de professor a engenheiro
Sacha Pessoa, Fev 25, 2021
Sacha Pessoa, Fev 25, 2021
Bem antes de entrar na faculdade, eu queria ser professor. Não importava muito do que, como, só queria ser professor.
Minha mãe, sabendo da dificuldade da profissão (uma professora de português ativa até hoje, com quase 60 anos de atividade) tentou me tirar a ideia da profissão (até então eu queria fazer Química), falando para fazer Engenharia Química porque, segundo ela, era “quase a mesma coisa” e me daria mais diversidade profissional.
Bom, obviamente, nem eu nem ela tínhamos a menor ideia do que se tratava o curso de engenharia química, mas, mesmo assim, na completa ignorância e fora do meu objetivo, fui e fiz o curso.
No início, eu fiquei um pouco desmotivado, admito, mas assim que saí do ciclo básico (matemáticas, físicas e afins) comecei mesmo a ver como a engenharia funciona. Poxa, me apaixonei. Adorei entender como as coisas funcionam, como determinar e calcular, como prever comportamentos, ter o conhecimento do processo e de como alterar e melhorá-lo.
Vendo isso, acabei indo mais além: comecei também a me apaixonar pela otimização, pela simulação, pela resolução de problemas operacionais, pela proposta de novos métodos matemáticos e computacionais, em como projetar melhor sistemas e equipamentos usando cada vez menos... Me encontrei nisso, mais que imaginaria.
Comecei na engenharia de Óleo e Gás (estava bombando na época), projetando estações de compressão de gás para gasodutos, sistemas de utilidades, vasos pulmão de ar comprimido, redes de água de resfriamento e seus devidos equipamentos... Realmente me divertia, de verdade.
Curiosidade: O interessante dessa época é que eu, em início de carreira, calculei e determinei matematicamente que o sistema de ar comprimido projetado estava pequeno demais (compressor precisava ter mais capacidade), e eu, firme dos meus cálculos, confirmei para minha chefe que precisaria ser maior. Ela, desconfiada da minha cara de bebê, me perguntou: “você tem certeza? Serão 500 mil reais a mais nessa decisão”, e eu, engolindo seco, afirmei “sim”, e foi o selecionado.
O legal é que, anos depois, fiquei sabendo que o único sistema que não estava tendo problemas de fornecimento era aquele com o compressor que eu tinha determinado, e que demais sistemas “gêmeos” que mantiveram o compressor “antigo” estavam precisando de complementação de ar com novo compressor em paralelo. Puxa, que sensação maravilhosa. Recomendo.
E assim seguiu minha carreira, com subsequentes atividades em mineração, onde me apaixonei de novo pela incrível engenharia de minerodutos (inclusive tema do meu mestrado, onde propus uma nova forma de calcular os sistemas), e ainda, nas “entressafras” de engenharia, me vi trabalhando como engenheiro de operação em fábrica de alimentos, aprendendo sobre ETA, ETE, e ainda fabricação de bebidas (muito legal também, quase que eu fico nessa área).
Minerodutos
Enfim, a engenharia tem seus deleites; de entender (e saber que entende) os sistemas, e tem suas angústias; de sofrer com a dificuldade de trabalho em épocas não tão promissoras, mas, mesmo assim, apaixonante, dinâmica, concreta, real. Você vê o que pensou se materializar e funcionar na sua frente, algo indescritível.
Entretanto, não esqueci da minha origem, que sempre quis e sempre busquei desde criança: ser professor. Vi, na habilidade que adquiri nas minhas décadas de experiência, que precisava seguir com meu objetivo primeiro de ser professor, e hoje consegui mais esse objetivo com meu canal de engenharia, onde ensino hidráulica aplicada (Aprenda sem Turbulência), para todos os tipos de fluidos presentes da indústria (de água a maionese, de óleo a licor negro). Com esse canal pretendo (e tenho conseguido) passar essa experiência adquirida para a turma que está chegando, cheia de energia, mas precisando de orientação.
Hoje me vejo realizado, e entendo que é possível, na profissão, atingir seus objetivos mais inusitados. Basta seguir o que nos é ensinado primariamente na engenharia: Ser engenhoso.
Fábrica de bebidas
Sacha Pessoa, mestre em engenharia química pela UFMG. Fev 25, 2021
Gostou do texto do Sacha? Quer ler mais sobre onde as diversas áreas da engenharia química podem te levar? Leia também o texto do Carlos Loyola sobre o mercado de trabalho.