Relato: Mitacs Globalink Research Internship e ParisTech - Anna Dufan
Jul 23, 2020
Jul 23, 2020
Ao longo da minha trajetória na EQ, dediquei (e ainda dedico) bastante tempo a atividades extracurriculares: passei dois anos no Cursinho Popular Equalizar, fiz o mesmo tempo de Iniciação Científica, em dois projetos diferentes e atualmente sou Assessora Acadêmica no GEQLMS. O meu primeiro contato com a pesquisa, porém, foi lá no CEFET-MG, durante meu Ensino Médio integrado ao curso técnico em Química, e meu gosto pela área só aumentou desde então.
Eu sempre tive o sonho de fazer intercâmbio, passar um tempo fora do Brasil e ter um período de imersão em outra cultura. Durante meu ensino médio no CEFET-MG, esse sonho foi alimentado pela existência do Ciência sem Fronteiras, do qual vários conhecidos participaram. Infelizmente, logo quando entrei na UFMG, o programa estava nos últimos editais e não era mais uma opção viável para mim. Me envolvi em outras atividades e deixei o intercâmbio de lado durante um bom tempo. Mesmo sabendo da existência do Brafitec, eu não o considerava uma opção para mim, pois meu nível de francês era sofrível na época que eu deveria me inscrever e nem certificado de proficiência eu tinha. Mais ou menos na metade de 2018, no fim do sexto período, comecei a correr atrás de oportunidades de intercâmbio com bolsa, me inscrevendo em vários processos seletivos.
Um desses processos foi para o Mitacs Globalink Research Internship, um estágio de pesquisa no Canadá e outro foi para o intercâmbio do grupo ParisTech, um intercâmbio de dois anos em uma universidade em Paris. Ambos processos correram em paralelo. Em dezembro de 2018 recebi a resposta que tinha sido aceita na ESPCI Paris, mas a resposta da bolsa de estudos – necessária para minha ida – só viria alguns meses para frente, então continuei o processo para o Mitacs Globalink Research Internship, o qual estava em fase de entrevistas. Bom, fim de janeiro de 2019 soube que fui aprovada para o estágio no Biomass Technology Laboratory da Université de Sherbrooke e no fim de março consegui a bolsa para estudar na ESPCI Paris. Muitos e-mails foram trocados, mas consegui dar um jeito de conciliar os dois programas e dia 27 de abril de 2019 embarquei em direção ao Canadá, primeira parada dessa aventura que ainda não acabou.
Sherbrooke, localizada na província francófona do Québec, é uma cidade universitária e foi o cenário da minha primeira experiência de morar sozinha e também fora do Brasil. Cheguei na primavera, que era bem mais fria que o inverno de Belo Horizonte e até neve vi, mas ao longo do meu estágio, o tempo foi esquentando e ficando mais agradável. O melhor do verão do Hemisfério Norte, para mim, é o sol que só se põe lá pelas 22h.
A cidade conta com pessoas de todos os lugares do Canadá e do mundo, por isso quase todo mundo é bilíngue, o que ajuda muito, pois o sotaque do francês do Québec é um pouco forte. Dividi apartamento com uma canadense, estudante de Comunicação, que me ajudou muito na adaptação: me levava para eventos, discutíamos sobre a cultura e também era muito paciente com meu francês. A cidade tinha uma vida universitária bem ativa e nos finais de semana aproveitava para conhecer outros lugares: fui a Ottawa, Montréal e à cidade de Québec.
Como meu programa de estágio abrangia várias áreas, os estagiários eram divididos em grupos, cada qual com um mentor designado. No meu caso, meu mentor era um pós-doc do mesmo laboratório que trabalhei e ele organizou várias saídas e eventos durante nosso período de estágio.
Além disso, o programa conta com uma enorme rede de estagiários brasileiros, o que me apresentou amigas que se tornaram irmãs.
O Biomass Technology Laboratory possui infraestrutura muito boa, além de uma equipe multicultural e acolhedora, o que tornou minha experiência muito agradável. Durante um estágio de 10 semanas, pude aplicar conceitos que tinha estudado no semestre anterior em meus experimentos e me senti realmente imersa na engenharia química. Foi uma experiência que me acrescentou bastante e me fez crescer muito como pessoa e profissional.
No dia 12 de julho de 2019, embarcava para o país casa da segunda parte da minha aventura: a França, onde sigo até hoje. Comecei com 6 semanas de curso de francês, na cidadezinha de Vichy, onde fiquei hospedada em uma casa de família francesa. Esse período em Vichy me permitiu adquirir mais confiança no francês, conhecer bastante da cultura francesa além de conhecer pessoas de todos os cantos do mundo. No fim de agosto, vim para Paris, começar meus estudos na ESPCI (École Supérieure de Physique et de Chimie Industrielles de la Ville de Paris), que é conhecida por sua excelência na pesquisa, tendo sido casa de 6 prêmios Nobel, incluindo os de Pierre e Marie Curie.
O intercâmbio na ESPCI tem duração de 2 anos, que correspondem aos dois últimos anos do Diplôme d’Ingénieur. No primeiro ano do intercâmbio, temos aulas de matérias nas áreas de física, química e biologia e no segundo, começamos com um estágio de 6 meses na indústria, seguido por 4 meses de aula e terminando com um estágio de pesquisa curto, em uma instituição pública, que é o que estou fazendo agora. O ritmo do primeiro ano é bem puxado, com aulas em tempo integral e uma enorme densidade de conteúdo. O sistema francês de ensino valoriza competências diferentes do brasileiro, o que dificultou minha adaptação. Além disso, as matérias estudadas aqui são bem diferentes das da graduação em Engenharia Química e algumas delas constam em grades de programas de pós-graduação em Matemática ou Física no Brasil, por exemplo. Entretanto, a interdisciplinaridade e a grande quantidade de aulas práticas (metade da CH semanal) são grandes atrativos. Atrelado a essas dificuldades, veio a pandemia de COVID-19, que chegou no meu segundo semestre aqui, tornando o primeiro ano mais estressante e desafiador.
A minha paixão pela pesquisa e interdisciplinaridade foi o que me fez escolher a ESPCI no lugar de outras escolas do grupo ParisTech durante o processo seletivo. Ao longo do meu primeiro ano, me questionei várias vezes se tinha feito a escolha certa. Durante meu estágio industrial, porém, finalmente me senti no lugar certo.
Fiz meu estágio numa grande indústria farmacêutica, em pesquisa envolvendo biologia molecular e microfluídica, ou seja, um assunto altamente interdisciplinar. A experiência de fazer pesquisa na indústria foi muito enriquecedora e algo completamente novo para mim. Tive contato com pesquisadores das mais diversas formações, além de ser o tempo todo desafiada, pois nunca tinha trabalhado com biologia molecular. Foi muito interessante ver na prática como a visão de um engenheiro é diferente da visão de um biólogo ou de um físico sobre o mesmo assunto, mas que todas são fundamentais e complementares no processo de investigação científica, trazendo perspectivas que juntas constroem a inovação. Foi também na ESPCI que aprendi mais sobre a importância da ciência pura na pesquisa em engenharia. Um outro aspecto muito interessante sobre os estágios aqui, é que, normalmente, temos a oportunidade de explorar áreas de interesse mesmo sem experiência prévia, como aconteceu comigo e outros amigos.
No segundo ano do intercâmbio, podemos escolher as matérias que cursaremos entre janeiro e abril, escolhendo assim nossa especialidade. Escolhi focar nas áreas de biotecnologia e físico-química. O ritmo é muito mais agradável, mais parecido com o do ciclo profissional da EQ, e as turmas são menores (média de 40 alunos contra 100 no primeiro ano), o que tornou a experiência bem mais tranquila que o ano anterior. Agora, já quase no fim do programa, estou realizando meu estágio de pesquisa, em um laboratório da própria ESPCI, num projeto que envolve filtração através de hidrogéis e microfluídica. O laboratório tem uma ótima estrutura, tenho muita autonomia (e consequente responsabilidade) no meu projeto. Para finalizar, eu diria que a ESPCI não é a escolha óbvia de intercâmbio para um aluno vindo da Engenharia Química, mas a formação é de excelência acadêmica, visto que ela é a melhor da França no que faz, além de complementar a formação da UFMG. Sobretudo para alunos que têm bastante interesse por pesquisa, pode ser interessante (não menos desafiador, de forma alguma!!).
Morar, estudar e trabalhar fora têm sido os maiores desafios que já vivi, mas também as experiências mais únicas e recompensadoras da minha vida. Tenho vivido períodos de amadurecimento e autoconhecimento imensuráveis. Minhas experiências de intercâmbio me trouxeram pessoas extraordinárias, clareza para o meu projeto profissional, além de momentos inesquecíveis. Todos somos diferentes e pode ser que o que, para mim, foi alcançado por meio do intercâmbio, para você aconteça de outras maneiras. Aproveitem as oportunidades que a universidade dá, mas só se elas realmente te interessam!
Anna Dufan, aluna da turma 2015/2. Jul 09, 2020
Quer ler outro relato de intercâmbio? Então se liga nesse texto da Ana sobre sua experiência no Canadá!