Da engenharia à área de tecnologia, passando pela polícia
Mariana Canuto, Abr 02, 2021
Mariana Canuto, Abr 02, 2021
Por que Engenharia Química? Essa é uma pergunta danada e que até hoje eu não sei muito bem como responder e muito menos o sabia na época dos benditos processos de trainee.
Minha trajetória na Engenharia Química começou quando assisti a uma palestra do Professor Roberto, em 2006. Nessa época, eu fazia cursinho e tinha a intenção de prestar vestibular para o curso de Farmácia, mas acho que fiquei encantada com a quantidade de possibilidades que o curso de Engenharia Química possibilitava, desde a área acadêmica, indústria química, mineração, petrolífera, meio ambiente… um prato cheio para quem, sejamos sinceros, não sabia muito bem o que queria fazer pro resto da vida.
Entrei para a UFMG em agosto de 2007 e aproveitei muito a vida acadêmica. Participei de inúmeros congressos, como congressista e também como organizadora em 2011. Meu primeiro congresso foi antes mesmo do meu primeiro semestre, no COREEQ 2007, em que já conheci muita gente da EQ. Já estava fazendo um networking antes mesmo de saber o que era isso, e de uma forma muito divertida.
O que eu mais gostava da época de universitária era essa possibilidade de interagir com as pessoas, de diversos cursos e com cabeças diferentes. Como integrante da comissão de formatura, inclusive, fizemos uma festa icônica junto com a Biologia e Nutrição da UFMG, que teve até fila de espera para participar da festa, era tanta gente que os ingressos foram de 5 reais a 50 reais (uma pequena fortuna na época) porque não tinha como enfiar mais gente no lugar.
Com relação ao mercado de trabalho, fiz 2 estágios antes de me formar, por quase 1 ano e 9 meses, primeiro na área de Meio Ambiente e depois na Petrolífera. Estava segura de que não teria problemas para encontrar trabalho quando me formasse, principalmente porque no final de 2011, estava chovendo emprego para engenheiro de todas as áreas. Mas não foi bem assim.
Formandos da EQ - 2012
Em 2012, a situação começou a piorar e a quantidade de empregos na engenharia despencou. A empresa onde eu trabalhava como estagiária começou a demitir quase todo mundo e quando meu estágio terminou, também não fui contratada. Começou a difícil busca por um novo emprego.
A competição era grande. Eu fiz vários processos de trainee, chegava muito perto dos finalmentes, mas sempre recebia aquela famigerada notícia de que “você é uma ótima candidata, mas decidimos optar por outra pessoa com um perfil mais alinhado com a vaga”. Eu confesso que achava esse negócio de “perfil” uma baboseira, uma desculpinha fajuta de recrutador.
Cansada de tentar e tentar e bater com a cara na porta, por 6 meses, com muita pressa de começar a trabalhar logo e ganhar meu próprio dinheiro, eu resolvi que iria fazer concurso público. Eu era boa nesse negócio de estudar e fazer prova, então pensei “já que ninguém quer me dar uma oportunidade na iniciativa privada, vou para a área pública”.
E foi aí que entrei para o serviço público e virei Perita Criminal de da Polícia Civil de Minas Gerais, em 2013. Com isso, eu consegui ganhar muito mais dinheiro do que poderia pensar uma pessoa recém formada, sentia que a minha situação financeira estava resolvida, eu teria uma aposentadoria com salário integral, as pessoas me respeitavam porque eu tinha um cargo “chique”, era chamada de doutora por aí, tudo seria perfeito daí pra frente.
Porém, nem tudo são flores. Chegou um ponto em que eu sentia que estava trabalhando apenas por dinheiro e que era completamente infeliz profissionalmente. Pior, por diversas vezes eu sentia que estava vendendo a minha saúde e sanidade mental. Eu olhava para os profissionais antigos de casa e sabia que não era aquela pessoa que eu queria ser no futuro.
Depois de quase 4 anos nessa profissão, não dava mais, ou eu tomava uma atitude logo, ou viveria pra sempre reclamando.
Foi aí que comecei a entender que, de fato, esse negócio de “perfil” é importante. As pessoas são diferentes e têm gostos e ambições diferentes. E entender isso não é trivial, até hoje eu devo ser conhecida como a louca que saiu da perícia por livre e espontânea vontade, aos 30 anos.
Desde então, migrei para a área de tecnologia e marketing. Comecei a minha jornada do zero novamente, estudando por conta própria, trabalhando de graça para ganhar alguma experiência na área. Mudei de país, ainda sem nenhum emprego fixo e, depois de alguns meses morando na Colômbia, não aprendi a bailar salsa, mas as portas começaram a se abrir de novo pra mim.
Bogotá
Trabalhei no suporte técnico de uma multinacional de hospedagem de websites e hoje trabalho em outra multinacional do ramo de ferramentas, a Stanley Black and Decker, onde faço parte da equipe global de gerenciamento dos websites das diversas marcas da empresa. Não poderia estar mais satisfeita. Hoje eu vejo os profissionais antigos de casa e penso “eu gostaria muito de ser como essa pessoa no futuro”.
Confesso que diretamente não uso nada que aprendi nos livros da engenharia química, mas, sem dúvidas, os 5 anos de faculdade e a convivência com todas as pessoas que encontrei pelo caminho foram muito importantes para a minha construção profissional.
Meu conselho para quem está se formando é: gaste um tempo para se conhecer, para entender quais são os seus valores, converse com as pessoas e com os profissionais que atuam na área onde você pretende iniciar a carreira. E por último, lembre-se, não há nada de errado com mudar de ideia, as pessoas são não só diferentes como também são diferentes em diferentes momentos da vida.
Mariana Canuto, Formada em Engenharia Química na UFMG em 2012. Abr. 02, 2021
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