestrado a tomar sua decisão (destacarei as competências gerais porque acredito que os entusiastas da ciência, como eu, ou as pessoas que já decidiram seguir carreira nas universidades não tenham dúvidas em relação à importância da pós-graduação para suas trajetórias).
Em qualquer bom curso de mestrado, os alunos têm a oportunidade de desenvolver uma série de habilidades universais que abrangem a racionalidade, a curiosidade e a aplicação de métodos para produção de conhecimentos novos que sejam considerados verdadeiros, únicos, puros, absolutos, livres de ideologias e opiniões. Os discentes também aprimoram suas capacidades descritivas, de síntese e, possivelmente, preditivas através, por exemplo, da realização de experimentos que possam ser representados matematicamente. Os Mestres sabem obter explicações e entendimentos. Entretanto, nem todos os egressos dos programas de pós-graduação precisam se comprometer, ou mesmo saber produzir tecnologia, bem como desenvolver projetos com restrições de recursos e prazos. Esse é o papel dos mestres em engenharia!
Em qualquer bom curso de mestrado em engenharia, os alunos têm a oportunidade de desenvolver uma série de habilidades contextuais que abrangem a percepção e resolução de problemas, a implementação de mudanças, a aplicação de conhecimentos, entre eles os científicos, assim como a lida com níveis maiores de imprecisão, desconhecimento e descontrole típicos de situações práticas. Mestres em engenharia sabem atender demandas e indicar soluções técnicas satisfatórias, viáveis, de baixo custo e com altas taxas de sucesso.
Para muitos engenheiros, o mestrado é a primeira oportunidade de usar sua bagagem de conhecimentos teóricos em um projeto real. E é na realização de sua pesquisa que, na maioria das vezes, o aluno se percebe como engenheiro, não como estudante, e começa a desenvolver a sua forma particular de fazer engenharia. Essa exposição é de extrema importância e quanto mais o indivíduo toma para si as responsabilidades do trabalho e se permite ser um engenheiro praticante, maiores são as experiências adquiridas e melhor profissional ele se torna.
E o mestrado em Engenharia Química? O mestrado em Engenharia Química possui áreas de pesquisa muito distintas entre si, cada uma com suas especificidades, e aqui no blog do SemprEQ você encontra uma série de depoimentos de pessoas que atuaram nos diferentes nichos.
Eu trabalho com membranas de grafeno. O grafeno é um material com características extraordinárias que será capaz de revolucionar o mercado de membranas caso atinja todo seu potencial. Há simulações computacionais que preveem, por exemplo, que membranas de grafeno aplicadas à dessalinização da água do mar podem atingir permeabilidades e rejeições salinas (duas das propriedades mais importantes das membranas de osmose inversa) três ordens de magnitude maiores que as membranas poliméricas comerciais.
Em um mundo onde quatro bilhões de pessoas já vivem em condições de carência de água severa pelo menos um mês por ano, o desenvolvimento dessa tecnologia seria não menos que incrível!
Para construção dessas membranas, o grafeno precisa ser suportado por algum polímero e minha pesquisa consiste em aplicar um modelo termodinâmico para prever quais as condições ideais de síntese por inversão de fase de polímeros, de modo que eles tenham o tipo ideal de porosidade requerido pelas membranas de grafeno.
Agora voltando à pergunta que intitula este texto, vale a pena fazer mestrado em Engenharia Química?
Vale a pena desde que você ame ciência ou queira seguir carreira acadêmica ou precise desenvolver alguma das habilidades universais e contextuais descritas acima ou queira praticar engenharia!
Gostou deste texto? No meu perfil do LinkedIn – www.linkedin.com/in/gustavofjbarcelos – eu frequentemente compartilho textos como este, além de conteúdos em diversos outros formatos (vídeos, charges, notícias, etc.) sobre a sociedade, o mercado de trabalho, a engenharia e principalmente a Engenharia Química. Todas as pessoas que queiram contribuir para o debate são muito bem-vindas na minha rede!
Gustavo Barcelos, mestrando em Engenharia Química. Marc 26, 2021
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