Entrevista - Wagner Oliveira
Ago 10, 2016
Ago 10, 2016
Wagner Oliveira, Implementation Leader para a America Latina na McKinsey & Company
Nós do SemprEQ amamos trazer para nossos futuros engenheiros as possibilidades que o mercado de trabalho oferece nas suas mais diversas formas. Com essa intenção, encontramos com Wagner Oliveira para conversarmos sobre carreira profissional no exterior. Atualmente morando no Peru, Wagner atua com Implementation Leader (Engagement Manager) na empresa McKinsey & Company. Confira:
Como você conseguiu uma colocação no exterior? De quais procedimentos legais você precisou para trabalhar em Moçambique?
“Eu já atuava na área de mineração a alguns anos, tanto em projetos quanto em operações. Uma empresa australiana de mineração havia realizado a aquisição de uma unidade em Moçambique e tinha planos de expansão naquele país. Recebi o convite para me juntar à equipe e percebi que a proposta de trabalho era muito interessante. A empresa me encontrou através do networking que eu já possuía na indústria da mineração.
Para trabalhar em qualquer país um(a) engenheiro(a) brasileiro(a) precisa atender aos critérios da legislação trabalhista local. Normalmente são necessários um visto de trabalho e um contrato de trabalho, ainda que não seja exigido um visto de turismo para se visitar aquele pais. Em Moçambique não foi diferente, no caso a empresa que me convidou realizou todos os tramites tanto no Brasil quanto em Moçambique.
Depois de dois anos de atuação com bons resultados a mesma empresa me transferiu para o Peru para atender a uma demanda interna. Continuo trabalhando no Peru atualmente, mais agora em outro segmento da mineração (consultoria).”
Você percebe algum incentivo para contratação de engenheiros ou mão de obra qualificada de outras nacionalidades globalmente?
“Cada país tem uma política própria em relação a regulação do mercado de trabalho interno. Normalmente se busca a proteção do mercado interno com o desenvolvimento e a capacitação da mão de obra local. Entretanto em algumas situações, devido a contextos específicos, a mão de obra qualificada e experiente que é demandada não está disponível no mercado interno. Nestas situações a abertura para profissionais de outras nacionalidades surge como uma alternativa. Está situação é muito típica em países em desenvolvimento.
Uma segunda situação que proporciona abertura para profissionais de outras nacionalidades é quando se tem uma carência estrutural de certos profissionais no mercado de trabalho interno. A quantidade de determinados profissionais capacitados e experientes disponíveis não atende plenamente as necessidades econômicas de crescimento daquele pais e a abertura se torna uma suplementação. Esta situação é típica de países desenvolvidos e de mercado maduro.
A terceira situação ocorre por decisão das próprias empresas. Neste caso as empresas envolvidas tendem a enviar o pessoal próprio para: 1) suportar o desenvolvimento do negócio em outro país no caso de fusões/aquisições/novos mercados ou 2) atuação em outras unidades já existentes como uma opção de gerenciamento estratégico.”
Os profissionais brasileiros da engenharia sofrem algum preconceito ou são valorizados na indústria da mineração?
“De uma forma geral, não percebo nenhum conceito negativo associado aos profissionais brasileiros da engenharia na indústria da mineração global. Acredito que existe até um certo reconhecimento da qualidade da engenharia nacional em função da qualidade técnica, experiência e flexibilidade dos profissionais brasileiros que estão no mercado global.
Algo que sempre surge como um ponto de desenvolvimento é o conhecimento de idiomas. É condição fundamental e inegociável o domínio pleno da língua inglesa e o conhecimento de um terceiro idioma é importante. Sem esta característica a atuação internacional eficiente se torna muito difícil.”
De acordo com sua opinião, quais as vantagens do engenheiro brasileiro em relação ao profissional estrangeiro?
“O engenheiro brasileiro é mais flexível, mais comunicativo e mais criativo por natureza. Isto gera uma vantagem significativa para o trabalho em equipe. Por outro lado, os engenheiros brasileiros carecem de habilidades de planejamento e precisam desenvolver a disciplina na execução. Infelizmente a percepção errônea do improviso como uma solução adequada é parte de nossa cultura e é algo que precisamos mudar.”
Qual a melhor e a pior parte de trabalhar no exterior?
“Na minha percepção o melhor é a experiência de vida. As pessoas e as culturas que se conhece são uma experiência única que te acompanhará por toda a vida. Isto proporciona uma visão mais ampla do mundo e da realidade, um entendimento por outra perspectiva e sem o viés regional.
A distância de casa, da família e dos amigos é algo difícil. Um profissional que pretende atuar no exterior precisa avaliar muito bem este aspecto. Parece algo simples, mas a saudade é um sentimento complexo que pode afetar muito a performance.”
Que dica você daria para aqueles que pretendem conseguir alguma colocação em outro país?
“O primeiro ponto é o planejamento estratégico de vida/carreira. Aonde quero chegar? Como quero estar dentro de 10 anos? De 20 anos? Talvez este exercício possa parecer um tanto prematuro para um engenheiro prestes a se formar, mas não é. O escritor romano Sêneca dizia que “se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável. ”
O primeiro passo para este planejamento de vida é entender o seu contexto, situação e aspirações. Eu citei alguns exemplos anteriormente, mas quais são as outras perguntas certas que você deveria se fazer? Não existe certo ou errado neste aspecto, mas cada profissional precisa definir bem sua estratégia de vida/carreira e direcionar esforço e recursos para alcançar seus objetivos.
Porque trabalhar fora do pais? Esta é a pergunta que precisa ser respondida inicialmente. Se a resposta não se alinha ao seu plano pessoal, então o esforço despendido será em vão e você estará perdendo tempo. Por outro lado, se a resposta está de acordo com seu plano então aconselho a iniciar os estudos de conversação em outro idioma e identificar desde já os países mais propícios a atuação internacional e os segmentos mais favoráveis.
Entre em contato comigo, além de engenheiro eu também atuo como coaching de jovens profissionais e treinador em liderança.”
Ago 10, 2016. Texto editado em 23 de março de 2018
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