25º DOM TC-A

25º DOMINGO DO TEMPO COMUM-ANO A

24/09/2023

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO



1ª Leitura: Isaías 55,6-9

Salmo Responsorial 144(145)R- O Senhor está perto da pessoa que o invoca!

2ª Leitura: Filipenses 1, 20c-24.27a

Evangelho Mateus 20, 1-16a

 Pois o Reino dos Céus é como o proprietário que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2         Combinou com os trabalhadores a diária e os mandou para a vinha. 3        Em plena manhã, saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, 4        e lhes disse: ‘Ide também vós para a minha vinha! Eu pagarei o que for justo’. 5        E eles foram. Ao meio- dia e em plena tarde, ele saiu novamente e fez a mesma coisa. 6       Saindo outra vez pelo fim da tarde, encontrou outros que estavam na praça e lhes disse: ‘Por que estais aí o dia inteiro desocupados? 7     Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. E ele lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’. 8         Ao anoitecer, o dono da vinha disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores e faze o pagamento, começando pelos últimos até os primeiros!’ 9         Vieram os que tinham sido contratados no final da tarde, cada qual recebendo a diária. 10    E m seguida vieram os que foram contratados primeiro, pensando que iam receber mais. Porém, cada um deles também recebeu apenas a diária. 11      Ao receberem o pagamento, começaram a murmurar contra o proprietário: 12    ‘Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor ardente’. 13          Então, ele respondeu a um deles: ‘Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não combinamos a diária? 14  Toma o que é teu e vai! Eu quero dar a este último o mesmo que dei a ti. 15         Acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja porque estou sendo bom?’ 16          Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”. 



INTRODUÇÃO

A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum nos apresenta um Deus que tem caminhos e pensamentos acima dos caminhos e pensamentos dos homens. E nos pede que renunciemos aos esquemas do mundo e a voltemos as coisas de Deus.

A primeira leitura pede voltemos, acreditemos em Deus. Nos transformemos com discernimento e assumamos os valores de Deus.

A segunda leitura nos apresenta Paulo, aquele cristão que abraçou incondicionalmente a lógica de Deus. Renunciou aos interesses pessoais e aos esquemas de egoísmo e de comodismo, e colocou no centro da sua existência Cristo, os seus valores, o seu projeto.

No Evangelho, Deus nos convida a salvação, todos os homens e mulheres indistintamente, independentemente de qualquer situação ou pecado. Para Deus interessa que acolhamos o seu convite, e que nos transformemos de corpo e alma, mente e coração na gratuidade e no amor.


 DE DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP

Mt 20,1-16

A parábola dos trabalhadores da vinha traz consigo uma pergunta inevitável: que raios de justiça é essa que paga do mesmo modo os operários da primeira e da última hora? Há justiça em dar o paraíso também àquele que se arrepende nos últimos momentos da sua vida? Esse modo de agir de Deus não parece coerente, e a nossa vontade é a de se juntar ao protesto dos operários da primeira hora. Eles estão convictos de que o patrão não é justo.

Para piorar as coisas a resposta do patrão não parece nos trazer muito conforto. Ele, de fato, não fala de justiça, mas se arroga o direito de fazer o que quer com o que lhe pertence. A impressão nossa é de que Deus seja um arbitrário e autoritário.

Temos que reconhecer: Deus, ao dar ao “operário da última hora” o mesmo que dá ao “operário da primeira hora”, mostra que os seus caminhos distam dos nossos como o céu dista da terra. Trata-se de duas lógicas diversas e contrastantes. A parábola, portanto, nos chama a atenção para a nossa necessidade de conversão aos pensamentos e aos caminhos de Deus.

S. Gregório de Nissa sintetiza a justiça de Deus em poucas e luminosas palavras: Enquanto Suma Bondade, Deus se comove pelo homem necessitado de salvação; enquanto Suma Sabedoria, Deus reconhece que somente Ele mesmo pode oferecê-la; enquanto Suma Justiça, Deus faz com que a todos os homens ela seja oferecida.

Deus mostra interesse e desvelo por aqueles que desperdiçaram a própria vida. Até na última hora, Deus continua mostrando seu desejo de salvar. Ele não despreza os operários da última hora. O bom ladrão, por exemplo, é uma manifestação extraordinária da graça, mas não sem propósito, por mero capricho.

“Saiu de madrugada para contratar trabalhadores para sua vinha”. O patrão da parábola faz como muitos daquela época: sai para contratar trabalhadores diaristas na praça da cidade. Sai bem cedo para escolher os mais aptos ao trabalho na vinha. Os doentes, idosos e menos aptos normalmente sobravam. Aos trabalhadores da primeira hora, o patrão “combinou uma moeda de prata por dia”. 

“Às nove horas ... ao meio dia e às três horas da tarde”. Surpreende o modo de agir desse patrão: encontra outros trabalhadores e os manda também para trabalhar na sua vinha. A esses não combina nada, somente lhes garante pagar “o que for justo”. Pela nossa lógica, justiça deveria ser o correspondente a ¾, ½ e ¼ do salário combinado com os da primeira hora.

“Porque ninguém nos contratou”. O patrão dá trabalho também para aqueles que encontrou à cinco da tarde na praça. Passaram o dia todo sem trabalhar, esperando a hora de voltar para casa com as mãos vazias. Talvez entre esses houvesse também quem não tinha intenção nenhuma de trabalhar. A jornada de trabalho já está no fim. Falta somente uma hora. Mesmo assim o patrão os envia para sua vinha. Uma outra surpresa: também eles vão para a vinha, mesmo sabendo que não receberão muito. Pelas nossas contas deveriam receber 1/12.

“Começando pelos últimos”. Trata-se mesmo de um patrão muito excêntrico: em vez de dispensar aqueles que “suportaram o cansaço e o calor do dia inteiro”, ele faz com que os da primeira hora testemunhem como ele trata os que foram contratados depois deles. Os trabalhadores da última hora recebem cada um uma moeda de prata. O patrão não leva em conta o tempo trabalhado, mas a necessidade do trabalhador. Se ele desse menos sua família iria passar necessidade. Evidentemente todos os trabalhadores da primeira hora começaram a fazer suas contas para saber quanto iriam receber.

“Tu os igualaste a nós”. Os operários da primeira hora reclamam do pagamento, mas sobretudo porque o patrão os igualou aos trabalhadores de última hora.

“Ou estás com inveja, porque estou sendo bom”. Escandaliza-nos a bondade de Deus. Sempre queremos que Deus nos trate com bondade, mas quando são os outros a serem tratados assim sentimo-nos ofendidos porque Deus nos iguala aos outros. A inveja é um vício difícil de ser desmascarado.

Os primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros. Com essa afirmação paradoxal, Jesus quer se opor à nossa mentalidade errada de meritocracia! Meritocracia funciona e deve funcionar no campo do trabalho. Meritocracia não funciona na nossa relação com Deus. Diante de Deus ninguém pode invocar os seus próprios méritos. Deus não é nosso devedor!

A parábola dos trabalhadores da vinha destrói, na figura autoritária do dono da vinha, que não respeita a meritocracia, a nossa pretensão de fazer de Deus nosso devedor. Nossa relação com Deus não é como a de um plano de fidelidade: vamos acumulando pontos com Deus até termos o suficiente para poder trocá-los por uma recompensa desejada.

Diante de Deus não devemos ter esse comportamento dos trabalhadores da primeira hora: eles se consideram superiores porque acham que merecem mais do que outros. Se isso funciona na vida de trabalho, não funciona na vida de fé. Os trabalhadores da primeira hora são como Jonas que fica irritado com Deus porque Ele é lento para a ira e misericordioso com os inimigos. Os trabalhadores da primeira hora são como Saulo, antes da conversão, que se julgava justo e cumpridor da lei. São como o filho mais velho que tem raiva do pai e não se alegra com a vida e a conversão do irmão mais novo.

Devemos ser humildes como os trabalhadores da última hora que sabem que não merecem o salário integral, mas que se surpreendem com a generosidade do dono da vinha. O que recebemos de Deus não é proporcional ao que merecemos. Deus não segue a regra da meritocracia para conosco! Ainda bem!

Então não vale a pena ser trabalhador da primeira hora? Claro que vale! O que não devemos ter é a mentalidade de trabalhador da primeira hora. Sejamos nós dedicados e generosos trabalhadores da primeira hora com a mentalidade humilde e agradecida dos trabalhadores da última hora.



Gratuidade e Generosidade, as atitudes do coração - Adroaldo Palaoro,

 25º DomTC – Mt 20, 1-16a-Ano A-24-09-23


“Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, 

que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro” (Mt 20,12)

A liturgia deste domingo nos faz encontrar com uma parábola simples, mas reveladora de uma força impactante. Chega até nós como uma Boa Notícia que nos surpreende, nos desloca e pode até provocar em nós algumas reações controvertidas, inclusive resistências.

A parábola começa como muitas outras: “O Reino dos Céus é como a história do patrão...”. Ela vai desvelando o modo provocativo de agir deste personagem, o mistério mais profundo de seu ser, a profundidade e a coerência de sua bondade e de seu amor. Diante deste mistério não podemos permanecer indiferentes.

A parábola nos coloca diante de um senhor que sai de sua casa e vai, pessoalmente, buscar trabalhadores para sua vinha, em diferentes horários do dia. A seguir vem o núcleo do relato, o fato que muda o tom e provoca reações diferentes. No fim do dia paga a todos o mesmo valor que lhes havia prometido. E, o mais estranho, é que começa a pagar pelos últimos. Tal atitude provoca reações de protesto nos ouvintes.

O dono da vinha parece estar sendo muito injusto. Os primeiros que foram chamados trabalharam várias horas a fio e aturaram o calor do dia. Como, então, o senhor pode dar o mesmo salário àqueles que trabalharam apenas uma hora? Parece que estamos diante de uma tremenda “injustiça”.

Vivemos a cultura da meritocracia; cada um deve receber segundo seu esforço ou suas conquistas.

Quanta importância é dada aos méritos: na vida, na sociedade, na educação, na religião! Para isso existem as homenagens, premiações, reconhecimentos públicos, livros comemorativos, nomeações honoríficas...

Escutamos com frequência: “mereceu pelo que fez!”; “depois de tanto esforço realizado, era justo que ganhasse o prêmio!” Cremos que faz parte da justiça “ganhar quem merece, que trabalhou mais, quem se esforçou mais...” Inclusive, quando fazemos elogio a uma pessoa que faleceu, destacamos sempre seus méritos: o que ela fez, a qualidade de suas obras, o prestígio que foi conquistando, o trabalho que realizou...

A ideia do mérito perpassa todas as dimensões da existência, incluída a dimensão religiosa, onde dá lugar a uma “religião mercantilista”, que conduz facilmente ao farisaísmo: o fiel não só presume de suas boas obras, mas se considera “justo”, acima dos outros, e merecedor dos favores divinos (ou com “direitos” diante de Deus). É a “religião do ego”. Porque não é justo que “os últimos sejam os primeiros”.

O evangelho deste domingo revela-se desconcertante, porque rompe o sistema vigente da retribuição dos méritos. O Senhor do Universo não é “deus mesquinho” que estabelecer uma “contabilidade” para premiar ou retribuir seus filhos e filhas. “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros”, afirma Jesus com contundência. “Trabalhar na vinha do Senhor” não é questão de quantidade, mas de qualidade. Já é um privilégio o fato de sermos chamados a colaborar e devemos aproveitar da oportunidade que nos é oferecida. Aqui não há lugar para comparação, competição e inveja.

Os trabalhadores da primeira hora revelam que sua vida tem um sentido interesseiro. Eles trabalham e, ao final do dia, recebem um salário adequado: o pagamento combinado de um denário, que na época correspondia ao preço justo de uma diária. Mas, assim que começam a se comparar com aqueles que trabalharam menos do que eles, ficam insatisfeitos e pensam: “teria sido mais fácil se tivéssemos começado a trabalhar mais tarde”. Assim confessam que, para eles, o trabalho significa um fardo; e o calor, sofrimento.


Há um outro aspecto interessante revelado pela mesma parábola. Aqueles de primeira hora que se queixam do mesmo tratamento dado a todos pelo senhor, mostram-se incapazes de compreender a atitude do dono da vinha. Eles não têm direito a exigir, porque foi combinado um “denário” pela diária, mas se sentem mal que os últimos recebam o mesmo tratamento que eles.

Com esta parábola o evangelho pretende fazer saltar pelos ares a ideia de um Deus que reparte seus favores segundo o grau de fidelidade às suas leis, ou pior ainda, segundo seu capricho. Salta à vista a novidade da mensagem de Jesus, uma novidade que pode ser resumida numa palavra: gratuidade.


Infelizmente, continuamos cultuando a um “deus mesquinho” e que nos interessava manter. Na realidade, nada temos que “esperar” de Deus; Ele já nos deu tudo desde o princípio; basta nos abrir ao seu dom total, que é já uma realidade, embora ainda não tenhamos descoberto isto.

A mensagem da parábola é evangelho, boa notícia: Deus é igual para todos: amor, dom infinito. Devemos proclamar isso para todos, sem exceção. Não podemos ter a pretensão de aplicar a Deus nosso conceito de “justiça religiosa interesseira” que consiste em sermos bons para que Deus nos premie ou, pelo menos, para que não nos castigue.

No fundo, o que a parábola deixa transparecer é a queixa daqueles que se sentem “injustiçados” porque foram chamados ao amanhecer e receberam a mesmo valor daqueles que foram chamados ao longo do dia.

É a queixa que brota da comparação com os outros e que expressa nossa mentalidade estreita e nossos cálculos mesquinhos. Tal atitude nos revela que não conhecemos o nosso Deus. Relacionamo-nos com Ele como o assalariado com seu empregador, ou seja, mais trabalho, mais soldo.

A queixa também revela um pecado de raiz, escondido em todos nós: a inveja.

Sentimos inveja porque os outros têm algo que não temos, sentimo-nos prejudicadas por Deus e pelo destino. Quanto mais nos comparamos com outros, mais insatisfeitos ficamos. Sentimo-nos injustiçados e bloqueamos nossa própria vida.

Poucos sentimentos humanos causam tanto sofrimento e interferências nas relações entre as pessoas como a inveja. Esta emoção negativa só serve para produzir lamúrias, queixas, amarguras, naquele que é invejoso, e provoca desconcerto e incompreensão naquele que é invejado.


A inveja nos corrói por dentro, nos morde, nos faz dobrar sobre nós mesmos. E, ao mesmo tempo, coloca uma barreira entre nós e aqueles a quem invejamos. Assim, nos convertemos em rivais, em inimigos, em objeto de menosprezo. Na realidade, o objeto invejado é o de menos. Pode ser o trabalho, um bem material, uma relação pessoal, uma conquista... O terrível é como a inveja mata a relação. E como vamos nos fechando em um poço de amarguras e queixas, esquecemo-nos de todos os dons e benefícios que temos.


Que atitudes sadias devemos assumir para não deixar que a inveja e a comparação determinem nossa vida?

Frente à comparação e à inveja, talvez o mais urgente seria despertar a gratidão, o olhar lúcido e consciente à nossa própria vida. Aprender a valorizar os muitos dons que temos, os benefícios que continuamente recebemos e que são oportunidades que nem todos têm. Aprender a reconhecer e celebrar os dons próprios, os recursos originais, as conquistas pessoais...

Uma outra atitude seria a de ativar a alegria pelo bem alheio, aprender a vibrar com as conquistas dos outros.

Alegrar-se com a alegria do outro é a expressão máxima de maturidade, de descentramento, de gratuidade.

A gratidão nos revela que tudo o que somos ou temos foi dado por Deus e recebido por nós; tudo foi e é graça, como se lê na carta de Paulo: “em que você é mais que os outros? O que é que você possui que não tenha recebido?” (1Cor 4,7). O fato mesmo de “ir à vinha na primeira hora” já é um presente, um privilégio, uma oportunidade a ser vivida com intensidade, em comunhão com os outros.


Quando compreendemos a verdade do que somos, ou seja, plenitude de vida, deixamos de nos apropriar dos resultados; atuamos sem a ganância do fruto; nossas ações nascem e fluem a partir da compreensão do que somos; o orgulho no êxito e a culpa no fracasso se esvaziam; acabam a comparação, o juízo e a desqualificação dos outros.



Para meditar na oração:

Alimente uma “memória sadia”, reconhecendo que tudo é Graça, “de graça”, que você é uma pessoa “agraciada”, “cheia de graça” ...

- O agradecimento é, para S. Inácio, a experiência humana que mais pura e decididamente mobiliza a generosidade da pessoa; a gratidão é a mais agradável das virtudes: que virtude mais leve, alegre, mais luminosa, mais humilde, mais feliz!!! É por isso que ela se aproxima da caridade, que seria como a gratidão sem causa, uma gratidão incondicional. Gratidão = desfrutar a eternidade no cotidiano da vida.



Você está com ciúme porque estou sendo generoso? - Carlos Mesters


Mateus 20,1-16 - 

Introduzindo o assunto

O evangelho de hoje traz uma parábola que só é relatada por Mateus. Ela não existe nos outros três evangelhos. 

Como em todas as parábolas, Jesus conta uma história feita de elementos do dia-a-dia da vida do povo. Ele retrata a situação social do seu tempo, na qual os ouvintes se reconhecem. 

Mas ao mesmo tempo, na história desta parábola, acontecem coisas que nunca acontecem na realidade da vida do povo. É que, ao falar do patrão, Jesus pensa em Deus, seu Pai. 

Por isso, na história da parábola, o patrão faz coisas surpreendentes que não acontecem no dia-a-dia da vida dos ouvintes. É nesta atitude estranha do patrão, que deve ser procurada a chave para a compreensão do mensagem da parábola.

Analisando o texto

Mateus 20,1-7: As cinco vezes que o patrão sai em busca de operários

"O Reino do Céu é como um patrão, que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha” Assim começa a história que fala por si e nem precisaria de muito comentário. No que segue, o patrão sai mais quatro vezes chamando operários para trabalhar na sua vinha. Jesus alude ao terrível desemprego daquela época. Alguns detalhes da história: 

(1) O próprio patrão sai pessoalmente cinco vezes para contratar operários. 

(2) Na hora de contratar os operários, é só com o primeiro grupo que ele acerta o salário: um denário por dia. Com os da nona hora ele diz: Eu lhes pagarei o que for justo. Com os outros ele não acertou nada. Apenas os contratou para trabalhar na vinha. 

(3) No fim do dia, na hora de acertar as contas com os operários, o patrão manda que o administrador faça o serviço.

Mateus 20,8-10: A estranha maneira de acertar as contas no fim do dia

Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: Chame os trabalhadores, e pague uma diária a todos. Comece pelos últimos, e termine pelos primeiros. Aqui, na hora de acertar as contas, acontece algo estranho que não acontece na vida comum. Parece a inversão das coisas. O pagamento começa com os que foram contratados por último e que trabalharam apenas uma única hora. O pagamento é o mesmo para todos: um denário, como tinha sido combinado com os que foram contratados no começo do dia. No fim, chegaram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. No entanto, cada um deles recebeu também uma moeda de prata.  

  Por que o patrão faz isso? 

  Você faria assim? 

É aqui neste gesto surpreendente do patrão que está escondida a chave da mensagem desta parábola.

Mateus 20,11-12: A reação normal dos operários diante da estranha atitude do patrão

Os últimos a receber o salário eram os que foram contratados por primeiro. Estes, assim diz a história, ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão e disseram: “Esses últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor do dia inteiro!”  É a reação normal do bom senso. 

  Todos nós teríamos a mesma reação e diríamos a mesma coisa ao patrão, ou não?

Mateus 20,13-16: A explicação surpreendente do Patrão que fornece a chave da parábola

A resposta do patrão é esta: “Amigo, eu não fui injusto com você. Não combinamos uma moeda de prata? Tome o que é seu, e volte para casa. Eu quero dar também a esse, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. Por acaso não tenho o direito de fazer o que eu quero com aquilo que me pertence? Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso?”  Estas palavras trazem a chave que explica a atitude do patrão e aponta a mensagem que Jesus quer comunicar: 

(1) O patrão não foi injusto, pois ele agiu de acordo com o que tinha sido combinado com o primeiro grupo de operários: um denário por dia. 

(2) É decisão soberano do patrão de dar aos últimos o mesmo que tinha sido combinado com os da primeira hora. Estes não têm direito de reclamar. 

(3) Atuando dentro da justiça, o patrão tem o direito de fazer o bem que ele quer com as coisas que lhe pertencem. O operário da parte dele tem este mesmo direito. 

(4) A pergunta final toca no ponto central: Ou você está com ciúme porque estou sendo generoso?' Deus é diferente mesmo! Ele não cabe nos nossos pensamentos (Is 55,8-9).

O pano de fundo da parábola é a conjuntura daquela época, tanto de Jesus como de Mateus. Os operários da primeira hora são o povo judeu, chamado por Deus para trabalhar em sua vinha. Eles sustentaram o peso do dia, desde Abraão e Moisés, bem mais de mil anos. Agora, na undécima hora, Jesus chama os pagãos para ir trabalhar na sua vinha e eles chegam a ter a preferência do coração de Deus. “Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”. 

 

Para um confronto pessoal

1) Os da undécima hora chegam, levam vantagem e recebem prioridade na fila diante da entrada do Reino de Deus. Quando você espera duas horas numa fila e chega alguém que, sem mais, se coloca na frente de você, você aceitaria? Dá para comparar as duas situações?

2) A ação de Deus ultrapassa nossos cálculos e nosso jeito humano de atuar. Ele surpreende e às vezes incomoda. Isto já aconteceu alguma vez na sua vida? Qual a lição que tirou?



25º DomTempo Comum – Mt 20, 1-16ª - Marcelo Barros


Certamente, essa parábola serviu para clarear a posição que vocês e Jesus tomaram com relação aos não judeus. Na Bíblia, “a vinha” é uma imagem clássica do povo de Deus e da obra que Deus faz conosco (cf. Isaías 5,1-7 e Salmo 80,9-17).

Nessa história, os “operários que trabalharam o dia inteiro na lavoura” significam o povo judeu. Os trabalhadores da última hora são os não judeus, os povos (goyim) da gentilidade. Para nós, que vivemos num país no qual ainda é normal o trabalho diário dos assalariados volantes (boias-frias), parece familiar o fato de Jesus e vocês descreverem a realidade social da Judeia como sendo de desemprego e de trabalhos por contrato diário.

Conhecemos ainda hoje essa realidade de pessoas sem emprego, aceitando qualquer oferta que lhe façam. Diferente é esse patrão que age completamente fora das leis sociais vigentes em qualquer sociedade. A maioria dos comentadores chama essa história de “parábola dos trabalhadores da vinha“. No entanto, um título mais adequado seria “Parábola do patrão original ou diferente“.

A parábola é sobre o comportamento dele. Todo o problema para os primeiros contratados é que ele, além de começar a pagar pelos últimos, iguala-os aos primeiros que suportaram o peso e o calor do dia. A parábola é sobre “os direitos” iguais que todas as pessoas têm diante do convite de Deus e da recompensa que ele promete.

O que os judeus retratados na parábola não aceitam é que “ele os equiparou a nós“. No tempo de Mateus, o Talmud já dizia:

“um pagão que retorna ao Senhor é maior do que o sumo-sacerdote do santuário” (*).

O judaísmo oficial aceitava com tranquilidade que os pagãos podem ser salvos, e que Deus oferece os bens da Aliança a todas as pessoas e povos. Isso, os rabinos aceitavam sem problemas. Mas, não podiam compreender a igualdade de condições entre Israel e os gentios. Paulo e até mesmo Jesus diziam claramente:

“primeiramente os judeus e depois os outros” (Marcos 7,27; Romanos 1,16; 2,9).

Aqui, no entanto, Jesus dá um passo adiante e diz que Deus começa pelos últimos e dá a estes o mesmo que dá aos primeiros. Os rabinos diziam que:

“quando Deus promulgou a Torá, ofereceu-a a todas as nações (goyim) e somente Israel a aceitou. Por isso, cada israelita tem tanta importância para Deus quanto têm todos os outros povos do mundo. Todos os dias, o judeu piedoso deve agradecer a Deus por não ter nascido ‘goyim’. Só Israel foi capaz de observar a lei”.

Na própria tradição bíblica, os profetas já insistiam na universalidade do amor de Deus e na igualdade de todos perante o Senhor. Em nome de Deus, o profeta Amós chega a dizer:

“Por acaso, não sois vós para mim, filhos de Israel, iguais aos filhos dos etíopes? Acaso, não fiz subir Israel da terra do Egito, do mesmo modo como fiz os filisteus virem de Caftor e os sírios de Quir?” (Amós 9,7). De fato, “Deus não faz acepção de pessoas e não aceita suborno” (Deuteronômio 10,17).

Hoje, numa sociedade marcada pela desigualdade social, essa parábola não deixa de lembrar-nos que Deus propõe igualdade. O fato é que, mesmo no plano social, se não se aceita partir dos últimos e dar a eles tanto quanto aos que são considerados “primeiros“, nunca haverá justiça. Pergunta à comunidade de Mateus:

Será que vocês se inspiraram numa parábola do Talmud e a puseram na boca de Jesus, o rabino da comunidade cristã?

 (*) Eis a parábola do Talmud

(são as tradições e os comentários, complementares às Escrituras judaicas, escritos nos anos entre 200 a.E.C. e 500 E.C.):

“Um rei contratou muitos operários. Um deles teve dificuldade de suportar o trabalho. O rei o levou para passear com ele. Quando chegou a tarde, os operários vieram receber o salário e o rei pagou ao operário que tinha passeado tanto quanto aos outros. Estes se queixaram dizendo: “Trabalhamos o dia inteiro enquanto este só trabalhou duas horas e lhe dás um salário completo como a nós”. O rei respondeu: “Este se cansou em duas horas mais do que vocês durante todo o dia” (Jr. Berkhot II, 8, 5c 83).

De qualquer modo, Jesus não favorece qualquer interpretação no sentido dos rabinos de que o motivo do senhor igualar os salários é o fato de que os últimos se cansaram em menos tempo tanto quanto os primeiros. Jesus insiste que Deus faz isso de graça e não pelo mérito dos operários.



EVANGELHO – Mt 20,1-16a


No texto que nos é proposto, Jesus continua a instruir os discípulos, a fim de que eles compreendam a realidade do Reino e, após a partida de Jesus, a testemunhem. Trata-se de mais uma “parábola do Reino”. O quadro que a parábola nos apresenta reflete bastante bem a realidade social e económica dos tempos de Jesus. A Galileia estava cheia de camponeses que, por causa da pressão fiscal ou de anos contínuos de más colheitas, tinham perdido as terras que pertenciam à sua família. Para sobreviver, esses camponeses sem terra alugavam a sua força de trabalho. Juntavam-se na praça da cidade e esperavam que os grandes latifundiários os contratassem para trabalhar nos seus campos ou nas suas vinhas. Normalmente, cada “patrão” tinha os seus “clientes” – isto é, homens em quem ele confiava e a quem contratava regularmente. Naturalmente, esses trabalhadores “de confiança” recebiam um tratamento de favor. Esse tratamento de favor implicava, nomeadamente, que esses “clientes” fossem sempre os primeiros a ser contratados, a fim de que pudessem ganhar uma “jorna” completa (um “denário”, que era o pagamento diário habitual de um trabalhador não especializado).


A parábola refere-se, portanto, a um dono de uma vinha que, ao romper da manhã, se dirigiu à praça e chamou os seus “clientes” para trabalhar na sua vinha, ajustando com eles o preço habitual: um denário. O volume de tarefas a realizar na vinha fez com que este patrão voltasse a sair a meio da manhã, ao meio-dia, às três da tarde e ao cair da tarde e que trouxesse, de cada vez, novas levas de trabalhadores. O trabalho decorreu sem incidentes, até ao final do dia.

Ao anoitecer, os trabalhadores foram chamados diante do senhor, a fim de receberem a paga do trabalho. Todos – quer os que só tinham trabalhado uma hora, quer os que tinham trabalhado todo o dia – receberam a mesma paga: um denário. Contudo, os trabalhadores da primeira hora (os “clientes” habituais do dono da vinha) manifestaram a sua surpresa e o seu desconcerto por, desta vez, não terem recebido um tratamento “de favor”.

A resposta final do dono da vinha afirma que ninguém tem nada a reclamar se ele decide derramar a sua justiça e a sua misericórdia sobre todos, sem excepção. Ele cumpre as suas obrigações para com aqueles que trabalham com ele desde o início; não poderá ser bondoso e misericordioso para com aqueles que só chegam no fim? Isso em nada deveria afetar os outro.

Muito provavelmente, a parábola serviu primariamente a Jesus para responder às críticas dos adversários, que O acusavam de estar demasiado próximo dos pecadores (os trabalhadores da última hora). Através dela, Jesus mostra que o amor do Pai se derrama sobre todos os seus filhos, sem excepção e por igual. Para Deus, não é decisiva a hora a que se respondeu ao seu apelo; o que é decisivo é que se tenha respondido ao seu convite para trabalhar na vinha do Reino. Para Deus, não há tratamento “especial” por antiguidade; para Deus, todos os seus filhos são iguais e merecem o seu amor.


A parábola serviu a Jesus, também, para denunciar a concepção que os teólogos de Israel tinham de Deus e da salvação. Para os fariseus, sobretudo, Deus era um “patrão” que pagava conforme as ações do homem. Se o homem cumprisse escrupulosamente a Lei, conquistaria determinados méritos e Deus pagar-lhe-ia convenientemente. Segundo esta perspectiva, Deus não dá nada; é o homem que conquista tudo. O “deus” dos fariseus é uma espécie de comerciante, que todos os dias aponta no seu livro de registos as dívidas e os créditos do homem, que um dia faz as contas finais, vê o saldo e dá a recompensa ou aplica o castigo.

Para Jesus, no entanto, Deus não é um contabilista, sempre de lápis na mão a fazer as contas dos homens para lhes pagar conforme os seus merecimentos; mas é um pai, cheio de bondade, que ama todos os seus filhos por igual e que derrama sobre todos, sem excepção, o seu amor.

A parábola foi, depois, proposta por Mateus à sua comunidade (provavelmente a comunidade cristã de Antioquia da Síria) para iluminar a situação concreta que a comunidade estava a viver com a entrada maciça de pagãos na Igreja. Alguns cristãos de origem judaica não conseguiam entender que os pagãos, vindos mais tarde, estivessem em pé de igualdade com aqueles que tinham acolhido a proposta do Reino desde a primeira hora. Mateus deixa, no entanto, claro que o Reino é um dom oferecido por Deus a todos os seus filhos, sem qualquer excepção. Judeus ou gregos, escravos ou livres, cristãos da primeira hora ou da última hora, todos são filhos amados do mesmo Pai. Na comunidade de Jesus não há graus de antiguidade, de raça, de classe social, de merecimento, dom de Deus destina-se a todos, por igual.

Conclusão: A parábola convida-nos a perceber que o nosso Deus é o Deus que oferece gratuitamente a salvação a todos os seus filhos, independentemente da sua antiguidade, créditos, qualidades ou comportamentos. Os membros da comunidade do Reino não devem, por isso, fazer o bem em vista de uma determinada recompensa, mas para encontrarem a felicidade, a vida verdadeira e eterna.


• O texto deixa claro que o Reino de Deus (esse mundo novo de salvação e de vida plena) é para todos sem excepção. Para Deus não há marginalizados, excluídos, indignos, desclassificados… Para Deus, há homens e mulheres – todos seus filhos, independentemente da cor da pele, da nacionalidade, da classe social – a quem Ele ama, a quem Ele quer oferecer a salvação e a quem Ele convida para trabalhar na sua vinha. A única coisa verdadeiramente decisiva é se os interpelados aceitam ou não trabalhar na vinha de Deus. Fazer parte da Igreja de Jesus é fazer uma experiência radical de comunhão universal.

• Todos têm lugar na Igreja de Jesus, mas todos terão a mesma dignidade e importância? Jesus garante que sim. Não há trabalhadores mais importantes do que os outros, não há trabalhadores de primeira e de segunda classe. O que há é homens e mulheres que aceitaram o convite do Senhor – tarde ou cedo, não interessa – e foram trabalhar para a sua vinha. Dentro desta lógica, que sentido é que fazem certas atitudes de quem se sente dono da comunidade porque “estou aqui há mais tempo do que os outros”, ou porque “tenho contribuído para a comunidade mais do que os outros”? Na comunidade de Jesus, a idade, o tempo de serviço, a cor da pele, a posição social, a posição hierárquica, não servem para fundamentar qualquer tipo de privilégios ou qualquer superioridade sobre os outros irmãos. Embora com funções diversas, todos são iguais em dignidade e todos devem ser acolhidos, amados e considerados de igual forma.

• O texto denuncia ainda essa concepção de Deus como um “negociante”, que contabiliza os créditos dos homens e lhes paga em consequência. Deus não faz negócio com os homens: Ele não precisa da mercadoria que temos para Lhe oferecer. O Deus que Jesus anuncia é o Pai que quer ver os seus filhos livres e felizes e que, por isso, derrama o seu amor, de forma gratuita e incondicional, sobre todos eles. Sendo assim que sentido fazem certas expressões da vivência religiosa que são autênticas negociatas com Deus (“se tu me fizeres isto, prometo-te aquilo”; “se tu me deres isto, pago-te com aquilo”)?

• Entender que Deus não é um negociante, mas um Pai cheio de amor pelos seus filhos, significa também renunciar a uma lógica interesseira no nosso relacionamento com ele. O cristão não faz as coisas por interesse, ou de olhos postos numa recompensa (o céu, a “sorte” na vida, a eliminação da doença, o adivinhar a chave da lotaria), mas porque está convicto de que esse comportamento que Deus lhe propõe é o caminho para a verdadeira vida. Quem segue o caminho certo, é feliz, encontra a paz e a serenidade e colhe, logo aí, a sua recompensa.

• Com alguma frequência encontramos cristãos que não entendem porque é que Deus ama e aceita na sua família, em pé de igualdade com os filhos da primeira hora, esses que só tardiamente responderam ao apelo do Reino. Sentem-se injustiçados, incompreendidos, ciumentos, invejosos e condenam, mais ou menos veladamente, essa lógica de misericórdia que, à luz dos critérios humanos, lhes parece muito injusta. Na sua perspectiva, a fidelidade a Deus e aos seus mandamentos merece uma recompensa e esta deve ser tanto maior quanto maior a antiguidade e a qualidade dos “serviços” prestados a Deus. Que sentido faz esta lógica à luz dos ensinamentos de Jesus?



TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


DOMINGO 25 DURANTE EL AÑO CICLO "A"


Primera lectura (Is 55,6-9)


El capítulo 55 de Isaías cierra la segunda parte de su profecía conocida como deuteroisaías. Se trata de un oráculo de restauración que anuncia el regreso de los deportados a Jerusalén. Por su parte, la unidad literaria de Is 55,6-11 comienza con una invitación del profeta a buscar a Dios, a volverse a Él, pues está dispuesto a perdonar a quien se convierte (55,6-7). Luego siguen dos afirmaciones teológicas fuertes que, al parecer, buscan responder a las objeciones o resistencias internas de los exiliados israelitas: "Porque los pensamientos de ustedes no son los míos, ni los caminos de ustedes son mis caminos -oráculo del Señor-. Como el cielo se alza por encima de la tierra, así sobrepasan mis caminos y mis pensamientos a los caminos y a los pensamientos de ustedes" (55,8-9). Para comprender mejor estar expresiones debemos tener en cuenta que después de tantos años de exilio la fe de los israelitas se había enfriado y ahora se resistían a aceptar la novedad del perdón Divino e, incluso, piden señales para creer (cf. Is 40,27; 45,11; 49,14-16). A esto hay que sumarle que se presenta a Ciro, rey de Persia, como el ungido del Señor e instrumento suyo para liberar a su pueblo (cf. 41,2; 44,28; 45,1-4; 48,12-15). Es muy posible que este anuncio de ser liberados por un gentil, un pagano como Ciro, haya generado resistencia entre los exiliados. En el fondo esta resistencia supone querer poner límites al obrar de Dios rechazando todo aquello que no entra en los propios esquemas mentales. Por eso el Señor, a través del profeta, les recuerda el abismo que separa nuestra pobre comprensión de la realidad de los designios del Señor y de sus caminos.



Segunda lectura (Flp 1,20-26)


Este texto pone particularmente de manifiesto la tensión escatológica de la fe en Cristo por parte de Pablo, puesto que, si bien la experiencia de su conversión o vocación fue muy fuerte, este encuentro con Cristo no es todavía lo pleno y definitivo. El Señor, que se le apareció camino a Damasco, es Jesús Resucitado que está junto al Padre. Desde allí vendrá y Pablo vive esperándolo. Y como se demora, entonces Pablo suspira por alcanzarlo después de su muerte. Vale decir que la experiencia de Damasco lo abrió a una esperanza viva, a un ardiente deseo de estar con Cristo. Ahora bien, al mismo tiempo siente fuertemente su ardor misionero, su pasión por la evangelización y su responsabilidad paterna sobre la comunidad de Filipos fundada por él mismo. De aquí su lucha o división interior entre su deseo de estar con Cristo, que es lo mejor, y la necesidad de seguir acompañando a los Filipenses en su crecimiento en la fe. Al final su certeza es que "el cielo puede esperar".



 Evangelio (Mt 19, 30-20,16)


Jesús cuenta una historia que ilustra lo que es el Reino de los cielos y en la cual describe una situación que debiera ser familiar a sus oyentes. En efecto, era común por aquella época que los propietarios de haciendas contrataran en la plaza a los operarios por el día o jornal, de aquí la denominación de jornaleros. Según el relato, un propietario, de madrugada, cierra un acuerdo laboral con los jornaleros: un denario por el día de trabajo en su viña. Vuelve a ir a la plaza a media mañana (hora de tercia) y contrata a otro grupo; pero no se especifica el monto del pago, sólo les dice que les pagará lo que sea justo. Al parecer hasta aquí esta actitud del propietario no sorprendería a los oyentes. Lo llamativo es que vuelve a salir dos veces más, a mediodía y a media tarde (horas sexta y nona), para contratar más operarios. Y mucho más extraña es la última salida, al caer de la tarde (hora undécima) cuando casi ya no hay luz para seguir trabajando. Sin embargo, el propietario los manda igualmente a trabajar a su viña, aunque sea solo por una hora.

Con la clara intención de crear suspenso narrativo, nos dice la parábola que el propietario mandó que se pague el jornal comenzando por los últimos y terminando por los primeros. Entonces, los que trabajaron sólo una hora cobran lo correspondiente al día completo. Era de esperar, según la lógica humana de la retribución, que los primeros en ser contratados y que trabajaron todo el día reciban, proporcionalmente, un salario mayor. Sin embargo, reciben lo acordado: un denario. Esto origina la murmuración y la queja por parte de los mismos . El propietario se defiende diciendo que no ha sido injusto en sentido absoluto, por cuanto ha pagado lo acordado; más bien ha sido bondadoso con los últimos en ser contratados. Y esta bondad es la que se juzga desfavorablemente. El texto griego habla literalmente del "ojo malo" (ὁ ὀφθαλμός σου πονηρός ἐστιν) de los murmuradores con que miran esta actitud del propietario. En Mt 6,23 se habla también de este "ojo malo o enfermo" que expresa metafóricamente la actitud de avaricia o de envidia.

En conclusión, esta parábola del Reino de los cielos quiere, en primer lugar, poner de relieve la bondad de Dios. Lo expresa claramente A. Rodríguez  en su comentario: "Enmarcada por la doble repetición de la afirmación de que "los últimos serán los primeros y los primeros últimos", la parábola subraya la bondad de Dios y el carácter gratuito de su don, cosa que comprenden los "pequeños", pero no los fariseos… Mateo está pensando en lo que sucede en su tiempo, en que los "últimos", los gentiles, vienen a la Iglesia y se convierten en los "primeros". 

De modo semejante opina H. U. von Balthasar : “En la parábola de los jornaleros de la viña hay que tener muy en cuenta lo que realmente se quiere mostrar: que Dios en su libre bondad puede muy bien superar la medida de la justicia distributiva y que de hecho lo hace continuamente” .

Al mismo tiempo la parábola denuncia lo incorrecto de la actitud de los fariseos que cuestionan a Dios tratándolo de injusto. Si el pago de los jornaleros se hubiera narrado comenzando por los primeros y terminando con los últimos se resaltaría únicamente la bondad y generosidad del propietario. En cambio, al invertir el orden de la cobranza queda de manifiesto la murmuración o disconformidad de los israelitas ante la bondad de Dios que ofrece también a los paganos, a los no judíos, la participación en el Reino de los cielos. Y esta cerrazón ante la bondad de Dios es la que les impide ser solidarios con los demás. Al respecto dice U. Luz : “El fondo de la parábola incluye, en fin, una nueva actitud hacia el semejante, actitud a la que quiere inducir la experiencia de la bondad. El que haga de la justicia de Dios el principio todopoderoso y no tolere su bondad, que se presenta junto a ella, se incapacita para la solidaridad […] Al fondo último de la parábola pertenece – no como conclusión de un conocimiento teórico, sino como efecto práctico de una experiencia personal – una nueva actitud de solidaridad con aquellos que no la pasan bien, pero con los que Dios se entiende bien”.

Ahora bien, no sería correcto que la interpretación de esta parábola nos lleve a caer en la trampa de contraponer de modo excluyente la justicia y la bondad de Dios, algo frecuente en la exégesis protestante. Nos lo aclara muy bien U. Luz : "La bondad y la justicia de Dios no se contraponen antitéticamente. El relato habla, más bien, del milagro de la bondad de un agricultor que cumple con todas las exigencias de la justicia […] La parábola va, sobre todo, contra los intentos humanos de ligar la justicia y bondad de Dios de tal manera que lo uno pasa a ser la medida de lo otro. Entonces, o Dios no puede ser ya bondadoso, porque eso no permite aplicar el principio de la justicia, o tiene que ser bondadoso para todos, porque todos pueden apelar a la bondad por el principio de igualdad. La parábola apunta, así, a la libertad de Dios para ser bondadoso. No sustituye el sistema de valores de la justicia, que da a cada cual su merecido, por un nuevo sistema de bondad inmerecida, sino que el sistema de valores vigente queda "alterado" con la aparición del amor de Dios y pierde su mortífera validez general".



Algunas reflexiones:


En primer lugar, el evangelio de hoy nos invita a llenarnos de admiración y alabar la bondad del Padre y su amor por todos los hombres. En efecto, Dios nos quiere a todos trabajando en su viña; incluso a los que han perdido el tiempo en su vida y llegan, casi, demasiado tarde. Y esta bondad no atenta contra la justicia, aunque la supera. La justicia mira el mérito y paga a cada unos según sus obras. La bondad está más atenta a la necesidad del hombre por lo que nos concede lo que necesitamos, aunque en justicia no lo merezcamos. 


Jesús con esta parábola nos revela el rostro misericordioso del Padre, al igual que en la del hijo pródigo (cf. Lc 15). En este sentido todos necesitamos de la bondad y la misericordia de Dios. Esta fue justamente la enseñanza que Dios transmitió por medio de los profetas y que sólo la aprendieron los de corazón humilde, "los pobres de Yahvé"; como leemos en el texto del segundo Isaías de hoy. A través de la dura prueba del exilio ellos aprendieron que lo único absoluto es Dios, Su Bondad y Su Fidelidad. También aprendieron a reconocer que nuestros méritos y nuestros mismos pecados son relativos. Los primeros son insuficientes para alcanzar a Dios; y los segundos no bastan para impedir la obra de Dios. Nuestra dependencia de Él es total. Estamos "a merced de su gracia". Sólo Dios es Dios, el sólo término de nuestra fe, objeto de nuestro amor y motivo de nuestra esperanza. Y por ello hay que aceptar que sus caminos no son tal y como los imaginamos pues Él obra al modo divino y nosotros pensamos y calculamos al modo humano (primera lectura).


En segundo lugar, el evangelio nos llama la atención sobre el peligro latente del "ojo malo", el que tiene una mirada estrecha sobre el obrar de Dios queriendo confinarlo a sus propios criterios o esquemas mentales, a la simple y pura justicia, sin bondad. Ante esto la primera lectura nos recuerda cuan lejos están nuestros pensamientos y criterios de los pensamientos y criterios de Dios. De aquí la necesidad de la conversión como cambio de mentalidad, de búsqueda apasionada de Dios para comulgar con su mirada, con sus valoraciones. A su vez el "ojo malo" refleja un corazón dominado por una mezcla de avaricia y envidia que proyecta en Dios su propia estrechez o rigidez mental. Al respecto es bueno recordar lo que decía el Papa Francisco en su meditación del 15 de mayo de 2020: “me lo repito muchas veces y digo que la rigidez no es del buen Espíritu, porque pone en tela de juicio la gratuidad de la redención, la gratuidad de la resurrección de Cristo. Y esto es una cosa vieja: durante la historia de la Iglesia, esto se ha repetido. Pensemos en los pelagianos, en estos... estos rígidos, famosos. Y también en nuestros tiempos hemos visto algunas organizaciones apostólicas que parecían realmente bien organizadas, que trabajaban bien... pero todos rígidos, todos iguales entre sí, y luego supimos de la corrupción que había dentro, incluso en los fundadores. Donde hay rigidez no está el Espíritu de Dios, porque el Espíritu de Dios es libertad. Y esta gente quería seguir los pasos eliminando la libertad del Espíritu de Dios y la gratuidad de la redención: “Para ser justificado, debes hacer esto, esto, esto, esto...”. La justificación es gratis. La muerte y resurrección de Cristo es gratuita. No se paga, no se compra: ¡es un don! Y estos querían hacer esto.”


En tercer lugar, el evangelio de hoy deja muy en claro que “Dios llama a todos y llama a todas las horas. Hay una llamada universal a trabajar en la viña del Señor ¡también para los laicos!” . El Papa San Juan Pablo II en Christifidelis laicis se inspiró en esta parábola para referirse a la llamada de los fieles laicos a participar activamente en la misión de la Iglesia. Y el Papa Francisco decía al respecto en el ángelus del 24 de setiembre de 2020: “Es conmovedora la imagen de este dueño que sale varias veces a la plaza a buscar trabajadores para su viña. Ese dueño representa a Dios, que llama a todos y llama siempre, a cualquier hora. Dios actúa así también hoy: nos sigue llamando a cada uno, a cualquier hora, para invitarnos a trabajar en su Reino. Este es el estilo de Dios, que hemos de aceptar e imitar. Él no está encerrado en su mundo, sino que “sale”: Dios siempre está en salida, buscándonos; no está encerrado. Dios sale, sale continuamente a la búsqueda de las personas, porque quiere que nadie quede excluido de su plan de amor.

También nuestras comunidades están llamadas a salir de los varios tipos de “fronteras”, que pueden existir, para ofrecer a todos la palabra de salvación que Jesús vino a traer. Se trata de abrirse a horizontes de vida que ofrezcan esperanza a cuantos viven en las periferias existenciales y aún no han experimentado, o han perdido, la fuerza y la luz del encuentro con Cristo. La Iglesia debe ser como Dios: siempre en salida; y cuando la Iglesia no sale, se pone enferma de tantos males que tenemos en la Iglesia. ¿Por qué estas enfermedades en la Iglesia? Porque no sale. Es cierto que cuando uno sale existe el peligro de que tenga un accidente. Pero es mejor una Iglesia accidentada por salir, por anunciar el Evangelio, que una Iglesia enferma por estar encerrada. Dios sale siempre, porque es Padre, porque ama. La Iglesia debe hacer lo mismo: siempre en salida.”



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


Mi jornal


Señor,

Tú que eres generoso

Paga mi jornal

El trabajo ha sido poco, lo sé

Pero lo mío es trabajar y trabajar


A veces mirando al cielo

Y otras solamente a la par

Se agotan mis fuerzas por la faena

Señor te pido, paga mi jornal


Y si otros tienen más derecho

A recibir la paga que me darás

Mira solo mis manos, mis pocos frutos

Pero no te demores, te suplico

Paga mi jornal.


Es por la tarde cuando regreso

A buscarlo, sin dudar

Frente a tu servidor me encuentro

Y pido el Pan


Sediento y hambriento

Por tantos afanes

Recibo te doy y me entrego 

Por mi Jornal. Amén