UM PEIXE FORA D’ÁGUA QUE APRENDEU A NADAR
João Vítor Grossi, Out 29, 2021
João Vítor Grossi, Out 29, 2021
A história fictícia que eu poderia escrever, mas que acaba soando bonita é: não segui a área da Engenharia Química, mas o curso de graduação foi uma experiência excelente, gratificante e prazerosa, pois fui treinado para resolver problemas e isso pode ser transladado para outros contextos.
Talvez a parte de ser capaz de transladar habilidades de resolução de problemas para outras áreas tenha acontecido mesmo. Mas a verdade é que eu sentia que os momentos em salas de aula eram muito pouco gratificantes e prazerosos.
Nunca senti muita afinidade pelo curso de graduação de Engenharia Química. Muitas vezes eu o odiava. Percebi com o tempo que não me via atuando como engenheiro. Apesar disso, tive uma experiência de aprendizado muito rica. E acho que se você se sente mais ou menos como eu, você pode ter também :)
Isso aconteceu por dois motivos principais: ter feito amizade com pessoas incríveis e ter aproveitado oportunidades em atividades extracurriculares. No primeiro período, fiz o processo seletivo da Mult. Fiquei lá 2 anos e meio, tendo trabalhado com funções que variaram desde fazer cera em laboratório até planejamento estratégico. Também participei da Federação das Empresas Juniores do Estados de Minas Gerais (FEJEMG), atuando como se fosse um consultor em gestão de outras EJs. Claro, fiz muita bobagem. Felizmente, em ambientes controlados em que conseguia aprender com meus inúmeros erros sem haver consequências desastrosas.
Essa experiência despertou meu interesse pelas áreas de gestão e negócios. Como vi que tinham várias posições de estágio com esse escopo que aceitavam (e até valorizavam) graduandos em engenharia, comecei a aplicar pra tudo quanto é processo seletivo com essa pegada. Não passei em dezenas deles. Perdi a conta de quantos fiz. E nenhuma das duas últimas frases é uma hipérbole, caso você esteja se perguntando.
Fiquei 6 meses em um estágio de headhunter. A história que eu normalmente conto é que saí porque isso mais tangenciava a área de negócios do que atuava diretamente nela. O que está parcialmente correto. Mas a verdade nua e crua é que eu saí numa semana em que tive alguns episódios de ansiedade e não via como minha rotina ia melhorar sem uma medida mais drástica. Não tinha nenhum outro estágio em vista, não tinha feito requisição para aproveitá-lo como estágio obrigatório porque dei mole e ainda estava finalizando o oitavo período da faculdade, ou seja, a janela para estágios estava se fechando. Aí saí aplicando pra tudo mesmo (inclusive vagas de engenharia rsrsrs).
Felizmente e com ajuda da sorte, trabalhei no iebt, uma consultoria em gestão e inovação que fica no BH-Tec. Lá, atuei em projetos que envolveram criação de modelos de negócios para hubs de inovação, centros de tecnologia e ideias embrionárias de negócios. Novamente comecei a sentir a empolgação que tinha quando participava da Mult. Empolgação essa que está significativamente maior hoje, que atuo na área de produto da Jusbrasil e tenho um trabalho muito intelectualmente estimulante. A missão do time do qual faço parte (pricing) é entender qual é a percepção de valor dos usuários pelas funcionalidades que a Jusbrasil já desenvolveu e também pelas que pretende desenvolver. Inclusive outros amigos da EQ estão lá comigo, alguns deles no meu próprio time :) E isso me leva para o segundo ponto que tinha levantado antes: a importância de conviver com amigos incríveis.
Só de escutar a palavra *networking* meu estômago embrulha. Mas, com o tempo, eu entendi o que isso significa. Eu tinha uma visão meio distorcida da coisa, como se *networking* significasse ser “a pessoa da galera”, “a vida da festa” e conhecer gente nova todo dia. Isso adicionado de um viés utilitarista: “nunca se sabe quem vai te indicar depois.” Agora imagine isso vivido por uma pessoa que não é extrovertida e, em muitos contextos, é até bem tímida.
A questão é: minha visão estava errada. Não posso generalizar e falar que isso não funciona para ninguém, mas, no meu caso, não tinha nada a ver comigo. Em vez disso, com o meu jeito esquisito e bem intencionado, fui construindo relações com pessoas com quem eu me divertia e que tinham interesses compartilhados com os meus. Fui guiado por um interesse genuíno de conexão humana da forma que me deixava confortável (ou, pelo menos, não muito desconfortável). Tava nem aí pra como isso ia impactar na minha carreira. Mas, paradoxalmente, impactou muito positivamente. Gosto muito do clima de estar rodeado de pessoas legais e que me botam pra frente, que acontece não só na Jusbrasil, mas na minha vida como um todo.
E foi assim que, apesar de ter feito um curso de graduação que fez pouquíssimo sentido para mim, eu consegui aproveitar as oportunidades que apareceram para traçar um caminho rumo a uma carreira que me deixasse feliz. E, hoje, certamente, eu posso falar que encontrei :)
Para finalizar, eu gostaria de compartilhar o que considero ter sido meu maior erro enquanto estava na faculdade. Durante a graduação, fui uma pessoa bem obsessiva com trabalho. Eu imaginava que era o único jeito de conseguir “ser bem sucedido” (apesar de eu nem me identificar com as definições mais convencionais de sucesso). Olhando para trás, isso me fez curtir bem menos do que eu poderia esse período da minha vida. Hoje eu tenho um palpite de que as coisas não precisavam ser daquele jeito. Não me arrependo porque acho que estamos sempre fazendo as melhores escolhas dentro do nosso contexto e, nos momentos em que eu estava tomando decisões, aquilo não era aparente. Precisei apanhar um bocado até conseguir internalizar isso a ponto de virar princípio de tomada de decisão. Mas, se você por acaso se identificou comigo, acho válido pensar sobre isso e, se fizer sentido para você, não tenha medo de procurar aqueles que você ama para te ajudar :)
João Vítor Grossi, formado em Engenharia Química na UFMG em 2020. Out 29, 2021
Gostou de conhecer a jornada que permitiu ao João Vítor entender seu lugar no mercado de trabalho? Então, não dá para deixar de ler o texto da Camila Raposo e o percurso que ela traçou até a área de People Development!