TEXTOS DA SEMANA

Os textos ficam AQUI por uma semana, mas alguns deles podem também ser encontrados nos blogs e sites dos escritores, nestes links:  INÁCIO VALE - MAGDA MELO - PE. NELITO DORNELAS -   MARCELO BARROS-    PE. GEOVANE   - FREI BETTO  -  LEONARDO BOFFDOM WALMOR - DOM FONTINELE - VATICAN NEWS 

A Igreja que nasce em Pentecostes - Pe. Nelito Dornelas


A Igreja nasce por obra do Espírito Santo. O Espírito que havia atuado em Israel, o povo de Deus da antiga Aliança e que atuou na encarnação e em toda a vida de Jesus, inclusive em sua morte, ressuscitando-o, é o mesmo Espírito que agora, após sua ressurreição, faz nascer a Igreja. Jesus colocou os fundamentos, pregou o Reino, reuniu os doze Apóstolos, discípulos e discípulas, porém, a Igreja somente aparece, estritamente falando, após a Páscoa. 

No capítulo dois dos Atos dos Apóstolos, Lucas transmite-nos uma narração cheia de símbolos sobre o nascimento da Igreja em Pentecostes: vento, línguas de fogo, compreensão da mensagem do evangelho por diferentes povos. 

Em seguida, Lucas vai mostrando os frutos dessa ação do Espírito de Jesus sobre aquele pequeno núcleo de discípulos: conversões, batismos, carismas, milagres, a vocação de Paulo, a pregação aos gentios, a missão de levar a Boa Nova a todos os povos, as perseguições e os martírios. Novamente aparece o Espírito de Jesus como aquele que faz passar da morte à vida. 

De um grupo de homens e mulheres tímidos, covardes e duros de coração para entender as escrituras, o Espírito faz surgir uma comunidade Missionária, Universal, Católica, aberta a todas as raças e culturas, capaz de encarnar-se em todos os povos, superando toda divisão e discriminação.

A Igreja Pascal que nasce do Cristo ressuscitado

O capítulo vinte e um do Evangelho de João, sobre a aparição de Jesus ressuscitado no Lago de Tiberíades, apresenta-nos treze características essenciais que deverão estar presente na vida de toda a Igreja. Vejamos: 

1. Uma Igreja que nasce depois da Páscoa, reunindo os discípulos temerosos e dispersos (Jo 21,2-3);

2. Uma Igreja de pessoas pobres e frágeis: durante toda a noite não pescaram nada (Jo 2l, 3);

3. Uma Igreja centrada no Senhor que está na outra margem (Jo 21,4);

4. Uma Igreja missionária, que confiando na Palavra de Jesus, pesca grande quantidade de peixes (Jo 21,6);

5. Uma Igreja com carismas diferentes: João reconhece Jesus; Pedro se lança no mar (Jo 21,7-8);

6. Uma Igreja fraterna, reunida em torno da Eucaristia: o Senhor lhes preparou uma comida (Jo 21,12-13);

7. Uma Igreja onde o mistério está sempre presente: ninguém se atreve a perguntar a Jesus: quem é você? (Jo 21, 12);

8.Uma Igreja que sempre necessita de conversão: Pedro recorda com tristeza as suas negações anteriores, quando da paixão (Jo 21,17);

9. Uma Igreja baseada no Amor: Jesus pergunta a Simão Pedro se este o Ama (Jo 21,15-17);

10. Uma Igreja dirigida por Pedro: cuida das minhas ovelhas e de meus cordeiros (Jo 21,17);

11. Uma Igreja que enfrenta perseguições e o testemunho martirial: anuncia-se o martírio de Pedro (Jo 21,18);

12. Uma Igreja de seguimento a Jesus: Jesus pede a Pedro e a João que o sigam (Jo 21, 19-22);

13. Uma Igreja que espera que o Senhor retorne (Jo 21,22).

Que saibamos acolher neste Pentecostes os frutos do Espírito nesta Igreja que se deixa guiar pelo Espírito do ressuscitado.


A Voz divina que as águas falam - Marcelo Barros


Nesses dias, a tragédia que se abate sobre grande parte do Rio Grande do Sul e algumas regiões de Santa Catarina nos convida a ações de solidariedade imediata e emergencial, passo urgente e indispensável. No entanto, nos chama, principalmente, a acolher a mensagem que uma calamidade como essa pode nos dizer e nos fazer mudar de rumo no modo de viver e organizar a sociedade. 

Nos evangelhos, Jesus adverte: “Quando vocês veem uma nuvem se levantar no poente, sabem que virá chuva. Quando sentem soprar o vento sul, dizem que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas! Vocês sabem avaliar o aspecto da terra e do céu. Por que não sabem avaliar o tempo presente?” (Lc 12, 54-56). 

Há mais de 60 anos, na Igreja Católica, o papa João XXIII ensinava que “os sinais do tempo” se tornam categoria teológica e critério espiritual, através dos quais devemos discernir o que o Espirito diz, hoje, às Igrejas e ao mundo (Cf. Ap 2, 7). 

Infelizmente, quem, há quatro ou três anos, esperava que a humanidade saísse da pandemia diferente de como entrou, se decepcionou. Mesmo com a imensa multidão de vítimas e de muita gente que até hoje sofre consequências da Covid, a maior parte da sociedade dá a impressão de não ter aprendido nada com todo aquele sofrimento. 

Nesses dias, diante da tragédia das inundações no Sul do Brasil, há quem fale em vingança da natureza. Tradições indígenas propõem que a humanidade se reconcilie com os espíritos dos rios que não suportam mais tantas agressões. O que, nesses dias, está acontecendo no Sul, promete se repetir em outras regiões, nas quais a mineração destruiu rios, a especulação imobiliária ocupou desordenadamente espaços vitais da natureza os biomas estão seriamente ameaçados de extinção. 

Seja como for, sem dúvida, podemos e devemos interpretar o que está acontecendo a partir da crise ecológica que vivemos e da multidão de pessoas refugiadas não apenas de guerras e violências sociais e políticas, mas também das calamidades ecológicas nas quais a própria sociedade dominante tem grave responsabilidade. Além dessa análise social e política, acontecimentos como esse devem ser lidos a partir da espiritualidade, ou seja, contêm uma mensagem que diz respeito ao nosso modo de viver a fé e a missão, seja a partir da fé cristã, ou de tradições orientais, indígena, negras ou, simplesmente de espiritualidade humana não religiosa.  Precisamos responder a essa realidade com medidas que mudem nossa forma de organizar a sociedade, e de nos relacionarmos com a mãe-Terra, as águas e a natureza que nos rodeia. 

 Parece que nesses dias no Brasil, a natureza decidiu tornar atual a palavra que ressoa como refrão de um dos mais antigos salmos da Bíblia: 

“A voz de IHVH por sobre as águas. 

EL se manifesta; IHVH sobre as águas 

sobre as águas torrenciais” (Sl 29, 3). 


Nesses dias, que as Igrejas históricas do Ocidente celebram a festa de Pentecostes, é bom saber que, conforme os textos bíblicos mais antigos, o termo hebraico Ruah, Espírito, era a atmosfera que nos cerca. Posteriormente, foi identificado como Ventania. Entretanto, nos primeiros textos bíblicos, corresponde bem ao que, na América Latina, os povos andinos chamam de Pacha-Mama, a Mãe Terra. Também pode ser compreendido no sentido do Axé das comunidades de matriz africana. 

Assim sendo, podemos afirmar que a Ruah Divina corresponde ao que, na Laudato Si, carta-encíclica publicada na festa de Pentecostes de 2015,  o papa Francisco chama de “Ecologia Integral”, presença divina no universo e que, como energia amorosa, nos chama ao cuidado e à unidade de toda a comunidade da vida. 

De acordo com o livro dos Atos dos Apóstolos, a manifestação do Espírito, a Divina Ruah, sobre os primeiros discípulos e discípulas de Jesus não se deu em algum templo, ou sinagoga e sim na sala de uma casa de família (Cf At 2). Assim, nessa celebração de um novo Pentecostes, a Ternura Divina nos chama a ouvir sua voz a partir das inundações e da catástrofe que, claro, não são criadas por Deus, nem são obras do Espírito e sim frutos da ambição humana na agressão às águas que não têm mais para onde correr. 

O Espírito que falou a Moisés e ao povo hebreu, em meio à tempestade do Sinai (e a festa judaica de Pentecostes lembra isso cada ano), hoje, nos fala através das inundações do Sul e nos chama a nova mobilização pela Vida. 

A celebração desse novo Pentecostes deve se concretizar na nossa mobilização para que essa iniciativa de solidariedade que ocorre no Sul possa desembocar na implementação de políticas sociais que garantam vida digna não só para quem está sofrendo diretamente os efeitos da atual tragédia climática, mas para todas as pessoas, em todas as regiões. 

É nesse mutirão de solidariedade que poderemos tornar verdade a palavra que as Igrejas antigas cantam na entrada da celebração de Pentecostes: “O Espírito do Amor, 

     o universo todo encheu. 

     Tudo abarca em seu saber, 

     Tudo enlaça em seu amor, aleluia, aleluia...” 

(verso inspirado no Livro da Sabedoria, 1, 7).  


Como se formou e qual a intenção dos textos bíblicos? - frei Gilvander Moreira 

Ciente dos malefícios que péssimas interpretações de textos bíblicos tem causado aos povos ao longo da história da humanidade nos últimos 2 mil anos – cruzadas, guerras consideradas santas e justas, escravidão “justificada”, inquisição, padroado... – e atualmente a extrema direita, os fascistas, se escorando em interpretoses bíblicas para justificar homofobia, machismo, patriarcalismo, capitalismo neocolonial, devastação socioambiental, militarismo, discriminações, preconceitos..., importante se faz adquirirmos chaves de leitura sensata e libertadora da Bíblia, assim como de textos sagrados de outras religiões. 

Uma questão fundamental para uma boa compreensão de um texto bíblico em si mesmo é identificar a INTENÇÃO do texto. Qual o propósito do/a autor/a? Qual a mensagem que o texto quer transmitir? A intenção do texto é farol para uma boa interpretação. Sem captar a intenção do texto, andamos no escuro com farol apagado, o que pode levar a falsas interpretações.

Quando alguém pergunta: "Tudo bem?" e o interlocutor responde: "tudo bem" não está querendo dizer necessariamente que com ele está tudo bem. A intenção deste diálogo normalmente é revelar que quem perguntou se o outro estava bem gostaria de começar um processo de comunicação com o outro. Logo a intenção é abrir as portas para um diálogo.

Quando alguém chega para nós e diz: "eu te amo", estaria a pessoa fazendo apenas uma declaração ou estaria confessando um sentimento profundo e querendo ter uma resposta positiva à altura? Descobrir a intenção de um texto é fundamental para não misturar uma exortação como se fosse uma lei, por exemplo. No 4º evangelho da Bíblia, em Jo 2,1-11, que narra que Jesus transformou água em vinho, a intenção do texto seria mostrar que Jesus tem um superpoder, para além do humano, de transformar água em vinho? Não, pois “toda graça supõe a natureza”, dizia o teólogo Tomás de Aquino.  A intenção do texto é mostrar que a festa em Caná da Galileia era uma festa de pobre? Está presente este elemento, mas a intenção principal é criticar a religião oficial judaica que não consegue mais fazer com que a vida seja uma festa com vida e liberdade em abundância para todos/as e todes. Com seu projeto libertador, Jesus de Nazaré, com todas suas discípulas e seus discípulos, é que pode transformar a vida em uma festa duradoura, feliz e verdadeira. Logo, a intenção é dizer que Jesus é o vinho novo. O exame do gênero literário do texto – um dos sete sinais de Jo 2 a 11 e não um milagre - ajuda a compreender a intenção do/a autor/a e a finalidade da mensagem do texto. 

Importante considerar como se formou a Bíblia, que não caiu pronta do céu e nem foi ditada por Deus diretamente aos escritores/as. A Bíblia foi escrita em mutirão durante cerca de 1.300 anos. Os primeiros textos bíblicos foram registrados, provavelmente, lá pelo ano 1.200 antes da era cristã e os últimos lá pelos anos 115 da era cristã. Muita gente contribuiu para que a Bíblia fosse escrita. Gastou muitos séculos. Foi uma longa gestação, durou mais de um milênio para todos os livros da Bíblia serem escritos. Há vários tipos de Bíblias. A dos católicos tem 73 livros; a dos evangélicos, 66 livros, pois não reconhecem os sete livros deuterocanônicos como inspirados; a dos católicos ortodoxos, 78 livros. Há dezenas de traduções da Bíblia, umas muito boas e algumas ruins e ultrapassadas. 

Um dos textos mais antigos da Bíblia, provavelmente, seja o Cântico de Míriam – irmã de Moisés e Arão -, após a travessia do Mar Vermelho: "Cantai a Iahweh, pois de glória se vestiu; ele jogou ao mar cavalo e cavaleiro!" (Ex 15,21). Este canto brotou de um coração feliz que irradiava alegria ao ver que os povos escravizados estavam se libertando da escravidão do imperialismo dos faraós do Egito. O povo deve ter cantado muito este refrão pelo deserto afora, durante e depois da conquista da terra. Cantar este canto ecoava as maravilhas de Deus no meio do povo que marchava em busca da terra prometida. E logo depois, provavelmente, alguém registrou por escrito este canto que, após passar por muitas gerações, de boca em boca, foi escrito na Bíblia. Processo semelhante aconteceu com os outros textos bíblicos.

O capítulo 21 do quarto evangelho, o chamado Evangelho de João, é um dos últimos textos que entraram na Bíblia. Lá pelo ano 115, provavelmente, em Éfeso, Ásia menor, onde hoje é a Turquia, o redator final do quarto evangelho compôs o apêndice do evangelho do discípulo amado (Jo 21,1-23), no qual insiste no primado do amor (Jo 21,15-17), e fez uma nova conclusão (Jo 21,24-25). 

Os livros bíblicos (e também as singulares páginas) são o estágio final de um longo e complexo processo literário. Depois de uma longa tradição oral – de boca a boca, passando de pai para filhos/as... -, alimentando as comunidades na vida cotidiana e nas celebrações, os textos eram reformulados, ampliados, atualizados, adaptados segundo as necessidades de cada época e dos grupos que liam os textos.

Um estudo mais acurado dos textos bíblicos revela incoerências, falta de homogeneidade, contradições, tensões internas e saltos bruscos de um assunto para outro, lacunas, transições sintáticas e temáticas mal feitas, inúteis repetições etc.. Em síntese, na Bíblia temos, muitas vezes, um texto desorgânico e, às vezes, contraditório. Por isso também não se pode fazer leitura ao pé da letra escolhendo os versículos que se enquadram nas nossas pré-compreensões. A cultura hebraico-semita é eminentemente plural, não é de pensamento único como na sociedade capitalista que sempre tenta impor a uniformização. Para os povos da Bíblia, quando apareciam diversas versões sobre um acontecimento inspirador, registravam-se as várias versões. O uniformismo é herdeiro da cultura grega racionalista e para dominar tenta sempre impor um pensamento único e desqualificar os diferentes. Para os povos bíblicos a unidade se constrói na diversidade e na pluralidade. É no esplendor da diversidade que a teia da vida se reproduz. 

No decorrer do processo de gestação da Bíblia, os autores e as autoras bíblicas sofreram influência de outras culturas já desde os seus inícios em Canaã/Palestina sob o domínio egípcio e de povos circunvizinhos e mais tarde dos assírios, babilônios, persas, helenistas, romanos, gregos e de outras culturas. Mesmo assim os povos da Bíblia conservaram suas particularidades no campo cultural e religioso que se refletem nos escritos bíblicos pela diversidade de formas e gêneros literários conhecidos no seu tempo. 

13/05/2024

Obs.: A videorreportagem no link, abaixo, versa sobre o assunto tratado, acima.

1 – Um Tom de resistência - Combatendo o fundamentalismo cristão na política

https://www.youtube.com/watch?v=5zOV-dOpW-Q 

2 - Bíblia: privatizada ou lida de forma crítica libertadora? Por frei Gilvander, no Palavra Ética 

https://www.youtube.com/watch?v=pFRiBrjmcMQ 

3 - Deram-nos a Bíblia. “Fechem os olhos!” Roubaram nossa terra. Xukuru-Kariri, Brumadinho/MG. Vídeo 5

https://www.youtube.com/watch?v=8ACp7JOtRb8   

4 - Agir ético na Carta aos Efésios: Mês da Bíblia de 2023. Por frei Gilvander (Cinco vídeos reunidos)

https://www.youtube.com/watch?v=IBMdrHRNkB0  

5 - Andar no amor na Casa Comum: Carta aos Efésios segundo a biblista Elsa Tamez e CEBI-MG - Set/2022

https://www.youtube.com/watch?v=nUsZeprbRBY 

6 - Toda a Criação respira Deus: Carta aos Efésios segundo o biblista NÉSTOR MIGUEZ e CEBI-MG, set 2022

https://www.youtube.com/watch?v=bcIzASpx9Lo 

7 - Chaves de leitura da Carta aos Efésios, segundo o biblista PEDRO LIMA VASCONCELOS e CEBI/MG –Set./22

https://www.youtube.com/watch?v=1uc95pm6GeE 

8 - Estudo: Carta aos Efésios. Professor Francisco Orofino

https://www.youtube.com/watch?v=csZGT2S49SA 

9 - Carta aos Efésios: Agir ético faz a diferença! - Por frei Gilvander - Mês da Bíblia/2023 -02/07/2023

https://www.youtube.com/watch?v=IuTKCuFgfhw 

10 - Bíblia, Ética e Cidadania, com Frei Gilvander para CEBI Sudeste

https://www.youtube.com/watch?v=SHIi1O66RCg 

11 - Contexto para o estudo do Livro de Josué - Mês da Bíblia 2022 - Por frei Gilvander - 30/8/2022

https://www.youtube.com/watch?v=6XJpE9u8a18 

12 - CEBI: 43 anos de história! Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos lendo Bíblia com Opção pelos Pobres

https://www.youtube.com/watch?v=n8CGPjlaApE 


Corpo harmonioso - Dom Paulo Peixoto


Falar de corpo harmonioso é fazer referência a tudo que ocupa espaço e constitui unidade orgânica ou inorgânica, formado de peças justapostas e em sincronia, para atingir seus objetivos. Assim dizemos do corpo humano, de um animal, de uma entidade, de uma fábrica etc. Falamos também da Igreja, construída sob a ação de Jesus Cristo e sobre a prática consolidada dos apóstolos.

A sincronia de toda harmonia da Igreja está depositada na ação efetiva do Espírito Santo, iluminador das atividades da Sagrada Tradição, no percurso de mais de dois mil anos. É uma história com muitas situações positivas e negativas, porque o agente estruturador é a pessoa humana com todos os seus limites de fraqueza. Mas o Espírito Santo é o condutor, que não deixa a instituição parar.

A realização de uma festa qualquer supõe harmonia, fruto de organização e sintonia entre todos que a compõem. Assim é a Celebração da Páscoa, originariamente era uma festa agrícola, em agradecimento pelos frutos obtidos na colheita. A Páscoa dos judeus e dos cristãos é gratidão pelos frutos da ação de Deus na existência da humanidade, com sentido para a vida, formando um corpo coeso.

Na atualidade, mesmo com toda capacidade tecnológica de comunicação, encontramos realidades graves de preconceitos, de discriminação, de racismo e até de ódio, que dificultam a formação de corpos harmoniosos. Corações endurecidos não ajudam na harmonia de sociedade fraterna e unida, porque criam individualismo e descompromisso para com o bem comunitário, que favorece a todos.

As ideologias dificultam a vida das comunidades, inclusive familiar. O apóstolo Paulo chama a atenção da comunidade grega de Corinto, pois estava com dificuldade para acolher judeus, prosélitos e gentios no seu convívio (cf. I Cor 12,13). A unidade é fruto da ação de Deus através da força do Espírito Santo, fazendo surgir, entre todos, lideranças comprometidas com as necessidades locais.

Toda paz verdadeira é fruto de reconciliação, conquistado a partir de uma ação de confiança, vivenciada na harmonia da parte de quem dela participa. Só assim é possível superar todos tipo de medo, insegurança, tribulações, limitações e outras realidades individualistas encontradas na cultura moderna. Sem Deus é difícil formar um corpo harmonioso, formar uma comunidade que se prima pela felicidade.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.


ENTREVISTA LITERÁRIA DE JOSÉ HONÓRIO RODRIGUES (Primeira Parte)     Frei Betto

      FB: Muitos julgam que o pensamento liberal é o alicerce de nossa frágil democracia. O senhor concorda?

      JHR: Foi esse o papel dos liberais na história brasileira: derrotados nas urnas e afastados do poder, foram se tornando, além de indignados, intolerantes; e construíram uma concepção conspiratória da História, que considerava indispensável a intervenção do ódio, da intriga, da impiedade, do ressentimento, da intolerância, da intransigência, da indignação para o sucesso inesperado e imprevisto, tal como sucedeu em várias partes, de suas forças minoritárias. A concepção conspiratória da História tem, no Brasil, origens liberais. 

      FB: Pode detalhar como é essa atitude conspiratória?

      JHR: As conspirações visam a interromper o processo normal da vitória majoritária, especialmente depois das derrotas nas urnas, cujo veredito jamais aceitam, culpando o povo de imaturidade pela escolha. O processo histórico brasileiro tem sido anormalizado pela intervenção de forças minoritárias, especialmente depois do agravamento do desequilíbrio entre as aspirações brasileiras e as instituições arcaicas.

      FB: O brasileiro não é um povo conciliador?

      JHR: A política de conciliação foi quase sempre uma mistificação e serviu para tapear o curso do processo histórico.

      FB: Porém, há quem julgue o nosso processo histórico isento de revoltas. 

      JHR: Seria falso, ainda assim, dizer-se que nossa História desconhece o processo sangrento, pois o sofrimento, a miséria e a fome nos acompanham há séculos. Todos estes elementos têm sido obscurecidos por uma historiografia a serviço das elites e pelo grande desconhecimento de nossa formação. Uma historiografia não deve falar em nome da Tradição, mas da Verdade. 

      FB: O senhor acredita que a solução para o Brasil estaria na forma de governo?

      JHR: Creio ser um equívoco pensar que o mais grave problema brasileiro se manifesta nas chamadas crises sucessórias, o que leva observadores menos atentos a pensarem na reforma do Poder Executivo, como se Monarquia ou República, Presidencialismo ou Parlamentarismo fossem realmente capazes de evitar a instabilidade. Há uma relação de comportamento funcional entre a estabilidade econômica-social e a instabilidade política, e esta só desaparecerá quando aquela ajustar-se às exigências da vida brasileira. 

      FB: Concorda que há uma desconexão entre a classe política e a sociedade?

      JHR: O dissídio entre o Poder e a Sociedade é outra tese que merece atenção. Depois de tê-la escrito foi que, relendo Alberto Torres, vi que ele afirmava isso mesmo, ao escrever que “a separação da política e da vida social atingiu, em nossa Pátria, o máximo da distância” e, logo em seguida, que “a política é, de alto a baixo, um mecanismo alheio à sociedade, perturbador da ordem, contrário ao seu progresso”. O dissídio se manifesta especialmente na falta de integração social, pois praticamente dois terços do povo brasileiro são marginalizados, vivem na periferia do poder, nada tem a ver com ele, não participam de sua constituição, não têm vida cívica e sofrem do mais completo desinteresse da parte dos poderes. 

      FB: O senhor considera importante nova reforma eleitoral?

      JHR: As reforminhas eleitorais foram sempre a via inerte da caminhada brasileira. Nenhuma reforma foi completa e a própria Abolição não se concluiu com a reforma agrária. Os remendos dos fósseis são culpados da ressurreição dos problemas. O processo histórico brasileiro compõe-se mais de instantes de retardamento que de aceleração, e a liderança tem sido mais dominadora que criadora. A bandeira da reforma, da renovação, da modernização, é uma bandeira nacional, não pertence a grupos, deve romper as barreiras sociais e associar todos à missão comum, evitando as interrupções caóticas e fazendo voltar o poder à sua legitimidade através do voto popular. 

      Nota do autor: José Honório Rodrigues (1913-1987) foi historiador e membro da Academia Brasileira de Letras. Todas as palavras acima foram literalmente extraídas da Introdução de seu livro “Conciliação e Reforma no Brasil”, publicado em 1965 pela Civilização Brasileira. 

 

      Frei Betto é escritor, autor de “Minas do Ouro” (Rocco), que descreve 500 anos da história de Minas Gerais, entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org


O Amor Divino, força, libertação e Vida - Marcelo Barros

Festa de Pentecostes: Jo 20, 19 – 23. 


“O Espírito do Senhor, 

o universo todo encheu. 

Tudo abarca em seu saber, 

tudo enlaça em seu Amor, 

Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia”


Este verso bíblico, inspirado no Livro da Sabedoria (Sb 1, 7) é o refrão que, desde tempos muito antigos, a Igreja Latina usa para iniciar a celebração dessa festa de Pentecostes. Ele expressa bem a alegria que celebramos neste dia: a energia do amor divino espalhada por todo o universo. A ventania divina do Amor está presente em todas as criaturas e move o universo como grande organismo vivo, no qual tudo está interligado e tudo depende de tudo. 

No Judaísmo, Pentecostes é Shuvot: a festa das Semanas, ou seja, das colheitas. Na celebração deste domingo, a primeira leitura é o relato dos Atos dos Apóstolos do primeiro Pentecostes cristão que coloca como o Espírito de Deus veio como colheita da ressurreição de Jesus, 50 dias depois. Pentecostes inverte Babel e retoma o acontecimento do Sinai no qual Deus firma a aliança de amor com o seu povo. 

No primeiro Pentecostes cristão, contado no livro dos Atos dos Apóstolos (capítulo 2, 1- 11), o Espírito vem sobre a comunidade dos primeiros discípulos e discípulas de Jesus e lhes dá o dom de se compreenderem uns aos outros. O Amor Divino lhes permite falar de modo que muitas pessoas, vindas de vários lugares do mundo  e que falavam línguas diferentes, os compreendessem, cada uma no seu idioma. 

Pentecostes é a possibilidade de convivência e comunhão na diversidade das linguagens e de cada cultura. É o dom do diálogo entre culturas, entre gerações e entre espiritualidades. 

Em nossos dias, grande parte do Cristianismo é pentecostal, principalmente entre as pessoas mais pobres. As Igrejas e movimentos pentecostais têm função profética importante. Insistem no fato de que Pentecostes não foi só no primeiro momento do Cristianismo. Ocorre para nós cada dia. Deve ser vivido como acontecimento permanente e sempre renovado. Hoje, o Espírito vem de novo e nos dá os seus dons. 

O Pentecostalismo começou há mais de cem anos, em comunidades cristãs negras dos Estados Unidos, que reagiram ao racismo institucional, revelando às Igrejas e ao mundo, que o Espírito de Deus vem às pessoas pobres e às comunidades negras. Inspira as lutas das mulheres e conduz a todas as pessoas que são marginalizadas. Vem lhes dar força e luz para as lutas da vida. 

Infelizmente, em nossos dias, alguns grupos pentecostais se embranqueceram culturalmente e caíram no dualismo que divide o espiritual e a vida. Nos evangelhos, Jesus nos revelou que, quando o Espírito de Deus desceu sobre ele, o enviou para curar doentes, para libertar as pessoas que estavam presas e para anunciar a libertação que é para todos e todas: libertação integral, não só interior e moral. O que caracteriza Jesus é ser pentecostal como revolucionário e ser revolucionário como pentecostal. Podemos aprender isso de Jesus e unir essas duas dimensões da fé: o carisma pentecostal e a ação transformadora e revolucionária no mundo.  

O contrário do espírito pentecostal é o fundamentalismo. O apóstolo Paulo afirmou: “A letra mata. É o Espírito que faz viver”  (2 Cor. 3, 6). Hoje, nas Igrejas, existe fundamentalismo bíblico, fundamentalismo teológico e agora está na moda o fundamentalismo litúrgico que traduz textos latinos e antigos ao pé da letra e ensina que se quem celebra não recita literalmente cada sílaba do texto, Deus não aceita aquele sacramento. 


No evangelho proclamado neste dia (João 20, 19- 23) temos outro modo de contar o mesmo presente que recebemos de Deus. De acordo com esse relato, é no próprio domingo da ressurreição, que, na sua primeira manifestação ao grupo dos discípulos e discípulas reunidos, Jesus Ressuscitado vem, sopra sobre eles (e elas) e lhes dá o seu Espírito. 

A Bíblia conta que, no início, Deus soprou sobre a primeira humanidade para lhe dar vida. Assim, o Cristo Ressuscitado sopra sobre cada pessoa do grupo para lhe dar vida nova. Essa vida nova é a paz da aliança. É o dom da alegria messiânica. 

Na véspera da partida, Jesus tinha prometido: “Vocês estarão tristes, mas eu hei de ver vocês novamente e aí vocês vão se encher de uma alegria imensa (Jo 16, 20- 22).  Agora, o evangelho de hoje diz que eles e elas se encheram de imensa alegria ao verem o Senhor. E aos dons maravilhosos da paz e da alegria, o Ressuscitado junta ainda outro: o da reconciliação e do perdão. 

Nesse evangelho, Jesus não dá aos discípulos e discípulas a alternativa de perdoar ou não. Encarrega-os de discernir a realidade e dizer em nome de Deus quem é responsável e quem não é. É disso que se trata. 

Se nos abrirmos hoje ao Espírito Santo, seremos mesmo, eu e cada um/uma de vocês, profetas, profetizas de Deus. Portadores do Espírito. E com a tarefa de dizer o que “o Senhor nos manda dizer e fazer” nas Igrejas e no mundo. Mesmo se já nos alegramos com a presença em nós do Espírito, a Igreja nos aconselha a sempre pedirmos que Ele venha de novo e cada vez com mais força e nos impregne com o seu amor. 

Hoje, partilho com vocês, hoje, a oração de um místico muçulmano medieval que, de certa forma, revela como essa presença do Espírito se dá na pessoa que vive a fé e o amor divino: 

 

“De Ti e de mim, eu me admirei, 

ó meta do meu desejo. 

Aproximaste-me tanto de ti 

que acreditei que fosses meu eu. 

Ao te encontrar, tanto me ocultei, 

que em Ti fizeste que eu me extinguisse. 

Ó Tu que és minha graça, enquanto vivo 

e paz tranquila quando estiver sepultado. 

Só em ti reside o meu amor, 

porque és meu temor e segurança. 

Nos jardins dos teus significados, 

está contida toda minha arte, 

e se ainda desejo alguma coisa, 

és somente Tu todo o meu desejo!” 

(Oração de Al-Hallaj) .


Pentecostes. Como o Pai me enviou, eu também vos envio. Sobre eles soprou: Recebei o Espírito Santo - Padre Beozzo


Cinquenta dias depois da Páscoa, celebramos a festa do dom do Espirito Santo, no dia de Pentecostes. Os Atos dos Apóstolos registram esse momento. Os discípulos, depois de receberem o Espírito Santo, saem com destemor anunciando o evangelho e, com tanto entusiasmo, que os acusam de estarem bêbados (At 2, 1-11). 


No evangelho de hoje, João narra o primeiro encontro do Ressuscitado com os seus discípulos, que estavam reunidos com portas e janelas trancadas, “por medo dos judeus” (Jo 20, 19-23).


Jesus irrompe no meio deles e, por duas vezes, os saúda: “A paz esteja convosco”. Por medo de tudo e de todos, hoje em dia, nos trancamos por detrás de muros e cercas elétricas. Construímos condomínios “fechados” e nos isolamos com “portas e janelas” bem fechadas, para ninguém entrar. 


Nesses dias, as chuvas e inundações no Rio Grande do Sul, submergiram casas, praças, comércio e igrejas e também lavouras, pastagens e rebanhos. Levaram tudo de roldão. Provocaram, por outro lado, o milagre de nos tirar de nossa zona de conforto e da indiferença para com os demais. Milhares de pessoas juntaram-se a bombeiros, policiais e socorristas de defesa civil e saíram com barcos, lanchas, botes, canoas, jet-ski e mesmo a nado, para resgatar os que estavam refugiados no alto dos telhados. Casas, escolas, clubes, igrejas e salões paroquiais antes fechados, abriram suas portas, para acolher dezenas de milhares de desabrigados. 


Uma corrente de solidariedade em todo o país recolheu água, comida, roupas e colchões, preparou comida para acudir os que tudo perderam. Até o cavalo Caramelo e centenas de cachorros e gatos foram resgatados, para a alegria das crianças. 


Pentecostes irrompe no nosso meio para nos desinstalar, para superarmos nossos medos e desconfianças e acolher o dom do Espírito. Jesus envia os discípulos e também a nós: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (20, 21). 


Muitas comunidades, paróquias e dioceses renovam em Pentecostes o mandato de ministros e ministras da eucaristia, dos voluntários/as da pastoral dos enfermos, da pastoral carcerária, do socorro aos pobres e moradores em situação de rua, da pastoral da terra e do CIMI (Conselho Indigenista Missionário). 


O Ressuscitado nos envia como mensageiros e construtores da justiça e da paz. Para tanto, sopra sobre os discípulos e lhes diz: “Recebei o Espírito Santo”. Arremata ainda: “A quem perdoardes os pecados, estes lhes serão perdoados” (20, 22-23). 


Construir a paz e oferecer o perdão, restabelecer relações de confiança e solidariedade, significa acolher a promessa de Jesus aos seus seguidores: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (14, 23). Prometeu também que não nos deixaria órfãos e que nos enviaria o “espírito consolador”. Pentecostes é o cumprimento da promessa do envio do seu Espírito. Podemos, portanto, nessa festa, suplicar com confiança: “Envia o teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra” (Sl 103).


Resgatando a memória do Espírito Santo - Leonardo Boff

O Concílio Vaticano II afirma: “O Espírito de Deus dirige o curso da história com providência admirável, renova a face da Terra e está presente na evolução” (Gaudium et Spes,  26/281). Ele está sempre em ação. 

A presença do Espírito mais intensamente quando ocorrem rupturas instauradoras do novo. Quatro rupturas, próximas a nós, merecem ser mencionadas: a realização do Concílio Ecumênico do Vaticano Ii (1962-1965); a Conferência Episcopal dos bispos latino-americanos em Medellin (1969); o surgimento da Igreja da libertação; e a Renovação Carismática Católica.

1.Pelo Vaticano II (1962-1965)  a Igreja Católica acertou o passo com o mundo moderno e com suas liberdades. Principalmente estabeleceu um diálogo com o mundo da tecnologia e ciência, com o mundo do trabalho, com a secularização, com o ecumenismo, com as religiões  e com os direitos  humanos. O Espírito rejuvenesceu com ar novo as instituição eclesiástica.

2.Em Medellin (1968) acertou o passo com o sub-mundo da pobreza e da miséria que caracterizava e ainda caracteriza o continentente latino-americano. Na força do Espírito, os pastores latinoamericanos fizeram uma opção pelos pobres e contra a pobreza e decidiram implementar uma prática pastoral que fosse de libertação integral: libertação não apenas de nossos pecados pessoais e coletivos, mas libertação do pecado da opressão, do empobrecimento das massas, da discriminação dos povos originários, do desprezo pelos afrodescententes e do pecado da dominação patriarcal dos homens sobre as mulheres desde o neolítico.

3.Desta prática nasceu a Igreja da libertação, a terceira irrupção. Ela mostra seu rosto pela apropriação da leitura da Bíblia pelo povo, por um novo modo de ser Igreja mediante  as comunidades eclesiais de base, as várias pastorais sociais (dos indígenas, dos afrodescentes,  da terra, da saúde, das crianças e outras) e de sua correspondente reflexão que é  a teologia da libertação. Esta Igreja da libertação criou cristãos engajados politicamente do lado dos oprimidos e contra as ditaduras militares, sofrendo perseguições, prisões, torturas e assassinatos. Talvez é uma das poucas Igrejas que pode contar com tantos mártires como a Irmã Doroty Stang e até bispos como Angelleli na Argentina e Oscar Arnulfo Romero em El Salvador.

4.A quarta irrupção  foi o surgimento da Renovação Carismática Católica a partir de 1967 nos USA e na América Latina  a partir dos anos 70 do século XX. Ela trouxe de volta a centralidade da oração, da espiritualidade, da vivência dos carismas. Criaram-se comunidades de oração, de cultivo dos dons do Espírito Santo e de assistência aos pobres e doentes. Esta renovação ajudou a superar  a rigidez da organização eclesiástica, a frieza das doutrinas e rompeu com o monopólio da palavra detida pelo clero, abrindo espaço para a voz  livre dos fiéis.

Estes quatro eventos só são bem avaliados quando os colocarmos sob a ótica do Espírito Santo. Ele sempre irrompe na história e de forma inovadora na Igreja que a partir daí se faz geradora de esperança e de alegria de viver a fé. A hierarquia da Igreja deve deixar de lado as disputas internas e interesses pessoais para criar espaço para o Espírito poder inspirar com coragem e determinação a escolha de rumos, atitudes a serem tomados num mundo vivendo a 3ª guerra mundial aos pedaços, com a venda de armamentos acima do valor da vida e paz mundial

Hoje vivemos talvez a maior crise da história da humanidade. É um tempo invernal. Ela é uma crise maior porque pode ser terminal. Com efeito, nós estamos brincando com os instrumentos da auto-destruição. Construímos uma  máquina de morte que pode nos matar a todos e liquidar toda a nossa civilização, tão custosamente construída em milhares e milhares de anos de trabalho criativo. Junto conosco poderá perecer grande parte da biodiversidade. Se essa tragédia ocorrer, a Terra continuará sua trajetória, coberta de cadáveres, devastada e empobrecida,  mas sem nós.

Por esta razão, dizemos que com nossa tecnologia de morte inauguramos uma nova era geológica: o antropoceno. Quer dizer, o ser humano está se mostrando como o grande meteoro rasante ameaçador da vida. Aparentemente ele está preferindo a autodestruição de si mesmo e a danificação perversa da Terra viva, do que mudar de estilo de vida, de relação para com a natureza e  com a Mãe Terra.  

Como outrora na Palestina, judeus preferiam Barrabás a Jesus. Os  atuais inimigos da vida poderão preferir  “Herodes” às crianças inocentes. Mostrar-se-ão de fato o Satã da Terra ao invés de serem o Anjo da Guarda da criação.

É nesse momento que invocamos, implorados e gritamos a oração litúrgica da festa de Pentecostes: “Vem Espírito Santo, envia do céu um raio de tua luz”.

Sem a volta do Espírito, corremos o risco de que a crise deixe de ser chance de purificação e degenere numa tragédia sem retorno. Nas comunidades eclesiais nesta festa de Pentecostes devemos cantar com mais força ainda: “Vinde, Espírito Santo e renova a face da Terra”.


SOLENIDADE DE PENTECOSTES-Thomas Mc Grath

LEITURA ORANTE - Solenidade de Pentecostes 

Na Leitura Orante de Pentecostes a celebração nos convida a olhar para o Espírito Santo e a tomar consciência da sua ação na Igreja e no mundo. O Espírito Santo, transforma, renova, orienta, anima, fortalece, constrói comunidade, promove unidade, transmite força para assumir o Evangelho de Jesus. 

Portanto vamos iniciar reconhecendo que nós somos pecadores, confiando mais nas nossas forças do que na ação do Espirito Santo em nós: Confesso a Deus ...

Vamos pedir a presença do Espírito Santo para nos ajudar:

Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso Amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.

Oremos: Ó Deus que instruíste os corações dos vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo Senhor Nosso. Amém

Oremos. 

Ó Deus, que pelo mistério da festa de Pentecostes o Senhor santifica a sua Igreja, em todos os povos e nações, derramai por toda a extensão do mundo os dons do seu Espírito Santo, e realizai agora, no coração de todos que acreditam no Senhor, as maravilhas que operou no início da pregação do Evangelho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.  – Amém.

Deus quer nos falar nas leituras de hoje

Na primeira leitura, do livro dos Atos dos Apóstolos, São Lucas nos  apresenta o Espírito Santo como a Lei Nova que orienta e anima o Povo do Novo Testamento. O Espírito faz com que homens e mulheres de todas as raças e culturas acolham a Boa Nova de Jesus e formem uma comunidade unida e fraterna, que fala a mesma língua, a do amor.

Atos dos Apóstolos 2,1-11

1 Quando chegou o dia de Pentecostes, todos os seguidores de Jesus estavam reunidos no mesmo lugar.

2 De repente, veio do céu um barulho que parecia o de um vento soprando muito forte e esse barulho encheu toda a casa onde estavam sentados.

3 Então todos viram umas coisas parecidas com chamas, que se espalharam como línguas de fogo; e cada pessoa foi tocada por uma dessas línguas.

4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, de acordo com o poder que o Espírito dava a cada pessoa.

5 Estavam morando ali em Jerusalém judeus religiosos vindos de todas as nações do mundo.

6 Quando ouviram aquele barulho, uma multidão deles se ajuntou, e todos ficaram muito admirados porque cada um podia entender na sua própria língua o que os seguidores de Jesus estavam dizendo.

7 A multidão ficou admirada e espantada e comentava:

— Estas pessoas que estão falando assim são da Galileia!

8 Como é que cada um de nós as ouvimos falar na nossa própria língua?

9 Nós somos da Pártia, da Média, do Elão, da Mesopotâmia, da Judeia, da Capadócia, do Ponto, da província da Ásia,

10 da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia que ficam perto de Cirene. Alguns de nós são de Roma.

11 Uns são judeus, e outros, convertidos ao Judaísmo. Alguns são de Creta, e outros, da Arábia. E como é que todos estamos ouvindo essa gente falar em nossa própria língua a respeito das grandes coisas que Deus tem feito?


Nessa segunda leitura, tirada da Primeira Carta aos Coríntios, Paulo apresenta o Espírito como fonte de Vida para a comunidade cristã. É o Espírito que concede os dons para enriquecer a comunidade e aumentar a unidade de todos os membros. Por isso, os dons do Espírito não podem ser usados em benefício pessoal, mas colocados ao serviço de todos.

I Coríntios –12,3b-7.12-13

3 Por isso precisam compreender que ninguém que diz "Que Jesus seja maldito!" pode estar falando pelo poder do Espírito de Deus. E que ninguém pode dizer "Jesus é Senhor", a não ser que seja guiado pelo Espírito Santo.

4 Existem tipos diferentes de dons espirituais, mas é um só e o mesmo Espírito quem dá esses dons.5 Existem maneiras diferentes de servir, mas o Senhor que servimos é o mesmo.6 Há diferentes habilidades para realizar o trabalho, mas é o mesmo Deus quem dá a cada um a habilidade para fazê-lo.7 Para o bem de todos, Deus dá a cada uma alguma prova da presença do Espírito Santo.

8 Para uma pessoa o Espírito dá a mensagem de sabedoria e para outra o mesmo Espírito dá a mensagem de conhecimento.

9 Para uma pessoa o mesmo Espírito dá fé e para outra dá o poder de curar.1

0 Uma pessoa recebe do Espírito o poder para fazer milagres, e outra recebe o dom de anunciar a mensagem de Deus. 

Ainda outra pessoa recebe a capacidade para saber a diferença entre os dons que vêm do Espírito e os que não vêm dele. 

Para uma pessoa o Espírito dá a capacidade de falar em línguas estranhas e para outra ele dá a capacidade de interpretar o que essas línguas querem dizer.1

1 Porém é um só e o mesmo Espírito quem faz tudo isso. Ele dá um dom diferente para cada pessoa, conforme ele quer. Um corpo e muitas partes

12 Cristo é como um corpo, o qual tem muitas partes. E todas as partes, mesmo sendo muitas, formam um só corpo.13 Assim, também, todos nós, judeus e não judeus, escravos e livres, fomos batizados pelo mesmo Espírito para formar um só corpo. E a todos nós foi dado de beber do mesmo Espírito.


O Evangelho nos apresenta a comunidade dos seguidores de Jesus reunida com Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva, recriada, renovada, a partir do dom do Espírito. Fortalecidos pelo Espírito que Jesus ressuscitado lhes transmite, os discípulos podem partir ao encontro do mundo para o transformar e renovar.

 João 20,19-23

19 Naquele mesmo domingo, à tarde, os discípulos de Jesus estavam reunidos de portas trancadas, com medo dos líderes judeus. Então Jesus chegou, ficou no meio deles e disse: — Que a paz esteja com vocês!

20 Em seguida lhes mostrou as suas mãos e o seu lado. E eles ficaram muito alegres ao verem o Senhor.

21 Então Jesus disse de novo: — Que a paz esteja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.

22 Depois soprou sobre eles e disse: — Recebam o Espírito Santo. 23 Se vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são perdoados.


SALMO 104 

1 Ó Senhor Deus, que todo o meu ser te louve! Ó Senhor, meu Deus, como és grandioso! Estás vestido de majestade e de glória 2 e te cobres de luz. 

24 Ó Senhor, tu tens feito tantas coisas e foi com sabedoria que as fizeste. A terra está cheia das tuas criaturas.

29 Quando escondes o rosto, ficam com medo; se cortas a respiração que lhes dás, eles morrem e voltam ao pó de onde saíram.

30 Porém, quando lhes dás o sopro de vida, eles nascem; e assim dás vida nova à terra.

31 Que a glória de Deus, o Senhor, dure para sempre! Que ele se alegre com aquilo que fez!

33 Cantarei louvores ao Senhor enquanto eu viver; cantarei ao meu Deus a vida inteira.

34 Que o Senhor fique contente com a minha canção, pois é dele que vem a minha alegria!

Que todo o meu ser te louve, ó Senhor Deus! Aleluia!


A Nós Descei Divina Luz

https://youtu.be/r68_6NBkNTQ 

A nós descei, Divina Luz!

A nós descei, Divina Luz!

Em nossas almas acendei

O amor, o amor de Jesus!

Em nossas almas acendei

O amor, o amor de Jesus!

Vinde, Santo Espírito, e do céu mandai

Luminoso raio, luminoso raio!

Vinde, Pai dos pobres, doador dos dons

Luz dos corações, luz dos corações!

Grande defensor, em nós habitai

E nos confortai, e nos confortai!

Na fadiga, pouso; no ardor, brandura

E na dor, ternura, e na dor, ternura! R

Ó Luz venturosa, divinais clarões

Encham os corações, encham os corações!

Sem um tal poder, em qualquer vivente

Nada há de inocente, nada há de inocente!

Lavai o impuro e regai o seco

Sarai o enfermo, sarai o enfermo!

Dobrai a dureza, aquecei o frio

Livrai do desvio, livrai do desvio! R


Aos fiéis que oram, com vibrantes sons

Dai os sete dons, dai os sete dons!

Dai virtude e prêmio, e no fim dos dias

Eterna alegria, eterna alegria!

Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia!

Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia! R