A Era dos Princesos - Maria Karolina
Jul 09, 2020
Vamos começar do começo:
No ensino médio estava completamente perdida em relação à carreira. Cheguei a pensar em arquitetura, depois civil... Até que um dia meu pai me disse “acho que você vai trabalhar com química mesmo”. Naquele momento pareceu absurdo, mas quanto mais pensava nisso, mais sentido fazia. Gostava de descobrir como as coisas eram feitas e produzi-las pareceu um caminho coerente. Além disso, a arrogância que tinha por ter sido destaque no colégio me fazia achar que eu deveria escolher um curso “difícil”. Foi uma decisão muito mal pensada, com poucas experiências de vida para sustentá-la, mas, possivelmente, uma das minhas melhores escolhas.
Chegando na faculdade, tenho muita gratidão de ter sofrido uma surra de humildade. Entrei com o que chamo de síndrome do “princeso”. Era a melhor da turma no ensino médio e presumi que seria parecido na faculdade. A questão é que todos na minha sala eram os melhores de suas salas no ensino médio. Eu já não estava entre os melhores da turma. Eu não era tão especial quanto achava. Ótimo! Foi um tapa que me ensinou um pouco sobre humildade e empatia, mas às custas da minha autoestima.
Também no primeiro semestre, entrei para a Mult Jr, um lugar incrível para minha formação enquanto profissional. Lá percebi que gosto do mundo de negócios e que realmente fico feliz em trabalhar com gestão. Porém, eu me vi em outro lugar que me permitia sentir como “princeso”. Achava que dava conta de tudo, que precisava fazer de tudo pra ganhar uma corrida contra as outras pessoas para ter mais experiência, mais conhecimento. A verdade é que essa corrida só existia na minha cabeça. Eu só peguei atividades demais, me estressei horrores e, somado ao desgaste do ICEX, me desmotivei completamente com o curso ao ponto de pensar em abandonar.
Estava no meu quarto período na UFMG, saindo do pedestal que eu mesma me coloquei, desmotivada, decepcionada com minhas escolhas e emocionalmente desgastada. Não estava bem. Não me preocupei com minha saúde mental e entrei no buraco.
Para a minha sorte, estava rodeada de pessoas incríveis, que me motivaram e me ajudaram a continuar. Além disso, peguei um semestre mais tranquilo, com apenas 3 matérias obrigatórias e 2 optativas de alimentos, uma área que tenho muito interesse. Inclusive, deixo aqui registrado o que poucas pessoas têm a coragem de dizer.
TUDO BEM NÃO ESTAR BEM.
VOCÊ PODE PEGAR UM SEMESTRE MAIS TRANQUILO.
NINGUÉM PRECISA FORMAR EM 5 ANOS.
Mesmo buscando respeitar o meu tempo, no final do semestre tive uma crise de ansiedade. A primeira da minha vida e justo na última prova de química analítica. Não teve outro jeito: saí da prova aos prantos pela crise e por saber que, no semestre seguinte, teria que repetir todo esse sofrimento. Eu havia respeitado os meus limites. Por que não deu certo? Foi então que percebi que não sairia dessa apenas com a ajuda dos meus amigos. Procurei algumas psicólogas e na terceira que fui achei o meu tipo de terapia e uma pessoa que sei que posso contar.
Desde então faço acompanhamento e já fazem quase 3 anos que continuo em terapia. O caminho para se sentir bem consigo mesma não é fácil. É preciso levar a saúde mental a sério. E desde 2018 se tornou uma das minhas prioridades. Neste ano, coloquei atividade física como prioridade, me dediquei mais ao Grifo e ao Handlove, confiei tarefas para as pessoas que estavam trabalhando comigo na empresa júnior e comecei a dar mais valor aos momentos de socialização com os amigos de faculdade. Era o começo da jornada para fora do buraco.
Em 2019 decidi experimentar mais na faculdade. Já sabia que gostava de negócios e de consultoria, mas queria entender se aquele realmente era o caminho que queria seguir. Por isso, busquei uma iniciação científica e, por um ano, trabalhei com simulação em reatores nucleares. Já no meio da iniciação, percebi o ramo acadêmico não é para mim e que realmente deveria investir meu tempo buscando uma carreira no ramo empresarial. Por isso, comecei minha busca por estágios e, meus amigos, aqui a luta pela saúde mental é mais complicada. O buraco da ansiedade te puxa com força.
A grande maioria dos processos seletivos que participei foram longos, com poucas vagas para muitos candidatos, sendo que, na maioria das vezes não obtive resposta. Nas poucas vezes que avançava para fases presenciais, ouvia o “não foi dessa vez, mas quem sabe na próxima?”. É difícil se manter bem nesse contexto. Foi preciso muita terapia para não deixar a ansiedade dominar. Felizmente, após quase 8 meses tentado processos seletivos, tive a coragem e as condições de tentar uma vaga de estágio de verão em SP, em uma empresa de consultoria. Parece até mentira, mas foi o primeiro, e me arrisco a dizer que o único, em que me senti acolhida, estava em casa. E, para minha surpresa, a empresa me pediu para fazer uma entrevista no escritório de BH, no qual acabei sendo contratada para a vaga de estagiária (e não para estágio de verão como inicialmente pretendia).
Hoje, somos todos forçados a lidar com a ansiedade gerada pela pandemia, pela incerteza sobre a graduação e, no meu caso, pelo trabalho home office. Fica nítido que é necessário se trabalhar todos os dias e pensar em saúde mental, mas, após 4 anos de faculdade e 3 de terapia, me vejo uma pessoa muito mais madura emocionalmente e capaz de lidar com a situação. A “princeso” que entrou na EQ não existe mais. Voltando lá atrás, pensando na visão que tinha no ensino médio, percebo que, apesar de não pretender trabalhar com EQ diretamente, a jornada enquanto aluna de graduação e a formação de engenheira fez tudo valer a pena.
Espero que esse texto tenha te ajudado, querido leitor e que, diferente de mim, você faça um caminho menos sofrido, se respeitando mais. Afinal de contas, não vivemos em uma monarquia. A era dos “princesos” já passou.
Maria Karolina, aluna da turma 2016/1. Jul 09, 2020
Quer conhecer outras iniciativas da EQ durante a graduação? Então dê uma olhadinha nesse texto da Nathália!