engenharia de gestão?
Carlos Loyola, Fev 12, 2021
Carlos Loyola, Fev 12, 2021
Ao longo da graduação em Engenharia Química, é natural que cada pessoa busque encontrar aquela área ou vertente que lhe traz brilho nos olhos, que lhe traz um propósito profissional que faz tudo fazer sentido e que dá aquele tão sonhado gosto de realização. É curioso observar que, apesar de todos buscarem esse sentido, nem todos o encontram entre operações unitárias e balanços de massa e energia, o que traz desânimo ou até desilusão a alguns deles. Confesso que eu acredito que esse seria meu caso se não fossem as oportunidades e experiências que tive ao longo da minha graduação, se não fossem meus acertos e meus erros ao longo dos 5 anos em que a UFMG era meu destino primário.
Para mim, o brilho nos olhos começou cedo. Ainda no primeiro período do curso, ainda sem os cabelos por herança da tradição milenar de calouro, conheci um grupo de sonhadores que queriam iniciar a construção de algo que, apesar de não ser novo, havia dado errado nas últimas tentativas: uma empresa júnior de Engenharia Química na UFMG. Passei a fazer parte desse grupo já no segundo período e tive a honra de ser um entre os vários que assinaram os documentos que deram origem à Mult Jr, onde tive contato com outra face da engenharia, com o que há por trás das cortinas de toda empresa: pessoas. Dediquei 4 anos da minha graduação à Mult Jr e tive o prazer de presidi-la por 1 ano.
Desde então, trabalho com Gestão de Projetos e posso dizer que não me vejo fazendo outra coisa. Ao dizer isso, alguns podem questionar se faz sentido trocar o livro do Felder pelo PMBoK, ou os cálculos de reatores por metodologias ágeis, após investir 5 anos da vida no curso de Engenharia Química. A resposta, meus caros, é sim. Para aqueles que se encontram nisso, é claro. E, se esse á sua realidade, meu intuito aqui é mostrar que o conteúdo do curso pode lhe ser muito útil.
Primeiramente, precisamos pensar, quase de uma forma filosófica, sobre qual é a missão da engenharia, ao quê ela se propõe. A engenharia, independentemente de qual especialidade, é um conjunto de ferramentas pelo qual a humanidade transforma conhecimentos científicos em melhorias para a vida das pessoas. É isso que fazemos. Nesse sentido, é interessante notar que, ao menos para a realidade industrial, todas as engenharias giram em torno da Engenharia Química. Siderurgia, Mineração, Petroquímica, Gás Natural, qualquer ação industrial para produzir algo útil à humanidade está centrada no processo, centrada no conjunto de operações necessárias para obter o resultado desejado. É por isso que eu penso que o nome do curso não deveria ser Engenharia Química, mas Engenharia de Processos. É justamente por lidar com o esqueleto central de toda cadeia de produção que o engenheiro químico tem grande potencial para a Gestão de Projetos. O engenheiro químico tem mais facilidade em entender o papel das outras especialidades e enxergar como o papel de cada um pode ser melhorado e otimizado para um melhor resultado, bastando desenvolver algumas habilidades de caráter mais humano, como colaboração, liderança e comunicação.
Compreender o processo e as etapas de transformação por trás de cada atividade industrial, nos ajuda a entender as dificuldades e as dores de cada indústria e, com isso, encontrar soluções para tornar essas operações mais eficientes. O mercado valoriza muito essa capacidade em gestores. Por muitas vezes, meu trabalho consiste em entender as necessidades de um cliente, traduzi-las para um time e garantir a adesão ao que é necessário para resolução do problema. Outra coisa em que o curso ajuda bastante a quem quer seguir esse caminho provém da conhecida dificuldade do curso. As dificuldades que passamos ao longo do curso ajudam a desenvolver, ao menos na maioria de nós (mortais), a humildade necessária para reconhecer que muitos problemas demandam a ajuda de outras pessoas. Isso é crucial para alguém que se predispõe a assumir a liderança de projetos, um mundo complexo e que necessita de muitas cabeças e muitos braços trabalhando juntos. Os balanços de massa e energia também têm seu papel nesse paralelo. Da mesma forma que massa e energia não se criam do nada em sistemas fechados, o dinheiro também não se cria. Isso nos ajuda a entender que é necessário saber priorizar soluções que tragam melhor resultado, deixando a tratativa de outros problemas para um segundo momento. Essa é uma visão que, principalmente em um país com recursos limitados como o nosso, contribui para um melhor aproveitamento desses recursos e uma maior produtividade para nossa sociedade, no sentido econômico da coisa.
Para aqueles que têm interesse em seguir um caminho similar ao meu, deixo três dicas principais, baseadas em meus erros e acertos durante a graduação:
Em primeiro lugar, tenha em mente que a graduação em Engenharia Química vai muito além das matérias que você cursa ou cursará. Há toda uma biosfera ao redor da graduação com muito aprendizado a lhe oferecer. Grêmio Estudantil, Empresa Júnior, Estágio, Iniciações Científicas e, o mais importante, outras pessoas. Viva experiências diferentes e busque tirar proveito do que elas podem oferecer a você, seja na Engenharia Química, nas outras Engenharias, ou mesmo na FAFICH, por que não? Busque se conhecer e aprender o máximo possível com suas experiências, sua bagagem pessoal vai pesar muito mais que seus conhecimentos técnicos muitas vezes na sua carreira.
Em segundo lugar, entenda que notas são importantes para avaliar o quanto você absorveu de uma matéria, mas podem ser falhas nesse sentido também. Busque entender os conceitos e as práticas por trás de cada matéria do curso, importe-se mais com o conteúdo e menos com a nota que você receberá no final.
Em terceiro lugar, é claro que o curso abre portas e facilita a vida de quem deseja trilhar um caminho gerencial como eu disse, mas há também um mundo inteiro de conhecimento que a graduação em Engenharia Química não aborda, então estude, planeje-se para cursar pós-graduações nessa área, troque experiências, aperfeiçoe-se. Todo conhecimento é válido.
Por fim, desejo sucesso a todos que dedicaram alguns minutos para ler esse texto e espero que ajude àqueles que têm interesse de seguir passos parecidos aos meus. O mundo está cada vez mais complexo e as soluções para nossos problemas cada vez mais demandam profissionais capazes de simplificar essa loucura, enxergar padrões e construir pontes de forma organizada entre pessoas com diferentes conhecimentos para um objetivo em comum. Como engenheiros, químicos ou não, precisamos trabalhar somados, mais do que juntos, para assim construirmos um mundo com menos dificuldades e mais oportunidades para todos.
Carlos Loyola, formado em 2011/1. Fev 12, 2021
Gostou do texto do Carlos? Quer saber mais em que áreas o Engenheiro Químico pode atuar? Leia também o texto do Carlos Henrique sobre o mercado de trabalho.