23º DOM TC-A

23º DOMINGO DO TEMPO COMUM- ANO A

10/09/2023 

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO


1ª Leitura: Ezequiel 33,7-9

Salmo Responsorial 94(95)-R- Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!

 2ª Leitura: Romanos 13, 8-10

 Evangelho Mateus 18,15-20

15      Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão.  16    Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas, de modo que toda questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas.  17   Se ele não vos der ouvido, dize-o à igreja. Se nem mesmo à igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um publicano.   18      Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu  , e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu.       19       Eu vos digo mais isto: se dois de vós estiverem de acordo, na terra, sobre qualquer coisa que quiserem pedir, meu Pai que está nos céus o concederá. 20        Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles.”


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE, ARCEBISPO DE SOROCABA SP


PREZADOS IRMÃOS!

Mt 18,15-20


Em geral nos preocupamos em aconselhar as pessoas a não transgredir as leis, mas advertir ou chamar a atenção de quem erra parece muito difícil. Normalmente nós o fazemos somente nos casos mais graves e evidentes de violação das regras. E em muitos casos, tentamos delegar essa tarefa a outros.

Por que temos tanta dificuldade de advertir com caridade quem erra? A dificuldade muitas vezes provém de nosso individualismo: o nosso individualismo estabelece que cada um é juiz de si mesmo e ninguém pode intervir na vida do outro, principalmente se não for solicitado. Esse individualismo é hipócrita, uma vez que a todo momento nós observamos e julgamos. E como! E se não dizemos nada é, muitas vezes, por preguiça, indiferença e desejo de não ter problemas.

O que é mais respeitoso: julgar e não dizer nada ou assumir a responsabilidade de ajudar o outro a se corrigir?

Infelizmente o silêncio diante do pecador nos impede de tomar sobre si a responsabilidade pelo outro, ou seja, de amar de verdade. Advertir é não largar quem erra com um julgamento, mas de ajudá-lo com constância e fidelidade. Estar comprometido pessoalmente! Somente um amor fiel pode ajudar no arrependimento e na conversão.

O mandamento do amor ao próximo exige assumir a responsabilidade em relação a quem, como eu, é criatura e filho de Deus. O ser irmão em humanidade e, em muitos casos, também na fé, deve nos levar a ver no outro um verdadeiro “outro eu”, amado infinitamente pelo Senhor. Se cultivarmos esse olhar de fraternidade, a solidariedade, a justiça e a misericórdia e a compaixão brotarão naturalmente de nosso coração” (Bento XVI).

“Adverte o sábio e ele te será agradecido; instrui o justo e ele crescerá em sabedoria” (Pr 9,8s). É importante recuperar essa dimensão da misericórdia cristã. Não devemos nos calar diante do mal por respeito humano ou por mera comodidade. É preciso advertir os irmãos sobre modos de pensar e de agir que contradizem a verdade e o bem.

Corrigir o pecador é uma obra de misericórdia porque a reprovação do cristão nunca é animada por espírito de condenação ou de recriminação. É movida sempre pelo amor e pela misericórdia e brota da verdadeira solicitude para o bem do irmão (Bento XVI).

Todos temos a necessidade de ser advertidos quando erramos e pecamos. Devemos ter medo dos que não dizem nada quando isso acontece. Ninguém de nós pode ser deixado só, na presunção ou na falsa convicção de que nos bastamos a nós mesmos. Podar o ramo que produz fruto não é limitar nem mortificar o ramo, mas ajudá-lo a se tornar mais forte e fecundo.

É urgente e necessário redescobrir a importância da correção fraterna, para caminhar juntos rumo à santidade. Afinal, até mesmo “o justo cai sete vezes” (Pr 24,16), e nós somos fracos e débeis. É um grande serviço ajudar a ler com verdade a si mesmo para melhorar a própria vida e caminhar mais retamente na via do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa, como Deus fez e faz conosco (Bento XVI).



O difícil caminho do eu ao nós-Adroaldo Palaoro


“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles”(Mt 18,20)


O evangelho deste domingo faz parte do chamado “discurso comunitário”, onde Mateus recolhe os ensinamentos de Jesus a respeito das “relações oblativas” que devem reinar em sua comunidade.

De fato, em seu ministério público, Jesus não só se revela como o “fundamento” da comunidade dos seus discípulos, mas ativa aqueles “atributos” que são essenciais para alimentar os vínculos entre aqueles(as) que o seguem: “tornar-se como criança”, “não ser pedra de tropeço para os pequenos”, “cuidado com a ovelha que se perde”, “a vivência do perdão”, “a correção fraterna”, “a oração em comum” 

Profundo conhecedor da condição humana, Jesus tinha plena consciência que o ser humano é frágil, limitado, e que nenhuma comunidade subsiste sem uma contínua atitude de abertura e de acolhida do “outro”.

Sabemos por experiência que a presença do outro (“alter” em latim) sempre nos “altera”.

O ser humano é incapaz de amadurecer em solidão. Desde nosso nascimento, viemos ao mundo em um estado de fragilidade que faria morrer muitos animais; por isso, precisamos uns dos outros. Fomos concebidos dentro de uma matriz de relações e vivemos sempre em um mundo densamente povoado de surpreendentes presenças humanas, que são imprescindíveis para chegarmos a ser “pessoas”.

As relações interpessoais são fundamentais em nossa vida. Portanto, somos chamados a acolher os outros, reconhecer sua dignidade, sentir-nos responsáveis por eles, assumir a alteridade como princípio e lugar de crescimento e de formação pessoal.

O Evangelho de hoje aponta para esta realidade: nós nos constituímos como “humanos” pelas nossas relações; em outras palavras, só nas relações com os outros podemos crescer em humanidade.

Estamos sempre em contato com o “outro”. E o outro é pessoa. O outro revela certa magia, ao mesmo tempo sedutor e enigmático. O outro é plural, apresenta múltiplos rostos; é diferente, inédito.

Só seremos nós mesmos quando alguém nos descobre, nos acolhe, nos aceita... respeita nossa verdadeira identidade. O outro é a realidade que nos permite tomar consciência de nós mesmos.

Essa identidade se revela por meio das relações: ninguém cresce sozinho, precisamos dos outros; precisamos viver relações sadias e maduras com os outros (família, amigos, trabalho, grupos, comunidades, entre outros).

Nesse sentido, uma pessoa encontra somente sua realização na interação com o ambiente que a cerca.

O ser humano está comprometido com os outros; por sua própria natureza, ele se torna pessoa humana somente em interação com os outros; ele possui impulsos naturais que o levam em direção ao convívio, à cooperação, à comunhão...; ele é reserva de humanidade e compromete-se com a dignidade humana.

O ser humano é um ser constitutivamente aberto, essencialmente em referência a outras pessoas: estabelece com os outros uma interação, entrelaça-se com eles, e forma um nós: a comunidade.

Mas, o “discurso comunitário” em Mateus nos adverte que não podemos partir de uma comunidade de “perfeitos”, mas de uma “comunidade de irmãos” que reconhecem suas limitações, fragilidades... e necessitam do apoio mútuo para superar as dificuldades e reforçar os laços internos.

“Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu...” Esta expressão fora dita, anteriormente a Pedro (cf. Mt 16,19), como presença de unidade e comunhão da comunidade. Agora Mateus expõe que a graça (e o dever) de perdoar é concedido a toda a comunidade, a cada membro. Ninguém fica excluído da busca de diálogo ou de soluções diante de um conflito. É de todos a responsabilidade da marcha comunitária e do bem comum. A todos lhes é exigido uma maturidade que vai sendo alcançada, pouco a pouco. Para isso, a correção fraterna e o acompanhamento mútuo se fazem indispensáveis.

A comunidade é a última instância de nossas relações com Deus e com os demais. O Evangelho de hoje insiste que é preciso esgotar todos os recursos para ajudar o outro a sair de seu erro. Qualquer pessoa que, sem saber, vai pelo caminho equivocado, agradeceria se alguém lhe indicasse, com amor, seu erro e lhe mostrasse o verdadeiro caminho. Se ao fazer hoje a correção fraterna, damos por suposto que o outro tem má vontade, será impossível que ele aceite a retificação. A partir dessa perspectiva estamos dando por suposto que nós somos bons e o outro é mau.

A correção fraterna é um sinal de grandeza e delicado amor; começa com a correção a sós; caso não tenha resultado, chamar outros dois ou três e, se for preciso, recorrer à comunidade.

Numa comunidade cristã todos devemos ser acolhidos com nossas limitações e capacidades, com nossos erros e acertos; a comunidade cristã, se é comunidade e se é cristã, não é espaço de acusação e julgamento quando nos equivocamos; nela somos absolvidos quando somos culpados, somos buscados quando nos perdemos, somos perdoados quando erramos.

A correção fraterna não é condenar, ou castigar, ou expulsar, mas des-velar as limitações, sem ódio, sem espírito de crítica, de vingança, sem rancor. O objeto da correção fraterna não é dizer que eu tenho razão e que o outro está equivocado e, por isso, é mal. O objeto da correção não é sancionar para servir de lição. O objeto da correção fraterna é “ganhar” o irmão.

É no horizonte do amor que a correção fraterna acontece e não no horizonte da lei. O amor e a caridade são muito superiores a uma justiça entendida a partir de uma mera aplicação da lei corretiva.

É muito difícil cumprir hoje esse encargo da correção fraterna porque ela está pensada para uma comunidade, e o que hoje mais falta é precisamente o sentido de “comunidade”.

O sentido da relação, sadia e amorosa, com os outros é um dom de Deus, que nos foi dado a todos.

Deus nos fez amor para o mútuo encontro, para a doação, para a comunhão...

Fomos criados “à imagem e semelhança” do Deus Trindade, comunhão de Pessoas (Pai-Filho-Espírito Santo). Como criaturas, fomos atingidos pela marca trinitária de Deus.

Quanto mais unidos somos, por causa do amor que circula entre nós, mais nos parecemos com o Deus Trindade. “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu Amor em nós é perfeito” (1Jo. 4,12).

Deus colocou em nossos corações impulsos naturais que nos levam em direção ao convívio, à cooperação, à acolhida, à solidariedade...

Deus é o ponto focal para enxergarmos o outro. Se há “eu” e se há “tu”, então a presença de Deus se revela.

A fraternidade, a vida em comum se medem pelo amor, por atos e gestos de doação, de perdão, por vivências de comunhão, por experiências de partilha do mesmo ser, da mesma vida, da entrega mútua.

O amor é olhar o outro com olhos tão limpos, bondosos, desinteressados, tão profundos, que só desejamos que o outro seja único e original, na sua verdadeira identidade.

O autêntico seguimento de Jesus, portanto, significa que a qualidade da comunidade possibilita encontros cheios de graça.

As duas realidades – pessoa e comunidade – se condicionam e se complementam. “A pessoa faz a comunidade e a comunidade faz a pessoa”.


Para meditar na oração

Não podemos esquecer que cada um de nós é um “outro” para os outros.

E poderíamos nos perguntar que espécie de “outro” temos sido para os outros.

- Ser “outro” é mandamento, é apelo à responsabilidade, à ajuda mútua, ao perdão reconstrutor.


Ele está entre nós-José Antonio Pagola


Embora as palavras de Jesus, recolhidas por Mateus, sejam de grande importância para a vida das comunidades cristãs, poucas vezes atraem a atenção de comentaristas e predicadores. Esta é a promessa de Jesus: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles".

Jesus não está a pensar em celebrações massivas, como as da praça de São Pedro em Roma. Embora só sejam dois ou três, ali está Ele no meio deles. Não é necessário que esteja presente a hierarquia; não faz falta que sejam muitos os reunidos.

O importante é que «estejam reunidos», não dispersos nem em confronto: que não vivam desqualificando-se uns aos outros. O decisivo é que se reúnam «em seu nome»; que escutem a sua chamada, que vivam identificados com o seu projeto do reino de Deus. Que Jesus seja o centro do seu pequeno grupo.

Esta presença viva e real de Jesus é a que deve animar, guiar e sustentar as pequenas comunidades dos Seus seguidores. É Jesus quem deve alentar a sua oração, as suas celebrações, projetos e atividades. Esta presença é o «segredo» de toda a comunidade cristã viva.

Os cristãos não podem reunir-se hoje nos nossos grupos e comunidades de qualquer forma: por costume, por inércia ou para cumprir umas obrigações religiosas. Seremos muitos ou, talvez, poucos. Mas o importante é que nos reunamos em seu nome, atraídos pela sua pessoa e pelo seu projeto de fazer um mundo mais humano.

Temos de reavivar a consciência de que somos comunidades de Jesus. Reunimo-nos para escutar seu Evangelho, para manter viva sua recordação, para contagiar-nos pelo seu Espírito, para acolher em nós sua alegria e sua paz, para anunciar sua Boa Nova.

O futuro da fé cristã entre nós dependerá em boa parte do que façam os cristãos nas nossas comunidades concretas nas próximas décadas. Não basta o que possa fazer o Papa Francisco no Vaticano. Tampouco podemos colocar a nossa esperança no punhado de sacerdotes que possam ordenar-se nos próximos anos. A nossa única esperança é Jesus Cristo.

Somos nós os que temos de centrar as nossas comunidades cristãs na pessoa de Jesus como a única força capaz de regenerar a nossa fé gasta e rotineira. O único capaz de atrair os homens e mulheres de hoje. O único capaz de gerar uma fé nova nestes tempos de incredulidade. A renovação das instâncias centrais da Igreja é urgente. Os decretos de reformas, necessários. Mas nada tão decisivo como voltar com radicalidade a Jesus Cristo.


A fé e o amor caminham juntos-Ana Maria Casarotti


Ressoam em nosso interior as últimas palavras de Jesus: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles”. A narrativa começa com o compromisso. Se for o caso de corrigir o próximo, é preciso fazê-lo em segredo.

Não é necessário dialogar com todas as pessoas para ter certeza daquilo que pensamos e, geralmente, para difundir o erro da pessoa. Jesus não promove a fofoca. Pelo contrário! Nas suas palavras aprecia-se um amor muito grande por cada um e cada uma.

O ditado popular promove o contrário: “cada um por si, Deus por todos”, ou seja, não devo preocupar-me com o que acontece a meu irmão/ã, ele/ela que se “vire”!

Apresenta-nos um caminho de amor como o seu, que não se preocupa com as opiniões dos que se alimentam dos erros dos outros. Suas dicas e orientações são para amar como ele, ou seja, viver amando até o extremo e construir assim relações fraternas e uma sociedade justa.

Além de nos mostrar o caminho para construir um mundo diferente, Jesus nos assegura Sua presença, as últimas palavras do evangelho de hoje o mostram claramente:

O tema deste evangelho é a responsabilidade uns pelos outros/as, por isso é necessária a correção fraterna: “Se o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em particular, só entre vocês dois”.

Quantas coisas vemos diariamente ao nosso redor, na nossa família, lugar de trabalho, estudo, em meu gruo de amigos/as, que está errado! Quantas vezes somos testemunhas de atitudes ou posicionamentos equivocados de pessoas próximas! E o que fazemos?

O mais rápido e fácil seria emitir juízos condenatórios sobre essa pessoa e ficar calado/a diante da situação. Ou, para piorar, além da condenação inicia-se uma corrente de “fofoca”: “viu o que essa pessoa fez..., “que horror, e não é a primeira vez...” e assim vai.

A proposta de Jesus é totalmente contrária. Ser responsável por meu irmão/ã me compromete a ajudá-lo/a no momento em que ele/a fraqueja, erra. Não para condená-lo/a e menos ainda para falar sobre seus erros a outras pessoas.

Convida-nos a ter uma atitude ativa e ir a sua busca para lhe mostrar amigavelmente onde errou e ajudá-lo/a a mudar.

Pode ser que nosso/a amigo/a não queira reconhecer seu erro ou mudar de conduta, então a reação natural que pode surgir é abandoná-lo/a a seu destino, pois não quis nos escutar, já nada podemos fazer.

Mas Jesus ensina a paciência e caridade com as pessoas. Sua misericórdia é infinita e somos chamados a viver com um coração semelhante ao seu: misericordioso, paciente, cheio de compaixão.

Toda pessoa merece outra oportunidade. Ele quer que nosso amor seja paciente, por isso que tenha a capacidade criativa de buscar outros caminhos para a salvação de nosso irmão/ã.

Como disse Walter Kasper: “A palavra misericórdia significa ter um coração pelos miseráveis, estar atento aos outros, ao próximo. Ver onde eles sofrem, onde estão as suas feridas, as suas necessidades. Ter olhos abertos, não ficar indiferente e não fazer parte desta globalização da indiferença da qual o papa falou em Lampedusa e em várias outras ocasiões. Em segundo lugar, é preciso lembrar que a misericórdia não é apenas uma compaixão, mas também é uma atitude, uma virtude ativa. Quer combater a miséria, quer ir ao encontro. Não move só o coração, mas também as mãos e os pés. Faz-nos caminhar, ir ao encontro dos outros. (Texto completo: Misericórdia, virtude exigente. Entrevista com Walter Kasper) 

Este ministério de salvação, de reconciliação Jesus o confere à comunidade eclesial, toda ela é responsável por fazer o que for preciso para encaminhar as pessoas no caminho certo. Sempre vivendo e exercendo o mandamento do amor.

Só sendo servidora como seu Mestre e Esposo a Igreja será instrumento de reconciliação e comunhão. Jesus é o Caminho, o nosso caminho a seguir, e ser assim seus discípulos.

“O que move a vida de Jesus é a compaixão e a compaixão é expansiva, tem impacto profundo naqueles(as) que estão ao seu redor. Compaixão desperta compaixão pois ela é mobilizadora dos sentimentos mais nobres presentes no interior de cada um. (Disponível: A compaixão como fonte do chamado) 

Por isso causa tanta dor quando vemos que, como comunidade eclesial, não vivemos nossa vocação de serviço, pelo qual em lugar de amar, condenamos, excluímos, dividimos, e colocamos mais fardos no povo de Deus.

Daí a necessidade que temos de nos ajudar para viver com maior coerência nossa vocação eclesial de serviço, e assim nossa comunhão fará presente Jesus entre nós.

Oração

Acima de tudo

Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, 

se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente.

Ainda que eu tivesse o dom da profecia, 

o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência; 

ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, 

se não tivesse o amor, eu não seria nada.

Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, 

ainda que entregasse o meu corpo às chamas, 

se não tivesse o amor, nada disso me adiantaria.

O amor é paciente, o amor é prestativo; 

não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho.

Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, 

não se irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. 

Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 

O amor jamais passará.

As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá. 

Pois o nosso conhecimento é limitado; limitada é também a nossa profecia.

(1° Carta de Paulo aos Coríntios capítulo 13, 1-10)


A correção fraterna e a oração - Mesters, Lopes e Orofino

 

Jesus nos fala da necessidade da correção fraterna quando surgem conflitos nas comunidades e da oração em comum.

Situando

Esta narrativa é o centro do Sermão da Comunidade (Mateus 18). Ali, encontramos o evangelho de hoje e nele estão os assuntos da correção fraterna (18,15-18), da oração em comum (18,19) e da presença de Jesus na comunidade (18,20).

Em Mateus, a organização das palavras de Jesus em cinco grandes Sermões mostra que, já no fim do primeiro século, as comunidades tinham formas bem concretas de catequese. O Sermão da Comunidade, por exemplo, traz instruções atualizadas de como proceder, caso algum conflito surgisse entre os seus membros. E o evangelho de hoje propõe três setas no caminho que apontavam o rumo da caminhada e ofereciam critérios concretos para solucionar conflitos.

Comentando

Mateus 18,15-18: A correção fraterna e o poder de perdoar

Jesus traz normas simples e concretas de como proceder no caso de algum conflito na comunidade. Se um irmão ou uma irmã pecar, isto é, se tiver um comportamento não de acordo com a vida da comunidade, não se deve logo denunciá-los. Primeiro, procure conversar a sós. Procure saber os motivos do outro. Se não der resultado, leve mais duas ou três pessoas da comunidade, para ver se conseguem algum resultado. Só em caso extremo, deve levar o problema para a comunidade toda. E se a pessoa não quiser escutar a comunidade, que ela seja para você como um publicano ou pagão, isto é, como alguém que já não faz parte da comunidade. Não é você que a está excluindo, mas é a pessoa que se exclui a si mesma.

Mateus 18,19: A oração em comum

Essa exclusão não significa que a pessoa seja abandonada à sua própria sorte. Ela pode estar separada da comunidade, mas não estará separada de Deus. Caso a conversa na comunidade não der resultado, e a pessoa não quiser integrar-se na vida da comunidade, resta o último recurso de rezar juntos ao Pai para conseguir a reconciliação. E Jesus garante que o Pai vai atender.

Mateus 18,20: A presença de Jesus na comunidade

O motivo da certeza de ser ouvido é a promessa de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei no meio deles!” Jesus diz que ele é o centro, o eixo, da comunidade e, como tal, junto com a comunidade estará rezando ao Pai, para que conceda o dom do retorno ao irmão ou à irmã que se excluiu.

Alargando

A comunidade como espaço alternativo de solidariedade e fraternidade

A sociedade do Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As sinagogas também eram exigentes e não ofereciam um lugar para eles. Nas comunidades, o rigor de alguns na observância da Lei levava para a convivência os mesmos critérios injustos da sociedade e da sinagoga. Assim, nas comunidades começaram a aparecer as mesmas divisões que existiam na sociedade e na sinagoga entre rico e pobre, dominação e submissão, falar e calar, carisma e poder, homem e mulher, raça e religião. Em vez de a comunidade ser um espaço de acolhimento, tornava-se um lugar de condenação. Juntando palavras de Jesus neste Sermão da Comunidade, Mateus quer iluminar a caminhada dos seguidores e das seguidoras de Jesus, para que as comunidades sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. Devem ser uma boa-nova para os pobres.

  

O amor é a plenitude da lei -  D. Paulo Peixoto


A aplicação da lei é uma exigência essencial para que haja o cumprimento da justiça. Ela tem por objetivo dar direito a quem está sendo lesado injustamente e exigir a realização do dever para que haja ordem e harmonia na convivência social. O amor verdadeiro está acima de qualquer realidade da fraqueza humana. Quem realmente ama faz justiça e cumpre os deveres na vida comunitária.

Muitas atitudes de desamor são prejudiciais e ameaçam a unidade entre as pessoas. Infelizmente, dependendo da gravidade dos atos praticados, a justiça é acionada para exigir o cumprimento correto da lei. No aspecto da vida de fé em Deus, o exercício do amor supõe a prática da vigilância, da solidariedade e da correção fraterna. Nos ensinamentos bíblicos, o amor é exigência para o bem viver.

A prática do autêntico amor depende muito do formato de vida da pessoa, da serenidade no cumprimento dos deveres próprios da convivência fraterna. As leis são advertências permanentes, que ajudam na vigilância pessoal, como sinal de alerta para os momentos de ações descontroladas e ameaçadoras nos relacionamentos. É quase impossível a pessoa ter equilíbrio total a vida toda.

A Palavra bíblica reflete a vontade e as exigências de Deus em relação à conduta de vida das pessoas. Portanto, é referência segura e capaz de alertar e ajudar no respeito à liberdade exercida com responsabilidade, sem necessidade de acionar leis civis em momentos de atritos. Conforme a Palavra de Deus, na convivência comunitária, todas as pessoas são responsáveis umas pelas outras.

O amor autêntico é uma das fontes primeiras de felicidade. Ele supõe relação interpessoal e fraternidade na convivência. Isso não é fruto simplesmente de uma opção, mas de um dever que faz parte essencial da vida de cada pessoa. Na incapacidade de absorver essa realidade inerente à vida, ocasionando atritos e descontentamentos, nesse caso há necessidade do uso das leis e de ação na justiça.

 Muitas comunidades têm problemas internos de convivência fraterna. A solução depende de diálogo franco e sincero para se chegar a um nível de reconciliação. A correção é um gesto de amor, que pode ser feito também com a presença de mais pessoas como testemunhas. As Indiferenças e vinganças são situações inaceitáveis dentro de uma comunidade fraterna e cristã.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.


Proclamar Libertação-Ivoni Richter Reimer


1. O culto e os textos

Estou concluindo este auxílio homilético no dia de abertura da Semana de Oração pela Unidade de Pessoas Cristãs. Para mim é uma feliz coincidência, pois um dos destaques dos textos bíblicos reside exatamente na unidade marcada pelo desafio da inclusão e do cuidado para com todos os “pequeninos” dentro e fora da igreja, principalmente para com quem erra, peca, se perde do rebanho... A igreja está conclamada a acolher e corrigir os “malvados” (Ez 33.7-9), buscando a unidade e a inclusão junto a quem se “perde”. É nesse sentido que podemos nos reportar a Rm 13.1-10, cuja concepção de exusía está subordinada a Deus, colocando, portanto, freio não apenas aos “maus”, mas também às próprias autoridades – civis e religiosas –, quando estas não trabalham pela justiça, sendo elas mesmas, assim, ilegítimas diante da fonte da qual procedem. O importante é acolher, corrigir, incluir por causa do amor que cumpre a Torá (Rm 13.8-10). Assim, o culto estará marcado pelo poder transformador do perdão, que pressupõe esforços, buscas e diálogos tanto por parte de quem sofre a ação do pecado como por quem peca.

2. Textos e contextos

Escrito em torno do ano 80, após a destruição de Jerusalém pelos romanos, o Evangelho de Mateus busca, mesmo que fragmentariamente, registrar a memória da história de Jesus de Nazaré junto com suas discípulas e seus discípulos. Este é, portanto, um escrito pós-guerra. Os judeu-cristãos tinham sobrevivido, porque fugiram de Jerusalém e se assentaram na região circunvizinha ou mais distante, talvez em Antioquia.

É no contexto de perseguição, fuga, esconderijos e de resgate da memória histórica dos primeiros tempos que as comunidades judeu-cristãs terão que elaborar e efetivar outras formas e outros lugares de reunião, estudo, celebração e organização. As igrejas que se reúnem nas casas tornam-se, nesse contexto, cada vez mais importantes. A afirmação de identidade é uma exigência não apenas interna, mas também externa, visto que agora esse grupo não mais está protegido pela religião judaica1, tida até então como lícita pelo Império Romano.

Nesse novo momento histórico-religioso, o Evangelho de Mateus busca resgatar algumas características fundantes e fundamentais do movimento jesuânico: a participação de mulheres no seguimento e ministério de Jesus; a participação de “pequeninos” em termos sociais e generacionais; a observância cotidiana e prática da Torá para garantir a afirmação de identidade e convivência social com justiça.2

3. Contexto literário e fontes

Em termos literários, a perícope de Mt 18.15-20 situa-se na terceira parte do evangelho (16.21-28.20), a qual coloca Jesus a caminho de Jerusalém. Este caminho está marcado por confrontos com autoridades, bem como por orientações de Jesus a suas discípulas e seus discípulos. Aqui, Jesus e seu grupo encontram-se em Cafarnaum, e é nesse contexto que se organiza o quarto discurso3, que visa orientar a comunidade sobre questões eclesiais (18.1-35) em situações de conflito.

É importante destacar que para essa perícope não há paralelo sinótico, sendo material exclusivo para comunidades das quais e para as quais se escreve o Evangelho de Mateus.4 A fonte da qual se bebeu para construir esse texto jorra principalmente desde Lv 19 (interpretação dos mandamentos), sendo que Mt 18.15-20 apresenta um midrash altamente normativo para a vida sociorreligiosa dessas comunidades. Além disso, observa-se a lei acerca de testemunhas (Dt 19.14-21). Portanto, também através desse texto e da normatização da prática da correção e do perdão objetiva-se afirmar identidade a partir de origens judaicas.

4. Conteúdos de vida e morte – Abrindo a porta

O texto evidencia que há problemas de relacionamento com “os menores”, “os pequenos”, “os devedores” no seio da comunidade. O indício é que há práticas de exclusão, um processo de “limpeza” eclesial por meio da condenação sumária de quem erra, de quem peca. O tema “pecado”, nesse contexto, deve ser entendido a partir de sua fonte (Lv 19), referindo-se, pois, a práticas de não-cumprimento do Decálogo.

O texto e esse processo de exclusão demonstram que, mesmo sendo um grupo majoritariamente de gente marginalizada e oprimida em seu contexto histórico-social, os problemas comunitários internos refletem uma dinâmica semelhante aos problemas e processos de opressão externa. Repete-se, aqui, o que se vivencia ali. Para dentro dessa situação de conflito, o objetivo é orientar, colocar limites normativos de comportamento e de ética eclesial, afirmando uma identidade diferencial dentro de um contexto hostil.

Eixo temático dos textos, principalmente de pregação dentro do contexto maior, é o cuidado especial para com os “pequenos” na comunidade eclesial e social (18.1-5; 18.6,10,14). Nesse sentido, 18.14 serve como “ponte” para 18.15 com uma novidade temática: nossa perícope introduz a realidade específica do pecado. A partir do contexto literário podemos entender que, para Mateus, neste caso, quem peca também faz parte dos “pequenos”, que merecem cuidado, acolhida, enfim, perdão, porque Deus não quer que nenhuma pessoa se perca! A graça do perdão de Deus, por isso e nesse sentido, também depende do nosso esforço e estratégica competência evangélica em “salvar” quem peca entre nós, em relação a nós e a nós mesmos (porque também nós pecamos).

A orientação básica é que a prática comunitária deve voltar-se sempre com maior cuidado para “os pequenos”. O ponto referencial para uma ação comprometida com o reino de Deus está sempre “embaixo”, afirmando-se uma inversão de valores existentes naquele sistema que acabou de vencer o povo de Deus por meio da força das armas. Nisto reside uma das práticas de resistência desses grupos pós-guerra, que dão continuidade ao movimento de Jesus. O recado é: que não se repita em nosso meio o que acontece sob o manto dos poderosos. O cuidado, a opção pelos “pequenos” deve ser a marca eclesial. Desta marca fazem parte – seguindo a estrutura do discurso eclesial – a cidadania da criança, a aceitação incondicional de pessoas marginalizadas e que “se perdem”, a festa em processos de acolhida, a correção mútua, o perdão de todas as dívidas.

Afirmando a continuidade da história de Deus com seu povo, a comunidade judeu-cristã ligada ao Evangelho de Mateus compreende-se como igreja/“povo convocado pelo Senhor” (kahal – LXX), que, de maneira escatológica, prenuncia, vivendo já agora, o reino de Deus inaugurado pelo Messias Jesus de Nazaré (Goppelt, p. 264-266). Assim, por intermédio do Jesus Messias, a comunidade judeu-cristã sabe-se inserida no povo de Deus.

Nessa continuidade escatológica, igreja quer se construir como um lugar de engendrar e vivenciar processos e espaços alternativos que fluem e agem na contramão da história que se impõe. Não se trata de adaptação, nem assimilação, tampouco inculturação.5 Aqui se elabora um processo de contraprodução, de contracultura, de experimento do reino de Deus. Essa organização eclesial cria, dentro do mesmo espaço habitado pelo sistema, outros espaços de sobrevivência, de sobrevida, de nova vida, colocando-se como diácona de Deus. Esta é a proposta do discurso eclesial em Mateus. A radicalidade do amor-diaconia, da solidariedade para com os pequenos, que os torna sujeitos de sua própria vida, é tão grande que exige a retirada das “pedras de tropeço” (18.6-9). O que se propõe para a igreja, de acordo com o Evangelho de Mateus, não é uma porção de atitudes “reparatórias”, mas preventivas: para que o dano nem venha a acontecer e que o corpo todo seja salvo.

A comunidade, porém, vivencia a realidade de que o dano de fato continua acontecendo. O amor nem sempre vence o medo, o ódio, a ganância. As pessoas erram, se perdem, pecam. E então como a pessoa lesada, a comunidade e a igreja devem agir? Aqui o texto para pregação responde com a correção irmanal, o perdão e a reelaboração de compromissos.

5. Correção, perdão e compromisso – Adentrando na casa

O texto de Mt 18.15-20 situa-se literariamente de forma estratégica no meio do discurso eclesial: é como uma mola propulsora que, bem ancorada e equilibrada, dá o impulso exato e necessário para a direção pretendida. A base e o equilíbrio estão dados pela gratuidade de Deus, elaborada em 18.1-14: a acolhida e aceitação de pequenos e perdidos. A direção pretendida é a construção de relações socioeclesiais qualitativas, que testemunhem a presença redentora de Deus. Assim como Deus me/nos trata, assim é preciso tratar as outras pessoas. Caso contrário, Deus retirará de mim/nós o bem já recebido (18.23-35).6 Qual e o que seria, então, em nossa figura, a mola propulsora? Exatamente a disposição de investir tempo e esforços para com aquelas pessoas que erram, que pecam em relação a mim/nós e, portanto, também em relação a Deus. O resultado desse esforço, que se espera positivo, será testemunho para a própria ação de Deus, que serve de base para toda a estrutura desse empreendimento.

Vejamos alguns detalhes do texto de pregação:

v. 15: introduz o tema do pecado no discurso eclesial, e a preocupação está em orientar a pessoa e a comunidade a acharem o perdido e ganhá-lo de volta, questionando, com isso, a prática da exclusão, da excomunhão (veja Mt 18.10-14), que talvez estivesse acontecendo e espelhando um dos problemas comunitários. Referindo-se a Lv 19.17-18, recorda-se o mandamento áureo do amor ao próximo, também ao inimigo. Mt 18.15 aposta no resultado positivo dessa primeira investida.

v. 16: parte da eventualidade de fracasso no diálogo pessoal com quem cometeu pecado. Recomenda, somente neste caso, levar uma ou duas testemunhas para a conversa reconciliatória (Dt 19.14-21). Levar testemunhas era uma prática judaico-rabínica, e elas tinham uma função específica: auxiliar na admoestação da pessoa pecadora com o objetivo de dificultar e preferencialmente impedir sua condenação.

v. 17: não mais pressupõe, positivamente como no v. 15, que esse procedimento tenha êxito. Por isso, somente agora a igreja deve ser informada, como última instância. E somente ante a possibilidade de fracasso diante da igreja/comunidade reunida, na busca por reconciliação, deverá acontecer a exclusão. O sentido da exclusão está dado com a utilização dos termos “gentio e publicano”: trata-se de gente com quem não queremos nos relacionar. O texto não contém nenhuma norma de como se concretiza a exclusão, mas parece que, neste caso, ela é definitiva (diferente de 1Co 5.5 e 2Co 2.7-10, onde a porta do juízo final ainda permanece aberta).

v. 18: abre uma nova pequena unidade. Por causa da gravidade da definitiva situação de exclusão, são introduzidas as palavras “em verdade vos digo”, que têm função normativa e são seguidas pelos termos “ligar” e “desligar”, as quais reforçam a decisão legal tomada pela igreja (v. 17). Trata-se aqui de termos sinônimos para reter pecado ou perdoar. Essa decisão mostra ou busca evidenciar o peso institucional já existente no final do século 1, mesmo que de forma incipiente: essa decisão eclesial não se restringe às relações na terra, mas invade as realidades celestiais; vale para o aqui e agora e para o além e eterno. O poder é total, legitimado pela fórmula quiriacal introdutória. Tudo indica que essa estratégia pudesse servir como modelo pedagógico para prevenir e evitar exclusões. Infelizmente, o texto não informa sobre a especificidade das ações e dos sujeitos transgressores, sendo que não podemos ter um quadro mais claro da realidade e dos problemas daquela(s) comunidade(s).

Para encerrar, os v. 19-20 novamente introduzem a fórmula quiriacal para dar autoridade ao novo assunto: o destaque é numérico e aposta na unidade ou unanimidade daquilo que se quer, se pede. A oração é prática judaico-cristã, e seu atendimento está ligado e até depende da prática comunitária. Aqui se trata da oração em favor da reconciliação de pessoas que pecam e com isso dividem a comunidade. Essa oração, portanto, deve fazer parte da agenda comunitária. E comunidade existe a partir de duas ou três pessoas. Não mais são necessárias nem sequer dez pessoas (número necessário para o culto sinagogal) para que o culto a Deus aconteça. Na verdade, para Jesus não importa a quantidade, mas a qualidade. Esta qualidade repercutirá por si própria e testemunhará do amor disposto à reconciliação. A marca dessa qualidade fica registrada com “em meu nome”, um acento cristológico que sustenta tanto a vida cotidiana como a prática cultual, que dá sentido tanto à diaconia diária quanto à diaconia dominical. Cristologicamente isto significa, para o Evangelho de Mateus, relembrar o Deus Conosco, Emanuel.

Sabemos que Mt 18.20 é por demais conhecido. Por isso será importante resgatá-lo no contexto da perícope: a presença de Cristo não se restringe ao número reunido dominicalmente e não serve para justificar o pequeno número de membros de uma comunidade/paróquia, mas marca exatamente o jeito como celebramos a vida, resolvendo conflitos cotidianos, movidos por atitudes de diálogo pessoal e comunitário, que objetivam processos de perdão, de inclusão. Assim como Deus, também nós devemos alegrar-nos somente com a inclusão, com o “encontrar e ganhar quem está perdido”, e não com sua condenação e exclusão.

6. Abrindo janelas – O encontro na palavra

O culto todo deverá ser diaconia que objetiva reconciliação. Os hinos, as orações, alguns símbolos podem destacar essa postura. Para a pregação, sugiro que se utilize a imagem da mola propulsora para ilustrar a temática e a dinâmica de trabalhar situações de conflito (como elucidado acima), objetivando testemunho eficaz. A fim de encorajar as pessoas para esse processo, poderão ser elaborados/renovados alguns compromissos comunitários (talvez em forma de oração ou um painel ou jogral, elaborados por grupos da comunidade). Enfim, é bom recordar que não são somente os “malvados” ou os “maus” que pecam, mas, conforme Paulo e Lutero, não há sequer uma pessoa justa, e todos nós carecemos da graça e do perdão cotidianos eternamente.

Notas:

1 Na Guerra Judaica, entre os grupos judeus organizados, sobreviveram apenas os fariseus, que começam a formatar, em Jámnia, a partir de 80, o rabinismo formal. Decide-se, a partir do Concílio em Jámnia, a expulsão dos nazarenos/nazireus (=judeu-cristãos) das sinagogas judaicas, também como forma de amainar conflitos de identidade religiosa junto as autoridades romanas.

2 É importante lembrar disso, porque na mesma época havia outras tendências e vivências, refletidas, p.ex., em literaturas deuteropaulinas e pastorais.

3 O Evangelho de Mateus contém cinco grandes discursos de Jesus: 5.1-7.29 (Sermão da Montanha); 9.36-10.42 (Instruções sobre Missão); 13.1-52 (Parábolas sobre o Reino); 18.1-35 (Instrução Eclesiológica); 24.1-25.46 (Discurso Apocalíptico).

4 Sem poder aqui discutir pormenores da estrutura, parece que Mt 18.15-20 forma uma

inserção textual dentro desse discurso eclesial. Deve ter sido parte da tradição eclesial mataica e talvez foi colocado aqui exatamente por causa do cuidado com os pequenos, também os pecadores.

5 Outras formas de elaborar organização socioeclesial, que assimilam dinâmicas sistêmicas de dominação, podem ser encontradas em outros textos bíblicos, como nos códigos domésticos de Cl 3; Ef 5; 1Pe 2-3.

6 Sobre esta lógica retributiva libertadora, veja REIMER, Haroldo; RICHTER REIMER, Ivoni, na interpretação de Mt 18.23-35.


Bibliografia

GOPPELT, Leonardo. Teologia do Novo Testamento. Vol. I: Jesus e a Comunidade Primitiva (Tradução de Martin Dreher). São Leopoldo; Petrópolis: Sinodal; Vozes, 1976.

MOLZ, Cláudio. 16º Domingo após Pentecoste. Prédica: Ezequiel 33.7-9. In: Verner HOEFELMANN; João A. M. da SILVA (org.), Proclamar Libertação, vol. 27. São Leopoldo: Sinodal; IEPG, 2001. p. 230-236.

REIMER, Haroldo; RICHTER REIMER, Ivoni. Tempos de Graça. O Jubileu e as tradições jubilares na Bíblia. São Leopoldo; São Paulo: CEBI; Paulus; Sinodal, 2000.

RICHARD, Pablo (org.). O Evangelho de Mateus. A igreja de Jesus, utopia de uma igreja nova. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana, vol. 27. São Leopoldo; Petrópolis: Sinodal; Vozes, 1997.



TEXTO EM ESPANHOL DE DOM DAMIAN NANNINI, ARGENTINA



DOMINGO 23 DURANTE EL AÑO CICLO "A"



Primera lectura (Ez 33,7-9)

En la sección de Ez 33,1-20, de la que forma parte la primera lectura de hoy, se desarrolla el tema del profeta como centinela y, de este modo, se inaugura la segunda fase de la actividad del profeta o el segundo bloque del libro, que recopila mayormente oráculos de esperanza. Recordemos que los mismos son pronunciados después de la destrucción del Templo de Jerusalén cuando, luego de un tiempo de duelo, el profeta vuelve a hablar para anunciar la acción futura de Dios sobre el pueblo que está exiliado en Babilonia. 

La imagen del centinela es utilizada para expresar de modo novedoso la misión del profeta, presentándolo como responsable de la transmisión de la Palabra de Dios que amenaza con castigo al culpable. La misión del centinela es avisar desde su torre lo que ve, en particular la llegada del invasor o enemigo. Si no avisa es culpable de la desgracia que sobre vendrá. De igual modo, el profeta debe advertir al malvado que su mala conducta le atraerá el castigo de Dios. Si calla por miedo o negligencia, se hace culpable también él. Pero si advierte y no es escuchado, sólo perecerá el malvado mientras el profeta se salvará.

Queda en evidencia que el profeta tiene una responsabilidad en relación a la vida de los demás ya que su misión es transmitir la Palabra de Dios al pueblo; pero el límite de esta responsabilidad es y será siempre la libertad del individuo.



 Evangelio (Mt 18, 15-20)


El capítulo 18 de Mateo es llamado “el discurso a la comunidad o discurso eclesial” pues en él se recogen diversos dichos de Jesús acerca de la vida comunitaria. En efecto, "todo el capítulo 18 parece estar animado por la preocupación de generar vínculos fraternos" . Y esto teniendo muy en cuenta tanto la realidad concreta de la comunidad en cuanto "santa y pecadora" como la realidad concreta de sus integrantes, con sus debilidades y pecados. Desde aquí se abordan distintos temas que se refieren a la realidad comunitaria: "La secuencia de temas que se proponen a la reflexión son los siguientes: la posición que hay que adoptar en el interior de la comunidad, a modo de preámbulo o introducción de la enseñanza; luego sigue el cuidado por el más débil y la responsabilidad por el camino del otro, temas que parecen estar conectados; finalmente, aparecen las cuestiones de la corrección fraterna y el perdón, aspectos de gran importancia para el desarrollo de una fraternidad sólida y una solidaridad activa, entendidas en un sentido amplio. Estas recomendaciones se encuentran iluminadas por el párrafo sobre la oración en común, un comentario que le otorga el verdadero perfil trascendente a la comunidad invitada a vivir la reconciliación y la comunión" .


De esta secuencia, en la lectura de este domingo veremos el tema de la corrección fraterna y la oración en común; mientras que el próximo domingo el tema del perdón. 

De modo especial, tengamos en cuenta el texto inmediatamente anterior que habla de dejar las noventa y nueve ovejas para ir en búsqueda de los que se han perdido, porque lo que leemos es, en cierto modo, la aplicación de este principio a un caso concreto: la pérdida de un hermano cuando ha pecado .

La perícopa de la corrección fraterna está articulada en dos partes. En la primera (vv. 15-17) se presenta un procedimiento pastoral para convertir al hermano que peca; mientras que en la segunda parte (vv. 18-20) se indican las motivaciones teológicas de esta práctica. 

El texto comienza señalando los pasos concretos que deben darse en la comunidad cuando un "hermano peca". Jesús parte de la posibilidad real del pecado de un "hermano", o sea de un cristiano miembro de la comunidad. Algunos manuscritos dicen simplemente "peca"; mientras otros añaden "contra ti", tal como lo reflejan las distintas traducciones del mismo. La diferencia de situaciones no es menor, por cuanto con el "contra ti" se reducen mucho las posibilidades de la corrección fraterna. Sin este añadido, el concepto de pecado se asimila más al del Antiguo Testamento donde es claro que todo pecado, toda ofensa a la Ley de Dios, afecta a toda la comunidad creyente y merece ser corregida. Por ejemplo, en Lv 19,17 leemos: "No odiarás a tu hermano en tu corazón: deberás reprenderlo convenientemente, para no cargar con un pecado a causa de él". Por otra parte, notemos que a partir del texto no se puede deducir cual es el tipo de pecado cometido. Esto significa que la corrección podría ser aplicable a cualquier clase de pecado, sea leve o grave, contra Dios o contra el prójimo. En fin, optemos por el sentido amplio del texto, sin el añadido "contra ti". 


Entonces, el primer paso que debe realizar quien advirtió el pecado de un hermano es ir a él y reprenderlo en "privado" (el texto griego dice literalmente "entre tú y él solo": μεταξὺ σοῦ καὶ αὐτοῦ μόνου). Esta reprensión no es otra cosa que hacerle ver al hermano su error. Si el hermano acepta su pecado, es decir, si escucha la reprensión, el que ha reprendido habrá ganado un hermano para sí y para la comunidad. Esta primera instancia está marcada por la relación hermano-hermano, lo cual muestra la responsabilidad que hay de unos para con otros y donde nadie debe sentirse ajeno al otro.


Luego Jesús, en segundo lugar, considera la posibilidad de que el hermano no reconozca su pecado y, por tanto, no escuche-acepte la reprensión hecha en privado por el hermano. En ese caso el hermano que ha advertido el pecado debe buscar a otros dos o tres miembros de la comunidad como testigos de la corrección fraterna, no del acto realizado por el hermano. Tanto en algunos textos rabínicos como en Qumrán aparece esta función de los “testigos” para reforzar la advertencia o reprensión invitando al arrepentimiento del culpable. Se trata de darle más peso a la corrección al hacerla con dos personas más.


Si el hermano que ha pecado sigue sin reconocer su falta, sin escuchar, entonces se recurre a la tercera instancia: la comunitaria o eclesial (ekklesía dice el texto griego). Si todavía persevera en su negación del pecado, sigue entonces la sanción. Si el pecador niega su pecado frente a la evidencia de toda una comunidad, ésta lo tiene que tratar como uno que desconoce a Dios, como un gentil o publicano, lo cual implica también no reconocerlo como miembro de la comunidad.


Frente a la gradualidad de la obstinación y negación de reconocer el propio pecado se propone una gradualidad en la búsqueda de ayudar al hermano al reconocimiento de su falta. La medida extrema de expulsión viene como consecuencia de la total negación de lo que es evidente. Esta manera de tratar al hermano pecador y a su relación con su propio pecado es una clara muestra de paciencia que la comunidad debe ejercer con tal hermano. El principio o criterio es agotar todas las instancias posibles antes de tomar una medida extrema.

La finalidad de este pasaje de “pastoral fraterna” no es la crítica o la acusación (cf. Mt 7,1-5), sino el recuperar al hermano que ha pecado. El amor que hay en la comunidad cristiana hace que el principal objetivo o meta de la corrección fraterna y la disciplina penitencial sea el salir en busca del hermano perdido y “ganar al hermano”. Se trata de ganarlo para la comunidad o, mejor aún, ganarlo de nuevo como hermano. En el Nuevo Testamento se presenta la corrección fraterna como expresión de la fraternidad cristiana también en Gal 6,1; 1Tes 5,14 y 2Tim 2,25.

Gal 6,1: “Hermanos, si alguien es sorprendido en alguna falta, ustedes, los espirituales, corríjanlo con espíritu de mansedumbre, y mira por ti mismo pues también tú puedes ser tentado”.

1Tes 5,14: “Los exhortamos también a que reprendan a los indisciplinados, animen a los tímidos, sostengan a los débiles, y sean pacientes con todos”.

2Tim 2,24-25: “El que sirve al Señor no debe tomar parte en querellas. Por el contrario, tienen que ser amable con todos, apto para enseñar y paciente en las pruebas. 25 Debe reprender con dulzura a los adversarios, teniendo en cuenta que Dios puede concederles la conversión y llevarlos al conocimiento de la verdad”.


Sigue una frase de Jesús introducida con el solemne “en verdad digo a ustedes” o “Yo les aseguro” (Ἀμὴν λέγω ὑμῖν) y dirigida al grupo de los discípulos que son los oyentes de este discurso desde el inicio (οἱ μαθηταὶ en 18,1). La potestad de "atar y desatar" que aquí se otorga a la comunidad de discípulos en su conjunto es prácticamente la misma que se concedió a Simón Pedro en 16,19. Ahora bien, por los contextos diversos en los que se otorga cabría suponer que en Mt 16,19 se refiere más bien a cuestiones doctrinales mientras que aquí se referiría a cuestiones jurídicas o disciplinares. Lo cierto es que este dicho da un peso enorme y un alcance trascendente a la decisión que tome la comunidad siguiendo los pasos descritos en 18,15-17 .

Los últimos versículos de esta perícopa (18,19-20) son también una declaración solemne de Jesús (“en verdad digo a ustedes” o “Yo les aseguro”: Ἀμὴν λέγω ὑμῖν) que hace referencia a la "fuerza" de la comunidad o hermandad. En efecto, primero se enseña que, si dos se ponen de acuerdo en lo que quieren pedir en la oración, lo alcanzarán del Padre. Se utiliza el verbo simfôneô (συμφωνέω) que significa literalmente “cantar juntos, cantar en armonía, en sinfonía” y aquí tiene el sentido de acuerdo de pensamiento y corazón. El Padre tiene muy en cuenta el carácter "fraterno" o "comunitario" de la oración. Y más todavía, Jesús promete estar presente donde haya dos o tres reunidos en su nombre (18,20). Estos dos versículos, en cierto modo, dan razón y fundamento a la potestad concedida por el Señor a la comunidad de atar y desatar; pues la misma se otorga a una comunidad que ora en con-cordia y que goza de la Presencia del Señor en medio de ella.



Algunas reflexiones:


Alguien ha sugerido que para comprender mejor el texto evangélico de hoy deberíamos comenzar por los últimos dos versículos. Y esto porque aquí tenemos un ideal de comunidad donde sus miembros están en sinfonía o con-cordia para pedir a Dios en la oración y gozan de la Presencia del Señor en medio de ellos. Por tanto, se trata de una comunidad que vive profunda y realmente sus vínculos con Dios y entre sí; vive una auténtica fraternidad en el Señor. Se trata de anticipar en la vida comunitaria, en la medida que es posible en esta tierra, el Reino de los cielos. 

Ahora bien, en este mundo los hombres, también los cristianos, somos capax peccati, capaces de pecar. Siempre el pecado será una realidad presente en la vida del cristiano en general y de la comunidad cristiana en particular. Y ante esta realidad de un "hermano que peca", el Señor nos pide practicar la corrección fraterna como expresión de la caridad. Sobre esto hay que insistir mucho: la condición necesaria para hacer una corrección fraterna es tener caridad, estar movido por ella. Al respecto, decía el Papa Francisco en el Ángelus del 6 de setiembre de 2020: “Para corregir al hermano que se ha equivocado, Jesús sugiere una pedagogía de recuperación. Y siempre la pedagogía de Jesús es pedagogía de la recuperación; Él siempre busca recuperar, salvar”.

Lamentablemente nuestra reacción espontánea - y a veces también nuestras acciones segundas - ante la presencia del "hermano que peca" son la crítica, la maledicencia, la condena, el rechazo, el desprecio… En lugar de esto, la caridad, el amor de Cristo en nosotros, nos moverá a buscar el bien del hermano. Y en este caso su bien es la conversión, el abandono del pecado. Y para esto el evangelio nos ofrece dos medios concretos: la oración comunitaria y la corrección fraterna. El primero se puede poner en práctica siempre, el segundo depende de algunas condiciones, pues como dice Sto. Tomás de Aquino "la corrección se ordena a corregir al hermano, y por eso cae bajo precepto en la medida en que es necesaria para ese fin; mas esto no quiere decir que haya que corregir al culpable en cualquier lugar y tiempo" .

Sobre el proceso de la corrección fraterna el evangelio de hoy es claro, por eso más nos vale escuchar lo que nos dicen algunos santos sobre su valor y su verdadero espíritu:

"Conviene examinar en primer lugar con sumo cuidado nuestros defectos, antes de pasar a reprender los defectos de los demás" (San Juan Crisóstomo, Catena Aurea, Vol. I).

Seguramente San Juan Crisóstomo tiene en mente el texto de Mt 7,1-5 que pone una condición previa a la corrección fraterna y es bueno recordar: “No juzguen, para no ser juzgados. 2 Porque con el criterio con que ustedes juzguen se los juzgará, y la medida con que midan se usará para ustedes. 3 ¿Por qué te fijas en la paja que está en el ojo de tu hermano y no adviertes la viga que está en el tuyo? 4 ¿Cómo puedes decirle a tu hermano: "Deja que te saque la paja de tu ojo", si hay una viga en el tuyo? 5 Hipócrita, saca primero la viga de tu ojo, y entonces verás claro para sacar la paja del ojo de tu hermano”.


San Agustín nos enseña a poner el acento en la caridad como motor de la corrección:

"Si le dejas estar, peor eres tú; él ha cometido un pecado y con el pecado se ha herido a sí mismo; ¿no te importan las heridas de tu hermano? Le ves perecer o que ha perecido, ¿y te encoges de hombros? Peor eres tú callando que él faltando. Tú debes olvidar la ofensa que has recibido, no la herida de tu hermano" […] Debemos pues, corregir por amor; no con deseos de hacer daño, sino con la cariñosa intención de lograr su enmienda... ¿Por qué le corriges? ¿Por qué te ha molestado ser ofendido por él? No lo quiera Dios. Si lo haces por amor propio, nada haces" (S. Agustín, Sermón 82, 7).


Concluyamos con el profundo análisis que hace Amedeo Cencini: "La corrección fraterna parte de lejos, no es algo que se pueda improvisar, casi como si se tratase de una simple técnica opcional para utilizar en casos de emergencia. Es un modo de ser y de crecer juntos, de ligar la propia vida a la de quien es mi prójimo, de concebir la fraternidad como hecho de salvación, lugar teológico en el que se manifiesta concretamente nuestro ser objeto de redención. La corrección fraterna me hace descubrir al "hermano" y una dimensión completamente nueva de la relación interpersonal: el ya no es más simple compañero de viaje o mero colega, "el del cuarto de al lado" o amigo íntimo, presencia interesante o insípida, difícil o fácil de amar…es sobre todo aquel con quien comparto un proyecto que ninguno de los dos podrá jamás realizar solo […] Frente a la Palabra nace la conciencia del pecado, de la fuerza de la Palabra surge el valor para la corrección fraterna. Esto no significa que debo corregir a mi hermano al son de versículos bíblicos, quiere decir sobre todo que el juicio de la Palabra me hace comprender siempre que el mal del hermano es también mío, su caída me interpela y en cierto modo me acusa. Es demasiado poco disgustarse con el mal ajeno, es necesario convencerse de que también me pertenece. La corrección fraterna supone esta honestidad consigo mismo. De otro modo corre el riesgo – si se la hace – de caer en aquellas formas de juicio y reproche que expresan más superioridad que fraternidad" .


PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


En tu Nombre


Señor Jesús

Entre nosotros Tú, 

Uno de los nuestros si estamos unidos

Cuando se acerca la noche

Y se hace más frío el invierno

La oración se nos hace vida

Y en esos momentos eres más que nunca

Palabra, Verbo


La ayuda nos viene de ti

para iluminar al hermano confundido

y enseñar al pecador cual es el camino


Porque pecadores somos 

Necesitados todos de la guía hacia el amor

El sendero único y verdadero


En tu Nombre y a tu modo

Podemos y debemos

Aceptar la miseria ajena y la propia