Pesquisa e inovação fora da Academia
Luiza de Queiroz, Mar 18, 2022
Luiza de Queiroz, Mar 18, 2022
Ao ingressar na Engenharia Química, procurei aproveitar ao máximo as oportunidades de atividades extracurriculares que o curso oferecia. Nesse quesito, a UFMG é excelente e tem opções para todos os gostos. Comecei como aluna de iniciação científica no departamento de química, passei pela Mult Jr, depois pela monitoria da disciplina de Fenômenos de Transporte, até viver a experiência mais significativa de todas, que foi um intercâmbio pelo programa Ciência sem Fronteiras, quando tive a chance de morar e estudar por um ano na Holanda.
Mult Jr em ação do Projeto Sabão (2012)
Após seis meses estudando fora, resolvi buscar um estágio. Tive bastante liberdade para escolher as disciplinas que queria cursar na universidade estrangeira e dei preferência, inclusive, às mais diferentes em relação à grade curricular da UFMG. No entanto, (inquieta que sou 😊) pensei que uma experiência profissional fora do país, me forçando a sair da minha zona de conforto, poderia agregar ainda mais à minha formação. Fiz então um estágio na área de energia solar em uma organização holandesa de pesquisa aplicada. A partir daquele momento, um mundo novo se abriu para mim. Foi o meu primeiro contato com a tecnologia fotovoltaica e ele abriu portas para o mercado de trabalho onde mais tarde eu passaria a atuar no Brasil.
Eu pouco sabia sobre o assunto, achava que a energia solar se resumia aos painéis de silício que vemos em alguns telhados por aí, mas topei o desafio mesmo assim. No estágio, descobri que havia outras possibilidades em desenvolvimento, com uma classe de materiais emergentes denominada perovskitas, que tem o potencial de ser tão eficiente quanto o Silício, porém a um custo de produção muito mais interessante. O estágio durou cinco meses e foi um desafio completo: precisei selecionar e comprar os materiais necessários, definir as etapas de fabricação e desenvolver o processo para criar uma célula solar funcional ao fim do período. Tive ajuda de grandes profissionais e consegui concluir o objetivo com sucesso, mesmo que a eficiência da minha célula estivesse ainda distante daquelas reportadas na literatura científica. Trabalhar fora não foi só interessante pelo conhecimento técnico que eu pude adquirir, mas também pela enorme bagagem cultural associada. Conviver diariamente com os holandeses e observar a cultura de trabalho deles tornou a experiência muito enriquecedora, e eu recomendaria muito para os meus futuros colegas de profissão que tiverem a oportunidade.
Ao voltar para o Brasil, fui convidada a trabalhar como pesquisadora no CSEM Brasil, um centro de inovações, com atuação na plataforma de eletrônica orgânica e foco no scale-up de módulos fotovoltaicos a base de materiais orgânicos, que têm processo de manufatura bastante similar ao das perovkistas com as quais trabalhei na Europa.
Filme flexível de perovskita fabricado no CSEM Brasil (2021)
Foi uma grata surpresa descobrir que esse tipo de pesquisa era realizado no Brasil, e ainda mais em Belo Horizonte. Desde então, tenho trabalhado na área (com uma breve pausa de pouco mais de um ano em que trabalhei em um projeto de semicondutores).
Trabalhar com pesquisa e desenvolvimento em uma organização privada tem desafios distintos aos da Academia. O primeiro deles é transformar a pesquisa de base em oportunidades de negócios, despendendo energia em escalar uma descoberta científica através do desenvolvimento de processo, produto e prototipagem. Em relação à pesquisa acadêmica, algumas das vantagens são a liberdade criativa e a aceleração do desenvolvimento, pelo acesso a recursos de forma mais rápida e garantida, e pela redução das burocracias. Por outro lado, a pressão por resultados é a mesma que existe em uma empresa normal, já que são as soluções e os cases de sucesso que alavancam a prospecção de novos projetos e dão sustentabilidade ao negócio. Em ambos os casos, entretanto, é preciso paciência já que a pesquisa muitas vezes não caminha no ritmo que gostaríamos, e há momentos bons e ruins.
Há dois anos voltei para casa para cursar disciplinas isoladas de mestrado e há um ano sou aluna regular do programa de pós-graduação da Engenharia Mecânica da UFMG na área de energia e sustentabilidade. Com a transição energética, é natural que as fontes sustentáveis de energia ganhem mais e mais protagonismo e a sensação ao se trabalhar com algo inovador e significativo que pode gerar impacto positivo à sociedade é, de fato, muito gratificante. Por fim, espero que minha trajetória um pouco fora do comum possa te mostrar e reforçar o que já sabemos: há diversos caminhos para um Engenheiro Químico!
Quem se interessou e quiser saber mais ou trocar ideia, é só chamar! 😊
Luiza de Queiroz, formada em Engenharia Química na UFMG em 2014. Mar 18, 2022
Gostou de conhecer a trajetória da Luiza de Queiroz? Então você vai adorar o texto do André Luiz Guedes Martins, em que ele mostra como uniu em sua carreira Ciência, Engenharia Química e Arte!