O que aprendi com a EQ?
Ana Flávia Marques Martins, Dez 30, 2015
Ana Flávia Marques Martins, Dez 30, 2015
Para aqueles que não sabem, boa parte da turma da Engenharia Química do primeiro semestre de 2010, da qual faço parte, cola grau agora em fevereiro de 2016. Sim, seis anos de curso, obrigada CsF. E fui convidada para escrever como me sinto ao final de 2015, me formando oficialmente.
Meu primeiro pensamento foi de que é um pouco decepcionante. Sou do tipo de pessoa que vê muitos filmes e lê muitos livros e tinha aquela ideia de uma última sexta feira de aula com todos os colegas, no sábado jogamos nossos capelos para o alto, pegamos nossos diplomas, temos um baile e na segunda vamos cada um para seu respectivo emprego. Doce ilusão. A vida real é muito mais lenta.
Começando pelo fato de que os eventos de formatura aconteceram com seis meses de antecedência para o pessoal do Ciência sem Fronteiras. Quando não é com um ano. Durante o semestre, devido a seus respectivos estágios e entrevistas de emprego, a média de pessoas na turma era de sete pessoas. No último dia de aula até tinha bastante gente porque era prova, mas todos terminaram e tiveram que sair correndo. A inscrição na colação de grau foi quase duas semanas depois. A colação propriamente dita só daí a dois meses. O diploma só Deus sabe quando chega. E em tempos de crise que estamos, a maioria nem emprego tem.
Na verdade, 2015 foi uma péssima escolha de ano para se formar. Ok, não foi exatamente escolhido, mas aqui estamos de qualquer forma. Sei que houve tempos piores, mas desde que acompanho alguma coisa de política e economia, nunca vi crise maior. Ainda me lembro da turma que formou logo depois que começamos o curso, quando praticamente todos os alunos saíram contratados e agora temos o exato oposto. Os trainees abrem, mas com uma ou duas vagas, os estagiários são dispensados e os processos seletivos me fazem lembrar com saudade da concorrência de apenas 27 candidatos por vaga do vestibular.
Mas aí eu penso melhor e acho que eu não deveria focar no evento em si, mas no acontecimento que representa a formatura, se é que vocês me entendem. O evento é essa formalidade desanimadora, mas o acontecimento é muito maior. É um processo que começou no bom e velho primeiro semestre de 2010 e acaba agora, com resultados aparecendo por todo o caminho.
De cara levamos o aprendizado de que Engenheiro da UFMG tem que se virar sozinho. Vai ter que estudar em casa mesmo, vai tirar nota ruim mesmo, vai ter que estudar mais ainda mesmo e ainda entregar um trabalho de 50 páginas no final. Vai faltar equipamento no laboratório, não importa se é aula ou IC e vai ter dias que a burocracia da faculdade vai te fazer querer arrancar os cabelos. Pode parecer ruim, mas não é. Porque agora que acabou, a impressão que tenho é de que podemos fazer qualquer coisa que nos dispusermos a aprender.
Aí depois você aprende que não tem que se virar tão sozinho assim. Na turma sempre tem um que sabe mexer na HP, um que pode ensinar Programação, um que lembra tudo de Orgânica, um que acha que de integrar para somar nem tem diferença, um disposto a ensinar truco e um que tá ali só para te fazer rir mesmo. E quando juntamos todos eles é que formamos não só os profissionais, mas as pessoas que somos agora. É o melhor de tudo o que levamos.
E então vêm as oportunidades. Uma vez que você aprendeu como navegar nas águas turbulentas da Universidade Federal, você percebe que tem muito mais para se aproveitar do que parece. Para quem quer ser pesquisador, temos Iniciação Científica, para quem quer ser consultor, empresa júnior, para quem quer trabalhar na indústria, estágio (Ok, talvez nem sempre esse), para quem quer ser professor, voluntariado em cursinho, para quem quer experiência internacional, intercâmbio, para quem quer ser um líder político, Grêmio… E por aí vai. As possibilidades são infinitas e por isso que cada pessoa que sai deste curso, sai de um jeito.
2015 foi um ano de crise, sim, mas também foi o ano da nossa festa de formatura, foi o ano em que a ideia de nos separar fez com que nossa turma se aproximasse, foi quando alguns de nós tivemos nossa carteira assinada pela primeira vez, foi um ano de mudanças e de preparação para elas. Depois de um semestre que poderia ser resumido em dinâmicas de grupo infinitas e preparação coletiva para elas, conhecemos melhor uns aos outros e a nós mesmos. Foi sofrido, mas aprendemos muito sobre persistência e companheirismo, então talvez um ano ruim seja tão bom para se formar quanto qualquer outro, só que de um jeito diferente.
Eu posso não ter nas mãos a única coisa que pensava ter quando comecei isso tudo, que era o meu diploma, mas saio da Universidade com muito mais coisas do que jamais imaginei. Levo conhecimento teórico, claro, amigos para a vida toda, colegas e professores inspiradores, um tantinho de cada área na qual um engenheiro químico pode atuar (E não são poucas), lembranças doces e amargas, um campus que se tornou uma espécie estranha de lar. No fim, acho que a intenção da Universidade era essa desde o começo. Mais do que uma fonte de conhecimento, ser nossa primeira fonte de experiência.
Ana Flávia Marques Martins, graduada em 2016. Dez 30, 2015
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