O que não me contaram sobre a UFMG
Eduardo Gomes, Mai 22, 2019
Eduardo Gomes, Mai 22, 2019
Qual foi a última vez que uma decisão definiu o rumo da sua vida?
Na realidade, suponho que subestimamos o impacto da maioria de nossas decisões, ao passo que atribuímos peso demasiado a outras. Aos 17 anos, não seria prudente (e realmente não é) pedir que um jovem defina o rumo de sua vida, escolhendo um curso de graduação. Talvez a vida não seja prudente, e talvez isso é exatamente o que a torna tão fantástica.
Voltemos a escolha do curso de graduação, ou melhor, voltemos a minha decisão pessoal. Estava eu, no auge dos meus 16 anos (que homem, que maturidade), olhando um quadro branco em que eu listava minhas possíveis escolhas de curso. Mais especificamente, um quadro branco em uma casa de madeira em Sinop (a famosa cidade sigla), no interior do Mato Grosso. Como a maioria dos que se encontram nessa situação, “certeza” não era a palavra que definia meu estado de espírito. Para ser mais sincero, eu não sabia nem o que fazer e muito menos onde fazer.
Como uma pessoa perfeitamente racional (ou não), iniciei meu longo processo decisório. Em primeiro lugar, não deixei minha casa logo ao final do terceiro ano do ensino médio. Eu não queria sair até que tivesse certeza do que queria. Nesse momento da vida, me sentia um ser humano horrível (o pior de todos, na verdade) por ver os amigos e a namorada entrando na universidade e eu não. Imprevisivelmente, vivi um ano incrível. Contraditório, não?
No ano em que resolvi aguardar (2013), contatei um ex-professor. Ele havia recém aberto um curso pré-vestibular, o Prina Pitt Empreendimentos (pois segundo ele, assemelhava-se fisicamente ao Brad Pitt). Nesse ano, aprendi toneladas, literalmente, com o pessoal do PPE e com meus ex-professores de ensino médio (que já tinham se tornado meus amigos nesse momento). Mas não me refiro a conteúdo progmático do ensino médio, apenas. Aprendi principalmente sobre confiança, relacionamento, humildade e trabalho-duro (e como aprendi).
Nesse ano eu havia feito minha lista super-racional, em que a Engenharia Química na Unicamp era minha primeira opção. Ok, mas como a Engenharia Química? Bom, na realidade, até hoje eu não sei explicar. Eu simplesmente sentia um frio na espinha que me motivava a acreditar e sonhar. Mesmo numa cidade (Sinop) que não possuía (e ainda não possui) indústrias, eu acreditava que fazia todo o sentido. Não existia lógica, só existia sentimento. Eu sou incapaz de definir em palavras, mas sou grato por ter ouvido meu coração (deveríamos fazer mais isso, não?).
Sobre o lugar, esse saiu de uma planilha no Excel. Eu tentava racionalizar a economia do lugar, a perspectiva de crescimento, o ranking da universidade e a minha afinidade cultural (falou o Paranaense criado no Mato Grosso). Olhando hoje, sinto vergonha de como fiz isso (mesmo). Com tanta frequência, tenho a impressão de que tentamos controlar e prever o mundo, como se fossemos capazes de realmente perceber tudo o que importa ao se tomar uma decisão. Não percebemos que o mundo não é um modelo matemático porque é formado por pessoas, e pessoas não podem (nem devem) ser resumidas a números.
Hoje, tenho convicção de o que não sabemos importa muito mais do que as coisas que sabemos. Em 2014, fui aprovado na UFMG e vim para Belo Horizonte. Eu tinha viajado poucas vezes, e nunca tinha vindo a Minas. Cultura? Economia? Perspectiva de crescimento? Obviamente isso não fez diferença alguma. No entanto, algo fez muita diferença e me fez persistir e decidir ficar aqui, mesmo nos momentos mais críticos. Foi o que realmente não me contaram sobre a UFMG, e sobre o nosso curso (além do ICEx, claro, mas isso fica para outro momento) que me fez, de verdade, escolher aqui.
Comecemos olhando de uma forma mais numérica. A grande BH possui grosseiramente 6 milhões de habitantes e o curso de Engenharia Química ainda está entre as engenharias mais bem remuneradas, na média (não gosto desse ponto de vista, mas imagine a forma como se divulga em jornais, por exemplo), o que induz a decisão pré-vestibulandos gananciosos e que odeiam anatomia. Junte a isso o fato de que só existe um curso de EQ público nessa região e que é, segundo os rankings, um dos melhores do país. Ademais, só ofertam-se 30 vagas por semestre (compare com Elétrica ou Civil, por exemplo). A concorrência gerada é notável e os resultados disso são turmas de capacidade intelectual indiscutível.
Isso já era de se esperar, como espera-se da maioria dos grandes centros de ensino no país (ou fora dele). O que eu não esperava eram pessoas que, além de serem intelectualmente poderosas, tinham um coração gigantesco. Eu tive o prazer de trabalhar e estudar com seres-humanos fantásticos, que me inspiram a ser melhor a cada dia e crer que existe um mundo melhor, que vai além de graduação X ou Y. Podemos mudar de curso com um simples pedido de transferência, com algumas horas de estudo e uma prova. Criar um ambiente de pessoas incríveis, que vão além do aspecto intelectual, é outra história.
Desde que estou em Belo Horizonte, percebo cada dia mais que o maior valor da Engenharia Química da UFMG são as pessoas. Percebo que as pequenas decisões, de participar de X ou Y, de enviar uma mensagem ou outra, de se envolver com esse ou aquele projeto é o que realmente torna a experiência extraordinária. Podem me chamar de sonhador, mas acredito que isso não se resume a UFMG, muito embora sou grato por esse lugar. Creio que, em qualquer circunstância, o extraordinário está na sua capacidade de percebê-lo e contemplá-lo.
Portanto, não acredito que o mais importante seja o porquê escolhi vir para a UFMG, pois atribuo isso a majoritariamente a aleatoriedade. Acredito que o mais importante é porque escolhi ficar. Fico por um grupo de pessoas incríveis, mas que não acreditam que podem tornar o mundo um lugar melhor. Elas têm convicção.
E eu quero fazer parte disto.
Eduardo Gomes, Mai 22, 2019
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