A coragem de experimentar e
recalcular a rota
Jéssica de Sá, Set 02, 2022
Jéssica de Sá, Set 02, 2022
Há 11 anos, no Norte de Minas Gerais, a Jéssica de 17 anos decidiu que queria fazer Engenharia Química. A escolha, vendo com o olhar de hoje, foi bem nebulosa isso porque não sinto que foi uma escolha pautada verdadeiramente nos meus gostos e aptidões. Hoje vejo que somos culturalmente submetidos a fazer uma escolha que, muitas vezes, vai determinar o resto das nossas vidas cedo demais.
Naquela época, fazia um curso de técnico em informática concomitante com o ensino médio e até aí eu estava convicta que seguiria essa área de atuação. Mas no último ano eu conheci uma professora muito inspiradora que era formada em engenharia química e me contava maravilhada sobre o curso, com “brilho nos olhos”. Acredito que eu queria aquele brilho e acabei ligando a minha facilidade com disciplinas exatas a esse desejo. E foi assim a minha decisão.
Entrei na UFMG 2014, lembro como se tivesse acontecido ontem a sensação de receber a notícia que uma das vagas seria minha. Um misto de alívio e medo de não conseguir concluir bem a próxima etapa. Spoiler: deu tudo certo, mas quase não deu várias vezes.
Assim que comecei no curso, coloquei na minha cabeça que experimentaria tudo que eu pudesse e quisesse experimentar. Já no primeiro ano, entrei na Mult Jr. como assessora de RH, o que foi algo que me tirou totalmente da minha zona de conforto e era o que eu queria. Foi 1 ano de muito aprendizado, me conheci muito e conheci pessoas que levo com muito carinho. A experiência na Mult me ensinou lições que refletem até hoje em minha vida profissional. Fiquei na Mult por 1 ano e foi determinante para que eu entendesse que a área de negócios combinava mais comigo, mas eu sentia que precisava testar outras coisas.
Foi assim que em 2016 eu entrei para a iniciação científica no departamento de química. Trabalhei no laboratório junto ao professor Dr. Rubén Dário com uma pesquisa relacionada à Nanofibras onde o objetivo central era a preparação de uma nanofibra utilizando o amido de mandioca como matriz polimérica natural que seria utilizada para a remoção de metais e dejetos de águas residuais. Essa foi uma experiência muito diferente de tudo aquilo que já havia feito. É muito diferente de estar em aula em um laboratório onde temos um caminho para seguir e os resultados são controlados, na pesquisa é justamente esse caminho que procuramos é aí que está o desafio. Tive que me adequar diversas vezes para trabalhar com as ferramentas que tinha acesso, mudei diversas vezes composições e vias de obtenção da solução base, falhei inúmeras vezes. Mas entendi que na pesquisa, assim como na vida, falhar é importante e faz parte do processo até porque são nesses momentos que mais aprendemos. No final das contas é sobre como você contorna a situação.
Após quase 2 anos na IC, resolvi que era o momento de focar um pouco mais no curso (lembra quando contei que quase deu errado várias vezes? pois é.). Precisei frear, desacelerar. Somos muito ensinados que precisamos fazer tudo ao mesmo tempo o tempo todo desde pequenos, e isso nem sempre dá certo.
Depois do fôlego tomado, comecei a me preparar para iniciar a busca pelo estágio. Momento mais esperado por todos e que nem sempre é tão fácil. Eu recebi muitos “Nãos” e provavelmente você também irá receber alguns. Não se sinta mal, é o processo (infelizmente, ou não). Essa etapa foi a mais decepcionante e não por causa dos “Nãos” recebidos e sim porque me media constantemente com a régua do outro. Mas em um momento a sua oportunidade chega e a minha chegou na Sunew, uma empresa de produção de painéis fotovoltaicos orgânicos. A Sunew foi o divisor de águas para mim, lá eu pude trabalhar diretamente com a engenharia química e foi onde eu realmente percebi que não era meu lugar e decidi mudar o caminho.
Fui para a AMBEV, trabalhei no CDD de Contagem na área de Trade Marketing e Vendas também como estagiária. Era um trabalho que exigia bastante visão analítica dos dados e números. E foi lá que me deparei com uma paixão do passado, a carreira em TI. Passei a me interessar muito pelas tecnologias utilizadas na empresa (excel, Power BI na época) e fui avançando nos estudos e entrando ainda mais no mundo dos dados.
Após sair da Ambev, entrei na SoftwareOne, uma multinacional de tecnologia que tinha como parte central do negócio oferecer aos seus clientes soluções em tecnologia. E era meu papel como analista atuar junto ao vendedor e ao cliente para entender o problema e entregar a solução mais adequada. Talvez a engenharia química em si não tenha me ajudado tanto técnicamente aqui, mas vejo que sem ela não seria possível chegar onde cheguei e no fim das contas a base da EQ, assim como outras engenharias, é estudar os problemas e entregar as soluções viáveis e mais adequadas frente à realidade e isso era o que eu fazia no meu dia a dia.
Hoje, depois de muito me preparar e direcionar meus estudos para isso. Atuo como Analista de Dados para a Prodemge que é uma empresa de economia mista do Governo do Estado de Minas Gerais que presta serviços em tecnologia da informação para outros órgãos do estado. Hoje, a gerência em que trabalho atua diretamente com os órgãos de segurança pública do estado de MG. Ver o meu trabalho impactando diretamente na vida das pessoas em um âmbito tão delicado que é a segurança, é muito motivador e motivo de muito orgulho pessoal. Sinto que hoje tenho aquele “brilho nos olhos” que lá atrás vi na minha professora.
Se me perguntassem há uns anos atrás se me arrependi de ter feito Engenharia Química, provavelmente eu diria que sim. Nunca me encaixei verdadeiramente ali. Mas hoje vejo que todo esse caminho, que antes eu achava que seria linear, foi necessário para que eu me tornasse quem sou pessoalmente e profissionalmente. Foram muitos momentos ruins que eu achei que não passariam, mas passaram. Quase deu errado várias vezes, mas tem dado certo.
Se eu pudesse dar um conselho para quem está começando ou já está no processo é: experimente! Mas experimente por você, mesmo não se sentindo pronto. O caminho não é nada fácil, mas se encontrar supera qualquer um dos desafios vividos.
Jéssica de Sá, Set 02, 2022
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