O CAMINHO SE FAZ CAMINHANDO
Valéria Cuccia, May 26, 2023
Valéria Cuccia, May 26, 2023
Eu sempre gostei de ciências na escola. Ao me preparar para o ensino médio, meus pais deram um “estímulo” quase obrigatório para que eu fizesse um curso técnico. Estímulo pelo qual agradeço demais. Eu ainda sem certeza, escolhi química, que poderia ser útil tanto para a área de biomédicas quanto de exatas. Acertado! Tomei gosto e continuei. Passei no vestibular (sim, isso existia... rs) da UFMG para Engenharia Química em 1999. Tudo era apaixonante, estar na UFMG, cursando um curso tão difícil, me sentia uma privilegiada, sem nem saber nomear isso.
Cinco anos se passaram no curso, amizades duradouras, outras nem tanto... normal, uns vêm, outros vão... cada um segue seu caminho e nos dedos contamos poucos amigos próximos ao longo da vida. Muita ralação, estudo árduo, mas a vontade de crescer era infinita! Eu nunca me perguntei se ia dar conta. Isso é lindo aos vinte anos: a gente só vai!
Eu sempre gostei da área ambiental. Ironia ou não, após iniciações científicas e monitoria de Físico-química, fui fazer estágio numa mineradora... na área de pesquisa mineral. Mas o sonho estava guardadinho. Confesso que na época eu nem me tocava dessa incongruência. Um dia, esperando o ônibus da empresa, um visitante que estava em nosso setor me perguntou que área eu gostaria de trabalhar. Eu falei: “ambiental” , ao que ele arregalou os olhos e então caiu minha ficha que estava um pouco no sentido contrário... mas a verdade é que durante o curso e recém formada, eu queria mesmo era me inserir no mercado de trabalho. Fiz muitas entrevistas e dinâmicas de grupo, reclamei muito disso como todos fazíamos à época... falei muito minhas características e defeitos para psicólogas organizacionais... Não esqueço quando tive que inventar uma qualidade com a primeira letra do meu nome: V! Mas eu tentava uma vaga na área de finanças, mineral, alimentos, pesquisa... e genuinamente, tudo me interessava. Bom demais é ser jovem e curioso pelo mundo!
Quando eu ia me formar, minha supervisora na mineradora me fez um convite que seria irrecusável a uma jovem nessa sede pelo mundo... ir trabalhar no Pará. Mas a sede pelo mundo se misturava a uma vontade de fazer diferença na vida das pessoas, o que se traduziu no sonho de ser professora universitária. Assim, optei por ficar, e com apoio sempre inegável dos meus pais, fui fazer o Mestrado. Cujo assunto foi em parceria com essa mineradora! Mas eu queria um adicional: não queria ser engenheira química e aprofundar como mestre em Engenharia Química. Então fui para uma área que algumas vezes tinha aparecido durante o curso... timidamente mas de maneira encantadora: a área nuclear.
Corri atrás e iniciei o mestrado no Departamento de Engenharia Nuclear da UFMG. A parte experimental eu fiz no CDTN, Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, graças a uma parceria do meu orientador com um pesquisador de lá. Durante o primeiro ano, fui aprovada num concurso para Engenheiro Químico da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, na Secretaria de... Meio Ambiente!!!! Alegria total, assumi o cargo na metade do mestrado e fui levando ambos até terminá-lo.
Lá vivi cinco anos felizes. Amizades inesquecíveis, mas que mais uma vez... a vida diminui a força... Aprendizado profissional sem igual. Participava do licenciamento ambiental de vários tipos de empreendimentos, pequenas indústrias, incinerador de resíduos, postos de gasolina com monitoramento de água subterrânea, hospitais, até motel e forno de pizza licenciei.
Então, fiz um concurso para professor assistente na UFMG, para 20 horas. Fui aprovada e finalmente ia realizar mais um sonho: professora universitária na UFMG!! E continuaria na prefeitura. Entre a aprovação e assumir o cargo, eis que surge um concurso no CDTN. Nem nos meus melhores sonhos eu esperava por isso... fiquei nervosa, mas tinha a meu favor uma coisa maravilhosa: já estava empregada e não tinha nada a perder! Dei tudo de mim, fui aprovada na parte escrita em terceiro lugar. Eram duas vagas, mas na prova oral, passei a primeiro lugar!!
Era hora de assumir na UFMG e fui chamada a assumir no CDTN. Um não impediria o outro, mas recusei a universidade pelo cargo de pesquisa. Eu também poderia ser professora em outro momento lá. E assim sigo desde 2010 no CDTN, trabalhando na área de rejeitos radioativos, com muita pareceria na área ambiental, sendo professora de alguns alunos de iniciação científica e com possível futuro na pós-graduação do centro. E agora escrevo do aeroporto, coroando essa trajetória a caminho da Agência Internacional de Energia Atômica, em Viena, pois fui nomeada a membra brasileira para o Grupo de Trabalho Técnico em Rejeitos Radioativos até 2026.
Gratidão e esforço por esse caminho, que assim siga sendo! E a quem se perguntou, sim, muito vivi, ia em todos as calouradas, COREQ’s, CHUEQ’s e etcs... e agora tenho também minha linda familinha com marido e dois filhos maravilhosos. E com orgulho de dizer que sou cientista!
Valéria Cuccia, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento da Tecnológia Nuclear (CDTN)
Gostou de conhecer um pouco da trajetória da Valéria ? Tem interesse em pesquisa e inovação fora da academia ? Venha ler o texto da Luiza de Queiroz.