Cerveja Artesanal e Engenharia Química
Vitor Faria, Mai 8, 2019
Vitor Faria, Mai 8, 2019
Como um típico aluno de Engenharia Química, entrei no curso decidido a levar a minha carreira para a área de alimentos, e sonhava em produzir cerveja em uma AmBev da vida — em grande parte por gostar muito de cerveja. Isso foi na virada de 2013 para 2014, quando o mercado de cervejas artesanais ainda não tinha explodido no Brasil. Nessa época eu até sabia que existiam cervejas artesanais, mas nunca havia mergulhado nesse universo.
De lá pra cá, muita coisa aconteceu e hoje sou um dos vários alunos da Engenharia Química UFMG que tem uma produção caseira de cervejas artesanais, junto com outros alunos e ex-alunos do curso. E o que fez essa prática se tornar tão comum entre nós? Para entender melhor, vou contar um pouco da história de como se deu a minha relação com o mundo da cervejaria.
Ainda como calouro — que mal entendia alguma coisa sobre cerveja artesanal — tive a oportunidade de participar do COREEQ 2014 (Congresso Regional dos Estudantes de Engenharia Química), em Curitiba, no qual fiz um minicurso sobre Produção Artesanal de Cerveja com cervejeiros da Eisenbahn — a catarinense que hoje é famosinha e você encontra em muitos bares e supermercados, mas que na época ainda tinha sua atuação muito voltada para o Sul do país. Esse minicurso foi bem introdutório e, pra ser bem sincero, eu não lembro de ter aprendido quase nada, apenas que a República Tcheca era o país com maior consumo per capita do mundo, mas perderia para a Baviera se esse estado alemão fosse um país. Nesse mesmo evento, teve uma festa temática chamada EQtoberfest, com chopp Eisenbahn de diversos estilos (Weiss, Dunkel, Pale Ale, além da Pilsen que estamos acostumados).
Fonte: G1, 2017
Depois desse episódio, dois interesses que acabaram marcando os meus últimos anos se despertaram: pela Alemanha (que alguns anos depois acabou virando um intercâmbio) e pela ideia de produzir cerveja artesanal. Ênfase em “ideia”, pois ainda me considerava zero capaz de fazer uma coisa dessas, e não sabia por onde, nem como e nem com quem começar, então simplesmente arquivei essa ideia por tempo indeterminado — até que, em 2016, já com outra cabeça, outra forma de ver o mundo e outra postura diante de ideias empreendedoras (obrigado, Mult Jr e MEJ!), vi que a Casa OLEC estava dando cursos de produção artesanal de cerveja todo mês. Chamei amigos que poderiam se interessar também, mas acabou que fui sozinho fazer o curso de um domingo inteiro, com partes teórica e prática, passando por todas as etapas da produção. Dessa vez sim, prestei atenção em cada detalhe (esse foi o meu caderno com as anotações) e saí de lá animadíssimo para começar — só faltava alguém que se dispusesse a entrar nessa comigo.
Mais em: @roterberg.oficial
A essa altura do campeonato, já havia outras pessoas no curso produzindo (como o Fábio Palmer, Mateus Fiuza, Isadora Bicalho, dentre outros) e a professora Maria Helena já havia começado a ofertar esse tema como trabalho de LOP, e enquanto isso eu estava inserido numa novela de juntar as pessoas certas para começar a produzir. Ao final dessa novela, em julho de 2017, fechei meu pacto com o Tiago Queiroga, que fora meu assessor no AF da Mult no semestre anterior, e partimos pra comprar os equipamentos e nos instalar no barracão dos seus avós, lá no Coração Eucarístico. Começar foi uma jornada e tanto, mas o que mais nos animou foi ver que a nossa primeira leva de cerveja (uma Blonde Ale) tinha dado certo.
A partir daí, tudo desenrolou: compramos equipamentos melhores, testamos novas receitas, adotamos novas tecnologias, recrutamos mais gente pro nosso time, criamos uma marca e, acima de tudo, quebramos a cara várias vezes e aprendemos com os erros. Teve lote que congelou, teve lote que estragou, que ficou choco, que super carbonatou — e ainda bem que passamos por tudo isso, pois foi assim que desenvolvemos o knowhow que temos hoje.
E qual a relação disso com Engenharia Química? Sendo bem sincero, produzir cerveja não exige uma formação específica, mas foi uma oportunidade única de ver nuances de várias matérias nossas sendo aplicadas na prática, como Fenômenos de Transporte I e II, Transferência de Massa, Operações Unitárias, Cinética, Termodinâmica Física e Química, e por aí vai. Acredito que essa aderência com a nossa área de formação tenha uma parcela de culpa no fato de cada vez mais e mais alunos do nosso curso adotarem esse hobby. E pode até haver quem o chame pejorativamente de modinha do momento, mas o que eu posso dizer é: conheço poucas sensações tão boas quanto provar da sua própria cerveja, e constatar que ela é a sua favorita. E para aqueles alunos e ex-alunos do nosso curso que possuem vontade de produzir a sua própria, fica o meu encorajamento: Vai com tudo!
Vitor Faria, formado em 2019. Mai 8, 2019