7º DOM TC-A

7 º DOMINGO COMUM-A

19/02/2023

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO

1ª Leitura: Levítico 19,1-2.17-18

Salmo 102(103) R- Bendize, ó minh 'alma, ao Senhor, pois ele é bondoso e compassivo!

2ª Leitura: 1 Coríntios 3,16-23

Evangelho de Mateus 5,38-48

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 38Vós ouvistes o que foi dito: 'Olho por olho e dente por dente!' 39Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! 40Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! 41Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! 42Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado. 43Vós ouvistes o que foi dito: 'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!' 44Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! 45Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos. 46Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? 47E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? 48Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.' Palavra da Salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, Arcebispo de Sorocaba SP


Mt 5,38-48

A violência não é um tema para a reflexão, mas uma realidade na qual todos nós estamos envolvidos. Ela nunca é solução para os conflitos, é uma mentira contrária à verdade de Deus e à verdade do homem.

No Gênesis (Gn 4,1-8), temos a história de Caim e Abel que não é só um relato de um passado distante e superado. Infelizmente, descreve em linguagem narrativa o que tem se repetido: o irmão que mata seu irmão! Sim, a grande tragédia da violência consiste na morte do outro que não é somente seu semelhante e sim o seu irmão. Por isso, tanto a vítima quanto o autor da violência são, a seu modo, destruídos por ela. Toda violência é sempre uma negação da fraternidade, e todo homicídio é fratricídio. 

No relato bíblico, Deus dirige sua palavra a Caim para demovê-lo do pecado contra o irmão. O fato de Deus não ter olhado para a oferta de Caim não significou, portanto, a sua rejeição. Se Deus tivesse rejeitado Caim, se não o amasse profundamente, Ele não teria dirigido a sua palavra a Caim. Prestemos atenção: Deus não falou com Abel; falou com Caim! 

O que Deus falou? Falou a Caim sobre a fraternidade que o unia a Abel: “por que estás irado? E por que está abatido o teu semblante (contra o teu irmão)? Se praticares o bem, sem dúvida poderás reabilitar-te. Mas se procederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te; mas tu deverás dominá-lo” (Gn 4,6-7). 

Como é acertada esta Palavra! “Se praticares o bem, poderás reabilitar-te”. A mera punição não servirá para reabilitar as pessoas se estas não praticarem o bem. Sem a prática do bem, a punição é sofrimento vazio que aguarda a oportunidade da vingança; sem a prática do bem as leis punitivas só serão respeitadas na medida em que os delitos não sejam descobertos; sem a prática do bem, a penitenciária não passa de um local de enfurecimento; sem vencer o mal com o bem, a violência nunca será superada em nós e nos outros.

Deus falou a Caim, mas Ele continua repetindo a nós: “se procederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te”. Infelizmente Caim não deu ouvidos à advertência de Deus. Continuou cultivando ódio e tramando contra o seu irmão até que o pecado, como fera que espreita de tocaia, atacou Caim, e este matou o seu irmão. Com efeito, o pecado é como a fera que arma emboscada e ataca para nos dominar e nos escravizar. 

Não há alternativa: fazemos o mal e permitimos sermos presas do pecado ou praticamos o bem e nos reabilitamos. 

O pecado de Caim desencadeou a espiral da violência. Lamec foi um dos filhos de Caim e introduziu a poligamia ao se casar com duas mulheres, Ada e Sela. Fez crescer a violência a desmedida ao declarar a “lei da vingança”: “Escutai as minhas palavras: Por uma ferida matei um homem, e por uma contusão matei um menino. Se Caim será vingado sete vezes, Lamec será vingado setenta vezes sete” (Gn 4,23-24).

Este relato do Gênesis não descreve uma triste realidade do passado, mas nos adverte contra um perigo muito atual. A lei de Lamec é a lei da vingança. Por sua própria natureza, a vingança é descontrolada e desenfreada. Deixada a si mesma, a vingança não conhece proporção entre dano e punição. Qualquer mínima ofensa provoca uma vingança injustificada. Quantos hoje sofrem privação de liberdade por ter reagido sem controle a uma ofensa mínima! 

Quem nos salvará do Lamec que mora dentro de nós? 

A lei do talião foi uma tentativa de nos salvar da lei de Lamec. Na realidade o Talião (“olho por olho, dente por dente”) representa uma conquista civil importante e um salto de qualidade da civilização humana. Ela procurava reagir contra a vingança incontida. Demarca assim a linha divisória entre a vingança e a justiça. A justiça consiste no equilíbrio entre a ofensa recebida e a ofensa devolvida: para fazer justiça é preciso punir o ofensor com a mesmo ofensa. Não haverá justiça, se o ofensor não receber a mesma ferida que provocou em outra pessoa. Essa lei foi fixada no Código de Hamurabi, 18 séculos antes de Cristo.

Infelizmente vemos que a Lei do Talião não consegue conter a lei de Lamec. Hoje vemos como a vingança tende a se impor nas relações pessoais e na vida social. Por medo, por não acreditar mais nas instituições, por cansaço ou por convicções falsas, muitos começam a acreditar que a Lei de Lamec seja o único muro de contenção para a criminalidade. A violência, porém, nunca constitui uma resposta justa nem solução para os problemas, pois ela acaba por destruir o que ambiciona defender: a dignidade, a vida, a liberdade dos seres humanos.

Jesus ao estabelecer “não enfrenteis o malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele!” leva a linha divisória entre vingança e justiça para além do que podíamos imaginar.

Para vencer a violência, é preciso renunciar a vingança. Assim “dar a outra face, deixar que levem o manto e caminhar dois quilômetros” significa uma revolução no enfrentamento da violência. Consiste em vencer o mal com o bem. Não vencemos a violência com a violência, ainda que ela seja regulamentada e proporcional àquela recebida. Só venceremos a violência com a prática do bem, bem para o ofensor e o ofendido, bem comum e pessoal. 

Para superar a violência é preciso que a dignidade humana seja respeitada na sua verdade e integralidade. É preciso também educar para a paz.

“Para edificar a paz, é preciso eliminar as causas das discórdias entre os homens, que são as que alimentam as guerras, sobretudo as injustiças. Muitas delas provêm de excessivas desigualdades econômicas e do atraso em lhes dar remédios necessários. Outras, porém, nascem do espírito de dominação e do desprezo das pessoas; e, se buscamos causas mais profunda, nascem da inveja, da desconfiança e da soberba humanas, bem como de outras paixões egoístas. Como o homem não pode suportar tantas desordens, delas provém que, mesmo sem haver guerra, o mundo está continuamente envenenado com as contendas e violências entre os homens” (GS 83).

“Para associar os homens entre si, não basta a identidade da sua natureza; é necessário ensinar-lhe a falar a mesma linguagem, isto é, da compreensão; a usufruir uma cultura comum; e a compartilhar os mesmos sentimentos. De outro modo, o homem preferirá encontrar-se com seu cão, a encontrar-se com um homem estranho” (Sto. Agostinho).


Tema do 7º Domingo do Tempo Comum


A liturgia do sétimo Domingo do Tempo Comum convida-nos à santidade, à perfeição. Sugere que o “caminho cristão” é um caminho nunca acabado, que exige de cada homem ou mulher, em cada dia, um compromisso sério e radical (feito de gestos concretos de amor e de partilha) com a dinâmica do “Reino”. Somos, assim, convidados a percorrer o nosso caminho de olhos postos nesse Deus santo que nos espera no final da viagem.

A primeira leitura que nos é proposta apresenta um apelo veemente à santidade: viver na comunhão com o Deus santo, exige o ser santo. Na perspectiva do autor do nosso texto, a santidade passa também pelo amor ao próximo.

Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Corinto – e os cristãos de todos os tempos e lugares – a serem o lugar onde Deus reside e Se revela aos homens. Para que isso aconteça, eles devem renunciar definitivamente à “sabedoria do mundo” e devem optar pela “sabedoria de Deus” (que é dom da vida, amor gratuito e total).

No Evangelho, Jesus continua a propor aos discípulos, de forma muito concreta, a sua Lei da santidade (no contexto do “sermão da montanha”). Hoje, Ele pede aos seus que aceitem inverter a lógica da violência e do ódio, pois esse “caminho” só gera egoísmo, sofrimento e morte; e pede-lhes, também, o amor que não marginaliza nem discrimina ninguém (nem mesmo os inimigos). É nesse caminho de santidade que se constrói o “Reino”.


LEITURA I – Lv 19, 1-2.17-18

O Livro do Levítico (assim chamado porque trata de questões preferencialmente relacionadas com o culto, que era incumbência dos sacerdotes, considerados membros da tribo de Levi) apresenta-se como um discurso de Jahwéh, no qual este explica ao seu Povo o que deve fazer para viver sempre em comunhão com Deus. Apresenta um conjunto de leis, de preceitos, de ritos, quase sempre relacionados com o culto, que o Povo deve praticar, para viver como Povo de Deus. Fundamentalmente, o Levítico preocupa-se em instilar na consciência dos fiéis que a comunhão com o Deus vivo é a verdadeira vocação do homem.

O texto que nos é proposto pertence à quarta parte do Livro do Levítico (cf. Lv 17-26), conhecida como “lei da santidade”. O nome provém do refrão insistentemente repetido: “sede santos porque Eu, o vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2; 20,7; 21,8; 22,16…).

Na teologia de Israel, Jahwéh é o Deus “santo”, quer dizer, transcendente, incomparável, inefável, inatingível, perfeito. Este Deus santo elegeu Israel, chamou-o, distinguiu-o entre todos os povos da terra, fez aliança com Ele. Introduzido na comunhão com Deus, Israel participa da santidade de Deus. É, portanto, um Povo à parte, separado dos outros, cuja vocação consiste na comunhão com o Deus santo.

Esta “eleição” conduz, necessariamente, à exigência de santidade: o Povo tem de viver de acordo com determinadas regras para manter esta comunhão de vida com Deus. Daí que o Levítico apresente as leis que devem orientar a vida do Povo, a fim de que ele possa manter-se na órbita do Deus santo e testemunhar a santidade de Deus no mundo.

Neste “código da santidade”, encontramos os temas mais diversos. Uma parte significativa das leis aqui propostas dizem respeito à vida cultual (cf. Lv 17-18; 21-22); mas outras dizem respeito à vida social (cf. Lv 19).


LEITURA II – 1 Cor 3, 16-23

Continuamos no contexto da comunidade cristã de Corinto. Depois de apresentar a “sabedoria de Deus”, revelada em Jesus Cristo (sobretudo através da “loucura da cruz”) e oferecida aos homens (cf. 1 Cor 1,18-2,16), Paulo constata que os coríntios ainda não acolheram essa sabedoria: mantêm-se na dimensão do homem carnal (isto é, do homem fraco, limitado, pecador, escravo das suas paixões e apetites), imaturos na fé; cultivam as divisões e os conflitos, em flagrante contradição com o que Jesus lhes ensinou; correm atrás de mestres humanos como se eles tivessem a chave da felicidade e da realização plena, esquecendo que, por detrás de Paulo ou de Apolo, está Deus (cf. 1 Cor 3,1-15). Ao viverem, ainda, de acordo com a “sabedoria do mundo”, os coríntios estão a ser infiéis à sua vocação: não dão testemunho de Deus e não o tornam presente no mundo.


EVANGELHO – Mt 5, 38-48

Continuamos com o “discurso da montanha” e com a apresentação da “nova Lei” que deve conduzir a caminhada cristã.

Vimos, no passado domingo, como Mateus estava preocupado em definir, para os cristãos vindos do judaísmo, a relação entre Cristo e a Lei de Moisés. Os cristãos continuam obrigados a cumprir a Lei de Moisés? Jesus não aboliu a Lei antiga? O que há de verdadeiramente novo na mensagem de Jesus?

A perspectiva de Mateus é que Jesus não veio abolir a Lei, mas levá-la à plenitude. No entanto, considera Mateus, a Lei tornou-se um conjunto de prescrições que são cumpridas mecanicamente, dentro de uma lógica casuística que, tantas vezes, não tem nada a ver com o coração e com a vida. É preciso que a Lei deixe de ser um conjunto de preceitos externos a cumprir para conquistar a salvação, para se tornar expressão de um verdadeiro compromisso com Deus e com o “Reino”.

Vimos como Mateus apresentava um conjunto de exemplos, destinados a tornar mais clara e concreta esta perspectiva. Dos seis exemplos apresentados por Mateus, quatro apareceram no Evangelho do passado domingo; para hoje, ficam os dois últimos exemplos dessa lista.



Uma chamada escandalosa - José Antonio Pagola


A chamada ao amor é sempre atrativa. Seguramente, muitos acolhiam com agrado a chamada de Jesus a amar a Deus e ao próximo. Era a melhor síntese da Lei. Mas o que não podiam imaginar é que um dia lhes falará de amar os inimigos.

No entanto, Jesus o fez. Sem a proteção da tradição bíblica, distanciando-se dos salmos da vingança que alimentavam a oração do seu povo, enfrentando-se ao espírito geral que se respirava à sua volta, de ódio para com os inimigos, proclamou com claridade absoluta sua chamada:

«Eu, pelo contrário, vos digo: amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem».

Sua linguagem é escandalosa e surpreendente, mas totalmente coerente com sua experiência de Deus. O Pai não é violento: ama inclusive seus inimigos, não procura a destruição de ninguém. Sua grandeza não consiste em vingar-se, mas sim em amar incondicionalmente a todos. Quem se sinta filho de Deus não deve introduzir no mundo ódio nem destruição de ninguém.

O amor ao inimigo não é um ensinamento secundário de Jesus dirigido a pessoas chamadas a uma perfeição heroica. A sua chamada quer introduzir na história uma atitude nova ante o inimigo, porque quer eliminar do mundo o ódio e a violência destruidora. Quem se pareça a Deus não alimentará o ódio contra ninguém, procurará o bem de todos, inclusive o dos Seus inimigos.

Quando Jesus fala do amor ao inimigo não está a pedir que alimentemos em nós sentimentos de afeto, simpatia ou carinho para quem nos faça mal. O inimigo continua sendo alguém de quem podemos esperar dano, e dificilmente podem mudar os sentimentos do nosso coração.

Amar o inimigo significa, antes de tudo, não lhe fazer mal, não procurar nem desejar fazer-lhe mal. Não temos de estranhar se não sentimos amor ou afeto para com ele. É natural que nos sintamos feridos ou humilhados. Temos de nos preocupar quando continuamos a alimentar ódio e sede de vingança.

Mas não se trata só de não lhe fazer mal. Podemos dar mais passos até estarmos inclusive dispostos a fazer-lhe bem se o encontramos necessitado. Não temos de esquecer que somos mais humanos quando perdoamos que quando nos vingamos. Podemos inclusive devolver-lhe bem por mal.

O perdão sincero ao inimigo não é fácil. Em algumas circunstâncias, à pessoa pode-se tornar praticamente impossível liberar-se em seguida da rejeição, do ódio ou da sede de vingança. Não temos de julgar ninguém a partir de fora. Só Deus nos compreende e perdoa de forma incondicional, inclusive quando não somos capazes de perdoar.


A mansidão é a plenitude da força - Pe Adroaldo Palaoro


“Vós ouvistes o que foi dito: ‘olho por olho e dente por dente!’ Eu, porém, vos digo…”(Mt 5,38)


Não é preciso ser um especialista em análise da realidade para perceber e sentir que está se difundindo na nossa sociedade uma linguagem que deixa transparecer o crescimento da agressividade e do ódio. Cada vez, com mais frequência, ouvimos e lemos nas “redes sociais” insultos agressivos, intolerantes, preconceituosos, proferidos só para humilhar, desprezar e ferir a dignidade do outro. São “palavras ácidas” nascidas da rejeição, do ressentimento, da vingança…; palavras proferidas sem amor e sem respeito, que envenenam a convivência e causam profundas rupturas nas relações interpessoais; palavras que emergem de interioridades mesquinhas, vazias, baixas… As conversações, nos espaços públicos e privados, estão sendo tecidas de expressões injustas que espalham condenações e semeiam suspeitas.

Assim, vai sendo gestado, lenta, mas implacavelmente, um espírito de combate, de linchamento, uma guerra de mentiras, um fogo cruzado carregado de desprezos, revanches e incompreensões frente àqueles que pensam diferente, creem diferente, amam diferente.

A virtude da mansidão está cada vez mais distante das esferas públicas e das relações pessoais.

E isso não é um fato que acontece só na convivência social. É também um grave problema no interior da Igreja. São divisões, conflitos e enfrentamentos de “cristãos em guerra contra outros cristãos”. Trata-se de uma situação tão contrária ao Evangelho que o Papa Francisco sentiu a necessidade de nos dirigir um apelo urgente: “não à guerra entre nós!”

Assim fala o Papa: “Dói-me comprovar como em algumas comunidades cristãs consentimos diversas formas de ódios, calúnias, difamações, vinganças, ciúmes, desejos de impor as próprias ideias à custa que qualquer coisa, e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas. A quem vamos evangelizar com esses comportamentos?”

Diante desse contexto, onde imperam a prepotência, a agressividade e os radicalismos, ressoa estranho as palavras de Jesus: “Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem”. Parece um grito ingênuo, proferido no deserto da desumanização.

No entanto, talvez sejam as palavras que mais precisamos escutar nestes momentos em que, submersos na podridão do ódio e da intolerância, não sabemos o que fazer de concreto para ir arrancando a violência do nosso mundo e do nosso coração.

E é precisamente aqui onde o evangelho de Jesus tem muito a iluminar, não para oferecer técnicas para resolver conflitos, mas sim para nos ajudar a descobrir com que atitudes devemos abordá-los.

Há uma convicção profunda em Jesus: não se pode vencer o mal apelando à espiral do ódio e da violência.

Já dizia Martin Luther King que “o último defeito da violência é que gera uma espiral descendente que destrói tudo o que engendra. Em vez de diminuir o mal, aumenta-o”.

Sempre há tentativas de justificar, em algumas circunstâncias, a legitimidade da violência. No entanto, Jesus nos convida a trabalhar e lutar sempre para que ela não seja nunca justificada. Por isso, é decisivo buscar sempre caminhos que nos conduzam à convivência fraterna e não ao fratricídio.

“Amar os inimigos” não significa tolerar as injustiças e retirar-se comodamente da luta contra o mal. O que Jesus viu com claridade é que não se luta contra o mal quando se destrói as pessoas. É preciso combater o mal, mas sem buscar a destruição do adversário.

A dificuldade maior para compreender o “amor aos inimigos” está no fato de que confundimos “amor” com sentimento. O amor evangélico (ágape) não é instinto, nem sentimento. Portanto, não podemos esperar que seja algo espontâneo. O verdadeiro amor, seja ao inimigo ou a um filho, não é o instinto que nasce de nosso ser biológico. O amor ágape é algo muito mais profundo e humano. Nem sequer nossa razão pode nos conduzir a este nível.

Amar o inimigo não é questão de voluntarismo, mas atitude de vida. Um exemplo: no mar sempre haverá ondas, de maior ou menor tamanho, mas sempre estarão aí. Ao chegar no litoral, a mesma onda pode encontrar-se com a rocha ou encontrar-se com a areia. Contra a rocha, quebra-se em mil pedaços; contra a areia, ela se desfaz suavemente.

Os inimigos sempre vão aparecer em nossas vidas; mas a maneira de encontrar com eles dependerá de cada um de nós. Se somos rocha, o encontro se manifestará com estrondo e todos sofrerão danos. Se somos praia, todo seu potencial de violência ficará anulado e chegará até nós com a maior suavidade.

Um detalhe, a rocha e a areia são constituídas da mesma matéria, só muda seu aspecto exterior.

“Assim seremos filhos de nosso Pai…”  Um Deus que ama a todos de maneira igual, porque seu amor não é a resposta às atitudes ou às ações, mas é anterior a toda ação humana. Deus nos ama não porque somos bons, mas porque Ele é bom e ama infinitamente a todos. É da essência de Deus: “Deus é amor” permanentemente. Da mesma maneira, o amor que temos para com os outros não tem sua origem nem é condicionado pelo que eles são ou fazem, mas pela qualidade de nosso próprio ser. O amor não é resposta às ações de alguém; sua origem está em cada um de nós, pois, na essência, fomos criados à imagem e semelhança do Deus que é amor. “Amar os inimigos”, portanto, é entrar no fluxo do amor que brota do coração de Deus e faz morada no nosso coração.

Por isso, hoje, mais do que nunca, é preciso ativar toda nossa reserva de amor e bondade em favor de uma resistência firme, mas lúcida, para aplacar o rufar dos tambores do ódio; não entremos na barca dos furiosos pois a cólera nos fará naufragar a todos! Nascemos para voar; deixemos voar a ternura e despertemos a mansidão que se encontram na essência do nosso ser profundo. São atributos humanos que tornam a nossa vida mais leve, flexível, aberta, acolhedora… E não nos deixemos envolver por aqueles que, carregados de ódio ou preconceito, não querem alçar o vôo. Quem sabe, algum dia consigamos que ninguém mais decida permanecer no deserto da desumanização.

Sem dúvida, a “mansidão” e a “ternura” definem radicalmente o sentir e o atuar de todo(a) seguidor(a) de Jesus. A maior contradição é alguém dizer que segue Aquele que é “manso e humilde de coração” e, ao mesmo tempo, revela-se como presença agressiva e conflituosa, expele ódio por todos os poros, faz-se mediação para a transmissão das piores mentiras.

A mansidão e a ternura são virtudes irmãs, andam sempre de mãos dadas. Quem cultiva a mansidão mais facilmente se torna terno com todos. É sentimento de suave comoção, de afeto doce e delicado, de atenção amorosa, de profunda e autêntica humanidade, no sentido de constante abertura aos outros, de consideração positiva, de disponibilidade e ajuda.

O Papa Francisco usa, com frequência, uma expressão carregada de intensidade: “revolução da ternura”.

A “revolução da ternura” nos convida a acompanhar, curar e acolher, a partir de nossa realidade, aqueles que nos rodeiam, a viver investindo nossos melhores recursos em favor da quebra da cadeia de violência.

Hoje, essa proposta simples, mas de profunda marca evangélica, responde à desumanização que estamos vivendo. Essa revolução da ternura nos convida a sair de nós mesmos, a colocar nossa vida a serviço do irmão, a entrar no fluxo do Amor de Deus, fazendo-o chegar a tantos que dele necessitam, através de nossas palavras mansas, de nossa presença cheia de ternura; assim vivendo, seremos pura  transparência do Coração manso e humilde de Jesus.

 

Texto bíblico:  Mt 5,38-48

 Na oração: A suavidade é o significado mais relevante e mais perceptível da mansidão. Mas a mansidão não é apenas suavidade; ela é plena de força, de iniciativa, de criatividade…

– Você vive num ambiente onde predomina mansidão, tolerância, compreensão…? Ou, ao contrário, um ambiente carregado de suspeitas, julgamentos, ódios…?

– Como despertar a bem-aventurança da mansidão, presente em seu interior?




Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem - Ildo Bohn Gass


A justiça do Reino é mais exigente que a do ser humano. Por isso, “se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (Mateus 5,20). Escribas e fariseus também praticavam a lei por medo de Deus.

Diferentemente, Jesus propõe que o amor seja a motivação última. Se fariseus cumpriam estritamente a letra da lei, Jesus propõe a seus discípulos e a suas discípulas a irem além da letra e discernirem por onde passa o Espírito de Deus, a fim de cortarem os males pela raiz. Jesus exige que a prática da justiça seja levada à plenitude, à perfeição do próprio Deus, de modo que proporcione a todas as pessoas vida e liberdade.

Depois de uma introdução em que Jesus anuncia que veio cumprir as Escrituras (Lei e Profetas), dando-lhes pleno cumprimento e propondo uma justiça maior (Mateus 5,17-20; cf. v. 20), a comunidade de Mateus apresenta cinco situações de como levar a antiga lei à perfeição do amor do Pai:

1) O perdão e a reconciliação superam a raiva e o ódio (Mateus 5,21-26);

2) O amor fiel e a pureza de coração afastam o adultério e a cobiça (Mateus 5,27-32);

3) A coerência e a autenticidade vencem a incoerência (Mateus 5,33-37);

4) A não-violência suplanta a violência (Mateus 5,38-42);

5) O amor e a oração removem o ódio ao inimigo (Mateus 5,43-48).

O texto de hoje refere-se aos dois últimos casos, e que são o ponto alto, a justiça maior dessa reflexão de Jesus sobre a lei.

A não-violência suplanta a violência (5,38-42)

A antiga lei do talião autorizava a vingança como forma de fazer justiça (Êxodo 21,24; Levítico 24,20; Deuteronômio 19,21), propondo um castigo proporcional ao prejuízo causado. Ao mesmo tempo, a lei do talião queria evitar uma vingança exagerada, impedindo, assim, abusos de toda ordem que gerariam uma espiral de violência sem fim.

Jesus dá um passo além e propõe uma nova atitude. A resistência proposta por Jesus ataca o mal pela raiz. Não é uma atitude violenta que corta o círculo da violência. Esta, ao contrário, alimenta o ódio, gerando ainda mais violência. A postura que Jesus apresenta é pagar o mal com o bem. Ele propõe não usar os mesmos métodos agressivos dos violentos, mas desarmá-los com atitudes que os desinstalem. Oferecer a outra face (Mateus 5,39), na verdade, é responder à violência com atitudes de gratuidade e de partilha, de generosidade e de solidariedade (Mateus 5,40-42).

Jesus propõe uma resistência digna aos ataques injustos, da mesma forma como ele mesmo fez ao ser agredido por um guarda do templo: “Se falei mal, mostre o que há de mal. Mas se falei bem, por que você bate em mim?” (João 18,22-23).

O amor e a oração removem o ódio ao inimigo (5,43-48)

Jesus faz memória da lei antiga: “Amarás o teu próximo”. Levítico 19,18 ainda acrescenta “como a ti mesmo”. É a partir dessa antiga lei e de Deuteronômio 6,4-5 que Jesus formula o mandamento do amor, segundo os evangelhos sinóticos (Mateus 22,37-40; Marcos 12,29-31; Lucas 10,27-28).

É bom lembrar que em nenhuma parte da Bíblia se encontra “e odiarás o teu inimigo”. No entanto, há recomendações, tais como, ajudar o compassivo, o bom e o humilde, mas não acolher nem ajudar o pecador e o ímpio (Eclesiástico 12,4-7). É possível que Jesus quisesse lembrar que, diferentemente da obrigação de amar o seu irmão de fé, não era obrigação para o judeu amar os seus inimigos.

Na sequência, Jesus anuncia a novidade da justiça do Reino: “Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem” (Mateus 5,44). O ódio não liberta ninguém. Pelo contrário, quebra ainda mais as relações humanas e prejudica imensamente a quem odeia, causando-lhe, inclusive, doenças. Somente um amor maior, fruto da oração, da íntima comunhão com Deus, é capaz de amar até mesmo pessoas inimigas.

Nisso está o que diferencia as pessoas seguidoras de Jesus das demais. Sua prática precisa ir além do comum, do ordinário. E Jesus cita os exemplos de publicanos, que somente amam aqueles que os amam (Mateus 5,46), e de pagãos, que somente saúdam a sua gente (Mateus 5,47). Nisso, porém, não há nada de extraordinário.

Somente vivendo uma justiça maior, seremos parecidos com o Pai, como filhas e filhos, uma vez que “ele faz nascer o sol sobre bons e maus” (Mateus 5,45) e “criou todo o ser humano à sua imagem” (cf. Gênesis 1,26-27).

Daí, o convite final, e ao mesmo tempo conclusão e chave que dá sentido à nova lei anunciada e vivida por Jesus (Mateus 5,17-47). Esse convite ainda soa forte para nós hoje: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mateus 5,48). ‘Perfeito’ tem o sentido de ‘íntegro’, de ser parecido com o Pai, de ser como o próprio Pai. Lucas formula da seguinte forma esse mesmo convite da antiga lei (Levítico 19,2): “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lucas 6,36). Portanto, a comunidade de Mateus nos convoca a amarmos na mesma intensidade do amor de Deus.

“Amar como Jesus amou. Sonhar como Jesus sonhou. Pensar como Jesus pensou. Viver como Jesus viveu. Sentir o que Jesus sentia. Sorrir como Jesus sorria. E ao chegar ao fim do dia, eu sei que dormiria muito mais feliz.” (padre Zezinho)


Pelo amor generoso, revelamos que somos filhos de Deus! (Mt 5,38-48) - Itacir Brassiani msf


Jesus nos apresenta um caminho inusitado mas seguro para de felicidade, de plena realização das aspirações humanas mais profundas, para a santidade.

Trata-se de buscar a perfeição ou o jeito de ser do próprio Deus – somos criados segundo ‘sua espécie’! – evitando a tentação de construir uma ideia de Deus à nossa imagem e semelhança, delimitada e desenhada pelos nossos medos e interesses. Embora este caminho nos pareça um pouco estranho e dissonante, o próprio Jesus o viveu em primeira pessoa, demonstrando que é um projeto necessário e viável.

No evangelho desse domingo, Jesus responde à pergunta sobre como reagir frente às situações de violência e seus agentes. Ele conhece bem a lei judaica que, para limitar uma violência reativa e desproporcional à violência sofrida, propõe não passar do “olho por olho” e do “dente por dente”.

Por mais estranho que nos pareça, a lei de talião representa um avanço em relação à lei que facultava a reação violenta e desproporcional do mais forte e ferido sobre os mais fracos. Jesus aponta os limites deste preceito: pagar com a mesma moeda não erradica a violência que ofende, machuca e mata. Jesus ensina e pede para não reagirmos com violência à ação dos violentos.

Mas ele vai mais além, ilustrando e concretizando sua proposta de não-violência ativa em três situações: o tapa no rosto, ato de humilhação considerado um direito dos superiores; o processo de penhora da roupa de um pobre endividado, visto como direito dos credores; a obrigação de acompanhar a marcha dos soldados a serviço do império, carregando às costas as armas que se voltavam contra o próprio povo. Mas, atenção! A proposta de Jesus não tem nada a ver com submissão e passividade!

Oferecer a outra face significa permanecer senhor de si e desafiar a legitimidade de um sistema projetado para humilhar. Dar o manto a quem penhora a túnica (desnudar-se publicamente!) significa revelar a humanidade que a todos irmana e denunciar a avareza violenta e espoliadora dos credores. Caminhar o dobro do percurso que o soldado servil determinou significa não aceitar o jogo do império, questionar a hierarquia, tomar a iniciativa e decidir a ação. Por isso, parece claro que a proposta de Jesus tem como meta eliminar o círculo vicioso que liga as ações e reações violentas.

O fato é que sempre classificamos as pessoas e dividimos o mundo em amigos e inimigos. Amamos e respeitamos os que estão próximos e alimentamos suspeitas ou somos indiferentes em relação aos estranhos. O conceito próximo abrange uma certa diversidade de gênero, riqueza, parentesco e etnia, e a imagem do inimigo não se limita aos adversários nacionais ou aos membros de outras religiões, mas se estende a todos os oponentes pessoais.

É aqui que entra o mandamento de Jesus: nosso amor não pode se restringir aos iguais, aos próximos, mas deve chegar aos estranhos e distantes, até aos inimigos.

Talvez hoje situemos entre os inimigos (reais ou potenciais) as pessoas e grupos que ameaçam nosso bem-estar e nossos privilégios ou questionam nossa supremacia em termos de competência, gênero, religião, cultura, etc. Pedindo que amemos nossos inimigos e até rezemos por aqueles que nos perseguem, Jesus está sublinhando que condição social, a etnia, o gênero e a religião não podem ser limites que restringem o dinamismo do nosso amor.

O amor entre os iguais pode ser egoísmo! Rezar por quem nos persegue significa clamar pelo fim da opressão e das estruturas que as sustentam! Amar o inimigo significa ir além do que ele é hoje e amar aquilo que ele pode ser: irmão e parceiro!

Jesus resume sua proposta ética e espiritual numa frase: “Sejam perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.” A perfeição do Pai faz com que a chuva beneficie tanto os justos como os injustos e o sol ilumine tanto os bons quanto os maus. Ser perfeito como o Pai celeste significa não impor condições nem ter reservas, ser inteiro e verdadeiro em tudo e com todos, pois, como nos lembra Paulo, todos – nós, os outros, a comunidade eclesial e a comunidade humana! – somos santuários de Deus e templos do Espírito Santo. Que ninguém ponha sua gloria no próprio grupo, etnia, gênero, igreja, religião!

Jesus, mestre e servidor da liberdade, de todas as liberdades: ajuda tua Igreja a vencer o medo da liberdade e da verdade que viveste e ofereceste a todos. Faz que nossas comunidades sejam laboratórios nos quais as pessoas de boa vontade se exercitem no respeito e na promoção da dignidade de todos os teus filhos e filhas, inclusive no amor aos inimigos. E dá-nos a sábia loucura que espanta os doutores mas seduz as pessoas que não sacrificaram sua humanidade no altar do egoísmo predatório.

Queremos ser filhos do teu e nosso Pai, generosos e perfeitos na misericórdia e na compaixão solidaria! Assim seja! Amém!


VIDA INSENSATA - Dom Paulo Peixoto


Para que haja um verdadeiro entendimento sobre o sentido da insensatez, é preciso saber que ela é resultado da falta de bom senso, de ponderação no que faz, de imprudência no agir. É classificada também como atitude que pode levar a pessoa à loucura. O que é feito com desequilíbrio não faz bem para o ser humano, e muito menos para quem procura viver construindo o bem.

Toda pessoa tem uma história de vida. É uma construção de itinerário natural, edificando a base de sustentação para seu agir no tempo presente. Se essa construção foi bem feita, apoiada numa família bem estruturada, agregando valores positivos, principalmente aqueles baseados na justiça e na verdade, nos princípios do Evangelho, dificilmente a pessoa vai agir com insensatez.

Existe quem diz que a prática do cristão é uma insensatez, principalmente no tocante ao sentido moral de determinados atos. Significa não reconhecimento da presença misteriosa de Espírito de Deus na vida humana. O amor não pode ser egoísta e sem dimensão de eternidade. Ele ultrapassa os limites da nossa capacidade de amar e de reconhecer a presença de Deus nos relacionamentos.

As ciências que falam em harmonia nos relacionamentos ajudam na maneira da pessoa lidar com o outro, com o irmão. Mas a base de tudo é o amor fraterno. Significa superar toda atitude de ódio, vingança, rancor, violência, e entender que Deus está presente e atuando na vida do ser humano. A tendência natural deve ser de adquirir e construir uma vida sensata e perfeita.

As divisões, ou falta de amor fraterno, na vida concreta das comunidades, refletem atitudes de insensatez, que desestabilizam a harmonia entre as pessoas. Com facilidade começam a surgem as rivalidades, o ódio e a prática da vaidade. Muitos indivíduos acabam perdendo a sensibilidade, muito necessária, para com os diversos valores cristãos e não conseguem perceber a sabedoria divina.

Diante de muitas realidades indesejáveis na convivência, principalmente de violência, creio que o momento é de se encontrar novas formas éticas para construir um itinerário que fundamente uma conduta saudável na convivência social. A palavra de Jesus ajuda a construir um perfil de fraternidade. Ela fala de cancelar as inimizades e construir um amor gratuito, generoso e sem egoísmo.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba. 



TEXTO EM ESPANHOL - Dom Damian Nannini, Argentina. 


SÉPTIMO DOMINGO DURANTE EL AÑO CICLO "A"


Primera lectura (Lev 19,1-2.17-18)


El libro del Éxodo terminaba señalando la presencia de Dios en medio de Israel, su pueblo santo. Esta nueva realidad requiere una reorganización de toda la vida del pueblo en función de las fundamentales exigencias de pureza y santidad. Esta es la finalidad primaria del libro del Levítico que viene a continuar lo narrado en el Éxodo. De aquí se derivan las exigencias jurídicas y cultuales que presenta este libro, en particular en los capítulos 17-26 que contienen la Ley o Código de Santidad. Este nombre deriva del fundamento teológico que se da a todas estas prescripciones en 19,2: “Habla en estos términos a toda la comunidad de Israel: Ustedes serán santos, porque yo, el Señor su Dios, soy santo” (19,2); “Santifíquense y sean santos, porque yo, el Señor, soy su Dios” (20,7); “Yo soy el Señor, que los santifico” (20,8; 22,16); los sacerdotes “deben ser santos” (21,7).

El capítulo 19 contiene varias normas de índole más bien social, en particular la del amor al prójimo y la del rechazo de la venganza que leemos hoy. Ahora bien, la insistencia en la primacía de la santidad de Dios indica que para el Levítico el verdadero fundamento del amor al prójimo es el amor de Dios. No lo dice tan explícitamente como Jesús en el NT (cf. Mc 12,28-31) pero es claro que la presencia del Dios Santo en medio del pueblo es la que motiva el trato fraterno entre sus miembros. Notemos que este mandamiento del amor al prójimo se extiende y entiende exclusivamente en relación a los miembros del pueblo, los compatriotas, pues el prójimo es aquí fundamentalmente el israelita. "A la pregunta ¿Quién es mi prójimo?, se responde con toda claridad y sencillez: el que es de mi mismo pueblo y tiene mi misma religión" .

Ahora bien, aunque lamentablemente no lo leemos hoy, en Lev 19,33-34 se habla de los deberes del israelita para con el extranjero que reside en el pueblo y aquí el Señor manda amarlo como a uno mismo. Aunque no se trata todavía de un amor universal, es importante señalar que el amor al hombre trasciende ya aquí un poco las fronteras étnicas y religiosas de Israel.


Segunda lectura (1Cor 3,16-23)


San Pablo, cerrando su argumentación, afirma que la comunidad cristiana es un templo habitado por el Espíritu Santo y, por tanto, es algo sagrado, de Dios, y quien lo dañe no quedará sin castigo. Luego en los vv. 18-20 retoma claramente la contraposición entre la sabiduría humana y la divina ya expuesta en 1,20-25 a modo de advertencia para los corintios quienes no deben dejarse engañar. En los vv. 21-22 tenemos una inversión gramatical que refleja una inversión teológica en relación a 1,12. En efecto, los corintios se consideraban como pertenecientes a un apóstol (Yo soy de...), y se gloriaban en él generando divisiones. Pablo los corrige diciéndoles que en verdad los apóstoles les pertenecen a ellos, están en función de ellos. Explicita la idea contenida en las comparaciones de 3,6-17: los apóstoles no están en un lugar o grado más alto, sino que según la lógica de la Cruz ocupan el puesto más bajo. El v. 23 termina magistralmente la argumentación mostrando la unidad teleológica (en el fin) de todo y de todos: “vosotros de Cristo y Cristo de Dios”.



Evangelio (Mt 5, 38-48)


El evangelio continúa con la presentación de las antítesis o superaciones que leímos el domingo pasado. Recordemos que son seis antítesis o superaciones presentadas en dos grupos de tres (5,21-32 y 5,33-47) y que hemos visto ya las cuatro primeras. 

La quinta antítesis (Mt 5,38-42) remite a una expresión, posiblemente con carácter proverbial, contenida en Ex 21,22-25: "Si, en el curso de una riña, alguien golpea a una mujer encinta, provocándole el aborto, pero sin causarle otros daños, el culpable deberá indemnizar con lo que le pida el marido de la mujer y determinen los jueces. Pero si se produjeran otros daños, entonces pagarás vida por vida, ojo por ojo, diente por diente, mano por mano, pie por pie, quemadura por quemadura, herida por herida, contusión por contusión". 

Esta norma, como sus equivalentes en el código de Hammurabi (1800 a.C.) y en la tradición jurídica romana (lex talionis), tenía como intención limitar la venganza desproporcionada estableciendo una reparación proporcional al daño recibido. En cambio, Jesús prohíbe la venganza y pide como norma general no oponerse al malvado: "no hagan frente al que les hace mal" (5,39). 

Luego (5,39b-42) Jesús pone cuatro ejemplos que van todavía más lejos pues invitan a tener una disposición positiva frente al malvado que nos agrede o a quien nos inoportuna con sus pedidos. U. Luz  nos aporta algunos datos de la época que pueden iluminar estos textos. En primer lugar, que la bofetada era una expresión de odio y el que la recibía experimentaba más bien una humillación que un dolor. El segundo caso hace referencia a un proceso judicial de embargo donde la capa o manto era de más valor que la túnica. Se invitaría entonces a evitar todo proceso judicial y a cumplir con creces la propia deuda. El tercer ejemplo haría referencia a la exigencia de una prestación impuesta u obligada de acompañar en un viaje llevando una carga pesada. De hecho, el verbo aggareúô lo encontramos de nuevo sólo en Mt 27,32 cuando se obliga a Simón de Cirene a llevar la cruz con Jesús. Entonces lo que Jesús pide es hacer "otro tanto" de modo voluntario a favor del que nos impuso la obligación. El cuarto ejemplo, dar al que pide prestado, se lo considera más genérico y sin la carga de violencia presente en los tres anteriores, pero la actitud de corazón es la misma: prestarle, no rechazarlo, hacerle el bien aún a riesgo de que no devuelva.

En síntesis, estos ejemplos, que expresan en un lenguaje simbólico la enseñanza de Jesús, indican una orientación general del obrar cristiano más que unas conductas determinadas o precisas. Y esta actitud fundamental sería la opuesta a la venganza: en vez de devolver el mal recibido o de negarse a una demanda injusta, convertir la violencia del otro en una oportunidad para hacer el bien al agresor o demandante; darle una nueva oportunidad, darle lo que nos pide y más aún. 

Como bien dice Sánchez Navarro: "Jesús no pide una resistencia pasiva sino una colaboración activa con el malvado. Esta paradójica exigencia, que en términos de justicia social sería un contrasentido, manifiesta que la exhortación se mueve en clave de perfección personal, de virtud; su fundamento último será explicitado en la siguiente antítesis. La renuncia a los propios derechos que estos ejemplos ilustran tiene un alcance "cordial", no legal. Jesús pide al discípulo que en las situaciones concretas de injusticia elija libremente los comportamientos ensalzados en las Bienaventuranzas" . Por eso, como bien nota M. Grilli , el texto habla solamente de derechos personales que han sido lesionados y cómo responder a los mismos; se limita a las relaciones personales. Por esto no es lícito asumirlo como programa legislativo para gobernar un estado.  

También está muy bien lo que dice L. H. Rivas : "La exigencia de la estricta justicia, en el mejor de los casos, podrá conseguir que el agredido reciba una compensación, pero no restablecerá la paz con el agresor. La enseñanza de Jesús abandona el camino del reclamo de la reparación, para proponer algo más perfecto: el restablecimiento de la paz. El discípulo de Jesús, cuando es agredido, debe buscar la forma de transformar la agresión en una ocasión para hacer el bien. Las ilustraciones propuestas (poner la otra mejilla, abandonar la capa, caminar el doble de lo exigido), no son modelos para ser reproducidos tal cual siempre que se presente la oportunidad, sino orientaciones que el discípulo debe recordar siempre, para saber cuál es la actitud con la que debe reaccionar cada vez que es víctima de una agresión o de una injusticia".


La sexta antítesis (5,43-48), al igual que las anteriores, comienza con la referencia al mandamiento dado a los antepasados. La primera parte es una cita textual pero abreviada de Lv 19,18: "Amarás a tu prójimo". La segunda no pertenece como tal al Antiguo Testamento pues en ningún lugar del mismo se manda explícitamente "odiar a los enemigos". Sí encontramos algunos textos en el Deuteronomio que mandan el rechazo o anatema de los paganos (cf. 7,2; 20,16; 23,4.7; 30,7). En este contexto se pudo haber llegado a interpretar el mandato de amar al prójimo en sentido restrictivo – sólo al israelita – y prolongarlo con el rechazo u odio al extranjero o pagano. Así, según nos informa L. H. Rivas , en la regla de la comunidad de Qumrán se manda odiar a todos los hijos de las tinieblas; y Flavio Josefo atestigua que los esenios se comprometían a odiar a los impíos.

La enseñanza de Jesús se contrapone justamente a esta segunda parte pues manda "amar a los enemigos y rogar por los perseguidores" (5,44). Notemos que se habla aquí, a diferencia del mandato antiguo, en plural (los enemigos, los perseguidores), indicando una mayor amplitud del precepto nuevo. Puede que los “perseguidores” se presenten aquí como una concreción de la categoría de “enemigos”. Y si recordamos que los perseguidores ya aparecieron en la última bienaventuranza (cf. Mt 5,10-11) como aquellos que insultan, persiguen y calumnian a los cristianos por practicar la justicia (esto es la voluntad de Dios manifestada por Jesús) y por causa de Jesús, entonces la concreción es mayor: son los enemigos de Cristo y de los cristianos.

A diferencia de las anteriores antítesis, aquí se da una motivación clara para obrar de este modo, para amar a los enemigos: llegar a ser hijos del Padre celestial, o sea la imitación de Dios que ama a todos, que ama siempre (5,45). En efecto, Jesús enseña mediante imágenes que el Padre Dios no hace distinción entre buenos y malos, entre justos e injustos al regalarles el sol y la lluvia, y de este modo manifiesta su amor para con todos los hombres. 

Dado que en la penúltima bienaventuranza se decía que serán llamados hijos de Dios los que trabajan por la paz, los pacificadores (5,9); podemos deducir que la finalidad de este amor a los enemigos es la pacificación, la vivencia pacífica entre todos los hombres, siendo el Padre celestial quien lo quiere y obra en primer lugar, y a quien hay que imitar. Notemos entonces que la motivación y el fundamento de este amor universal no se encuentran en la igualdad de la naturaleza humana, como sostenían algunos autores griegos, sino en el obrar de Dios. En otras palabras, la fraternidad universal sólo puede fundamentarse en la Paternidad universal de Dios.

Los versículos siguientes (5,46-47) buscan enseñar lo que implica de nuevo y "sobrenatural" la "justicia superior" (5,20) que pide Jesús. Así, el cristiano no puede limitarse a amar sólo a los que lo aman pues esto es natural, lo hacen todos, incluso los publicanos. Y lo mismo vale para el saludo como expresión del amor, pues el saludar a los que nos saludan lo hacen todos, incluso los paganos. 

Notemos que en el primer caso se hace referencia a la recompensa del Padre, como quedará más explicito en la siguiente sección (Mt 6,1-6-16-18). En el segundo a la necesidad de un obrar "abundante" o superior (perisson) que remite al inicio de la sección cuando Jesús se refería a la necesidad de una justicia superior (perisseuse) a la de los escribas y fariseos para entrar en el Reino de Dios. Así, en ambos casos hay alusión a la retribución escatológica por parte de Dios como motivación y consecuencia del obrar del cristiano.

El versículo 5,48 cierra el capítulo dedicado a la interpretación cristiana de la segunda tabla del decálogo y constituye un resumen que engloba, da sentido último a todas las antinomias antes presentadas y es su clave de lectura junto con Mt 5,20. Por ello, para entenderlo bien debemos tener en cuenta la imagen de Dios que aparece en este capítulo pues el Padre es presentado como modelo supremo de perfección del obrar. Ahora bien, la perfección de Dios que debemos imitar no puede ser su omnipotencia, omnipresencia, infinitud y eternidad porque es absolutamente imposible al hombre en cuanto ser creado aspirar a esta perfección divina. Además, en el Antiguo Testamento nunca se habla de la perfección de Dios aplicándole el término téleiós, y esta es una novedad del evangelista Mateo (Lucas habla de imitar la misericordia del Padre, cf. Lc 6,36). Entonces el término “perfecto” (téleiós) se refiere al obrar de Dios y no a su naturaleza, e indica un obrar íntegro, completo, perfecto. Más concretamente se refiere al amor de Dios que es íntegro, completo, no excluye a nadie. Ésta es la perfección divina que debe imitar el discípulo de Cristo: amar a todos los hombres, incluso a los enemigos, como los ama el Padre. 

En este sentido compartimos la opinión de W. Marchel : "la perfección no consiste, como en la ética griega, en el grado supremo de bondad moral, sino en creer que Dios puede perfeccionar lo que por parte del hombre queda siempre deficiente. Por esto, mirada desde Dios, la perfección dice una relación especial al nombre de Padre. Es la voluntad salvífica de Dios aceptar al hombre, compadecerse de él, reconocerlo como hijo; y solamente de este modo es posible la perfección".

Algunas reflexiones:


En las dos últimas antítesis Jesús pide explícitamente la renuncia a la venganza y el amor a los enemigos (5,38-47). Y el discípulo debe obrar así porque así obra el Padre; y obrando así el discípulo revela al Padre comportándose como su hijo. En efecto, así como el Padre en su bondad hace partícipes a todos los hombres  sin distinción entre buenos y malos  de los dones de la creación, como el sol y la lluvia; así el discípulo de Jesús debe manifestar una bondad semejante para con todos los hombres, amigos y enemigos.

La idea que subyace y que motiva el obrar del discípulo es la bondad de Dios Padre que no cambia por la maldad de los hombres. La perfección divina que se nos presenta como modelo consiste en permanecer siempre dueño de sí mismo sin dejarse vencer por el mal. Entonces lo que exige Jesús en el Sermón de la montaña es justamente no dejarse intimidar por el mal e incluso tomar la iniciativa en el bien. San Pablo ha expresado esta exigencia ética cristiana admirablemente: "No devuelvan a nadie mal por mal. Procuren hacer el bien delante de todos los hombres. En cuanto dependa de ustedes, traten de vivir en paz con todos. Queridos míos, no hagan justicia por sus propias manos, antes bien, den lugar a la ira de Dios. Porque está escrito: Yo castigaré. Yo daré la retribución, dice el Señor. Y en otra parte está escrito: Si tu enemigo tiene hambre, dale de comer; si tiene sed, dale de beber. Haciendo esto, amontonarás carbones encendidos sobre su cabeza. No te dejes vencer por el mal. Por el contrario, vence al mal, haciendo el bien" (Rom 12,17-21). 


Al igual que el domingo pasado, si tomamos en serio las exigencias de Jesús en el Sermón del Monte, nos surge espontáneamente la pregunta: ¿es posible vivirlo y cómo hacerlo?

A la hora de responder a esta pregunta es preciso evitar dos errores de interpretación de estos textos y que la historia del cristianismo nos muestra que no siempre se han evitado. El primero de ellos es pensar que estas exigencias son sólo para algunos elegidos, no para todos los cristianos. Esta postura se ha sido denominada «ética de dos niveles»; y según la misma los diez mandamientos obligan a todos (primer nivel) mientras que el Sermón el Monte es sólo para los que han elegido el camino de la perfección, normalmente en la vida religiosa o consagrada (segundo nivel). Por ejemplo, para algunos sostenedores de esta postura, la renuncia a todo tipo de violencia es exigida sólo a los religiosos, no al resto de los cristianos.

El segundo error es una lectura fundamentalista o literalista de estas exigencias, sin matices ni consideraciones, y suponiendo que son posibles de vivir con la sola fuerza de la voluntad humana.

El camino de salida, como vimos el domingo pasado, está en mantener el valor de exigencia de estas normas para todos los cristianos; pero reconociendo con Sto. Tomás de Aquino y toda la tradición católica que “lo principal en la Ley del Nuevo Testamento y en lo que está toda su virtud es la gracia del Espíritu Santo, que se da por la fe en Cristo” (ST I-II, q. 106, a. 1). En otras palabras, se nos pide amar a los demás como los ama Dios. Esto sólo es posible si recibimos de Dios Padre el don de su Amor, el Amor-Don que es el Espíritu Santo. "En efecto, el Espíritu es esa potencia interior que armoniza su corazón con el corazón de Cristo y los mueve a amar a los hermanos como Él los ha amado"(DEA nº 19). En fin, como decía San Agustín: "La Ley ha sido dada para que se implore la gracia; la gracia ha sido dada para que se observe la ley".

A esto debemos sumarle que una correcta interpretación del género literario de estos textos sabe descubrir que se apunta más bien a una actitud que a acciones concretas. En efecto, son ejemplos de género hiperbólico, por lo cual lo más importante es la actitud o disposición de ánimo que se nos invita a tener ante situaciones de violencia o persecución. Y en cada caso el Espíritu Santo, más el discernimiento del sentido común, nos dirán qué hacer en concreto. En esto comparto la interpretación de San Agustín, seguida por Sto. Tomás de Aquino, para quienes el precepto de no resistir al que nos hace el mal se refiere a la disposición interior del alma. Sus propias palabras son: “aquellas cosas que acerca del verdadero amor de los enemigos y otras semejantes dice el Señor (Mt 6 y Lc 6), si se refieren a la preparación del ánimo, son de necesidad para la salvación; como el que el hombre esté preparado a hacer el bien a sus enemigos, y otras obras análogas, cuando la necesidad lo requiera. Y por esto se cuentan entre los preceptos. Pero que alguno ponga esto por obra prontamente con sus enemigos, sin haber para ello una necesidad especial, pertenece a los consejos particulares, como se ha dicho” (I-II, q. 108, a.4). 

Otra aclaración necesaria es que el amor reside fundamentalmente en la voluntad que lleva a la acción, no en el sentimiento o los afectos. Esto es capital por cuanto nuestras reacciones afectivas primarias por lo general no irán en la línea de lo exigido por Jesús. Espontáneamente sentiré el impulso a defenderme del agresor o del que me pide algo injustamente, a devolverle el mal que me hizo, a no amar al enemigo ni rogar por el perseguidor; a amar sólo a los que me aman y a saludar a los que me saludan. Ahora bien, en un segundo momento, y como una segunda reacción utilizando ya mi inteligencia iluminada por la fe y mi voluntad fortalecida por la caridad, podré obrar como pide Jesús en el evangelio, en el Sermón del monte.

Sobre este evangelio decía el Papa Francisco en su homilía del 23 de febrero de 2020: “si queremos ser discípulos de Cristo, si queremos llamarnos cristianos, este es el camino, no hay otro. Amados por Dios, estamos llamados a amar; perdonados, a perdonar; tocados por el amor, a dar amor sin esperar a que comiencen los otros; salvados gratuitamente, a no buscar ningún beneficio en el bien que hacemos… Amad a vuestros enemigos y rezad por los que os persiguen. Esta es la novedad cristiana. Es la diferencia cristiana. Rezar y amar: esto es lo que debemos hacer; y no sólo por los que nos aman, por los amigos, por nuestra gente. Porque el amor de Jesús no conoce límites ni barreras. El Señor nos pide la valentía de un amor sin cálculos. Porque la medida de Jesús es el amor sin medida. ¡Cuántas veces hemos descuidado lo que nos pide, actuando como todos los demás! Sin embargo, el mandamiento del amor no es una simple provocación, sino es el espíritu del Evangelio. Sobre el amor hacia todos no aceptamos excusas, no predicamos una cómoda prudencia. El Señor no fue prudente, no hizo concesiones, nos pide el extremismo de la caridad. Este es el único extremismo cristiano lícito: el extremismo del amor”.

En síntesis, lo esencial es dejarse enseñar por Dios y buscar imitar su amor por todos los hombres. Ser hijos del Padre y obrar como tales es la motivación fundamental del obrar cristiano.  Y pedir siempre al Señor el don del Espíritu Santo que es el amor de Dios derramado en nuestros corazones para amar como ama Dios. 



PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Yo les digo

 

Tú Señor, pescador, trabajador como ninguno

Transforma este suelo, tu amado mundo

Contágianos esa ternura tuya

Se nos hace difícil en estos tiempos

Seguir tus pasos serenos

 

En el escenario está el dolor y el corazón

Se nos endurece entre los escombros y la sangre

La inocencia se derrama entre las calles

Y la violencia toma fuerza

No distingue a nadie

 

Quedó escrito “yo les digo…”

Pongan el cuerpo, la túnica, el tiempo, la plegaria…

Dile a tu Padre, también el nuestro:

Las manos están vacías

Necesitamos de lo vuestro.

 

Del tesoro inagotable, la promesa del Padre

El Espíritu Eterno…  su Aliento de vida

Brisa suave, caricia de manos puras

Corazón de Misericordia Infinito

Siempre abierto

 

Solo Tú, Señor de las redes, en la voz del cantor

No abandones esta Barca, ven

Instruye en la perfección a tu rebaño

Calma su sed, único Pastor

En el prójimo se derrame tu canto. Amén.