19º DOM TC-A

19º DOMINGO COMUM-ANO A

13/08/2023  


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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO

 

1ª Leitura: Reis 19,9a.11-13a

Salmo Responsorial 84(85)-R-  Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!

2ª Leitura: Romanos 9,1-5 

Evangelho de Mateus 14,22-33

Logo em seguida, Jesus mandou que os discípulos entrassem no barco e fossem adiante dele para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões.  23 Depois de despedi-las, subiu à montanha, a sós, para orar. Anoiteceu, e Jesus continuava lá, sozinho. 24 O barco, entretanto, já longe da terra, era atormentado pelas ondas, pois o vento era contrário. 25 Nas últimas horas da noite, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar. 26 Quando os discípulos o viram andando sobre o mar, ficaram apavorados e disseram: “É um fantasma”. E gritaram de medo. 27 Mas Jesus logo lhes falou: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” 28 Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.” 29 Ele respondeu: “Vem!” Pedro desceu do barco e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. 30 Mas, sentindo o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” 31 Jesus logo estendeu a mão, segurou-o e lhe disse: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?” 32 Assim que subiram no barco, o vento cessou. 33  Os que estavam no barco ajoelharam-se diante dele, dizendo: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!” 34 Após a travessia, aportaram em Genesaré. 35 Os habitantes daquele lugar reconheceram Jesus e espalharam a notícia por toda a região. Então levaram a ele todos os doentes; 36 suplicavam que pudessem ao menos tocar a franja de seu manto. E todos os que tocaram ficaram curados.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP

               

 Mt 14, 22-33

Pedro quer imitar Jesus, quer caminhar sobre as águas. E ele afunda.

A fé não é questão de imitar, mas de se identificar com Jesus. Nós não somos chamados a imitar Jesus. Somos batizados para nos identificar com Ele, ou seja, para nos tornar Cristo. 

Imitar significa agir no nível do comportamento e das atitudes. Identificar-se com Cristo é atingir a substância, o substrato profundo do ser. Podemos ensinar o papagaio a falar, mas ele nunca será um interlocutor de um diálogo. O famoso livro “Imitação de Cristo” na verdade não deseja que nos limitemos à superfície do comportamento exterior; se imitamos atitudes exteriores é para chegar ao substrato do ser de Cristo; chegar à identificação com Cristo.

Pedro quer caminhar sobre a água porque acredita que ser discípulo significa realizar ações excepcionais, mas o resultado é o fracasso.

Fé é olhar para Jesus e caminhar em sua direção. Enquanto Pedro olha para Jesus, consegue caminhar sobre as águas em direção de Jesus. Quando, porém, presta atenção ao vento, deixa de olhar para Jesus e tem medo e depois afunda. Preste atenção: primeiro Pedro tem medo e depois afunda. Ele não afunda e depois tem medo.

Fé é experimentar que Jesus lhe estende a mão. Pedro é discípulo muito mais por estender a mão para Jesus do que por ter caminhado sobre as águas. Seguir Jesus não é seguir Jesus; é deixar que Ele me alcance e me socorra e me sustente quando afundo.

Pedro é para nós modelo do discípulo que afunda e experimenta a falta de fé e que nessa experiência da sua impotência recorre a quem o pode salvar. A fé é um confiar-se a um Amor que socorre o meu nada e pecado. 

Diante das tempestades da vida, das aflições da existência, das tribulações da vida somos chamados à coragem da fé. Essa coragem não é o destemor, mas o abandono confiante ao Amor, ao Amor que não age em nosso lugar nem nos tira das situações dramática, ms que se põe ao nosso lado e nos acompanha.


Travessia existencial para a outra margem - Adroaldo Paloro


19° DTComum - Mt 14,22-33 – Ano A – 13-08-2023


“Jesus mandou que os discípulos entrassem na barca e seguissem, à sua frente, para o outro lado do mar...

(Mt 14,22).

Jesus, “homem do mar”. Os evangelhos o apresentam como carpinteiro/operário da construção. Mas tinha amigos pescadores e com eles aparece nos evangelhos passando, várias vezes, de um lado a outro, pelo mar da Galileia. Jesus não vive só no “terreno sólido”; Ele vive também “no terreno do mar”, sai dos limites conhecidos, aventura-se ao novo, abre-se ao diferente...

O evangelho deste domingo nos fala de uma realidade muito humana: somos seres de travessia e vivemos contínuos deslocamentos, desde o ventre materno. Saímos de lugares estreitos em direção a espaços mais amplos, até à travessia definitiva. Toda travessia tem um “para que” (um sentido); ela aponta para algo maior, inspirador. O perigo é deixar-nos determinar pelo medo, bloquear nosso espírito aventureiro e nos “acostumarmos” com a margem conhecida.

O relato sobre a travessia do mar em Mateus nos revela que há muitas tormentas e ameaças ao nosso redor. Em meio à tempestade levantam-se ondas de obscuridades sem sentido, de medos paralisantes, de dúvidas angustiantes... Sopram outros ventos tempestuosos que nos ameaçam, arrastando tantas seguranças que nos sustentaram, quebrando tantos salva-vidas aos quais nos agarrávamos...

Mas, em meio às tempestades urge não perder a calma, ter a coragem de “permanecer na barca” e não permitir que o ruído dos ventos nos vença, que os relâmpagos nos ceguem, que as ondas nos levem...

“Permanecer na barca” é a palavra-chave: permanecer firmes nos compromissos assumidos, nos passos que buscam abrir caminhos novos, ainda que seja arriscado; permanecer ancorados na fidelidade a Jesus e a seu Reino e consentir que os ventos levem todos os nossos velhos padrões mentais, ideias fixas e atitudes petrificadas, preconceitos e tudo o que já está caduco e que não nos impulsionam para a outra margem...; permanecer apenas com a pessoa de Jesus e seu sonho como o melhor legado que podemos oferecer aos nossos contemporâneos, sacudidos por tormentas que os afundam sem poderem vislumbrar um novo horizonte e um novo sentido para suas existências.

Na tempestade também é necessário “soltar amarras e içar velas”, ou seja, atrever-nos a “viver no Vento”. Aproveitar dos “ventos contrários” para transformá-los em “ventos favoráveis” que conduzam nossa vida para a “outra margem”. Soltar as amarras e âncoras de nossos apegos, de nosso consumismo, de nossa prepotência, afã de domínio, fundamentalismos, patriarcalismo, machismo... Precisamos perder o medo dos novos ventos e içar as velas das novas ideias, das visões arrojadas, dos projetos criativos, da riqueza da pluralidade de culturas, religiões, raças, deixar-nos mover pelo vento dos movimentos de libertação (povos em desenvolvimento, negros, indígenas, os sem-terra, os movimentos ecologistas, pacifistas, feministas...), enfim, acolher o vento que nos impulsiona em direção ao novo e diferente...

A barca de nossa vida naufragará na estreita calma de mares mortos se não formos capazes de desatar os antigos nós de marinheiros que impedem içar as velas para receber os novos ventos da história.

Durante a tormenta aprender a recordar que depois da tempestade vem a calma, para não perder assim o horizonte nem a esperança. Afinal, somos “seres de travessia”.

Temos entranhas ardentes de voltar ao alto mar, a disposição de enfrentar tormentas, o desejo de descobrir terras desconhecidas, a exploração do novo, a paixão por um horizonte de sentido.

Tantos anos ancorados em portos seguros, com ritmos e horários pré-fixados, sem criatividade e sem intuição...; agora é tempo de nos perder no mar, com a proa voltada para a imensidade...

Este é o desafio: despojar-nos do medo, romper os limites e confiar no Sopro, sutil ou tormentoso, que continua nos conduzindo para onde não sabemos. Reconhecer o temor nos impulsiona fortemente a atravessá-lo, a abandonar desculpas esfarrapadas, a não nos deixar prender pelos custos previsíveis. Continuar quebrando nossas pobres seguranças, despojar-nos daquilo que nos alivia e sair, sem alforge, nem duas túnicas, sem sandálias...

A travessia traz e leva inovação. Deslocar-se, querendo ou não, implica uma mudança de posição, uma alteração do ângulo habitual, uma exposição ao diferente, um amadurecimento do próprio olhar, um reconhecimento de que alguma coisa nos falta, uma adaptação a realidades, tempos e linguagens, ou a descoberta de uma incapacidade para tal; um confronto indispensável, um diálogo tenso ou deslumbrado que nos deixa, necessariamente, com uma tarefa futura (Card. Tolentino).

O primeiro desejo de chegar à outra margem nasce de dentro, do coração, que sabe estar longe de seu centro e entende sua missão de busca e peregrinação interior, de colocar-se em movimento...

Sair da margem conhecida, “velha”, rotineira... para encontrar a nova margem: lugar de relação, de questionamento, de criatividade...

A outra margem: lugar provocador, incitador e que desperta curiosidade... É aqui que brotam as grandes experiências religiosas, as intuições, os projetos ousados, as ideais vitais.

Caminhar para a outra margem é sair do centro, da segurança, da acomodação... e ir em busca das surpresas, das novas descobertas; implica arriscar, ter ousadia, não ter medo de caminhar para os “confins da terra”, para regiões desconhecidas em seu próprio interior...

Os poetas, artistas, místicos... são aqueles que fazem a experiência da “outra margem”, vislumbram o outro lado, tocam as raízes mais profundas do próprio ser.

O seguidor de Jesus tampouco sabe o que há do outro lado. A ele, como aos demais, lhe custa ver claramente. No entanto, considera que a outra margem é talvez diferente, mas tão apaixonante como esta margem onde ele está; e então, decide animar-se a cruzar a vastidão do mar interior.

Em resumo: nessa experiência não se trata tanto de “chegar”, mas de “ser levado”, pois nossos remos não servem para vencer a distância e a correnteza, e precisa do vento benfeitor que sopre, dirija, empurre e persevere, até a outra margem.

No nosso processo espiritual queremos desenvolver esta capacidade de ver quem nós somos e onde estamos, sem o temor de nos defrontarmos com respostas desagradáveis.

Somente partindo da realidade de nós mesmos, que é sempre uma realidade rica e original, é que poderemos crescer como “peregrinos” em direção à nossa interioridade e em direção a um maior compromisso.

A percepção e o sentido da nossa própria identidade vão se ampliando quando surge uma capacidade de interessar-nos por realidades mais amplas e desafiantes...Novas ideias, novos mundos, novos sonhos e projetos... vão definindo nossa identidade pessoal.

Se uma pessoa não criar intensos interesses “fora dela mesma”, viverá alienada em sua existência, fechada no seu pequeno mundo. Se ela se expande passará, então, a participar de outras esferas significativas da vida, dedicando-se a uma grande quantidade de interesses e projetando-se ardorosamente para o futuro. Isso significa ser “habitante de fronteira”.


Para meditar na oração

Diante de Deus, deixe seu coração responder:

o - Tenho medo de alguns “aspectos” de minha vida?

o - O que está me “amarrando”, impedindo-me atravessar para a outra margem?

o - Tenho consciência que em meu interior ainda existem “terras inexploradas”?

o - Que “meios” utilizo para chegar a esta “fronteira do coração”?



Caminhar sobre a água - José Antonio Pagola


São muitos os crentes que se sentem hoje na intempérie, desamparados no meio de uma crise e confusão geral. Os pilares em que tradicionalmente se apoiava a sua fé foram violentamente sacudidos nas suas raízes. 

A autoridade da Igreja, a infalibilidade do papa, o magistério dos bispos, já não podem sustentá-los nas suas convicções religiosas. Uma linguagem nova e desconcertante chegou aos seus ouvidos, criando mal-estar e confusão, antes desconhecidos. A «falta de acordo» entre os sacerdotes e até dos próprios bispos mergulhou-os na confusão.

Com maior ou menor sinceridade, são muitos os que perguntam: em que devemos acreditar? 

Quem se deve ouvir? 

Que dogmas se devem aceitar? 

Que moral há que seguir? 

E são muitos os que, ao não poder responder a estas perguntas com a certeza de outros tempos, têm a sensação de estar «perdendo a fé».

No entanto, não temos de confundir nunca a fé com a mera afirmação teórica de umas verdades ou princípios. Certamente, a fé implica uma visão da vida e uma peculiar concepção do ser humano, a sua tarefa e o seu destino final. 

Mas ser crente é algo mais profundo e radical. E consiste, antes de tudo, numa abertura confiada a Jesus Cristo como sentido último de nossa vida, critério definitivo de nosso amor pelos nossos irmãos e esperança última do nosso futuro.

Por isso pode-se ser um verdadeiro crente e não ser capaz de formular com certeza determinados aspectos da concepção cristã da vida. E pode-se também afirmar com absoluta segurança os diversos dogmas cristãos e não viver entregue a Deus em atitude de fé.

Mateus descreveu a verdadeira fé ao apresentar Pedro, que «caminhava sobre a água» aproximando-se de Jesus. Isso é acreditar. Caminhar sobre a água e não sobre terra firme. Apoiar a nossa existência em Deus e não nas nossas próprias razões, argumentos e definições.

Viver sustentados não pela nossa segurança, mas pela nossa confiança Nele.



Fazer a travessia - Ana Maria Casarotti


Depois da morte de João Batista Jesus tinha partido com seus discípulos para um lugar deserto. Diante das multidões que o seguiam, ele sente compaixão e, apesar do desejo dos discípulos, Jesus não as despede e sim as alimenta. Depois de lhes dar de comer, Jesus “obriga os discípulos a entrar na barca e ir na frente para o outro lado do mar”. Jesus deseja ficar sozinho e por isso ele também despede as multidões. Pode-se pensar que as multidões tentavam proclamá-lo rei como se relata no evangelho de João, mas Jesus precisa da solidão para rezar, para situar-se de uma nova maneira na sua missão. Necessita estar na intimidade com Deus.

Logo depois de despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar. O monte é o lugar do encontro com Deus, o espaço da divindade. Jesus precisa rezar, porque a oração é o espaço da intimidade com o Pai e o sustento da sua missão. Toda sua vida foi marcada por momentos deste encontro com Deus, seu Pai. Depois de ter alimentado a multidão ele necessita subir ao alto, dirigir seu olhar ao Pai, estar junto dele! Por isso sobe ao encontro da divindade sozinho, como ressalta o trecho evangélico.

Ao anoitecer, Jesus continuava aí sozinho. Expressamente apresenta-se Jesus durante um tempo determinado, “ao anoitecer”, num espaço concreto, “aí”, sem nenhuma pessoa junto dele. Não há nenhuma descrição sobre como reza Jesus ou algum dado que permita imaginar este momento; fica no mistério. Simplesmente disse que tinha subido ao monte para rezar e estava aí sozinho, deixando aberta a porta para seguir seu exemplo e imitá-lo como modelo.

A barca, porém, já longe da terra, era batida pelas ondas, porque o vento era contrário. Enquanto Jesus reza, os discípulos navegam com dificuldade pelas águas agitadas pelo vento. Duas situações contrárias: Jesus está no alto na intimidade com o Pai e os discípulos estão lutando contra o vento que sacudia as águas e batiam na barca, impedindo-lhes de passar ao outro lado.

As águas turbulentas representam na simbologia bíblica as forças do mal, o sinal do caos, da destruição e da morte. A barca com os discípulos deve fazer uma travessia que não é fácil. O vento é contrário, como também acontece na comunidade de Mateus. É uma comunidade perseguida, que sofre as dificuldades do ambiente que a fez sofrer, desvalorizando e desacreditando sua fé e confiança em Jesus Ressuscitado. É uma comunidade que se encontra como esta pequena barca boiando no meio do lago contra diversas situações que lhe são contrárias.

Entre as três e as seis da madrugada. Levam várias horas remando contra os ventos que fazem soçobrar a barca. Possivelmente eles estão cansados e sentem-se abandonados por Jesus, que os obrigou a subir na barca e ir embora.

A barca da nossa vida, disse o Papa Francisco, “vê-se, frequentemente, balanceada pelas ondas e sacudida pelos ventos; e, se as águas por vezes estão calmas, não tardam a agitar-se. Então irritamo-nos com as tempestades do momento, como se fossem os nossos únicos problemas. Mas o problema não é a tempestade presente, mas o modo como navegar na vida”.

Nesta situação Jesus se dirige aos discípulos, andando sobre o mar. Pensemos nos sentimentos dos discípulos: perplexidade, espanto, surpresa, estupor! Como pode acontecer isso? O que é isso? Um espectro? E assim o medo apodera-se deles e ficam apavorados sem saber o que está acontecendo e pensando que é um fantasma.

Esta é a primeira reação, o medo e o pavor. Mas nesse momento Jesus apresenta-se, convidando-os a ter confiança: Coragem! Sou eu. Não tenham medo.

Ele está presente, e sua presença gera paz e tranquilidade em cada um deles. Mas não é suficiente que Jesus se faça presente, é preciso acreditar nele, e necessário confiar que ele está por cima dessas ondas geradas pelos ventos contrários que batem contra a pequena embarcação.

“O segredo de bem navegar é convidar Jesus a subir para bordo. O leme da vida deve ser dado a Ele, para que seja Jesus a traçar a rota. Com efeito, só Ele dá vida na morte, e esperança na dor; só Ele cura o coração com o perdão, e liberta do medo com a confiança”, disse o Papa Francisco.

Neste domingo somos chamados a confiar em Jesus que caminha por cima do mal da pandemia que atinge o mundo todo e faz soçobrar a barca das comunidades de todo o mundo. “Convidemos, hoje, Jesus a subir para a barca da vida. Como os discípulos, experimentaremos que, com Ele a bordo, amainam os ventos (cf. 14, 32) e nunca sofremos naufrágio. E só com Jesus é que nos tornamos capazes também de encorajar. Há uma grande necessidade de pessoas que saibam consolar, não com palavras vazias, mas com palavras de vida. No nome de Jesus, encontramos e oferecemos verdadeira consolação: não são os encorajamentos formais e previstos que restauram, mas a presença de Jesus”.

Por causa da pandemia, disse o Papa Francisco, na oração na praça São Pedro, “Desde algumas semanas parece que tudo se escureceu. Densas nuvens cobriram nossas praças, ruas e cidades; foram se adonando de nossas vidas fazendo de tudo um silêncio que ensurdece e um vazio desolador que paralisa tudo por onde passa: se palpita no ar, se sente nos gestos, se diz nos olhares”.

E continua dizendo, “Encontramo-nos assustados e perdidos. Igual aos discípulos do Evangelho, surpreendeu-nos uma tempestade inesperada e furiosa. Demo-nos conta de que estávamos na mesma barca, todos frágeis e desorientados; porém, ao mesmo tempo, importantes e necessários, todos chamados a remar juntos, todos necessitados de nos confortarmos mutuamente, porque desta sairemos somente como um, e que “não podemos seguir cada um por nossa conta, mas somente juntos”.

Neste tempo especial o Senhor nos chama a fazer uma travessia diferente, onde nossa pequena barca é batida pelas ondas da pandemia, confiando nele. Não conhecemos o outro lado, não sabemos como é possível chegar, a noite está escura e nossas comunidades e costumes parecem afundar-se, e como a Pedro, Jesus nos convida a confiar nele. Para isso devemos estender nossos braços para que Ele nos segure e não permitir ser afundados pela pandemia do medo, da dor que castiga tantas vidas e famílias.

“No meio do isolamento em que estamos sofrendo a falta de afetos e encontros, experimentando a falta de tantas coisas, vamos ouvir mais uma vez o anúncio que nos salva: ele ressuscitou e vive ao nosso lado”, pediu Bergoglio, sublinhando as “novas formas de hospitalidade, fraternidade e solidariedade”.

Neste domingo somos chamados a abraçar o Senhor e abraçar assim a esperança. Essa é a força da fé, que liberta do medo e dá esperança.


Oração

Feito pecado

Fizeste-te

em nossa carne

pavor,

chaga,

condenação

e sepultura.

Desde dentro

do pecado,

confundido com ele

e maldito,

surpreendes-nos agora,

surgindo de repente

pelo mesmo centro

do medo,

do golpe,

do cerco,

do fosso.

E em meio

ao susto fantasmal

de teu ser luminoso

entre as ondas

de nossa noite partida,

nos sussurras

com voz estreada

de amigo:

“Sou eu, não temas,

caminha sobre a água”

Benjamin Gonzalez Buelta

Salmos para sentir e saborear internamente as coisas




Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF


19° domingo do Tempo Comum – Ano A


Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana :

Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.

Leituras do dia

Evangelho: Mt 14,22-33

Primeira Leitura: 1Rs 19,9a.11-13a.

Segunda Leitura: Rm 9,1-5

Salmo: Sl 83,9ab-10.11-12.13-14 (R. 8)


Evangelho

O Evangelho deste domingo é continuação da multiplicação dos pães, lida domingo passado. Em sua narrativa, Mateus apresenta o êxodo do Messias: o mesmo Deus que libertou o povo do Egito agora age por meio de Jesus, o novo Moisés.

Nos vv. 22-23, Jesus obriga os discípulos a entrarem no barco, enquanto ele próprio se encarrega de dispersar a multidão. Após despachar a multidão, Jesus subiu ao monte, em particular, para rezar. Esta é a primeira vez, em Mateus, que Jesus se afasta para rezar. Ele o fará apenas mais uma vez, no Getsemâni, em 26,36-39.

É necessário perguntar por que Jesus afasta os discípulos da multidão e os envia à sua frente. A resposta parece estar nas expectativas da comunidade mateana: como os primeiros discípulos, os membros daquela comunidade esperavam um grande líder que os levasse a superar as crises. No trecho de hoje, isso está figurado nas forças contrárias ao barco de Pedro: as ondas e o vento. Este barco, sem dúvida, é a Igreja (não só a comunidade de Mateus, mas também a nossa), que é convidada a se afastar do desejo de um messianismo triunfante. Não é à toa que o episódio está inserido logo após a grandiosa multiplicação dos pães: a maravilha operada por Jesus poderia levar o povo a aclamá-lo como aquele esperado líder.

O fato de Jesus obrigar os discípulos a embarcar, ir à sua frente e aguardá-lo na outra margem (v. 22) equivale a um mandato missionário: no barco, os discípulos são uma igreja em saída, que sai do lugar seguro e enfrenta as adversidades da missão. Os discípulos não podem se acomodar no lugar do triunfo, onde as multidões “viram” os sinais de Jesus: a obediência ao Mestre os obriga a assumir sempre novos desafios. Jesus não quer que seus discípulos cedam à tentação de um Messias triunfante, que manipula as massas a ponto de, com elas, formar um exército exasperado e truculento.

Mas Jesus não abandona seus discípulos: no meio da noite, Jesus foi até eles, caminhando sobre o mar (v. 25). Como era de se esperar, este ato de Jesus potencializa o desespero dos discípulos: à dificuldade em navegar em meio à turbulência agora acrescenta-se o terror. Andar sobre as águas era atributo de Deus (Jó 9,8) e, por isso, a visão de Jesus caminhando sobre o mar é interpretada como a aparição de um fantasma.

Àqueles homens apavorados, Jesus dirige uma palavra de confiança: “Coragem! Sou eu!” (v. 27). Jesus utiliza a mesma fórmula com a qual Deus havia se revelado a Moisés, em Ex 3,14: a visão não traz a destruição, mas a esperança e a salvação.

O primeiro a reagir é Pedro: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro sobre as águas” (v. 28). Normalmente, o pedido de Pedro é interpretado como piedade e submissão. Mas pode haver outra explicação: Pedro cede ao desejo de se igualar a Jesus e partilhar o seu poder. A tentativa, porém, é frustrada. Pedro percebe que continua sendo o mesmo de sempre: um simples ser humano, repleto de limitações e de medo. Por isso a censura: “Homem de fé pequena, por que duvidaste?”

Em geral, o termo grego oligópistos é traduzido como “homem de pouca fé” ou “homem de fé pequena”. Mas há nele uma nuança pejorativa: homem de fezinha, de fé mesquinha; homem que tem uma fé baseada nos próprios interesses, e não no compromisso. É natural que uma fé deste tipo, na primeira dificuldade, esmoreça. Neste sentido, a fala de Jesus é uma questão retórica que quer fazer Pedro refletir: “Você tem uma fé mesquinha e interesseira. Entendeu por que, diante da dificuldade, você duvidou?”


Relacionando com os outros textos

1ª leitura 1Rs 19,9a.11-13a.

A primeira leitura mostra o Elias perseguido pela rainha Jezabel. Na fuga, ele se abriga numa gruta no monte Horeb. Há um claro paralelo com o evangelho de hoje: após um acontecimento milagroso, o profeta enfrenta perigosa oposição, tal como os discípulos, que foram forçados a navegar para a outra margem.

De fato, a primeira leitura apresenta três fenômenos cósmicos típicos das teofanias: vento, terremoto e fogo. Supreendentemente, porém, o autor de 1Reis apresenta um quarto elemento – a brisa leve – e é nele que o profeta experimenta a presença de Javé. Convém lembrar que Elias foi um grande crítico ao culto a Baal, que era não somente o deus da chuva e da tempestade, mas também o deus da guerra. Ao afirmar que Javé não está no furacão, no terremoto e no fogo, o autor de 1Reis faz uma crítica aos profetas que, em nome de uma missão supostamente recebida da divindade, conduzem o povo à destruição e à morte.

Isso fica reforçado no fato de Elias encontrar força e consolo não nas manifestações violentas da natureza, e sim na brisa suave: somente a paz interior pode trazer esperança e vida para a pessoa e para a sociedade.



TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIÁN NANNINI, ARGENTINA


DOMINGO 19 DURANTE EL AÑO CICLO "A"

Damian Nannini

Primera lectura (1Re 19,9.11-13)


Este texto forma parte del relato mayor que abarca todo el capítulo 19. La narración comienza con la sorprendente decisión de Elías, valiente y victorioso profeta de Yavé sobre los profetas de Baal (1Re 18), de huir lleno de temor ante la amenaza de muerte de Jezabel, esposa fenicia del rey Ajab. Pero con el correr del relato la huída de Elías se transforma en una peregrinación hacia el monte santo del Horeb, lugar de la Alianza y del encuentro personal de Moisés con Dios. En efecto, la escena tiene lugar en el Horeb-Sinaí y, por tanto, la experiencia de Moisés de Ex 19-20 y Ex 33-34 forma parte del trasfondo del relato de Elías. La vinculación con estos textos se suele entender como una vuelta a los orígenes del más puro yavismo, del monoteísmo y de la alianza. Pero aún reconociendo las semejanzas con la teofanía que protagonizó Moisés, no podemos dejar de notar las diferencias pues Elías no recibe una nueva revelación de Dios (por ejemplo, del decálogo) y aquí el Señor no estaba ni en el viento, ni en el terremoto, ni en el fuego sino en “el sonido de un sutil silencio” (19,12; cf. Dt 4,12.15). El sentido de esta expresión hebrea (qol demama daqqa) es por demás de problemática. La mayoría de las traducciones recurren a las versiones griega (‘el sonido de una brisa ligera’) o latina (‘el susurro de una brisa ligera’). M. Buber sigue el texto hebreo y lo traduce por: ‘el sonido de un silencio que se desvanece’; al igual que Gray, en su comentario: ‘a sound of thin silence’. 

Más allá de las diferencias de traducción lo cierto es que esta manifestación divina es lo opuesto a la espectacularidad que caracterizó a la teofanía del Sinaí con Moisés mediador. Aquí Dios se hace presente de forma suave, calma y silenciosa.



Evangelio (Mt 14,22-33)


Inmediatamente después de la multiplicación de los panes, Jesús manda a sus discípulos que suban a la barca y pasen a la otra orilla; mientras Él despide a la multitud (ἀπόλυσον τοὺς ὄχλους). Una vez hecho esto, Jesús sube a la montaña para orar “a solas” (κατ᾽ ἰδίαν). Y al atardecer (ὀψίας) todavía seguía orando sólo. Sería ya entrada la noche, por cuanto en 14,15 se señaló que, por estar atardeciendo (ὀψίας), los discípulos piden a Jesús que “despida a la multitud” (ἀπόλυσον τοὺς ὄχλους) para que vayan a los pueblos vecinos y se consigan de comer. 

Recordemos que Jesús, al enterarse del asesinato de Juan el Bautista, se subió a una barca en busca de un lugar solitario para estar “a solas” (κατ᾽ ἰδίαν); pero al llegar se encontró con la multitud y “tuvo compasión (σπλαγχνίζομαι) de ellos y sanó a sus enfermos” (14,13-15). Por tanto, la compasión ante la multitud llevó a Jesús a posponer su búsqueda de soledad para orar; pero al final de ese mismo día despide a la multitud y puede hacer realidad su deseo de encuentro personal con el Padre. 

A continuación, el relato deja a Jesús orando en la montaña y se focaliza en la barca con los discípulos, la cual se encuentra ya lejos de la costa y "atormentada" por las olas porque tenían el viento en contra. Justamente el verbo griego utilizado aquí (basani,zw) expresa la idea de sufrimiento o tormento humano (cf. Mt 8,6.29); y muy raramente se refiere a las cosas, como en este caso a la barca. Etimológicamente significa “raspar en la piedra de toque”, en el sentido de poner a prueba o examinar la calidad de los metales. De aquí pasó significar también “probar”, “examinar”, y luego “torturar” o “hacer sufrir” (en Mt 18,34 el sustantivo βασανιστής se traduce por “torturador o verdugo”). Todo esto nos permite aceptar como legítima la interpretación eclesiológica por cuanto el mar, la tempestad y la noche son símbolos de la inseguridad, la angustia y la muerte que se abaten sobre la comunidad y la atormentan o hacen sufrir.

En este contexto, a la madrugada (el texto habla de la “cuarta vigilia de la noche” que abarcaba de 3 hs. a 6 hs. según la división del tiempo nocturno que tenían los judíos) Jesús se acerca a la barca caminando sobre el mar. En la Biblia, el amanecer es el tiempo privilegiado de la acción salvadora de Dios (cf. Ex 14,24; Sal 46,6; Is 17,4) y de la resurrección de Jesús (cf. 28,1). Por su parte, el caminar sobre el mar es una facultad sobrenatural de la que se hablaba a menudo en la antigüedad como algo imposible para los mortales y reservada sólo a Dios .

Los discípulos creen ver un fantasma y gritan de miedo ante la presencia de Jesús que viene sobre las aguas. Entonces Jesús les habla y sus palabras tienen una fuerte carga teológica: "Ánimo, soy yo, no teman" (θαρσεῖτε, ἐγώ εἰμι· μὴ φοβεῖσθε.) 

La primera palabra de Jesús es un imperativo: “ánimo, tengan confianza” (θαρσεῖτε), que en los evangelios es siempre una invitación a ser valiente, a confiar, a estar bien; y que casi exclusivamente aparece en boca de Jesús (cf. Mt 9,2.22; Jn 16,33; He 23,11). 

El “soy yo” (evgw, eivmi) evoca la auto presentación de Dios en el AT (cf. Ex 3,14; Dt 32,39; Is 41,4; 43,10; 48,12; 51,12). 

La invitación “no teman” (μὴ φοβεῖσθε) la dirige varias veces Dios al pueblo de Israel (cf. Gn 15,1; 26,24; 28,13; 46,3; Is 41,13) y Jesús a sus discípulos, en particular en la transfiguración y en sus apariciones como resucitado (cf. Mt 10,28.31; 17,10; 28,5.10). 

Por tanto, Jesús caminando sobre las aguas realiza un hecho extraordinario que manifiesta su condición divina; y la misma se revela también a través de sus palabras. Es decir, Jesús obra con el poder de Dios y habla como Dios. Se trata de una “cristofanía”.

Notemos aquí algo que luego se repetirá en la escena siguiente cuando Pedro camina sobre el agua: la vista falla (creen ver un fantasma) mientras que la escucha de la Palabra de Jesús es la que da certeza y tranquiliza. 

La dimensión eclesial de la narración es clara por cuanto desde los primeros tiempos la barca ha sido vista como figura de la Iglesia y, por tanto, este evangelio busca iluminar la situación de la comunidad eclesial en tiempos de Mateo; y en todos los tiempos. Entonces, si nos preguntamos lo que el evangelista Mateo quiso decirle a la comunidad a la cual escribe y que vive en una situación post pascual, posterior a la resurrección, utilizando expresiones que se prestan a una interpretación simbólica de los hechos, vale la respuesta de L. H. Rivas : “hay una aparente ausencia del Señor, hay dificultades para avanzar, hay fuerzas que se oponen, hay tinieblas que rodean, hay elementos que maltratan al pueblo de Dios. Y por sobre todo esto, está nuestra falta de fe que nos impide reconocer al Señor cuando se acerca a nosotros. Pero sin embargo él viene, nos devuelve la calma y tranquiliza el viento y las olas”.

Sigue el requerimiento de Pedro de poder caminar también él sobre las aguas, escena no presente en el texto fuente de Mc 6,45-52 y, por tanto, es exclusiva del evangelio de Mateo donde el itinerario de fe del apóstol Pedro ocupa un lugar preponderante. 

El pedido de Pedro es por demás llamativo, pues pide realizar una acción imposible para un hombre y exclusiva de Dios. Hay que señalar que su pedido incluye ya cierta duda pues lo expresa en condicional: "si eres tú". De modo semejante el tentador le pidió a Jesús, también en condicional ("Si eres Hijo de Dios…"), que mediante un acto extraordinario demuestre su identidad divina. Y también es llamativo que el Señor le conceda este pedido y lo llame a ir hacia Él. Pedro comienza bien, pero en cierto momento aparta su mirada de Jesús y la dirige al viento tempestuoso, con lo cual lo domina el miedo. Es decir, dejó de confiar en la Palabra de Jesús y se dejó influenciar por lo percibido con su vista. Al ver que se hunde, grita por auxilio al Señor, quien lo rescata. Luego el mismo Jesús da la razón de este fracaso: tuvo poca fe (ὀλιγόπιστε), lo dominó la duda. Notemos que el verbo griego utilizado para expresar la duda de Pedro (διστάζω) aparece aquí y en Mt 28,17 en todo el NT; y tiene en su raíz la partícula δίς (“doble”), por lo cual su sentido es de doblez, de vacilar o dudar porque se está en dos cosas a la vez. Por tanto, Jesús le reprocha a Pedro que no se centró exclusivamente en Él y en su Palabra; sino que desvió su atención al viento impetuoso.

"En cuanto subieron a la barca, el viento se calmó". Es interesante notar que recién ahora se calma el viento tempestuoso, cuando Jesús y Pedro suben a la barca. Y este prodigio provoca como reacción en los discípulos que se postren (προσκυνέω) ante Jesús y le digan: "verdaderamente eres Hijo de Dios" (ἀληθῶς θεοῦ υἱὸς εἶ). Por tanto, la comunidad de los discípulos confiesa a Jesús como “Hijo de Dios”, como más adelante lo hará Pedro en 16,16, siendo el título cristológico más importante para Mateo que busca presentar así a los discípulos como verdaderos creyentes, más allá de sus desánimos y sus dudas .

Como actualización eclesial nos parece también muy buena la síntesis del mensaje de este evangelio que nos ofrece U. Luz : "Lo importante para Mateo es esto: la presencia salvadora de Dios no consiste en que no se levanten tempestades, sino en que se haga sentir en medio de ellas. El que arriesga la obediencia y deja de lado sus seguridades, siente la presencia salvadora. La ayuda de Dios no consiste en que la fe radiante y firme niegue las tempestades de la vida. La fe es a veces "poca fe", esa amalgama de coraje y angustia, de oír al Señor y ver el viento, de confianza y duda, que según Mateo es un rasgo fundamental de la existencia cristiana. No es que Mateo considere la duda como una nota necesaria de la fe; pero tampoco la condena. En eso consiste precisamente la experiencia que hace el creyente: el Señor asume y supera la duda".

En este sentido podemos ver en la figura de Pedro el camino de la fe de todo creyente, y este modo de presentarlo ha sido una clara intención de Mateo. Así lo afirman M. Grilli – C. Langner : “Pedro constituye una imagen realista de los discípulos y, en general, de los creyentes que, por un lado, esperan mucho de Jesús y confían en Él, pero luego nuevamente se ven sobrecogidos por los miedos y las dudas; la poca fe, su falta de confianza en Jesús, caracteriza a los discípulos incluso en sus encuentros con el Resucitado (28,17). Pero precisamente mostrando a Pedro con sus debilidades y su vacilación, como representante de los discípulos, Mateo pone de manifiesto que en el camino de la fe no se pueden evitar las dudas”.



Algunas reflexiones:


El domingo pasado comenzamos a leer una sección del evangelio de Mateo donde Jesús se distancia o retira de los demás para concentrarse en la "formación" de sus discípulos. Esto es patente en el evangelio de este domingo, por tanto, debemos leerlo como un mensaje formativo para nosotros, discípulos y seguidores del Señor, hoy.

Y esta lectura actualizada es hermenéuticamente posible porque en el corazón de la Palabra de Dios se encuentran el misterio de Cristo y el misterio de la Iglesia. Esta afirmación, válida para toda la Sagrada Escritura, es exactísima para la teología del evangelio de Mateo. Este evangelista siempre tiene ante sus ojos al mismo tiempo la vida de Jesús y la vida de la Iglesia, pues su intención es ayudar a su comunidad a descubrir la presencia del Señor Resucitado en medio de ellos. Un claro ejemplo de esto lo tenemos en el evangelio de este domingo cuyo tema principal es la fe que nos brinda la certeza de tener, aún en medio de la oscuridad y la tormenta, la presencia de Jesús que nos llena de paz.

En este sentido, bien podemos comparar la escena de la barca sacudida, castigada por las olas y con viento en contra, con alguna situación de nuestra vida eclesial o personal. Es decir, la noche, la tormenta, el viento en contra y la ausencia de Jesús nos invitan a pensar en esos momentos difíciles donde el miedo, la angustia y la desesperación se apoderan de nosotros; y en los cuales intentamos rezar, pero todo nos parece una ilusión, una fantasía no real. Son los momentos de prueba para nuestra fe, donde vacilamos y parece que nos hundimos. Pero es justo en medio de la oscuridad de la noche y la rudeza de la tormenta cuando el Señor se hace sentir en nuestra vida y nos devuelve la calma con su palabra poderosa: “Ánimo, soy yo, no tengan miedo”. 

También podemos pensar en esas situaciones donde hemos logrado ver al Señor presente y hemos escuchado su voz; y nos animamos también nosotros a caminar sobre los problemas hacia Él. Pero de golpe hemos dejado de mirar al Señor y pusimos toda nuestra atención en la fuerza del viento hostil, en la dificultad que nos aflige. Entonces otra vez el miedo se apodera de nosotros, nos hundimos y nos gana la desesperación. Lo bueno es que, desde el fondo de esta situación, con el agua al cuello, todavía confiamos en que el Señor Jesús, y sólo Él, puede salvarnos y se lo pedimos a gritos de confianza: “Señor, sálvame”. Y el Señor nos da su mano y nos rescata. Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 9 de agosto de 2020: “Esta historia es una invitación a abandonarnos con confianza en Dios en todo momento de nuestra vida, especialmente en el momento de la prueba y la turbación. Cuando sentimos fuerte la duda y el miedo parece que nos hundimos, en los momentos difíciles de la vida, donde todo se vuelve oscuro, no tenemos que avergonzarnos de gritar, como Pedro: «¡Señor, sálvame!» (v. 30). Llamar al corazón de Dios, al corazón de Jesús: «¡Señor, sálvame!»”.

En fin, el camino de la Iglesia, el camino de los cristianos en el mundo nunca estará del todo libre de dificultades, pruebas y contradicciones. Y es normal que en esos momentos nos asalten también la duda y la crisis de fe. Pero si nos animamos a redoblar la apuesta por nuestra fe, si nos atrevemos a confiar con audacia en el Señor, al final la fe triunfará, la “fe que vence al mundo”. Son experiencias duras, pero de crecimiento para nuestra fe, pues al superarlas podremos decirle a Jesús con mayor certeza y convicción: «En verdad tú eres el Hijo de Dios».

Bien vale recordar lo que nos decía el Papa Francisco en aquel memorable mensaje en una desolada plaza de San Pedro el 27 de marzo del 2020: “El comienzo de la fe es saber que necesitamos la salvación. No somos autosuficientes; solos nos hundimos. Necesitamos al Señor como los antiguos marineros las estrellas. Invitemos a Jesús a la barca de nuestra vida. Entreguémosle nuestros temores, para que los venza. Al igual que los discípulos, experimentaremos que, con Él a bordo, no se naufraga. Porque esta es la fuerza de Dios: convertir en algo bueno todo lo que nos sucede, incluso lo malo. Él trae serenidad en nuestras tormentas, porque con Dios la vida nunca muere. El Señor nos interpela y, en medio de nuestra tormenta, nos invita a despertar y a activar esa solidaridad y esperanza capaz de dar solidez, contención y sentido a estas horas donde todo parece naufragar. El Señor se despierta para despertar y avivar nuestra fe pascual”.

Por último, en una lectura litúrgica que tiene en cuenta la relación con la primera lectura de hoy, podemos señalar como mensaje una invitación a descubrir la presencia del Señor en las cosas sencillas y cotidianas, más que en las espectaculares y ruidosas. En efecto, Elías también va al encuentro del Señor en medio de una gran crisis de fe pues como comenta el Card. Martini : “esperaba que Dios cambiara el corazón de la reina y, no viendo ningún indicio de ello, se abate y deprime. Quizá piense, por lo demás, que Yahvé lo ha abandonado, que lo ha ilusionado, que le ha hecho esperar aquella victoria plena que no se ha realizado. Así, las fuerzas se hunden, el miedo lo invade, la angustia lo ahoga, lo oprime y no puede más". 

En esta situación crítica, persevera en la búsqueda del Señor y, por eso, peregrina al monte Horeb. Y al Señor lo encuentra, no en el viento huracanado, en el terremoto o en el fuego; sino en la brisa sutil y casi imperceptible que le recuerda a Elías que Dios sigue obrando en la historia y sigue siendo el Señor de la historia, aunque su actuación no sea espectacular ni evidente a los ojos humanos. Como bien señala el Card. Vanhoye  esta manifestación indica que “Dios se encuentra verdaderamente en el interior de todas las realidades y de todas las personas; está presente en nuestro corazón, aunque no lo veamos”. 


En síntesis, pensamos que el camino de la fe es el mensaje central de las lecturas de este domingo. Más precisamente, se trata de una invitación a pedir una mayor fe para descubrir la realidad de la presencia de Dios en nuestra vida personal y eclesial. Le damos la palabra a R. Guardini : "En el centro de todo lo que el hombre puede pensar y experimentar, en medio de lo que llamamos mundo, surge una realidad que no pertenece al mundo; un lugar en el que se puede entrar, un espacio en el que se puede penetrar, una fuerza sobre la que nos podemos apoyar, un amor al que nos podemos confiar. Todo esto es una realidad diferente del mundo más real que éste. Tener fe significa captar esta realidad, unirse a ella, fundamentarse sobre ella. Vivir de la fe significa tomar en serio esta realidad".

De modo semejante se manifestaba el joven teólogo J. Ratzinger : "La fe es un sujetarse a Dios, en quien tiene el hombre un firme apoyo para toda su vida. La fe se describe, pues, como un agarrarse firmemente, como un permanecer en pie confiadamente sobre el suelo de la Palabra de Dios […] Creer cristianamente significa confiarse a la inteligencia que me lleva a mí y al mundo, considerarla como el fundamento firme sobre el que puedo permanecer sin miedo alguno. En lenguaje más tradicional podemos afirmar que creer cristianamente significa comprender nuestra existencia como respuesta a la palabra, al logos que lleva y sostiene todo".

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


¿Porque dudabas? 


Señor

Tú que calmas tempestades

Supremo Rey de único poder

Ten compasión de nosotros

Temerosos y débiles


Amenazada está la verdad y perseguida

La indiferencia nos acomoda

La inseguridad nos paraliza


La mentira es protagonista

Y el escenario se cobra las vidas

De la inocencia perdida


Despierta Señor, que este mar nos alcanza

Llega hasta la barca y a veces

la sacude y la abraza


Ah, como deseamos escuchar aquello

“Hombre de poca fe” ¿¡porque dudabas?

¡Te suplicamos Señor, reclama!


Como entonces, necesitamos verte

De pie a nuestro lado 

Volviéndonos confiados


Que tus pasos sobre estas aguas 

Nos sorprendan orando, sin desfallecer

Y esperando... Porque Tú… 

Lo vas a resolver.


Supremo Rey de único poder

Ten compasión de nosotros

Temerosos y débiles:

Auméntanos la fe. Amen.