Minha Carreira como engenheiro químico
Valmy Oliveira, Mai 21, 2021
Valmy Oliveira, Mai 21, 2021
Meu nome é Valmy Oliveira e sou Engenheiro Químico formado pela EEUFMG (1978), com MSc Technology pela Sheffield University (1984). Sou Senior Member da American Society for Quality, onde tenho os títulos de Certified Quality Engineer e Certified Quality Auditor. Recebi um convite da SemprEQ para fazer um relato sobre minha experiência com a Engenharia Química ao longo da minha carreira. Este é um pedido interessante porque me leva a revisitar muitos anos de trabalho além de fazer uma seleção do que eu acredito seja mais relevante para os novos engenheiros em formação, sem parecer que esteja ditando regras ou afirmando verdades inquestionáveis.
Comecei em uma época bastante diferente da que temos hoje e portanto minhas experiências serão apenas isto, minhas experiências. No entanto, os princípios que sustentaram estas experiências, e o meu aprendizado com elas, podem ser úteis para aqueles que estão começando ou que talvez estejam em dúvida sobre suas escolhas até o momento.
Devo começar dizendo que fui o primeiro engenheiro químico na família, mas tive o prazer de ver minha irmã também se graduando em Eng. Química e fazendo uma brilhante carreira. A próxima geração também me deu muito prazer, pois vi meus dois filhos também se formando em Eng. Química e se tornando excelentes profissionais do setor. Além disso, ao longo da minha carreira tive o prazer de contratar vários colegas que também vieram da Eng. Química. Por isto, posso afirmar que tenho seguido o desenvolvimento do curso ao longo de muitos anos e vi como evoluiu para acompanhar as demandas do país.
Minha vida profissional começou ainda em 1979, logo após minha graduação. Entrei como engenheiro em uma grande empresa de refratários, área de Controle de Qualidade, em sua unidade na Cidade Industrial de Contagem. Nesta empresa permaneci durante 36 anos e nela me aposentei como Director of Quality and Technology nas operações da companhia na China.
Na minha experiência como jovem egresso do curso de graduação, esta foi uma escolha estratégica para o desenvolvimento profissional: eu queria trabalhar em uma empresa onde pudesse continuar estudando e aprendendo. Assim, busquei uma empresa sólida, líder de mercado, com forte perfil de tecnologia e cultura de desenvolvimento técnico e de pessoal. Nela pude conviver com pessoas de outros campos de conhecimento, participar de vários treinamentos para aperfeiçoamento, e ao longo do tempo contribuir como mentor ou orientador, para a formação e desenvolvimento de novos profissionais.
A empresa me proporcionou estudar por 2 anos na Sheffield University, de 1982 a 1984, onde obtive meu MSc Tech by Research. Este período de estudo, além do título, também me deu um conhecimento profundo sobre a tecnologia dos materiais aplicados nos produtos que fabricávamos e sobre os quais tinha a responsabilidade de assegurar a qualidade final. A minha carreira também me proporcionou outras experiências internacionais, em várias viagens de trabalho e períodos de intercâmbio para absorção de novas tecnologias. Além de ajudar a montar e organizar congressos internacionais no meu campo de conhecimento, fiz várias apresentações de trabalhos técnicos no Brasil e no exterior. Fui responsável por implementar sistemas de gestão (ISO 9001, ISO 14001) nas unidades da companhia, certificados por empresa especializada internacional. O meu objetivo estratégico inicial, de continuar estudando e aprendendo, foi atingido e isso me fez sentir realizado como profissional.
Fotos no ambiente de trabalho
O campo de conhecimento onde me desenvolvi, controle de qualidade de refratários, me levou a aplicar toda a gama de tecnologias que aprendi inicialmente na escola. Imaginem o universo que se abre quando se lida com o número enorme de matérias primas, minerais, ligantes, operações industriais, aplicações de produtos em operações sob alta temperatura, testes e caracterizações de materiais etc.
No meu período de graduação, gostaria de destacar alguns pontos que foram extremamente úteis em minha carreira. O primeiro ponto foi a disciplina na pesquisa bibliográfica, com uso constante das bibliotecas da escola e seleção dos tópicos relevantes. Isto me levou ao longo dos anos, a perceber a importância de formar minha própria biblioteca com livros essenciais de referência. Em segundo lugar, o estudo aprofundado da estatística me deu uma base fortíssima para lidar com o mundo dos materiais. Aprender que o mundo é composto de eventos probabilísticos e não determinísticos, foi uma porta que se abriu para ajudar na solução de muitos problemas. Outro ponto importante foi o curso de introdução à Geologia que fazia parte do currículo naquela época. Não sei se ainda faz parte do currículo atual, mas é um campo de conhecimento importante para quem trabalha em indústrias que envolvam minerais. As aplicações das matérias de físico-química foram outro ponto de apoio forte para o meu trabalho ao longo dos anos: sistemas de equilíbrio de fases, cinética das reações, medições de viscosidade dos materiais a diferentes temperaturas, separação de fases, fenômenos de transporte etc. Metrologia, instrumentação e controle foram pontos fortes que tive de desenvolver e aprofundar como profissional.
Tive ao longo dos anos de escola, vários excelentes professores e não vou citá-los todos pelo temor de, inadvertidamente, deixar alguém de fora. Mas não posso deixar de mencionar minha professora de Transmissão de Calor, Solange Vaz, que na sua primeira semana de aula no curso profissionalizante, ainda no prédio da rua Espírito Santo, levou toda a turma para conhecer e usar a Biblioteca da Escola de Engenharia. Essencial ter esta primeira lição: você não tem como saber tudo, mas todo profissional deve saber onde buscar as respostas para as perguntas que aparecem ao longo da carreira. Excelente professora, exigente, e uma referência para mim.
Outro destaque foi minha professora de Termodinâmica, Maria Eugênia Almeida. Trabalhei como monitor do curso até minha formatura, e tinha como funções ajudar na montagem e condução das aulas práticas em laboratório, correção de provas e trabalhos intermediários. Ali aprendi a importância de estudar os assuntos com antecedência e estar preparado para ser capaz de transmitir conhecimento ao grupo de alunos da turma. Ao longo da minha carreira profissional, sempre me baseei nestes princípios para a gestão, treinamento e formação das equipes sob minha responsabilidade.
Finalizando, devo dizer que além do conhecimento técnico tive de aprender a lidar com pessoas, em diversos níveis, e sempre ser capaz de esperar o imprevisível. O fator humano talvez seja a variável sobre a qual haja o menor grau de controle, o que me leva a recomendar a todos os profissionais que levem em consideração a gestão de riscos e sempre que possível implementar sistemas para lidar com os efeitos desta variável.
Espero que este meu relato seja útil para vocês que estão ainda no curso ou que estão já no início de sua vida profissional. Sucesso para todos!
Valmy Oliveira, formado em Engenharia Química na UFMG em 1978. Mai 21, 2021
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