5º PÁSCOA-A

QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA-ANO A

07/05/2023

LINK AUXILIAR:

AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


Primeira Leitura: Atos 6,1-7

Salmo Responsorial: 32(33) Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, da mesma forma que em vós nós esperamos!

Segunda Leitura: 1 Pedro 2,4-9 

Evangelho: João 14,1-12

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós, e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais  também vós.  E para onde eu vou, vós sabeis o caminho”. Tomé disse a Jesus: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho”? Jesus respondeu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vós me conhecêsseis, saberiam também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”. Disse Filipe> “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta”! Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo: quem acredita em mim fará as obras que eu faço e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai”. Palavra de Salvação. 


DE DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP


Jo 14,1-12

Quando estamos diante de um filho, somos levados a pensar no pai, porque vigora sempre alguma semelhança entre pai e filho. Em alguns filhos, a semelhança é tão grande que chegamos a dizer: “é a cara do pai!”

Com Jesus não ocorre assim. Entre Ele e o Pai eterno não há semelhança de natureza; é a mesma natureza em um e em outro. Por isso devemos reconhecer: estar diante do Filho é o mesmo que estar diante do Pai. Em Jesus, o Pai se nos revelou assim como Ele é. 

Muitas vezes nossa tendência é a de imaginar Deus, para depois projetar em Jesus algo deste divino que nós imaginamos. As palavras de Jesus nos obrigam a pensar de modo inverso: devemos olhar para Jesus de Nazaré, para sua vida, palavra e morte, e depois dizer: assim é Deus, assim é o Pai!

Jesus nos assegura que as suas palavras não vêm dele, mas do Pai (Jo 14,10). Podemos sintetizar as palavras de Jesus em duas: Pai (quem é Deus) e Reino de Deus (qual é seu desígnio).

Jesus nos revela Deus de infinita bondade e que ama os ingratos e maus; porque se revela como Pai, nos revela também que somos seus filhos e, consequentemente, irmãos uns dos outros. Em seguida, este Pai nos comunica, por Jesus, seu próprio desígnio, aquilo que chamamos de Reino de Deus. Reino de Deus é a transfiguração de toda a criação que não será destruída, mas purificada e exaltada; nela não haverá mais injustiça nem motivo de lágrimas, nem morte. Este reino não é totalmente futuro e longínquo, mas ele já está dentro de nós e irrompeu na pessoa de Jesus. Jesus é a presença do Reino de Deus, feito carne. 

As palavras de Jesus nos advertem, também, que neste Reino não se entra mecanicamente, mas é necessário aceitá-lo na fé: é preciso crer em Jesus e se converter. Converter-se exige rupturas, largar o pecado e assumir novas atitudes no espírito das bem-aventuranças.


Caminho – verdade – vida: três fomes que nos humanizam - Pe Adroaldo Paloro


“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6)


A conversação de Jesus com os discípulos no evangelho deste domingo faz parte do chamado “discurso de despedida”, antes de sua morte. Quando ela acontece, o clima entre os discípulos era de máxima tensão e de espera incerta do desenlace. No final da última Ceia começam a intuir que Jesus já não estará muito tempo com eles. A saída precipitada de Judas, o anúncio de que Pedro o negará em breve, as palavras de Jesus falando de sua próxima partida, deixaram a todos desconcertados e abatidos.


O que vai acontecer com eles?

Jesus capta a tristeza e a perturbação deles. Seu coração se comove. Esquecendo-se de si mesmo e daquilo que o espera, Jesus procura animá-los: “Que não se perturbe vosso coração; crede em Deus e crede também em mim”. E, no curso dessa conversação, Jesus faz esta confissão: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai, senão por mim”. Não devem nunca esquecer isso.

É nesse contexto de despedida que Jesus se atreve a dizer “eu sou”, mas não um eu isolado em si (um eu sem Deus, um eu sem os outros), mas um eu aberto ao Pai (um eu-caminho) e dirigido a todos que queiram acolhê-lo (um eu-expansivo, que se faz verdade e vida para todos). O “eu” de Jesus se faz caminho, um caminho para o Pai, um caminho no qual a verdade se revela e a vida se abre.

Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Estamos diante da afirmação mais densa referida à identidade e à essência de Jesus. Não se conhece na história das religiões uma afirmação tão audaz. Jesus se oferece como o caminho que podemos percorrer para entrar no mistério de um Deus Pai. Ele nos faz descobrir o segredo último da existência. Ele pode nos comunicar a vida plena que todo coração humano aspira.

O conceito de “caminho” supõe um destino, o Pai. O conceito de “verdade” pressupõe um conteúdo, o mesmo Jesus. Dos três termos, o único absoluto é “Vida”. Porque possui a Vida, Jesus é verdade e é caminho.


Hoje reina, em quase todos os ambientes, a confusão, a dispersão o medo. Há muitos que buscam um caminho para sobreviver: os imigrantes, os refugiados, os famintos, os que não têm um horizonte de sentido... Outros, em meio a uma solidão de um mundo hiper-conectado, sentem a desorientação da multiplicidade de mensagens portadoras de mentiras e “fake-news”. Outros ainda esvaziam suas vidas investindo no poder, na vaidade, no acúmulo de riquezas...e acabam caindo na maior frustração e vazio interior.

“Eu sou o caminho”. O problema de muitos não é que vivem extraviados ou perdidos. Simplesmente vivem sem direção, envolvidos numa espécie de labirinto: andando e girando por mil caminhos que, a partir de fora, não os levam a lugar nenhum.


E o que pode fazer um homem ou uma mulher quando se encontra sem caminho? A quem dirigir-se? Aonde acudir? Se se aproxima de Jesus o que encontrará não é uma religião, mas um caminho. Às vezes, avançará com fé; outras vezes, encontrará dificuldades; poderá até retroceder, mas está no caminho certo que conduz ao Pai. Esta é a promessa de Jesus.

Jesus não diz “eu sou o templo, o edifício, a plataforma, o porto”. Diz “eu sou o caminho”. É como dizer: “eu sou a maneira de andar, de dirigir-se ao horizonte, de navegar”. Ele não é um ser-refúgio entre nuvens, mas que “se faz caminho ao andar”, vive inserido na realidade do dia a dia, presente nos sonhos, nos problemas e desafios dos seus seguidores.

“Eu sou a verdade”. Estas palavras soam como convite escandaloso aos ouvidos pós-modernos. Nem tudo se reduz à razão. A teoria científica não contém toda a verdade. O mistério último da realidade não se deixa prender pelas análises mais sofisticadas. O ser humano é chamado a viver diante do mistério último da realidade.


“Verdade” que não se reduz a teorias, a dogmas, doutrinas..., mas transparência da nossa essência, do nosso ser verdadeiro. Jesus não diz: “eu tenho a verdade”, mas, “eu sou a verdade”, “sou verdadeiro”, coerente com o seu modo de ser e viver.

“Eu sou a vida”. Jesus pode transformar nossa vida. Não como o mestre distante que deixou um legado de sabedoria admirável à humanidade, mas como alguém vivo que, a partir do mais profundo de nosso ser, nos infunde um germe de vida nova.


Esta ação de Jesus em nós acontece quase sempre de forma discreta e silenciosa. O seguidor d’Ele só intui uma presença imperceptível. Às vezes, no entanto, nos invade a certeza, a alegria transbordante, a confiança total: Deus existe, nos ama, tudo é possível, inclusive a vida eterna.


Nunca entenderemos a fé cristã se não acolhemos Jesus como o Caminho, a Verdade e a Vida.

Caminho, Verdade e Vida: três grandes “fomes humanizadoras”; elas apontam para o sentido da nossa existência; expressam as três grandes buscas do ser humano. Três dimensões que nos fazem mais humanos. Não são necessidades periféricas, imediatas. Jesus se apresenta como resposta a estas buscas.

O ser humano é ser de travessia: é peregrino por natureza, busca um horizonte, desloca-se em direção a uma plenitude. Jesus se faz o centro deste Caminho.


Ali onde alguém faz o caminho como Jesus fez (peregrino entre os mais pobres e excluídos) está deixando transparecer em sua vida o rosto do Pai. Por isso, quem o vê, quem vive como Ele (em amor aberto à vida) vê o Pai da vida. Trata-se de “ver a Jesus” (esta é a experiência pascal), de vernos caminhando com Ele, assumindo Sua verdade, vivendo na dinâmica de Sua vida.

Nós somos a verdade, em um nós aberto, como Jesus, aberto a todos os que vão e vem, de um modo especial os mais pobres, os excluídos de todos os sistemas de “verdade” do mundo. Somos “verdade” na medida que somos verdadeiros, transparentes, sem segundas intenções...

O ser humano aspira vida plena; Jesus viveu intensamente; “morreu de tanto viver” – vida expansiva, voltada para os outros, compromisso com a vida. Plenificação de todas as dimensões da vida: corporal, afetiva, social, intelectual, religiosa...


Ser seguidor(a) de Jesus é fixar o olhar n’Ele, pois Ele é o centro do nosso caminho; ao caminhar com Ele, vamos nos revelando e a partir d’Ele vamos descobrindo nosso ser verdadeiro (que nos abre para acolher a verdade presente em cada ser humano – verdade que vai além das verdades religiosas, políticas, racionais).


Quem se descobre verdadeiro e sem máscara, vive profundamente, alarga sua vida a serviço dos sem-vida. Esta é a via da humanização; e quanto mais nos humanizamos, mais nos divinizamos.


Por isso, Jesus, o homem radical, deixa transparecer o rosto do Pai: “quem me vê, vê o Pai”.

Esta nossa busca começa no retorno ao interior, onde o Senhor nos habita e nos move.

Podemos então afirmar que a busca de Deus e o encontro com Ele, a partir de Sua iniciativa, coincidem com a busca e o encontro de nós mesmos; buscar a Deus consiste, de algum modo, em buscar-nos a nós mesmos, isto é, o mais profundo e autêntico de nós, fruto da iniciativa criadora e amorosa do Senhor; trata-se daquele lugar e daquela direção profunda de nossa vida pessoal onde desvelamos a ação do Espírito que atua em nós.

Viver a partir de dentro: Deus habita no mais profundo de nós mesmos e realiza sua obra fazendo-nos nós mesmos, fazendo-nos pessoas únicas, originais, sagradas...

No nosso eu mais profundo habita o Espírito que, como “Senhor e doador da Vida”, configura nossa existência. Aqui se manifesta a ação personalizadora de Deus; este mesmo Deus nos individualiza de maneira totalmente original e irrepetível.


Podemos entrar “em nossa morada interior” porque ali se encontra a dimensão de eternidade que nos faz peregrinos, transparentes de nosso ser verdadeiro e famintos de vida plena.


Para meditar na oração


Como cristãos, a maior frustração é ter pouco ou nada a oferecer ao mundo de hoje, pouco ou nada que justifique nossa existência como seguidores(as) d’Aquele que se revelou como “Caminho-Verdade-Vida”.


- Estas são as “fomes existenciais” presentes no seu interior?


Não fiqueis sem Jesus - José Antonio Pagola


Tradução Antonio Manuel Álvarez Perez

No final da última ceia, Jesus começa a despedir-se dos seus: já não estará muito tempo com eles. Os discípulos ficam confusos e oprimidos. Embora não lhes fale claramente, todos intuem que em breve a morte o arrebatará do seu lado. O que será deles sem Ele?

Jesus vê-os abatidos. É o momento de os reafirmar na fé, ensinando-os a crer em Deus de forma diferente: «Que não trema o vosso coração. Acreditai em Deus e acreditai também em Mim». Devem continuar a confiar em Deus, mas a partir de agora também devem acreditar Nele, pois é o melhor caminho para acreditar em Deus.

Jesus então mostra-lhes um horizonte novo. A Sua morte não deve fazer naufragar a sua fé. Na realidade, deixa-os para encaminhar-se para o mistério do Pai. Mas não os esquecerá. Continuará a pensar neles. Preparará para eles um lugar na casa do Pai e um dia voltará para levá-los com Ele. Por fim estarão de novo juntos para sempre!

Os discípulos têm dificuldade em acreditar em algo tão grandioso. Nos seus corações desperta-se todo o tipo de dúvidas e interrogações. Também a nós nos sucede algo semelhante: tudo isso não será um belo sonho? Não será uma ilusão enganosa? Quem nos pode garantir semelhante destino? Tomé, com o seu sentido realista de sempre, apenas lhe faz uma pergunta: como podemos saber o caminho que leva ao mistério de Deus?

A resposta de Jesus é um desafio inesperado: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida». Não se conhece na história das religiões uma afirmação tão audaz. Jesus oferece-se como o caminho que podemos recorrer para entrar no mistério de um Deus Pai. Ele pode-nos descobrir o segredo último da existência. Ele pode nos comunicar a vida plena que deseja o coração humano.

Hoje existem muitos homens e mulheres que ficaram sem caminhos para Deus. Não são ateus. Nunca rejeitaram conscientemente Deus. Nem eles mesmo sabem se acreditam ou não. Talvez tenham deixado a Igreja porque não encontraram nela um caminho atraente para procurar com alegria o mistério final da vida que os crentes chamam de «Deus».

Ao abandonar a Igreja, alguns abandonaram ao mesmo tempo Jesus. A partir destas modestas linhas, quero-vos dizer algo que muitos já intuíram, Jesus é maior que a Igreja. Não confundais Cristo com os cristãos. Não confundais o seu evangelho com os nossos sermões. Mesmo que não deixeis tudo, não fiqueis sem Jesus. Nele encontrareis o caminho, a verdade e a vida que nós não fomos capazes mostrar. Jesus pode vos surpreender.


João 14,1-17 - Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida - Mesters, Lopes e Orofino.


No texto de hoje, vamos meditar mais um aspecto da conversa que Jesus teve com seus amigos e suas amigas, durante a última ceia, na véspera de ser preso e executado na cruz. Era uma conversa amiga bem prolongada, que ficou na memória do Discípulo Amado. Jesus, assim parece, queria prolongar ao máximo esse último encontro amigo, momento de muita intimidade. O mesmo acontece hoje. Tem conversa e conversa. Conversa superficial que gasta palavras à toa e revela o vazio das pessoas. E tem conversa que vai fundo no coração. Todos nós, de vez em quando, temos esses momentos de convivência amiga, que dilatam o coração e vão ser força na hora das dificuldades. Ajudam a ter confiança e a vencer o medo.  

SITUANDO

1. Nos cinco capítulos do Evangelho de João que descrevem a despedida de Jesus (13 - 17), percebe-se a presença de três contextos que perpassam este Evangelho do início ao fim: 

(1) a época de Jesus, 

(2) o tempo das comunidades do Discípulo Amado e 

(3) a época daquele que fez a última redação do Quarto Evangelho.

Nestes capítulos, as três épocas estão de tal maneira entrelaçadas que o todo se apresenta como uma peça única de rara beleza e inspiração, em que é difícil distinguir o que é de uma e o que é de outra época.

2. Estes cinco capítulos (Jo 13 a 17) são um exemplo de como as comunidades do Discípulo Amado faziam catequese. O capítulo 14, por exemplo, é uma catequese que ensina as comunidades como viver sem a presença física de Jesus. Eles faziam isso por meio de perguntas e respostas. As perguntas dos três discípulos, Tomé (Jo 14,5), Filipe (Jo 14,8) e Judas Tadeu (Jo 14,22), eram também as perguntas das comunidades. Assim, as respostas de Jesus para os três eram um espelho em que as comunidades encontravam uma resposta para as suas próprias dúvidas e dificuldades.

COMENTANDO

1. Jo 14,1-2: Nada te perturbe! O texto começa com uma exortação: “Não se perturbe o coração de vocês!” Em seguida, diz: “Na casa de meu Pai, há muitas moradas”. A insistência em conservar palavras de ânimo que ajudam a superar a perturbação e as divergências é um sinal de que devia haver muita polêmica entre as comunidades. Uma dizia para a outra: “Nós estamos salvos! Vocês estão erradas! Se quiserem ir para o céu, têm que se converter e viver como nós vivemos!” Jesus diz: “Na casa de meu Pai, há muitas moradas”. Não é necessário que todas as pessoas pensem do mesmo jeito. O importante é que aceitem Jesus como revelação do Pai e que, por amor a ele, tenham atitudes de serviço e de amor. O cimento, que liga entre si os tijolos e faz as várias comunidades ser uma Igreja de irmãs e de irmãos, é o Amor e o serviço.

2. Jo 14,3-4: Jesus se despede. Jesus diz que vai preparar um lugar e, depois, retornará para levar-nos com ele para a casa do Pai. Quer que estejamos com ele para sempre. O retorno de que Jesus fala é a vinda do Espírito que ele age e que trabalha em nós, para que possamos viver como ele viveu (Jo 14,16-17.26; 16,13-14). Jesus termina dizendo: “Para onde eu vou, vocês conhecem o caminho”. Quem conhece Jesus conhece o caminho, pois o caminho é a vida que ele viveu e que o levou, pela fidelidade até a cruz, para junto do Pai.

3. Jo 14,5-7: Tomé pergunta pelo caminho. Tomé diz: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Jesus responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida!” Três palavras importantes. Sem caminho, não se anda. Sem verdade, não se acerta. Sem vida, só há morte. Jesus explica o sentido. Ele é o caminho, porque “ninguém vem ao Pai senão por mim!”, pois ele é a porteira por onde as ovelhas entram e saem (Jo 10,9). Jesus é a verdade, porque, olhando para ele, vemos a imagem do Pai. “Se vocês me conhecem, conhecerão também o Pai”. Jesus é a vida, porque, caminhando como Jesus caminhou, estaremos unidos ao Pai e teremos a vida em nós.

4. Jo 14,8-11: Filipe pergunta pelo Pai. “Mostra-nos o Pai, e basta!” Era o desejo de muita gente nas comunidades de João: como é que a gente faz para ver o Pai de que Jesus fala tanto? A resposta de Jesus é muito bonita e vale até hoje: “Filipe, tanto tempo estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece! Quem me vê, vê o Pai!” Não devemos pensar que Deus está longe de nós, como alguém distante e desconhecido. Quem quiser saber como é e quem é Deus Pai, basta olhar para Jesus. Ele o revelou nas palavras e gestos da sua vida. “O Pai está em mim e eu estou no Pai!” Por sua fidelidade, Jesus estava totalmente identificado com o Pai. Ele, a cada momento, fazia o que o Pai mostrava que era para fazer (Jo 5,30; 8,28-29.38). Por isso, em Jesus tudo é revelação do Pai. E os sinais ou as obras de Jesus são as obras do Pai. Como diz o povo: “O filho é a cara do pai!” Por isso, em Jesus e por Jesus, Deus está no meio de nós.

5. Jo 14,12-13: Promessa de Jesus. Jesus faz uma promessa para dizer que a intimidade dele com o Pai não é privilégio só dele, mas é possível para todos os que creem, aderindo a ele. Nós também, por meio de Jesus, podemos chegar a fazer coisas bonitas para os outros do jeito que Jesus fazia para o povo do seu tempo. “Quem crê em mim fará as obras que faço e fará até maiores do que elas, porque vou para o Pai”. Ele vai interceder por nós. Tudo que pedirmos a ele, ele vai pedir ao Pai e vai conseguir, contanto que seja para servir.

6. Jo 14,14-17: Ação do Espírito Santo. Jesus é o nosso defensor. Ele vai embora, mas não nos deixa sem defesa. Promete que vai pedir ao Pai para Ele mandar outro defensor ou consolador, o Espírito Santo. Jesus chegou a dizer que ele precisava ir embora, pois, do contrário, o Espírito Santo não poderia vir (Jo 16,7). É o Espírito Santo que realizará a proposta de Jesus em nós, desde que peçamos em seu nome e observemos o grande mandamento da prática do amor.


O Ressuscitado é Caminho, Verdade e Vida - Pe Francisco Cornélio Freire Rodrigues

I. Introdução geral

A liturgia deste domingo favorece profunda reflexão sobre a comunidade cristã e sobre a identidade de Jesus como o Caminho, a Verdade e a Vida. A primeira leitura ensina que a comunidade que permanece fiel ao mandato de Jesus, aberta ao Espírito Santo e perseverante na oração é capaz de resolver os conflitos que ameaçam a sua unidade, harmonizando o anúncio da Palavra com a atenção às pessoas mais necessitadas. A segunda leitura apresenta a Igreja como um edifício espiritual, tendo o Cristo ressuscitado como fundamento e todos os cristãos como pedras vivas dessa construção. No evangelho, o ponto alto é a apresentação de Jesus como o revelador do Pai por excelência e, por isso, o único caminho viável para a comunidade seguir.

II. Comentários dos textos bíblicos

1. I leitura: At 6,1-7

Esta leitura recorda a primeira crise da comunidade cristã primitiva, fundada em Jerusalém, no dia de Pentecostes (cf. At 2). Até então, essa comunidade fora descrita somente com características positivas, beirando à perfeição, com destaque para a generosidade e a partilha, a perseverança e o entusiasmo (cf. At 2,42-47; 4,32-35). Pela primeira vez, o autor fala de um problema concreto, causado por um conflito envolvendo os dois grupos que formavam a comunidade: os cristãos de origem grega e os de origem hebraica. Ambos os grupos eram compostos de judeus convertidos ao cristianismo. Os de origem hebraica, oriundos do judaísmo tradicional, sempre viveram na Palestina, falavam aramaico e liam as Escrituras em hebraico; os de origem grega, por sua vez, provinham do judaísmo da diáspora, falavam e liam as Escrituras em grego, eram menos ortodoxos e mais abertos. O centro do relato, no entanto, não é o conflito em si, mas a capacidade de superação demonstrada pela comunidade, sob a liderança dos apóstolos.

O v. 1 já descreve o conflito e sua gravidade: surgiu uma tensão entre os fiéis de origem grega e os de origem hebraica, devido à falta de assistência às viúvas do primeiro grupo. Temos aqui uma denúncia grave, pois as viúvas, como uma das principais categorias de pessoas vulneráveis em Israel, deveriam ser assistidas com prioridade em suas necessidades mais básicas, como a alimentação; era inadmissível, portanto, que fossem negligenciadas na comunidade cristã, até pouco tempo descrita como modelo de solidariedade e partilha (cf. At 2,42-47; 4,32-35). Comprometidos, acima de tudo, com o anúncio da Palavra, os apóstolos reconhecem que o serviço das mesas também é essencial para a vida da Igreja, mostrando-se sensíveis às pessoas mais necessitadas. Por isso, sem impor nenhuma decisão, buscam a resolução do problema em comunhão com a comunidade (cf. v. 2), propondo a escolha de sete homens íntegros e dóceis ao Espírito Santo para o serviço das mesas (cf. v. 3). Os apóstolos não concentram todas as funções, mas fazem suscitar novos ministérios de acordo com as necessidades da comunidade; exercem a autoridade confiada por Jesus, mas sem autoritarismo. É a própria comunidade quem escolhe (cf. v. 5); os apóstolos confirmam as escolhas com a oração e o rito de imposição das mãos (cf. v. 6), e assim a Palavra continua se espalhando e a Igreja crescendo (cf. v. 7).

A maneira participativa e descentralizada pela qual a comunidade resolveu a sua primeira grave crise revela como os apóstolos assimilaram Jesus Cristo ressuscitado como o Caminho, a Verdade e a Vida, colocando-o como o centro da vida da Igreja. De fato, os apóstolos e todas as demais lideranças não são mais que instrumentos que ajudam a manter a centralidade do Ressuscitado na comunidade cristã.

2. II leitura: 1Pd 2,4-9

A segunda leitura desta liturgia ainda é retirada da primeira carta de Pedro, cuja contextualização fizemos brevemente no comentário do último domingo. No trecho lido neste dia, o autor apresenta a comunidade cristã como um edifício espiritual (cf. v. 5) cujo fundamento é o Cristo ressuscitado, designado como a “pedra angular” (vv. 4.6-7), e os tijolos são todos os batizados e batizadas (cf. v. 5). O construtor é o próprio Deus, o Pai. A imagem da pedra angular, aplicada a Jesus, remete a Is 28,16 e ao Sl 118,22.

Aos cristãos perseguidos – os destinatários primeiros do texto –, o autor faz um convite carregado de esperança e válido para todas as épocas: “aproximai-vos do Senhor” (v. 4). Muitos cristãos eram hostilizados na época exatamente porque tinham adotado o estilo de vida de Jesus. Paralelamente ao convite, vem a recordação de que também Jesus, constituído como o fundamento da grande construção de Deus, foi rejeitado e descartado pelos construtores, isto é, pelas autoridades políticas e religiosas que o crucificaram (cf. vv. 6-7). Com a ressurreição, no entanto, ele tornou-se a pedra angular. Como é próprio de Deus tornar forte o que a humanidade descarta, também os cristãos que perseveram na fé (cf. v. 7) são incorporados ao Cristo ressuscitado na edificação da Igreja, como pedras vivas.

Assim, o antigo templo de pedras é substituído pelo templo vivo que é a Igreja, enquanto comunidade dos que creem e acolhem a Palavra, formando um povo todo sacerdotal e capaz de fazer da própria vida uma oferta perene e agradável a Deus.

3. Evangelho: Jo 14,1-12

O evangelho apresenta Jesus no cenáculo, durante a última ceia com seus discípulos. Todos têm consciência de que é chegada a fase final da sua vida terrena. Por isso, a cena é marcada, inicialmente, por um clima de angústia, medo e incertezas que, aos poucos, será transformado pelas palavras esclarecedoras e esperançosas de Jesus. Assim, de despedida dramática, a ceia se torna um momento privilegiado da auto revelação de Jesus, gerando a certeza de que a sua partida, em vez de gerar ausência, é a garantia da sua presença perene no seio da comunidade cristã, após a ressurreição.

Antes de tudo, Jesus ensina aos discípulos que, para superar os medos e angústias na comunidade, é necessário ter fé (cf. v. 1); em seguida, anuncia que na casa do Pai há muitas moradas, preparadas por ele, graças à morte e ressurreição, e destinadas a toda a comunidade de discípulos (cf. v. 2). Em um movimento de partida-retorno, Jesus garante aos discípulos que estará sempre com eles, habitando as mesmas moradas que eles na casa do Pai (cf. v. 3). Ao contrário de como vem geralmente interpretado, a casa do Pai aqui não significa os céus, mas a própria comunidade cristã, e as muitas moradas são a diversidade de dons e carismas, serviços e ministérios que a compõem e são indispensáveis para a sua existência. Temos aqui uma mudança radical de paradigma: o Pai já não habita no templo de pedras, como acreditavam os judeus, mas na comunidade cristã e no coração de quem aceita seguir o caminho que é Jesus.

Depois de tanto tempo junto aos discípulos, Jesus esperava que eles já conhecessem o caminho a percorrer após a sua partida (cf. v. 4). Da ignorância deles nasce rico diálogo, iniciado por uma pergunta de Tomé a respeito do destino de Jesus e do caminho que eles devem seguir (cf. v. 5), cuja resposta é uma das mais profundas revelações de Jesus em todo o evangelho: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (v. 6a), além de reforçar sua condição de único mediador entre a humanidade e o Pai (cf. v. 6b). Com essa resposta, Jesus diz que é tudo para a comunidade; essa não necessita de nada que não esteja relacionado à sua pessoa. O itinerário que a comunidade deve percorrer é a sua própria trajetória de vida, por isso ele é o Caminho; tudo o que a comunidade deve anunciar é o que ele mesmo ensinou com palavras e sinais, por isso ele é a Verdade; e a vida a ser vivida é conforme aquela que Jesus doa em abundância, por amor, e por isso ele é a própria Vida. A expressão “Caminho, Verdade e Vida”, portanto, é a síntese da pessoa de Jesus e de tudo o que a comunidade necessita para ser a verdadeira casa do Pai.

O diálogo continua com uma intervenção de Filipe, pedindo que Jesus mostre o Pai (cf. v. 8). A resposta de Jesus soa como um lamento, pois, àquela altura, desconhecer o Pai significa não ter ainda assimilado os seus ensinamentos e a sua própria pessoa, uma vez que ambos vivem em perfeita unidade (cf. vv. 9-11). O conhecimento do Pai passa, portanto, pela escuta e pelo seguimento de Jesus, e é disso que a comunidade necessita para fazer a sua obra de amor continuar crescendo (cf. v. 12), à luz da ressurreição, em uma dimensão ainda maior.

III. Pistas para reflexão

A certeza de que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida significa que ele deve ser o referencial para todas as dimensões da vida eclesial. Quando a comunidade absorve essa certeza, torna-se a casa do Pai, com moradas suficientes para todas as pessoas mediante a diversidade de carismas e serviços, que visam sempre ao bem comum. A atenção aos mais necessitados é um dos sinais que indicam se uma comunidade é realmente casa do Pai, uma construção viva, que tem o Cristo ressuscitado como pedra angular.


Uma multidão e um só coração- Frei Gustavo Medella


“Não se perturbe o vosso coração” (Jo 14,1). Coração perturbado, inquieto, inseguro, ferido, machucado… Coração que procura alento, repouso, sentido… Cabe notar que Jesus se dirige a muitos, mas usa o termo “coração” no singular. “A multidão dos fiéis era um coração e uma só alma” (At 4,32). É na unidade solidária que o coração humano encontra a paz de que tanto necessita. É na unidade congregada pela fé que Jesus a promete, conforme apresenta o Evangelho deste 5º Domingo do Tempo Pascal.

No atual momento da humanidade, a lógica do “salve-se quem puder”, do “levar vantagem a qualquer preço”, do “importar-se somente consigo” mostra-se estéril, ineficaz e destruidora. Mesmo quem é multimilionário e se julga seguro no bunker de seus luxos e caprichos, mais dia menos dia terá de lidar face a face com o desespero de sua finitude, constatando a duras penas que o dinheiro compra muita coisa, mas não compra tudo.

Por mais poderosos que se julguem, suas vidas poderão, na próxima esquina, estar na dependência de gente simples, auxiliares de enfermagem, por exemplo, que recebem a vida inteira aquilo que estes são capazes de lucrar num dia ou num negócio realizado durante um almoço. Seus entes queridos que falecem, transportados por homens mal remunerados que se arriscam na realização dos sepultamentos que ocorrem num fluxo ininterrupto. Gente muito importante a quem nem sempre se dá importância.

A consolação oferecida por Jesus, ao contrário, atua e cresce em ambientes onde a corresponsabilidade caridosa se faz uma regra, onde cada um faz sua parte em benefício do todo, colocando-se a serviço não por prêmio ou reconhecimento, mas porque encontra o tesouro que Jesus deixou como herança no exemplo do Lava-Pés. Já está mais do que claro que o mercado, a meritocracia e a especulação financeira não têm o que dizer num cenário pandêmico e desestruturante que a humanidade está vivendo. Acreditar em Jesus e confiar na garantia de paz que ele oferece significa, portanto, converter o coração e mudar a perspectiva, retomando a convicção que a vida humana não se resume em nascer, crescer, ganhar, acumular, dominar e morrer e que este itinerário torna-se uma grande ilusão se não se deixa impregnar pela força dos verbos amar e servir.


TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


QUINTO DOMINGO DE PASCUA CICLO "A"


Primera lectura (He 6,1-7):


El libro de los Hechos nos informa de un primer conflicto o tensión surgida en el seno de la comunidad. Al parecer la relativa separación entre los judíos de lengua hebrea y los judíos de lengua griega o helenistas se traspasó a la primitiva comunidad cristiana, de modo que seguían formando grupos diferentes. De hecho "los helenistas" se quejan de que sus viudas son "discriminadas" en relación con las viudas de los "hebreos". Entonces los "Doce" (apóstoles) con su autoridad convocan a todos los discípulos para subsanar el problema. 

La salida que encuentran a este conflicto es que se elijan a siete hombres para que cumplan este servicio pues no puede ser que los Apóstoles desatiendan lo más importante de su ministerio, la palabra de Dios (τὸν λόγον τοῦ θεοῦ), para atender a las viudas.

El texto hace referencia a una "diaconía o servicio de las mesas" (diakonei/n trape,zaij), que se encomendará a estos 7 varones justos y una "diaconía o servicio de la palabra" (diakoni,a| tou/ lo,gou) que compete a los apóstoles. Pero no parece que haya que entender esta diferencia en sentido absoluto por cuanto más adelante el mismo libro de los Hechos nos presenta a Esteban predicando y realizando grandes prodigios (He 6,8-12) y a Felipe predicando y bautizando (He 8,26-40).

La asamblea aprueba esta moción y se eligieron siete hombres a quienes los apóstoles les imponen las manos después de haber orado.

El texto insiste en el crecimiento cuantitativo de la primera comunidad, pero al mismo tiempo nos describe un cambio cualitativo por cuanto surgen nuevos ministerios.


Segunda lectura (1Pe 2,4-10):


La primera parte del texto de hoy describe la realidad de los cristianos utilizando y entrelazando algunas metáforas. Nos lo explica muy bien el Card. Martini : "Ante todo Jesús es la piedra viva: Pedro subraya la conciencia fundamental del cristiano, el principio y fundamento de que la piedra, la roca solidísima es Cristo. Podríamos decir: como el pueblo hebreo se constituyó en torno al Sinaí, así el pueblo cristiano se constituye en torno a Jesús. Y nosotros nos estrechamos a su alrededor. El griego tiene la palabra proserchómenoi (acercándonos): lo seguimos como discípulos, vamos por su camino y llegamos hasta ser piedra viva como Él.

De la metáfora de la piedra pasamos a la del edificio: ustedes son "piedras vivas para la construcción de un edificio espiritual", podríamos decir. Un edificio construido y habitado por el Espíritu Santo.

La tercera metáfora – son "un sacerdocio santo para ofrecer sacrificios agradables a Dios" – quiere decir que del mismo modo que el pueblo elegido ofrecía sacrificios en el templo, el nuevo pueblo de Dios ofrece sacrificios espirituales".

Al final (vv. 9-10) se retoma el tema del sacerdocio de los cristianos a quienes se aplica lo que Ex 19,5-6 decía con respecto a Israel: "raza elegida, sacerdocio real, nación santa, pueblo adquirido". Esta es la vocación que los cristianos como Iglesia han recibido por la misericordia de Dios.


Evangelio (Jn 14,1-12):


El contexto del evangelio de hoy es la última cena (13,1-17,26) y en ella Jesús se está despidiendo de sus discípulos pues les habla de su inminente partida (13,33). Además, en este momento les anuncia la traición de Judas (13,21) y las negaciones de Pedro (13,38); lo cual necesariamente tiene que haber turbado el ánimo de sus discípulos. Entonces Jesús sale al cruce de este estado de ánimo de sus discípulos pidiéndoles que no se inquieten, sino que tengan fe/confianza en Dios y en Él. Como bien nota L. Rivas, "a la idea de turbación (tarasso = agitarse, conmoverse) se opone la idea de creer, tener fe (pistéuō, que traduce el hebreo `aman = estar firme, afirmarse). Para que la agitación por el temor de la muerte no los arrebate, los discípulos se deben afirmar sobre la Roca que es Dios. Y de la misma manera que se apoyan en Dios por la fe, también deben tener fe en Jesucristo porque Él revela al Padre, y sus palabras y sus obras son palabras y obras del Padre" .

La motivación a la confianza que les ofrece Jesús consiste en que en la casa de su Padre hay muchas moradas, es decir, hay lugar para ellos también. Según X. León Dufour  “El texto evoca una representación corriente en el judaísmo de la época, muy preocupado por el mundo venidero. Se imaginaba el cielo como un conjunto de estancias, a las que algún día llegarían los hombres”. Por su parte, Mateos- Barreto  notan que aquí se utiliza el griego oikia que se distingue de oikos, lugar de habitación que se refiere al templo en Jn 2,16, por un matiz de relación personal, de convivencia familiar. Por eso propone traducir τῇ οἰκίᾳ τοῦ πατρός μου por “hogar de mi Padre” en vez de “casa de mi Padre”.

Y para reforzar esta confianza les añade que va a prepararles un lugar para poder llevarlos con Él. Como bien nota F. Moloney : “El se va para prepararles la posibilidad universal y permanente de una comunión perdurable con su Padre”. 

La palabra "morada" o "habitación" es traducción del término griego moné, derivado del verbo ménein (me,nein), permanecer. Este verbo aparece 40 veces en el evangelio de Juan y su sentido es variado, como lo reflejan las traducciones: morar, permanecer, habitar, quedarse, estar. En general se utiliza para referirse a la vinculación de Jesús con su Padre y con sus discípulos. Sobre el valor teológico de este "permanecer" son importantes las precisiones que hace J. Casabó : "«Ménein en» es muy cercano a «einai en» (estar en; ser en), pero ménein añade una nota de perduración, de prolongación y de permanencia, que es importante para el actuar humano […] el uso jóanico de ménein tiene una peculiaridad: nunca afirma absolutamente que el Padre y el Hijo permanecen en el hombre, sino que esta permanencia está siempre pendiente de una condición […] el uso mismo de ménein indica que se parte de una realidad inicial, de comunión creada por Dios mediante su iniciativa, aceptada por el hombre, y que debe ser mantenida, desarrollada, profundizada. La relación es progresiva".


Ahora bien, la casa de su Padre, dónde Jesús irá a "morar" o "permanecer" definitivamente después de su resurrección/glorificación - y a dónde irá a preparar "moradas" o "lugares de permanencia" - es su misma relación con el Padre. En efecto, la morada de Jesús es su relación con el Padre. Recordemos que en Jn 1,38-39 los dos discípulos le preguntan a Jesús "Rabbí -que traducido significa Maestro- ¿dónde vives (méneis)?". Y él les responde: "Vengan y lo verán”. Fueron, vieron dónde vivía (ménei) y se quedaron con él ese día". Comentando esta escena dice E. Leclerc : "Si (el evangelista) se abstiene de darnos datos precisos sobre el lugar material, quiere decir que para él la verdadera morada de Jesús, la que los discípulos están invitados a descubrir, no se deja localizar ni descubrir exteriormente. Hay que buscarla en la realidad íntima de su ser: en el misterio de vida que lleva en sí y en el que habita. Su verdadera morada es su relación con Dios, con Aquel al que llama Padre. Ahí es donde Jesús se deja encontrar de verdad. Y todo el evangelio de Juan será una respuesta a esa pregunta: «¿Dónde vives?»"

Ya desde el prólogo el evangelio de Juan nos dice que la misión del Verbo o Logos Encarnado es hacer hijos de Dios a los que crean en su nombre, es decir, hacerlos partícipes de su misma filiación divina: "Pero a todos los que la recibieron, a los que creen en su Nombre, les dio el poder de llegar a ser hijos de Dios. Ellos no nacieron de la sangre, ni por obra de la carne, ni de la voluntad del hombre, sino que fueron engendrados por Dios" (Jn 1,12-13). Como bien nota G. Zevini : “La marcha de Jesús con su muerte y resurrección no tiene más que una finalidad: hacer que cada uno de los discípulos tenga su propio «lugar» como hijo junto al Padre”.

Se trata de ir al Padre. Y para llegar al Padre no hay otro camino, ni otra verdad, ni otra vida que Jesús mismo. De las tres expresiones que Jesús se atribuye: ser camino, verdad y vida, la más importante y directa es la de "camino" pues a continuación dice: "nadie va al Padre sino por mí". Que Jesús sea también la "verdad" y la "vida" son precisiones sobre su ser "camino": la “verdad” que nos revela sobre el Padre es la “vida” porque no se trata de un conocimiento meramente intelectual sino de una verdad que puede comunicar la misma vida de Dios, la posibilidad de llegar a ser hijo de Dios y tener vida eterna. 

Ahora bien, ya en esta vida los discípulos son invitados a "morar" en la relación filial que Jesús tiene con su Padre, que es su morada. Pero para esto hay que creer, tener fe, por eso le responde Jesús a Felipe cuando le pidió que le muestre al Padre: "Felipe, hace tanto tiempo que estoy con ustedes, ¿y todavía no me conocen? El que me ha visto, ha visto al Padre. ¿Cómo dices: "Muéstranos al Padre"? ¿No crees que yo estoy en el Padre y que el Padre está en mí? Las palabras que digo no las hablo por mí mismo: el Padre que habita (ménein) en mí es el que hace las obras. Créanme: yo estoy en el Padre y el Padre está en mí. Créanlo, al menos, por las obras” (14,9-11). 

El Padre se ha manifestado en Jesús por medio de sus palabras y sus obras. Se trata de creer esto: que Jesús está en el Padre y el Padre está en Jesús. Es decir, “para ver al Padre en el Hijo hay que creer en la unión mutua entre el Padre y el Hijo. Solamente mediante la fe es como se conoce la co-presencia entre Jesús y el Padre” .

En conclusión, la promesa de Jesús a sus discípulos es la de llevarlos a esta morada que es la misma relación filial eterna que Él tiene con su Padre y que les comunicará después de su Pascua. Porque la Pascua de Jesús es su paso al Padre; y allí mismo quiere llevar a todos sus discípulos. Creyendo esto, se disipará toda turbación y temor ante su inminente partida.


Algunas reflexiones:


Siempre son muy oportunas las palabras de Jesús al comienzo del evangelio de hoy: “no se turben”, “no se inquieten”, “crean, confíen en Dios y en mí”. Claramente Jesús nos invita a la fe, a la confianza y el abandono en Dios y en Él para vencer la turbación y la angustia que nos provocan las situaciones difíciles que nos tocan vivir. Al respecto decía el Papa Francisco en el Regina Coeli del 10 de mayo de 2020: “¿qué debemos hacer para que no se turbe nuestro corazón? Porque el corazón se turba. El Señor indica dos remedios para el turbamiento. El primero es: «Creed en mí» (v. 1). Puede parecer un consejo un poco teórico, abstracto. Sin embargo, Jesús quiere decirnos algo bastante preciso. Él sabe que, en la vida, la peor ansiedad, el turbamiento, viene de la sensación de no tener fuerzas, del sentirse solos y sin un punto de referencia ante lo que nos sucede. Esta angustia, en la que a la dificultad se le añade mayor dificultad, no la podemos superar solos. Necesitamos la ayuda de Jesús, y por esto Jesús nos pide que tengamos fe en Él; es decir, que no nos apoyemos en nosotros mismos sino en Él. Porque la liberación del turbamiento pasa por la confianza. Encomendarse a Jesús, dar el “salto”. Y esta es la liberación de la angustia. Y Jesús ha resucitado y está vivo precisamente para estar siempre a nuestro lado. Ahora podemos decirle: “Jesús, creo que has resucitado y que me acompañas. Creo que me escuchas. Te traigo todo lo que me turba, mis problemas: tengo fe en Ti y me encomiendo a Ti”.

Además, hay un segundo remedio para la angustia que Jesús expresa del siguiente modo: «En la casa de mi Padre hay muchas mansiones; […] voy a prepararos un lugar» (v. 2). Esto es lo que hace Jesús por nosotros: nos ha reservado un lugar en el Cielo. Tomó nuestra humanidad sobre sí mismo para llevarla más allá de la muerte, a un nuevo lugar, al Cielo, para que allí donde está Él, estuviéramos también nosotros. Es la certeza que nos consuela: hay un lugar reservado para cada uno. Hay un lugar para mí también. Cada uno de nosotros puede decir: hay un lugar para mí. No vivimos sin meta ni destino. Se nos espera, somos preciosos. Dios está enamorado de nosotros, somos sus hijos. Y para nosotros ha preparado el lugar más digno y hermoso: el paraíso. No lo olvidemos: la morada que nos espera es el Paraíso. Aquí estamos de paso. Estamos hechos para el Cielo, para la vida eterna, para vivir para siempre”.

También el evangelio de este domingo puede ayudarnos a completar el mensaje del domingo pasado que era: Jesús es nuestro buen Pastor Resucitado, que nos guía y conduce. Pues bien, hoy vemos a dónde nos guía o conduce Jesús: al Padre. Esta es la meta de su vida; y lo es también de la nuestra. El pastoreo de Jesús se resume entonces en llevarnos al Padre; en hacer que lleguemos a ser Hijos de Dios. Justamente la meta del discipulado, de los que reciben/creen en la Palabra de Jesús, es llegar a ser Hijos de Dios.

La fe nos da la sustancia de lo que esperamos: llegar al Padre, llegar a ser sus hijos. Y en cierto modo ya lo anticipamos, pues podemos por la fe entrar en la misma relación filial de Jesús con el Padre. Sentirnos "hijos en el Hijo". Es el amor de Jesús, nuestro Buen Pastor, lo que nos da la certeza para esperarlo con confianza. Quien pone su "morada" y “habita” en la relación de Jesús con el Padre encuentra la paz permanente, aún en medio de las dificultades. Se trata de entrar por la puerta de la fe, reconociendo a Jesús como el camino, la verdad y la vida.

Y cuando por gracia de Dios llegamos a experimentar el amor del inmenso Padre, todo cambia en nuestro corazón. Sentiremos que por fin podemos descansar, que hemos encontrado lo que tanto anhelamos, lo que tanto esperamos y buscamos. Nos sentiremos verdaderamente en casa, porque nuestra morada permanente o definitiva, nuestro hogar desde ahora y para toda la eternidad, es el corazón del Padre, a dónde Jesús como camino, verdad y vida nos lleva. Él tenía que hacer primero este camino que, atravesando los muros de la muerte, llevó a su propia humanidad muerta y resucitada al Padre Eterno. Y ahora el camino ya está abierto y es por la fe como lo transitamos. Fe que es abandono y confianza en las palabras y obras de Jesús, quien por misteriosos caminos nos lleva al Padre. Y una vez que nos sentimos hijos amados del Padre, la paz se instala en nuestro corazón más allá de toda angustia y toda perturbación. 

Por otra parte, en el contexto litúrgico del tiempo pascual también las lecturas de este domingo complementan al domingo anterior. Así como se nos presentaba a los buenos pastores como signos visibles de Jesús, nuestro Buen Pastor Resucitado, ahora la primera lectura nos muestra cómo surgen otras vocaciones y servicios además de la propia y necesaria de los Apóstoles. En efecto, el libro de los Hechos nos muestra cómo se consagran a siete hombres para ejercer una misión nueva y propia en la primitiva comunidad. Vale decir que otros son llamados, además de los Apóstoles, a tener una participación activa en la vida y en la misión de la Iglesia.

Y más específicamente aún la segunda lectura señala que todos los bautizados estamos llamados a ser piedras vivas - no ladrillos muertos - para la edificación de la Iglesia como templo espiritual. Y esta vida de los cristianos se expresa mediante el ejercicio del sacerdocio bautismal que nos capacita para ofrecer sacrificios espirituales agradables a Dios por Jesucristo. Sería oportuno insistir en la realidad del sacerdocio bautismal o común de todo el pueblo de Dios. Para ello son muy valiosos los aportes de A. Vanhoye : "Uno de los aspectos nuevos que caracterizan el sacerdocio de Cristo es su apertura a la participación […] Unidos a Cristo sacerdote, todos los creyentes son sacerdotes con Él. Hay dos modos de participación, fundamentados en dos sacramentos distintos, el Bautismo y el Orden. Por tanto, en la Iglesia tenemos, por una parte, el sacerdocio bautismal, llamado también sacerdocio común (o "universal" para evitar la connotación negativa de "común") y por otra parte, el sacerdocio ordenado llamado también "ministerial" […] El concilio Vaticano II ha insistido sobre el sacerdocio común (LG 10) y ha invitado a todos los fieles a ejercerlo de manera más consciente y responsable."


En el contexto litúrgico pascual bien podemos recordar el antiguo dicho: “el cristiano es otro Cristo”. Es decir, todos los cristianos estamos llamados a ser signos vivos de Cristo Resucitado en la Iglesia y en el mundo. Y también recordar el diagnóstico que hizo el Papa Francisco en EG n° 102: “Los laicos son simplemente la inmensa mayoría del Pueblo de Dios. A su servicio está la minoría de los ministros ordenados. Ha crecido la conciencia de la identidad y la misión del laico en la Iglesia. Se cuenta con un numeroso laicado, aunque no suficiente, con arraigado sentido de comunidad y una gran fidelidad en el compromiso de la caridad, la catequesis, la celebración de la fe. Pero la toma de conciencia de esta responsabilidad laical que nace del Bautismo y de la Confirmación no se manifiesta de la misma manera en todas partes. En algunos casos porque no se formaron para asumir responsabilidades importantes, en otros por no encontrar espacio en sus Iglesias particulares para poder expresarse y actuar, a raíz de un excesivo clericalismo que los mantiene al margen de las decisiones. Si bien se percibe una mayor participación de muchos en los ministerios laicales, este compromiso no se refleja en la penetración de los valores cristianos en el mundo social, político y económico. Se limita muchas veces a las tareas intraeclesiales sin un compromiso real por la aplicación del Evangelio a la transformación de la sociedad. La formación de laicos y la evangelización de los grupos profesionales e intelectuales constituyen un desafío pastoral importante”. 



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Creo

 

Jesús,

Llévanos contigo al Padre

El lugar de delicias, adonde nos llames

Conoceremos el camino, la casa

Y el cuarto que nos preparaste

 

El encuentro será grande

Y no tendremos que esperar

Solo aceptar tu invitación

Y desear con el corazón, encontrarte

 

Enséñanos a entender

Que, en ti, por ti y contigo

Todo lo que esperamos es de tus manos

Como el esclavo y su amo

 

Y aunque el tiempo pase y

La naturaleza tienda a olvidarse

Tú eres el Hijo de Dios, que con el Espíritu Santo

Nos lleva al Padre.

 

Y tus obras en todos y cada uno

Se van realizando sin prisa y apuro

Alfarero del hombre en el modelo de Jesús

Culmina la obra que tú comenzaste. Amen