DOMINGO DE RAMOS

DOMINGO DE RAMOS e DA PAIXÃO DO SENHOR 

24/03/2024

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


BÊNÇÃO DOS RAMOS

ANO B

Marcos 11,1-10


LEITURAS DA MISSA

1ª Leitura: Isaías 50, 4-7

Salmo Responsorial 21(22) R- Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? 

2ª Leitura: Filipenses 2,6-11

EVANGELHO

Marcos 14,1-15,47(Paixão do Senhor)

(Por favor, veja o texto usando o link da CNBB mencionado acima)


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA

Mc 11,1-10

Jesus entra na cidade de Jerusalém. O que seria uma simples caravana de galileus peregrinando a Jerusalém para a celebração da Páscoa, se transformou em uma entrada alegre e festiva.

Não é uma entrada triunfal, mas uma entrada reveladora. Ela revela quem é Jesus! Ele é o filho de Davi. Ele é o Bendito que vem em nome do Senhor! Ele é o rei Messias! Jesus é recebido com rei messiânico!

E Jesus aceita essa aclamação, mas salienta no seu modo de agir e se comportar que é um rei pacífico. Ele não se apresenta com um aparato militar, não é acompanhado de cortesãos, não se cerca de serviçais. Ele vem montado num jumentinho e se apresenta desarmado e humilde. Ele não vem para conquistar pelas armas, mas deseja conquistar os corações. Nesse sentido ele é rei, e é isso que a entrada em Jerusalém revela de Jesus.

Os ramos que levamos para a celebração de hoje possam exprimir que fomos conquistados por Jesus.

Hoje também nós entramos no mistério do Senhor crucificado, morto, sepultado e ressuscitado. Entrar no mistério do Senhor consiste em padecermos com Ele para com Ele ressuscitar. É passar da morte para a vida, do pecado para a graça, do homem velho para o homem novo em comunhão com Jesus Cristo.

Ouvimos o relato da Paixão e morte de Jesus não como simples recordação. Não se trata somente de um relato. Trata-se de entrar com Jesus nos eventos da sua paixão, morte e ressurreição. A liturgia de hoje nos põe diante da seguinte alternativa: “Hosana ao Filho de Davi” ou “Crucifica-o”. São dois evangelhos: no início da procissão de ramos o povo aclamou: “hosana ao Filho de Davi”; no relato da paixão vemos a multidão pedir: “Crucifica-o”.

Cabe a nós escolhermos com que atitude nós queremos entrar na história da Paixão de Cristo: com a atitude do povo que aclamou hosana, com o gesto do Cirineu que se coloca ao lado de Jesus para ajuda-lo a carregar a cruz, com o pranto da mulheres que choram por Jesus, com a fé do centurião que bate no peito, com o arrependimento do bom ladrão, com a fidelidade de Maria que permanece ao pé da cruz? Ou podemos entrar no mistério da Paixão do Senhor com o gesto da traição de Judas e de Pedro, com a omissão de Pilatos que lavou as mãos, com a curiosidade dos que olham tudo de longe, com o escárnio e a zombaria dos que torturam Jesus, com o insulto do malfeitor crucificado ao lado e que desafia Jesus a se salvar?

Como você deseja entrar no mistério da Paixão e Morte do Senhor? 

A Paixão de Jesus não é um relato do passado. Jesus continua na prisão, continua atado à coluna, sendo torturado e ofendido, está ainda sofrendo processo injusto, sendo preterido ao criminoso; Jesus continua no sepulcro lacrado por uma pesada pedra, porque naqueles que continuam sofrendo, Jesus continua sofrendo. Enquanto durar o sofrimento da humanidade, principalmente dos mais pobres, enquanto subsistir a dor e o pecado no mundo, Jesus está ainda misteriosamente no sepulcro; não ressuscitou ainda totalmente. Mais uma vez somos colocados diante da pergunta: como você vai entrar no mistério da Paixão de Jesus que continua sofrendo e morrendo nos sofredores deste mundo?

Toda a nossa vida deve ser, em certo sentido, uma semana santa. Como vamos vivê-la? 

Possamos viver a grande semana da santa da vida com Jesus, como Jesus, e como tantos outros bons Cirineus, como Maria, como o Centurião Romano, como o bom ladrão!


Humanizar nossa Jerusalém através do diálogo amoroso -  Adroaldo Palaoro 

  

“Quando se aproximaram de Jerusalém na altura de Betfagé e de Betânia, junto ao monte das Oliveiras... (Mc 11,1)

Galileia foi a primeira decisão importante que Jesus tomou no início de sua vida pública.

Ele viu claramente que o melhor lugar onde Ele poderia e deveria comunicar sua mensagem era, precisamente fazer-se presente nos povoados, nas pequenas vilas, nos campos e à beira-mar, lugares habitados por humildes camponeses e pescadores, pessoas pobres e marginalizadas, doentes e excluídas.

O fato é que Jesus, para realizar sua missão como Messias, não se dirigiu à capital, Jerusalém, nem à importante província da Judéia. Para comunicar uma “boa notícia” à sociedade de seu tempo, não buscou conquistar para si os notáveis e as classes abastadas, nem procurou os postos de privilégios, nem o favor dos mais influentes e, muito menos, os que detinham o poder e o dinheiro nos grandes centros urbanos.

No entanto, Jesus, presença de vida nos povoados, vilas e campos, quis também levar vida a uma cidade que carregava forças de morte em seu interior. Ele quis pôr o coração de Deus no coração da grande cidade; desejava re-criar, no coração da capital, o ícone da nova Jerusalém, a cidade cheia de humanidade e comunhão, o lugar da justiça e fraternidade...

A situação pandêmica do Covid 19 que estamos vivendo fez emergir a situação camuflada de um distanciamento humano. O isolamento sanitário e a decretação de “lockdown” em muitas cidades pôs às claras esta dura realidade: já levamos anos praticando o distanciamento político, a polarização religiosa, o enfrentamento de extremos, a separação ideológica, a distância como meio para nos fechar em nossas posições fanáticas, preconceituosas e intolerantes, o esvaziamento do diálogo... Uma voz surda sempre esteve presente: devemos nos separar dos outros, daqueles que pensam diferente, sentem diferente, vivem diferente, assumem posições e opções diferentes...

Não podemos deixar que a atual crise sanitária acentue mais ainda os diferentes distanciamentos que estavam escondidos, mas que agora vieram à tona com mais força. As nossas cidades estão se revelando, cada vez com mais intensidade, como espaço de grandes rupturas e violências, lugar de exclusão e isolamento, visibilização de uma desumanização trágica.

Também os muros estão voltando à moda. Há em todo ser humano uma tendência a cercar-se de muros, a encastelar-se, a criar uma rede de proteção. Os muros, no interior das cidades, são muito concretos: muros sociais, religiosos, políticos, culturais... Com tantos muros é impossível construir pontes de diálogo e reconciliação.

A vivência do seguimento de Jesus Cristo implica romper a bolha que asfixia a vida e derrubar os muros que cercam o coração, atrofiando a própria existência.

Somos chamados a uma pertença pessoal cada vez mais ampla, até sentir-nos parte da “Jerusalém” que sonhamos. Precisamos de fronteiras, sim, mas que sejam fronteiras abertas ao diálogo, flexíveis, fluidas, acolhedoras do diferente...

Esta capacidade humana de dialogar com o outro diferente, quebrar distâncias e deixar que a própria vida seja questionada pelo outro é a qualidade maior daqueles que alargam suas fronteiras e não se deixam dominar pelo medo e pelo preconceito.

O diálogo com todos é verdadeiramente o único modo para superar os desafios que temos diante da diversidade de ideias, visões, modos de ser e viver.... Quando nos encontramos, nos revelamos como pessoas vivas que tem imaginação, criatividade, sonhos..., e isso nos faz crescer e viver um humanismo mais aberto.

As pessoas e os povos de todos os tempos e lugares trazem, como que enraizados nas fendas mais profundas de sua alma, sonhos de rara beleza. São desejos de construção de uma nova Jerusalém, a cidade huma-nizada, ou seja, espaço da acolhida, da convivência, do diálogo aberto, da fraternidade e dos encontros... Era certamente nessa direção que Jesus apontava, ao se dirigir a Jerusalém como a cidade das esperanças e possibilidades.

Não nos sobram muitas outras oportunidades de transformar este sonho em realidade. Vivemos na distância, necessária no momento, mas não façamos dela nosso estilo de vida; não devemos convertê-la em meio que determine o que somos. Somos chamados a ser algo mais que compartimentos estanques e seguros, isolados. Podemos ser “praça comum” de encontro e diálogo, de mãos estendidas e ouvidos atentos para dar forma a isso que tanto precisamos: sentir-nos próximos uns dos outros.

Podemos recordar o constante convite de Jesus a provocar encontros e diálogos que ajudem a integrar, a re-unir, a re-ligar, a articular o tecido comunitário. Há tantas vidas esparramadas, isoladas, rejeitadas..., esperando por sinergia. Na verdade, Ele provocou as pessoas a saírem de seu isolamento e padrões alienados de relacionamento para expandir-se em direção a uma nova forma relacional com tudo o que existe; tal relação é a concretização do sonho do “Reino de Deus”.

Nossa vocação é a de construir pontes e ser presença reconciliadora em situações de fronteira, colocando nossas energias, nossa formação, nossa vida a serviço... para criar, alimentar e sustentar os laços humanos, relações sociais, estruturas sociais, políticas e econômicas que tornem possível o diálogo, a solidariedade e o encontro entre todos os seres humanos e aponte para uma nova cidade, fraterna e justa.

Esta é a dura contradição que estamos vivendo: se estar separados fisicamente de nossos seres queridos e vizinhos é o mais eficaz para combater a pandemia, precisamos, então, buscar outras expressões de proximidade para que essa distância não se converta em ecossistema e modo de vida. A distância sanitária não pode servir de cortina de fumaça para reforçar as distâncias sociais e religiosas, no interior dos grandes centros urbanos.

Isso pede de todos nós uma atitude de abertura e de deslocamento frente ao outro, o que implica colocar-nos em seu lugar, deixar-nos questionar e desinstalar por ele... Importa, pois, re-descobrir com urgência o encontro dialogal como valor ético e como hábito permanente de vida.

Somos chamados a viver o diálogo como um estilo de vida, fundado no modo de viver de Jesus.

O diálogo, que nos faz sair de nós mesmos, nasce da compaixão e nos leva a reconhecer no outro uma dignidade e uma capacidade criativa para superar toda divisão e conflito

A paixão pelo Reino nos mobiliza a levar adiante a missão, a ir aos lugares onde há mais necessidade e ali realizar obras duradouras de maior proveito e fruto.

O(a) discípulo(a) missionário(a) não é aquele(a) que, por medo, se distancia de sua cidade, mas é aquele(a) que, movido(a) por uma radical paixão, desce ao coração da realidade em que se encontra, aí se encarna e aí revela os traços da velada presença do Inefável; a cidade já não é percebida como ameaça ou como objeto de domínio, mas como dom pelo qual Deus mesmo se faz encontrar. A cidade não é lugar da exploração e da depredação, mas é o lugar da receptividade, da oferenda e do diálogo inspirador.

 

Para meditar na oração:

O gesto profético de Jesus de “entrar em Jerusalém” nos convida a contemplar nossas cidades e nos desafia ser presença evangélica, transformadora, portadora de vida nos nossos grandes centros urbanos.

A cidade é o lugar por excelência do discernimento, porque é o espaço de decisão onde se constrói o futuro comum. Lugar da política, da cultura, da educação, da saúde... onde se forjam as mudanças, a capacidade de criar novos modos de existir, de romper com as estruturas que desumanizam e buscar o diferente, o novo, o desconhecido...

* Como ser portador de Boa Notícia nas grandes cidades?

* Como ser sinal de comunhão e do Amor misericordioso do Deus da Vida?

* Como transformar a vida das grandes cidades?

  

Na paixão a plena revelação: Jesus é o filho de Deus - Enzo Bianchi - 

Tradução Moisés Sbardelotto.

 

Durante toda a sua missão, a identidade de Jesus como Filho de Deus havia sido ocultada e não publicamente proclamada, por vontade do próprio Jesus, mas, na sua paixão, ocorre a sua plena revelação: Jesus é o Filho de Deus, o Messias manifestado ao povo de Israel e confessado por um pagão debaixo da cruz.

O relato da paixão de Jesus, que a liturgia nos propõe ao lado do da entrada festiva de Jesus em Jerusalém (Mc 11,1-10), ocupa um quinto de todo o Evangelho segundo Marcos. É o relato mais antigo contido nos Evangelhos, uma longa narração na qual encontramos o eco das testemunhas, acima de tudo de Pedro, cujo nome retorna frequentemente, e depois dos outros discípulos. Todos, porém, no momento da prisão, fogem...

O relato é composto por duas partes: a primeira, que narra os eventos vividos por Jesus junto com a sua comunidade até a captura (cf. Mc 14,1-42), e a segunda, que apresenta o processo nas suas fases, a execução da condenação em cruz e o sepultamento do corpo de Jesus em um túmulo (cf. Mc 14,43-15,47).

Dada a extensão desse trecho, não podemos fazer um comentário pontual dele; portanto, nos limitaremos a um olhar de conjunto que evidencie a boa notícia, o Evangelho contido no relato da paixão.

Essa narrativa põe à prova o nosso olhar de fé sobre Jesus: somos quase forçados a sofrer o escândalo e a loucura da cruz (cf. 1Cor 1,23), somos colocados diante do resultado falimentar da vida de Jesus. Aquele que passou no meio do seu povo fazendo o bem (cf. At 10,38), cuidando dos doentes e às vezes curando-os, e forçando o diabo a obedecê-lo (cf. Mc 1,27) e a recuar; aquele que, como profeta poderoso em obras e em palavras, “todos procuravam” (cf. Mc 1,37); aquele que atraiu a si as multidões, que o aclamaram como bem-aventurado e como aquele que vem no nome do Senhor (cf. Mc 11,9); aquele que conseguiu reunir ao seu redor uma comunidade itinerante de homens e mulheres que o reconhecia como Profeta e Messias; esse homem, Jesus de Nazaré, conhece um fim impensável e chega a uma morte falimentar.

Cada leitor atento do Evangelho, cada discípulo que seguiu Jesus desde seu batismo até o fim, não pode deixar de ficar profundamente abalado, perturbado com tal resultado...

Onde foi parar – é possível se perguntar – a força de Jesus, o poder com que ele libertava da doença e da morte aqueles que por elas estavam marcados? “A outros salvou, a si mesmo não pode salvar” (Mc 15,31) – seus adversários zombam dele...

Onde foi parar aquele carisma profético com o qual ele anunciava como já muito próximo ou, melhor, presente o Reino de Deus (cf. Mc 1,15)?

Por que, na paixão, Jesus está reduzido ao silêncio e se deixa humilhar sem abrir a boca (cf. Is 53,7)?

Onde está aquela autoridade que lhe foi reconhecida tantas vezes por quem o chamava de mestre, o aclamava como profeta, o invocava como Messias e Salvador?

Todos aqueles que pareciam ser seus seguidores e simpatizantes desapareceram, e Jesus está sozinho, abandonado por todos, inerme e sem qualquer defesa.

Mas o enigma é ainda mais radical: onde está Deus durante a paixão de Jesus? Aquele Deus que parecia ser tão próximo dele e que ele chamava confidencialmente de “Abba”, isto é, “Papai querido”; aquele Deus que o havia declarado “Filho amado” no batismo (cf. Mc 1,11) e na transfiguração (cf. Mc 9,7); aquele Deus por quem Jesus havia posto em jogo e consumado toda a sua vida, onde está agora?

Não nos esqueçamos: a morte de cruz – como o apóstolo Paulo compreendeu – é a morte do amaldiçoado por Deus (cf. Dt 21,23; Gl 3,13), julgado como tal pela legítima autoridade religiosa de Israel, e ao mesmo tempo, é o suplício extremo infligido a quem é considerado nocivo à sociedade humana. Jesus verdadeiramente morreu como um impostor, na ignomínia, pendurado entre céu e terra, por ter sido rejeitado por Deus e pelos homens...

É muito difícil responder a essas perguntas. Pode-se começar notando que Jesus percorreu esse caminho – justamente definido como Via Crucis, caminho da cruz – rezando ao Pai para que o sustentasse naquela hora tenebrosa “suplicando a Deus com grande clamor e lágrimas” (Hb 5,7); em tudo isso, porém, sempre lutou para se abandonar a Deus e tentar cumprir a sua vontade, não a própria (cf. Mc 14,36).

Sim, Jesus viveu a paixão mantendo a sua plena confiança no Pai, acreditou que Deus não o abandonaria, que permaneceria com ele, do seu lado, apesar das aparências de sinal oposto e do fracasso humano real da sua vida e da sua missão.

Mas, no relato da paixão segundo Marcos, há uma suma revelação, feita pelo próprio Jesus durante o processo ocorrido à noite na casa do sumo sacerdote, onde estão reunidos todos os chefes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas, portanto, todas as autoridades religiosas de Israel. Estes procuram uma testemunha contra Jesus, mas não a encontram, e as falsas provas acumuladas, discordantes entre si, são inválidas. Eis, então, que o sumo sacerdote se levanta no meio e interroga Jesus: “Tu és o Messias, o Filho de Deus Bendito?” (Mc 14,61). A pergunta é decisiva, requer uma confissão sobre a sua identidade de Cristo-Messias e de Filho de Deus (o Bendito).

Jesus, que recebera a confissão de Pedro: “Tu és o Cristo” (Mc 8,29) respondendo ao apóstolo e aos outros para não falarem a ninguém (cf. Mc 8,30), agora diz com parrhesía, com franqueza: “Eu sou” (Egó eimi)” (Mc 14,62). É a plena revelação! Sim, Jesus é o Cristo, é o Filho de Deus, aquele que vem daquele que se revelara como “Eu sou” (Ex 3,14, cf. Is 41,4.10).

O Evangelho segundo Marcos havia iniciado com as palavras: “Início do Evangelho de Jesus, Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1), testemunhando a fé da Igreja em Jesus. Aqui, é Jesus mesmo que se revela como Cristo e Filho de Deus. E continua: “E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-Poderoso, vindo com as nuvens do céu” (Mc 14,62). Haverá uma manifestação no futuro, de acordo com a visão profetizada por Daniel (cf. Dn 7,13-14), que se imporá e revelará a verdadeira identidade de Jesus, agora capturado, prisioneiro e condenado à morte violenta: o imputado no processo será o Juiz no fim dos tempos (cf. Mc 13,26-27)!

Essa revelação de Jesus diante do sumo sacerdote será retomada pelo centurião debaixo da cruz, que “viu como Jesus havia expirado e disse: ‘Na verdade, este homem era Filho de Deus!’” (Mc 15,39).

Durante toda a sua missão, a identidade de Jesus como Filho de Deus havia sido ocultada e não publicamente proclamada, por vontade do próprio Jesus, mas, na paixão, ocorre sua plena revelação: Jesus é o Filho de Deus, o Messias manifestado ao povo de Israel e confessado por um pagão debaixo da cruz. Realmente, como um monge do século XII soube expressar de modo magistral: “Sem beleza nem esplendor, e pendurada na cruz, a Verdade deve ser adorada”.

O que resta a dizer? Para compreender profundamente a paixão de Jesus, de modo a poder segui-lo nela sem se escandalizar, podemos ainda meditar sobre o sentido do gesto eucarístico da Última Ceia (cf. Mc 14,17-25). Jesus realizou tal ato para evitar que os discípulos lessem a sua morte como um evento sofrido por acaso, ou devido a um destino inelutável desejado por Deus.

Nada disso tudo. Jesus, de fato, viveu seu próprio fim na liberdade: poderia ter fugido antes que os eventos precipitassem, poderia ter cessado de realizar ações e de pronunciar palavras ao término das quais o esperava uma condenação à morte.

Mas não o fez; pelo contrário, permaneceu fiel à missão recebida de Deus, continuou realizando em tudo e pontualmente a vontade do Pai, mesmo às custas de ir ao encontro de um fim ignominioso. E isso porque ele sabia muito bem que só assim poderia amar a Deus e aos seus até ao fim (cf. Jo 13,1)...

Jesus concluiu sua existência assim como sempre a gastara: na liberdade e por amor a Deus e a todos seres humanos! Para que isso ficasse claro, Jesus antecipou profeticamente aos discípulos a sua paixão e morte, explicando-a a eles com um gesto capaz de narrar o essencial de toda sua história: pão partido, como a sua vida seria dali a pouco; vinho derramado no cálice, como o seu sangue seria derramado em uma morte violenta.

Se, no início do Evangelho, Marcos escrevera que os discípulos, “abandonando tudo, seguiram a Jesus” (cf. Mc 1,18.20), na hora da paixão se vê forçado a anotar que eles, “abandonando Jesus, fugiram todos” (Mc 14,50). O escândalo da cruz permanece em toda sua dureza e não deve ser silenciado, mas o sinal eucarístico, memorial da vida, paixão e morte de Jesus, será capaz de reunir novamente os discípulos em torno do Cristo ressuscitado.

A comunidade dos discípulos de Jesus poderá, assim, atravessar a história e chegar até nós, sem temer enfrentar nem mesmo as horas obscuras e as crises: o seu Senhor, de fato, a precedeu também nessas provações, vivendo-as na liberdade e por amor.

  

Identificando-se com as vítimas - José Antonio Pagola

Nem o poder de Roma nem as autoridades do Templo puderam suportar a novidade de Jesus. A Sua forma de entender e de viver Deus era perigosa. Não defendia o Império de Tibério, chamava a todos para procurar o reino de Deus e a Sua justiça. Não lhe importava quebrar a lei do sábado nem as tradições religiosas, só lhe preocupava aliviar o sofrimento das pessoas doentes e desnutridas da Galileia.

 

Não lho perdoaram. Identificava-se demasiado com as vítimas inocentes do Império e com os esquecidos pela religião do Templo. Executado sem piedade numa cruz, Nele se nos revela agora Deus, identificado para sempre com todas as vítimas inocentes da história. Ao grito de todos eles se une agora o grito de dor do mesmo Deus.

 

Nesse rosto desfigurado do Crucificado revela-se um Deus surpreendente, que quebra as nossas imagens convencionais de Deus e coloca em questão toda a prática religiosa que pretenda dar-lhe culto esquecendo o drama de um mundo onde se continua a crucificar os mais débeis e indefensos.

 

Se Deus morreu identificado com as vítimas, a Sua crucificação converte-se num desafio inquietante para os seguidores de Jesus. Não podemos separar Deus do sofrimento dos inocentes. Não podemos adorar o Crucificado e viver de costas ao sofrimento de tantos seres humanos destruídos pela fome, as guerras ou a miséria.

 

Deus continua a interpelar-nos desde os crucificados dos nossos dias. Permite-nos continuar a viver como espectadores desse sofrimento imenso alimentando uma ingénua ilusão de inocência. Temos de rebelar-nos contra essa cultura do esquecimento que nos permite isolarmos dos crucificados, deslocando o sofrimento injusto que há no mundo para um «afastamento» onde desaparece todo o clamor, gemido ou choro.

 

Não podemos encerrar-nos na nossa «sociedade de bem-estar», ignorando essa outra «sociedade do mal-estar» em que milhões de seres humanos nascem só para se extinguir aos poucos anos de uma vida que só foi de sofrimento. Não é humano nem cristão instalar-nos na segurança esquecendo a quem só conhece uma vida insegura e ameaçada.

 

Quando os cristãos, levantamos os nossos olhos até ao rosto do Crucificado, contemplamos o amor insondável de Deus, entregado até à morte para a nossa salvação. Se olhamos mais detidamente, depressa descobrimos nesse rosto o de tantos outros crucificados que, longe ou perto de nós, estão reclamando o nosso amor solidário e compassivo.

 

Quando só se pensa em Messias como Rei Glorioso

Abrir os olhos para ver

 

Mercedes Lopes e frei Carlos Mesters 

Esse texto fala da grande manifestação popular em favor de Jesus no Domingo de Ramos. Sentado num jumento, animal de carga, Jesus entra em Jerusalém, capital do seu povo. Os discípulos, as discípulas e povo romeiro, vindos da Galiléia, o aclamam como messias. Mas o povo da capital não participa. Apenas assiste, e as autoridades nem aparecem.

A romaria termina na praça do Templo, a praça dos poderes. Parece uma passeata que termina diante da catedral e do Palácio do Planalto. Também hoje há manifestações populares. As suas reivindicações revelam o sofrimento do povo e a sua indignação frente às injustiças. Nem todos participam, pois têm medo. A maioria apenas assiste.

Situando

Finalmente, após uma longa caminhada de mais de 140 quilômetros, desde a Galiléia até Jerusalém, a romaria está chegando ao seu destino. Neste quinto bloco (Mc 11,1 a 13,37), tudo se passa em Jerusalém, símbolo central da religião (Sl 122,3). No início do bloco, está o gesto simbólico de Jesus: aclamado pelo povo peregrino, ele entra na cidade montado num jumentinho, animal de carga.

A caminhada de Jesus e seus discípulos era também a caminhada das comunidades no tempo em que Marcos escrevia o seu evangelho: seguir Jesus, desde a Galiléia até Jerusalém, desde o lago até o calvário, com a dupla missão de denunciar os donos do poder que preparam a cruz para quem os desafia e de anunciar ao povo sofrido a certeza de que um mundo novo é possível. Esta mesma caminhada continua até hoje.

Comentando

Marcos 11,1-3: A chegada em Jerusalém

Jesus vem caminhando, como romeiro no meio dos romeiros! O ponto final da romaria é o Templo, onde mora Deus! Em Betânia ele faz uma parada. Betânia significa Casa da Pobreza. Era um povoado pobre fora da cidade, do outro lado do Monte das Oliveiras. De lá, Jesus organiza e prepara a sua entrada na cidade. Ele manda os discípulos buscar um jumentinho, um jegue, animal de carga, para poder realizar um gesto simbólico.

Marcos 11,4-6: A ajuda dos discípulos e das discípulas

Os discípulos fazem como Jesus tinha mandado, e tudo acontece conforme o previsto. Eles encontram o jumentinho e o levam até Jesus. E alguns dos que ali se encontravam perguntaram: “Por que vocês estão soltando o jumentinho?” E eles responderam: “Jesus está precisando!” Todos nós somos como o jumentinho, animal de carga. Jesus precisa de nós.

Marcos 11,7-10: A entrada solene na Cidade Santa

Jesus monta o jumentinho e entra na cidade, aclamado pela multidão de peregrinos e pelos discípulos. Na cabeça deles está a ideia do messias rei glorioso, filho de Davi! Eles acreditam que, finalmente, o Reino de Davi tenha chegado e gritam: “Bendito o Reino que vem de nosso pai Davi!” Jesus aceita a homenagem, mas com reserva. Montado no jumentinho, ele evoca a profecia de Zacarias que dizia:

“Teu rei vem a ti, humilde, montado num jumento. O arco de guerra será eliminado” (Zc 9,9-10).

Jesus aceita ser o messias, mas não o messias rei glorioso e guerreiro que os discípulos imaginavam. Ele se mantém no caminho do serviço, simbolizado pelo jumentinho, animal de carga. Jesus ensina agindo.Os discípulos, que procurem entender o gesto de Jesus, mudem de ideia e se convertam!

Alargando

As romarias do povo e os salmos de romaria  

As romarias para Jerusalém se faziam três vezes ao ano, nas três grandes festas: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos (cf. Ex 23,14 e 17). Dos lugares mais distantes os romeiros vinham caminhando. Alguns faziam cinco, seis ou mais dias de viagem. Vinham para Jerusalém, a capital, “a cidade grande e bela, para onde tudo converge” (cf. Sl 122,3-4). As romarias eram momentos de confraternização e de muita alegria: “Fiquei foi contente, quando me disseram: Vamos para a Casa do Senhor!” (Sl 122,1).

Nestas longas viagens, o povo rezava e cantava os Salmos de Romaria. Jesus também os rezou, junto com os peregrinos da Galiléia, nesta sua última romaria para a Casa de Deus, em Jerusalém.

Os “Salmos de Romaria” formam uma coleção de 15 salmos dentro do saltério, do Salmo 120 até o Salmo 134. São salmos pequenos. O povo que rezava quando subia para o Templo de Jerusalém em peregrinação. Por isso chamados “Cânticos das Subidas”. Eles diziam: “Vinde! Vamos subir ao Monte de Javé!” (Is 2,3). “Vamos subir a Sião, a Javé, nosso Deus!” (Jr 31,6).

Apesar de pequenos, os Salmos de Romaria possuem uma grande riqueza. São uma amostra de como o povo rezava e se relacionava com Deus. Eles ajudam o povo a perceber os traços de Deus nos fatos da vida. Transformam tudo em prece, mesmo as coisas mais comuns da vida de cada dia. De um jeito bem simples, revelam a dimensão divina do quotidiano. Ajudam a perceber e a rezar a dimensão divina do humano.

Também eram chamados “Cânticos dos Degraus”. Provavelmente por causa da majestosa escadaria de 15 degraus que dava acesso ao Templo de Jerusalém. Daí, talvez, a razão de a coleção ter exatamente 15 salmos.

A subida pelos 15 degraus da escadaria do Templo era uma imagem e um resumo da própria romaria, desde o povoado até Jerusalém. E ambas, tanto a subido como a romaria, eram um símbolo ou uma imagem da caminhada de cada pessoa em direção a Deus.

Quando, finalmente, após longa caminhada, o romeiro chega ao Templo e experimenta algo da presença de Deus, as palavras já não bastam para dizer o que se vive. Então, o gesto das mãos completa o que falta nas palavras. Isto transparece nos Salmos de Romaria. Assim, no último salmo, gesto e palavra se unem para expressar o que se vive: “Levantem as mãos para o santuário e bendigam a Javé!” (Sl 134,2).

Ao longo dos salmos de romaria, os mesmos pensamentos e sentimentos aparecem e reaparecem, do começo ao fim. Eles indicam a direção da oração, o rumo do Espírito. Eis uma lista que pode servir como chave de leitura para nós.

1.      O pano de fundo que percorre estes salmos é a experiência libertadora do Êxodo e do Exílio;

2.      São orações em que agricultores expressam e rezam a sua vida e os seus problemas;

3.      Transparece nas imagens usadas uma situação de violenta opressão e de exploração do povo;

4.      Em alguns destes salmos, se passa do eu para o nós, o que revela a integração na comunidade;

5.      Neles se expressa a alegria intensa da confraternização dos romeiros em Jerusalém;

6.      O Templo ocupa um lugar importante na vida do povo, lugar de encontro com Deus;

7.      A ambivalência da monarquia e da cidade de Jerusalém: centro que atrai e que oprime;

8.      Um grande desejo de paz e de liberdade percorre quase todos estes salmos;

9.      Não usam ideias rebuscadas, mas transformam em prece as coisas comuns da vida;

10.  No centro de tudo, no começo e no fim, está a fé em “Javé que fez o céu e a terra”.

  

Quem é Jesus? - Ana Maria Casarotti

 

O comentário é realizado desde o ponto de vista dos discípulos e olhando algumas das atitudes de Jesus.

A primeira frase do Evangelho de Marcos oferece um panorama sobre aquilo que é desenvolvido ao longo de todo o Evangelho: a Boa Notícia de Jesus Cristo. Veremos que o centro desta Boa Notícia é Jesus. Por isso pode-se dizer que a pergunta que traspassa o Evangelho é “Quem é Jesus?”. Sua pessoa será revelada progressivamente ao longo do texto. Culmina assim com a exclamação do centurião romano ao ver Jesus na cruz, quando exclama: “realmente este homem é o Filho de Deus” (Mc 15,39).

A extensa narrativa que lemos neste dia apresenta Jesus decidido a ser fiel ao Pai, amando-o até o extremo. Jesus não é ingênuo daquilo que lhe vai acontecer. Ele sabe que esse é o caminho do Messias que o povo aguardava! Durante muitas noites e pela madrugada, reconhecendo a presença do amor do Pai e a confiança que tinha depositado nele, Jesus progressivamente aceita o sofrimento em favor dos mais pobres e desprotegidos. (Evangelho de Marcos: seguir Jesus a partir dos injustiçados)

Jesus, como lemos e celebramos na procissão com os ramos de Oliveira, entra na cidade montado num jumentinho e aclamado pelo povo como o Messias anelado, sabe que o aguarda um final que não é propriamente de glória como em geral se acreditava. Durante sua vida ele mesmo sofre o desprezo e a injúria dos que se consideravam os chefes de uma religião que oprimia as pessoas. O povo simples e fiel são os que, na sua entrada em Jerusalém, estendem seus mantos, colocam ramos a seus pés e clamam cheios de entusiasmo.

Nessa entrada de Jesus possivelmente lembraria as palavras do profeta Zacarias “...grita de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei vem montado num jumento... Ele destruirá os carros de guerra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; quebrará o arco de guerra. Anunciará paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar” (Zac 9,9).

Jesus é para eles o Messias realmente esperado. Mas como era esse Messias tão desejado? Seria um Messias cheio de poder que os libertaria dos impérios que os escravizavam, do sofrimento, da opressão sofrida e assim “dominaria de mar a mar”.

A espera das pessoas estava orientada num Messias que abençoaria os oprimidos, estabelecendo um reino de paz e justiça tão desejado e aguardado. Jesus entra na cidade e o povo canta “Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Bendito seja o Reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto do céu!”.

Na expressão Hosana, eles suplicam “Nos salva Senhor, por favor!”. Na pessoa de Jesus o povo coloca as expectativas de muitas gerações, acrescentada pelo sofrimento da opressão e da injustiça que viviam cada dia. Não era simplesmente um desejo, era uma necessidade vital! E Jesus era para eles esse Messias esperado.

Na Procissão deste domingo lemos a aclamação do povo a Jesus, mas também na missa lemos os capítulos sobre a Paixão e Morte de Jesus.

Geralmente a morte de Jesus numa cruz é conhecida por todos e todas nós, mas nem sempre dedicamos tempo para meditar nela.

Imaginemos o sentir desse povo que aguarda um Messias poderoso em palavras e obras e neste momento está sendo partícipe da morte ignominiosa deste “messias”. As expectativas depositadas em Jesus morrem junto com sua morte. Possivelmente no seu interior vivem a experiência do fracasso, da decepção, da desilusão. Esta frustração deve semear neles e nelas dúvidas sobre a pessoa de Jesus.

Será verdadeiramente o Messias? É possível que uma pessoa que venceu a enfermidade, que libertou pessoas dos espíritos maus, que deu vista aos cegos, alimentou multidões e realizou tantos milagres não possa vencer os inimigos que procuram sua morte? Eles pensariam: então, fomos enganados?

Nos relatos da paixão que lemos hoje aparece a pergunta sobre a identidade de Jesus(quem é Jesus?) expressada por diferentes pessoas: religiosas – sumo sacerdote e logo os escribas – e romanas: Pilatos e o centurião romano, que confessa que ele é o filho de Deus.

Quase ao final do capítulo 14, o sumo sacerdote lhe pergunta se ele é o Messias (14, 61). Desde sua condição de juiz, Pilatos lhe pergunta se ele é o Rei dos judeus. Pouco mais adiante os sumos sacerdotes e os escribas exigem que, se ele é o Messias, que desça da cruz. Eles sempre estão esperando confirmações de uma realidade que só é aceita pela fé e abertura ao Senhor e seu Mistério. Finalmente o centurião romano, apesar de sua condição, quando o vê na cruz, realiza a confissão de fé em Jesus Crucificado como o Filho de Deus.

Num primeiro momento, juntos, Jesus e seus discípulos e suas discípulas, se dirigem ao monte das Oliveiras: “Depois de terem cantado salmos, foram para o monte das Oliveiras” (14,26). Apesar do tempo que estiveram juntos e foram particularmente ensinados por Jesus, os discípulos não podem acreditar no que está acontecendo. Como se a realidade fosse muito árdua para suportá-la. Jesus já lhes tinha dito: “Vocês todos vão ficar desorientados, porque a Escritura diz: ‘Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão.’” (14,27). Uma vez mais Pedro tenta mostrar sua fidelidade até o fim: ele não ficara nem desorientado e menos ainda vai negar Jesus. E repete-o com força: “Ainda que eu tenha de morrer contigo, mesmo assim não te negarei”.

Pedro, Tiago e João que foram levados de forma especial por Jesus junto dele, ficam dormindo e não escutam Jesus falar de sua tristeza, do medo e da angústia que sentia. Não conseguem vigiar.

Quando Jesus é preso pela multidão armada de espadas e paus enviados pelos sacerdotes e acompanhados por Judas, os discípulos fogem todos e abandonam Jesus.

Posteriormente Pedro tenta acompanhar Jesus, mas tem medo, e todas as vezes que é perguntado sobre sua relação com Jesus, ele o nega (14,66-72).

Jesus é, assim, abandonado por todos, mas as mulheres permanecem aos pés da cruz (15,40-41).

Somos convidados e convidadas por elas a derramar nosso afeto e nosso amor, como elas. Nesta semana deixemos que o Mistério do Crucificado entre na nossa vida, sua Pessoa, suas palavras, seu silêncio e sua ternura.

Que o centurião romano nos inspire a reconhecer, como ele, em Jesus o amor entregue, para exclamar juntos: “De fato, este homem era mesmo Filho de Deus!” (15,39).

  

ISAÍAS 50, 4-7 – REFLEXÃO

 (Não há indicações do (a) autor (a)

Este domingo, abre a Semana Santa. A semana começa com a chegada de Jesus, com seus discípulos, em Jerusalém, e termina com a sua morte e Ressurreição, no Domingo da Pascoa, passando pela lembrança e celebração da passagem dos antepassados pelo mar vermelho a caminho da libertação, e a travessia do Mar Vermelho – a última ceia na quinta-feira Santa.

A primeira leitura nossa hoje é tirada da segunda parte do livro do profeta Isaias, onde nós encontramos os quatro cânticos, conhecido como os Cânticos do Servo do Senhor (cf. Is 42, 1-7; 49, 1-7; 50, 4-9; 52, 13-53,12). Neste Quatro Cânticos Deus escolhe o seu servo, apresenta o servo à comunidade, prepara o seu servo par cumprir a sua missão e o manda cumprir. No último dos quatro cânticos o servo vai e cumpre a sua missão, ficando fiel, sem desviar do caminho até o fim. Essa fidelidade foi a causa da conversão daqueles que o matou

No terceiro Cântico quem està falando não é Javé, e sim o próprio Servo, e ele está falando da sua missão: passando do servo que escuta a cada manhã a orientação de Javé, para ser o servo que anuncia a palavra do Senhor. Isso pode custar muito caro - sofrer, receber insultos e ser perseguido, ser mal tratado, mas sempre mantendo a confiança em Javé, que é fiel e que está ao seu lado mesmo na hora de total abandono.

O servo, no AT é o povo pobre, sofrido mas fiel “não grita, não clama, não faz ouvir a sua voz na praça, não quebra a cana rachada, e nem apaga o pavio prestes a apagar” (Is 42,2). No NT o servo é Jesus, o Nazareno. Como o servo do AT, Jesus recebe e acolhe a Palavra. Ele cumpre ativa e voluntariamente a Palavra de Javé, decifrando na Palavra o que ele deve ser e fazer. Como diz Salmo 40: «Eis-me aqui, eu vim, ó Deus, para fazer tua vontade».

Ele foi instruído por Deus, recebeu a Palavra, e ele (o Servo de outrora e Jesus no NT) não cumpre a sua vontade, mas a vontade daquele que o enviou; e suas palavras, são as palavras de quem o enviou. “Deus me deu língua de discípulo (…)”, ou seja, eu, o discípulo fui instruído por Ele, e “fez-se obediente até a morte, e morte de Cruz”.

Quero dizer que Jesus teve de superar a sua vontade de viver, e o seu desejo de não sofrer, para escolher e querer aquela atitude. O que não acontece facilmente, e nem por si mesmo. Ele teve de se ajustar a isso. Na hora das trevas, o servo fiel tem apenas uma opção: “conservar o rosto impassível como pedra”, apresentar as costas em silencio, sem se sentir humilhado, porque “ao meu lado está aquele que Tme defende”.

O segredo confiado por Deus a quem «abriu-lhe os ouvidos» a fim de que se “deixasse instruir como um discípulo”, é que, fazendo-se por seu sofrimento semelhante a Deus, tornou-se realmente em tudo semelhante a Ele e, encontrando-O na morte, recebeu o Nome que está acima de todo nome.

 

 TEXTO De Dom Damian Nannini, Argentina

 (Tradução do Google sem correção posterior)

DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR CICLO "B"

NA PROCISSÃO DE RAMOS: Mc 11,1-10

Jesus vem em peregrinação a Jerusalém vindo da Galiléia e pára ao pé do Monte das Oliveiras, que fica bem em frente da cidade santa, a leste; e perto das cidades de Betfagé e Betânia. Jesus prepara a sua entrada na cidade de Jerusalém num momento importante dada a proximidade da festa da Páscoa. Haveria muitos peregrinos que chegariam em caravanas a Jerusalém para participar do festival. Então Jesus manda buscar um burro na casa de uma pessoa de uma cidade vizinha para que o levem até ele. É impressionante que tudo aconteça exatamente como Jesus havia anunciado e ninguém os questione por terem levado o burro. Com esta narrativa, o evangelista Marcos quer insistir que Jesus tem conhecimento do que vai acontecer até aos mínimos detalhes, revelando o seu carácter profético e a sua autoridade sobre as circunstâncias pouco antes de iniciar a sua paixão.

Os discípulos trazem-lhe o burro e Jesus montado neste animal entra em Jerusalém. Os habitantes de Jerusalém reagem com gestos e vivas.

O gesto consiste em colocar seus mantos ou galhos na estrada formando uma espécie de tapete como forma de homenageá-lo como rei.

A aclamação “Hosana” é uma expressão de alegria que significa “Salve-nos agora”. E  "Bem-aventurado aquele que vem em nome do Senhor; Bendito o reino que vem, o reino de nosso pai Davi", é uma expressão claramente messiânica porque menciona David, de cujos descendentes iria surgir o Messias segundo a esperança do Povo de Israel. Ambos nos lembram o Salmo 118:25-26: “Salva-nos, Senhor, assegura-nos a prosperidade. Bendito aquele que vem em nome do Senhor! Nós te abençoamos da Casa do Senhor”. Portanto, as aclamações louvam a Deus por cumprir sua promessa de enviar um rei Messias, descendente de Davi.

Sem dúvida, os presentes também se lembrariam da profecia de Zacarias 9:9 que estava se cumprindo naquele momento: “Alegre-se muito, filha de Sião! Grite de alegria, filha de Jerusalém! Veja que seu Rei está vindo em sua direção; Ele é justo e vitorioso, é humilde e está montado num jumento, no bezerro de um jumento.”.

LEITURAS DA MISSA: 

Primeira leitura (Is 50,4-7):

Este fragmento corresponde ao terceiro dos quatro poemas conhecidos como “cânticos do servo” por se referirem a um personagem a quem Deus chama de seu “servo” (eternidade). Este número é relevante porque a profecia deIsaías atribui a graça do resgate do cativeiro babilônico não apenas à misericórdia de Deus, mas também ao trabalho de um mediador, o servo sofredor., que é representado como vítima sacrificial dos crimes do povo e que obtém o perdão para Israel em virtude do seu sacrifício.

No fragmento do cântico que lemos hoje o servo é apresentado como um discípulo fiel do Senhor, vítima do mal dos homens. A sua língua pronuncia o que o Senhor lhe diz, o seu ensino procura consolar os abatidos (50,4).Aceita a sua missão sem resistência, conhece as dificuldades que ela acarreta, mas não desiste porque depositou toda a sua confiança no Senhor..

Muito tem sido escrito sobre a possível identificação deste servo com alguma figura histórica ou com o povo de Israel, mas ainda não se chegou a um acordo completo. No entanto, do ponto de vista cristão,É evidente que se trata de uma prefiguração profética de Jesus e da sua missão redentora.. De facto, no Novo Testamento Jesus é identificado com o Servo Sofredor no seu baptismo (Mt 3,17; Mc 1,11; Jo 1,34); nos seus milagres (Mt 8,17); na sua decisão de ir a Jerusalém para morrer (Lc 9,51) e na sua humildade (Mt 12,16-21). Segundo Jo 12,37-43, Jesus assume no seu ministério público as palavras do servo sofredor de Is. 53,1s. O tema do servo também é atribuído a Jesus nos Atos dos Apóstolos (Hb 3,13.26; 4,27.30; 8,32) e nos hinos da Igreja primitiva (Fl 2,7; 1Pe 2,21-25). ). Embora não o citem, as histórias da paixão são uma realização do terceiro cântico, sobretudo pela referência às cuspidas e às pancadas que o Senhor recebe (cf. Mc 14,65).

Segunda Leitura (Fl 2,6-11):

Este hino representa uma das expressões mais antigas e genuínas da fé cristã, rica em intuições cristológicas e com valiosas contribuições doutrinárias.

A expressão com que começa a primeira parte: 'existindo na condição de Deus’ (2,6a) já pressupõe uma percepção profunda das relações únicas e exclusivas de Jesus com Deus; e embora ainda não contenha explicitamente a ideia de preexistência, suscita reflexões nesse sentido. Então, ao descrever o processoquenóticoo de esvaziar/abaixarde Jesus, revela uma compreensão unitária das escolhas fundamentais feitas por Ele ao longo da sua vida terrena. Estáauto-humilhaçãode Jesus consiste na rejeição de toda ambição e orgulho; e na adoção de uma atitude mansa e humilde (Mt 11,29; Is 42,2-3; 53,7-9). O ponto culminante desta humilhação é tornar-se 'obediente até a morte'(8b); onde ele 'até a morte’ tem um significado qualificador e não temporal, pois é uma obediência que não cede a nenhum sacrifício pessoal, mesmo o da própria vida.

Em breve, podemos dizer que toda a experiência de Jesus é lida tendo como pano de fundo a experiência de Adão e,especialmente, do quarto cântico do servo de Yahweh(Is 52,13-53,12). Ao contrário de Adão, que fingiu ser semelhante a Deus e assim perdeu a sua dignidade, Jesus, sendo de condição divina, não afirmou o seu privilégio de igualdade com Deus, mas assumiu a condição de Servo Sofredor, dando a sua vida como expressão da sua fidelidade total ao Pai.

O movimento de exaltação que se segue tem o seu ápice na doação donomefeito por Deus a Jesus; e este nome do Senhor (Cu, rios) entende o senhorio universal que o AT reconheceu em Yahweh e, portanto, os atos de adoração e confissão oferecidos a Jesus por todas as criaturas, inclusive as celestiais, são justificados e até exigidos.

Evangelho: Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos1 

Comparando-o com os relatos da paixão dos outros evangelistas, Marcos proclama o acontecimento, ou seja, faz de nós umrelato querigmático.Expõe os fatos em sua realidade objetiva e desconcertante. O estilo de Marcos costuma ser o da improvisação oral, o que confere à narrativa um tom mais vivo.É a história de umtestemunha. Marcos não tem medo de chocar. Em vez disso, pareceria procurá-lo deliberadamente. Destaca os contrastes, sublinha o paradoxo:a cruz é escandalosa e ainda assim revela o Filho de Deus. Em Marcos, o mistério da Paixão impõe-se-nos e impressiona-nos como que vindo de fora. O resultado é um ato de fé, de submissão ao mistério (Mc15,39).

Por uma questão de brevidade, concentrar-nos-emos no relato da condenação romana, crucificação e morte de Jesus (versão resumida do lecionário:Marcos 15,1-39). A apresentação de Jesus diante de Pilatos é descrita por Marcos em poucas linhas. Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, é evidente que o evangelista não pretende contar tudo. O interrogatório é esquemático até a escuridão. Marcos relata uma pergunta de Pilatos, sem ter se preocupado em prepará-la:"Você é o Rei dos Judeus?"(15.2). Jesus responde:"Você diz isso". Nenhuma explicação será dada. A falta de preparação realça a pergunta de Pilatos. O julgamento romano é o julgamento do “rei dos judeus”. Este título será ouvido novamente nos lábios do promotor; os soldados romanos irão recuperá-lo e inspirar-se nele para a sua zombaria.

Segue-se um epílogo onde os soldados ilustram o veredicto com uma encenação apropriada: o rei dos judeus recebe um manto roxo, coroa e tributos; mas a coroa é feita de espinhos e as homenagens são zombarias acompanhadas de golpes. Mais uma vez, encontramos em Marcos o desconcertante choque de fatos:O plano de Deus é apresentado numa imagem invertida.

Condenado à tortura da cruz, Jesus é levado ao Calvário e executado. A sua morte é o acontecimento capital na história da salvação. Para contá-lo, Marcos nos faz vivenciar o impacto dos acontecimentos e nos mergulha na escuridão do mistério. Com efeito, Marcos, no início e no final da sua história, menciona alguns nomes: o de Simão de Cirene e dos seus filhos, o das santas mulheres. Esses nomes garantem a realidade dos fatos. Encaminha testemunhas que podem ser interrogadas. Marcos anuncia eventos na história humana. Eventos desconcertantes e chocantes. A crucificação é o resultado do processo romano. O paradoxo, que antes aparecia em palavras, é agora traduzido de forma grosseira em ações. Jesus é designado rei dos judeus num contexto que contradiz totalmente esta sua dignidade. A série de zombarias que se segue é facilmente ligada à cena da crucificação. Mas este nos levanovamente ao processo judaico, cujos diferentes elementos retoma: a acusação de querer destruir o templo, a questão da messianidade. As afirmações de Jesus são desmentidas pelos fatos. Do ponto de vista humano, seria necessário que Jesus”desceu da cruz" (15,30.32) para justificá-los e tornar possível acreditar Nele. Ou seja: para demonstrar Sua capacidade de restaurar tudo - construindo um novo Templo - Jesus teria agora que escapar da morte iminente e manifestar Sua poderes como Messias Ele teria que derrotar seus inimigos. Marcos sabe muito bem que esse modo de raciocínio é errado, mas o expõe sem comentários.Nos faz sofrer o escândalo da cruz.

Está chegando a horajulgamento de deus. Não é uma hora de libertação, mas, pelo contrário, de extrema opressão. As trevas tornam-se mais densas (cf. Jl 2,1-2.10; Hb 3,3.11; Am 8,9).Na atmosfera sombria, o grito de Jesus parece dar razão a quem o insultou. Não é o Templo de Jerusalém que é abandonado por Deus e destruído, mas Jesus, o mesmo que falou contra o Templo. Também neste grito de Jesus o paradoxo é extremo. Por um lado, há a experiência do abandono de Deus nas mãos dos inimigos, expressa no grito de Jesus e na zombaria dos presentes (Mc 15,36). Por outro lado, o mesmo clamor é uma oração e, portanto, subsiste a relação com Deus. Embora seja verdade que estas palavras do Salmo 22 são uma queixa ou um lamento e expressam um medo real da morte por parte de Jesus, não há desespero porque Jesus permaneceu misteriosamente unido a Deus até ao fim. Na verdade, o Salmo 22 que aparece aqui na boca de Jesus, embora trate do mistério do sofrimento dos justos, é no final um salmo de confiança e abandono em Deus. Em Marcos Jesus morre deixando uma pergunta, um porquê, dirigida a Deus e que no momento não tem resposta. Antecipemos que a resposta do Pai é a ressurreição, mas não tiremos o drama do grito que indica que Jesus morre sozinho, entra sozinho na noite da morte e no silêncio de Deus.

Uma última possibilidade de salvação desaparece entre a ironia dos inimigos: Elias não intervém «para apaziguar a ira» (cf. Eclo 48,10).

Jesus morre. Parece que tudo acabou, no sentido negativo da palavra, ou seja, que tudo acabou em nada. Porém, Marcos observa dois fatos surpreendentes:o véu do Templo está rasgado; e um soldado pagão tira uma conclusão inesperada dos acontecimentos:exclama que este homem era o Filho de Deus. Estes factos, que parecem pouco, têm, no entanto, valor conclusivo. Sãodois sinaisque definiram o significado do evento de uma forma inesperada e paradoxal e foram cuidadosamente preparados.Da escuridão finalmente emerge a luz.

Eleprimeiro sinal, o fato de o véu do templo ter sido rasgado, revela a obra de Cristo, porque está em relação à predição, mencionada antes no decorrer do julgamento, e repetida na zombaria daqueles que passaram contra o crucificado . Entre todos os testemunhos deposto contra Jesus, Marcos retém apenas aquele que se refere à destruição do templo:“Nós o ouvimos dizer: ‘Destruirei este templo construído por mãos humanas e em três dias construirei outro que não será construído por mãos humanas’”.(14,58). O evangelista reconhece ali uma profecia verdadeira (cf. Mc 13,2). O rasgo aberto no véu nada mais é do que o início do cumprimento porque entre o corpo mortal de Jesus e o santuário construído por mãos humanas existe uma ligação misteriosa:Você não poderia quebrar um sem quebrar o outro.. A previsão implicava uma fase positiva de reconstrução, imediatamente ligada à fase negativa de destruição. O antigo templo será em breve substituído por outro não feito por mãos humanas.

Esse segundo sinal, a confissão do centurião, está intimamente ligada à primeira. Na verdade, o centurião reconhece Jesus como o Filho de Deus. Esta confissão é precedida por um 'verdadeiramente' indicando que é a última e conclusiva posição tomada no processo sobre a identidade de Jesus. Além disso, é provocado pela observação da forma como Jesus morreu (“Vê-lo expirar assim"). Este ser filho aparece antes de tudo como missão; O filho é quem obedece ao Pai, é quem realiza a obra de Deus (Jo 8,38-44; Mt 5,44); É por isso que Jesus é confessado como Filho de Deus por um homem quando cumpriu a obra que o Pai lhe confiou, a obediência até a morte na cruz. Jesus revela assim a sua filiação verdadeiramente divina. Além disso, haverá a imagem do sofrimento que acabamos de expressar de forma sublime no canto do servo deSenhorÀ luz desta última tradição, o contexto de humilhação e sofrimento, que parece refutar a messianidade e a filiação divina de Jesus, constitui, por outro lado, a garantia mais sólida. Isto não aparece à primeira vista. A luz, porém, começa precisamente no momento da escuridão mais negra:Quando Jesus morre, as palavras do centurião atestam a filiação divina. Este é o testemunho do evangelho de Marcos.

Meditação:

No domingo de Ramos celebramos a entrada de Jesus em Jerusalém onde sofrerá a sua paixão e morte na cruz. É, portanto, a porta da Semana Santa eA liturgia deste dia convida-nos a entrar com Jesus na mesma. Ao entrar em Jerusalém, Jesus é aclamado como rei, como o filho de Davi em seu esplendor. Mas ele faz sua entrada como "um rei humilde, montado num burro"como Zacarias havia profetizado (Zc 9,9). Ele não é, portanto, um rei arrogante que se vangloria de seu poder; masum rei manso, humilde, pacífico e pacificador. A partir daqui os ramos de oliveira fazem sentido, lembrando a paz que Cristo nos traz e que só pode ocorrer quando Cristo reina em nossos corações, em nossa casa, em nossa sociedade.

Também é chamado de "Domingo da Paixão"porque lemos a Paixão do Senhor e, desta forma, nos colocamos no clima para toda esta semanaantecipar eventos para descobrir seu significado profundo e inspirar a atitude espiritual correspondente.

O tema dopaixão de CristoÉ dominante neste dia porque a procissão dos buquês nos prepara para entrar nele. Trata-se de apropriar-se, de certa forma, deste mistério da paixão do Senhor, encontrar o seu significado profundo e, a partir daí, ligá-lo à nossa vida presente. Por tanto, o mistério da cruz deve ajudar-nos a descobrir o significado das nossas cruzes e dar-nos forças para perseverar. Mas, acima de tudo, o mistério da cruz deveria ensinar-nos o que significa amar verdadeiramente ou a verdade sobre o amor.

A Primeira leitura nos convida a ouvir, a atitude do próprio discípulo, mas também inclui aaceitação de eventos. O servo não só fala e escuta, mas também sofre sem fugir, confiando na ajuda do Senhor. É um convite claro, portanto,envolver-se com a paixão de Jesus prefigurada nos sofrimentos do servo.

Também oSegunda palestraEle apresenta-nos o caminho de Jesus, a sua humilhação e a sua obediência até à morte, como modelo a imitar. Mais especificamentenos convida a nos envolvermos com nosso querer, pensar e sentir na paixão de Jesus.

Quanto à História de paixão segundo São Marcos

Achamos muito interessante o que afirma o Cardeal C. M. Martini na sua tentativa de encontrar um “sentido” para os sofrimentos de Cristo e os nossos: “A Paixão não é acidental, mas foi o próprio Jesus quem aceitou profundamente a extrema humilhação. Depois começa a adquirir sentido, porque se torna um ato humano de Jesus […] Jesus vai ao encontro do mistério da degradação humana e aceita-o conscientemente […] Jesus foi ao encontro da morte, porque queria vir ao nosso encontro até que, em última análise, ele não quis recuar de nenhuma consequência de estar conosco, abandonando-se completamente a nós [...] Destas reflexões podemos concluir que a única maneira de dar sentido aos nossos sofrimentos é passar a aceitá-los com Ele [ ...] Jesus nos ensina que até alcançarmos a aceitação consciente e livre, nossos sofrimentos realmente não têm sentido; Eles começam a ter isso quando de alguma forma olhamos na cara deles, como Ele fez, e os aceitamos com Ele."2.

Acho que é importante insistira aceitação livre e voluntária, por parte de Jesus, da sua paixão e da sua morte, porque era a Vontade do Pai, a norma suprema do seu ser e agir como Filho. Foi um ato de obediência que superou a resistência que, como verdadeiro homem, sentiu diante da proximidade da dor e da morte. Desta forma, afirma-se tanto a verdade ou o realismo do sofrimento que sofreu como o amor com que o superou (cf.Alívio da dornº 18).

Diante da cruz todos fogem. Jesus permanece sozinho e não foge. Ele também não permite que circunstâncias externas “aconteçam com ele”. Renunciou a tudo, mas ainda tem a sua liberdade interior pela qual aceita a sua morte, vive-a até ao fim como um acto de entrega.Ele não se deixa morrer, mas faz da própria morte um ato de oferenda ao Pai.. É esta aceitação voluntária e amorosa de Jesus ao misterioso plano do Pai que dá sentido redentor à sua paixão e à sua morte.

Por tanto,o amorÉ o que motiva a entrega do Filho, a entrega de Jesus. Então o amor penetra no sofrimento e o assume como forma sublime de expressão. Assim, o amor dá sentido ao sofrimento, orienta-o na doação pelos outros e torna-o redentor. E a fonte do amor que leva o Filho a doar-se e que dá sentido à sua paixão é o Pai. Em relação à Providência do Pai, Cristo confirma com a sua vida, com a sua paixão e com a sua morte que Deus está ao lado do homem no seu sofrimento; ainda mais, que Ele mesmo assume sobre si o sofrimento multiforme da existência terrena.

A este respeito, o Papa Francisco disse na sua homilia do Domingo de Ramos de 2021: “Nesta Semana Santa, elevemos o olhar para a cruz para receber a graça do estupor. São Francisco de Assis, olhando para o Crucificado, ficou admirado por os seus frades não chorarem. E nós, ainda somos capazes de nos deixarmos emocionar pelo amor de Deus? Por que perdemos a capacidade de nos maravilharmos com ele? Porque? Talvez porque a nossa fé tenha sido corroída pelos costumes. Talvez porque permanecemos presos aos nossos arrependimentos e nos deixamos paralisar pelas nossas frustrações. Talvez porque tenhamos perdido a confiança em tudo e até acreditemos que somos um fracasso. Mas por trás de todos estes “talvez” está o facto de não nos termos aberto ao dom do Espírito, que é Aquele que nos dá a graça do estupor.

Vamos começar de novo com espanto; Olhemos para o Crucificado e digamos-Lhe: “Senhor, quanto me amas, como sou valioso para Ti!” Deixemo-nos surpreender por Jesus para voltar a viver, porque a grandeza da vida não está em ter ou afirmar-se, mas em descobrir-se amado. Essa é a grandeza da vida, descobrir-se amado. E a grandeza da vida está justamente na beleza do amor. No Crucificado vemos Deus humilhado, o Onipotente reduzido a um desastre. E com a graça do espanto entendemos que, acolhendo os descartados, aproximando-nos dos humilhados pela vida, amamos Jesus. Porque Ele está nos últimos, nos rejeitados, naqueles que a nossa cultura hipócrita condena.”.

Um bom, "Hoje somos convidados a contemplar a beleza do Rei. Ele apenas contempla e olha com proveito para a sua alma o verdadeiro rei, que é Cristo, que lhe submete a sua inteligência e ama sinceramente, com afeto devotado, a sua bondade e clemência inefável; e que também o imita, assimilando a sua humildade e a sua degradação voluntária"(São Boaventura).


PARA ORAÇÃO (ressonâncias do evangelho em uma pessoa que ora):

O dia anunciado 

Faltam algumas horas para o dia anunciado e 

Você não pode ouvir na rua o que está sendo preparado 

Alguns rostos parecem inconscientes 

Os olhos dos seus discípulos hoje olham para o lado 

Silêncio misterioso de Deus e do homem 

Onde a dor divina e a reivindicação humana estão tecidas 

Na sua caminhada apaixonada a caminho do Calvário 

Os traços marcados com sangue dos seus passos 

Humilhado num julgamento ao qual nem mesmo um bastardo 

E ainda assim você, o Filho, foi assim condenado 

Sentença executada em seu corpo puro 

Morrendo e sozinhos, temos vergonha de você 

Perguntas sem resposta permaneceram no momento sagrado 

Voltamos à rotina, à tarefa, Deus foi sepultado 

A pedra da injustiça, do crime, fechou-se sobre ele 

violência, corrupção, manipulação, engano... 

De quanto mais nós, seres humanos, somos capazes? 

É por isso que te oramos Senhor, hoje, sem pausa nem descanso 

Não fique naquele túmulo esquecido 

Você é o Deus de todo homem, desejado e esperado 

Curador de nossas feridas, Perdão de nossos pecados 

Vire seu rosto para seu povo e encoraje-nos a chegar ao topo 

Para além da nossa força, da nossa razão, do mundano 

Alimenta-nos o desejo de te ver e de nos vermos ressuscitados. 

Para a Glória do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém


1Para comentar a paixão segundo Marcos, extraímos o que é típico deste evangelista de um conhecido artigo de A. Vanhoye, “As diversas perspectivas dos quatro relatos evangélicos da Paixão", cuja versão digital se encontra emclerus.org. Além de algumas adições pessoais.

2C. M. Martini,As narrativas da paixão(San Pablo; Bogotá 1995) 92-93.