E você, atua na área?

Leonardo Fernandes, Mai 15, 2014

Encontrar engenheiros que atuam fora da sua área de formação acadêmica deixou de ser exceção. Hoje em dia, há diversos casos em que esses profissionais tornam-se bem-sucedidos no setor de finanças e administração de empresas. Nosso egresso Leonardo Fernandes aborda de forma inteligente o assunto e conta como o curso de Engenharia Química o ajudou a fazer sua escolha de carreira, confira:

“E você atua na área?"… e logo depois da resposta sempre vem um "Mas então você formou em Engenharia Química e não atua na área?"

Conto sempre que a trajetória do que faço hoje começou no meu primeiro período, quando um veterano resumiu para mim como seria a minha vida nos cinco anos da faculdade: "você acabou de passar no vestibular, vai fazer o curso, uma iniciação científica, depois um estágio, formar e conseguir um emprego". Desculpe-me quem seguiu este conselho de um veterano qualquer, mas parece-me hoje pouco (e um pouco entediante também). Ser mais velho, seja no curso ou na vida, pode até significar ter mais conhecimento, mas não necessariamente ter mais consciência.

Mas segui o conselho do veterano e logo comecei uma iniciação científica. E eu atuava na área: fazia análises em um laboratório e visitas à indústria parceira do projeto. O resultado: gostei mais das pessoas e do que elas me ensinavam do que do trabalho em si. Indicaram-me, então, outra experiência que foi decisiva na minha vida: a empresa júnior. Só para acrescentar: não é uma propaganda; cabe a cada um encontrar aquela atividade que se envolverá integralmente, sem medo e que, acima de tudo, você sente que tem um grande significado para você. No meu caso foi a empresa júnior. Se você não encontrou a sua atividade ainda, um conselho (melhor que aquele que recebi de um veterano): vai logo encontrá-la.

Marketing, estratégia, processos, projetos e pessoas. Nota fiscal, estatuto, contratos e fluxo de caixa. Feedback, feedback e feedback. É… não atuei tanto assim na área durante a empresa júnior, mas ela me apresentou o mundo que hoje trabalho e vivo: jovens com grande potencial de transformação. Ela me fez conhecer todos os prédios da UFMG e ter amigos em cada um deles; sim, estourem a bolhinha de conhecer e interagir só com alunos da Engenharia Química, é importante para você isso. Ela me fez ter uma rede de contatos de pessoas de outras cidades e estados que admiro e carrego até hoje. Ela me fez ser Conselheiro da UFMG; estar sentado ao lado do Reitor, pró-reitores e professores discutindo os rumos da Universidade quanto a ensino, pesquisa e extensão não estava naqueles planos do meu veterano. Pude, por ela, conseguir o estágio na empresa que sempre sonhei. Lá trabalhei com planejamento, mas também na área de Processo; atuei na área, enfim!

Resumo da história: atualmente empreendo, juntamente com outras quatro pessoas inspiradoras, a Empower, uma empresa na área de educação. Até o final deste semestre, já teremos feito quase 500 alunos de Engenharia tirarem a bunda da cadeira e irem resolver um desafio real de uma organização. Sou ministrante na UFMG da disciplina de Empreendedorismo, Gestão e Inovação, com a colaboração de outras três pessoas inspiradoras, e após esta segunda edição 100 alunos já terão formado nessa disciplina.

Não, não atuo na área. Isso se você adotar como critério para decidir se um engenheiro químico atua na área ter que fazer balanços de massa e energia diariamente e otimizar pelo menos um equipamento semanalmente. Mas sim; atuo na área para a qual a faculdade me formou, para a área que a Engenharia Química me formou. Trabalhamos tanto com indústria e processos de produção que talvez nos imaginamos como um produto de um processo industrial. Todos os engenheiros que passam por esse processo, que possuem como padronização “iniciação científica-estágio-formar-emprego”, serão encaixados no mesmo lugar para a mesma função; e o pior, para sempre.

Confesso que a pergunta com que abri este texto me assustava um pouco. Se a resposta for negativa, talvez te julguem como se os cinco anos de graduação não valessem para nada. Esse é o nosso modo padrão e automático de pensar. Pensar diferente e ver que há outras opções é uma questão de escolha. Fazer a escolha do profissional que queremos ser, no meu caso, do engenheiro químico que eu queria ser, é tão essencial e real que nosso modo padrão torna oculta essa escolha à nossa consciência e seguimos aquela linha de produção já projetada.

"E você, atua na área?" Talvez a liberdade dessa nossa escolha reside em entender que uma profissão se adequa à nossa vida, e não nossa vida deve se adequar a uma profissão "Sim! Atuo na área de educação e minha empresa tem como missão dar poder às pessoas para escreverem as suas histórias com as próprias mãos".


Leonardo Fernandes, graduado em 2012

Quer saber mais sobre a história de alunos da EQ? Confira o texto do Eduardo Gomes!

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