Qual é a sua próxima meta profissional?

Nayara Pereira, Set 8, 2020

Eu sempre fui uma pessoa de metas definidas. Ter próximos passos claros é o que me motiva a seguir em frente. Criar minhas metas e traçar um plano para conquista-las foi relativamente simples até meu primeiro quarto de século. Me formar no colégio, passar no vestibular e entrar na UFMG. Tudo bem que o processo para escolher qual curso eu queria não foi tão simples assim, mas isso é papo para outro dia (se quiser puxar esse assunto comigo, fique à vontade).

Quando entrei para o curso da Engenharia Química, outra filosofia passou a fazer parte da minha vida. Aproveite todas as oportunidades que surgirem. E foi isso que eu fiz. Entendi todas as oportunidades que um estudante de engenharia química poderia ter e, depois de dar uma filtrada, tracei minhas metas e defini meus próximos passos. Comecei pela Mult Jr e fiquei dois anos por lá. Em seguida, me tornei monitora no Equalizar. Em paralelo, fui bolsista de iniciação científica. Depois de um ano na pesquisa, fui para Japão pelo Ciência sem Fronteiras. Não estou fazendo essa lista para dizer que conquistei tudo o que eu queria. Estou apenas encurtando uma história longa, que também teve fracassos, que também teve dúvidas e incertezas. Meu objetivo em compartilhar essa história até então é te dizer que, até me formar no curso de Engenharia Química, minhas escolhas e minhas tomadas de decisão seguiram uma sequência que muitos qualificariam como lógica. Foi o somatório de “quais oportunidades existem?” e “qual é meu próximo passo?” que me levou a cada uma delas. E hoje, olhando para esse momento da minha vida quase 10 anos depois, vejo que esse meu processo de vagar entre o empreendedorismo e a pesquisa, entre oriente e o ocidente foi uma forma que eu encontrei de tentar me descobrir como futuro profissional. Claro que na época eu não tinha essa leitura.

Mult Jr.

Intercâmbio no Japão

Nunca fui aquela pessoa que desde nova sabia o que iria ser quando crescer. E o que você vai ler daqui em diante não é um relato de uma engenheira arrependida. Pelo contrário, sou muito feliz com minha escolha, adorei o curso e continuo achando um máximo quando meu trabalho exige que eu use fórmulas de OPB para resolver algum problema. Feito esse parêntesis e voltando a minha história... No meu último ano do curso, tive que começar a pensar no meu estágio. Confesso que até então não tinha pensado muito nisso. A maioria dos meus amigos já estavam estagiando e eu ainda aproveitando minhas oportunidades dentro da UFMG. Acho que estava adiando a tomada de decisão, uma vez que a escolha do estágio abre um leque muito maior de opções e aí a escolha do próximo passo e da meta a ser atingida fica mais difícil. Qual segmento? Qual empresa? Indústria? Consultoria? Salário importa? Carga horária importa? Localização importa? Qualquer uma dessas coisas importa ou só quero estagiar para me formar e pronto? Depois de muitas reflexões, decidi que queria uma multinacional no setor cosmético ou alimentício. Isso significava buscar um estágio longe de Belo Horizonte. Foram muitas horas dentro de um ônibus, participando de vários processos seletivos até receber meu sim na Johnson&Johnson em São José dos Campos. Oba, outra meta cumprida! E depois do estágio? Era óbvio que eu tentaria o programa de trainee da empresa. E foi isso que eu fiz. Quase não passei, mas nos 45 do segundo tempo abriram duas novas vagas e eu entrei. Meus dois anos de trainee foram muito especiais. Nunca me senti tão engenheira, tão útil e tão disposta a dar o meu melhor quanto naquela época.

No entanto, todo programa de trainee tem o seu fim. E foi aí que eu me vi diante de um grande questionamento. E agora? Eu sentia que tinha chegado ao fim da linha. Que tinha concluído todos os passos que eu tinha planejado quando tinha 17 anos. E agora? É isso? Eu vou ficar aqui fazendo isso por 35 anos? Aquela minha vontade de ter clareza do meu próximo passo me afligia. Eu vou passar mais de 30 anos só pensando no próximo cargo? Eu, que fui de empresária júnior a bolsista de pesquisa, que tive coragem de morar do outro lado do mundo para viver uma aventura, vou me contentar a ter essa única experiência profissional? Depois das primeiras indagações, eu me dei conta que eu estava mal-acostumada. Achava que havia um caminho lógico para seguir. Uma meta concluída levaria a outra. A diferença é que agora eu percebia que meu leque de opções era infinito! Primeiro pensei: “eu posso ir pra outra empresa”. Outras multinacionais me vieram a cabeça. “Peraí, por que precisa ser uma multinacional?” Pensei em empresas nacionais de cosméticos. “Mas por que precisa ser cosméticos?” Pensei em outras indústrias. “Mas por que precisa ser indústria?”

Johnson&Johnson

Eu fiquei nesse looping de questionamentos por mais de um ano. Cada novo porquê respondido criava espaço para uma nova pergunta. Eu me questionei tanto que até pensar em largar tudo e fazer medicina eu pensei. Cheguei a me inscrever no ENEM (isso é mais comum do que a gente imagina, sabia?). Foi um longo processo de olhar pra dentro, entender minhas prioridades e ter mais clareza de onde eu gostaria de gastar meu tempo e minha energia. Voltar para Belo Horizonte, por exemplo, tornou-se uma das minhas prioridades. Ainda não sei como posso conciliar meus interesses profissionais com a localização desejada, mas só de saber o que é importante pra mim, fico mais tranquila e de não ter todas as outras respostas que um dia eu desejei ter.

Não vou dizer que hoje eu tenho plena clareza do que eu quero fazer da minha vida profissional. Acho que nunca vou ter e nem sei se eu quero ter. Me distanciar daquele pensamento de que para seguir em frente é preciso ter uma meta clara e um plano definido foi um processo doloroso. No entanto, à medida em que vamos amadurecendo, fica claro que cada momento da vida precisa ser aproveitado e que planejar muitas vezes pode ser inútil. Afinal, você nunca sabe quando uma pandemia pode vir e mudar a dinâmica do mundo, não é mesmo? Na verdade, não precisa de nenhum evento tão grandioso assim para percebermos que devemos deixar a vida fluir. Nos adaptar aos eventos que se estruturam diante de nós e estarmos sempre atentos as oportunidades que surgem, sem expectativas. É entre uma meta e outra que a vida acontece. Que você cria uma empresa, que você conhece um parceiro de negócio, que você abre mão de tudo e vai morar fora, que você é quem você quiser ser.

Nayara Pereira, formada em 2016. Set 8, 2020

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